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ABDOME AGUDO CLÍNICO CIRÚRGICO Intoxicação pelo chumbo Apendicite Porfiria Diverticulite Febre tifoide Pancreatite Isquemia mesentérica Colecistite Intoxicação pelo chumbo (SATURNISMO) Fonte de exposição: mineradoras, baterias, indústria automobilística, tintas, projéteis de arma de fogo, destilados clandestinos (moonshine) Manifestacoes clinicas Sobre a dor abdominal: interfere no metabolismo, levando ao acumulo de mediadores tóxicos. O chumbo inibe as enzimas da síntese do heme, acumulando precursores desta via (porfiria). Diagnóstico Dosagem de chumbo sérico (a partir de 25 mcg/dl) Outros achados: nefrite intersticial/ HAS/ gota Tratamento Interromper a exposição Quelantes do chumbo: dimercaprol / DMSA / EDTA Porfiria Distúrbio na síntese da porfirina do heme Hemoglobina: heme + globina A globina da hemoglobina normal (HbA) é composta por duas cadeias alfa e duas cadeias beta. O heme é formado por ferro + protoporfirina IX (porfirina). Succinil-CoA → ácido aminolevulínico → 7 reações em cadeia → PORFIRINA. Cada etapa dessa cadeia de reações depende de uma enzima, e, a falha dessas enzimas determina as porfirias. Essas reações podem ocorrer na medula óssea e no fígado. No fígado, a porfirina é utilizada para a detoxificação (citocromo P450). Abdome Dor abdominal / náuseas / vômitos / anorexia Anemia Anemia hipo-micro / pontilhados basofílicos* Amnésia Encefalopatia / dificuldade de concentração Outras HAS, nefrite proximal, gota, infertilidade, linha gengival azulada (linha gengival de Burton) (*)Obs: o chumbo (assim como o cobre) em excesso causa hemólise; quando há hemólise, como uma forma de compensação, a medula começa a jogar reticulócitos para a circulação (presença de células com pontilhados basofílicos). O chumbo também dificulta a síntese de hemoglobina, de maneira que podemos ter anemia hipomicro. PORFIRIA CUTÂNEA TARDA Deficiência de uroporfirinogênio descarboxilase PORFIRIA INTERMITENT E AGUDA Deficiência de HMB-SINTASE / Acúmulo de ALA e PBG Quadro clínico Dor abdominal (acompanhada de hiperperistaltismo) Hiperatividade simpática (“crises adrenérgicas”) Neuropatia periférica – diagnóstico diferencial de síndrome de Guillain Barré Crises convulsivas Sintomas psiquiátricos Fatores precipitantes: álcool, tabagismo, medicamentos, infecções, cirurgias, chumbo Diagnóstico: dosar os precursores da via de heme ... porfobilinogênio (PBG) urinário (PBGu>50/dia) – mais confiável ou ALAu>20mg/dia ... ocorre um escurecimento da urina (arroxeada) Tratamento: suspender fatores precipitantes (ex.: barbitúricos) / administrar carboidratos ou heme (hematina ou arginato de heme). FEBRE TIFOIDE Infecção por Salmonella entérica (sorotipo Typhi) Transmissão: água / alimentos / contato Fatores de risco: carga elevada/ hipocloridria Local preferido de infecção da bactéria: íleo (placas de Peyer) → disseminação para medula / baço / fígado (sistema reticulo-endotelial) - durante algum tempo a bactéria persiste na medula, passa pela vesícula e chega nas fezes Manifestações clínicas 1 – 2ª semana: bacteremia o Febre, sinal de Faget 2 – 3ª semana: hiper-reatividade o Rash (roséolas tíficas), hepatoesplenomegalia, torpor Sangramento (+ comum) Perfuração (ileal, + grave) 4ª semana: convalescência • Portador crônico (< 5%) → risco de COLELITÍASE • Perfuração = hipertimpanismo pré-hepático (sinal de Jobert) Diagnóstico Cultura Hemocultura (1ª/2ª sem) Coprocultura (3ª/4ª sem) Mielocultura (+ sensível) BIÓPSIA Roséolas Placas de peyer SOROLOGIA/PCR A sorologia pode ser feita, mas geralmente não é muito confiável Tratamento e Profilaxia Ceftriaxone ou Ciprofloxacino o Ministério da Saúde: Cloranfenicol Dexametasona: indicada em casos de choque / coma Existe vacina: