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Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 1 DENGUE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA ARBOVIROSE: Arboviroses urbanas causadas por vírus transmitidos pelo Aedes: dengue, chikungunya e zika. Constituem-se como um dos principais problemas de saúde pública no mundo, sendo a dengue a arbovirose urbana de maior relevância nas Américas. AGENTE ETIOLÓGICO: O vírus DENV é um arbovírus transmitidos por artrópodes e parte do ciclo replicativo desses vírus ocorre nos insetos. Os vírus dengue é dum vírus RNA do gênero Flavivirus, pertencente à família Flaviviridae. Com relação ao DENV, até o momento, são conhecidos quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. TRANSMISSÃO: A principal forma é a vetorial. Também podem ser transmitidas por via transfusional. Para o DENV existem também registros de transmissão vertical em humanos (gestante- feto). Dengue: relatos raros de transmissão vertical. Gestantes com infecção sintomática têm risco aumentado para ocorrência de morte fetal e nascimento de prematuro, embora sem a evidência de baixo peso ao nascer ou malformações congênitas. SUSCETIBILIDADE E IMUNIDADE: A suscetibilidade ao DENV é universal. Uma vez que haja infecção, a imunidade adquirida é permanente para um mesmo sorotipo (homóloga). A imunidade cruzada (heteróloga) persiste temporariamente no indivíduo, ou seja, quando induzida por um sorotipo é apenas parcialmente protetora contra outros sorotipos e desaparece rapidamente. A infecção primária ocorre em pessoas não previamente expostas a qualquer um dos sorotipos do DENV. Na infecção primária, surgem os anticorpos IgM, que se elevam rapidamente, sendo detectáveis a partir do sexto dia. Na infecção secundária, os títulos de anticorpos IgG elevam-se rapidamente, com aumento mais tardio e menos marcado de anticorpos IgM. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: As arboviroses urbanas, por compartilharem diversos sinais clínicos semelhantes e a dificuldade da suspeita inicial pelo profissional de saúde podem, em algum grau, dificultar a adoção de manejo clínico adequado e, consequentemente, predispor à ocorrência de formas graves, levando eventualmente a óbitos. Além das manifestações clínicas típicas, as manifestações neurológicas relacionadas ao histórico de infecção viral prévia por arbovírus são uma realidade no País. As principais manifestações neurológicas em pacientes infectados incluem casos de encefalite, meningoencefalite, mielite e síndrome de Guillain-Barré (SGB). As infecções por dengue podem ser assintomáticas ou sintomáticas. As infecções clinicamente aparentes estão presente em aproximadamente 25% dos casos e podem variar desde formas oligossintomáticas a formas graves, podendo levar o indivíduo ao óbito. Pode apresentar três fases clínicas: febril, crítica e de recuperação FASES FEBRIL: A primeira manifestação é a febre que tem duração de dois a sete dias, geralmente alta (39ºC a 40ºC), de início abrupto, associada à cefaleia, à adinamia, às mialgias, às artralgias e a dor retroorbitária. O exantema está presente em 50% dos casos, é predominantemente do tipo máculo-papular, atingindo face, tronco e membros de forma aditiva, não poupando plantas de pés e palmas de mãos, podendo apresentar-se sob outras formas com ou sem prurido, frequentemente no desaparecimento da febre. Anorexia, náuseas e vômitos podem estar presentes. Após a fase febril, grande parte dos pacientes recupera-se gradativamente com melhora do estado geral e retorno do apetite. FASE CRÍTICA: Tem início com o declínio da febre (de fervescência), entre o terceiro e o sétimo dia do início da doença. Os sinais de alarme, quando presentes, ocorrem nessa fase. A maioria deles é resultante do aumento da permeabilidade capilar. Os sinais de alarme são assim chamados por sinalizarem o extravasamento de plasma e/ou Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 2 DENGUE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA hemorragias que podem levar o paciente a choque grave e óbito. Os sinais de alarme devem ser rotineiramente pesquisados e valorizados, bem como os pacientes devem ser orientados a procurar a assistência médica na ocorrência deles. Os casos graves de dengue são