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introdução Todos os dias, quando você abre as pági- nas de um jornal, quando conversa com um amigo, quando liga a televisão ou acessa a internet, ou simplesmente quando caminha pela rua e observa o ambiente a sua volta, lida com uma imensa diversidade de infor- mações, as quais são, de alguma forma, per- cebidas, analisadas e organizadas, fazendo com que o mundo tenha sentido e a existên- cia humana seja menos caótica, imprevisível e inexpressiva. A fim de compreender melhor o espa- ço, você tenta achar uma regularidade, um padrão nos objetos do mundo e, a todo ins- tante, tenta organizar avaliativamente esses objetos em termos de aprovável ou desapro- vável, favorável ou desfavorável, desejável ou indesejável, sem necessariamente ter a atenção voltada para isso. Por exemplo, o que você pensa sobre a utilização do exér- cito no combate à violência e ao tráfico de drogas nas favelas brasileiras? Você acha que o sistema de cotas raciais deve ser implan- tado nas universidades? Qual é sua opinião sobre produtos reciclados? Qual é sua posi- ção frente a “fastfood”? Aborto? Japoneses? Comercialização de produtos “piratas”? Bolo de chocolate? Guerra do Iraque? Dietas de emagrecimento? Rio de Janeiro? Música eletrônica? Eutanásia? Flamengo? Pelo sim- ples fato de ler essas perguntas, é possível que você classifique algumas situações ou objetos, colocando -se contra ou a favor. É por meio desse processo contínuo de compreensão das coisas em termos de bom ou ruim, apropriado ou inapropriado, conveniente ou inconveniente, que você assume uma “posição” frente ao mundo o cerca. Essa “posição” é chamada de atitu- de. Formalmente, “atitude é uma tendência psicológica que é expressa pela avaliação de uma entidade em particular com algum grau de favor ou desfavor” (Chaiken, Wood e Eagly, 1996, p. 269). As atitudes exercem influência sobre o comportamento e sobre a maneira de ver o mundo. O conhecimento das atitudes de outras pessoas permite saber como elas pen- sam, sentem ou reagem a certos eventos. É possível que você se identifique com pessoas que mantêm atitudes parecidas com as suas, bem como pode evitar certas situações ou objetos que trazem resultados indesejáveis. De fato, é bem difícil pensar em uma socie- dade sem atitudes. Alguns dos principais problemas já enfrentados pela humanidade têm suas raízes nesse fenômeno psicológico. Adolf Hitler provavelmente odiava os judeus e outras minorias não arianas, homossexuais e comunistas. Além disso, ele utilizava mé- todos muito persuasivos e eficientes para 8 atitUDes e mUDança De atitUDes elaine rabelo neiva túlio gomes Mauro INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 172 tOrres, neiva & cOLs. difundir suas atitudes e conquistar legiões de seguidores. Suas atitudes políticas insti- garam a guerra mais sangrenta da história, e suas atitudes raciais levaram diretamente aos horrores do holocausto nazista. No en- tanto, apesar das ideias e ações de certos grupos serem repugnantes à compreensão, as atitudes dessas pessoas as direcionavam para o que elas consideravam a coisa certa a ser feita, como acontece atualmente em várias questões delicadas, como atentados de extremistas religiosos, alguns conflitos geopolíticos, dentre outras. Isso ilustra algo em comum entre Adolf Hitler, Osama Bin Laden, George Bush e você: todos possuem atitudes, e estas influenciam nosso compor- tamento de muitas maneiras complexas. (Chaiken, Wood e Eagly, 1996; Gilbert, Fiske e Lindzey, 1998). Tal como outros construtos psicológi- cos, as atitudes não podem ser observadas diretamente, mas sim inferidas de respos- tas observáveis. Tais respostas são eliciadas por um estímulo proveniente de uma enti- dade específica, denominada de objeto da atitude, ou objeto atitudinal, o qual pode ser qualquer coisa passível de discrimina- ção ou de retenção pela mente do indiví- duo (Chaiken, Wood e Eagly, 1996). Sendo assim, podem se constituir objetos de ati- tudes: pessoas (presidente da república, seus pais, John Lennon), objetos (óculos, computador), grupos (partidos políticos, grupos étnicos), lugares (Brasília, China), organizações (Petrobrás, Globo), conceitos (democracia, qualidade de vida), ideologias (catolicismo, capitalismo), comportamentos (uso de preservativos, comportamentos pró ambientais), eventos (mudança organiza- cional), produtos (alimentos, programas de computador), dentre outros. Respostas favoráveis em relação ao objeto atitudinal indicam uma atitude positiva do indivíduo frente ao mesmo. Imagine, por exemplo, um aluno do ensino médio que considera a matemática sua ma- téria favorita, se esforça para não faltar às aulas, sente -se motivado a resolver proble- mas e equações, afirma ser esta a matéria mais importante, busca referências comple- mentares e sente enorme satisfação em rea- lizar as tarefas de casa. É possível inferir que tal aluno mantém uma atitude positiva frente à matemática. Respostas desfavorá- veis, por sua vez, indicam uma atitude ne- gativa frente ao objeto atitudinal. Pode -se inferir que um indivíduo apresenta uma atitude negativa frente ao cigarro se este tem uma sensação desagradável ao fumar, procura se afastar de pessoas que estão fu- mando, acha que fumar é inapropriado e tenta convencer seus amigos fumantes a largar o cigarro. Para que uma atitude seja formada, é necessário que o indivíduo entre em contato com um objeto em particular e emita uma resposta avaliativa. Uma atitude não pode ser formada sem que o indivíduo tenha um mínimo de informação sobre o objeto. Uma pessoa não pode formar uma atitude frente a sushi, por exemplo, se ela não tem a mí- nima ideia do que seja isso (se ela em sua vida nunca viu, ouviu falar ou leu a respeito de sushi). A partir do momento em que a pessoa experimenta essa comida, ela se tor- na capaz de responder avaliativamente e de formar uma atitude frente a esse objeto. O leitor pode questionar, no entanto, se é pos- sível a formação de atitudes sem que haja o contato direto com o objeto. A resposta é: claro que sim! Muitos nunca lutaram em uma guerra, ou foram ao Egito, ou pularam de paraquedas, porém, dispõem de infor- mações sobre esses objetos para que pos- sam responder avaliativamente sobre eles e, consequentemente, formarem uma atitude. É totalmente plausível que uma pessoa for- me uma atitude frente a sushi, sem nunca tê -lo experimentado, por meio das informa- ções que ela tem sobre esse objeto: é uma comida de origem japonesa, feita com arroz avinagrado, algas marinhas, frutos do mar e peixes geralmente crus. Atitude é um construto psicológico que assume uma posição de destaque em psico- logia social por ser um dos mais antigos e estudados. De fato, esse campo já foi defi- nido como o estudo das atitudes (Thomas e Znaniecki, 1918 apud Fazio e Olson, 2003). Segundo Ajzen (2001), esse construto conti- INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 173 nua a ser atualmente o maior foco de teoria e pesquisa nas ciências sociais e comporta- mentais. O objetivo deste capítulo é, pois, descrever o construto atitudes de maneira ampla, contextualizando cada tópico com os principais resultados de pesquisa nos últimos anos. O capítulo tem início com a conceituação e a descrição da estrutura das atitudes. Em seguida, apresenta -se uma dis- cussão acerca da relação entre atitudes e comportamentos, seus atributos, caracterís- ticas, processo de formação e mudança de atitudes. Por fim, é apresentada uma síntese do capítulo e conclusões acerca desse cam- po de estudo. conceituação de atitude O termo atitude muitas vezes é utilizado de forma indiscriminada do significado que este assume na linguagem cotidiana: um grave equívoco, que, infelizmente, tem sido obser- vado na literatura acadêmica. Segundo Brei (2002), em análise pelo dicionário, a pala- vra atitude foi inicialmente utilizada como um termo técnico, no campo daque a repetição da expres- são atitudinal aumenta sua acessibilidade. Se a repetição da expressão de atitudes ver- dadeiras aumenta a acessibilidade das mes- mas, o que acontece quando alguém mente sobre suas atitudes? Maio e Olson (1998) realizaram estudos sobre os efeitos da dis- simulação na acessibilidade das atitudes fortemente mantidas (p. ex., atitudes frente a assassinato, amizade e etc.). Seus resul- tados mostraram que mentir sobre as pró- prias atitudes frente a vários objetos produz um reforçamento significativo das atitudes verdadeiras, manifestado pelo aumento da acessibilidade das mesmas, quando a menti- ra causa recuperação consciente da atitude verdadeira. Similarmente, Johar e Sengupta (2002) investigaram a influência da dissimulação na acessibilidade de atitudes fracamente mantidas. Segundo esses autores, as pessoas costumam mentir mais frequentemente so- bre suas atitudes frente a objetos/questões triviais, como dizer que gosta de determina- do produto quando na verdade não gosta, ou dizer que gostou da roupa nova do amigo quando, na verdade, não gostou. Seus resul- tados apontaram que mentir repetidamente sobre as próprias atitudes, quando essas são fracamente mantidas, aumenta a acessibi- lidade das atitudes verdadeiras, bem como sua persistência e correspondência com o comportamento, corroborando os resulta- dos de Maio e Olson. ambivalência Considere o seguinte exemplo: a comida fa- vorita de João é churrasco. Ele aprecia muito o sabor das carnes e dos acompanhamentos, os considera visualmente atraentes e sente uma enorme satisfação em comê -los. Além do mais, João conhece as particularidades dos tipos de carne e diversas maneiras de prepará -las, sabe quais são as melhores mar- cas de equipamentos para churrasco, onde encontrá -los, realiza churrascos em sua casa sempre que pode, comparece aos churrascos nas casas de seus amigos e, ocasionalmente, vai a churrascarias. Pode -se dizer que João tem uma atitude positiva frente a churras- co. Por outro lado, João sabe que esta não é uma comida muito saudável, é rica em gor- dura e a evita quando está de dieta. Dessa forma, apesar da avaliação geral de João frente a churrasco ser positiva, ele também possui algumas crenças e afetos negativos frente a esse mesmo objeto. Portanto, a avaliação geral de uma pessoa frente a um objeto pode revelar mais ou menos concordância com suas crenças, afetos e comportamentos em relação ao mesmo objeto. Atitudes têm uma estrutura interna que consiste na associação entre o objeto atitudinal, crenças, afetos e (cognições so- bre) comportamentos. Em geral, quanto maior a coerência entre os elementos da es- trutura interna das atitudes, maior será sua força. Em outras palavras, atitudes com es- trutura interna altamente coerente são mais estáveis no decorrer do tempo, resistentes a mudança e predizem melhor o comporta- mento. Sparks, Harris e Lockwood (2004) re- alizaram um estudo com o objetivo de in- vestigar o papel moderador da ambivalência na relação intenção -comportamento utili- zando uma amostra de 197 indivíduos ma- triculados em uma academia de atividades físicas. Segundo os autores, a intenção de frequentar a academia e o comportamento de realmente frequentá -la seria moderado pela ambivalência, ou seja, indivíduos com crenças e afetos menos conflitantes apre- INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 192 tOrres, neiva & cOLs. sentariam uma relação mais forte entre a intenção e o comportamento, comparados a indivíduos com crenças e afetos mais con- flitantes. Os resultados identificaram uma relação significativamente negativa entre comportamento e ambivalência, confirman- do as hipóteses dos autores. A ambivalên- cia elevada estava associada à fraca relação intenção -comportamento, o que significa que indivíduos que possuíam crenças e afe- tos simultaneamente positivos e negativos frente ao comportamento de frequentar a academia possuíam fraca relação entre in- tenção e comportamento, bem como fre- quentavam menos a academia. O termo ambivalência tem sido fre- quentemente utilizado para descrever incon- sistências entre os elementos das atitudes (ou dentro de cada elemento) e a resposta avaliativa. Huskinson e Haddock (2006) in- vestigaram se indivíduos que possuem atitu- des altamente consistentes com seus afetos e crenças diferem de indivíduos que possuem atitudes menos consistentes em relação à acessibilidade de suas respostas cognitivas e afetivas. A hipótese central dos autores era a de que os indivíduos com atitudes al- tamente estruturadas emitiriam respostas cognitivas e afetivas mais rapidamente que indivíduos com atitudes fracamente estru- turadas. Para tanto, os autores realizaram dois experimentos utilizando uma amostra de 93 estudantes universitários, que tinham de responder, por meio do