pouco imunogênica e efeito transitório Existe uma discreta preferência pela ceftriaxone devido a um aumento de resistência ao ciprofloxacino.Apesar de ser recomendado pelo MS, o cloranfenicol é muito pouco utilizado ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO O QUE CAI? Caso clínico de obstrução intestinal solicitando conduta, muitas vezes com interpretação de imagem. ETIOLOGIAS Causa mais comum: Bridas ou aderências. Outras causas: Neoplasia colorretal (mais comum quando não tem cirurgia prévia); volvo de sigmoide; hérnias encarceradas; intussuscepção (em crianças); bezoares; estenoses inflamatórias. ATENÇÃO: Para pensar em brida precisa haver cirurgia prévia e costuma obstruir o intestino delgado. CLASSIFICAÇÕES Padrão fisiopatológico: Mecânica x funcional (íleo paralítico). Obstrução alta x baixa: A referência é a válvula ileocecal. Obstrução alta: Vômitos precoces, parada de eliminação de gases e fezes tardia, menos distensão abdominal, pode haver alcalose metabólica (pelos vômitos). Obstrução baixa: Parada de eliminação de gases e fezes precoces, vômitos tardios (pode haver vômitos fecaloides), mais distensão abdominal, pode haver também acidose metabólica. Obstrução simples x complicada: Na simples não há isquemia; na complicada há. Obstrução parcial x completa: Na completa não passa nada; na parcial há suboclusão. Obstrução em alça fechada: Dois pontos diferentes de obstrução causando um mecanismo de válvula (só entram secreção entérica e fezes, não refluem), podendo levar a perfuração do ceco. Um exemplo é o tumor de cólon esquerdo com válvula ileocecal competente! DIAGNÓSTICO Quadro clínico: Dor tipo cólica, intermitente, náuseas, vômitos, parada de eliminação de gases e fezes, sinais de desidratação. Distensão abdominal, hipertimpanismo à percussão, RHA aumentados e metálicos no início e silêncio abdominal posterior. Toque retal é fundamental! Diarreia paradoxal: Pode estar presente (eliminação rápida de fezes distais ao ponto de obstrução, pela intensa onda peristáltica). Sinais de sofrimento de alça: Dor contínua, intensa, taquicardia, taquipneia, leucocitose, peritonite, sangue no toque retal. IMAGEM: Rotina de abdome agudo. Radiografia de abdome deitado traz muitas informações. Obstrução de delgado: Presença de níveis hidroaéreos escalonados, edema de parede de alças e empilhamento de moedas (pelas válvulas coniventes em 360° do delgado). Obstrução de cólon: Grande distensão na moldura do cólon, não forma empilhamento de moedas (presença de haustrações que não são em 360°). TRATAMENTO Cirurgia imediata: Em caso de peritonite e obstrução em alça fechada! Obstrução por bridas sem peritonite: Tentar primeiro tratamento clínico. Sonda nasogástrica aberta: Hidratação, analgesia, correção de eletrólitos, controle de diurese e reavaliações seriadas. Não resolveu? Caso o quadro obstrutivo não se resolva em 24 a 48h a cirurgia será indicada. causas mecânicas comprovadas como hérnias e tumores: Cirurgia. VOLVO DE SIGMOIDE: Geralmente relacionado ao megacólon. Quadro clínico: Obstrução baixa (parada de eliminação de gases e fezes precoces e vômitos tardios, grande distensão abdominal). Imagem: Sinal de Frimann-Dahl, do “grão de café” ou do “U invertido”. Conduta: Depende da presença de peritonite. com peritonite: Laparotomia exploradora. Sem peritonite: Descompressão endoscópica (colonoscopia ou retossigmoidoscopia rígida). SÍNDROME DISPÉPTICA Dor epigástrica > 1 mês Doença orgânica (25%) Sem causa aparente (75%) Doença biliar Câncer Refluxo Úlcera péptica Dispepsia funcional (Não há causa orgânica – é sempre um diagnóstico de exclusão) Quando iremos indicar a EDA na primeira consulta em um paciente com síndrome dispéptica?RISCO DE CA 1. Idade > 40-45 anos* 2. Presença de sinais de alarme