caracterizados por sangramento grave, disfunção grave de órgãos ou extravasamento grave de plasma. O choque ocorre quando um volume crítico de plasma é perdido pelo extravasamento. Ocorre habitualmente entre o 4º e 5º dia, sendo geralmente precedido por sinais de alarme. Ocorre após as 24-48 horas da fase crítica (reabsorção gradual do fluido extravasado), com melhora do estado geral, retorno progressivo do apetite, redução de sintomas gastrointestinais, estabilização do estado hemodinâmico e melhora do débito urinário. Alguns pacientes podem apresentar um exantema, acompanhado ou não de prurido generalizado. EXAMES LABORATORIAIS: MÉTODOS DIRETOS: Isolamento viral: até o 5º dia do início de sintomas Detecção do genoma viral pelo método reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (RT-PCR): até o 8º dia do início de sintomas Detecção da proteína NS1 do vírus (antígeno): até o 6º dia do início de sintomas Pesquisa de anticorpos (sorologia): a partir do 7º dia a captura de IgM DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: Síndrome febril: enteroviroses, influenza e outras viroses respiratórias, hepatites virais, malária, febre tifoide, chikungunya e outras arboviroses (oropouche, zika). Síndrome exantemática febril: rubéola, sarampo, escarlatina, eritema infeccioso, exantema súbito, enteroviroses, mononucleose infecciosa, parvovirose, citomegalovirose, outras arboviroses (mayaro), farmacodermias, doença de Kawasaki, doença de Henoch-Schonlein, chikungunya, zika etc. Síndrome hemorrágica febril: hantavirose, febre amarela, leptospirose, malária grave, riquetsioses e púrpuras. Síndrome dolorosa abdominal: apendicite, obstrução intestinal, abscesso hepático, abdome agudo, pneumonia, infecção urinária, colecistite aguda etc. Síndrome do choque: meningococcemia, septicemia, meningite por influenza tipo B, febre purpúrica brasileira, síndrome do choque tóxico e choque cardiogênico (miocardites). Síndrome meníngea: meningites virais, meningite bacteriana e encefalite. No atual cenário epidemiológico do Brasil, com confirmação de casos autóctones de chikungunya a partir de 2014 e de infecções pelo vírus zika em 2015, algumas particularidades a respeito do diagnóstico diferencial entre dengue e estas doenças merecem destaque ATENDIMENTO AO PACIENTE COM SUSPEITA DE ARBOVIROSE: Para todo paciente com suspeita de arbovirose, deve-se avaliar cuidadosamente os sinais de alarme compatíveis com a dengue e, se presentes, o caso deve ser conduzido como dengue. O manejo adequado dos pacientes depende do reconhecimento precoce dos sinais de gravidade, do acompanhamento, do reestadiamento dos casos (dinâmico e contínuo) e da pronta reposição volêmica, quando necessária. É de fundamental importância a revisão e atualização da história clínica, acompanhada de exame físico completo a cada reavaliação do paciente, com o devido registro em instrumentos pertinentes (prontuários, ficha de atendimento, ficha de evolução clínica, cartão de acompanhamento etc.). CLASSIFICAÇÃO DE RISCO: Permite a priorização do atendimento das formas graves da doença, por meio do reconhecimento precoce dos sinais de gravidade dos pacientes, conforme seu estadiamento clínico. Contribui para organizar o atendimento dos casos suspeitos nos serviços de saúde. Fluxograma de Classificação de Risco de Dengue: identificação dos pacientes que necessitam de tratamento imediato, considerando a gravidade e o potencialde risco. Grupo A: azul Sinais e sintomas clássicos Febre com duração máxima de sete dias e pelo menos dois dos seguintes sintomas inespecíficos: Cefaleia Mialgia e artragia Prostração Dor retro-orbitária Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 3 DENGUE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA Ausência de sinais de alarme Ausência de sinais de choque Prova do Laço negativa Ausência de manifestações hemorrágicas Em lactentes, sonolência, irritabilidade e choro persistente podem caracterizar sintomas como cefaleia e algias. Grupo B: verde Manifestações hemorrágicas espontâneas ou prova de laço positiva Febre com duração máxima de sete dias e pelo menos dois dos seguintes sintomas inespecíficos: Cefaleia Mialgia e artragia Prostração Dor retro-orbitária Gengivorragia, metrorragia, petéquias, equimoses, sangramento de