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1 Infectologia Caio Márcio Silva Cruz Manejo clínico do paciente com suspeita de dengue O problema Morte evitável de pacientes com dengue atendidos na rede de assistência municipal nos últimos anos. Em todos os óbitos, houve falhas na conduta médica. Objetivo: evitar óbitos. Casos prováveis de arboviroses urbanas, segundo classificação e evolução SE 1 a 16. São Luís-MA, 2022. Resultado das avaliações de óbitos Os sinais de alarme e choque para dengue não são pesquisados rotineiramente. Os profissionais não têm utilizado o estadiamento clínico preconizado pelo Ministério da Saúde. A hidratação dos pacientes foi inferior ao preconizado pelo manual. Os exames laboratoriais, como hematócrito, necessário para adequada hidratação e contagem de plaquetas não foram solicitados com a frequência recomendada. O tempo de entrega de resultados pelo laboratório foi inadequado para seguimento de pacientes com dengue O tipo de assistência (supervisionada) e o intervalo de reavaliação foram inferiores ao estabelecido. Conclusão: os elevados índices de letalidade estão relacionados ao não atendimento das normais técnicas para o diagnóstico e tratamento de casos de dengue, preconizados pelo Ministério da Saúde. Caso suspeito de dengue Paciente que tenha doença febril aguda, com duração máxima de 7 dias, acompanhada de pelo menos dois dos seguintes sintomas: cefaleia, dor retro orbital, mialgia, Artralgia, prostração, exantema. Além desses sintomas, deve ter estado nos últimos quinze dias em área onde esteja ocorrendo transmissão de dengue ou haja a presença de Aedes aegypti. Figura 1 – Exantema intenso. 2 Infectologia Caio Márcio Silva Cruz Figura 2 – Manifestações hemorrágicas na dengue. Figura 3 – Extravasamento capilar. Dengue Síndrome do choque Diagnósticos diferenciais Síndrome febril Malária IVAS Rotavirose Influenza Hepatite viral Leptospirose Meningite Síndrome exantemática Rubéola Sarampo Exantema súbito Enteroviroses Parvovirose Zika Chikungunya Síndrome Hemorrágica Meningococcemia Septicemia Febre amarela Malária grave Leptospirose Classificação revisada de dengue (OMS, 2009) (Brasil, 2014) Dengue com e sem sinais de alarme. Dengue grave. o Grave extravasamento plasmático levando a: choque (SCD), acúmulo de líquido com insuficiência respiratória. o Grave sangramento avaliado pelo clínico. o Grave comprometimento de órgãos: fígado: AST ou ALT >=1000, alteração de consciência, coração e outros órgãos. Grupos especiais e riscos sociais e clínicos (Sinais de alarme assistenciais) Menores de 2 anos de idade, crianças com hipertensão, obesidade, diabete ou doenças crônicas. Adultos com idade acima de 65 anos com HAS ou outras doenças cardiovasculares graves, DM, DPOC, doenças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme), doença renal crônica, doença ácido péptica e doença autoimunes. Gestantes. Incapazes do autocuidado que movem sozinhos ou que não tenham quem lhes preste cuidado. Dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Sinais de alarme Dor abdominal intensa e contínua Vômitos persistentes Irritabilidade, agitação, letargia Queda brusca da temperatura ou hipotermia Hemorragias importantes: hematê- mese, melena Hemorragia de mucosa. Hepatomegalia dolorosa >= 2cm. Derrame cavitário. Aumento repentino ou progressivo do hematócrito. Queda abrupta das plaquetas. 3 Infectologia Caio Márcio Silva Cruz Sinais de choque Extremidades frias, cianóticas. Enchimento capilar lentificado (>2s) Hipotensão arterial. Hipotensão postural. o PAS sentado – PAS em pé maior que 10mmHg. o “Sempre medir a PA em duas posições.” PA convergente o Diferença entre PAS e PAD maior/igual a 20mmHg em crianças – em adultos, o mesmo valor indica choque mais grave. Taquicardia, pulso fraco e rápido Diminuição da diurese Desconforto respiratório Dengue grave Sinais de choque Hematêmese Melena Metrorragia volumosa Sangramento do SNC AST/ALT > 1.000 Miocardite Alteração da consciência Classificação de risco Organização do pensamento: É suspeito de dengue? Está chocado? Tem sinais de alarme? Tem comorbidade? Pertence a um grupo especial? Tem risco social? A partir disso: Realizar estadiamento e conduta. Todos os pacientes devem ter seu tratamento iniciado em todos os níveis de atendimento. As transferências serão solicitadas após avaliação da etapa inicial de hidratação. Estadiamento clínico da doença Grupo A Sem sangramento espontâneo ou induzido (prova do laço negativa), sem sinais de alarme, sem condições especiais, sem risco social e sem comorbidade. Grupo B Com sangramento de pele espontâneo ou induzido (PL +), ou condição clínica especial ou risco social ou comorbidade e sem sinal de alarme. Grupo C Presença de um ou mais sinais de alarme Sangramento presente ou ausente Sem hipotensão Grupo D Com sinais de choque. Desconforto respiratório; hemorragia grave; disfunção grave de órgãos. Manifestação hemorrágica presente ou ausente. Sangramento na dengue Prova do laço do adulto Afere a pressão do paciente, soma os valores e dividi por 2, obtendo a média aritmética. Garrotear por 5 minutos (3 crianças) mantendo na média aritmética simples da pressão arterial. 