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EMBRIOLOGIA CLÍNICA EMBRIOLOGIA CLÍNICA Em briologia Clínica Lindamar Maria de Souza Lindamar Maria de Souza GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro O século XXI é marcado pelo avanço da ciência e tecnologia em todas as áreas. Na Biologia e Biomedicina, conhecemos a célula e seu funcionamento, tornando possível a implantação de estratégias que bene� ciam as populações. As pesquisas cientí� cas em embriologia humana têm fornecido ferramentas de ines- timável valor para a reprodução assistida, ampliando o repertório das técnicas para viabilizar a gestação em mulheres com di� culdades de engravidar. As técnicas mais primitivas de inseminação arti� cial evoluíram até so� sticadas técnicas de fertili- zação in vitro. Acompanhando as transformações sociais, as mulheres que desejam adiar o sonho da maternidade podem contar com as técnicas de congelamento de ga- metas para fecundá-los no momento mais apropriado. Igualmente, homens e mulhe- res podem preservar seus gametas antes de iniciar tratamentos que comprometam a fertilidade. Em alguns países, a legislação já permite a utilização da clonagem terapêutica, que consiste na produção de embriões cuja � nalidade é a obtenção de células-tronco em- brionárias para o tratamento de doenças incuráveis. Diante de tantas perspectivas que bene� ciam a saúde humana, esperamos que a lei- tura das próximas páginas seja apreciada e que contribua para o debate e a formação intelectual, sabendo que a Embriologia é uma área promissora para aqueles que se dedicam à Biomedicina. Capa_SER_BIOMED_EMBCLI.indd 1,3 25/09/2020 10:51:02 © Ser Educacional 2020 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Lindamar Maria de Souza DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 2 25/09/2020 15:09:30 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 3 25/09/2020 15:09:30 Unidade 1 - Do indivíduo ao seu filho: os processos de produção dos gametas e fecundação Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 Gametogênese e fecundação ............................................................................................ 13 Fases da gametogênese e formação dos gametas feminino e masculino ............ 13 Fases da fecundação e formação da célula-ovo ou zigoto ..................................... 16 As células e a organização do genoma humano ....................................................... 18 Tipos de divisão celular: mitose para organogênese e meiose para gametogênese ..... 21 Espermatogênese ................................................................................................................. 24 Sistema reprodutor masculino ...................................................................................... 26 O caminho do espermatozoide pelo sistema reprodutor masculino ...................... 28 Oogênese ou ovulogênese.................................................................................................. 29 Os folículos ovarianos durante a oogênese ............................................................... 36 Infertilidade x esterilidade ................................................................................................. 38 Infertilidade relacionada à mulher ............................................................................... 39 Infertilidade relacionada ao homem ............................................................................ 41 Sintetizando ........................................................................................................................... 43 Referências bibliográficas ................................................................................................. 45 Sumário SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 4 25/09/2020 15:09:30 Sumário Unidade 2 - Ciclo reprodutivo da mulher e fecundação Objetivos da unidade ........................................................................................................... 47 Ciclos reprodutivos, mecanismos da fecundação e métodos contraceptivos ......... 48 Fases da mulher e potencial reprodutivo: menarca, menacme e menopausa ..... 48 Anatomia e fisiologia do sistema reprodutor feminino ............................................. 51 Métodos de fecundação ................................................................................................ 54 Métodos contraceptivos ................................................................................................ 56 Fisiologia do ciclo menstrual ............................................................................................ 60 Ciclos reprodutivos femininos: ovariano e uterino .................................................... 62 Marcos históricos e políticas públicas da reprodução humana ............................... 70 Marcos históricos do desenvolvimento da reprodução humana .......................... 71 Políticas públicas voltadas para a reprodução humana .......................................... 73 Sintetizando ........................................................................................................................... 75 Referências bibliográficas ................................................................................................. 77 EMBRIOLOGIA CLÍNICA 5 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 5 25/09/2020 15:09:30 Sumário Unidade 3 – Reprodução assistida: das técnicas ao laboratório Objetivos da unidade ........................................................................................................... 81 Reprodução humana assistida .......................................................................................... 82 Coleta dos espermatozoides ......................................................................................... 83 Hiperestimulação ovariana controlada (HOC) e coleta dos oócitos ...................... 84 Complicações das técnicas de reprodução assistida .................................................. 85 Técnicas de baixa complexidade: inseminação intrauterina e coito programado ....... 87 Técnicas de alta complexidade: fertilização in vitro e injeção intracitoplasmática de espermatozoides .............................................................................................................90 Transferência embrionária ................................................................................................. 95 Transferência de gametas, zigoto ou pré-embrião à tuba uterina .......................... 97 Diagnóstico pré-implantacional e sexagem ............................................................... 99 Laboratório de reprodução humana ............................................................................... 100 Condições arquitetônicas do laboratório de reprodução assistida ..................... 102 Equipamentos e acessórios ......................................................................................... 104 Sintetizando ......................................................................................................................... 107 Referências bibliográficas ............................................................................................... 109 EMBRIOLOGIA CLÍNICA 6 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 6 25/09/2020 15:09:30 Sumário Unidade 4 - Cultura de tecidos, criopreservação e micromanipulação Objetivos da unidade ......................................................................................................... 112 Cultura de embriões e tecidos ........................................................................................ 113 Desenvolvimento embrionário .................................................................................... 115 Meio de cultura e desenvolvimento embrionário .................................................... 117 Fundamentos de criobiologia .......................................................................................... 119 Crioprotetores ................................................................................................................ 122 Técnicas de congelamento ......................................................................................... 124 Criopreservação de gametas, embriões e tecido gonadal ........................................ 128 Criopreservação de espermatozoides ....................................................................... 129 Criopreservação de embriões ..................................................................................... 131 Criopreservação de oócitos ........................................................................................ 135 Criopreservação de tecido ovariano .......................................................................... 137 Procedimentos de micromanipulação ........................................................................... 138 Noção de saúde reprodutiva ............................................................................................ 140 Sintetizando ......................................................................................................................... 142 Referências bibliográficas ............................................................................................... 