mucosa, sangramento menor em trato gastrointestinal Grupo C: laranja Sinais de alarme Dor abdominal intensa e contínua Vômitos persistentes Hipotensão postural e/ou lipotímia Sonolência e/ou irritabilidade Hepatomegalia dolorosa Hemorragias importantes (hematêmese e/ou melena) Diminuição da diurese Diminuição repentina da temperatura corpórea ou hipotermia Desconforto respiratório Aumento repentino do hematócrito Queda abrupta das plaquetas Grupo D: vermelho Sinais de choque Pressão arterial convergente (PA diferencial < 20 mmHg) Hipotensão arterial Extremidades frias Cianose Pulso rápido e fino Enchimento capilar lento > 2 segundos ESTADIAMENTO: GRUPO A: Caracterização: Caso suspeito de dengue. Ausência de sinais de alarme. Sem comorbidades, grupo de risco ou condições clínicas especiais. Conduta: Exames laboratoriais complementares a critério médico. Prescrever paracetamol e/ou dipirona Não utilizar salicilatos ou anti-inflamatórios não esteroides. Acompanhar ambulatorialmente Orientar repouso e prescrever dieta e hidratação oral, conforme a seguir: A hidratação oral dos pacientes com suspeita de dengue deve ser iniciada ainda na sala de espera enquanto aguardam consulta médica. Volume diário da hidratação oral: Adultos: 60 ml/kg/dia, sendo 1/3 com solução salina e no início com volume maior. Para os 2/3 restantes, orientar a ingestão de líquidos caseiros (água, suco de frutas, soro caseiro, chás, água de coco etc.), utilizando-se os meios mais adequados à idade e aos hábitos do paciente. Especificar o volume a ser ingerido por dia. Por exemplo, para um adulto de 70 kg, orientar: 60 ml/kg/dia 4,2 L. Ingerir nas primeiras 4 a 6 horas do atendimento: 1,4 L de líquidos e distribuir o restante nos outros períodos (2,8 L). Crianças (< 13 anos de idade): orientar paciente e o cuidador para hidratação por via oral. Oferecer 1/3 na forma de soro de reidratação oral (SRO) e o restante através da oferta de água, sucos e chás. Considerar o volume de líquidos a ser ingerido conforme recomendação a seguir (baseado na regra de Holliday Segar acrescido de reposição de possíveis perdas de 3%): Crianças até 10 kg: 130 ml/kg/dia Crianças de 10 a 20 kg: 100 ml /kg/dia Crianças acima de 20 kg: 80 ml/kg/dia Nas primeiras 4 a 6 horas do atendimento considerar a oferta de 1/3 deste volume. Especificar em receita médica ou no cartão da dengue o volume a ser ingerido. Manter a hidratação durante todo o período febril e por até 24-48 horas após a defervescência da febre A alimentação não deve ser interrompida durante a hidratação e sim administrada de acordo com a aceitação do paciente. O aleitamento materno dever ser mantido e estimulado. Orientar o paciente para: Não se automedicar. Procurar imediatamente o serviço de urgência em caso de sangramentos ou sinais/sintomas de alarme Agendar o retorno para reavaliação clínica no dia de melhora da febre (possível início da fase Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 4 DENGUE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA crítica); caso não haja defervescência, retornar no quinto dia de doença. Notificar, preencher “cartão da dengue” e liberar o paciente para o domicílio com orientações. Orientar sobre a eliminação de criadouros do Aedes aegypti. Os exames específicos para confirmação não são necessários para condução clínica. Sua realização deve ser orientada de acordo com a situação epidemiológica. GRUPO B: Caracterização: Caso suspeito de dengue. Ausência de sinais de alarme. Com sangramento espontâneo de pele (petéquias) ou induzido (prova do laço positiva). Condições clínicas especiais e/ou de risco social ou comorbidades (lactentes – menores de 2 anos –, gestantes, adultos com idade acima de 65 anos, hipertensão arterial ou outras doenças cardiovasculares graves, diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica (Dpoc), doenças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme e púrpuras), doença renal crônica, doença ácido péptica, hepatopatias e doenças autoimunes). Conduta: Solicitar exames complementares: Hemograma completo, obrigatório para todos os pacientes. Colher amostra no momento do atendimento. Liberar o resultado em até duas horas, ou no máximo quatro horas. Avaliar a hemoconcentração Outros exames deverão ser solicitados de acordo com a