computador, uti- lizando diferentes pares de adjetivos cogni- tivos e afetivos frente a diferentes objetos. O tempo de cada resposta foi registrado e os dados foram analisados por meio da aná- lise da variância e regressão. Os resultados corroboraram a hipótese inicial dos autores, reforçando a ideia de que a acessibilidade de julgamentos afetivos e cognitivos difere de indivíduo para indivíduo, dependendo da consistência entre suas atitudes, crenças e afetos. Ademais, observou -se que respos- tas afetivas foram significativamente mais rápidas que respostas cognitivas. Diante de uma simples pergunta como “você aceita um pedaço de bolo de choco- late?” uma pessoa pode responder pron- tamente “sim”, ou pode se engajar em um processo avaliativo dos vários aspectos do bolo de chocolate antes de dar sua respos- ta. Segundo o argumento de Van Harreveld, Van der Pligt, De Vries, Wenneker e Verhue (2004), as pessoas podem recorrer a julga- mentos avaliativos de atributos gerais do objeto da atitude (processamento do tipo “top ‑down”), ou julgamentos avaliativos de vários atributos específicos do objeto atitu- dinal (processamento do tipo “bottom ‑up”), dependendo de algumas circunstâncias, como pressão de tempo, pouco envolvimen- to com o objeto atitudinal e informações li- mitadas sobre o mesmo. Esses mesmos autores realizaram um estudo com o objetivo de testar a afirmação de que julgamentos avaliativos baseados em atributos gerais do objeto (processamento do tipo “top ‑down”) estão associados com menor tempo de resposta em comparação com julgamentos baseados em atributos es- pecíficos (processamento do tipo “bottom‑ ‑up”). Ademais, os autores investigaram se indivíduos com atitudes ambivalentes preci- sariam de mais tempo para a integração da informação. Três estudos foram desenvolvi- dos com grupos de estudantes universitários, em que eles tinham de responder a escalas de diferenciais semânticos, por meio do computador, acerca de suas atitudes e atri- butos que compunham essas atitudes. Três temas foram investigados: atitudes frente à comida geneticamente modificada (estudo 1), o inglês como língua de instrução (es- tudo 2) e atitudes frente ao cigarro (estudo 3). O tempo de cada resposta foi registrado e comparado com o nível de ambivalência dos participantes por meio de medida de ambivalência de Griffin (Thompsone, Zanna e Griffin, 1995). Os resultados apontaram que as pessoas precisam de mais tempo para alcançar um julgamento atitudinal global, porque elas têm de passar por um processo de integração de atributos – o tempo de res- posta para um julgamento avaliativo basea- do em atributos gerais foi significativamente menor que o julgamento de atributos especí- ficos. Os resultados dos estudos mostraram que a geração de uma resposta atitudinal INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 193 global consome mais tempo especialmente para respondentes ambivalentes, pois estes precisam integrar avaliativamente atributos incongruentes do objeto atitudinal. ForMação da atitude Em geral, procura -se indicaros fatores que influenciam na formação dessa organização duradoura de crenças e cognições em geral, e que têm consequências também para o tipo de afeto que se forma em direção ao objeto conhecido, concedendo a esse con- junto a qualidade de predispor o indivíduo a determinados tipos de comportamentos. enfoques funcionais Para Smith, Bruner e White (1956), as ati- tudes se formam para atender determinadas funções, as quais são vistas sob uma pers- pectiva pragmática de utilidade para o ajus- tamento da personalidade diante do mundo exterior. A personalidade individual envolve uma série de atitudes, sendo o contexto no qual as atitudes se formam importante para determinar o papel que elas serão solicita- das a desempenhar. Dessa forma, as atitudes de uma pessoa servem de mediadores en- tre suas demandas internas e seu ambiente externo – o material, o social e o ambiente informacional do indivíduo. Os autores especificam as funções principais que desempenham as atitudes: • Avaliação do objeto: refere ‑se às posições gerais inspiradoras de nossas reações a este objeto específico e a uma plêiade de outros a ele relacionados, ou seja, o fato de o indivíduo possuir uma atitude defi- nida em relação a um objeto específico fornece o padrão necessário para que o mesmo estabeleça reações diante de tal objeto. • Ajustamento social: esta função desempe- nha o papel de possibilitar a facilitação, o término, a manutenção mais ou menos harmoniosa de nossas relações com as pessoas. O ajustamento social das atitu- des propicia as pessoas a oportunidade de uma boa acomodação social. • Externalização: manifestação clara e insofismável de posições que defendem ou protegem o eu contra certos estados de ansiedade provocados por problemas interiores. O indivíduo diante de uma situação do ambiente exterior exibe uma atitude que representa uma visão trans- formada da maneira como ele interage com seus problemas interiores. Katz e Stotland (1959) também defen- dem a posição de que as atitudes humanas formam -se para atender determinadas ne- cessidades. Para esses autores, o entendi- mento da necessidade geradora da forma- ção da atitude determinada é indispensável para a compreensão do processo de mudan- ça de atitude. Dividem as funções em: • As atitudes servindo a função instrumen- tal, se caracterizam pela maximização ou minimização de custos. Tais atitudes não possuem base profunda, podendo esta ser facilmente alterada caso as condições circunstanciais o exijam. • As atitudes servindo de função ego‑ -defensiva, protegem o indivíduo contra o reconhecimento de verdades indese- jáveis. São muito resistentes à mudança por atenderem a necessidades básicas da personalidade. • As atitudes servindo de expressão a um valor que o indivíduo preza sobremanei- ra, e em relação ao qual sente necessida- de de exibir sua posição. • As atitudes servindo de função para colo- car ordem no ambiente, compreendendo os fenômenos e as circunstâncias e os integrando de uma forma coerente. Para Kelman (1961), o entendimento de como um indivíduo muda uma atitude constitui uma indicação de como as atitudes podem ser formadas. Esse autor considera três processos de influência social que pos- sibilitam uma melhor compreensão em re- INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 194 tOrres, neiva & cOLs. lação ao processo de formação de atitudes. São eles: • Aceitação: é aquela que se verifica quan- do um indivíduo aceita a influência de outro ou de um grupo a fim de obter aceitação por parte deste outro indivíduo ou grupo. Por conseguinte, as atitudes podem ser formadas em consequência de um processo de aceitação. • Identificação: quando um indivíduo adota um comportamento que deriva de outro indivíduo ou grupo porque tal comportamento está associado à relação daquele com este indivíduo ou grupo. Ou seja, a preocupação com o apoio social do comportamento. • Internalização: quando o indivíduo aceita uma influência porque essa influência é congruente com seu sistema de valores. enfoques baseados na noção de consistência cognitiva Heider (1958), Newcomb e colaboradores (1965) e Festinger (1957) argumentam que há uma força em direção à congruência, à harmonia, à consistência entre nossas atitu- des e entre os componentes integrantes das atitudes, ou seja, atitudes conducentes a um estado de harmonia são mais facilmente formadas, e atitudes inconsistentes são de difícil formação e assimilação. De acordo com os autores e a teoria da consistência cognitiva, as atitudes se for- mam segundo o princípio da harmonia e da boa forma, sendo mais fácil organizarem -se atitudes que formam um todo coerente e in- ternamente consistente do que atitudes que, devido a sua incoerência, provocam tensão e desejo de mudança. Rosenberg e Hovland (1960) susten- tam o argumento de que existe uma es- treita ligação entre as crenças acerca do objeto e o afeto dirigido a esse objeto. Consequentemente, quando há coerência entre os componentes cognitivos e afetivos das atitudes, elas se formam de maneira es- tável e duradoura. No caso oposto, não ha- vendo coerência, torna -se difícil a formação de atitudes. Seja pelo encontro direto com um objeto ou com comunicações sobre o objeto, uma pessoa adquire uma ou mais crenças, cada uma delas ligando o objeto a algum “locus afeto”. Na proporção da força, número e consistência mútua dessas novas cren- ças, será gerada uma disposição afetiva similar, mas tentativa, em relação ao ob- jeto em questão. (Rosemberg e Hovland, 1960, p. 106) As atitudes, sustenta Rosemberg, têm uma estrutura psicológica que relaciona os eventos psicológicos entre si, fazendo com que a mudança em um deles resulte na mu- dança dos demais. Assim, a mudança do componente afetivo da estrutura da atitude pode resultar em uma mudança de compo- nente cognitivo e vice -versa. enfoques baseados na teoria do reforço Hovland, Janis e Kelly (1953) pesquisavam que a base das atitudes está no reforço ou na punição que se seguem à emissão de um comportamento. Esses autores têm foco na mudança de atitude. Com relação à forma- ção das atitudes, seu enfoque está baseado na teoria do reforço, ou seja, um reforço seguindo à emissão de um comportamento tende a solidificar tal comportamento e a atitude a ele subjacente, enquanto que um estímulo aversivo tenderá a extinguir a res- posta e impossibilitará a atitude. Para Doob (1947), a atitude é uma variável interveniente que se interpõe entre um determinado estímulo e o comporta- mento subsequente. O autor se baseia na te- oria de que existe um estímulo que conduz a uma resposta implícita – atitude – e termina com um comportamento explícito. É importante ressaltar que Doob admi- te que o comportamento emitido é função de vários determinantes, e não apenas da res- posta implícita – atitude ao estímulo conside- rado: outros hábitos, pulsões e mesmo outras INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 195 atitudes previamente adquiridas são capazes de intervir na resposta explícita que é o com- portamento. Uma vez formada uma atitude, Doob admite que ela possa generalizar -se a outros estímulos que estejam dentro de uma área restrita de comparabilidade. Barber (2004) investigou como o con- texto social comunitário no Tibet afeta a for- mação de atitudes frente a diversos aspectos do casamento. Com base em estudos prévios acerca do impacto da modernização nas ati- tudes dos indivíduos, o autor pressupõe que os indivíduos cujo contexto social da infân- cia fora constituído de instituições não fami- liares (escolas, oportunidades de emprego, infraestrutura de transportes e mercados) sustentariam atitudes mais individualistas frente ao casamento, em comparação aos indivíduos educados em áreas menos mo- dernizadas, onde a presença de instituições familiares é mais intensa. Atitudes individua- listas, nesse caso, consistemem tendências avaliativas que favorecem os interesses in- dividuais das pessoas, e não as expectativas das famílias. Segundo o autor, isso aconte- ceria devido à maior exposição das crianças a novas ideias, à redução do tempo de inte- ração das crianças com seus pais, à redução da autoridade geral dos pais, dentre outros fatores. Foram investigadas atitudes dos participantes frente a sete aspectos do ca- samento: casamento infantil, casamento ar- ranjado, casamento entre castas, obediência à sogra, poligamia, divórcio e recasamento de viúvas. A análise de regressão mostrou uma intensa relação entre contexto social comunitário e esses aspectos do casamento, conforme supunha o autor. Os indivíduos que cresceram em contato com instituições não familiares desenvolveram atitudes po- sitivas frente ao controle individual, e não familiar, do casamento. valores e funções são vistas como as bases das atitudes As pesquisas que se dedicam à investigação dessa relação entre valores, atitudes e com- portamentos têm apontado os valores como preditores de atitudes e comportamentos os mais variados (Feather, 1995). Feather (1995) descobriu que a importância que as pessoas atribuem a um valor específico influencia suas atitudes frente às escolhas comportamentais. As funções das atitudes também mediam a relação entre valores e atitudes. Portanto, valores e funções são vis- tos como a base das atitudes. Mudança de atitudes As atitudes podem ser modificadas a partir de novas informações, de novos afetos ou de novos comportamentos ou situações. Assim, pode -se mudar a atitude em relação a um determinado objeto porque se descobre que ele faz bem à saúde ou nos ajuda de alguma forma. Por exemplo, se você desenvolveu uma atitude negativa em relação ao livro porque não gostou da capa, espera -se que, após sua leitura, você possa