144 EMBRIOLOGIA CLÍNICA 7 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 7 25/09/2020 15:09:30 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 8 25/09/2020 15:09:30 O século XXI é marcado pelo avanço da ciência e tecnologia em todas as áreas. Na Biologia e Biomedicina, conhecemos a célula e seu funcionamento, tornando possível a implantação de estratégias que benefi ciam as populações. As pesquisas científi cas em embriologia humana têm fornecido ferramen- tas de inestimável valor para a reprodução assistida, ampliando o repertório das técnicas para viabilizar a gestação em mulheres com difi culdades de en- gravidar. As técnicas mais primitivas de inseminação artifi cial evoluíram até sofi sticadas técnicas de fertilização in vitro. Acompanhando as transformações sociais, as mulheres que desejam adiar o sonho da maternidade podem contar com as técnicas de congelamento de gametas para fecundá-los no momento mais apropriado. Igualmente, homens e mulheres podem preservar seus ga- metas antes de iniciar tratamentos que comprometam a fertilidade. Em alguns países, a legislação já permite a utilização da clonagem terapêu- tica, que consiste na produção de embriões cuja fi nalidade é a obtenção de células-tronco embrionárias para o tratamento de doenças incuráveis. Diante de tantas perspectivas que benefi ciam a saúde humana, esperamos que a leitura das próximas páginas seja apreciada e que contribua para o deba- te e a formação intelectual, sabendo que a Embriologia é uma área promissora para aqueles que se dedicam à Biomedicina. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 9 Apresentação SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 9 25/09/2020 15:09:30 Este livro é dedicado a todos os profi ssionais de saúde, que se dedicam ao ofício de promover a saúde física e mental da população. A professora Lindamar Maria de Sou- za é doutora em Imunologia Básica e Aplicada, pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP (2000). Possui mestra- do em Parasitologia e Imunologia Bási- ca e Aplicada pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU (1995). Além disso, é graduada, com licenciatura plena, em Biologia, pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU (1993), e também em licenciatura em Ciências Exatas e Na- turais, pela Universidade de Uberaba – UNIUBE (1990). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3832628361945208 EMBRIOLOGIA CLÍNICA 10 A autora SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 10 25/09/2020 15:09:33 DO INDIVÍDUO AO SEU FILHO: OS PROCESSOS DE PRODUÇÃO DOS GAMETAS E FECUNDAÇÃO DO INDIVÍDUO AO SEU FILHO: OS PROCESSOS DE PRODUÇÃO DOS 1 UNIDADE SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 11 25/09/2020 15:10:00 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender o processo da gametogênese, da fecundação e os processos de divisão celular envolvidos; Explicar a gametogênese e as etapas envolvidas na espermatogênese e ovogênese; Conceituar infertilidade e esterilidade, explicando suas principais causas. Gametogênese e fecundação Fases da gametogênese e formação dos gametas feminino e masculino Fases da fecundação e forma- ção da célula-ovo ou zigoto As células e a organização do genoma humano Tipos de divisão celular: mito- se para organogênese e meiose para gametogênese Espermatogênese Sistema reprodutor masculino O caminho do espermatozoide pelo sistema reprodutor masculino Oogênese ou ovulogênese Os folículos ovarianos durante a oogênese Infertilidade x esterilidade Infertilidade relacionada à mulher Infertilidade relacionada ao homem EMBRIOLOGIA CLÍNICA 12 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 12 25/09/2020 15:10:00 Gametogênese e fecundação A gametogênese é o processo pelo qual as células germinativas das gôno- das produzem os gametas ou células sexuais – espermatozoides, nos homens; oócitos secundários, nas mulheres. Esse processo envolve dois tipos diferentes de divisão celular: a mitose, que é responsável pelo aumento numérico das cé- lulas, mantendo o número de cromossomos (2n), e a meiose, a qual reduz pela metade o número de tais cromossomos (n). A gametogênese é um processo lento e progressivo, fundamental para a reprodução sexuada e a propagação das espécies (MOORE et al., 2016; ARAÚJO et al., 2017). A gametogênese do homem se chama espermatogênese e acontece nos testículos, enquanto a gametogênese da mulher se chama oogênese, ovogê- nese ou ovulogênese, e acontece nos ovários. A fecundação, por sua vez, tem objetivo inverso da gametogênese: ao invés de dividir células e cromossomos, ela os reúne em uma única célula (o zigoto), a qual passará por divisões mitóticas até formar um novo indivíduo com caracte- rísticas herdadas do casal (MOORE, 2016; MUSTACCHI, PERES, 2000). Fases da gametogênese e formação dos gametas feminino e masculino A formação dos gametas se inicia ainda no período embrionário, ocasião na qual as células germinativas dos ovários e dos testículos iniciarão um lon- go e progressivo processo até culminar na produção dosgametas feminino e masculino, respectivamente. Para chegar aos oócitos secundários e espermatozoides, as células ger- minativas passam por três fases características, as quais envolvem mitose, meiose e diferenciação celular. Embora semelhantes, existem particularida- des entre elas: a oogênese e espermatogênese. As fases da gametogênese e suas características são: • Fase de multiplicação: nesta fase, as células germinativas precursoras do embrião se dividem por mitose e passam por diferenciação celular, de modo a serem diferentes das células das quais provêm. Ao fi nal desta fase, obtém-se todo o repertório de oogônias nos ovários, enquanto as esperma- EMBRIOLOGIA CLÍNICA 13 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 13 25/09/2020 15:10:00 togônias continuarão a passar por mitoses ao longo da vida. Esta é uma dife- rença significativa entre a oogênese e a espermatogêse. Início e finalização da produção de oogônias, por mitose, antes do nascimento. Ovogônias envolvidas por células foliculares (folículo embrionário primordial). Início da produção das espermatogônias, por mitose, antes do nascimento; Latência até a puberdade; Retomada da produção de espermatogônias ao longo da vida. Oogênese Espermatogênese DIAGRAMA 1. FASE DE MULTIPLICAÇÃO DA OOGÊNESE E DA ESPERMATOGÊNESE – MITOSE • Fase de crescimento: as oogônias e as espermatogônias aumentam de volume para se diferenciarem em oócitos I (também chamados ovó- citos I ou oócitos primários) e espermatócitos I. Nas meninas, a fase de crescimento se inicia no 4º mês de vida intrauterina e termina ainda an- tes do nascimento, com os ovócitos I ricos em reservas nutritivas a serem utilizadas para nutrir o futuro embrião, no caso de fecundação. Nos es- permatócitos I, o aumento de volume é bem sutil, visto que não guardam reservas nutritivas. A característica marcante da fase de crescimento é a diferenciação celular das gônias, a fim de prepará-las para a fase seguinte quando sofrerão meiose. • Fase de maturação: é quando ocorrem as duas meioses. A primeira de- las divide o número de cromossomos entre as células-filhas: espermatócitos II e oócitos II (também chamados oócitos secundários), na espermatogênese e oogênese, respectivamente. A segunda meiose forma 4 espermátides na es- permatogênese e 1 ovócito II e 3 corpúsculos polares (também chamados de corpos polares) na oogênese. Esta fase é bastante complexa e exibe muitas diferenças entre a oogênese, que é muito longa e demora anos para formar em um único oócito secundário. Já a espermatogênese é muito rápida, mas requer uma etapa de diferenciação e especialização chamada espermiogêne- se, na qual as espermátides se diferenciarão em espermatozoides (MOORE, 2016; MUSTACCHI, PERES, 2000). EMBRIOLOGIA CLÍNICA 14 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 14 25/09/2020 15:10:01 A visão geral das etapas envolvidas na espermatogênese e na oogênese até a formação dos gametas e fecundação pode ser analisada na Figura 1. Figura 1. Ilustração da visão geral da espermatogênese e ovogênese até a formação da célula-ovo ou zigoto (2n). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/07/2020. 2n Espermatogênese Oogênese 2n 2n 2n 2n 2n2n2n 2n 2n 2n 2n2n2n2n 2n 2n n n n n n nn n nnn n nnnn Ao fi nal da espermatogênese, são gerados milhares de gametas masculi- nos, os espermatozoides e, exceto raras exceções, um único oócito II (Figura 2). Figura 2. Gametas humanos: espermatozoide e oócito II. Fonte: MOORE, 2016. Acrossoma Peça principal da cauda Colo Cabeça Núcleo coberto pelo acrossoma Células foliculares da corona radiata Primeiro corpo polar Peça intermediária da cauda Citoplasma Zona pelúcida Núcleo Peça terminal da cauda EMBRIOLOGIA CLÍNICA 15 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 15 25/09/2020 15:10:13 Fases da fecundação e formação da célula-ovo ou zigoto A fecundação é a fusão entre o pró-núcleo do espermatozoide e o pró-nú- cleo feminino dentro do oócito II, integrando o material genético dos gametas masculino e feminino para então formar a célula-ovo ou zigoto. Na sequência, ocorrem sucessivas divisões celulares por mitoses, que culminam na organogê- nese e na formação do novo indivíduo. DIAGRAMA 2. BIOLOGIA DA FECUNDAÇÃO Oócito completa segunda divisão meiótica e provoca ativação metabólica da oótide (oócito quase maduro) para iniciar a clivagem do zigoto. Promove a variabilidade da espécie pela mistura de cromossomos paternos e maternos. Restaura o número diploide de cromossomos (46) no zigoto. Determina o sexo cromossômico do embrião. FECUNDAÇÃO Na fecundação natural, os espermatozoides são ejaculados no canal vaginal e passam ao colo uterino, onde se tornam capacitados, o que signifi ca dizer que a cobertura glicoproteica e de proteínas seminais é removida da superfí- cie do acrossoma, alterando também sua membrana plasmática. Então, eles respondem aos estímulos e nadam até a tuba uterina, recrutados por sinais químicos liberados pelo oócito II e as células foliculares que o envolvem. Para isso, eles contam com a ajuda do muco cervical e do esperma, que auxiliam a neutralizar o pH ácido da vagina. Os oócitos têm uma vida média de 12 horas após a ovulação, enquanto os espermatozoides sobrevivem por até 48 horas no corpo feminino (MOORE, 2016). Esse trajeto está ilustrado na Figura 3. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 16 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 16 25/09/2020 15:10:13 Figura 3. Caminho dos espermatozoides, do canal vaginal até o oócito II, na tuba uterina, onde ocorre a fecundação. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/07/2020. Para acontecer a fusão do gameta feminino e masculino, é necessário que ocorra uma série de eventos moleculares coordenados, os quais se iniciam com o contato entre um espermatozoide e um oócito II e terminam quando os cromossomos maternos e paternos se misturam durante a primeira divisão mitótica do zigoto, na fase da metáfase. O processo se completa em 24 horas. DIAGRAMA 3. FASES DA FECUNDAÇÃO ATÉ A FORMAÇÃO DA CÉLULA-OVO OU ZIGOTO Vários espermatozoides circundam o oócito II e liberam enzimas para dissolver as células foliculares da corona radiata e permitir a pene- tração da zona pelúcida; Fusão dos pró-nucleos masculinos e feminino; Um espermatozoide penetra no oócito II, o qual termina a segunda divisão meiótica, fomando o oócito maduro; Mistura dos cromossomos maternos e paternos na metáfase da primeira divisão mitótica do zigoto; Formação do zigoto diploide unicelular. Fonte: MOORE, 2016. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 17 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 17 25/09/2020 15:10:17 CURIOSIDADE Um fato surpreendente é que o gameta feminino depende do esperma- tozoide para completar a meiose II, fi nalizar o desenvolvimento e, assim, tornar-se ele mesmo um gameta. Outro evento digno de referência é o fato de o oócito I, que se diferencia antes de a menina nascer, iniciar o acúmu- lo de reservas nutricionais para atender à demanda do futuro embrião. Para compreender os eventos que ocorrem desde a produção dos gametas até a fecundação e formação de um novo indivíduo, convém saber alguns con- ceitos e nomenclaturas a respeito da célula, dos tipos de divisão celular e da organização do genoma humano. As células e a organização do genoma humano As células que formam os corpos dos seres vivos são chamadas de células somáticas e contêm, em seus núcleos, o genoma que caracteriza a espécie e torna único cada indivíduo, diferenciando-o dos demais de sua espécie. O ge- noma é o conjunto de genes que, por sua vez, são constituídos por moléculas de ácido desoxirribonucleico – DNA (MOORE, 2016; MUSTACCHI, PERES, 2000). As células dos seres vivos passam por dois tipos distintos de divisão celular: a mitose, cujo objetivo é aumentar o número de células fi lhas idênticas à célula-mãe, e a meiose, cujo resultado é a formação de duas células-fi lhas contendo a metade do número de cromossomos da célula-mãe. As células somáticas se dividem por mitose pararepor células mortas e também para permitir o desenvolvimento e crescimento. As células-fi lhas são clones da célula-mãe, mas também podem sofrer processos de diferenciação celular que as tornarão diferentes da célula de origem. ASSISTA Desde a fecundação, o zigoto passa por várias mitoses consecutivas e por diferenciação celular, para formação do embrião e do feto. É surpreendente que uma única célula possa originar células, tecidos e órgãos até fi nalmente formar o novo indivíduo. Tão importante quanto a formação de novas células é a morte celular das células programa- das, também chamada de apotose. Para entender como a diferenciação celular e a apoptose estão envolvidas na formação dos seres vivos, assista à videoaula: Células e Tecidos - aula 16 - Diferenciação e morte celular. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 18 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 18 25/09/2020 15:10:17 Na espécie humana, o DNA está organizado em 46 pares de cromossomos, presentes nos núcleos das células somáticas. Na maior parte do ciclo celular, esses cromossomos estão desorganizados e constituem a cromatina. Porém, por ocasião da mitose, a cromatina se condensa fortemente para formar os cromossomos e, assim, facilitar a divisão da metade exata de cromossomos entre as duas células-filhas. A organização do DNA em pares de cromossomos, localizados nos núcleos das células somáticas, está ilustrada na Figura 4. Figura 4. Ilustração da célula somática com os pares de cromossomos formados por DNA. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/07/2020. Célula Cromossomo Cromátide DNA Durante o ciclo celular, as células passam por diversas etapas, sendo a interfase o período de maior atividade celular, que corresponde à maior parte do ciclo celular. Durante a interfase, o DNA está disperso e não é possível visualizar individualmen- te os cromossomos, pois a cromatina não está enovelada e ocupa a maior parte do núcleo celular. Porém, no momento da mitose, as moléculas de DNA se organizam em forma de espirais condensadas, formando os cromossomos, os quais podem ser individualmente visíveis e identificados nas fotografias. A análise dos cromosso- mos durante a mitose constitui o estudo do cariótipo e permite diagnosticar altera- ções cromossômicas. Esse processo facilita a divisão igualitária do material genéti- co entre as duas células-filhas, garantindo que sejam clones idênticos à célula-mãe. Assim, os termos cromatina e cromossomo são utilizados para designar o estado no qual se encontra a molécula de DNA: frouxa, durante a interfase; condensada, durante a mitose. A Figura 5 mostra a fotografia do cariótipo normal humano, com 23 pares de cromossomos (MOORE, 2016; MUSTACCHI, PERES, 2000). EMBRIOLOGIA CLÍNICA 19 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 19 25/09/2020 15:10:17 Figura 5. Cariótipo de uma célula somática de um homem mostrando os 22 pares de cromossomos autossômicos e um par de cromossomos sexuais, o 23º. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/07/2020. 12 24 11 23 10 22 9 21 8 20 7 19 6 18 5 17 4 16 3 15 2 14 1 13 As células somáticas têm 23 pares de cromossomos, sendo 22 pares au- tossômicos e um par sexual, pois ele determinará o sexo do bebê. O par de cromossomos sexuais presente nas células autossômicas dos homens é com- posto por um cromossomo X e um cromossomo Y, ao passo que, nas células autossômicas das mulheres, o par de cromossomos sexuais é composto por dois cromossomos X. Já nas células embrionárias, os gametas que não os pos- suem aos pares têm 22 cromossomos autossômicos e 1 cromossomo sexual. Todos os óvulos exibem apenas o cromossomo sexual X, enquanto metade dos espermatozoides contém um cromossomo X, e, a outra metade, um cromos- somo Y. Sendo assim, é possível perceber que a Figura 2 mostra o cariótipo de um homem, pois o 23º par de cromossomo contém um cromossomo X e outro Y (MOORE, 2016; MUSTACCHI, PERES, 2000). A representação dos conceitos relacionados aos termos usados para se re- ferir às células somáticas e embrionárias está ilustrada no Diagrama 4. DIAGRAMA 4. TERMOS USADOS PARA DESIGNAR AS CÉLULAS SOMÁTICAS E GERMINATIVAS Células humanas Somáticas ou autossômicas (presentes em todo o corpo) Diploides (2n) Homens: 42, XY Mulheres: 42, XX Germinativas (gametas) Haploides (n) Espermatozoides 22, Y 22, X Óvulos 22, X EMBRIOLOGIA CLÍNICA 20 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 20 25/09/2020 15:10:17 Tipos de divisão celular: mitose para organogênese e meiose para gametogênese A divisão celular é o processo pelo qual uma célula origina duas outras. Em humanos, a divisão celular se dá por duas formas diferentes: a mitose e a meio- se. Ambos os processos envolvem diferentes fases e obedecem a rigorosos mecanismos de controle celular. A mitose e a formação do corpo A mitose é o processo de divisão celular realizado por vários tipos de célu- las, inclusive pelo zigoto, que resulta na proliferação de células somáticas idên- ticas à célula-mãe. Inicialmente, ocorre duplicação de seu material genético para, posteriormente, dividi-lo entre suas duas células-fi lhas, que são clones da célula-mãe. Na mitose, o número de cromossomos das células-fi lhas é sempre igual ao da célula-mãe. Esse tipo de divisão celular é imprescindível para for- mação dos seres vivos pluricelulares a partir da fecundação, assim como para a reposição e renovação de células. Em muitos casos, as células resultantes da mitose passarão por mecanismos de diferenciação celular para que se tor- nem células diferentes da célula-mãe – sem tal diferenciação, seria impossível a organogênese. Todas as células resultantes da divisão celular por mitose são células somáticas diploides (2n) (MOORE, 2016; MUSTACCHI, PERES, 2000). A meiose e a formação dos gametas A meiose é um processo especial de divisão celular pelo qual passam ape- nas as células germinativas presentes nas gônodas sexuais para formar os ga- metas. Contudo, tal divisão não é precedida pela duplicação dos cromossomos, de modo que as células resultantes da meiose contêm a metade de cromosso- mos da célula-mãe. Assim, é por meio da meiose que o número de cromosso- mos das células somáticas (2n) é dividido ao meio, promovendo a diferenciação das células germinativas (n): oócito primário (n) e espermatozoide (n). Portanto, todas as células resultantes da divisão celular por meiose são células germi- nativas haploides (n), ou seja, gametas. Para entender as fases da meiose, é importante conhecer a estrutura e nomenclatura dos cromossomos. Cada cromossomo tem uma forma, tamanho e posição do centrômero, sendo composto por sequências gênicas exclusivas. Eles se dispõem aos pa- res, nas células diploides, que são chamados de cromossomos homólogos. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 21 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 21 25/09/2020 15:10:17 Durante a meiose, formam-se pares de cromossomos homólogos, sendo um deles proveniente do espermatozoide e o outro do oócito secundário. O cen- trômero é uma constricção que divide os cromossomos em dois braços, cujos tamanhos variam de acordo com o cromossomo, sendo chamados de braços curtos e braços longos. As cromátides são o resultado da divisão longitudinal dos cromossomos. A Figura 6 ilustra a estrutura dos cromossomos (MOORE, 2016; MUSTACCHI, PERES, 2000). Figura 6. Ilustração representando a estrutura do cromossomo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/07/2020. Cromátides-irmãs Cromossomos homólogos Cromossomos homólogo 1 Cromossomos homólogo 2 Centrômero Cromátides-irmãs Para a formação dos gametas, são necessárias duas rodadas de meiose: • Primeira divisão meiótica: é chamada de divisão reducional, uma vez que o número de cromossomos é reduzido de diploide para haploide. Durante a prófa- se, que é o primeiro estágio da meiose, ocorre pareamento dos cromossomos homólogos (formando um par de cromossomos – um do pai e um da mãe). Os cro- mossomos, com cromátides duplas, são presos pelos centrômerosao fuso. Apesar de não serem homólogos, os cromossomos sexuais X e Y se emparelham nas extre- midades dos braços curtos, as quais são homólogas. Posteriormente, na anáfase, os cromossomos se movem da placa equatorial (no centro da célula) e separam-se, de modo que um representante de cada par de cromossomos migra aleatoriamen- te para um polo do fuso meiótico. Ao fi nal da meiose I, as células formadas são haploides, sendo elas o espermatócito secundário ou o oócito secundário. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 22 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 22 25/09/2020 15:10:23 • Segunda divisão meiótica: cada cromossomo de cromátide dupla se divide em duas metades, formando duas cromátides. A seguir, cada cromátide se dire- ciona a um polo da célula, mantendo o número haploide de cromossomos (23) em cada célula-fi lha. Porém, agora cada cromossomo tem cromátide única. A segunda divisão meiótica é semelhante a uma mitose normal, com a diferença de resultar em duas células haploides (MOORE, 2016; MUSTACCHI, PERES, 2000). Os estágios da meiose I e da meiose II estão ilustrados na Figura 7. Figura 7. Estágios das duas fases da meiose. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/07/2020. Estágios da meiose Meiose I - separação dos cromossomos homólogos Meiose II (separação das cromátides-irmãs) Telófase I +Citocinese Telófase II +Citocinese Anáfase I Anáfase II Metáfase I Metáfase II Interfase Prófase I Prófase II Intercinese Embora a função de maior destaque da meiose seja a de reduzir o número de cromossomos pela metade para formação dos gametas, garantindo a manuten- ção do número de cromossomos nas espécies após a fecundação, ela tem papel imprescindível na variabilidade genética. Isso porque, durante a meiose, ocorre EMBRIOLOGIA CLÍNICA 23 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 23 25/09/2020 15:10:31 o arranjo aleatório entre os cromossomos maternos e paternos, permitindo que o bebê tenha características diferentes daquelas exibidas pelos progenitores. O cruzamento de segmentos cromossômicos mistura os genes, reposicionando- -os, produzindo a recombinação do material genético. Espermatogênese A espermatogênese é o processo que ocorre nos túbulos seminíferos dos testículos, pelo qual as células germinativas primordiais, chamadas esperma- togônias, diferenciam-se em espermatozoides. Este processo demanda três fases: multiplicação, crescimento e maturação (MOORE, 2016). O menino nasce com espermatogônias, as quais permanecem em estado quiescente nos primeiros anos de vida. Estas células indiferenciadas se loca- lizam junto à membrana basal dos túbulos seminíferos, na área mais exter- na dos testículos. Elas apresentam núcleos ovalados ou arredondados, com cromatina densa, e são diploides. Por volta dos 6 anos de idade do menino, as espermatogônias iniciam o período de multiplicação para gerar novas es- permatogônias. Trata-se, portanto, de um processo de autorrenovação que se estenderá ao longo de toda a vida. Na mesma ocasião, isto é, por volta dos 6 anos de idade, as espermatogônias também se dividem por meio da mitose, para originar um estádio mais diferenciado de células chamadas espermatóci- tos primários, correspondendo à fase de multiplicação da espermatogênese. Os espermatócitos primários são células com núcleo volumoso, cuja cro- matina inicia o processo de condensação. Eles se afastam das espermatogô- nias que os originaram na membrana basal e se distribuem pela porção mais central dos túbulos seminíferos. Assim como as espermatogônias, os esper- matócitos primários são células diploides, com 46 cromossomos, dos quais 44 são autossômicos e 2 são sexuais: um X e outro Y. Cada espermatócito primá- rio passará pela primeira divisão meiótica para originar dois espermatócitos secundários haploides, cada um contendo 22 cromossomos autossômicos e um cromossomo X ou Y. Estas células caracterizam a fase de crescimento da espermatogênese (MOORE, 2016). No início da puberdade, por volta dos 12 anos de idade, cada espermatócito primário passará pela primeira divisão por meiose reducional, assim chama- EMBRIOLOGIA CLÍNICA 24 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 24 25/09/2020 15:10:31 da porque vai reduzir o número de cromossomos à metade, ou seja, as duas células resultantes, chamadas espermatócitos secundários, conterão 23 cro- mossomos cada, dos quais 22 serão autossômicos e 1 será sexual. Observe que uma das células resultantes da primeira meiose irá ficar com o cromossomo sexual X, enquanto a outra ficará com o cromossomo Y. Por isso, quando hou- ver fecundação, o sexo cromossômico do embrião será determinado de acordo com o tipo de espermatozoide (X ou Y) que fecundou o oócito. É importante ressaltar que, embora sejam haploides, os espermatócitos se- cundários ainda contêm cromossomos com duas cromátides. Na segunda divisão meiótica, eles formarão quatro células chamadas espermátides, que também são haploides, mas que contêm cromossomos com apenas uma cromátide. Esta é a fase de crescimento da espermatogênese e depende de hormônios sexuais. Finalmente, as espermátides se diferenciarão em espermatozoides e este processo da espermatogênese, denominado espermiogênese, não envolve di- visão, mas apenas uma grande diferenciação celular, marcada por muitas alte- rações morfofisiológicas. À medida que ocorre a espermatogênese, as células vão diminuindo de tamanho e ocupando regiões mais internas dos testículos, mas sempre dentro dos túbulos seminíferos. O processo completo, desde a formação do espermatócito primário até a diferenciação do espermatozoide, demora aproximadamente dois meses para acontecer. A nutrição dessas célu- las indiferenciadas é provida por células também localizadas nos túbulos semi- níferos chamadas células de Sertoli. Além disso, sob ação do hormônio folícu- lo estimulante (FSH), as células de Sertoli proporcionam o microambiente adequado para a proliferação das espermatogônias e a falta desse hormônio implicará azoospermia, provocada por hipogonadismo hipogonadotrópico – e, consequentemente, infertilidade masculina (MOORE et al., 2016; TANAKA et al., 2016). A Figura 8 ilustra a espermatogênese. CITANDO Para compreender a importância do hormônio folículo estimulante (FSH) sobre as células de Sertoli e a esperma- togênese, leia o caso clínico que relata as dificuldades de um casal, formado por um rapaz, de 27 anos, e sua esposa, de 26 anos, para engravidar: Infertilidade e Hipogonadismo (TANAKA, M.; PIOLI, R.; SAADE, R. 2016). EMBRIOLOGIA CLÍNICA 25 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 25 25/09/2020 15:10:31 Figura 8. Ilustração da espermatogênese. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 08/07/2020. Espermatogônia 2n 2n n n n n n n Espermatócito primário Meiose I Meiose II Espermatócito secundário Espermátide Espermatozoide Espermatogênese Sistema reprodutor masculino O sistema genital masculino é composto por dois testículos, conhecidos como gônadas masculinas, além de vários ductos pelos quais passam o esper- matozoide (deferentes, ejaculatório e uretra), de órgãos produtores de hormô- nios (próstata, glândula bulbouretral, vesículas seminais) e órgãos acessórios: escroto e pênis. Os dois testículos localizam-se no escroto, na região anterior do períneo, e fi cam atrás do pênis. Eles são constituídos por vários lóbulos, formados por tú- bulos seminíferos, os quais correspondem a 80 a 85% de sua massa. Os túbulos seminíferos são formados por espermatogônias e dois tipos de células somáti- cas, as quais participam da espermatogênese. São as células de Leydig, respon- sáveis pela secreção de testosterona, e as células de Sertoli, que promovem a sustentação das células espermáticas e produzem um líquido nutritivo para os espermatozoides. Eles ainda promovem a liberação dos espermatozoides na luz dos túbulos seminíferos e sua condução até o epidídimo. O esperma é produzido nos testículos (MOORE, 2016). EMBRIOLOGIA CLÍNICA 26 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 2625/09/2020 15:10:37 CURIOSIDADE Existe uma correlação positiva entre o número de células de Sertoli, o peso do testículo e o número de espermatozoides produzidos. Assim, a eficiência da produção espermática sofre influência do número de células. Os epidídimos são pequenos ductos que coletam e armazenam, por cerca de 18 horas, os espermatozoides, até que se tornem móveis, para depois os transportar aos ductos deferentes. As vesículas seminais são duas bolsas de aproximadamente 7,5 cm, loca- lizadas entre o fundo da bexiga e o reto, acima da próstata. Elas produzem um líquido rico em frutose, prostaglandinas e proteínas de coagulação, o qual será adicionado na secreção dos testículos e constitui 60% do volume do sêmen. Sua natureza alcalina é importante para neutralizar a acidez da vagina e mes- mo da urina remanescente na uretra, que seria letal aos espermatozoides. A próstata é um órgão localizado abaixo da bexiga, responsável pela pro- dução do líquido prostático que também compõe o sêmen. Ele estimula a mo- tilidade dos espermatozoides mais uma glândula cuja secreção é acrescentada ao líquido seminal. As glândulas bulbouretrais, também conhecidas como glândula de Co- wper, são duas pequenas estruturas arredondadas, do tamanho de uma er- vilha, próximas do bulbo do pênis e inferiores à próstata. Durante a excitação sexual, as glândulas bulbouretrais secretam um muco que lubrifica a extremi- dade do pênis e a uretra, diminuindo o atrito com os espermatozoides. O sistema reprodutor masculino tem três tipos de ductos pelos quais o es- permatozoide e outras substâncias são transportadas, sendo eles: • Ductos deferentes: uma extensão dos túbulos do epidídimo, com apro- ximadamente 6 metros de comprimento, enrolados acima dos testículos até a cavidade abdominal, na qual se unem aos ductos das vesículas seminais e se juntam à uretra. • Ductos ejaculatórios: são a porção final dos ductos deferentes. Eles atra- vessam a próstata até o colículo seminal da uretra prostática, para onde con- duzem os espermatozoides e o líquido seminal. • Uretra: tubo com cerca de 20 centímetros de comprimento que transpor- ta o sêmen durante a ejaculação. A uretra também transporta a urina. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 27 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 27 25/09/2020 15:10:37 O pênis é o órgão erétil, responsável por conduzir o espermatozoide até o canal vaginal. É formado por dois cilindros superiores, os corpos cavernosos, e um cilindro inferior, o corpo esponjoso. A parte externa do pênis é dividida em raiz, corpo e glande. O prepúcio é uma pele fi na e deslizante que envolve a parte livre do pênis (MOORE, 2016). O caminho do espermatozoide pelo sistema reprodu- tor masculino Quando a espermiogênese é completada, os espermatozoides deixam os vasos seminíferos e passam aos epidídimos. De lá, eles passam para os vasos deferentes, ductos das vesículas seminais, e à uretra. A maioria dos esperma- tozoides é armazenada nos vasos deferentes, os quais são envolvidos por três camadas de músculos lisos, cujas contrações empurram os espermatozoides em direção ao ducto ejaculatório próximo à uretra. O percurso do esperma- tozoide até a uretra está ilustrado na Figura 9. Figura 9. O trajeto do espermatozoide em um modelo do sistema reprodutor masculino. A fi gura não mostra a uretra. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/07/2020. 1. Dois testículos, formados por túbulos seminíferos: produzem os espermatozóides e células de Leydig: produzem testosterona. Pênis Glande Bexiga 2. Dois epidídimos: Espermatozóides tornam-se móveis e fi cam estocados 3. Dois ductos deferentes: Transportam os espermatozóides dos epidídimos até a vesícula seminal Próstata: Produz líquido prostático: nutrição, proteção contra acidez e motilidade do espermatozóide. 4. Vesícula seminal: glândula que produz o líquido seminal para nutrir o espermatozóide. Os dois ductos deferentes se fundem para formar um ducto ejaculatório. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 28 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 28 25/09/2020 15:10:41 O espermatozoide maduro Os espermatozoides maduros são células móveis formadas por uma cabe- ça, colo e uma cauda ou fl agelo: • Cabeça: representa a maior parte da célula e contém o núcleo, o qual é envolvido pelo acrossoma, uma organela sacular em forma de capuz que fi ca comprimida entre este e a membrana plasmática, na extremidade anterior do espermatozoide. O acrossoma se desenvolve a partir do complexo Golgiense e desempenha importante função na fecundação; • Colo: junção entre a cabeça e a cauda; • Cauda: fornece a motilidade que auxilia o espermatozoide a deslocar-se até o oócito primário. É formada por três segmentos: 1) peça intermediária, que contém mi- tocôndrias produtoras do trifosfato de adenosina (ATP) para fornecer energia para a motilidade do espermatozoide; 2) peça principal; e 3) peça termi- nal (MOORE, 2016). Oogênese ou ovulogênese A ooogênese ou ovogênese é o processo que ocorre no interior dos ovários, pelo qual as células germinativas primordiais do embrião feminino, chamadas oogônias, diferenciam-se em gametas femininos. Este processo se inicia ainda na vida intrauterina, por volta da 15ª semana de idade gestacional, e termina, para cada gameta, por ocasião da ovulação, sem, contudo, ainda ter formado gameta. Portanto, é possível que a oogênese demore de 12 a 50 anos para se completar. Assim como na espermatogênese, a oogênese demanda três fases para que se complete: multiplicação, crescimento e maturação, cujas durações, entretanto, diferem consideravelmente entre si. Quando a menina nasce, grande parte do processo de oogênese já aconteceu (MOORE, 2016; ARAUJO et al., 2007). Por ocasião do 4º mês da vida fetal, as células germinativas primordiais pas- sam por sucessivas divisões mitóticas para originar as oogônias, o que carac- teriza a fase de multiplicação da oogênese. A seguir, mas ainda na vida fetal, durante três a cinco meses, cada oogônia passará por signifi cativos processos de diferenciação celular para formar um EMBRIOLOGIA CLÍNICA 29 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 29 25/09/2020 15:10:41 oócito I, que é diploide. Cada oócito I é então envolvido por uma camada de cé- lulas epiteliais foliculares achatadas, as quais, à medida em que o tempo passa, vão se tornando cúbicas e depois cilíndricas. Cada ovócito primário envolvido pela camada de células foliculares forma um folículo primordial ou folículo ovariano. O oócito I do folículo primordial é volumoso, com 40 µm de diâme- tro, e o citoplasma já é abundante; o núcleo também é grande e a cromatina é frouxa, com nucléolo bem evidente. Nesta fase, os cromossomos encontram- -se duplicados e com duas cromátides cada um, as quais formam quiasmas (pontos de cruzamentos) entre cromátides não irmãs, devido ao crossing over. Logo após nascer e até a puberdade, os ovários são repletos desses folículos primordiais, sendo que à medida que ocorrem as ovulações, seus números vão diminuindo. Os folículos ovarianos são separados uns dos outros por tecido conjuntivo adjacente e por uma lâmina basal, e são considerados as unidades funcionais dos ovários, pois realizam as funções de produzir o futuro gameta feminino e seus nutrientes, bem como hormônios sexuais femininos. A forma- ção dos oócitos I não envolve mitose nem meiose, mas diferenciação celular das oogônias em ovócitos I bem volumosos, de forma que essa etapa é referida como fase de crescimento da oogênese. Ao nascer, a recém-nascida contém, em seus ovários, cerca de 2 milhões de oócitos I e nenhuma oogônia, uma vez que cada oogônia se diferenciou em um ovócito I e esta é uma diferença signi- ficativa da espermatogênese (MOORE, 2016; ARAUJO et al., 2007). A Figura 10 ilustra um folículo primordial, constituído por um oócito I, envolvido por uma camada de células foliculares achatadas. Figura 10. Folículo primordial. Fonte: MOORE, 2016. Oócito primário 46, XX no folículo primário EMBRIOLOGIACLÍNICA 30 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 30 25/09/2020 15:10:45 Ainda na vida intrauterina, os oócitos I entram na primeira divisão meió- tica. Porém as células foliculares que o envolvem secretam inibidores da ma- turação do oócito, que são substâncias que impedem a progressão da meiose a partir da prófase I (fase do diplóteno). Desta forma, os oócitos primários en- tram na prófase da primeira meiose antes do nascimento e só irão terminá-la após a puberdade, sob influência dos hormônios sexuais. Na verdade, a pró- fase pode durar até os 50 anos de idade, pois, após ela se completar, o oócito I se divide em duas células-filhas: um corpúsculo polar e um oócito II, que se mantêm dentro do folículo primário e são envoltos pela zona pelúcida. Ocorre proliferação e mudança morfológica das células foliculares. O folículo primá- rio, que consiste no oócito I e no corpúsculo polar I, deixa o ovário durante a ovulação e permanece viável por 12 horas, sendo essa a fase de maturação pré-natal da oogênese (MOORE et al., 2016; ARAÚJO et al., 2007). O folículo primário está ilustrado na Figura 11. Figura 11. Folículo primário. Fonte: MOORE et al., 2016. Oócito primário 46, XX no folículo maior Zona pelúcida Quando nasce, a menina tem aproximadamente 2 milhões de oócitos