condição clínica associada ou a critério médico. O paciente deve permanecer em acompanhamento e observação em leito de emergência até o resultado dos exames. Prescrever hidratação oral conforme recomendado para o grupo A, até o resultado dos exames. Prescrever paracetamol e/ou dipirona conforme Anexo E. Seguir conduta conforme reavaliação clínica e resultados laboratoriais: Paciente com hematócrito normal: Tratamento em regime ambulatorial com reavaliação clínica diária. Agendar o retorno para reclassificação do paciente, com reavaliação clínica e laboratorial diária, até 48 horas após a queda da febre ou imediata, na presença de sinais de alarme. Orientar o paciente para não se automedicar, permanecer em repouso e procurar imediatamente o serviço de urgência em caso de sangramentos ou sinais/sintomas de alarme. Preencher “cartão da dengue” e liberar o paciente para o domicílio com orientações. Orientar sobre a eliminação de criadouros do Aedes aegypti. Paciente com surgimento de sinais de alarme: Seguir conduta do grupo C. Notificar o caso. Os Exames específicos para confirmação não são necessários para condução clínica. Sua realização deve ser orientada de acordo com a situação epidemiológica. GRUPO C: Caracterização: Caso suspeito de dengue. Presença de algum sinal de alarme Conduta: Para os pacientes do grupo C, o mais importante é iniciar a reposição volêmica imediata, em qualquer ponto de atenção, independente do nível de complexidade, inclusive durante eventual transferência para uma unidade de referência, mesmo na ausência de exames complementares conforme segue: Reposição volêmica com 10 ml/kg de soro fisiológico na primeira hora. Devem permanecer em acompanhamento em leito de internação até estabilização – mínimo 48 horas Realizar exames complementares obrigatórios: Hemograma completo. Dosagem de albumina sérica e transaminases. Os exames de imagem recomendados são radiografia de tórax (PA, perfil e incidência de Laurell) e ultrassonografia de abdome. O exame ultrassonográfico é mais sensível para diagnosticar derrames cavitários, quando comparados à radiografia. Outros exames poderão ser realizados conforme necessidade: glicemia, ureia, creatinina, eletrólitos, gasometria, TPAE e ecocardiograma. Proceder a reavaliaçãoclínica (sinais vitais, PA, avaliar diurese: desejável 1 ml/kg/h) após uma hora, manter a hidratação de 10 Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 5 DENGUE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA ml/kg/hora, na segunda hora, até a avaliação do hematócrito que deverá ocorrer em duas horas (após a etapa de reposição volêmica). Sendo o total máximo de cada fase de expansão 20 ml/kg em duas horas, para garantir administração gradativa e monitorada. Se não houver melhora do hematócrito ou dos sinais hemodinâmicos, repetir a fase de expansão até três vezes. Seguir a orientação de reavaliação clínica (sinais vitais, PA, avaliar diurese) após uma hora, e de hematócrito em duas horas (após conclusão de cada etapa). Se houver melhora clínica e laboratorial após a(s) fase(s) de expansão, iniciar a fase de manutenção: Primeira fase: 25 ml/kg em 6 horas. Se houver melhora iniciar segunda fase. Segunda fase: 25 ml/kg em 8 horas, sendo 1/3 com soro fisiológico e 2/3 com soro glicosado Se não houver melhora clínica e laboratorial conduzir como grupo D. Pacientes do grupo C precisam de avaliação contínua, se necessário pela equipe de Enfermagem. Na presença de qualquer sinal de agravamento ou choque a reavaliação médica deve ser imediata. Exames para confirmação de dengue são obrigatórios para os pacientes do grupo C, mas não são essenciais para conduta clínica. Na primeira coleta de sangue, solicitar realização destes exames, atentando para a necessidade de acondicionamento adequado: -20ºC para realização da sorologia (após o quinto dia) e - 70ºC para realização do isolamento viral ou PCR (até o quinto dia de doença). Prescrever paracetamol e/ou dipirona Notificar o caso. Após preencher critérios de alta, o retorno para reavaliação clínica e laboratorial segue orientação conforme grupo B. Preencher cartão de acompanhamento. Orientar sobre a eliminação de criadouros do Aedes aegypti e sobre a importância do retorno para reavaliação clínica. Os pacientes do Grupo C devem