modificá -la pela constatação de que ele te ajuda, de alguma forma, a compreender melhor o mundo. Os tópicos sobre mudança de atitude estão relacionados diretamente à questão da formação das atitudes, uma vez que, na medida em que atitudes são mudadas, novas atitudes são formadas. A questão da formação e da mudança de atitudes pos- sui uma vasta aplicação em algumas áreas da psicologia, como no comportamento do consumidor. conflito cognitivo e mudança de atitudes Um dos principais argumentos que susten- tam a ideia da mudança de atitude se encon- tra nas teorias do conflito cognitivo. Há uma forte tendência em manter os componentes das atitudes em consonância. Informações positivas sobre os rapazes, por exemplo, le- varão a afeto positivo. Informação positiva e afeto positivo levam a um comportamento favorável na direção do objeto. O exemplo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 196 tOrres, neiva & cOLs. mais clássico é a Teoria do Equilíbrio de Heider (1958). Segundo tal teoria, a lingua- gem apresenta elementos que representam os objetos da atitude e as relações entre esses elementos. As relações entre objetos são vistas como unidades, por exemplo, P (pessoa) + O (situação) + X (objeto atitu- dinal) formam relações sentimentais que podem ser positivas ou negativas (tríade). Há uma tendência para acontecer relações equilibradas ou desequilibradas. Todos os elos positivos, negativos ou dois negativos e um positivo formam relações balanceadas que tendem a não mudar. Relações desequi- libradas são mais propícias a mudanças. Outra teoria que se sustenta sobre a ideia do conflito cognitivo é a teoria da disso- nância cognitiva, que afirma que os elemen- tos da atitude precisam manter consonância. O estado da dissonância cognitiva é desagra- dável, e o processamento da informação pode tornar -se enviesado, portanto, é necessário modificar um dos elementos dissonantes. No caso, é mais fácil modificar crenças e afetos para aproximá -los do comportamento. Algumas versões do fenômeno da dis- sonância estão frequentemente gerando pesquisa. A primeira é a ideia de Festinger (1957) de que a inconsistência entre os ele- mentos em um sistema cognitivo produz dis- sonância. Cialdini e colaboradores (1995) descobriram que as atitudes daqueles que possuem alta preferência por consistência cognitiva são menos suscetíveis à dissonân- cia e são melhores preditoras de comporta- mento. Os autores argumentam que existem indivíduos que preferem manter consciência entre seus pensamentos, afetos e ações en- quanto outros não apresentam tal preferên- cia. A consistência, segundo os autores, se manifesta em três domínios: interno (entre suas respostas individuais), externo (suas respostas para os outros) e dos outros (en- volve as respostas dos outros para você). O segundo ponto de vista sobre a dissonância é o de Cooper e Fazio (1984) e Cooper (1992). Segundo eles, a inconsis- tência por si só não traz dissonância. A dis- sonância somente ocorre se a inconsistência trouxer consequências aversivas. De manei- ra geral, evidências dão suporte à visão de que comportamentos dissonantes induzem a um desconforto geral nas pessoas e que a mudança de atitude pode eliminar esse desconforto (Elliot e Devine, 1994). Cooper e Fazio (1984) reforçam a necessidade do engajamento para mudança de atitude que provém da motivação resultante do reco- nhecimento das consequências aversivas do comportamento dissonante. Outros autores, como Pyszcynski e co- laboradores (1993) sugerem o oposto. É pos- sível ainda mudar uma atitude quando se é obrigado a se comportar em desacordo com ela. Exemplo: você não gosta dos rapazes que moram em seu prédio (atitude negati- va), mas será obrigado a conviver com eles, porque passam a estudar na mesma classe. Para evitar uma tensão constante que o le- varia a um conflito, você irá procurar des- cobrir aspectos positivos neles (como o fato de serem bons alunos ou muito requisitados pelas garotas) que permitam uma aproxi- mação, que gerará uma mudança de atitude (atitude positiva). Pyszcynski e colaborado- res (1993) afirmam que uma das funções de vieses cognitivos é proteger as pessoas de emoções dolorosas, então o reconhecimento de um fator desconfortável pode eliminar a distorção das cognições. Assim, instruções que atenuam o efeito dissonante favorecem a mudança de atitude em relação ao objeto. Aronson (1992) e Steele (1988) res- saltam o papel crítico da inconsistência sobre o autoconceito e sobre o processo de autoafirmação. Se há uma inconsistência, ela será crítica e, portanto, poderá produzir mudança de atitude, se ela envolver o au- toconceito. O indivíduo deseja manter uma percepção de integridade global, o que está relacionado com o autoconceito. Quanto mais positivo for o autoconceito, mais fácil é recrutar ideias que reforcem a autoade- quação, e menor é a necessidade de redu- zir a dissonância. Aronson e colaboradores (1995) encontraram que indivíduos são se- letivos em suas estratégias de autoafirmação para diminuir sua dissonância cognitiva. INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 197 atitude e persuasão A área da persuasão na psicologia es- tuda a formação e a mudança de atitude. Segundo tais estudos, há uma predisposição para reagir frente a objetos novos (crenças, valores). Um encontro com o objeto novo dá origem a resposta avaliativa: cognitiva, afe- tiva, comportamental (resposta atitudinal) que demonstra uma tendência a responder ao objeto de forma semelhante no futuro. Existem diversos paradigmas para o estudo das atitudes e os processos de persuasão. Nos argumentos relacionados à persu- asão, há um papel crítico da memória dos argumentos da mensagem como media- dor da persuasão (Hovland et al., 1953). Os estudos mostraram recentemente que a memorização da mensagem é o mais impor- tante fator na predição das atitudes (Petty et al., 1997). Essas ideias de persuasão se- guem o princípio de processamento sistemá- tico – haverá um impacto comportamental da mensagem se: houver exposiçãoà men- sagem, prestar atenção em seu conteúdo, compreendê -lo, concordar com o que foi compreendido, memorizar. Isso ocorrendo, há a nova atitude. Pelas teorias de processo dualístico, os indivíduos processam informação super- ficialmente (princípio do menor esforço), a não ser que haja motivação para se engajar em formas mais sistemáticas de processa- mento. Muitos trabalhos sobre persuasão continuam sendo guiados pelos modelos de elaboração probabilística (ELM) e pelo modelo heurístico sistemático (HSM). Esses modelos têm mantido sua popularidade e gerado pesquisas na área. Embora pareçam diferentes, há muita similaridade entre os modelos. Alguns modelos tentam explicar a mudança de atitude de forma probabilís- tica. Esse é o caso do modelo ELM. Existe um continuum de probabilidade, definido pelo quanto os indivíduos estão motivados e são hábeis para avaliar o objeto da atitude. Contínuos altos ou baixos definem novas atitudes fracas ou fortes. Haverá um pro- cessamento sistemático (central) quando há alta motivação e habilidade, caso con- trário, haverá um processamento periférico (heurística, atribuição) (Petty e Cacioppo, 1986). Pelo modelo heurístico sistemático (Chaiken et al., 1989), as pessoas aprendem e armazenam vários heurísticos de persua- são, que são usados para avaliar a mensa- gem. Essa aprendizagem ocorre pelo proces- samento sistemático ou simplesmente por evocação de heurísticas (p. ex., “podemos confiar em experts”). A evocação heurística predomina quando a capacidade ou habili- dade é baixa. A mudança de atitude é determinada por ambos, processamento central e perifé- rico que envolve heurística. Para demonstrar a importância dos processos motivacionais e da habilidade no processamento da infor- mação, Chen e colaboradores (1992) des- cobriram que a prevenção de um conteúdo contra -atitudinal leva as pessoas a resistir à mensagem e a gerar pensamentos desfavo- ráveis, principalmente quando a questão era pessoal e quando as pessoas não estavam distraídas. De acordo com os modelos de proces- samento dual da mudança de atitude, quan- do a motivação ou a habilidade de escruti- nar a informação relevante para a atitude está ausente, os processos periféricos são mais prováveis de determinar os resultados da persuasão. No caso, processos periféricos incluem simples regras de decisão (heurís- ticas), processos de condicionamento e ou- tros processos que não envolvem a análise pormenorizada dos méritos do objeto da atitude. (Petty e Cacioppo, 1986). Estudos recentes analisam fatores periféricos, como a credibilidade do comunicador (Hurwitz et al., 1992 apud Petty et al., 1997), atrativida- de e poder (Shavitt et al., 1994 apud Petty et al., 1997). Diferentes variáveis influen- ciam a persuasão em diferentes processa- mentos e em diferentes níveis do continuum de probabilidade. Alguns estudos ressaltam o efeito do humor sobre a persuasão (Mayer et al., 1992; Mayer e Hanson, 1995). O hu- INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 198 tOrres, neiva & cOLs. mor (emoções negativas, medo, etc.) pode levar ao processamento periférico de forma direta ou afetar a disposição para avaliar a informação. Fatores determinantes da mudança de atitude De maneira geral, a mudança de atitude pode ser explicada por alguns fatores ante- cedentes que influenciam e pelo processa- mento que o indivíduo realiza da mensa- gem. O processamento do indivíduo media a relação entre a mensagem, o contexto, o recipiente da mensagem e a fonte, desem- bocando na mudança de atitude. A Figura 8.7 resume a relação entre os fatores que influenciam a mudança de atitude. De maneira geral, os fatores relaciona- dos à fonte que têm recebido maior aten- ção foram a credibilidade, a atratividade e o status minoritário ou majoritário. Os fatores da mensagem que receberam maior inves- tigação das pesquisas foram: comunicações unilaterais ou bilaterais, mensagens persua- sivas, mensagens esporádicas, forma da mensagem (natureza dos argumentos, argu- mentos positivos versus negativos), escassez, etc. Os fatores relacionados ao recipiente avaliam a experiência anterior, a necessida- de de conhecimento sobre o objeto, a ade- quação ou identificação com a mensagem, etc. Os fatores de contexto que influenciam a mudança de atitudes incluem a oralidade da mensagem, a atuação da televisão ou dos anúncios em jornais, etc. Enfim, os estudos em mudança de atitude continuam a florescer. Os estudos esqueceram -se da pergunta inicial sobre quando uma variável era persuasiva ou não para iniciar o processamento cognitivo e mudar a atitude, e começaram a analisar os processos fundamentais pelos quais as variá- veis atuam e o impacto delas (Petty et al., 1997). As perguntas sobre como as variáveis influenciam o processamento de informa- ção estão sendo cada vez mais exploradas. Outro fator que pode ser relevante é o reco- nhecimento de que a variável influencia o processamento da informação e, daí, afeta- Figura 8.7 relação entre variáveis independentes, variáveis mediadoras e mudança de atitude. Fonte Mensagem Recipiente Contexto Mudança de atitude Processos afetivos Processos cognitivos Processos comportamentais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 199 rá o processo de dissonância e a motivação para mudar a atitude. A partir daí, é possível avaliar em quais circunstâncias a motivação opera para a mudança ou não da atitude. Nos modelos clássicos de mudança de atitudes, as mensagens são apresentadas, processadas e, se bem -sucedidas, movimen- tam as atitudes dos receptores para a posi- ção argumentada. A atitude revista, por sua vez, pode influenciar um comportamento subsequente, em condições apropriadas. O modelo de probabilidade (ELM) e o mode- lo heurístico sistemático (HSM) são exem- plos de modelos de processamento dual que abordam esse processo geral de recepção da mensagem, mudança de atitude (e talvez) mudança de comportamento. Os modelos de processamento dual asseguram que, se o receptor é capaz, e está motivado, ele irá ela- borar, ou sistematicamente analisar mensa- gens persuasivas. Se a mensagem é racional, baseada em dados e lógica (ex., forte), ela irá persuadir. Se não, não. Fatores auxiliares do contexto terão pequena influência nesses resultados. Contudo, se os alvos das mensa- gens são desmotivados (ou incapazes) para processar as mensagens, eles irão usar esses fatores auxiliares chamados caminhos peri- féricos (ex., fontes atrativas) ou heurísticas (ex., papai está sempre certo) para facilitar um processamento mais elaborado na for- mação de uma resposta atitudinal. Essas ati- tudes são menos resistentes a pressões con- trárias, menos estáveis e menos ativadoras do comportamento quanto