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Área Central da Praça XV de Novembro: O papel do Estado na preservação de um sítio histórico urbano (1938-1990) Universidade Federal do Rio de Janeiro Adriana Gonçalves dos Santos Mendes 2012 ÁÁRREEAA CCEENNTTRRAALL DDAA PPRRAAÇÇAA XXVV DDEE NNOOVVEEMMBBRROO:: OO PPAAPPEELL DDOO EESSTTAADDOO NNAA PPRREESSEERRVVAAÇÇÃÃOO DDEE UUMM SSÍÍTTIIOO HHIISSTTÓÓRRIICCOO UURRBBAANNOO ((11993388--11999900)) Adriana Gonçalves dos Santos Mendes Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências em Arquitetura, Linha de pesquisa Preservação e Restauração do Patrimônio Edificado Orientadora: Rosina Trevisan M. Ribeiro Rio de Janeiro Março de 2012 ii ÁÁRREEAA CCEENNTTRRAALL DDAA PPRRAAÇÇAA XXVV DDEE NNOOVVEEMMBBRROO:: OO PPAAPPEELL DDOO EESSTTAADDOO NNAA PPRREESSEERRVVAAÇÇÃÃOO DDEE UUMM SSÍÍTTIIOO HHIISSTTÓÓRRIICCOO UURRBBAANNOO ((11993388--11999900)) Adriana Gonçalves dos Santos Mendes Orientadora: Rosina Trevisan M. Ribeiro Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências em Arquitetura, Linha de pesquisa Preservação e Restauração do Patrimônio Edificado. Aprovada por: ____________________________________ Presidente, Prof. Rosina Trevisan M. Ribeiro ____________________________________ Prof. Claúdia Carvalho Leme Nóbrega ____________________________________ Prof. Dora Monteiro da Silva de Alcântara _____________________________________ Prof. Maria Ligia Fortes Sanches iii Mendes, Adriana Gonçalves dos Santos. Área Central da Praça XV de Novembro: O papel do Estado na preservação de um sítio histórico urbano (1938- 1990) / Adriana Gonçalves dos Santos Mendes - Rio de Janeiro: UFRJ/ FAU, 2012. xv, 184f.: il.; 30 cm. Orientador: Rosina Trevisan M. Ribeiro Dissertação (mestrado) – UFRJ/ PROARQ/ Programa de Pós-graduação em Arquitetura, 2012. Referências Bibliográficas: f. 186-197. 1. Patrimônio cultural. 2. Preservação. 3. Sítio histórico. 4. IPHAN. I. Ribeiro, Rosina Trevisan M. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-graduação em Arquitetura. III. Título. iv RREESSUUMMOO ÁÁRREEAA CCEENNTTRRAALL DDAA PPRRAAÇÇAA XXVV DDEE NNOOVVEEMMBBRROO:: OO PPAAPPEELL DDOO EESSTTAADDOO NNAA PPRREESSEERRVVAAÇÇÃÃOO DDEE UUMM SSÍÍTTIIOO HHIISSTTÓÓRRIICCOO UURRBBAANNOO ((11993388--11999900)) Adriana Gonçalves dos Santos Mendes Orientadora: Rosina Trevisan M. Ribeiro Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências em Arquitetura. Esta dissertação busca analisar os valores e significados atribuídos ao longo dos anos pelo Estado ao conjunto urbano da Praça XV de Novembro, no centro do Rio de Janeiro, refletido através das ações realizadas para sua preservação como patrimônio cultural. O foco deste trabalho é estudar os tombamentos ocorridos no sítio – isolados e em conjunto – de modo a analisar o discurso do IPHAN para a área ao longo dos anos. O recorte temporal se inicia em 1938, ano seguinte ao de fundação do órgão de proteção, quando ocorreram os primeiros tombamentos de bens isolados da área, e é concluído em 1990 com o tombamento do conjunto. A origem da Praça XV de Novembro remonta ao século XVI e, ao longo da história, concentrou e foi influenciada por importantes acontecimentos econômicos e políticos não só da cidade, como de todo o país. Atualmente, o sítio é protegido por duas instâncias de preservação do patrimônio cultural: federal (IPHAN) e municipal, com parte do Corredor Cultural. Compreender como se estabeleceram os valores atribuídos ao sítio e seus imóveis ao longo dos anos, como seus símbolos foram sofrendo mutações e adquirindo novos significados para sociedade foi fundamental para uma reflexão sobre as consequências das iniciativas públicas para a requalificação do espaço e a efetiva preservação do conjunto em sua integridade. Essa dissertação busca contribuir para iniciar um debate sobre a definição de diretrizes futuras de gestão, adequadas à sua importância cultural para o País. . Palavras-chave: 1. Patrimônio cultural. 2. Preservação. 3. Sítio histórico. 4. IPHAN. v AABBSSTTRRAACCTT CCEENNTTRRAALL AARREEAA OOFF NNOOVVEEMMBBEERR 1155TTHH SSQQUUAARREE:: TTHHEE SSTTAATTEE''SS RROOLLEE IINN PPRREESSEERRVVIINNGG AA HHIISSTTOORRIICCAALL UURRBBAANN SSIITTEE ((11993388--11999900)) Adriana Gonçalves dos Santos Mendes Adviser: Rosina Trevisan M. Ribeiro Abstract of Dissertation submitted to the Graduate Program in Architecture, School of Architecture and Urbanism, Federal University of Rio de Janeiro - UFRJ, as part of the requirements for obtaining the title of Master of Science in Architecture. This dissertation seeks to analyze the values and meanings assigned by the State of Rio de Janeiro over the years, to the urban November 15th Square, located in the center of Rio de Janeiro, reflected through the actions taken for its preservation as a cultural heritage. The focus of this paper is to study the preservation actions occurred in the area – as isolated buildings and as a whole site – in order to analyze IPHAN’s ideas to the area over the years. The time frame begins in 1938, the year after the foundation of that protection agency, when the first preservation actions for the isolated buildings were done, and is completed in 1990 with the inscription of the whole site in the books of proctetion for historical sites. The origin of November 15th Square dates back to the sixteenth century, and throughout the history, it concentrated and was influenced by major economic and political events., not only in the city, but in the whole country. Nowadays, the site is protected by two cultural heritage preservation offices: a federal office (IPHAN) and a city office and it is considered part of the Corredor Cultural. Understanding how values were assigned to the site and its buildings over the years, how their symbols changed and acquired new meanings for society as time went by, was essential to reflect on the consequences of public initiatives for the effective redevelopment of the area and preservation of all in its entirety. This dissertation intends to contribute to start a debate on the definition of guidelines for future management, appropriated to its cultural importance for the country. Keywords: 1. Cultural heritage. 2. Preservation. 3. Historical site. 4. IPHAN. vi Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades; muda-se o ser, muda-se a confianza; todo mundo é composto de mudanza, ao sabor das novas realidades [sic] Adaptação de Lucio Costa para texto de Luiz de Camões, 1963 vii AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS O caminho trilhado para o desenvolvimento e conclusão dessa dissertação de mestrado foi muito duro. Costumo dizer que foram os anos mais difíceis da minha vida, em vista que nãoforam tempos dedicados com exclusividade às tarefas acadêmicas. Dividir-me entre atividades aparentemente sem vínculos entre si, como a elaboração de textos e a realização de intermináveis leituras, exigidos para o bom desenvolvimento de minha pesquisa na área de preservação do patrimônio cultural, e a dedicação a um emprego de arquiteta dentro de um dos maiores hospitais públicos da cidade do Rio de Janeiro, não foi um trabalho dos mais fáceis. Nem para mim, nem principalmente para aqueles me amam, pois se o emprego e o mestrado me exigiam dedicação quase exclusiva, pouco de mim sobrou ao longo desses dois longos anos para qualquer outro fim. E é para essas pessoas – pais, irmã, amigos e parentes -, que dedico cada uma dessas páginas, pois, ainda que sob o risco de resvalar para a pieguice, afirmo que, sem elas, eu não teria conseguido. Aos meus pais, Ari e Ruth Mendes, em especial à minha mãe, que tiveram paciência para suportar todas as minhas crises de mau humor, minhas ausências mesmo diante de minha presença física. Que me abrigaram, deram seu amor e apoio, confiando em mim, mesmo desconhecendo com exatidão sobre o que eu estava escrevendo. Aos meus amigos, em especial ao Alan Nóbrega, à Carol Maia, à Erica Canellas, à Julia Pereira, à Thaís Fontenele, e a tantos outros que aqui não cito nominalmente, que não desistiram de mim, mesmo com meu “sumiço social”. Ao Guilherme Mendonça, mentor e companheiro da grande aventura de 27 dias pelo Oriente, loucura necessária para que eu não perdesse minha sanidade ao longo deste biênio. À querida Daniella Costa, cuja trajetória profissional (por coincidência ou não) se enlaça à minha periodicamente, desde os tempos de faculdade, passando por estágio, cursos e, finalmente, a pós-graduação, tornando-se a companheira desta longa jornada, compartilhando não apenas aulas e artigos, mas também dúvidas e angústias. À orientadora Rosina Trevisan, que até o dia da entrega desta dissertação, dedicou muita atenção, carinho e, principalmente, paciência com esta orientanda, sempre tão enrolada com os prazos de suas entregas. Ao IPHAN e seu Programa de Especialização em Patrimônio – PEP, onde tudo começou. Agradecimento especial à arq. Yanara Haas, que, lá nos idos de 2006, foi quem sugeriu o conjunto da Praça XV como objeto de estudo. Espero sinceramente ter contribuído para as ações de preservação deste órgão. E, como não poderia deixar de ser, meu muito obrigada principalmente ao sítio da Praça XV de Novembro, local mágico, tão repleto de histórias, que ganhou meu coração desde que o visitei pela primeira vez e que faz e fará parte da minha história até os meus últimos dias, como boa carioca da gema que sou... viii SSUUMMÁÁRRIIOO INDICE DE IMAGENS...............................................................................................09 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................16 CAPÍTULO 1 – Histórico: de 1565 a 1937 em algumas p áginas ... 