pri- mários, os quais permanecem quiescentes até a adolescência, fase na qual muitos deles vão sofrendo degeneração e morrendo por apoptose. Por ocasião da puberdade, restam apenas cerca de 40 mil oócitos primários. Este longo período para completar a primeira meiose pode estar relacionado à maior fre- quência de erros que ocorrem com o decorrer da idade materna. Isto é devido ao fato de os oócitos primários, na prófase, serem mais vulneráveis aos efeitos EMBRIOLOGIA CLÍNICA 31 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 31 25/09/2020 15:10:51 deletérios por agentes ambientais como radiação, o que os torna mais suscetí- veis a erros meióticos, como a não disjunção da separação das cromátides-ir- mãs de um cromossomo (MOORE, 2016). Uma vez na puberdade, a cada mês, um dos 40.000 oócitos I remanescentes irá progredir para ovócito II e ser expelido durante a ovulação. Ao final da vida reprodutiva, apenas cerca de 400 oócitos I alcançarão o estádio de oócitos II. A maturação do oócito I para ovócito II envolve a finalização da meiose I, que origina duas células-filhas haploides desiguais. Enquanto uma delas, o oócito II, fica com a maior parte do citoplasma da célula-mãe, a outra, o corpúsculo polar I, fica com pequena parte do citoplasma e irá perecer. A seguir, o ovócito I entra na segunda meiose evoluindo até a fase de metáfase. É nesse estádio que ele deixa o ovário durante a ovulação (MOORE, 2016; ARAUJO et al., 2007). Na maioria das vezes, apenas um dos ovários passa pela ovulação a cada ciclo, liberando um único oócito II na fase de metáfase. Porém, há casos de ovulação nos dois ovários no mesmo mês, assim como formação de dois oócitos II em um único mês. Isso explica os casos de gestações gemelares. A Figura 12 ilustra o folículo secundário com o oócito II e o primeiro corpúsculo polar, tal como deixa o ovário. Figura 12. Folículo secundário com oócito II. Fonte: MOORE, 2016. Antro Oócito secundário 23, XX no folículo maduro Primeiro corpo polar Vamos retomar o momento da ovulação, quando o núcleo do oócito II inter- rompeu a segunda divisão meiótica e deixou o ovário. Embora seja comum que ele seja referido como gameta feminino, ele na verdade não o é. Considerando EMBRIOLOGIA CLÍNICA 32 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 32 25/09/2020 15:10:56 que o oócito II não terminou o processo de meiose, ele permanece junto com o corpúsculo polar II dentro da célula-mãe. O oócito II somente termina a meiose quando, e se, for penetrado por um es- permatozoide. Neste caso, a meiose resultará em duas células, uma grande e que ficou com a maior parte do citoplasma, o oócito fecundado, e uma outra célula menor, que ficou com o citoplasma remanescente e que corresponde ao segundo corpúsculo polar, destinado à degeneração. Será considerado gameta feminino, após a liberação dos corpúsculos polares. Apenas neste momento se completa a fase de maturação pós-natal da oogênese (MOORE, 2016; ARAUJO et al., 2007). A fecundação e formação do gameta feminino está ilustrada na Figura 13. Figura 13. Ilustração fecundação. Fonte: MOORE, 2016. Espaço perivitelino Núcleo do espermatozoide contendo os cromossomos Perfurações na parede do acrossoma Membrana plasmática do oócito Espermatozoide no citoplasma do oócito sem a sua membrana plasmática do oócito Zona pelúcida Membrana plasmática do espermatozoide Acrossoma contendo as enzimas Zona pelúcida Corona radiata Primeiro corpo polar Membrana plasmática do oócito Metáfase da segunda divisão meiótica Citoplasma do oócito 1 1 A B 2 3 4 2 3 4 EMBRIOLOGIA CLÍNICA 33 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 33 25/09/2020 15:11:04 Figura 14. Ilustração espermatogênese e ovogênese. Fonte: MOORE, 2016, p. 37. As etapas sequenciais da espermatogênese e da ovogênese estão ilus- tradas na Figura 14. Espermatogênese Oogênese Oócito primário 46.XX no folículo primário Oócito primário 46.XX no folículo em crescimento Oócito primário 46.XX no folículo maior Oócito secundário 23.X no folículo maduro Primeira divisão meiótica completada Segunda divisão meiótica completada Segundo corpo polar Oócito fecundado Corona radiata Espermatozoide Primeiro corpo polar Células foliculares Zona pelúcida Antro Ovário Testículo Espermatogônia 46. XY Espermatócito primário 46. XY Primeira divisão meiótica Segunda divisão meiótica Espermátides Espermiogênese Espermatozoides normais Espermatócito secundários23. X 23. X 23. X 23. X 23. X 23. Y 23. Y 23. Y 23. Y 23. Y EMBRIOLOGIA CLÍNICA 34 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 34 25/09/2020 15:11:12 Características das fases da oogênese As fases de multiplicação, crescimento e maturação da oogênese são bas- tante complexas e se finalizam somente após a fecundação, quando o oócito II completa a meiose. DIAGRAMA 5. CARACTERÍSTICAS DAS FASES DA OOGÊNESE FASE DE MULTIPLICAÇÃO (MITOSE) • As células germinativas primordiais dão origem às ovogônias diploides; • Ovogônias iniciam diferenciação para ovócitos primários (2n); • Termina antes do nascimento; • Dois milhões de oócitos primários ao nascimento. FASE DE CRESCIMENTO (INÍCIO DA MEIOSE I) Antes do nascimento até a ovulação (da menarca à menopausa): • Ovócitos primários diploides iniciam meiose I e interrompem-na na fase de prófase I; • Aumento considerável de volume celular para formação do vitelo, constituído por proteínas, gorduras, glicogênio e vitaminas citoplasmáticas. FASE DE MATURAÇÃO (FINALIZA MEIOSE I E INICIA MEIOSE II) • Da menarca à menopausa; • Na puberdade: finalização da meiose I – liberação de um oócito secundário e um corpúsculo polar durante a ovulação; • Início da meiose II (estaciona na metáfase) e liberação do folículo secundário contendo um ovócito secundário e um corpúsculo polar na ovulação. A finalização da meiose II se dá mediante a fecundação e, nesse caso, há formação do gameta. As principais diferenças entre a espermatogênese encontram-se resumidas no Diagrama 6. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 35 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 35 25/09/2020 15:11:12 DIAGRAMA 6. PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A OOGÊNESE E ESPERMATOGÊNESE Oogênese Espermatogênese Inicia-se na vida intrauterina. Inicia-se na puberdade. Fase de multiplicação: curta (fi naliza-se no terceiro mês de vida intrauterina). Fase de multiplicação: longa (dos seis anos de ida- de ao longo da vida). Liberação de um oócito secundário por ciclo menstrual. Liberação de 100 a 200 milhões de espermatozoides por ejaculação. Uma oogônia produz um óvulo rico em vitelo e três corpúsculos polares que sofrem degeneração. Uma espermatogônia produz quatro espermatozoidessem vitelo. Duração da fase de crescimento: longa (interrupção das duas meioses) Meiose I: 1 oócito e 1 corpúsculo polar Meiose II: pré-embrião e 2 corpúsculos polares. Duração da fase de crescimento: curta Meiose I: 2 espermatócitos Meiose II: 4 espermatozoides. Fonte: ARAUJO et al., 2007. Os folículos ovarianos durante a oogênese Os folículos ovarianos são os conjuntos formados por um oócito e as cama- das de células foliculares que o rodeiam. Os oócitos são os futuros gametas femininos que levarão consigo as características genéticas da mãe e, durante seu amadurecimento até a fecundação, passarão por diversas etapas que são sustentadas pelas células foliculares que os envolvem. Assim, durante a oogênese, a arquitetura dos folículos ovarianos passa por diferentes modifi cações sequenciais, nas quais ocorre progressivo aumento do tamanho dos ovócitos bem como das células foliculares (ARAÚJO et al., 2007). • Folículo primordial: contém uma pequena célula germinativa, o oócito primário em fase de crescimento (prófase I, no diplóteno), envolvido por uma única camada esparsa de células foliculares achatadas. Os folículos primordiais existem desde o nascimento até a menopausa, predominando, porém, na me- nina pré-púbere. Eles começam a diminuir à medida que os ovócitos vão ama- EMBRIOLOGIA CLÍNICA 36 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 36 25/09/2020 15:11:12 durecendo. Além disso, muitos dos folículos primordiais entrarão em degene- ração por apoptose (MOORE, 2016). Na puberdade, os ovários passam a exibir outros tipos de folículos ovarianos: • Folículos primários: as células foliculares que envolvem o oócito primá- rio começam a ficar arredondadas, depois cúbicas e, finalmente, colunares. As células do estroma se organizam ao redor das células foliculares e formam a teca interna, produtora de hormônios, e a teca externa, associada ao tecido conjuntivo frouxo. Entre a teca interna e as células foliculares há uma camada de lâmina basal. As células da teca interna se diferenciam em células secreto- ras de esteroides a partir do colesterol: progesterona e androgênios. Porém, a maior parte dos androgênios migra da teca interna para as células foliculares, que os convertem em estrogênios. • Folículos ovarianos secundários, multilamelares ou em crescimento: a cada ciclo ovariano, dos muitos folículos que entram em crescimento, somente um, na maioria das vezes, completa a maturidade. Inicialmente, o ovócito pri- mário aumenta de volume e, ao seu redor, forma-se a zona pelúcida, uma camada glicoproteica produzida por ele e pelas células foliculares ao seu redor, agora chamadas de corona radiata. Algumas das glicoproteínas presentes nesta zona são receptores específicos da espécie no momento da fertilização. As célu- las foliculares estão em intensa atividade mitótica e, por isso, o folículo cresce, acumulando-se um líquido rico em ácido hialurônico. A