às atitudes que se formam pelo processamento elaborado. Como já foi dito, os modelos duais for- mam o paradigma básico nos estudos sobre persuasão. Nesses modelos, fonte e men- sagem possuem papéis distintos que, em conjunto com a motivação e a habilidade para processar a informação, determinam os resultados das interações persuasivas. Kruglanski e colaboradores (Kruglanski e Thompson 1999a, 1999b; Thompson et al., 2000) mudaram a visão do processamento dual em seu unimodelo que aceita a impor- tância da motivação e da habilidade, mas descrevem um único processamento cogni- tivo que dá conta dos efeitos da fonte e da mensagem na persuasão. A cognição nos modelos de persuasão também traz uma perspectiva de processo único, mas postula uma série de estágios de processamento que ocorrem em resposta a mensagens persuasivas. A cognição no mo- delo de persuasão não desconsiderou o con- junto de dados compreensível dos modelos de processamento dual, mas seu tratamento interessante sobre a distração, o humor e as variações da atitude inicial sugerem insights úteis aos processos fundamentais de persua- são (Crispin e Crano, 2006). Nos últimosanos, o estudo das influ- ências minoritárias e majoritárias sobre a mudança de atitudes têm se tornado mui- to forte. Mudança de atitude induzida por fontes oriundas de grupos minoritários re- presenta um caso especial na persuasão. As minorias influenciam os pesquisadores a focalizar nos processos intraindividuais que são ativados em respostas aos argumentos e às opiniões das minorias. Esses processos incluem reações cognitivas ou pensamen- tos dos receptores aos apelos das minorias (Crispin e Crano, 2006). Modelos recentes têm integrado as con- cepções dos modelos de processamento dual de mudança de atitudes com a abordagem da identidade social na tentativa de compreen- são da persuasão no contexto social. Há da- dos que indicam que os processos voluntários de mudança se diferenciam precisamente dos processos automáticos. Pressões internas e externas provavelmente orientam a pesqui- sa de persuasão e possuem implicações na construção de teorias que possam ser aplica- das ao mundo real. Particularmente relevan- te teoricamente é a questão dos motivos que dirigem as trocas de influência entre mino- rias e maiorias, e as mudanças temporais nas estratégias de processamento da informação que mediam a influência social. Essa linha de pesquisa é consistente com as proposi- ções de Moscovici (1980) de que o conflito é pré -condição necessária para a mudança de atitude induzida pela minoria, embora a mu- dança possa ser indireta ou delegada. INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 200 tOrres, neiva & cOLs. outros mecanismos e a mudança de atitude Outros mecanismos explicam o processo de mudança de atitude e persuasão. O primei- ro diz respeito ao pareamento da mensagem com estímulos prazerosos (p. ex., propa- ganda), que gera um condicionamento de uma atitude positiva. Esse mecanismo fun- ciona melhor quando há baixa motivação e atenção. Outro mecanismo é a exposição repe- titiva. A exposição repetitiva pode levar à mudança de atitude por meio do princípio de que estímulos encontrados previamente são mais facilmente percebidos. Tal explica- ção não depende de atenção ou de processa- mento do estímulo. reFerências AIKMAN, S. N.; CRITES JR. S. L.; FABRIGAR, L.R. Beyond affect and cognition: Identification of the informational bases of food attitudes. Journal of Applied Social Psychology, v. 36, n. 2, p. 340-382, 2006. AJZEN, I.; FISHBEIN, M. Understanding attitudes and predicting social behavior. Englewood Cliffs, Nj: Prentice-Hall, 1980. AJZEN, I.; FISHBEIN, M. Attitudes and the attitu- de-behavior relation: Reasoned and automatic pro- cesses. In: STROEBE, W.; HEWSTONE, M. (Ed.). European Review of Social Psychology. Chichester, England: Wiley, 2000. p. 221-253. AJZEN, I. Attitudes personality and behavior. Milton Keynes: Open University Press, 1988. AJZEN, I. Nature and operation of attitudes. Annu‑ al Review of Psychology, v. 52, p. 27-58, 2001. ALLPORT, G. H. 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Identidade social e alteridade 13. Contato intergrupal: conflito realístico, privação relativa e equidade 14. A teoria das representações sociais 15. Valores humanos: contribuições e perspectivas teóricas 16. Cultura, valores humanos e comunicação nas relações intergrupais 17. Aplicações da psicologia social às organizações Índicearte, para traduzir a disposição de uma figura em está- tua ou desenho. Tinha o sentido de postura dada à imagem ou à figura, por exemplo, “atitude da mulher na imagem ou no retra- to”, etc. Segundo o dicionário Aurélio (Holan- da, 1986), na linguagem coloquial, o termo atitude pode se remeter a: 1. Posição do corpo, porte, jeito, postura. 2. Modo de proceder ou agir; comportamen- to, procedimento. 3. Afetação de comportamento ou procedi- mento. 4. Propósito, ou maneira de se manifestar esse propósito. 5. Reação ou maneira de ser em relação a determinada(s) pessoa(s), objeto(s), situação(ões), etc. Na linguagem cotidiana, Brei (2002) afirma que a ambiguidade do termo atitude vem de sua origem latina, que une dois ter- mos actus (ação) e aptitudo (aptidão). A distinção entre o termo do dia a dia e o conceito formal de atitude é de suma im- portância, tanto para a compreensão teóri- ca desse fenômeno quanto para a produção empírica nesse campo, uma vez que uma definição imprecisa adotada pelo pesquisa- dor pode influenciar a escolha do tipo de medida a ser empregada e a interpretação dos resultados obtidos. No contexto das ciências sociais, o ter- mo atitude remete a um construto psicológi- co em torno do qual, apesar de seu notável desenvolvimento teórico e empírico, ainda persistem várias controvérsias acerca de sua definição. Analisando a multiplicidade de definições de atitude, é possível selecionar entre elas algumas que merecem especial atenção, tanto por seus pontos em comum quanto por suas particularidades. São desta- cadas cinco conceituações, principalmente por seu valor histórico. A história da pesquisa em atitudes é longa. Tem sua origem no século passado. Seus antecedentes estão nos estudos so- bre “atitudes motrizes” de Fere (1888), de Langen (1889) e de Munstergerg (1890 apud Solozábal, 1981). As definições que se originaram a partir dos estudos de 1920 geraram muitas implicações para as me- didas e para seu desenvolvimento teórico. Dentre elas, pode -se citar Allport (1935) e Thurnstone (1931). Allport (1935, p. 19) define atitude como “um estado mental e neurológico de prontidão, organizado por meio da expe- riência, exercendo uma influência diretiva ou dinâmica sobre a resposta do indivíduo a todos os objetos e situações com que se relaciona.” Essa definição considera a ati- tude como um todo apto a reagir de uma certa maneira, dando ênfase às implicações comportamentais que podem ser extensas a todas as situações ou objetos com que se re- laciona (Alpport, 1935). Para Thurnstone (1931), a atitude é um afeto pró ou contra um objeto psicológi- co. A partir dessa definição, várias medidas psicológicas de atitudes foram construídas. INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 174 tOrres, neiva & cOLs. Doob (1947, conceitua atitude como uma resposta implícita e geradora de im- pulsos, considerada socialmente significati- va na sociedade do indivíduo. Observa -se, nessa análise, uma posição behavorista e a não inclusão do comportamento ostensivo, sem negar a influência da atitude sobre o mesmo. Para Smith, Bruner e White (1956), a atitude é uma predisposição para experi- mentar uma classe de objetos de certas for- mas, com afeto característico; ser motivado por essa classe de objetos e agir em relação a tais objetos de maneira característica. Triandis (1971, definiu atitude como uma ideia carregada de emoção que predis- põe um conjunto de ações a um conjunto particular de situações sociais. Segundo Olson e Zanna (1993), atitu- des têm sido definidas como: • Avaliação: “tendência psicológica que é expressa pela avaliação de uma entidade particular com algum grau de favorabilida‑ de ou desfavorabilidade” (Eagly e Chaiken, 1993, p. 1). • Afeto: “o afeto associado com um objeto mental” (Greenwald, 1989, p. 432). • Cognição: “um tipo especial de conheci- mento, notamente conhecimento cujo con- teúdo é avaliativo ou afetivo” (Krugglanski, 1989, p. 298). • Predisposições comportamentais: “o estado de uma pessoa que a predispõe a uma res- posta favorável ou desfavorável quanto a um objeto, pessoa ou ideia” (Triandis, 1991, p. 485). Enfim, segundo alguns autores, há uma concordância geral de que a atitu- de representa uma avaliação sumária de um objeto psicológico capturado em seus atributos dimensionais como bom -ruim, nocivo -positivo, prazeroso -desagradável, gostável -não (Ajzen e Fishbein, 2000; Eagly e Chaiken, 1993; Petty et al., 1997). Contudo, pesquisas recentes mostram que julgamentos avaliativos diferem e mui- to de julgamentos não avaliativos. Alguns autores sugerem que alguns objetos indu- zem reações avaliativas, outros sugerem a necessidade dos indivíduos em se engajar em respostas avaliativas. Alguns indivíduos possuem maior necessidade de avaliar que outros e, por isso, produzem mais atitudes (Petty e al., 1997). Outra questão central está na ideia de que as atitudes são disposições para avaliar objetos psicológicos, e isso implica em uma única atitude sobre um objeto. Os estudos sugerem que as atitudes mudam, mas não há uma substituição, e sim uma sobreposi- ção da antiga atitude. Exemplos seriam: ati- tudes duais, duas diferentes atitudes frente a um mesmo objeto no mesmo contexto, uma atitude implícita ou habitual e outra explícita (McConnnel et al., 1997); avalia- ções diferentes do mesmo objeto em con- textos diferentes podem ser consideradas evidências de atitudes múltiplas frente ao mesmo objeto ou atitudes frente a diferen- tes objetos psicológicos; atitudes contexto- -dependentes: muitos autores afirmam que as inconsistências entre atitudes e compor- tamentos se devem à existência de múlti- plas atitudes deste tipo frente a alvos sociais (McConnnel et al, 1997). Observa -se que as definições apresen- tadas divergem em palavras utilizadas, mas tendem a caracterizar as atitudes sociais como variáveis não observáveis, porém di- retamente inferíveis de observações e como sendo integradas a partir dos seguintes componentes: cognitivo, afetivo e compor- tamental. Contudo, como também é possível ver pelas definições apresentadas, conceito e estrutura estão muito interligados, cons- tatando -se que, também quanto à estrutura, não existe um acordo entre os teóricos. A estrutura interna envolve a discussão sobre quantos componentes fazem parte da atitu- de. Esse enfoque inclui algumas tendências principais: bicomponente (afeto e cognição), unicomponente (afeto) e tricomponente (afeto, cognição e comportamento). Em uma primeira fase do estudo das atitudes, a abordagem multicomponentes foi mais comum entre os pesquisadores. É a visão da atitude como constituída de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 175 sentimento, pensamento e ação. Tal distin- ção vem desde os filósofos gregos. Depois, passou -se a enfatizar a visão unidimensio- nal e, posteriormente, a definição tripartite voltou a ser mais aceita (Triandis, 1991). Mensuração das atitudes Vários instrumentos têm sido utilizados para se medir as atitudes. Os métodos mais comuns são as medidas de autodescrição, as medidas fisiológicas e as técnicas observa- cionais. Medidas autodescritivas Uma grande quantidade de escalas auto- descritivas têm sido desenvolvidas com o propósito de se medir as atitudes. As escalas mais comuns são: • Escalas Likert (e “Tipo Likert”): as escalas Likert contêm uma série de afirmativas sobre um objeto. Os respondentes devem indicar seu nível de concordância ou discordância com cada afirmativa, em termos de uma escala de 5 pontos (p. ex., concordo fortemente, concordo, indife- rente, discordo, discordo fortemente). As escalas tipo Likert apresentam variações no número de pontos ou na ancoragem (p. ex., 100% das vezes, sempre, ocasio- nalmente, etc). • Escalas de diferencial semântico: aqui os respondentes avaliam um objeto em termos de vários itens bipolares, desenha- dos paramedir três dimensões: nível de favorabilidade (bom -ruim), poder (fraco- -forte) e atividade (ativo -passivo). • Escala de Thurstone: as escalas de Thurstone contêm uma série de afirmativas que já foram avaliadas previamente em termos de favorabilidade, e apenas pedem que o respondente marque as afirmativas com as quais ele concorda. • Escala de Guttman: as afirmativas na escala de Guttman são ordenadas em uma hierarquia, de