1.1 – As origens da Praça XV .................................................................22 1.2 – A formação do conjunto urbano .....................................................54 CAPÍTULO 2 - A Praça XV pelos olhos dos “heróis do patrimônio”: as primeiras iniciativas de proteção do patrimônio cultural da P raça XV de Novembro (1938 a 1942). 2.1 – Antecedentes: o florescimento das ações de proteção do patrimônio cultural brasileiro ..................................................................58 2.2 – A euforia inicial: os primeiros tombamentos...................................65 CAPÍTULO 3 - As ações e rotinas impetradas pelo IPH AN que culminaram no tombamento do conjunto (1943 a 1990) 3.1 – Após a euforia inicial, os desafios da preservação cultural em uma cidade economicamente ativa..................................................96 3.1.1 O tombamento do Arco e Oratório de Nossa Senhora do Cabo da Boa Esperança e a ampliação do tombamento da Igreja da Ordem Terceira do Carmo..................108 3.1.2 O tombamento do Convento do Carmo e a construção do Centro Comercial Cândido Mendes.....................116 3.1.3 Considerações parciais.......................................................131 3.2 – A ampliação do conceito de patrimônio cultural e o tombamento do conjunto urbano..........................................................144 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................177 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................186 ANEXOS ..................................................................................................................198 ix ÍÍNNDDIICCEE DDEE IIMMAAGGEENNSS Figura 01: Sítio histórico urbano tombado.........................................................................17 Fonte: Elaborado pela autora sobre planta aerofotogramétrica, 2011. Figura 02: “Rio de Janeiro / D. Ruiters, fecit”. Original manuscrito de Dierick Ruiters, do Algement Rijksarchief, Haia. ca. 1617..............................................................23 Fonte: REIS, 2001, p. 158. Figura 03: A Praça XV em 1580 vista do mar. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988..........................................................................................24 Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos Figura 04: “Rio Gênero”. Ilustração do “Reysboeck...”. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. ca. 1624..............................................................................................25 Fonte: REIS, 2001, p. 159. Figura 05: A Praça XV em 1620 vista do mar. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988..........................................................................................26 Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos Figura 06: “S. Sebastien / Ville Episcopale du Bresil”. Ilustração de Froger. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. ca. 1695..................................................................27 Fonte: REIS, 2001, p. 162. Figura 07: “Planta da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro...” Original do Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa, atribuído ao Brigadeiro João Massé. ca. 1714...........................................................................................................28 Fonte: REIS, 2001, p. 165. Figura 08: Arco e Oratório de Nossa Senhora da Boa Esperança (s/a, s/d).....................29 Fonte: Arquivo Central do IPHAN - Seção Rio de Janeiro. Figura 09: A Praça XV por volta de 1750. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988..................................................................................29 Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos Figura 10: “Prospecto da Cidade do Rio de Janeiro...”. Cópia manuscrita elaborada para ser incluída por Vilhena em Notícias Soteropolitanas 1803. Original da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. 1775..................................................30 Fonte: REIS, 2001, p. 182-184. Figura 11: A Praça XV em 1790. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988............................................................................................................30 Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos. Figura 12: Arco comemorativo da coroação de D. Pedro I, localizado na Rua Direitana entrada para a Rua do Ouvidor. (BATE, Richard – Biblioteca da Universidade de Cornell/USA, s/d)...................................................................33 Fonte: FERREZ, 1965. x Figura 13: Mercado de Peixe por volta de 1856. (BERTICHEM, Pedro – Biblioteca do Jockey Clube Brasileiro)..............................................................................33 Fonte: CARVALHO, 2000, p.82. Figura 14: Inauguração da Câmara do Comércio em 14/07/1820. (MONTIGNY, Grandjean – Museu da Cidade do Rio de Janeiro)...........................................34 Fonte: CARVALHO, 2000, p.65. Figura 15: Cerimônia de coroação de D. Pedro I como imperador do Brasil, em 1822. (DEBRET, Jean Baptiste – Biblioteca do Jockey Club Brasileiro)....................35 Fonte: CARVALHO, 2000, p.70. Figura 16: Cerimônia de casamento de D. Pedro I com D. Amélia de Leuchtemberg, Em 16/10/1829. (DEBRET, Jean Baptiste – Biblioteca do Jockey Club Brasileiro)..........................................................................................................35 Fonte: CARVALHO, 2000, p.75. Figura 17: Vista da Rua Direita, com as Igrejas de Nossa Senhora do Carmo e Ordem Terceira do Carmo por volta de 1831. (DEBRET, Jean Baptiste – Biblioteca Nacional – Divisão de Iconografia)..................................................36 Fonte: CARVALHO, 2000, p.78. Figura 18: O novo Imperador D. Pedro II – com apenas 6 anos – é aclamado pelo povo como novo Imperador no Paço Imperial (1831). (DEBRET, Jean Baptiste – Biblioteca do Jockey Club Brasileiro).............................................37 Fonte: CARVALHO, 2000, p.79. Figura 19: Vista em primeiro plano do Paço Imperial e, ao fundo, o casario da Família Telles. (COMPTE, Louis, 1840 – Coleção Pedro Vásquez)...............37 Fonte: CARVALHO, 2000, p.86. Figura 20: Mapa da cidade, com as rotas das barcas assinaladas, em direção à Niterói, Nova Friburgo, Magé e Paquetá. (SCHREINER, Luiz, 1879 – Biblioteca do Jockey Club Brasileiro)...............................................................38 Fonte: CARVALHO, 2000, p.107. Figura 21: Primeira estação de embarque das barcas, na Praça de D. Pedro II. (FERREZ, Marc, 1877 – Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro)............38 Fonte: CARVALHO, 2000, p.105. Figura 22: A Praça XV em 1840. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988..........................................................................................39 Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos. Figura 23: Desfile das tropas brasileiras combatentes na Guerra do Paraguai. (AGOSTINI, Angelo, 1870 – Coleção Particular)..............................................40 Fonte: CARVALHO, 2000, p.103. Figura 24: A Praça XV em 1870. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988..........................................................................................40 Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos. xi Figura 25: Multidão em frente ao Paço Imperial aguardando a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888. (FERREIRA, Luiz – Coleção Pedro Vásquez).......................................................................41 Fonte: CARVALHO, 2000, p.115. Figura 26: O Paço Imperial nos tempos dos Correios e Telégrafos. (Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro)...........................................................................43 Fonte: CARVALHO, 2000, p.129. Figura 27: Estátua de General Osório, na época de sua inauguração (s/d)......................43 Fonte: http://www.rioquepassou.com.br/2009/03/04/monumento-ao-gal- osorio-sec-xix/. Acesso em: 02 mai 2011. Figura 28: Edifício do Antigo Supremo Tribunal Federal (s/a, s/d)....................................46 Fonte: www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_print_dec_arquivos/ ap_1901_ stif.jpg. Acesso em: 22 out. 2011 Figura 29: Atual Centro Cultural Banco do Brasil. (Coleção Particular, s/d)......................46 Fonte: CARVALHO, 2000, p.132. Figura 30: Centro Cultural dos Correios e Telégrafos (s/a, s/d)........................................47 Fonte: http://www.correios.com.br/sobreCorreios/educacaoCultura/ centrosEspacosCulturais/CCC_RJ/default.cfm. Acesso em 31 jul 2011. Figura 31: Cais Pharoux após a remodelação de Pereira Passos. (Biblioteca Nacional – Divisão de Iconografia, s/d)............................................................48 Fonte: CARVALHO, 2000, p.134. Figura 32: Praça XV, após a remodelação de Pereira Passos. (Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, s/d).........................................................................48 Fonte: CARVALHO, 2000, p.134. Figura 33: Projeto de construção da Av. Central...............................................................49 Fonte: LIMA, 2000. Figura 34: Abertura da Av. Central....................................................................................49 Fonte: FERREZ, 1983. Figura 35: Demolição do morro do Castelo (MALTA, 09/07/1922)....................................50 Fonte: NONATO, 2000. Figura 36: Convento do Carmo antes da reforma de Hermann Fleiuss, de 1910. (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)......................................................52 Fonte: CARVALHO, 2000, p.133. Figura 37: Convento do Carmo depois da reforma de 1910. (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro).......................................................................................52 Fonte: CARVALHO, 2000, p.133. Figura 38: A Praça XV em 1910. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988..........................................................................................53 Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos. xii Figura 39: Aspecto da Rua Direita (hoje, Primeiro de Março) na esquina com Rua do Ouvidor, quando da chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro. (BATE, Richard. s/d – Biblioteca da Universidade de Cornell/USA).................54 Fonte: FERREZ, 1965. Figura 40: Esquina das Ruas Direita com Ouvidor, por volta de 1870. (LEUZINGER, George – Coleção particular)............................................................................55 Fonte: CARVALHO, 2000, p.104. Figura 41: Igreja da Ordem 3ª do Carmo...........................................................................67 Fonte: Inventário Nacional de Bens Imóveis – Sítios Urbanos (INBI-SU), 2000. Figura 42: Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores..........................................67 Fonte: Inventário Nacional de Bens Imóveis – Sítios Urbanos (INBI-SU), 2000. Figura 43: Igreja de Santa Cruz dos Militares....................................................................68Fonte: Inventário Nacional de Bens Imóveis – Sítios Urbanos (INBI-SU), 2000. Figura 44: Chafariz de Mestre Valentim.............................................................................69 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens, 2007. Figura 45: Paço Imperial....................................................................................................70 Fonte: Inventário Nacional de Bens Imóveis – Sítios Urbanos (INBI-SU), 2000. Figura 46: Antiga Alfândega, atual Casa França-Brasil.....................................................71 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens, 2010. Figura 47: Arco do Teles e imóveis nº 32 e 34...................................................................73 Fonte: Inventário Nacional de Bens Imóveis – Sítios Urbanos (INBI-SU), 2000. Figura 48: À esquerda, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo - Antiga Sé; à direita, a Igreja da Ordem 3ª de Nossa Senhora do Carmo da Ordem do Carmo.......77 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens, 2010. Figura 49: O Paço Imperial à época do tombamento, pós-reforma de 1929, quando foram introduzidos elementos neocoloniais. (s/a, c.1940)................................85 Fonte: Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro). Figura 50: Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto. (s/a, s/d)........................89 Fonte: Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro. Figura 51: Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de São João Del Rey. (s/a, s/d.)............90 Fonte: Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro). Figura 52: Conjunto Arquitetônico e Urbanístico do Serro (s/a, s/d.).................................91 Fonte: Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro). xiii Figura 53: Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Tiradentes (s/a, s/d).........................91 Fonte: Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro). Figura 54: Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Mariana (s/a, s/d).............................92 Fonte: Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro). Figura 55: Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Diamantina (s/a, s/d)........................92 Fonte: Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro). Figura 56: Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Congonhas (s/a, s/d)........................93 Fonte: Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro. Figura 57: Rua Primeiro de Março por volta de 1920 (s/a, s/d).........................................94 Fonte: http://www.flickr.com/photos/rioantigamente/3536040894/. Acesso em 15 out. 2011. Figura 58: Avenida Perimetral, ao fundo. Em primeiro plano, o Chafariz de Mestre Valentim (jul. 2010)................................................................................99 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens. Figura 59: Construção do trecho inicial da Av. Perimetral, altura da Praça XV de Novembro........................................................................................................102 Fonte: www.fotolog.com.br-luiz/o/76257616, s/a, s/d. Acesso em: 07 jan. 2012. Figura 60: Fachada do Edifício do Paço (nesta foto, em obras de recuperação), onde é possível perceber a marcação do gabarito original de 3 pavimentos, tal qual seu vizinho à esquerda...................................................103 Fonte: Google Streetview. Acesso em: 07 jan. 2012. Figura 61: Arco do Teles após a restauração e o edifício de 12 pavimentos (jul.2010).........................................................................................................105 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens. Figura 62: Arco e Oratório de Nossa Senhora do Cabo da Boa Esperança (s/a, s/d)..........................................................................................................109 Fonte: http://rio-curioso.blogspot.com/2008/10/oratrios.html. Acesso em: 28 jan. 2012. Figura 63: Edifício de oito pavimentos construído pela Ordem Terceira do Carmo........111 Fonte: Google Streetview. Acesso em: 27 jan. 2012. Figura 64: Edifício alvo da extensão de tombamento da Igreja da Ordem Terceira do Carmo..........................................................................................113 Fonte: Google Streetview. Acesso em: 27 jan. 2012. Figura 65: Edifício alvo da extensão de tombamento da Igreja da Ordem Terceira do Carmo..........................................................................................115 Fonte: Google Streetview. Acesso em: 27 jan. 2012. Figura 66: Planta de situação, na hipótese de demolição do antigo Convento do Carmo e construção em 100% da área do terreno.........................................121 Fonte: PORTO, 1976. xiv Figura 67: Planta de situação, segundo a Lei 991, com a demolição do antigo Convento do Carmo e a construção de edifício em placa e lâmina................121 Fonte: PORTO, 1976. Figura 68: Decisão conciliatória de Mauricio Dias da Silva, com a permanência do antigo