para câncer • Emagrecimento • Anemia • Disfagia • Odinofagia (dor durante a deglutição) DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) • Retorno de um conteúdo gástrico (ácido) na direção do esôfago. • A ocorrência de um fenômeno de refluxo não é necessariamente patológica. Existe uma entidade chamada de refluxo fisiológico (todos já tiveram e podem voltar a apresentar algum episódio ao longo da vida). Existe outra entidade, porém, que configura a doença do refluxo gastroesofágico. O que caracteriza a doença em si é um refluxo insistente, persistente o suficiente para gerar manifestação clínica ou alteração na endoscopia. Fisiopatologia • Perda de mecanismos anti-refluxo • EEI: hipotonia, relaxamento inadequado • Junção esôfago-gástrica alterada • Hérnia de hiato → alteração da junção esofagogástrica – pode predispor à ocorrência de refluxo QUADRO CLÍNICO ESOFAGIANO EXTRA-ESOFAGIANO TÍPICOS: • PIROSE • REGURGITAÇÃO Complicações (50% dos casos): Esofagite, úlcera, estenose péptica (disfagia), esôfago de Barrett • Faringite • Rouquidão • Tosse crônica • Broncoespasmo • PNM de repetição ATÍPICOS As complicações (vistas na EDA) são observadas em 50% dos casos. Diagnóstico • Clínico → pirose + regurgitação • Endoscopia Digestiva Alta • Se realiza EDA se > 40-45anos, sinais de alarme e refratariedade • EDA normal: não exclui DRGE (as complicações vistas na EDA são encontradas em apenas 50%) • A EDA tem utilidade para afastar câncer e outras patologias • Em metade dos pacientes são encontradas complicações → esofagite, ulcera, estenose, Barrett ESÔFAGO DE BARRET Trata-se de uma adaptação – uma troca de epitélio nativo do esôfago (escamoso estratificado) – geralmente da área mais distal, que é a que sofre mais agressão – por um epitélio colunar do tipo intestinal (mais resistente à acidez). Diagnóstico histológico → metaplasia INTESTINAL • O diagnóstico de Barrett é histológico através da biópsia. A EDA não dá diagnóstico de esôfago de Barrett, mas sugere a existência de áreas esofagianas de esôfago de Barrett • Área esofagiana de cor vermelho-salmão → conduta: biópsia TRATAMENTO DRGE Medidas antirrefluxo Perda de peso, elevação da cabeceira, evitar comer 2-3 horas antes de deitar (↓ sintomas noturnos), eliminar alimentos que pessoalmente causem sintomas Farmacológico Objetivo: reduzir a acidez gástrica Duração: 8 semanas INIBIDOR DE BOMBA DE PRÓTON (IBP) em “dose plena” Omeprazol 20mg/panto 40mg/ esome 40mg/ lanso 30 mg * Tomar em jejum / 30 minutos antes do café da manhã (maior quantidade de bombas de próton para serem inibidas) * Recorrência (sintomas retornam se não tomar): IBP “sob demanda” ou crônico * Sem melhora: IBP “dose dobrada” (2x/dia – em jejum e antes do jantar) O indivíduo refratário é aquele que não responde à dose dobrada da medicação. Cirurgia antirrefluxo Para quem: • Refratário (sintoma mesmo com IBP dose dobrada) • Alternativa ao uso crônico de IBP, especialmente se < 40 anos • Complicação: estenose / úlcera / câncer e em grande hérnia de hiato CIRURGIA → FUNDOPLICATURA Fazer antes: • pHmetria 24 horas (padrão-ouro para confirmação de refluxo) • Esofagomanometria (escolha da técnica) FUNDOPLICATURA DE NISSEN (TOTAL - 360°) Evitar se esofagomanometria com: • < 30mmHg no esôfago distal • < 60% de atividade peristáltica Fundoplicatura parcial anterior (DOR / THAL) Fundoplicatura parcial posterior (TOUPET / LIND) PARA A PROVA: ESÔFAGO DE BARRETT IBP 1x/dia (independente de manifestação clínica) O esôfago de Barrett é o principal fator de risco para o adenocarcinoma de esôfago (lesão pré-cancerosa) Área de metaplasia -> displasia -> neoplasia SEM DISPLASIA ⇩ DISPLASIA DE BAIXO GRAU ⇩ DISPLASIA DE ALTO GRAU (CA in situ) ⇩ → → → EDA 3-5 anos Ablação endoscópica (ou EDA 12 meses) Ablação