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Psicologia na Engenharia de Segurança, Comunicação e Treinamento Prof. Allan Saffiotti 1ª Edição | Junho | 2014 Impressão em São Paulo / SP Coordenação Geral Nelson Boni Coordenação de Projetos Leandro Lousada Professor Responsável Allan Saffiotti Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 Copyright © EaD KnowHow 2011 Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Projeto Gráfico, Capa e Diagramação Marilia Lopes Revisão Ortográfica Vanessa Almeida 1a Edição: Junho de 2014 Impressão em São Paulo/SP Psicologia na Engenharia de Segurança, Comunicação e Treinamento Sumário Unidade 1 5 Ciência e Psicologia 1.1 O que é psicologia 1.2 Psicologia e Relações Humanas 1.3 Dinâmica de Grupo Unidade 2 15 Aspectos psicológicos do acidente do trabalho. 2.1 Psicologia e relações de trabalho na atualidade Psicologia 2.2 Aspectos Psicológicos dos Acidentes de Trabalho Unidade 3 22 Treinamento de Pessoal 3.1 O que é Treinamento 3.2 Planejamento Referências Bibliográficas 5 Unidade 1 Ciência e Psicologia 1.1 O que é a Psicologia? A psicologia se estruturou como ciência no fi- nal do século XIX, fruto de um amplo processo his- tórico, tendo recebido influências tanto da Filosofia quanto da Fisiologia. Esta nova ciência foi desenvol- vendo um conjunto de saberes e técnicas que visa- vam à intervenção sobre a ação e a reflexão humana. (SOARES, 2010). Apesar de ser considerada uma ciência jovem, é comum ouvirmos, e também usarmos em nosso cotidiano, termos tirados das práticas e teorias psi- cológicas, ou ainda usarmos o termo psicologia com outros sentidos. Por exemplo, quando alguém fala que o vendedor usou de sua psicologia para conse- guir convencer o cliente a comprar, ou quando se diz que aquele rapaz usou da psicologia para conquis- tar uma garota. Outras vezes, os termos são usados com um sentido mais ou menos próximo ao científi- co, como quando para falarmos de alguém que está triste, dizemos está deprimido, ou quando aponta- mos alguém que fala alto, como histérico. Esse uso aponta para uma apropriação, pela sociedade, do conhecimento construído pela Psicologia enquanto área do saber. Mesmo que esta apropriação ocorra 6 de maneira superficial, implica que os métodos e práticas específicas e a linguagem rigorosa da ciência psicológica tenham sido disseminados pela cultura e alcancem em alguma medida os discursos cotidianos e o senso comum. O objeto de estudo da Psicologia, num sentido mais amplo, é o ser humano, o que a coloca dentro das chamadas ciências humanas e, nesse caso, o pes- quisador também está inserido na categoria a ser es- tudada, já que ele também é um ser humano e viven- cia os fenômenos investigados pela Psicologia. No entanto, há muitos modos diferentes de compreen- der o ser humano e, por isso, há muitas escolas e pa- radigmas dentro da Psicologia, que elegem diferen- tes objetos de estudo para a ciência psicológica. Se perguntarmos a um psicólogo comportamental, ele dirá que o objeto de estudo da Psicologia é o com- portamento humano, pois ele pressupõe que apenas os fenômenos observáveis devem ser estudados. Se perguntarmos a um psicólogo psicanalista, ele dirá que o objeto de estudo é o dinamismo inconsciente, pois pressupõe que grande parte de nossas atitudes provêm de uma instância não totalmente acessível pela racionalidade. Para um gestaltista, a Psicologia estuda a relação entre os diversos fatos psicológi- cos. Outros ainda dirão que é a consciência, ou a personalidade. Estas diferentes formas de estudar e compreender a Psicologia apontam para a diversida- 7 de própria do homem e sua capacidade múltipla de pensar sobre si mesmo. Nesta apostila, caminharemos apoiados, princi- palmente, nas noções da Psicologia Social para com- preender as relações humanas e o mundo do traba- lho. Na perspectiva da Psicologia Social, o universo