forma que a concor- dância com uma afirmativa implica que o respondente também concorda com as afirmativas que estão em um nível inferior da hierarquia. • Escala de distância social: essas escalas são usadas para medir as atitudes com relação a diferentes grupos nacionais, raciais e étnicos. Quando são utilizadas, os respondentes indicam sua inclinação para ter vários níveis de contato com diferentes grupos -alvo. Pelo fato de algumas vezes as pessoas não estarem dispostas a revelar suas verda- deiras atitudes, as escalas autodescritivas nem sempre nos dão as melhores informa- ções. Assim, para reduzir a inadequação dessas escalas, pesquisadores desenvolve- ram várias técnicas alternativas. Uma des- sas técnicas, a bogus pipeline (Jones e Sigall, 1971) refere -se a dizer aos participantes que foram conectados a uma máquina com eletrodos e que essa máquina irá medir suas respostas verdadeiras por meio do monito- ramento de mudanças fisiológicas (embora a máquina não possa fazer isso). Medidas fisiológicas As medidas fisiológicas baseiam -se no fato de que, uma vez que as respostas emocionais são acompanhadas de reações fisiológicas, medidas como a resposta galvânica de pele, eletromiograma e dilatação pupilar podem ser utilizadas para se avaliar as atitudes. O problema com essas medidas é que, embora elas possam demonstrar se uma pessoa está tendo uma reação emocional frente a um objeto, elas não podem indicar a intensida- de ou a direção dessa reação. técnicas observacionais Finalmente, as técnicas observacionais para a medição das atitudes variam de pouco estru- turadas e informais até técnicas altamente estruturadas e formais. Uma técnica pouco estruturada e informal, a observação parti- INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 176 tOrres, neiva & cOLs. cipante, funciona ao fazer com que o obser- vador participe ativamente nas atividades do experimento. Uma técnica mais estrutu- rada, a Análise do Processo Interativo (IPA) de Bales (1950), é usada para avaliar como as pessoas interagem em pequenos grupos. No IPA, o observador avalia as verbalizações dos membros do grupo em termos de 12 ca- tegorias criadas para medir as orientações sociais -emocionais e de tarefa. coMPonentes das atitudes A perspectiva mais proeminente de estudo da estrutura interna das atitudes é o mode- lo de três componentes, segundo o qual as respostas eliciadas por um objeto atitudinal podem pertencer a três classes: cognitiva, afetiva ou comportamental. A categoria cog- nitiva é composta por pensamentos, cren- ças, percepções e conceitos acerca do objeto atitudinal. A categoria afetiva, por sua vez, traz sentimentos e emoções associadas ao objeto da atitude. Por fim, a categoria com- portamental engloba ações, ou intenções para agir. O esquema abaixo ilustra as três clas- ses de resposta frente ao refrigerante Coca- -cola. A constatação do fato de que a Coca- -cola é um refrigerante que possui cafeína corresponde a uma representação cognitiva do objeto Coca -cola, assim como a identi- ficação de sua logomarca (letras cursivas brancas sob um fundo vermelho ou preto), a constatação de que esta é uma bebida gaseificada de cor escura, de origem norte- -americana, comercializada geralmente em garrafas ou latas em bares, restaurantes, mercados e etc. Quando o objeto atitudinal é de alguma forma qualificado, ou a este é associado alguma avaliação ou juízo de va- lor, essa resposta pertence a categoria afe- tiva. “Eu gosto de Coca -cola”, “Coca -cola é saborosa e refrescante”, “me sinto satisfeito quando bebo Coca -cola” são exemplos de respostas afetivas. A constatação de uma inclinação para ação em direção ao objeto atitudinal, como a decisão de comprar Coca- -cola, representa uma resposta pertencente à categoria comportamental. O modelo de três componentes descre- ve a estrutura interna das atitudes de uma maneira muito conveniente, pois distingue claramente as categorias de resposta por suas definições e parece exaurir o universo de possibilidades de respostas atitudinais (seria difícil pensar em uma resposta frente a um objeto atitudinal que não se encaixe em uma das três categorias – cognitiva, afetiva e comportamental!) (Fazio e Olson, 2003). Apesar de ser o modelo mais difundido, as pesquisas empíricas apresentam resultados conflitantes referentes à validação desse modelo, principalmente quanto à validade discriminante (a análise fatorial não neces- sariamente distingue as três categorias de resposta como três fatores independentes). Figura 8.1 estrutura tricomponentes da atitude. Componente cognitivo Coca‑cola tem cafeína Componente afetivo Eu gosto de Coca‑cola Componente comportamental Vou comprar Coca‑cola Coca‑cola INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 177 Por outro lado, alguns teóricos argu- mentam que sentimentos e emoções podem preceder crenças sobre o objeto atitudinal e que, portanto, as respostas atitudinais são exclusivamente de natureza afetiva. Conforme essa perspectiva, conhecida como mono -componente ou unicomponente, o aspecto avaliativo da atitude é enaltecido, sendo esta frequentemente mensurada por meio de escalas bipolares representando o grau de favorabilidade/desfavorabilidade do indivíduo frente ao objeto atitudinal. Outros teóricos assumem uma perspectiva bicomponente, segundo a qual as respostas atitudinais pertencem a duas categorias ape- nas: cognitiva e afetiva. Essa tendência se consagrou principalmente em virtude da de- finição de Thurnstone (1931), que originou medidas de atitudes usadas até o presente momento. Em virtude de se mencionar os componentes da atitude, faz -se necessário abordar cada um deles nos tópicos seguin- tes do texto, enfatizando principalmente os resultados de pesquisas empíricas. o componente cognitivo Considere a seguinte situação: um funcioná- rio constata que a empresa onde ele trabalha passará por uma mudança. Segundo Lines (2005, p. 11), “para que haja uma carga afe- tiva pró ou contra um objeto social definido, faz -se necessário que se tenha alguma re- presentação cognitiva desse objeto”. Dessa forma, o funcionário buscará saber, por exemplo, do que se trata a mudança, quais são seus objetivos, suas causas, seu alcance, certamente se lembrará de situações de mu- dança organizacional já vividas por ele, por outras pessoas, fará comparações e etc. No dizer de Rosenberg e colaborado- res (1960), as cognições incluem percep- ções, conceitos e crenças acerca do objeto da atitude e são normalmente eliciadas por perguntas verbais na forma oral ou escrita. A representação cognitiva de um ob- jeto atitudinal é um elemento indispensá- vel para que a pessoa forme uma atitude em relação ao mesmo. Nesse caso específi- co, o funcionário tem percepções, crenças e conceitos acerca da mudança dentro da empresa, resultante de informações, cons- tatações pessoais e experiências vivenciadas anteriormente, que formam uma significa- ção de mudança dentro dessa organização. Estes fatores determinam afetos favoráveis ou desfavoráveis em relação à mudança or- ganizacional. Sapp (2001) argumenta que as cren- ças não são formadas em isolamento de crenças acerca de objetos substitutos, ou seja, as pessoas avaliam os atributos de um objeto em relação aos atributos de objetos que elas percebem como possíveis substi- tutos. No exemplo anterior, o funcionário busca, simultaneamente, informações acer- ca da mudança organizacional por qual está passandosua empresa e outros tipos de mu- dança que sua empresa já tenha passado, ou casos de mudanças em outras organizações, ou enfrentadas por pessoas conhecidas, etc. Dessa forma, a compreensão da consistência lógica de crenças sobre objetos em compara- ção a crenças acerca de objetos substitutos é muito importante para a predição de ati- tudes frente ao objeto. Sapp (2001) inves- tigou a consistência lógica de um conjunto de crenças de indivíduos japoneses sobre comer carne proveniente de três países e o efeito das inconsistências lógicas do conjun- to de crenças para produtos substitutos na estimativa das atitudes frente ao consumo de carne. Seus resultados foram os de que os indivíduos usam objetos substitutos para melhorar a consistência de suas crenças so- bre determinado objeto. Então, os estudos sugerem que o aspecto cognitivo de um ob- jeto atitudinal depende em larga escala do aspecto cognitivo de objetos similares. o componente afetivo Segundo Triandis (1971, p. 11), o compo- nente afetivo “é a forma como uma pessoa se sente em relação a um objeto atitudinal, sendo geralmente determinada pela associa- ção prévia do objeto de atitude com estados agradáveis ou desagradáveis”. INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 178 tOrres, neiva & cOLs. Para Fishbein (1963), o componente afetivo é definido como sentimento pró ou contra um determinado objeto social. Este autor argumenta que as crenças e os comportamentos associa- dos a uma atitude são apenas elementos pelos quais se pode medir a atitude, não sendo, porém, parte integrante dela. Sen- do a atitude uma variável interveniente é, como tal, inferível de um fato, mas não diretamente observável. (Fishbein, 1963, p. 36) O componente afetivo tem conotação avaliativa e representa um sentimento po- sitivo ou negativo vinculado a um objeto, determinando uma atitude. É o caso dos funcionários que formam atitudes positivas ou negativas em relação à mudança organi- zacional como efeito do teor de suas crenças a respeito da mesma. Essas atitudes podem ser observadas por afirmações verbais, escri- tas ou faladas, de gosto ou não do sujeito em relação ao objeto da atitude (“mudança é uma coisa boa para todos na empresa”, “estou inseguro em relação a essa mudan- ça” e etc.). Os componentes das atitudes foram estudados por Aikman, Crites e Fabrigar (2006) no contexto de atitudes frente à co- mida. Esses autores concebem as atitudes como julgamentos avaliativos globais sobre determinado objeto, os quais podem com- preender diferentes tipos de informações (cognitivas, afetivas, etc). Por exemplo, uma atitude levemente positiva em relação a ba‑ con (+1 em uma escala bipolar de +4 a –4) pode refletir um sentimento ou avaliação positiva frente ao sabor do alimento (+4) e uma percepção negativa de seus benefí- cios à saúde ( -3). Dessa forma, os autores conduziram um estudo com o objetivo de investigar que tipo de informação contribui para a aversão ou preferência das pessoas pelos alimentos. A pesquisa teve um caráter explorató- rio, no qual os participantes indicaram a im- portância das características das comidas e as reações emocionais frente uma variedade de alimentos para a determinação de suas atitudes. A análise fatorial identificou cinco bases informacionais das atitudes frente a comida: 1. Afeto positivo (ex.: estimulante, prazero- so, refrescante, vívido, etc.) α= 0,92. 2. Afeto negativo (depressivo, envergonha- do, culpado, enauseado, etc.) α= 0,87. 3. Qualidades sensoriais gerais (aparência, cor, sabor, odor, etc.) α= 0,84. 4. Qualidades sensoriais específicas (cremo- so, gorduroso, molhado, salgado, doce, etc.) α= 0,78. 