Convento do Carmo e a construção de edifício com embasamento e lâmina...................................................................................124 Fonte: PORTO, 1976. Figura 69: Antigo Convento do Carmo, antes da reforma de Herman Fleuiss e Ângelo Bruhns (MALTA, 1906)........................................................................126 Fonte: www.rioquepassou.com.br/2004/09/10/convento-do-carmo-fevereiro- de-1906/. Acesso em: 07 jan. 2012. Figura 70: Antigo Convento do Carmo, após a restauração de 1968..............................126 Fonte: Google Streetview. Acesso em: 27 jan. 2012. Figura 71: Proposta encaminhada pela Faculdade Candido Mendes em 1968, com preservação da ala voltada para a Rua Sete de Setembro.....................127 Fonte: PORTO, 1976. Figura 72: Projeto efetivamente aprovado pelo IPHAN, com a preservação da ala voltada para a Rua Sete de Setembro......................................................127 Fonte: PORTO, 1976. Figura 73: O Antigo Convento do Carmo e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, em primeiro plano. Ao fundo, o Centro Comercial Candido Mendes.............................................................................................130 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens, 2011. Figura 74: O Antigo Convento do Carmo e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, em primeiro plano. Ao fundo, o Centro Comercial Candido Mendes.............................................................................................130 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens, 2011. Figura 75: Canto esquerdo superior, Teatro Municipal; canto direito superior, Escola de Belas Artes; canto esquerdo inferior, Biblioteca Nacional; canto direito inferior, Clube Naval...................................................................147 Figura 76: Travessa do Comércio, 14/16 – Recuo de 3,00m e construção deedifício de 14 pavimentos, com acesso pela rua do Mercado, 17..................150 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens, 2007. Figura 77: Travessa do Comércio, 14/16 –Construção de edifício de 14 pavimentos, com acesso pela rua do Mercado, 17..................150 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens, 2007. Figura 78: Travessa do Comércio, 14/16 – Preservação apenas das fachadas do térreo..............................................................................................................150 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens, 2007. xv Figura 79: Rua do Mercado, 11 e 17 em contraste com sobrados ainda de volumetria preservada....................................................................................151 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens, 2007. Figura 80: Travessa do Comércio - perspectiva do observador......................................156 Fonte: Arquivo Pessoal de Imagens, 2008. Figura 81: Rua do Mercado, 31/33..................................................................................159 Fonte: arquivo Pessoal de Imagens, 2007. Figura 82: Rua Primeiro de Março, 08.............................................................................159 Fonte: arquivo Pessoal de Imagens, 2007. Figura 83: Fachadas típicas do conjunto da Praça XV de Novembro.............................165 Fonte: RIOARTE, 2002. Figura 84: Proposta inicial para o novo prédio da Bolsa de Valores...............................168 Fonte: O Globo, 12 nov. 1982. Figura 85: Limites do conjunto histórico urbano tombado...............................................174 Fonte: Inventário Nacional de Bens Imóveis – Sítios Urbanos (INBI-SU), 2000. Figura 86: A Praça XV em 1988. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988........................................................................................175 Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos Figura 87: A Praça XV no ano 2000. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio.......................................................................................................182 Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos. Figura 88: A Praça XV de Novembro e imediações, apropriada pelos foliões................186 Fonte: O Globo, 05 mar. 2011. Figura 89: A Praça XV de Novembro e imediações, apropriada pelos foliões................186 Fonte: O Globo, 05 mar. 2011. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 1166 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO A construção do patrimônio cultural material e a definição de suas práticas de proteção é um fenômeno relativamente recente em nosso país. A formação desses símbolos nacionais está diretamente vinculada ao valor que lhes é atribuído pelo Estado. O significado de valor, por sua vez, é mutável ao longo tempo, sendo influenciado por múltiplos aspectos. A preservação dos bens culturais pelo Estado é uma prática política eminentemente seletiva. Segundo Cecília Londres Fonseca: O instituto do tombamento ainda hoje é a prática mais significativa da política de preservação federal no Brasil. Significativa não só pelo poder de delimitar um universo simbólico específico, como também por intervir no estatuto de propriedade e no uso do espaço físico. E significativa, sobretudo, porque constitui um campo em que se explicitam – e onde se podem apreender – os sentidos da preservação para os diferentes atores envolvidos. (FONSECA, 2002, p. 181) Esta dissertação busca analisar os valores e significados atribuídos ao longo dos anos pelo Estado ao conjunto urbano da Praça XV de Novembro, no Rio de Janeiro, refletido através das ações realizadas para sua preservação como patrimônio cultural. O foco deste trabalho é estudar os tombamentos ocorridos no sítio – isolados e em conjunto – de modo a analisar o discurso do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para a área ao longo dos anos. O recorte temporal se inicia em 1938, ano seguinte ao de fundação do órgão de proteção, quando ocorreram os primeiros tombamentos de bens isolados da área, e é concluído em 1990 com o tombamento do conjunto. Localizada no Centro da cidade do Rio de Janeiro, a Praça XV de Novembro e seus arredores, ao longo da história, concentrou e foi influenciada por importantes acontecimentos econômicos e políticos não só da cidade, como de todo o país. Suas principais características urbanas datam do século XVIII, quando seu porto assumiu importância em função da exploração do ouro em Minas Gerais, fato este que motivou a elevação da cidade do Rio de Janeiro à capital da Colônia (1763), depois sede da Corte portuguesa (1808) e, por fim, do Império do Brasil (1822). A região da Praça XV de Novembro é um sítio atualmente protegido por duas instâncias de preservação do patrimônio cultural: o IPHAN e a Subsecretaria de Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design (SubPC), da Secretaria Municipal de Cultura. Cada uma das instituições atribuiu diferentes significados ao sítio e, consequentemente, diferentes valores a serem preservados. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 1177 Reflexo de sua importância político-econômica desde os tempos coloniais, a área agrega inúmeros bens tombados isoladamente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN): as igrejas da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo e de Nossa Senhora do Carmo e o Antigo Convento do Carmo, além das igrejas de Santa Cruz dos Militares e de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, do Chafariz de Mestre Valentim, do Arco do Teles, do Paço Imperial e da Antiga Alfândega (fig. 01). Em 1990, mais de uma centena de imóveis foram tombados em conjunto, em um trecho compreendido pela Praça XV propriamente dita, a Praça Pio X, a rua 1º de Março e a Avenida Alfredo Agache, abrangendo ainda os quarteirões do Antigo Convento do Carmo e das igrejas de Nossa Senhora do Carmo (antiga Catedral Metropolitana) e da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo (fig. 01). A Área Central da Praça XV de Novembro e Imediações, como foi denominada, encontra-se inscrita nos três Livros de Tombo ativos: Livro Histórico, Livro de Belas Artes e Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Em nível municipal, o sítio é protegido como uma das zonas integrantes do Corredor Cultural. Fig. 01 – Sítio histórico urbano tombado: A – antiga Alfândega; B – Centro Cultural Banco do Brasil; C – Correios e Telégrafos; D – antigo Tribunal Regional Eleitoral (TRE); E – Igreja de Santa Cruz dos Militares; F – Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores; G – Bolsa de Valores do Rio de