subjetivo de uma pessoa é influenciado e também influencia as relações sociais em que ela está inseri- da, formando uma totalidade complexa que deve ser analisada em conjunto. Adotaremos, por uma ques- tão didática, a subjetividade como objeto de estudo da Psicologia. Bock, Furtado e Teixeira (2008), afir- mam que a subjetividade: é o ser humano em todas as suas expressões, as visíveis (o comportamento) e as invisíveis (os sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) – é o ser humano-corpo, ser humano-pensamento, ser humano-afeto, ser huma- no-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjeti- vidade. (p.22) A Psicologia Social, como uma disciplina de fronteira entre a vivência psíquica, (individual) e o mundo socialmente construído, não se caracteriza por focalizar a subjetividade no homem separado de seu contexto, mas pela exigência de encontrar o homem 8 no campo intersubjetivo e horizontal das experiências compartilhadas no meio em que nos encontramos. Isto significa que o homem só pode ser compreendi- do e encontrado no meio de outros homens (GON- ÇALVES FILHO, 1998). A análise das experiências individuais se beneficia do estudo do tempo social, pela maneira como cada época organiza as relações dos homens entre si e com a natureza. 1.2 Psicologia e Relações Humanas A partir do que foi apresentado, podemos afir- mar que, para a Psicologia Social, a vida em sociedade é condição para nossa existência. Não há algo como uma natureza humana, pois, nosso aparato biológico não garante que tenhamos este ou aquele comporta- mento diante do mesmo estímulo. Quando fazemos a pergunta “quem somos?”, necessariamente, precisa- mos dizer dos nossos pais, das escolas que passa- mos, do bairro e da cidade que moramos, da época que nascemos e dos que vieram antes de nós. Além das condições nas quais a vida é dada ao homem na Terra, e a partir dela, os homens transformam a na- tureza e criam suas próprias condições (ARENDT, 1989) e a forma como nos relacionamos uns com os outros está sempre relacionada com essas condições e momento histórico. Toda nossa herança cultural, tudo o que o homem produziu ao longo da histó- 9 ria (materialmente, tecnicamente e artisticamente), é condição para nossa existência. Por outro lado, afirmar que o homem é um ser social não significa que ele seja determinado pelo social, pois, se assim fosse, uma geração seria sempre espelho da anterior. Como nos diz Arendt (1989), “o novo começo inerente a cada nascimento pode fazer-se sentir no mundo somente porque o recém- -chegado possui a capacidade de iniciar algo novo”. Na nossa sociedade atual o sistema econômico cada vez mais passa a ser legitimado como forma reguladora dos vínculos sociais, passando a mediar suas relações com a família, trabalho, cidade e até com seu próprio corpo, com enormes perdas nas esferas ética, estética e erótica (BOSI, 1992). Nesse contexto, ao invés do novo, do singular, é esperado de cada um de seus membros certo tipo de compor- tamento, imposto por regras que tem como objetivo a “normalização”. Ao fazê-los “comportarem-se”, aboli-se a ação espontânea e a preocupação recai no equacionamento com a posição social. Daí o confor- mismo típico da sociedade moderna, onde a igual- dade perde seu status de prerrogativa para a liberda- de para se reduzir a questões privadas do indivíduo (ARENDT,1981). Entender essa relação entre condicionamento da sociedade e aparição da singularidade na forma- ção do indivíduo, ou do contrário, no fenômeno da 10 adesão cega a um líder ou uma ideologia (como no caso do nazifascismo) foi uma das questões que mais influenciaram as pesquisas em Psicologia Social ao longo do século XX. 1.3 Dinâmica de Grupo Vários autores em psicologia estudaram como os grupos humanos são formados, como se dão as relações entre os membros do grupo ou com outros grupos, como se mantém coesos ou