4 Infectologia Caio Márcio Silva Cruz Negativo: 0 a 19 petéquias Positivo: 20 ou mais petéquias Figura 4 – Se aparecer muitas petéquias ainda mesmo na insuflação para aferir a pressão, deve se parar o teste pois ele já é positivo. Como conduzir o grupo A Sorologia ELISA IgG e IgM: períodos endêmicos versus epidêmicos. PA em 2 posições. Tratamento ambulatorial. Hidratação oral: soro oral + estimular ingesta de líquidos Analgésicos, antitérmicos Orientar sinais de alarme Agendar retorno: Reestadiamento + coleta de exames. Hidratação oral • Adultos: 60 ml/kg/dia, sendo 1/3 com solução salina e no início com volume maior. Para os 2/3 restantes, orientar a ingestão de líquidos caseiros (água, suco de frutas, soro caseiro, chás, água de coco etc.), utilizando-se os meios mais adequados à idade e aos hábitos do paciente. • Especificar o volume a ser ingerido por dia. Por exemplo, para um adulto de 70 kg, orientar: 60 ml/kg/dia 4,2 L. Ingerir nas primeiras 4 a 6 horas do atendimento: 1,4 L de líquidos e distribuir o restante nos outros períodos (2,8 L). Como conduzir o grupo B Hemograma completo obrigatório o Hematócrito até 10% do basal ou ≥ 38 e ≤ 42% o Hidratação oral a domicílio o Retorno para reavaliação em 24h e Reestadiamento. Sorologia ELISA IgG e IgM agendada o A partir do 6º dia de doença. Orientar sinais de alarme. Paciente com sinais de alarme (Com ou sem sangramento) Grupo C Grupo D Sem hipotensão Com hipotensão Arterial Arterial Desidratação Choque descompensado Choque compensado Como conduzir o grupo C Hospitalização Fase rápida de hidratação: o Soro Fisiológico 20ml/kg (até 3 vezes ou mais) + reavaliação Fase de manutenção de hidratação Hemograma Completo, eletrólitos, TGO, TGP, albumina, gasometria Radiografia de tórax, US de abdômen Reposição volêmica • Reposição volêmica com 10 ml/kg de soro fisiológico na primeira hora. • Proceder a reavaliaçãoclínica (sinais vitais, PA, avaliar diurese: desejável 1 ml/kg/h) após uma hora, manter a hidratação de 10 ml/kg/hora, na segunda hora, até a avaliação do hematócrito que deverá ocorrer em duas horas (após a etapa de reposição volêmica). • Sendo o total máximo de cada fase de expansão 20 ml/kg em duas horas, 5 Infectologia Caio Márcio Silva Cruz para garantir administração gradativa e monitorada. • Se não houver melhora do hematócrito ou dos sinais hemodinâmicos, repetir a fase de expansão até três vezes. • Seguir a orientação de reavaliação clínica (sinais vitais, PA, avaliar diurese) após uma hora, e de hematócrito em duas horas (após conclusão de cada etapa). • Se houver melhora clínica e laboratorial após a (s) fase (s) de expansão, iniciar a fase de manutenção: • Primeira fase: 25 ml/kg em 6 horas • Se houver melhora iniciar segunda fase. • Segunda fase: 25 ml/kg em 8 horas, sendo 1/3 com soro fisiológico e 2/3 com soro glicosado. Hematócrito de 4/4h, plaquetas de 12/12h Reavaliação clínica e Reestadiamento Sintomáticos RT-PCR o Até o 5º dia de doença Sorologia para dengue IgG/IgM o A partir do 6º dia de doença Como conduzir o grupo D Hospitalização/UTI/monitorização contínua. Fase de expansão do choque: o Soro Fisiológico 20ml/kg por 20 min (até 3 vezes ou mais) + reavaliações. Fase de manutenção de hidratação Uso de plasma ou albumina: choque refratário. Uso de plasma fresco: coagulopatia de consumo. Uso de concentrado de hemácias: hemorragias importantes. Uso de concentrado de plaquetas (controverso): o < 20.000/mm3 + sangramentos importantes Reestadiamento periódico RT-PCR (até o 5º dia de doença) e Sorologia para dengue IgG/IgM (a partir do 6º dia de doença). Dengue – Passo a passo. Colher a história clínica, realizar exame físico completo, a cada reavaliação do paciente, registrar em instrumentos pertinentes e consultar SEMPRE o fluxograma de manejo: 1. Colher história clínica, fazer o exame físico, caracterizar a febre, aferir a pressão em duas posições 2. Pesquisar sinais de alarme e/ou choque na história e no exame físico 3. Pesquisar sangramentos de pele espontâneos ou induzidos (Prova do Laço). 4. Pesquisar comorbidades, situações clínicas especiais e/ou risco social 5. Solicitar exames laboratoriais (hemograma) e específicos para dengue 6. Prescrever tratamento 7. Instituir o intervalo de reavaliação e/ou retorno (plano de acompanhamento). 8. Preencher as fichas de notificação e investigação. Durante todo o atendimento o paciente deve recebe hidratação oral Prova do laço é feita em todo paciente que não apresente sangramento espontâneo nem sinais de choque.
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