teca interna encontra-se bem desenvolvida com intensa atividade de síntese hormonal. • Folículos ovarianos maduros ou pré-ovulatórios: próximo da ovulação, o folículo primário cresce ainda mais, podendo alcançar 2,5 cm de diâmetro e, dentro dele, há grande quantidade de líquido folicular. Ele faz uma saliência na superfície do ovário, na qual o epitélio superficial exibe alterações morfológicas para promover maior varredura das fímbrias e da tuba uterina. O oócito primário fica preso à parede do folículo pelo cumulus oophorus, um pedículo formado por células foliculares. Estas células também formam a membrana granulosa, pró- xima da teca interna, e a corona radiata, presa na zona pelúcida. Concomitan- temente, o ovócito primário completa a meiose I que estava interrompida desde o período fetal e inicia, na sequência, a meiose II (que somente se completará no caso de fecundação), formando assim o ovócito secundário e o primeiro cor- púsculo polar. O folículo maduro, bem volumoso e visível ao ultrassom, é libe- EMBRIOLOGIA CLÍNICA 37 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 37 25/09/2020 15:11:12 rado dos ovários aproximadamente 10 a 12 horas após o pico do hor- mônio luteinizante (LH), constituindo o evento de ovulação. Os hormônios liberados pelos ovários para a circulação sis- têmica até a ovulação são estrogênios e androgênios, os quais também serão convertidos na periferia em estrogênios. A evolução dos folículos ovarianos, desde folículo primordial até o folículo secundário liberado na ovulação, está ilustrada na Figura 15. Figura 15. Ilustração da organização e estrutura dos folículos presentes no ovário. Fonte: GUERREIRO et al., 2015. Oócito Células da teca Cavidade antral Células da granulosa pavimentosaFolículos primário Folículo secundário Folículo terciário Folículo pré-ovulatório Cumulus Ovulação Teca Células murais da granulosa FSH LH Folículos primordiaisCélulas de granulosa cúbicas Infertilidade x esterilidade A gestação e o nascimento de um bebê envolvem etapas muito complexas e re- presentam um desafi o para muitos casais. Estima-se que, após relação sexual rea- lizada no período ovulatório e sem uso de qualquer método contraceptivo, apenas cerca de 20% dos casais chegam à gestação. Esse número mostra que a fertilidade humana é baixa em relação a outras espécies (CAMBIAGHI, SOUZA, 2012). EMBRIOLOGIA CLÍNICA 38 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 38 25/09/2020 15:11:19 O termo infertilidade é utilizado para as situações nas quais um casal apre- senta menores chances da gravidez, mas que podem ser contornadas por um tratamento médico adequado. Já a esterilidade se refere à condição irreversível que impede a concepção, em decorrência da impossibilidade da produção de gametas (oócitos e espermatozoide) ou de zigotos viáveis. A infertilidade é tratada como uma condição do casal, e não do homem ou da mulher. Assim, o termo infertilidade do casal é utilizado para se referir ao casal que não consegue engravidar após um ano praticando relações sexuais, pelo menos seis vezes ao mês e sem uso de qualquer método contraceptivo. A infertilidade é chamada primária quando o casal nunca teve fi lhos; secundária, para aqueles que estão com difi culdades de engravidar após o nascimento do primeiro fi lho. A infertilidade é resultado de diversos fatores, incluindo emocionais, nutricio- nais e biológicos. O aumento da idade e do peso, além de uma prática de atividade física extenuante, comprometem a fertilidade por provocar disfunções dos órgãos reprodutores, dos gametas ou do concepto. O abuso de álcool altera o número e a motilidade dos espermatozoides presentes no sêmen. O uso de tabaco está asso- ciado a modifi cações na morfologia e concentração de espermatozoides no sêmen; na mulher, ele está relacionado à aceleração da diminuição dos folículos ovarianos. EXPLICANDO O sêmen humano, também conhecido como esperma, é composto por espermatozoides, secreções testiculares, das vesículas seminais, da prós- tata e da glândula bulbo-uretral. Ele é esbranquiçado e opalino, espumoso e cremoso, porém, após períodos de abstinência sexual, fi ca amarelado. A cada ejaculação, é eliminado entre 3,5 a 5 ml e, após 10 minutos fora do organismo humano, começa a fi car líquido. Ainda que a infertilidade seja do casal, existem causas que são inerentes à mulher; outras, ao homem (CAMBIAGHI, SOUZA, 2012; MOORE, 2016). Infertilidade relacionada à mulher Os fatores mais frequentes que contribuem para a infertilidade são: • Idade: o declínio da fertilidade e a taxa de aborto espontâneo nas mulhe- res acima de 40 anos se dá em razão de diversos fatores: EMBRIOLOGIA CLÍNICA 39 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 39 25/09/2020 15:11:19 • Redução nas taxas de implantação; • Baixa resposta à estimulação ovariana; • Diminuição da qualidade dos oócitos. • Hormonais e ovarianos: responsáveis por 50% dos casos de infertilidade, por comprometer a ovulação. A falha no eixo hipotalâmico-hipófise-gônadas leva à anovulação ou disovulia, que são afalta de ovulação ou formação de óvulos disfuncionais, respectivamente. A síndrome dos ovários policísticos, decorrente do acúmulo de folículos nos ovários, é uma das causas mais fre- quentes dessas alterações. A obesidade, assim como ganho ou perda ponderal, junto a exercícios físicos extenuantes, além de disfunção tireoidiana e hiper- prolactinemia, também contribuem para as alterações hormonais. O excesso de peso contribui para a resistência insulínica e, com isso, para a anovulação (CAMBIAGHI, SOUZA, 2012; FICHMAN et al., 2020). • Anatômicos: são responsáveis por 20 a 30% dos casos de infertilidade, por impedir a fusão do espermatozoide e do oócito ou a implantação do em- brião no útero. Tais alterações podem ser congênitas ou decorrentes de trau- mas, cirurgias, miomas e infecções, como a doença inflamatória pélvica (DIP). • Útero: miomas e alterações no formato do útero (útero bicorno ou didelfo) dificultam a implantação embrionária no endométrio; • Colo do útero: alterações na composição do muco cervical, no qual o es- permatozoide nada; • Tubas uterinas: alterações no peristaltismo provocada por estresse e ou- tros fatores; • Aderências: decorrentes de infecções pélvicas e cirurgias, obstruem os ór- gãos e, com isso, dificultam a fecundação; • Endometriose: até 40% das causas femininas de infertilidade podem ser decorrentes da endometriose, que é a migração do endométrio para lugares diferentes da cavidade uterina. O endométrio consiste no tecido no qual o em- brião se implanta. Quando não ocorre a fecundação, ele é eliminado. Nas pa- cientes com endometriose, o endométrio se renova fora da zona interna do útero, provocando dores e dificultando a gestação; • Fatores imunológicos: quando há incompatibilidade entre o muco cervi- cal e o espermatozoide, ou entre os gametas masculino e feminino, ou ainda entre o embrião e o útero. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 40 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 40 25/09/2020 15:11:19 Infertilidade relacionada ao homem A infertilidade masculina é atribuída à espermatogênese anormal, distúrbios endócrinos ou bloqueio de um dos ductos que compõem o sistema reprodutor. A infertilidade em homens geralmente resulta de defeitos na espermatogêne- se. Os testículos mal posicionados são uma causa frequente de baixa produção de espermatozoides e alterações na motilidade (MOORE, 2016). Atualmente, já se sabe que a idade do homem, assim como a da mulher, interferem na pro- dução dos gametas e, por consequência, na fertilidade. No homem, as causas mais frequentes que contribuem para a infertilidade são: • Relacionadas aos espermatozoides: • Astenospermia (baixa motilidade) e oligospermia (pequeno número de espermatozoides): provocados por varicocele, infecções, reações imunoló- gicas, tabagismo, alcoolismo, uso de medicamentos, fatores psíquicos; • Teratospermia: alterações no formato do espermatozoide em decorrên- cia do uso de drogas de abuso, medicamentos, varicocele e alterações congê- nitas, dentre outras; • Azoospermia: ausência de produção, em decorrência do criptorquidismo, dentre outros. • Doenças: varicocele, câncer, caxumba, doenças sexualmente transmissíveis; • Alterações hormonais: diminuição nos níveis de FSH, Testosterona e LH, que diminuem a produção de espermatozoides; • Alterações genéticas: a espermatogênese depende de genes e da integri- dade do cromossomo Y. EXPLICANDO Proteínas da família Bcl-2 estão envolvidas na maturação das células germinativas e na sobrevivência dos diferentes estágios até a produção dos espermatozoides. Os genes HOX estão associados à dinâmica dos microtúbulos, ao formato da cabeça e da cauda dos espermatozoides. Pequenas microdeleções no cromossomo Y resultam em espermatogêne- se defi ciente ou infertilidade (MOORE, 2016). A avaliação da fertilidade do homem se inicia pela análise de amostra do sêmen coletado após masturbação – espermograma. A quantidade de esper- EMBRIOLOGIA CLÍNICA 41 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 41 25/09/2020 15:11:19 matozoides por mililitro de sêmen varia entre 100 e 20 milhões no ejaculado de homens férteis, dos quais 50% continuam móveis depois de 2 horas, sendo possível encontrar alguma motilidade até 24 horas após a coleta. Homens com alteração da fertilidade apresentam menos de 10 milhões de espermatozoides por mililitro de sê- men, sendo alguns deles imóveis e defeituosos (MOORE, 2016). EMBRIOLOGIA CLÍNICA 42 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 42 