endoscópica ADENOCARCINOMA INVASIVO → Aula de câncer... ÚLCERA PÉPTICA A úlcera péptica é uma lesão da parede do estômago ou duodeno. Para que ela surja, necessita-se um desbalanço entre os fatores de proteção (barreira mucosa) e de agressão (acidez). • Agressão: ácido • Facilitadores: H. Pylori, AINES O estômago é um órgão produtor de ácido, podendo ser dividido em fundo, corpo e antro. No fundo gástrico há predomínio de células parietais que possuem as bombas de H+, que produzem conteúdo ácido. Existem três maneiras de estimular a bomba de próton: (1) as células G do antro produzem gastrina, a qual estimula a bomba de próton as células D do antro inibem a secreção ácida através da produção de somatostatina, a qual bloqueia a produção de gastrina; (2) o nervo vago estimula as células parietais do fundo gástrico, dessa forma aumentando a secreção ácida; (3) a histamina também estimula a bomba de prótons. A barreira de mucosa gástrica protege o estômago da ação do antro, sendo produzida e mantida pelas prostaglandinas. REDUZIR A ACIDEZ • Inibidor da bomba de próton (prazol) • Bloqueador histamínico (ranitidina...) • Vagotomia/ antrectomia Anti-inflamatórios Mecanismo de ação: inibidores da COX (cicloxigenase) 1. COX-1: prostaglandinas “do bem” → mantém a barreira mucosa gástrica 2. COX-2: prostaglandinas “do mal” → responsáveis pelo processo inflamatório Tipos de AINES: Não seletivos: ao inibir a COX-1 → perda da barreira mucosa → facilita a ação do ácido Seletivos da COX-2 (coxibe) → podem induzir agregação plaquetária (por esse motivo muitos já foram retirados do mercado) Helicobacter pylori FISIOPATOLOGIA Mecanismo de ação: INFECÇÃO NO ANTRO Destruição das células D (⇧ somatostatina) ⇧ HIPERCLORIDRIA ⇧ ÚLCERA PÉPTICA INFECÇÃO DISSEMINADA Destruição das células parietais (⇧ácido) ⇧ HIPOCLORIDRIA + ⇧BARREIRA ⇧ ÚLCERA PÉPTICA DISSEMINADA Destruição das células parietais HIPOCLORIDRIA + BARREIRA ÚLCERA PÉPTICA INFECÇÃO ESTIMULO AOS LINFÓCITOS B ⇧ LINFOMA MALT • O H. pylori é responsável por 80-95% das úlceras duodenais e 75% das úlceras gástricas QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO ÚLCERA GÁSTRICA ÚLCERA DUODENAL Dispepsia pior com alimentação Dispepsia pior 2-3 horas após alimentação e à noite • < 40 anos e sem sinais de alarme: diagnóstico presuntivo • 40-45 anos ou sinais de alarme: EDA • Se úlcera gástrica → pode ser câncer! • Biopsiar ao diagnóstico • Controle de cura (nova EDA) Essas recomendações não existem para úlcera de duodeno, pode biopsiar, mas não é obrigação, pois câncer de duodeno é muito raro 1. Reduzir acidez → IBP 4 – 8 semanas 2. Questionar AINE 3. Pesquisar e erradicar H. pylori 4. Controle de cura • Úlcera gástrica → nova EDA • H. pylori → 4 semanas depois; NÃO usar sorologia! Quando não houver H. pylori e nem AINE, lembrar da Síndrome de Zollinger-Ellison (gastrinoma), caracterizada por úlceras refratárias, atípicas, podendo aparecer no jejuno. TRATAMENTO PESQUISA DE H. PYLORI Por endoscopia (Testes invasivos) Sem endoscopia (Testes não-invasivos) • TESTE DA UREASE NA BIÓPSIA • HISTOLOGIA • CULTURA • TESTE DA UREASE RESPIRATÓRIA • AG FECAL • SOROLOGIA ERRADICAÇÃO • CLARITROMICINA 500mg – 2 x/dia • AMOXICILINA 1g 2x/dia 14 dias • OMEPRAZOL 20mg 2x/dia Fazer controle de cura: úlcera gástrica (EDA) e H.pylori (4 semanas depois e sem usar sorologia) Helicobacter pylori – indicações de ERRADICAÇÃO • Úlcera péptica • Linfoma MALT • Dispepsia funcional • Uso crônico de AAS/AINE e alto risco de úlcera • Anemia ferropriva inexplicada; PTI >45 anos OU Sinais de alarme DISPEPSIA POR ULCERA? <45 anos e sem sinais de alarme ⇧ ⇧ Diagnóstico por EDA Diagnóstico presuntivo Pesquisar HP (invasivo-EDA) Pesquisar HP (não invasivo) ⇧ Tratamento• IBP por 4-8 semanas • Tratamento