Janeiro; H – Chafariz de Mestre Valentim; I – Arco do Teles; J – antigo Hospital da Ordem Terceira do Carmo; L – Paço Imperial; M – Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo; N – Igreja de Nossa Senhora do Carmo (antiga Catedral); O – Convento do Carmo; P – Centro Comercial Cândido Mendes; Q – Arco de Nossa Senhora do Cabo da BoaEsperança. Q J C ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 1188 A área é caracterizada por uma série de bens monumentais ligados à arquitetura oficial - religiosos e civis -, com características coloniais, tombados isoladamente. Estes imóveis convivem harmoniosamente com edifícios ecléticos de grande porte e o casario de pequeno porte, representativo de uma sociedade que buscava acompanhar a linguagem dos modelos eruditos europeus. Quebrando essa harmonia, construções contemporâneas de elevado gabarito permeiam o sítio. A forma que o sítio possui nos dias de hoje é reflexo direto das ações do Estado – ou da falta delas – sobre o conjunto. Identificar os valores atribuídos pelo Estado ao longo dos anos e as conseqüências de suas orientações e intervenções são fundamentais para compreender o sítio histórico, suas formas e seu significado atual para a população carioca. Desde as primeiras iniciativas de proteção ao patrimônio cultural nacional realizadas pelo IPHAN em 1938, a Praça XV esteve em evidência. A partir de então, ao longo de toda a trajetória das políticas preservacionistas, as ações realizadas em seus bens refletiram os valores em evidência em cada momento e a evolução dos seus conceitos e práticas. Para atingir o objetivo deste trabalho foi necessário pesquisar os processos de tombamento dos imóveis (tombados isoladamente ou em conjunto), de modo a determinar os valores a eles atribuídos pelos técnicos do IPHAN no momento específico da inscrição. Mas só isso não fora o suficiente, posto que também se fazia necessário identificar as ações e orientações do órgão diante dos acontecimentos e contextualizar os tombamentos e as ações de preservação com o momento em que os mesmos ocorreram, levando em consideração o momento político e a metodologia de proteção que vinha sendo adotada. Essa dissertação se desenvolve em três capítulos, além da introdução e das considerações finais. O primeiro capítulo se configura em um levantamento histórico do sítio urbano da Praça XV e os imóveis que o compõem: sua formação urbana, suas características arquitetônicas e os fatos históricos ocorridos. Essas informações são essenciais para compreender as razões que os representantes do IPHAN tiveram para atribuir (ou não) valores históricos e artísticos aos bens. O período de abrangência compreende desde a fundação da cidade, em 1565, até a criação do IPHAN, em 1937. Para obter tais dados, foi pesquisada a bibliografia existente publicada e os estudos realizados pelo IPHAN, publicados na Revista do Patrimônio e aqueles contidos nos arquivos da Instituição, em especial o Arquivo ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 1199 Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro1, e que, mais tarde, vieram a embasar o processo de tombamento do conjunto. O segundo capítulo busca identificar os primeiros valores atribuídos ao conjunto da Praça XV de Novembro e aos seus imóveis separadamente pelos pioneiros da preservação do patrimônio no Brasil. Para isso, iniciamos pelo levantamento dos dados relativos ao surgimento da política de proteção ao patrimônio nacional com a criação do IPHAN em 1937 de modo a compreender e identificar o perfil de patrimônio buscado para seleção. Esses dados foram obtidos através da bibliografia publicada, em especial o livro originário da tese de Doutorado da historiadora Márcia Chuva, Os arquitetos da memória: sociogênese das práticas de preservação do patrimônio no Brasil (1930-1940), e o livro de Cecília Londres Fonseca, O Patrimônio em processo – trajetória da política federal de preservação no Brasil. Essas publicações foram importantes para compreender o momento de “invenção” do patrimônio cultural nacional, com a institucionalização das práticas de preservação no Brasil nos primeiros anos de sua implantação. Comumente denominada “fase heróica”, este foi o momento em que, sob a liderança de Rodrigo Melo Franco de Andrade, o prevalecimento da visão modernista de Patrimônio formou o retrato do Brasil em “pedra e cal”. O passo seguinte é a análise dos documentos existentes nos processos de tombamento dos primeiros bens inscritos isoladamente, contidos no Arquivo Noronha Santos. Os pareceres para instrução dos processos de tombamento, produzidos pelos técnicos do IPHAN e pelos relatores do caso, integrantes do Conselho Consultivo da Instituição, são da maior importância para a compreensão de como se construiu a atribuição de valor para esses bens, buscando assim um melhor entendimento da forma como a Instituição lidou com a Praça ao longo de sua história. Entretanto, frequentemente essa informação não está disponível, posto que, em um grande número de processos, sobretudo aqueles dos primeiros anos de ação da Instituto, a documentação é escassa. Não há documentos que explicitem as 1 O Arquivo Central do IPHAN, também conhecido como Arquivo Noronha Santos, é subordinado ao Departamento de Identificação e Documentação do IPHAN e tem como atribuição a guarda e a preservação da documentação de valor permanente produzida pelo próprio Instituto, incluindo pelas Superintendências Regionais e pelos setores técnicos ligados à administração central. Em relação aos bens tombados da cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Noronha Santos dispõe, além de todos os processos de tombamento, da documentação emitida e recebida pelo IPHAN referente às ações de preservação dos imóveis desde o ano de sua criação (1937) até o ano de 1980, quando esses documentos passam a ser guardados no arquivo da própria Superintendência Regional do Rio de Janeiro. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 2200 razões do tombamento, e chegar a uma conclusão a esse respeito só é possível quando compreendemos a estratégia de formação e invenção de uma identidade nacional buscada pelo Estado Novo, dando rumo à política de preservação do patrimônio. O terceiro capítulo aborda as ações e as rotinas realizadas pelo IPHAN após os anos iniciais, que culminaram no tombamento do conjunto propriamente dito. O capítulo é estruturado em duas partes, em que a primeira aborda os tombamentos dos bens isolados que escaparam da seleção inicial do patrimônio nacional. Nesse momento, os processos já eram melhor instruídos e possuíam informação suficiente para permitir uma análise mais precisa das motivações para sua seleção. A segunda parte do capítulo se concentra nas ações de proteção ao entorno dos bens tombados isolados que resultaram no reconhecimento do valor do sítio histórico urbano e seu consequente tombamento. Compreender o momento político pelo qual o país atravessava e as transformações ocorridas na cidade do Rio de Janeiro foram fundamentais para fundamentar as mudanças que assolaram o sítio, como sua verticalização, motivada pelo surgimento das construções de alto gabarito. A mesma importância teve o reconhecimento da evolução do processo de ampliação do conceito de bem cultural, quando foram incorporados novos exemplaresao patrimônio nacional, bastante distintos daqueles selecionados originalmente. Esse fato possibilitou o tombamento de conjuntos com características antes desprezadas, como o conjunto da Praça XV de Novembro. Esse capítulo foi subsidiado principalmente pelos documentos primários contidos no Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro, em especial pelos estudos coordenados pelas arquitetas Lia Motta e Dora Alcântara, mas também por aqueles do Arquivo da Superintendência Regional do Rio de Janeiro, emitidos após 1980. Mais uma vez, recorremos a Cecília Londres Fonseca para embasar as transformações e contradições ocorridas na política de preservação do patrimônio cultural ao longo do tempo, mas outros autores e fontes também tiveram uma grande importância. Entre outros, Cêça Guimaraens com seu livro Paradoxos Entrelaçados, Lucio Costa com seus pareceres publicados em Lucio Costa: Documentos de Trabalho, as Cartas Patrimoniais e recortes de jornal da época. O limite cronológico desta dissertação é o ano de tombamento do conjunto urbano – 1990. Entretanto, nas considerações finais são levantadas algumas questões sobre a situação atual deste sítio. Questionamentos quanto à mudança de ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 2211 atuação do IPHAN após o tombamento, sua gerência sobre o espaço, a convivência com a instância municipal de proteção do patrimônio cultural e a efetiva preservação dos valores atribuídos após sua inscrição são alguns dos temas levantados. Temas estes que necessitam de um maior aprofundamento, mas para a qual este estudo é a base para atingir essas respostas, fornecendo elementos essenciais para iniciar um debate sobre a definição de diretrizes futuras para uma gestão adequada à sua importância cultural para o País. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 2222 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 HHiissttóórriiccoo –– DDee 11556655 aa 11993377 eemm aallgguummaass ppáággiinnaass...... 1.1 – As origens da Praça XV O sítio em que Mem de Sá fundou a cidade de S. Sebastião foi o cume de um monte, donde facilmente se podiam defender inimigos; mas depois estando a terra em paz, se estendeu pelo vale ao longo do mar, de sorte que a praia lhe serve de rua principal e assim, sendo lá capitão-mór Afonso de Albuquerque, se achou uma manhã defronte da porta do convento do Carmo que ali está uma baleia morta, que de noite havia dado à costa. E as canoas, que vêem das roças ou granjas dos moradores, ali ficam, desembarcando cada um à sua porta ou perto dela com que trazem, sem lhe custar trabalho de carretos, como custa pela ladeira acima. Nem eles próprios lá subiram em todo o ano, e menos as mulheres, se não fora estar lá a igreja matriz e a dos padres da Companhia, pela causa mora ainda lá alguma gente. (VICENTE apud CARVALHO, 2000, p. 11) Ao longo da história, a área da Praça XV de Novembro e seus arredores concentrou e foi influenciada por importantes acontecimentos econômicos e políticos não só da cidade, como de todo o país. Seu forte conteúdo simbólico expressa sua importância para a cidade ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX. A região da Praça XV foi o grande centro do Rio de Janeiro colonial. Sua origem data da descida da cidade para a Várzea ainda no século XVI. As primeiras notícias sobre o sítio e suas redondezas, porém, são anteriores à fundação da cidade, em 1565. Nas imediações da praia da Piaçava, as aldeias indígenas da região foram sacudidas pela chegada das tropas do cavalheiro Nicolau de Villegaignon em uma primeira tentativa de fundar no Rio de Janeiro uma colônia, a chamada França Antártica, em 10 de novembro de 1555. Instalados na Ilha de Serigipe, hoje ligada ao continente e conhecida pelo nome do seu próprio comandante, os franceses foram rechaçados pelos portugueses, liderados por Mem de Sá, em 1567. Nesse mesmo ano, a cidade, fundada dois anos antes no alto do morro Cara de Cão, seria transferida para o alto do morro do Castelo (CARVALHO, 2000, p. 13). Conforme citação de Frei Vicente do Salvador2 (apud CARVALHO, 2000), a necessidade de ocupação de uma baixada pantanosa fez com que a cidade se desenvolvesse em busca de terras secas, ainda no século XVI, a partir do sopé do morro do Castelo (Rua da Misericórdia), rumo à Várzea de Nossa Senhora (primeiro 2 O missionário e historiador franciscano Frei Vicente do Salvador é considerado o autor da primeira obra sobre história do Brasil, por volta de 1627. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 2233 nome registrado da Praça XV), passando pela Praia da Piaçaba, seguindo pela Praia de Manuel de Brito (Rua Direita, hoje denominada Primeiro de Março) até o morro de São Bento. Formou-se, então, uma linha arqueada que direcionaria o desenho das demais ruas: as transversais, entre as ruas Antônio Nabo (hoje, São José) e dos Pescadores (atual Visconde de Inhaúma) e as paralelas, iniciadas na Rua Detrás do Carmo (atual R. do Carmo), aberta em 1611 (SANTOS, 1981). O crescimento da cidade conduziu a expansão de sua trama para o interior, em quadras longas e retilíneas. Nessa época, o mar ainda ocupava grande parte das terras em que posteriormente se formariam a praça e o conjunto objeto desta dissertação. Fig. 02: “Rio de Janeiro / D. Ruiters, fecit”. Original manuscrito de Dierick Ruiters, do Algement Rijksarchief, Haia. ca. 1617. Segundo a legenda, “B” seria a linha arqueada beirando a Praia de Manuel de Brito. Fonte: REIS, 2001, p. 158. As primeiras edificações representativas da região são de origem religiosa. Sua presença é um dos valores simbólicos mais fortes de uso deste solo ainda presente nos dias de hoje. A Ordem dos Jesuítas foi a primeira a chegar à cidade, partícipe de sua fundação em 1565. Fixou-se inicialmente no antigo Morro Cara de Cão e, posteriormente, no alto do Morro do Castelo, onde construíram sua igreja e colégio entre os anos de 1567 e 1573. A primeira construção que se tem notícia na área da Praça XV, porém, foi a pequena ermida de Nossa Senhora do Ó, erguida na Praia da Piaçava por uma devota poucos anos após a transferência da cidade para o ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 2244 Castelo. A construção viria a servir de abrigo, por um curto período de tempo, aos beneditinos, segunda ordem religiosa a chegar à cidade (1586), e que, pouco depois, iriam se transferir para o morro de São Bento, onde já havia uma capela. Fig. 3: A Praça XV em 1580 vista do mar: a ermida de Nossa Senhora do Ó. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988. Fonte: Armazém de Dados – InstitutoPereira Passos Em 1590 seria a vez dos Carmelitas chegarem à cidade e se instalarem na pequena edificação. Alguns anos depois, em 1619, constroem em terreno doado pela Câmara, contíguo à ermida, o Convento do Carmo. A ermida original de Nossa Senhora do Ó, porém, desabou após uma tempestade, mas em 1781, foi iniciada no mesmo local, a construção da nova igreja: a Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Apenas a partir do início do século XVII foi que a Várzea de Nossa Senhora passou a receber efetivamente construções de maior valor simbólico. Entre elas encontramos a ermida de Santa Cruz dos Militares, erguida entre os anos de 1625 e 1628 sobre as ruínas do Forte da Cruz (construído em 1605 e rapidamente abandonado), em atendimento ao desejo dos militares por um lugar para seu sepultamento. Estes militares contribuíam financeiramente para a manutenção da igreja segundo seu grau hierárquico. A história desta ermida atinge seu apogeu quando, em 1703, encontrando-se a igreja de São Sebastião (a então Sé, localizada no alto do morro do Castelo) danificada pelo tempo, a capela assumiu a função de Sé provisória até o ano de 17333. 3 A construção que vemos hoje na antiga Rua Direita, porém, é um novo templo construído entre 1780-1811 sobre os escombros da antiga ermida. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 2255 Fig. 04: “Rio Gênero”. Ilustração do “Reysboeck...”. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. ca. 1624. Segundo a legenda, “F” seria a Rua Direita. Fonte: REIS, 2001, p. 159. Ainda no século XVII, surge outro elemento, que já se perdeu no tempo mas cuja presença foi marcante para o espaço: o pelourinho. Também chamado de Polé, o símbolo de poder e justiça, destinado ao suplício dos condenados ao açoite e exibição pública dos restos daqueles condenados à pena capital, foi erigido em 1647 por ordem do ouvidor-geral. Sua presença era tão significativa que foi capaz de alterar o nome da antiga Várzea do Carmo para Terreiro da Polé. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 2266 Fig. 5: A Praça XV em 1620 vista do mar: a ermida de Nossa Senhora do Ó e a construção do Convento do Carmo, iniciada no ano anterior. Com o recuo do mar através de pequenos, mas sucessivos aterros e com a construção de casas do outro lado da rua, como a casa da família Teles de Menezes, foi-se delineando o Terreiro do Carmo. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988. Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos É do final do século XVII também a determinação real de não se permitir construções em frente à antiga ermida de Nossa Senhora do Ó, que resultou na formação do espaço físico da Praça XV. Segundo a Carta Régia assinada pelo então rei de Portugal, D. Pedro II4, em 27 de novembro de 1686: (...) Eu El Rey faço saber aos que esta Provisão virem que tendo respeito ao que se me apresentou por parte dos Religiosos do Carmo da Capitania do Rio de Janeiro, que estando naquela Cidade o Desembargador João da Rocha Pitta, mandara a Câmara comprasse uns chãos que estão junto ao Rossio que serve de Praça à dita Cidade e fica defronte dos ditos Religiosos, para que se não possa ali fazer Casas, assim por ser a única Praça daquela terra como por se desembarcar ali ordinariamente com mais cômodo, e também por ser prejuízo ao dito Governo, por que fazendo-se casas se tira a vista aos Religiosos, e os devassam na sua clausura e por que os Oficiais da Câmara que serviram no ano de 1683 repartiram os ditos chãos por diversos parentes seus, sem atenderem ao prejuízo da terra e dano aos Religiosos (...). Hey por bem que de nenhum modo se possam nos ditos chãos fazer casas, nem obra alguma com tal declaração que nem os ditos Religiosos possam fazer obra alguma no sito Sítio (...).