5. Qualidades cognitivas abstratas (saudável, leve, seguro, etc) α= 0,75. A regressão dos cinco fatores com os diversos tipos de comida avaliados indicou que afeto positivo, afeto negativo e qualida- des sensoriais gerais são importantes pre- ditores de atitudes frente à comida. Esses resultados indicam que as pessoas formam suas atitudes frente à comida com base em crenças acerca das qualidades sensoriais da comida (componente cognitivo) e afetos atribuídos à comida (componente afetivo). o componente comportamental Segundo Newcomb, Turner e Converse (1965), as atitudes humanas são propiciado- ras de um estado de prontidão, que, se ati- çado por uma motivação específica, resulta- rá em um determinado comportamento. Já os autores Katz e Stotland (1959) veem nas atitudes a própria força motivadora da ação. Essa afirmativa é muito controversa, já que a relação entre atitude e comportamento não possui uma grande base empírica (Ajzen e Fishbein, 2000; Ajzen, 2001). Newcomb, Turner e Converse (1965) representam da seguinte forma o papel das atitudes na determinação do comporta- mento: INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 179 Observa -se, na representação de Newcomb, Turner e Converse (1965), que as atitudes sociais criam um estado de pre- disposição à ação que, quando combinado com uma situação específica desencadean- te, resulta em comportamento. Contudo, tal afirmativa pode ser questionada por alguns estudos na área. Outra teoria que aborda a questão da atitude e do comportamento é a teoria da ação racional de Fishbein e Ajzen (1975) e a teoria da ação planejada de Ajzen (1988). Outras informações sobre a relação entre comportamento e atitude serão apresenta- das posteriormente. Enfim, pode haver uma relação entre atitudes e comportamento, mas esta nem sempre é a melhor preditora do comporta- mento em questão. Vários fatores situacio- nais e culturais se apresentam em algum grau como preditores de comportamento. A relação entre atitudes e comportamento será discutida mais adiante. a visão unicomponente Nesta concepção unitária, a atitude foi con- ceituada como uma quantidade de afeto a favor ou contra algum objeto. Devido a essa concepção, os autores concluíram que a me- lhor forma de medi -la seria pela localização do sujeito em uma dimensão bipolar afetiva ou avaliativa frente a um objeto. A atitude é vista como uma variável la- tente ou subjacente que se presume influen- ciar ou guiar o comportamento. Essa visão leva à implicação de que as atitudes não são idênticas às respostas exteriorizadas. Assim, as atitudes não podem ser observadas dire- tamente, mas inferidas a partir do compor- tamento. A Figura 8.3 representa a noção das atitudes pela visão unicomponente: Festinger (1957) foi um dos primeiros psicólogos sociais a investigar empiricamen- te o impacto das atitudes no processamento de informação. Ele desenvolveu a hipótese de seletividade, que propõe que, antes de Figura 8.2 influência das atitudes sobre o comportamento. Experiências pessoais Atitudes atuais da pessoa Situação atual Comportamento Figura 8.3 Os componentes da atitude. Reproduzido de Eagly e Chaicken (1993). Resposta cognitiva Resposta afetiva Respostas comportamentais Estímulo Atitude INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 180 tOrres, neiva & cOLs. adotar uma postura com relação a um obje- to, as pessoas aceitam receber informações que dão suporte e informações que refutam suas ideias. Contudo, uma vez comprome- tidas com uma postura, as pessoas selecio- nam as informações que dão suporte a suas posições e excluem aquelas que as contradi- zem. A hipótese de seletividade não foi to- talmente confirmada, mas algumas pesqui- sas demonstraram que as pessoas tendem a avaliar as informações que são consistentes com suas atitudes como mais positivas e me- morizam essas informações mais facilmen- te (Pomerantz et al., 1995). Finalmente, Greenwald e Banaji (1995) sugerem que as atitudes podem ter um efeito implícito nos julgamentos sociais, e que tal efeito pode explicar diversos fenômenos, incluindo o efeito do halo e o efeito da mera exposição. As pesquisas na área de atitudes ques- tionam a visão multicomponente em virtude de algumas correlaçõesfracas entre atitudes e comportamento. O próximo tópico tratará dessa questão. coMPortaMento e atitude De maneira geral, as pessoas acreditam que sua avaliação global sobre determinado ob- jeto determina a forma como elas reagem ou se comportam frente a esse objeto. No entanto, a noção de que as atitudes causam comportamentos é muito frágil, tendo em vista que um único comportamento é tipi- camente influenciado por vários outros fa- tores, além das atitudes. O simples fato de uma pessoa possuir atitudes positivas frente a métodos anticoncepcionais não determina o comportamento de uso dos mesmos. Da mesma forma, possuir atitudes positivas em relação a determinado produto alimentício não é suficiente para a predição do compor- tamento de compra e consumo desse produ- to (Ajzen, 2001). O primeiro a relatar que não existe uma relação direta de causalidade entre ati- tudes e comportamentos foi o psicólogo so- cial Richard LaPiere, em 1934. Nessa época, havia um forte preconceito contra os chine- ses nos Estados Unidos (alguns estabeleci- mentos mantinham placas na porta com a inscrição: “proibida a entrada de chineses e cães”). Este pesquisador, que é de raça bran- ca, viajou por várias cidades dos EUA acom- panhado de um jovem casal de estudantes chineses, registrando a reação dos funcioná- rios dos diversos hotéis, restaurantes e cafés que visitaram. Eles foram atendidos em 66 hotéis e 184 restaurantes e cafés, sendo que apenas um hotel recusou -se a atendê -los. Seis meses depois, LaPierre enviou um ques- tionário pelo correio para cada estabeleci- mento visitado, o qual continha a pergunta: “Você aceitaria chineses como clientes em seu estabelecimento”? Dos 81 restaurantes e 47 hotéis que responderam, 92% disseram que não, tendo os restaurantes afirmado que dependia das circunstâncias. Resultados bastante similares foram encontrados por outros pesquisadores em replicações desse experimento (Lapiere, 1934). Alvo de algumas ressalvas metodo- lógicas, esse clássico estudo ilustra uma discrepância saliente entre atitudes e com- portamentos. Todavia, Lima (2004) faz uma análise do experimento de LaPierre elucidando que a generalidade do indicador das atitudes e a especificidade da situação observada parece funcionar de modo a ma- ximizar a discrepância entre as atitudes e o comportamento. No estudo de LaPierre, perguntava -se na carta se aceitariam chineses como clien- tes, o que, com sua formulação geral, en- via os respondentes para o estereótipo de chinês, e além do mais, podia ser utilizada pelos respondentes de forma a dar uma imagem respeitável do estabelecimento, de acordo com as normas vigentes. A situação observada, pelo contrário, é extremamente específica: os chineses encontravam -se acompanhados por um branco, provavelmente apresentavam um bom status socioeconômico, tinham um aspecto de saber comportar -se corre- tamente e encontravam -se de passagem. Isto é, não tinham nada a ver com o chinês INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 181 que os funcionários do restaurante visua- lizaram quando responderam à escala de atitudes. (Lima, 2004, p. 209) Haveria, portanto, uma diferença en- tre o poder preditivo das atitudes frente a comportamentos em um nível mais geral (ex.: roubar) e das atitudes frente a compor- tamentos mais específicos (roubar um pão em uma padaria, sem uso de violência, para alimentar seu filho faminto). Analisando os três componentes das atitudes e tomando como ponto de apoio a teoria da consistência, deve -se concluir que as atitudes são internamente consistentes. Esta consistência é mais notória nos compo- nentes cognitivo e afetivo. A inconsistência aparente reside entre esses componentes e o comportamento, podendo ser explicada pelo fato de as pessoas possuírem atitudes não apenas em relação aos objetos em si, como também em relação à situação que os envolve. Por exemplo, um fumante pode recusar -se a acender um cigarro em um restaurante, pois este, apesar de manter atitudes fortemente positivas frente ao ci- garro, possui atitudes negativas em relação à promoção de uma situação de incômodo e desconforto em outras pessoas (Ajzen e Fishbein, 2000). Triandis (1971, p. 14) salienta que atitudes envolvem o que as pessoas pensam, sentem e como elas gostariam de se comportar em relação a um obje- to atitudinal. O comportamento não é apenas determinado pelo que as pessoas gostariam de fazer, mas também pelo que elas pensam que devem fazer e pelas consequências esperadas de seu compor- tamento. Além disso, as pessoas têm atitudes em relação a determinados objetos de uma situação e também em relação à situação como tal. Ajzen (2001) conclui que o fato de possuirmos atitudes em relação a certos ob- jetos sociais e às situações nas quais estão imersos explica certas inconsistências apa- rentes entre a atitude e o comportamento. Por outro lado, não são só as atitudes frente a comportamentos específicos que permitem a previsão das ações, mas também as atitu- des frente a comportamentos gerais. Wiegel e Newman (1976 apud Lima, 2004), mos- tram que as atitudes ambientais se correla- cionam de forma mais significativa com um índice de comportamentos pró -ambientais gerais do que com o de comportamentos es- pecíficos (reciclagem, assinar uma petição a favor de causas ambientais, etc). De maneira geral, as atitudes estão correlacionadas com o comportamento. Stocké (2006) buscou analisar se as atitu- des de respondentes frente a surveys (pes- quisas de levantamento de dados por meio de aplicação de questionários) explicam o comportamento de responder ou não aos itens. A hipótese central desse autor era de que os respondentes com atitudes positivas frente a surveys adotariam uma orientação cooperativa e estariam mais propensos a responder todos os itens e questões difíceis e delicadas, como fornecer dados acerca da renda familiar. Foram testadas as deci- sões de se recusar a fornecer informações na pesquisa, o comportamento de deixar o item em branco e o percentual de respostas “não sei”. Além disso, o julgamento geral do respondente acerca de sua vontade de par- ticipar da pesquisa também foi incluído. Os resultados indicaram que as atitudes frente a surveys são um importante determinante para a predisposição dos respondentes com- pletarem o questionário ou deixarem itens em branco. Os participantes com atitudes mais positivas frente a surveys apresentaram os menores valores em todos os indicadores de não resposta (recusa em fornecer infor- mações, percentual de itens em branco e respostas “não sei”). Para Sivacek e Crano (1982 apud Chaiken, Wood e Eagly, 1996), a correspon- dência entre atitudes e comportamento será tanto maior quanto maior for o interesse in- vestido pela pessoa no conteúdo atitudinal, ou seja, quanto maior o interesse no objeto, maior será a congruência entre a atitude e o comportamento de um indivíduo. Por exem- INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 182 tOrres, neiva & cOLs. plo, se o casamento assume uma posição central na vida de uma pessoa, seus com- portamentos serão mais congruentes com suas atitudes frente ao casamento, em com- paração a uma pessoa cujo casamento não assume um papel importante em sua vida. As atitudes frente ao casamento desta pes- soa terão um fraco valor preditivo de seus comportamentos. A tentativa de estudar a discrepância entre atitude e comportamento estendeu -se por algumas vias diferentes. Chaiken, Wood e Eagly (1996) relatam que as pesquisas re- ferentes à relação atitude -comportamento em psicologia social têm configurado duas tradições teóricas. A primeira delas consiste em uma família de modelos de expectativa- -valor que consideram as atitudes um im- portante determinante do comportamento, mediado pela intenção em realizar o com- portamento. Na tradição teórica alternativa, o comportamento é predito por meio de ati-tudes frente ao objeto, sem especificações de passos intermediários. teoria da ação racional Dentro da primeira tradição teórica encon- tram -se os estudos de Ajzen e Fishbein (1980). Esses autores afirmam que as atitu- des são importantes fatores na previsão do comportamento humano, mas distinguem entre as atitudes gerais, relativas a um ob- jeto em particular, e as atitudes específicas, referentes a um comportamento relacionado com o objeto da atitude, ou seja, a percepção do que outras pessoas esperam que ela faça e sua motivação em conformar -se a essa ex- pectativa – norma subjetiva. Enquanto as ati- tudes gerais influenciam de forma indireta como uma tendência para ação, as atitudes específicas são úteis para prever um com- portamento específico. Por exemplo, uma pessoa que tem atitudes positivas frente à utilização de sites de relacionamento (salas de bate -papo, Orkut e etc.) pode optar por não acessá -los por meio do computador da empresa onde trabalha, conformando -se com as expectativas de seus superiores, os quais não são favoráveis à utilização desse tipo de site no local de trabalho. Da mesma forma, um indivíduo pode manter atitudes fortemente positivas frente a assistir a no- velas, porém evita fazê -lo na presença de seus colegas de faculdade, pois supõe que assistir a novelas não é um comportamen- to aceito por aquele grupo. Nesses casos, a norma subjetiva (a percepção do indivíduo do que as pessoas que são importantes para ele esperam que ele faça) predirá melhor o comportamento do que a atitude geral. Na teoria da ação racional, Ajzen e Fishbein (1980) consideram que todo com- portamento é uma escolha, uma opção pon- derada de alternativas em que o melhor preditor do comportamento será a intenção comportamental, sendo a atitude apenas um dos dois fatores importantes na decisão. Essa atitude frente ao comportamento é vis- Figura 8.4 relação entre comportamento e atitude. Modelos de expectativa – valor Atitudes Atitudes Intenção em realizar o comportamento Comportamento Comportamento ðð ð Tradição teórica alternativa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 183 ta, nesse modelo, com as perspectivas de expectativa -valor, ou seja, como o resultado somatório das crenças acerca das consequ- ências do comportamento (expectativa) ele- vadas pela