HP (se positivo...) H. pylori Úlcera gástrica (nova EDA) Controle de cura? H. pylori Indicações cirúrgicas de úlcera péptica: • Refratariedade / recidiva • Complicação aguda • Perfuração / obstrução / hemorragia refratária CIRURGIA NA ÚLCERA PÉPTICA ÚLCERA PÉPTICA (HIPERCLORIDRIA ) • DUODENAL • GÁSTRICA II (corpo gástrico) • GÁSTRICA III (pré-pilórica) ÚLCERA PÉPTICA (HIPOCLORIDRIA) • GÁSTRICA I (pequena curvatura baixa) • GÁSTRICA IV (pequena curvatura alta) Se hipercloridria: vagotomia +/- antrectomia Se gástrica: retirar a área do estômago que contém a ulcera (pelo risco de cancer) – alguma gastrectomia deverá ser realizada! ÚLCERA DUODENAL VAGOTOMIA TRONCULAR + PILOROPLASTIA VAGOTOMIA TRONCULAR + ANTRECTOMIA + RECONSTRUÇÃO TRÂNSITO VAGOTOMIA SUPERSELETIVA (GÁSTRICA PROXIMAL) Uma das funções do nervo vago é o relaxamento do piloro (para permitir que o alimento passe gradualmente do estômago para o duodeno). Assim, se o indivíduo for submetido a uma vagotomia troncular, o cirurgião terá de associar ao procedimento uma piloroplastia (incisão na musculatura do piloro, que ficará permanentemente relaxado, permitindo assim o esvaziamento do estômago) ou uma antrectomia (gastrectomia distal), a qual o porte da cirurgia é muito maior, mas em compensação, irá reduzir muito mais a acidez gástrica – lembrando que no antro temos as células G produtoras de gastrina). Se o antro for retirado, o trânsito deve ser reconstruído. Outra opção cirúrgica é a vagotomia superseletiva – nesta, é mantida a inervação vagal para o piloro – esse paciente não terá problemas de esvaziamento gástrico, e assim não será necessária a associação de outro procedimento. RECONSTRUÇÃO DO TRÂNSITO • BILLROTH I (gastroduodenostomia) • BILLROTH II (gastrojejunostomia + alça aferente → alça de duodeno que se continua com a anastomose gastrojejunal) VAGOTOMIA SUPERSELETIVA ⇧ recidiva ⇧ complicações VAGOTOMIA TRONCULAR + PILOROPLASTIA Intermediária VAGOTOMIA TRONCULAR + ANTRECTOMIA ⇧ recidiva ⇧ complicações TIPO I (HIPOCLORIDRIA) Pequena curvatura baixa GASTRECTOMIA DISTAL + RECONSTRUÇÃO A BILLROTH I TIPO II (HIPERCLORIDRIA) Corpo VAGOTOMIA TRONCULAR + ANTRECTOMIA + RECONSTRUÇÃO A BILLROTH II (ou I) TIPO III (HIPERCLORIDRIA) Pré-pilórica TIPO IV (HIPOCLORIDRIA) Pequena curvatura alta GASTRECTOMIA SUBTOTAL + RECONSTRUÇÃO EM Y DE ROUX SÍNDROME DE DUMPING Perde barreira pilórica → alimento direto ao duodeno (distensão) Dumping precoce Dumping tardio 15 -20 min após a alimentação Distensão intestinal Gastrointestinais (mecânicos): dor, náusea, diarreia... Vasomotores: taquicardia, palpitação, rubor... 2 a 3 horas após alimentação Hiperestimulação pancreática aumento de insulina secretada, que sobra! Hiperinsulinemia: hipoglicemia! TRATAMENTO → dietético Fracionar as refeições Deitar após a alimentação: lentifica a passagem de alimento ao duodeno GASTRITE ALCALINA (Gastropatia por refluxo biliar) Refluxo de conteúdo biliar e pancreático → gastrite • MAIS COMUM: BILLROTH II (não exige peristalse contrária) • CLÍNICA: DOR CONTÍNUA, SEM MELHORA COM VÔMITO (BILIOSO) • TRATAMENTO: RECONSTRUÇÃO EM Y DE ROUX - Colestiramina: pode atenuar os sintomas (inativa a bile – é um quelante de sal biliar) Na gastrite alcalina o estômago torna-se inflamado e irritado pois não está preparado para receber secreções pancreática e biliar. Em BII as secreções biliares e pancreáticas acabam se aproximando do estômago, de modo que refluem mais facilmente; em BI, isso também pode ocorrer, mas é mais difícil, pois as secreções precisam caminhar em sentido antiperistáltico. Como a inflamação persiste, a dor é contínua e não há melhora com os vômitos. O tratamento padrão é a reoperação em Y de Roux. A colestiramina é uma droga que pode melhorar/ atenuar os sintomas