(D. PEDRO II apud CARVALHO, 2000, p. 25) Se não fosse tal determinação, é bastante provável que a configuração urbana do conjunto da Praça XV tivesse um fim muito diferente do que conhecemos. As principais características urbanas do sítio, porém, datam do século XVIII, quando seu porto assumiu grande importância em função da exploração do ouro em Minas Gerais, descoberto na última década do século XVII. A cidade do Rio de Janeiro, então com cerca de 12.000 habitantes (SANTOS, 1981, p. 19), adquire 4 O rei autor desta carta não é o mesmo D. Pedro II ao qual estamos acostumados na história brasileira. Trata-se do 23º rei de Portugal, que reinou oficialmente de 1683 a 1706, mas que já exercia as funções de regente do reino desde 1668, devido à instabilidade mental do irmão, D. Afonso VI. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 2277 posição estratégica para a economia da colônia como ponto de embarque do produto para a metrópole, que era feito no porto localizado na Praça XV. Rapidamente, então, a cidade passa a ser alvo de cobiça estrangeira, no caso, corsários provenientes da França – país que se encontrava em guerra com Portugal -, ocasionando a invasão de Du Clerc em 1710 e a conquista de Du Guay Trouin no ano seguinte. Os seis navios portugueses que defendiam o porto foram, propositadamente encalhados e incendiados entre os Morros do Castelo, São Bento e a Ilha das Cobras, a 12 de setembro de 1711. Ocupada e saqueada pelos franceses, o governo português foi obrigado a pagar um resgate para a cidade não ser reduzida a cinzas. Os franceses deixaram a cidade após 2 meses, em 13 de novembro. Entre os estragos causados à cidade, estão os incêndios que destruíram a Casa dos Contos, primeira residência dos Governadores5. Fig. 06: “S. Sebastien / Ville Episcopale du Bresil”. Ilustração de Froger. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. ca. 1695. Vista da cidade, balizada pelos Morros do Castelo e de São Bento. Fonte: REIS, 2001, p. 162. Após o sucesso da invasão francesa, o governo português apressou-se em implementar medidas que evitassem novos acontecimentos semelhantes. Dessa forma, o engenheiro militar João Massé foi designado para elaborar um projeto de fortificação para a cidade. A planta de 1714 estabelece um cais entre a Fortaleza de São Tiago (onde hoje é o Museu Histórico Nacional) e o Mosteiro de São Bento. A muralha da cidade deveria percorrer a Rua da Vala (atual Rua Uruguaiana), entre os Morros do Castelo e da Conceição, mas sua construção foi apenas parcial. A planta de João Massé fornece importantes informações a respeito da configuração urbana da Praça XV no início do século XVIII. Uma das mais relevantes é a extensão de aterro que deu origem à praça, logo à frente do Convento do Carmo. 5 Este antigo sobrado teria sido arrematado em 1698 e, após uma grande reforma realizada em 1805, abrigado, a partir de 1815, o Banco do Brasil. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttoossMMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 2288 Fig. 07: “Planta da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro...” Original do Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa, atribuído ao Brigadeiro João Massé. ca. 1714. Segundo a legenda alfabética: E - Fortaleza de São Tiago; G – Armazéns Del Rey; H – Casa da Moeda; I – Convento do Carmo; M - Mosteiro de São Bento; S - Muralha da cidade; V – antiga Ilha de Serigipe (atual Ilha de Villegaignon). Fonte: REIS, 2001, p. 165. Em meados do século XVIII, novas edificações que marcariam o sítio da Praça XV com sua imponente presença se estabelecem na região: surgem as Igrejas de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores (1750)6 e da Ordem Terceira do Monte do Carmo (1770)7. A iluminação pública era, até o início do século XVIII, limitada aos lampiões de azeite de peixe em frente às igrejas e às lamparinas votivas dos oratórios, diante das quais os vizinhos se reuniam para rezar o terço à noite. O último remanescente dos 73 oratórios existentes na cidade dos tempos dos Vice-Reis é o Oratório de Nossa Senhora da Boa Esperança (1764), localizado aos fundos da Igreja da Ordem 3ª do Carmo (IPHAN, 2011). Ponto de passagem obrigatório dos marinheiros portugueses com destino ao Oriente, que à Santa pediam proteção para a travessia pelo sul da África ou agradeciam o sucesso da viagem empreendida. 6 Construída por iniciativa dos comerciantes locais, que não eram aceitos na Igreja de Santa Cruz dos Militares, a capela original foi substituída pela edificação atual, construída em 1870. 7 A pedra fundamental do novo templo foi lançada em 1755, e concluída em 1770. Suas duas torres, porém, só foram finalizadas em 1850. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 2299 Fig. 09: A Praça XV por volta de 1750: ao fundo, o Convento do Carmo, a Ermida de Nossa Senhora do Ó (já com acréscimos); à frente, a Segunda Casa dos Governadores (antiga Casa da Moeda e Armazéns Del Rey), o antigo chafariz no meio da praça e conjunto arquitetônico do Arco do Teles, onde ficava o Senado da Cämara. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988. Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos A elevação da cidade do Rio de Janeiro à capital da Colônia em 1763, motivada pela função assumida por seu porto como exportador do ouro proveniente das Minas Gerais, foi fator determinante da construção de um grande cais de pedra na Praça XV. Para abastecer de água as embarcações que ali atracassem, foi construído, em 1789, então à beira do mar, o chafariz de Mestre Valentim – até os dias de hoje, um dos maiores símbolos da região - em substituição ao anterior, datado de 1752-53, então situado no meio da praça. Os chafarizes eram um dos elementos mais importantes da paisagem urbana, visto a necessidade de levar a água do Rio Carioca à cidade. O deslocamento do chafariz, associado ao calçamento da praça, possibilitou melhores condições para a realização de festejos e paradas militares, que passariam a ocorrer cada vez mais freqüentemente no local. Fig. 08: Arco e Oratório de Nossa Senhora da Boa Esperança(s/a, s/d). Fonte: Arquivo Central do IPHAN - Seção Rio de Janeiro. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 3300 Fig. 10: “Prospecto da Cidade do Rio de Janeiro...”. Cópia manuscrita elaborada para ser incluída por Vilhena em Notícias Soteropolitanas 1803. Original da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. 1775. Fonte: REIS, 2001, p. 182-184. Em 20 de julho de 1790, uma tragédia de conseqüências irreversíveis para a história da cidade acomete a região: o Senado da Câmara e todo o seu arquivo foram destruídos quando o prédio que ocupavam ao lado do Arco do Telles é acometido por um incêndio. Fig. 11: A Praça XV em 1790: o incêndio do Senado da Câmara. Ao fundo, o Convento do Carmo, a nova Igreja de Nossa Senhora do Carmo (no local da antiga ermida de Nossa Senhora do Ó), e, ao seu lado, já aparece a Igreja da Ordem Terceira do Carmo; à frente, a Segunda Casa dos Governadores, e principalmente o novo cais e o Chafariz de Mestre Valentim. Reconstituição de imagem realizada pelo IPLAN Rio em 1988. Fonte: Armazém de Dados – Instituto Pereira Passos. Durante o século XVIII, a antiga Casa da Moeda e os Armazéns Del Rey deram lugar à segunda Casa dos Governadores (ou Palácio dos Vice-reis), inaugurada em 1743 como sede das capitanias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Projetada pelo engenheiro militar Brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim por ordem de Gomes Freire, o Conde de Bobadela, a nova residência dos Governadores, era uma obra ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 3311 que se destacava em seu tempo. Em uma época em que a cidade possuía cerca de 42.000 moradores, permaneceu por mais de 20 anos como o único edifício a apresentar janelas de vidro, em vista das demais construções com treliças, muxarabis e gelosias. Com a mudança da capital da Colônia de Salvador para o Rio vinte anos depois, passa a abrigar a sede do poder civil colonial. No dia 5 de março de 1808 pelas 10 da manhã, divisávamos ao longe o resto da esquadra em que vinha S.A.R.; e, quando foram 3 da tarde, já tinham entrado todas as embarcações, na última das quais vinha o dito Senhor, e sua Augusta Mãe (...). (...) A Câmara fez a sua iluminação entre o chafariz e o mar. Era esta um edifício de madeira em que se gastaram mais de 4 contos de réis. Este edifício fazia vista de uma fachada de Palácio, toda iluminada, com seus coretos de música nas extremidades. Sobre o pórtico da fachada estava o Retrato de S. A. R. com vários dísticos e emblemas, e por cima uma Esfera com as Armas Reais dentro, porque as Armas do Senado desta Cidade são uma Esfera. As músicas dos regimentos estavam dispostas em torno do edifício tocando harmoniosas sinfonias. O Povo era tanto, nestes nove dias de luminárias, que cercava o Palácio em grande multidão. O nosso Príncipe estava continuadamente à janela a ver o seu Povo, e a satisfazê-lo com sua amável presença. As noites de luar; que então era o mais belo, convidavam a todos a passá-las no Largo do Palácio: uns iam sentar-se à borda do cais, a contemplar o prateado dos mares, outros se entretinham a ouvir a música; estes a gozar da iluminação, aqueles enfim a ver o seu Príncipe, único alvo dos votos de seus corações (...).