desmancham, como seus modos de acontecer se cristalizam ou semodificam. Por exemplo, temos as pesquisas de Solomon Asch, as de Kurt Lewin (Psicologia Dinâ- mica), que foram fundamentais para a compreensão das relações humanas no mundo moderno. Asch interessa-se em compreender como os indivíduos são levados a se conformarem com as normas do grupo ao realizarem julgamentos, ainda quando é evidente que estes julgamentos estão in- corretos (ASCH, 1966). Em uma de suas experiên- cias sobre a força de influencia social e processos intergrupais, um sujeito é colocado diante de uma si- tuação aparentemente simples: comparar o compri- mento de linhas em um quadro. Neste experimento, o sujeito é colocado num grupo com mais 19 pessoas (cúmplices do experimentador), que são orientadas a dizer o contrário do que seus olhos veem (apontar a 11 linha maior como menor, sendo que a diferença de tamanho é significativa). O perturbador desse expe- rimento é que, em muitos casos, o sujeito acaba por concordar com a maioria, negando a própria per- cepção. Outros apresentam resistência a opinião do grupo e afirmam o que percebem. Entretanto, nem os que aderiram ao grupo de controle nem os que se opuseram o fizeram de forma tranquila: é sempre angustiante a experiência de ter uma percepção mui- to diferente daquela do seu grupo de pertencimento. A realidade é socialmente construída, e não é sem grande esforço nem sem angústia que se consegue “descolar” desses sentidos. Kurt Lewin foi um dos mais influentes pesqui- sadores sobre processos grupais do século passado, contribuindo com estudos pioneiros sobre o com- portamento em climas sociais experimentalmente manipulados e cunhando a expressão “dinâmica de grupo” em um de seus artigos (MAILHIOT, 1998). Para Lewin, é mais fácil alterar o comporta- mento de um grupo, como um todo, que o com- portamento dos membros isolados. Ele afirmava que o indivíduo, inserido num grupo, modifica o seu comportamento e induz mudanças nos comporta- mentos dos restantes membros do grupo, e que não podemos compreender esses comportamentos sem considerar aspectos do ambiente (“externos” à pes- soa) e de personalidade (“internos” à pessoa). Num 12 de seus experimentos sobre liderança, dividiu crian- ças em grupos com um controle experimental dos comportamentos dos líderes adultos, que consistiu em fazer com que cada um dos líderes de agisse de maneira preestabelecida. Foi proposto o estudo de três tipos de liderança: a democrática, a autocrática e a permissiva (laissez-faire). Foi uma pesquisa pionei- ra, e, pelo tema, muito criticada. A influência de cada tipo de grupo sobre o comportamento individual dependeu da atmosfera que caracterizou o grupo, por exemplo, no grupo autocrático, foi observado um aumento da agressividade entre os componen- tes. Outra aspecto é que quanto mais o indivíduo concorda com os valores do grupo, mais ele adquire valência positiva e adere a influência do grupo. Pelo tema e pelo pioneirismo, Lewin foi muito criticado em relação as suas pesquisas. 13 Exercícios de Fixação 1) Explique, com suas palavras, qual a relação entre indivíduo e sociedade. 2) Outro pesquisador que modificou a forma de pensar as relações humanas no contexto do trabalho foi Elton Mayo. Faça uma pesquisa sobre a “Experi- ência Hawthorne” e o que ele descobriu sobre rela- ções humanas no trabalho e compare com a maneira como a empresa onde trabalha (ou sua experiência mais recente) organiza as relações de trabalho. Sugestão de Sites para Pesquisa Conselho Federal de Psicologia: http://www. cfp.org.br/ Conselho Regional de Psicologia: http://www. crpsp.org.br/portal/ Associação Brasileira de Psicologia Social: http://www.abrapso.org.br/ Teoria das Relações Humanas (Experiência de Hawthorne): http://www.professorcezar.adm.br/ Textos/Teoria%20das%20relacoes%20humanas. pdf
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