por inativar a bile (porém, o estômago continuará a ser agredido pela secreção pancreática). COMPLICAÇÕES CIRÚRGICAS ÚLCERA GÁSTRICA NEM-1 (SÍNDROME DE WERMER) • Gastrinoma (pâncreas) • Prolactinoma (pituitária) • Hiperparatireoidismo (paratireoide) *Lembrar: 3Ps Síndrome de Zollinger–Ellison • Úlceras pépticas refratárias sem relação com AINEs ou HP → pensar em GASTRINOMA! Confirmação • Gastrinemia (> 1000pg/mL) • pH gástrico (< 2,5) • Teste da secretina (↑ gastrinemia após infusão de secretina) Tratamento • Terapia antissecretora intensa • Localizar e extrair o tumor SÍNDROME DA ALÇA AFERENTE Angulação da alça aferente → semi-obstrução • Só ocorre em BILLROTH II • Clínica: dor melhora com vômito (bilioso e em jato) • Tratamento: Y de Roux A alça aferente sofre uma angulação (dobra) de maneira que há uma semi-obstrução com distensão da alça (recebendo bile e suco pancreático sem saída de drenagem), causando dor. A obstrução pode se desfazer, e o conteúdo da alça é rapidamente expulso (vômito bilioso) com melhora da dor após o vômito (são vômitos não precedidos por náuseas – em jato). Para evitar novos episódios, o ideal é reconstruir em Y de Roux (procedimento de maior porte e sujeito a complicações; justifica o fato de nem todos os pacientes serem abordados por esta técnica). SÍNDROMES DE HIPERTENSÃO PORTAL VASCULARIZAÇÃO NORMAL ARTÉRIA → CAPILAR → VÊNULA → VEIA SISTEMA PORTA Veia que se encontra entre 2 redes de capilares ARTERIAL → VENOSO → VENOSO O SISTEMA PORTA HEPÁTICO VEIA PORTA HEPÁTICA = VEIA MESENTÉRICA SUPERIOR + VEIA ESPLÊNICA Dificuldade da passagem de sangue = ↑ pressão HIPERTENSÃO PORTA → gradiente de pressão > 5mmHg Consequências: varizes esofagogástricas, esplenomegalia, varizes anorretais, ascite, cabeça de medusa, encefalopatia hepática A veia porta é formada pela VMS e veia esplênica. A VMI drena para a veia esplênica. As veias gástricas esquerda e direita recebem sangue do esôfago e também drenam para a veia porta, juntamente às veias gástricas curtas. Toda a drenagem venosa do TGI é feita para a veia porta. A veias retais possuem três andares, sendo a superior e média tributárias da VMI; a veia retal inferior drena para a VCI. O sangue que chega ao fígado e enfrenta hipertensão portal começa a buscar “atalhos” para chegar ao pulmão, utilizando-se dos vasos que drenam para a porta, “fugindo” do fígado. HIPERTENSÃO PORTA • Esplenomegalia • Circulação colateral (varizes esofagogástricas e anorretais, cabeça de medusa) – o sangue deixa de ir ao sistema porta e vai diretamente para as veias colaterais • Encefalopatia – a amônia produzida no intestino precisa ser metabolizada em ureia pelo fígado, se não ocorrer esse processo, há o acumulo de amônia causando a encefalopatia • Ascite – o sangue do espaço porta precisa ser levado para a veia centro lobular, mas no meio do caminho é ideal que o sangue entre em contato com os hepatócitos para que seja metabolizado a amônia, por exemplo, através de capilares fenestrados, chamados sinusóides; se obstruir a veia centro lobular, aumenta a pressão nos sinusoides que acabam por concentrar liquido para fora do sistema porta, na tentativa de diminuir a pressão dentro do sistema porta – assim, se tem muita ascite, não tem formação de muitas varizes CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO PORTAL Pré-hepática Intra-hepática Pré / Sinusoidal / pós Pós-hepática Pré hepática e intra-hepática – muitas varizes e pouca ascite Pós hepática – poucas varizes e muita ascite Pré-Hepática Função hepática boa. Ascite não é esperada, mas pode ocorrer por outras causas associadas. Trombose da Veia Porta (+ comum da pré) Crianças, paciente em estado de hipercoagulabilidade (como SAF) Trombose de Veia Esplênica (Hipertensão porta segmentar) Pode ocorrer de VMI mas é raro Varizes isoladasde fundo gástrico* *Principal causa de trombose de veia esplênica = pancreatite crônica Intra-Hepática 1) Pré-sinusoidal • Esquistossomose: parasita fica no espaço porta; uma infestação importante pode fazer uma reação granulomatosa que invade os sinusóides e provoca hipertensão sinusoidal, causando ascite. 