(ANÔNIMO apud CARVALHO, 2000, p. 57) A carta acima descreve o início do grande momento da região da Praça XV: a chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, em 1808, fugida das tropas de Napoleão que atacavam a Europa. Para abrigar essa numerosa armada – composta de fidalgos, serviçais e agregados, num total de aproximadamente 10.000 pessoas8 – um grande reboliço tomou conta da cidade, que, despreparada para tão grande evento, improvisou acomodações em cidade cuja população, naquela época, girava entre 50.000 e 60.000 habitantes9. O Palácio dos Vice-reis foi transformadoem Paço Real e residência do príncipe regente. A Casa da Moeda permaneceu provisoriamente no edifício do Paço, construção esta que viria a ser cenário de acontecimentos marcantes para a história nacional, como o Dia do Fico e o anúncio oficial da independência (1822). O Convento do Carmo foi requisitado aos frades 8 Esse dado não é consensual entre os pesquisadores. Faoro fala entre 10.000 e 15.000 civis. Luiz Edmundo alude a 15.000. Pedro Calmon menciona 10.000. Jurandir Malerba, diz “aproximadamente em 15.000 almas” embarcaram para o Brasil. As fontes primárias de Kenneth LIGHT (diários de bordo), porém, reduzem o número de civis para 4.500, no máximo (MACIEL, 2008, p. 04). 9 Essa informação também não é consensual entre os pesquisadores. Segundo Luiz Edmundo, os naturalistas alemães (bávaros) Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius, que estiveram no Brasil de 1817 a 1820, falam que o Rio de Janeiro devia ter uma população de 110.000 habitantes. Antes da chegada da Família Real, a população era estimada em 50.000 almas. Para John Luccock, comerciante inglês que chegou cerca de 3 meses depois da vinda da Corte portuguesa, a população do Rio de Janeiro era de 60.000 habitantes (apud MACIEL, 2008, p. 03). ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 3322 para funcionar como residência da rainha e suas damas, que mantiveram acesso direto ao novo paço através de um passadiço. Outro passadiço dava acesso do convento à igreja do Carmo, elevada à Capela Real. Para aqueles fidalgos que não foram acomodados diretamente no Paço Real, foram solicitadas casas no centro da cidade, entre as quais, algumas localizadas nas ruas Direita e Detrás do Carmo (atualmente denominadas rua 1º de Março e rua do Carmo, respectivamente). Muitos dos moradores, em sua maioria comerciantes portugueses, cediam suas propriedades de bom grado, sentindo-se privilegiados por estarem prestando favores ao Rei. Aqueles que não concordassem por boa vontade, porém, eram intimados por ordem judicial para que o fizessem10. Tal episódio, que poderia gerar grande revolta na população, foi suplantado pelas numerosas medidas que transformariam uma modesta capital de colônia em sede de uma monarquia européia. E a Praça XV era o coração dessa nova cidade. Entre ações como a criação da Imprensa Régia, do Jardim Botânico, da Fábrica de Pólvora e da Biblioteca Nacional, estava também a do Banco do Brasil, para o qual a Primeira Casa dos Governadores fora reformada para abrigar sua sede. A chegada da Família Real também foi responsável por mudanças nas artes e na arquitetura da antiga colônia. A contratação de uma Missão Artística, formada por profissionais franceses como o arquiteto Grandjean de Montigny e o pintor Jean Baptiste Debret, em 1816, deu início ao ensino oficial artístico no Brasil. A iniciativa de criação da Academia Imperial de Belas Artes, em 1826, proporcionou o refinamento das novas construções oficiais. Como afirma Paulo SANTOS (1981, p. 51), “o Neoclassicismo predominou na arquitetura do Rio de Janeiro da segunda década até o terceiro quartel do século XIX e foi, por excelência, o estilo do período imperial”, refletindo uma tendência de retorno às formas da antiguidade clássica que ocorria na Europa desde o final do século XVIII. O estilo transpirava dignidade, imponência e austeridade, qualidades buscadas pelo Império como forma de representação. Seu maior propagador foi justamente o arquiteto Grandjean de Montigny, responsável por inúmeros projetos, como o das decorações festivas (incluindo arcos do triunfo e obeliscos) erigidas na Rua Direita em comemorações 10 Segundo Adhemar MACIEL (2008, p. 05), o procedimento administrativo para requisição das propriedades era bastante simples: bastava inscrever na porta da habitação as iniciais “P.R.”, que significavam “Príncipe Regente”, e a residência estava automaticamente requisitada. Os habitantes cariocas ironizaram o episódio atribuindo às iniciais “P.R.” um novo significado: “ponha-se na rua”. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 3333 como a chegada da Princesa Leopoldina, em 1817, e a aclamação de D. João VI, em 1816. Era de sua autoria também o projeto do Mercado de Peixe, solicitado pela Câmara Municipal em 1835 para ordenar a venda do pescado e outros gêneros, até então comercializada em barracas de madeira e tecido na antiga Praia do Peixe, em frente à Rua do Ouvidor. Lamentavelmente, nenhuma das edificações citadas chegou até os dias presentes. A primeira Câmara do Comércio (construída entre os anos de 1817 e 1820, posteriormente sendo destinada ao funcionamento da Alfândega), porém, testemunha, ainda nos dias presentes, a ação do arquiteto de relevada importância para arquitetura carioca. Fig. 12: Arco comemorativo da coroação de D. Pedro I, localizado na Rua Direita na entrada para a Rua do Ouvidor. (BATE, Richard – Biblioteca da Universidade de Cornell/USA, s/d) Fonte: FERREZ, 1965. Fig. 13: Mercado de Peixe por volta de 1856. (BERTICHEM, Pedro – Biblioteca do Jockey Clube Brasileiro) Fonte: CARVALHO, 2000, p.82. Como não havia casas para todos, o governo optou por solução bem da época: requisitou as melhores moradias de comerciantes, quase todos eles portugueses. ÁÁrreeaa CCeennttrraall ddaa PPrraaççaa XXVV ddee NNoovveemmbbrroo:: oo ppaappeell ddoo AAddrriiaannaa GGoonnççaallvveess ddooss SSaannttooss MMeennddeess EEssttaaddoo nnaa pprreesseerrvvaaççããoo ddee uumm ssííttiioo hhiissttóórriiccoo uurrbbaannoo ((11993388--11999900)) 3344 A Igreja de Nossa Senhora do Carmo, elevada à condição de Capela Real com a chegada da Família Real, fora palco de grandes festividades e de apresentações musicais de qualidade nunca antes vistas na antiga colônia, como os concertos de Padre José Maurício e Marcos Portugal11. Suas oito décadas de glórias e pompa presenciaram eventos de grande magnitude para a história do Brasil como a cerimônia de aclamação de D. João VI como Rei de Portugal, Brasil e Algarves (1816), a coroação de D. Pedro I (1822) e D. Pedro II (1841) e os casamentos de D. Pedro I com a Princesa Leopoldina da Áustria (1817) e, posteriormente deste com D. Amélia de Leuchtemberg (1829), de D. Pedro II com D. Tereza Cristina de Nápoles e Duas Sícilias (1843), da Princesa Isabel com o Conde D’Eu (1864), o funeral de José Bonifácio (1838), além de ritos de menor repercussão pública, como batizados 11 O padre José Mauricio Nunes Garcia, grande compositor de música sacra, presenciou a transição entre o Brasil Colônia e o Brasil Império. Mestre da Capela Real nomeado pelo Príncipe Regente D. João VI, o período de 1808 – 1811 foi o de sua maior produção artística, tendo composto cerca de 70 obras. Em 1811 é substituído por Marcos Portugal, que assume a posição frente à Capela Real na posição de compositor português mais importante de seu tempo e admirado em toda a Europa (MARIZ, 2005. p. 51-59). Fig. 14: Inauguração da Câmara
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