permanecer em leito de internação até estabilização e critérios de alta, por um período mínimo de 48 horas. Oferecer O2 em todas as situações de choque (cateter, máscara, Cpap nasal, ventilação não invasiva, ventilação mecânica), definindo a escolha em função da tolerância e da gravidade. Pacientes dos grupos C e D podem apresentar edema subcutâneo generalizado e derrames cavitários, pela perda capilar, que não significa, a princípio, hiper-hidratação, e que pode aumentar após hidratação satisfatória; o acompanhamento da reposição volêmica é feita pelo hematócrito, diurese e sinais vitais. Evitar procedimentos invasivos desnecessários, toracocentese, paracentese, pericardiocentese; no tratamento do choque compensado é aceitável catéter periférico de grande calibre; nas formas iniciais de reanimação o acesso venoso deve ser obtido o mais rapidamente possível. A via intraóssea em crianças pode ser escolha para administração de líquidos e medicamentos durante a RCP ou tratamento do choque descompensado, se o acesso vascular não for rapidamente conseguido; no contexto de parada cardíaca ou respiratória, quando não se estabelece a via aérea por intubação orotraqueal, por excessivo sangramento de vias aéreas, o uso de máscara laríngea pode ser uma alternativa. Monitoração hemodinâmica minimamente invasiva, como oximetria de pulso, é desejável, mas em pacientes graves, descompensados, de difícil manuseio, os benefícios de monitoração invasiva como PAM, PVC, Svc02 podem suplantar os riscos. O choque com disfunção miocárdica pode necessitar de inotrópicos; tanto na fase de extravasamento como na fase de reabsorção plasmática, lembrar que, na primeira fase, necessita reposição hídrica e, na segunda fase, há restrição hídrica. Dose das drogas inotrópicas Dopamina: 5-10 microgramas/kg/min. Dobutamina: 5-20 microgramas/kg/min. Milrinona: 0,5 a -0,8 microgramas/kg/min. – Atenção – Dose corrigida. GRUPO D: Caracterização: Caso suspeito de dengue. Presença de sinais de choque, sangramento grave ou disfunção grave de órgãos. Conduta: Reposição volêmica (adultos e crianças): Iniciar imediatamente fase de expansão rápida parenteral, com solução salina isotônica: 20 ml/kg em até 20 minutos, em qualquer nível de complexidade, inclusive durante eventual transferência para uma unidade de referência, mesmo na ausência de exames complementares. Caso necessário, repetir por até três vezes, de acordo com avaliação clínica Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 6 DENGUE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA Se houver melhora clínica e laboratorial após fases de expansão, retornar para a fase de expansão do grupo C e seguir a conduta recomendada para o grupo Reavaliação clínica a cada 15-30 minutos e de hematócrito em 2 horas. Estes pacientes necessitam ser continuamente monitorados. Estes pacientes devem permanecer em acompanhamento em leito de UTI até estabilização (mínimo 48 horas), e após estabilização permanecer em leito de internação. Realizar exames complementares obrigatórios: Hemograma completo. Dosagem de albumina sérica e transaminases. Os exames de imagem recomendados são radiografia de tórax (PA, perfil e incidência de Laurell) e ultrassonografia de abdome. O exame ultrassonográfico é mais sensível para diagnosticar derrames cavitários, quando comparados à radiografia. Outros exames poderão ser realizados conforme necessidade: glicemia, ureia, creatinina, eletrólitos, gasometria, TPAE e ecocardiograma. Exames para confirmação de dengue são obrigatórios, mas não são essenciais para conduta clínica. Na primeira coleta de sangue, solicitar realização destes exames, atentando para a necessidade de acondicionamento adequado: -20ºC para realização da sorologia (após o quinto dia) e -70ºC para realização do isolamento viral ou PCR (até o quinto dia de doença). Acompanhamento em leito de terapia intensiva. No caso de resposta inadequada, caracterizada pela persistência do choque, deve-se avaliar: Se o hematócrito estiver em ascensão, após a reposição volêmica adequada – utilizar expansores plasmáticos (albumina 0,5-1 g/kg); preparar solução de albumina a 5% (para cada 100 ml desta solução, usar 25 ml de albumina a 20% e 75 ml de SF a 0,9%); na falta desta, usar coloides sintéticos, 10 ml/kg/hora. Se o