avaliação dessas consequências (valor). A figura 8.5 ilustra o modelo dos autores. Outro fator importante na definição da intenção comportamental tenta integrar as pressões sociais e refere -se à norma subjeti- va em relação ao comportamento, isto é, às pressões de outros significantes que afetam a realização do comportamento. Também essa norma subjetiva é vista como o resul- tado somatório das crenças normativas – expectativas acerca do comportamento que os outros significantes pretendem que o in- divíduo adote – reforçado pelo valor dessas crenças – a motivação para seguir cada um dos referentes. Concluindo, a teoria da ação racional vê a atitude como um dos preditores do comportamento, podendo, em certos tipos de comportamentos, ou em certas popula- ções, a norma subjetiva ter mais peso na de- terminação da intenção do comportamento. Por isso, o modelo da ação racional inclui ainda uma variável intermediaria referente à importância das atitudes e das normas na definição da intenção comportamental. Eagly e Chaiken (1993) encontram correlações significativas entre a intenção e o comportamento, variando com a proximi- dade temporal do comportamento, da espe- cificidade da situação apresentada e da ex- periência anterior do indivíduo na situação. O modelo de Azjen foi utilizado por Chiou, Huang e Chuang (2005) com o in- tuito de investigar as relações entre atitudes frente ao objeto e à percepção de norma so- cial no contexto de intenção de compra de “merchandise” (CDs, camisetas, pôsteres e etc.) de grupo musical por adolescentes em Taiwan. A pesquisa foi desenvolvida com uma amostra de 471 participantes do sexo feminino, a qual foi dividida em dois gru- Figura 8.5 teoria da ação racional. Crença de que o comportamento provoca certos resultados Avaliação dos resultados Crença de que os indivíduos pensam que a pessoa deve ou não concretizar o comportamento Motivação para seguir o que os grupos ou indivíduos pensam sobre o comportamento Intenção Comportamento Atitude Importância relativa Fatores atitudinais do comportamento Norma subjetiva relativa ao comportamento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 184 tOrres, neiva & cOLs. pos, de acordo com escore obtido em uma escala de afinidade com o grupo musical F4 (um dos grupos de música pop de maior ex- pressão entre as adolescentes de Taiwan): grupo de adoradores do F4 (N=93) e grupo de não adoradores do F4 (N=378). Os resultados referentes ao grupo de adoradores do F4 apontaram uma correla- ção significativamente positiva entre atitu- des frente ao F4 e intenções de compra de “merchandise” (r= 0,51; p= 0,0001). A re- lação entre norma percebida e intenção de compra não foi significativa, indicando que aquelas pessoas que adoram o F4 são mais propensas a formar suas intenções de com- pra de “merchandise” com base em fatores pessoais, como atitudes frente ao objeto e não em fatores sociais, como percepção de norma social. Para os não adoradores do F4, os resultados apontaram uma correlação significativamente positiva, porém modesta, entre norma social e intenção de compra de “merchandise” (r=0,32; p= 0,0001). Esses resultados sugerem que aqueles que não adoram o F4 são mais propensos a formar suas intenções de compra com base em fato- res sociais, como a expectativa de julgamen- to das pessoas de seu convívio social. Trafimow e Finlay (2001) argumen- tam que não só as pessoas podem estar sob controle atitudinal ou normativo para uma extensa variedade de comportamentos, mas também comportamentos podem estar sob controle atitudinal ou normativo para uma vasta quantidade de pessoas. Esses autores realizaram um estudo no qual os partici- pantes responderam a escalas de atitudes, norma subjetiva e intenções para cada um dos 30 comportamentos selecionados (ter fi- lhos, comer vegetais regularmente, ir à igre- ja, usar o cinto de segurança, escolher uma profissão que beneficia a sociedade, den- tre outros). Os resultados sugerem que as duas formas de controle podem acontecer simultaneamente, ou seja, algumas pessoas estariam mais sob controle atitudinal que normativo em relação a uma grande varie- dade de comportamentos, enquanto outras parecem estar mais sob controle normativo que atitudinal. Simultaneamente, alguns comportamentos estariam mais sob controle atitudinal que normativo para uma grande quantidade de pessoas, ao passo que, para outros comportamentos, o oposto seria ver- dadeiro. Os dados indicam, por exemplo, que a influência social pode ser estudada considerando -se pessoas, comportamentos ou ambos. Muitos foram os estudos com a inten- ção de avaliar a teoria da ação racional e a diversidade de considerações apontadas, porém Ajzen (1988) reformula o mode- lo, mantendo sua estrutura básica, acres- centando como determinante da intenção comportamental uma nova variável – o controle percebido sobre o comportamento. Essa variável, a qual corresponde à dificul- dade percebida na realização do compor- tamento, permite incluir diretamente a ex- periência anterior com o comportamento. Assim, comportamentos habituais são per- cebidos como mais fáceis de serem postos em prá tica e, portanto, com maior nível de controle percebido. Essa percepção de controle sobre o comportamento parece ter consequências motivacionais ao nível de intenção, mas também, de uma forma me- nos ponderada, diretamente sobre o com- portamento. Essa extensão da teoria inicial tem permitido aumentar significativamente a capacidade preditiva do modelo em mui- tas situações. No exemplo da compra de“merchandise” de grupo musical citado an- teriormente, o controle percebido sobre o comportamento pode ser ilustrado em uma situação em que as atitudes e a percepção de norma subjetiva de uma pessoa influen- ciam positivamente a intenção de compra de CDs, camisetas, pôsteres, etc., porém, a percepção de falta de dinheiro para com- prar, ou a ausência de tempo, o desconhe- cimento do local de venda, ou até mesmo a falta de costume de comprar esse tipo de material pode influenciar negativamente o comportamento. Manstead, Proffitt e Smart (1983), ci- tados por Lima (2004), salientam que a in- trodução de variáveis emocionais na predi- ção da intenção comportamental aumenta o poder preditivo do modelo. INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 185 abordagens alternativas A teoria da ação racional de Azjen enfatiza comportamentos cujas consequências são avaliadas antes da ação comportamental. Conforme Chaiken, Wood e Eagly (1996), dependendo do grau em que é esperado que um comportamento produza bons re- sultados e a aprovação das outras pessoas, o indivíduo tende a se engajar nesse com- portamento, o qual terá mais probabilidade de acontecer. No entanto, a teoria parece si- lenciosa em relação a comportamentos que não necessariamente seriam mediados pela intenção comportamental, ou seja, compor- tamentos relativamente mais espontâneos. Segundo Fazio e Olson (2003), há várias evidências de que atitudes podem exercer uma influência direta no comportamen- to, sem serem mediadas por intenções, ou mesmo pensamentos. As pesquisas que se desenvolveram nessa linha constituíram o que Chaiken, Wood e Eagly (1996) deno- minaram de tradição teórica alternativa do estudo da relação atitude -comportamento. Os aspectos automáticos e implícitos do processamento humano de informação têm ocupado um papel de destaque na psicolo- gia social e, particularmente, nas pesquisas de atitudes. Vários teóricos exploraram a ideia de que alguns comportamentos podem ser produtos de predisposições aprendidas, as quais podem ser denominadas de hábitos (Chaiken, Wood e Eagly, 1996). Segundo es- ses autores, os processos cognitivos que con- trolam tais comportamentos podem ser con- ceituados de automáticos, podendo ocorrer sem o controle consciente do indivíduo. Fazio e Zanna (1981), em seus estu- dos, analisam que as atitudes muito acessí- veis orientam o comportamento por meio da ativação de processos automáticos. Em seus trabalhos, observou -se a importância da forma como a atitude tinha sido formata- da na predição do comportamento, ou seja, as atitudes que se formam com base em experiências diretas são mais preditoras do comportamento do que as que se baseiam na experiência indireta. O autor explica tal resultado salientando a maior confiança e certeza dos indivíduos cujas atitudes se ba- seiam em experiências diretas. Posteriormente, Fazio, Chen, Mcdonel e Sherman (1982) mostraram que os indi- víduos que têm suas atitudes baseadas na experiência direta respondem em escalas de atitudes informatizadas com um tempo de latência menor e apresentam maior corres- pondência entre atitudes e comportamento. Ainda sob essa linha de estudo, Fazio (1990) mostrou que há uma ativação auto- mática das atitudes altamente acessíveis na presença do objeto de atitude, o que levaria, por meio da centralização da atenção sele- tiva nos aspectos congruentes com a atitu- de, a uma definição da situação de forma a tornar altamente provável a ocorrência do comportamento. Considerando o modelo MODE (Moti- va cion and Oportunity as Deter mi nants) proposto por Fazio (1990), as atitudes in- fluenciam os comportamentos. Suponhamos que um indivíduo em um ambiente organi- zacional seja informado de um processo de mudança interna. Essa notícia ativa sua ati- tude negativa relativa à mudança, fazendo -o lembrar das consequências de uma mudança dentro da organização (crenças congruentes com a atitude). Desse modo, a implantação de um processo de mudança é vista como perigosa para o próprio indivíduo (definição dos acontecimentos), tornando provável a adesão de um comportamento de resistên- cia ou protesto. A definição do acontecimen- to pode ainda ser influenciada pelas normas do grupo em que o indivíduo se insere. De acordo com a ideia de que atitu- des podem produzir uma tendência ao com- portamento sem a percepção consciente do indivíduo, Greenwald e Banaji (1995), in- troduzem o conceito de atitudes implícitas. Em contraste com as atitudes explícitas, que são prontamente acessíveis cognitivamente e baseadas em crenças salientes, as atitudes implícitas são difíceis de serem identificas introspectivamente e são baseadas em afe- tos profundamente mantidos. A distinção entre atitudes implícitas e explícitas aumentou a busca por métodos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 186 tOrres, neiva & cOLs. mais precisos e confiáveis de mensuração desse construto. Segundo Zhou e Wang (2007), as medidas de atitudes explícitas são diretas e dependem da habilidade do indiví- duo de acessar precisamente suas atitudes e de sua vontade de reportá -las ao pesquisa- dor. Esse aspecto é acentuado especialmen- te quando a pesquisa trata de atitudes que envolvem questões sociais sensíveis, como preconceito ou questões de gênero, por exemplo. As medidas de atitudes implícitas, por outro lado, envolvem julgamentos sob controle da ativação automática das atitudes, quando não há percepção consciente de que as atitudes estão sendo expressas. Segundo Cunningham e colaboradores (2001), dentre os métodos mais influentes de medida de ati- tudes implícitas estão a técnica avaliativa pri‑ ming (Fazio, Sanbonmatsu, Powell e Kardes, 1986) e o teste de associação implícita (IAT) (Greenwald, Mcghee e Schwartz, 1998). Um aspecto que se destaca nessa linha teórica e que tem sido alvo de investigação empírica é a ideia de que atitudes implíci- tas e explícitas podem estar dissociadas, ou seja, atitudes implícitas podem contradizer atitudes explícitas frente ao mesmo objeto sem causar dissonância cognitiva (Zhou e Wang, 2007). Zhou e Wang (2007) pesquisa- ram esse fenômeno no contexto de atitudes frente a pessoas ricas na China. Os autores supunham que, em um país em desenvolvi- mento como a China, onde existe uma gran- de diferença entre ricos e pobres, as atitudes frente aos ricos poderiam ser um constru- to complexo, pois, apesar de as pessoas se referirem aos ricos como bem -sucedidos, inteligentes e etc., eles também são vistos como arrogantes, prepotentes, frios e etc. Os autores relatam que, antes do grande desenvolvimento econômico vivenciado por esse país na última década, existia uma in- tensa e difundida ideologia de que os ricos eram maus, e os pobres, virtuosos. Além disso, casos de corrupção em que pessoas conseguiram suas fortunas por meios ilíci- tos contribuíram para que muitos chineses se sentissem desprivilegiados e injustiçados em relação aos ricos. Por outro lado, com o desenvolvimento da economia chinesa, au- mentaram as possibilidades de as pessoas se tornarem bem -sucedidas e, assim, o desejo de pertencerem à classe dos ricos. Os au- tores relatam que uma das mais populares saudações de final de ano entre os chineses é “que você