25/09/2020 15:11:19 Sintetizando A gametogênese é o processo de produção de gametas. Por meio dela, os cromossomos das células somáticas dos pais são transferidos para os gametas, os quais poderão, por meio da fecundação, perpetuar os genes dos progenitores. A gametogênese masculina se chama espermatogênese e acontece nos tú- bulos seminíferos dos testículos. Ela se inicia por volta dos 6 anos de idade, a partir de divisões mitóticas das espermatogônias, seguidas pela diferenciação celular e formação de espermatócitos I. Estas células, por sua vez, passarão por duas meioses sucessivas, a fim de formar os espermatócitos II e, posteriormen- te, as espermátides, as quais são haploides. Na sequência, haverá diferencia- ção morfológica das espermátides para formar a cabeça com acrossomo rico em enzimas e cauda. Esse processo se chama espermiação. Os espermatozoi- des deixam os vasos seminíferos dos testículos e seguem aos epidídimos, onde ficam estocados por 18 horas até adquirirem motilidade. Então, passam aos ductos deferentes, canal ejaculatório e uretra, para serem eliminados junto ao sêmen. Cada espermatogônia forma quatro espermatozóides. A gametogênse feminina se chama oogênese e ocorre nos ovários. É um pro- cesso muito longo: inicia-se ainda na vida intrauterina e termina quando cada ovócito II é fecundado. Os ovócitos secundários se diferenciam a partir das oo- gônias. Cada oogônia se divide por mitose e, a seguir, diferencia-se em oócito I, o qual é imediatamente envolvido por uma camada de células foliculares que o acompanhará até a fecundação. Juntos, oócito e células foliculares constituem o folículo primordial, o qual passará, posteriormente, a folículo primário e secun- dário, de acordo com o desenvolvimento do oócito. Os ovários são repletos de folículos ovarianos que constituem a unidade fundamental dos ovários. As células foliculares produzem substâncias nutritivas e hormônios. Ainda na vida fetal, o oócito I, após aumentar de volume, entra na meiose I, porém estaciona na prófase I e só vai retomar a divisão na puberdade. Então, a cada mês, um único folículo primário completa a primeira divisão meiótica, dando origem a duas células de tamanhos desproporcionais: o ovócito I, que recebe a maior parte do citoplasma, e o primeiro corpúsculo polar, com a menor parte, que sofrerá degeneração. O ovócito I inicia a segunda divisão meiótica pouco antes da ovulação, mas a interrompe na metáfase. A meiose se completará me- EMBRIOLOGIA CLÍNICA 43 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 43 25/09/2020 15:11:19 diante a penetração por um espermatozoide. Nesse caso, haverá duas células resultantes da meiose II: o ovócito fecundado, que contém a maior parte do citoplasma, e o segundo corpo polar, que, assim como o primeiro, é uma célula pequena, não funcional e que sofrerá degeneração. A fecundação compreende a fusão entre o oócito II e o espermatozoide, acon- tecendo nas tubas uterinas. O oócito II permanece viável por 12 horas após a ovulação, degenerando-se depois desse período. Já os espermatozoides sobre- vivem por até 48 horas no trato genital feminino. A fecundação restabelece a diploidia ao formar, a partir de duas células haploides, um zigoto com 46 cromos- somos. O sexo genético é determinado pelo espermatozoide, de acordo com o cromossomo que ele tiver: Y ou X, para masculino e feminino, respectivamente. Alterações durante a gametogênese podem comprometer a fertilidade e tambémdar origem a alterações cromossômicas no feto. A compreensão dos processos envolvidos na gametogênese permite o desenvolvimento de tecno- logias de reprodução assistida e, com isso, ajuda as pessoas que não podem tê-los de forma natural. A infertilidade é a ausência de gestação por meio natural após 1 ano de prática sexual sem uso de contraceptivos e com pelo menos seis relações se- xuais mensais. A infertilidade é referida ao casal, mas pode ter causas ligadas ao homem; outras, à mulher. O uso de drogas lícitas e ilícitas, alimentação ina- dequada, obesidade e aumento da idade são causas associadas à infertilidade. Infecções, alterações anatômicas, como bloqueio das tubas uterinas, miomas e endometriose são causas frequentes de infertilidade feminina. No homem, as causas de infertilidade são ligadas a fatores hormonais, criptorquidia e al- terações relacionadas ao espermatozoide, como baixa produção ou produção defeituosa e problemas de motilidade. A esterilidade, diferente da infertilidade, é uma condição irreversível da fer- tilidade, pela incapacidade de produzir gametas ou zigoto. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 44 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID1_1.indd 44 25/09/2020 15:11:19 Referências bibliográficas ARAÚJO, C. H. M.; ARAÚJO, M. C. P. M.; MARTINS, W. P. et al. M. Gametogênese: estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana. Medici- na, Ribeirão Preto, n. 40, v. 4, p. 551-8, 2007. Disponível em: <https://www.revis- tas.usp.br/rmrp/article/view/351/352>. Acesso em: 26 ago. 2020. CAMBIAGHI, A. S.; SOUZA, R. D. Fertilidade e alimentação: guia alimentar para homens e mulheres que desejam preservar sua fertilidade. São Paulo: LaVidapress, 2012. FICHMAN, V.; COSTA, R. S.; MIGLIOLI, T. C.; MARINHEIRO, L. P. 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Ciclos reprodutivos, mecanis- mos da fecundação e métodos contraceptivos Fases da mulher e potencial reprodutivo: menarca, menacme e menopausa Anatomia e fisiologia do siste- ma reprodutor feminino Métodos de fecundação Métodos contraceptivos Fisiologia do ciclo menstrual Ciclos reprodutivos femininos: ovariano e uterino Marcos históricos e políticas públicas da reprodução humana Marcos históricos do desenvol- vimento da reprodução humana Políticas públicas voltadas para a reprodução humana EMBRIOLOGIA CLÍNICA 47 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID2.indd 47 25/09/2020 16:28:55 Ciclos reprodutivos, mecanismos da fecundação e métodos contraceptivos Do ponto de vista reprodutivo, a mulher passa por diferentes fases, que vão desde a preparação para a fecundação e gestação até a etapa na qual ela perde a capacidade de gerar fi lhos. Cada uma dessas fases é regida por uma rigorosa rede de interação neu- roendócrina que se traduz em adaptações fi siológicas para a reprodução. É no corpo da mulher que ocorrem a fecundação, implantação e desenvolvimento do bebê até o nascimento. Por outro lado, a mulher pode escolher o melhor momento para engravi- dar graças ao uso de métodos contraceptivos. Atualmente, existem diversas opções de métodos contraceptivos hormonais e não hormonais, inclusive de longa duração. Fases da mulher e potencial reprodutivo: menarca, menacme e menopausa De acordo com o potencial reprodutivo, a mulher passa por três fases du- rante sua vida: menarca, menacme e menopausa, precedida pelo climatério. A menarca corresponde à primeira menstruação. É um marco que separa a infância da puberdade, um período de profundas alterações corporais. Os hormônios sexuais – estrogênio e progesterona produzidos pelos ovários – estimulam o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários: pelos pu- bianos, mamas e alargamento dos quadris. Ao mesmo tempo, em resposta ao hormônio de crescimento, ocorre o estirão de crescimento. Não existe uma idade fi xa para o acontecimento da menarca, e diversos fatores podem in- fl uenciar a idade da menarca, entre os quais a disponibilidade de nutrientes e o nível de treinamento físico, sendo mais tardia entre as atletas, quando com- paradas às meninas não atletas. A melhoria da qualidade de vida ao longo dos séculos tem diminuído a idade da menarca entre as meninas de diferen- tes populações, embora aquelas que vivem sob restrições econômicas ainda tenham a primeira menstruação com idade superior às meninas de classes econômicas mais privilegiadas. EMBRIOLOGIA CLÍNICA 48 SER_BIOMED_EMBCLI_UNID2.indd 48 25/09/2020 16:28:55 É importante ressaltar que a puberdade é um processo da adolescência e não a adolescência em si e que, embora após a menarca a menina já libere os gametas prontos para a fertilização, seu corpo ainda não está preparado para a gestação. O desenvolvimento sequencial das características sexuais secun- dárias foi sistematizado por Tanner, em 1962 (Quadro 1) e é um critério muito utilizado para acompanhar o desenvolvimento físico durante a puberdade. QUADRO 1. ESTADIAMENTO MATURACIONAL DE TANNER Desenvolvimento mamário – sexo feminino M1 - Mama infantil, com elevação somente da papila M2 - Broto mamário. Forma-se uma saliência pela elevação da aréola e da papila. O diâmetro da aré- ola aumenta e há modifi cação na sua textura. Há pequeno desenvolvimento glandular subareolar. M3 - Maior aumento da mama e da aréola, sem separação dos seus contornos. O tecido mamá- rio extrapola os limites da aréola. M4 - Maior crescimento da mama e da aréola, sendo que esta forma uma segunda saliência aci- ma do contorno da mama (duplo contorno). M5 - Mama de aspecto adulto, em que o contorno areolar novamente é incorporado ao contorno da mama. Desenvolvimento genital – sexo masculino G1 - Testículos, escroto e pênis de tamanho e proporções infantis. G2 - Aumento inicial do volume testicular (3-4 ml). Pele do escroto muda de textura e torna-se avermelhada. Aumento do pênis pe-queno ou ausente. G3 - Crescimento do pênis em comprimento. Maior aumento dos testículos e do escroto. G4 - Aumento do pênis, principalmente em diâmetro e desenvolvimento da glande. Maior crescimento de testículos
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