2) Sinusoidal • Cirrose → mais comum de todas! 3) Pós-sinusoidal: por oclusão da veia centrolobular (doença veno-oclusiva) • Doença Enxerto-Hospedeiro oclusão granulomatosa, mais comum no Brasil é o transplante • Doença do Chá da Jamaica (Bush Tea Disease) → Chá de maria mole Pós-Hepática - Síndrome de Budd-Chiari • Trombose da veia hepática • Causas: policitemia vera + hipercoagulabilidade, ACO, neoplasia hepática - Obstrução da Veia hepática / Cava Inferior • Trombose, neoplasia - Doenças cardíacas (+ comum da pós) • ICC, pericardite constritiva VARIZES ESOFAGOGÁSTRICAS FORMAÇÃO DAS VARIZES = GRADIENTE DE PRESSÃO > 10 mmHg PORTA → CAVA (em órgãos que possuem dupla circulação / “órgãos de passagem”) GRANDE RISCO DE RUPTURA = GRADIENTE DE PRESSÃO > 12 mmHg O sangue da gástrica esquerda drena diretamente para a porta, se a pressão do sistema porta estiver maior que 10mmHg, não passa mais sangue, então a gástrica esquerda volta sangue pelo sistema cava, formando varizes. Cenário 1 → nunca sangrou • Profilaxia primária: rastrear varizes com EDA em paciente com clinica ou risco de HP • Indicar profilaxia se: • Varizes de alto risco (médio calibre > 5mm ou grosso calibre > 20mm) • Child B e C • Cherry-red spots A profilaxia primária de escolha deve ser feita com β-bloqueador não-seletivo (propranolol, nadolol, carvedilol) OU ligadura elástica por EDA (alternativa). O β-bloqueador deve ser feito com a maior dose tolerada pelo paciente. Este diminui o fluxo esplênico diminuindo a pressão do sistema porta. Cenário 2 → está sangrando 1. Estabilizar a hemodinâmica • Cristaloides • ± Hemácias (Hb < 7) ± plaquetas (se < 50 mil) • ± Plasma (se INR > 1,7) • Prazol • Iniciar Terlipressina (vasoconstrição esplâncnica) 2. Descobrir fonte e tratar • EDA em até 12h – confirma e trata • Ligadura elástica (padrão ouro) / escleroterapia (depende de fatores de coagulação que está deficiente no cirrótico) • Se varizes gástricas: cianoacrilato Drogas – vasoconstricção do leito esplâncnico • Somatostatina / Octreotide / Terlipressina Balão (se sangramento incontrolável por EDA + drogas) • Sengstaken-Blakemore – balão de 3 vias • Pode utilizar por no máximo 24h pois traciona o esôfago podendo gerar necrose da parede TIPS (Shunt Portossistêmico Intra-Hepático Transjugular) • Realizada pela hemodinâmica, contrasta a veia porta e mede sua pressão • Se hemorragia refratária ou no lugar da cirurgia • Vantagem: “ponte” para transplante pois controla sangramento e ascite • Desvantagem: encefalopatia (± 30% dos casos, pois toxina não é depurada), estenose no trajeto e disponibilidade (não tendo TIPS, faz balão) • Contraindicação: IC direita / doença cística Cirurgias (urgência) • Se faz shunts não seletivos (TL, LL, parcial) → pouco utilizado hoje por conta do TIPS • Causam encefalopatia / insuficiência hepática 3. Prevenir complicações • Profilaxia de peritonite bacteriana espontânea (PBE) – paciente faz hiperperfusão intestinal fazendo translocação bacteriana (sobrevida cai para 9 meses) • Ceftriaxone 1g EV, após melhora passar para Norfloxacino 400mg 12/12h VO até completar 7 dias Cenário 3: já sangrou (70% de ressangramento em 1 ano) • Profilaxia secundária: β-bloqueador + Ligadura elástica • Se não der certo: programar TIPS, transplante ou cirurgia eletiva (shunt seletivo esplenorrenal distal) • O shunt seletivo esplenorrenal distal acaba com as varizes, mas pode piorar a ascite SHUNT