hematócrito estiver em queda e houver persistência do choque – investigar hemorragias e avaliar a coagulação. Na presença de hemorragia, transfundir concentrado de hemácias (10 a 15 ml/kg/dia). Na presença de coagulopatias avaliar necessidade de uso de plasma fresco (10 ml/kg), vitamina K endovenosa e crioprecipitado (1 U para cada 5-10 kg). Considerar a transfusão de plaquetas nas seguintes condições: sangramento persistente não controlado, depois de corrigidos os fatores de coagulação e do choque, e com trombocitopenia e INR maior que 1,5 vezes o valor normal. Se o hematócrito estiver em queda com resolução do choque, ausência de sangramentos, mas com o surgimento de outros sinais de gravidade, observar: Sinais de desconforto respiratório, sinais de insuficiência cardíaca congestiva e investigar hiperhidratação. Deve-se tratar com diminuição importante da infusão de líquido, uso de diuréticos e drogas inotrópicas, quando necessário. A infusão de líquidos deve ser interrompida ou reduzida à velocidade mínima necessária se: Houver término do extravasamento plasmático; Normalização da pressão arterial, do pulso e da perfusão periférica; Diminuição do hematócrito, na ausência de sangramento; Diurese normalizada; Resolução dos sintomas abdominais. Notificar o caso. Após preencher critérios de alta, o retorno para reavaliação clínica e laboratorial segue orientação conforme grupo B. Preencher cartão de acompanhamento. Orientar o retorno após a alta. Oferecer O2 em todas as situações de choque (cateter, máscara, Cpap nasal, ventilação não invasiva, ventilação mecânica), definindo a escolha em função da tolerância e da gravidade. Pacientes dos grupos C e D podem apresentar edema subcutâneo generalizado e derrames cavitários, pela perda capilar, que não significa, a princípio, hiper-hidratação, e que pode aumentar após hidratação satisfatória; o acompanhamento da reposição volêmica é feita pelo hematócrito, diurese e sinais vitais. Evitar procedimento s invasivos desnecessários, toracocentese, paracentese, pericardiocentese; no tratamento do choque compensado é aceitável catéter periférico de grande calibre; nas formas iniciais de reanimação o acesso venoso deve ser obtido o mais rapidamente possível. A via intraóssea em crianças pode ser escolha para administração de líquidos e medicamentos durante a RCP ou tratamento do choque descompensado, se o acesso vascular não for rapidamente conseguido; no Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 7 DENGUE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA contexto de parada cardíaca ou respiratória, quando não se estabelece a via aérea por intubação orotraqueal, por excessivo sangramento de vias aéreas, o uso de máscara laríngea pode ser uma alternativa. Monitoração hemodinâmica minimamente invasiva, como oximetria de pulso, é desejável, mas em pacientes graves, descompensados, de difícil manuseio, os benefícios de monitoração invasiva como PAM, PVC, Svc02 podem suplantar os riscos. O choque com disfunção miocárdica pode necessitar de inotrópicos; tanto na fase de extravasamento como na fase de reabsorção plasmática, lembrar que, na primeira fase, necessita reposição hídrica e, na segunda fase, há restrição hídrica. Dose das drogas inotrópicas Dopamina: 5-10 microgramas/kg/min. Dobutamina: 5-20 microgramas/kg/min. Milrinona: 0,5 a -0,8 microgramas/kg/min. – Atenção – Dose corrigida. INTERNAÇÃO: INDICAÇÕES: Presença de sinais de alarme ou de choque, sangramento grave ou comprometimento grave de órgão (grupos C e D). Recusa na ingestão de alimentos e líquidos. Comprometimento respiratório: dor torácica, dificuldade respiratória, diminuição do murmúrio vesicular ou outros sinais de gravidade. Impossibilidade de seguimento ou retorno à unidade de saúde. Comorbidades descompensadas como diabetes mellitus, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, uso de dicumarínicos, crise asmática etc. Outras situações a critério clínico. ALTA HOSPITALAR: Os pacientes precisam preencher todos os seis critérios a seguir: Estabilização hemodinâmica durante 48 horas. Ausência de febre por 48 horas. Melhora visível do quadro clínico. Hematócrito normal e estável por 24 horas. Plaquetas em elevação e acima de 50.000/mm³
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