ganhe mais dinheiro”, indican- do que, no nível afetivo, as pessoas se iden- tificam com a riqueza. O estudo conduzido por esses autores consistiu na utilização de medidas implícitas e explícitas para acessar atitudes frente aos ricos em uma amostra de estudantes universitários chineses. Os resultados das duas medidas de atitudes se apresentaram significativamente diferentes e não correlacionados entre elas, sugerindo dissociação entre atitudes implícitas e explí- citas entre os participantes. Os participan- tes mostram uma atitude explícita negativa frente aos ricos e, ao mesmo tempo, atitude implícita positiva, corroborando as hipóte- ses dos autores.Seguindo a mesma linha teórica e uti- lizando medidas similares, White, Jackson e Gordon (2006) encontraram dissociação entre atitudes explicitas positivas e atitu- des implícitas fortemente negativas fren- te atletas portadores de deficiência física. Cunningham e colaboradores (2001) encon- traram dissociação entre medidas implícitas e explícitas de atitudes raciais: participantes autorreportaram, simultaneamente, atitudes explícitas não preconceituosas e uma dificul- dade implícita em associar pessoas negras com atributos positivos. No estudo de rea- lizado por Siegrist, Keller e Cousin (2006), medidas implícitas revelaram atitudes nega- tivas frente a estações de energia nuclear, as quais não foram detectadas por medidas explícitas. Os resultados de Sherman e cola- boradores (2003) mostraram que indivídu- os fumantes apresentaram dissociação en- tre atitudes implícitas e explícitas frente ao cigarro. Indivíduos não fumantes, por sua vez, mantinham atitudes implícitas e explí- citas fortemente negativas frente ao cigarro, corroborando a hipótese da congruência en- tre atitudes e comportamento. Baron e Banaji (2006) desenvolveram um estudo com o objetivo de examinar o de- senvolvimento de atitudes raciais implícitas. INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 187 Resultados de estudos prévios apontaram que crianças norte -americanas brancas co- meçam a reportar atitudes explícitas negati- vas frente a membros de seu exogrupo por volta dos 3 anos. Tais atitudes começam a declinar em direção à neutralidade em tor- no dos 7 anos, até desaparecerem aos 12. O que é desconhecido, no entanto, é o desen- volvimento paralelo de associações automá- ticas (implícitas) de atributos positivos e ne- gativos frente a categorias raciais. O estudo dos autores consistiu na aplicação de medi- das de atitudes implícitas e explícitas frente a pessoas brancas e negras em três grupos de participantes: um grupo de crianças de 6 anos, um grupo de crianças de 10 anos e um grupo de adultos. Os resultados mostraram que o grupo de crianças de 6 anos apresen- taram um viés implícito pró pessoas brancas e anti pessoas negras, o qual foi repetido nas medidas explícitas de autorrelato, indican- do uma associação entre atitudes implícitas e explícitas. O viés implícito pró pessoas brancas e anti pessoas negras foi identifi- cado com a mesma magnitude no grupo de crianças de 10 anos e adultos, porém, as me- didas explícitas mostraram atitudes menos negativas frente a pessoas negras no grupo de crianças de 10 anos e atitudes neutras no grupo dos adultos. Esse resultado suge- re que, na amostra estudada, a dissociação entre atitudes implícitas e explícitas frente a grupos sociais aumenta com a idade. Outro fator associado à relação entre comportamento e atitude tem sido a ambi- valência das atitudes. A ambivalência ocor- re quando as valências (positiva/negativa), atributos das atitudes, não são totalmente definidas em relação a um objeto específico. Tal fator diminuiria a magnitude da predição do comportamento pela atitude. O estudo de Sparks, Harris e Lockwood (2004) buscou investigar o papel moderador da ambiva- lência na relação intenção -comportamento em uma amostra de 197 indivíduos matri- culados em um clube de atividades físicas. Os participantes responderam a um questio- nário contendo várias medidas: medida de crenças frente ao exercício físico no padrão Likert de 4 pontos (“...me exercitar no clube beneficia minha saúde”, “...contribui para minha vida social”, etc.) e, para cada um desses itens, uma medida de avaliação do tipo Likert de 7 pontos (“...melhorar minha condição física é...” extremamente bom = +3 ou extremamente ruim = – 3); atitudes frente ao exercício físico e intenções com- portamentais, ambas por meio de uma esca- la do tipo Likert de 7 pontos; ambivalência atitudinal, por meio da medida de ambiva- lência de ‘Griffin’ citada por Thompson e co- laboradores (1995); e o comportamento de ir ao clube, por meio do registro do compu- tador da utilização da carteira de membro na entrada do clube. Os resultados apresentaram uma as- sociação significativamente positiva entre comportamento e intenção (β = 0,38, pcomportamen- tal – a atitude da pessoa com relação a iniciar o comportamento; a crença que a pessoa tem com relação ao que os outros acham que ela deve ou não fazer; e a percepção da pessoa com relação a seu controle comportamental. • Finalmente, a relação entre atitudes e comportamentos é maior quando a me- dida de atitude avalia uma atitude com relação a um comportamento do que a atitude com relação a um objeto. Por exemplo, a probabilidade de que uma pessoa dê dinheiro a um político é mais bem predita pela atitude dessa pessoa com relação ao comportamento de fazer doações do que por sua atitude quanto ao político em questão (Eagly e Chaiken, 1998). atitudes e outras variáveis Algumas características individuais, como o automonitoramento (capacidade de con- trolar o comportamento a ser emitido so- cialmente), introversão/extroversão, au- toritarismo e etc. parecem afetar a relação atitudes -comportamento, apesar de essa abordagem ser menos estudada atualmente. Evidências empíricas sugerem que, pelo fato de pessoas com alto automonitoramento se- rem mais sensíveis à situação social em que se encontram, a percepção de norma subje- tiva por tais pessoas pode ter maior impor- tância na predição do comportamento que suas atitudes. Por outro lado, pessoas com baixo automonitoramento têm maior pro- babilidade de serem influenciadas por suas atitudes que por pressões sociais. (Snyder, 1974; Snyder e Swann, 1976; Zanna et al., 1980 apud Fazio e Olson, 2003). A necessidade de avaliar (NA) é um traço de personalidade que reflete uma inclinação individual à criação e à sus- tentação de atitudes. Segundo Jarvis e Petty (1996), citados por Bizer, Krosnick, Holbrook e colaboradores (2004), a neces- sidade de avaliar é um construto que pre- diz a tendência das pessoas em se engaja- rem em respostas avaliativas. Pessoas com elevada NA são especialmente propensas a formar atitudes frente a todos os tipos de objetos e gostam de acessar as vantagens e desvantagens dos objetos que observam. Bizer, Krosnick, Holbrook e colaboradores (2004) estudaram o poder preditivo da NA em relação a aspectos cognitivos, compor- tamentais e afetivos de processos políticos, como, por exemplo, a quantidade de cren- ças avaliativas que as pessoas sustentam em relação a candidatos, o nível de partici- pação em ativismo político e a intensidade de reações emocionais frente a candidatos políticos. A hipótese dos autores era a de que pessoas com elevada NA manifesta- riam mais respostas cognitivas, afetivas e comportamentais em relação a processos políticos, comparados a indivíduos com baixa NA. Os dados foram provenientes de entrevistas eleitorais nos EUA nos anos de 1998 e 2000. As entrevistas foram conduzi- das por telefone e consistiam, basicamente, na aplicação oral de escalas que mediam a necessidade de avaliar dos participantes, bem como os aspectos atitudinais em rela- ção a processos políticos. Participaram do estudo 2.583 eleitores. Os resultados do es- tudo indicaram que a NA desempenha um poderoso papel na modelação de compor- tamentos, emoções e cognições políticas. Em relação a comportamentos, pessoas com elevada NA foram mais propensas a se engajar no ativismo eleitoral e votar. A NA foi capaz de predizer a quantidade de cren- ças que as pessoas sustentavam sobre um candidato e a utilização de identificação partidária a argumentos do candidato para a formação de sua preferência de voto. Em relação a afetos, a NA foi capaz de predizer intensidade de reações emocionais frente a candidatos políticos. INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 190 tOrres, neiva & cOLs. atributos ou ProPriedade das atitudes Força das atitudes Todos nós possuímos algumas questões ou pontos de vista mais passionais que outros. Algumas pessoas possuem crenças, afetos e comportamentos mantidos intensamente frente a determinados partidos políticos, estilos de vida, regiões, atividades profissio- nais, valores, dentre outros muitos objetos, podendo manifestar -se mais ou menos acen- tuadamente frente aos mesmos. Por exemplo, mesmo assinalando +3 em uma escala de atitudes frente ao cinema brasileiro que varia de –5 a +5, duas pessoas podem se expressar de maneira diferente, uma respondendo rápida e enfaticamente e a outra refletindo sobre a resposta, ponde- rando ideias, levando mais tempo para res- ponder. Da mesma forma, dois apreciadores de futebol podem se manifestar de forma di- ferenciada frente a uma vitória, ou derrota, de seu time favorito, mesmo apresentando a mesma pontuação em uma escala de atitu- des frente ao time, controlando hipotetica- mente suas condições. Resultados de pesquisas revelam que o impacto das atitudes na predição do com- portamento tem sido consideravelmente variável, o que significa dizer que as atitu- des exercem mais ou menos influência no comportamento, dependendo de uma série de fatores. Haveria, portanto, algo por trás do caráter positivo e negativo de uma atitu- de que promoveria seu poder de influência. Essa propriedade é chamada de força da ati- tude. (Ajzen, 2001) Apesar da ausência de consenso entre os pesquisadores da força da atitude quanto a sua definição, há uma concordância entre a maioria dos autores acerca das consequên- cias desse atributo. Dessa forma, atitudes fortemente mantidas resultam em: • Processamento seletivo de informações. • Resistência a mudança. • Estabilidade ao longo do tempo. • Aumento do poder preditivo do compor- tamento. A posse de atitudes particularmente fortes aumenta a habilidade das pessoas de refutar ativamente novas informações opostas a suas atitudes, bem como de acei- tar favoravelmente novas informações pró- -atitudinais, facilitando a resistência a ape- lações persuasivas e, consequentemente, dificultando o processo de mudança das ati- tudes (Chaiken e Eagly, 1996). Considere, por exemplo, uma pessoa que possui atitu- des fortemente mantidas a favor da pena de morte presenciando um debate sobre o tema entre dois especialistas, um contra e o outro a favor. A pessoa que assiste ao de- bate tende a aceitar com facilidade os ar- gumentos do especialista a favor da pena de morte, a refletir sobre tais argumentos e provavelmente se lembrará deles com mais facilidade, reforçando suas atitudes iniciais. O espectador também tenderá a contra -argumentar, ou até mesmo ignorar, as ideias do especialista contrário à pena de morte, aumentando a resistência à mu- dança e a estabilidade de suas atitudes ao longo do tempo. Por que algumas atitudes são mais for- tes que outras? Os resultados de Boninger, Krosnick e Berent (1995), por exemplo, mostraram que as atitudes mais fortemente mantidas pelas pessoas se referem a ques- tões 1. que afetam diretamente os resultados e os interesses pessoais, 2. relacionadas a valores filosóficos, políticos e religiosos profundamente mantidos e 3. referentes a identidade grupal, família e amigos próximos. Vários outros fatores têm sido aponta- dos como indicadores da força das atitudes e sua ligação com o comportamento, dentre eles a quantidade e a qualidade de informa- ção que a pessoa tem sobre um objeto atitu- dinal, a origem e a ordem de aquisição da informação, o comprometimento emocional com as atitudes, dentre outros. INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL: PrinciPais temas e vertentes 191 acessibilidade Fazio e Williams (1986) definem e opera- cionalizam a força da atitude em termos de sua acessibilidade. Conforme o modelo de redes associativas de memória, a acessibili- dade é a intensidade da associação entre a avaliação e o objeto atitudinal, e pode ser medida pela velocidade de recuperação da memória, ou tempo de resposta. Portanto, quanto mais forte for a atitude, maior será seu poder associativo em relação ao objeto, e mais fácil será sua recuperação da me- mória. Pesquisas acerca dos antecedentes da acessibilidade das atitudes têm seguramen- te demonstrado