SELETIVO (esplenorrenal distal – cirurgia de Warren) Vantagem: mantém fluxo mesentérico portal, diminuindo chance de encefalopatia Desvantagem: pode piorar a ascite DESCONEXÃO Desconexão ázigo-portal Ligadura de veias gástricas + esplenectomia Mais simples, boa para esquistossomose ASCITE Exame físico • Piparote: ver se a onda de líquido se propaga pelo abdome com anteparo na linha média • Macicez móvel – percussão em diferentes decúbitos • Semicírculo de Skoda – percussão do centro para a periferia • Toque retal – percebe liquido ascítico Diagnóstico • USG Exame de escolha – 100ml • Paracentese diagnóstica Todo paciente com ascite deve ser submetido à paracentese diagnóstica. A paracentese deve ser feita do lado esquerdo, entre o terço distal e médio da linha entre a espinha ilíaca anterossuperior e o umbigo, devido ao sigmoide ser mais flexível e com reflexão posterior no peritônio. Gradiente Albumina Soro – Albumina Ascite (GASA) GASA ≥ 1,1 → Hipertensão Portal (Transudato) PTN < 2,5g/dl: cirrose PTN > 2,5g/dl: IC, Budd-Chiari GASA < 1,1 → Neoplasia, TB, pâncreas, síndrome nefrótica (Exsudato) PTN < 2,5g/dl: Síndrome nefrótica PTN > 2,5g/dl: Neoplasia, BK, pâncreas Tratamento • Restrição de sódio: 2g Na (4-6g sal)/dia • Restrição hídrica: 1 a 1,5 L/dia se Na < 125 (hiponatremia dilucional) • Diuréticos VO: espironolactona e furosemida → E:F 100:40 • Espironolactona: iniciar com 100, máximo 400mg/dia • Furosemida: iniciar com 40, máx 160mg/dia (furosemida evita distúrbio hidroeletrolitico) • Aumentar doses a cada 3-5 dias • Objetivo: ↓ 0,5kg/dia ou ↓ 1kg/dia com edema Paracentese de alívio: indicado na ascite sintomática (tensa / dificuldade respiratória) Tratamento da Ascite Refratária – falência, recorrência precoce ou azotemia, Na < 120, K > 6 - Não invasivo: considerar suspender β-bloqueador Midronina VO - Em caso de falha: Paracenteses terapêuticas seriadas • Se paracentese de grande volume (> 5L) → repor 6-10g de albumina por litro retirado ao total • Outras opções: TIPS, shunt peritônio-venoso, transplante hepático PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA • Translocação monobacteriana (E. coli, Klebsiella). • Pode ser assintomática ou cursar com febre (70%), dor abdominal (60%), encefalopatia (55%). • Diagnóstico: ascite com PMN ≥ 250/mm³ + cultura positiva monobacteriana • Tratamento: excluir PBS + retirar β-bloqueador, iniciar cefotaxima 2g 8/8h por 5 dias Profilaxia da PBE 1) Primária a) Aguda: no sangramento varicoso → Ceftriaxone/ norfloxacino por 7 dias b) Crônica: se PTN ascítica* < 1-1,5 + creat > 1,2 ou Na ≤ 130 ou BT ≥ 3 ou CHILD ≥ 9 → Norfloxacino 400mg/dia *muito pouca albumina, mas também muito pouca globulina, aumentando o risco de PBE 2) Secundária: após PBE para todos, tempo indeterminado • Norfloxacino 400mg/dia Profilaxia da Síndrome hepatorrenal • Albumina 1,5g/kg no 1º dia e 1g/kg no 3º dia • Se creatinina > 1 ou BT > 4 (na prática... na prova sempre fazer!) Diagnósticos diferenciais • Ascite neutrofílica: PMN > 250 mm³ / cultura negativa • Tratamento = PBE Bacterascite: PMN < 250 mm³ / cultura positiva • Sintomático: fazer ATB • Assintomático: nova paracentese, pode não ter dado tempo de resposta bacteriana na primeira PERITONITE BACTERIANA SECUNDÁRIA • Etiologia polibacteriana! É abdome cirúrgico! Ocorre por patologia intestinal! • Diagnóstico: ascite com PMN ≥ 250/mm³ + 2 ou mais dos seguintes: • Proteínas > 1g/dl • Glicose < 50mg/dl • LDH elevado Tratamento: cefalosporina 3ª + metronidazol • Exame de imagem para investigação e tratamento cirúrgico, se necessário ENCEFALOPATIA HEPÁTICA • Fisiopatologia: aumento da amônia (NH3) e outras toxinas pela não metabolização em ureia e consequente acúmulo com extravasamento pela barreira hemato-encefálica • Causas: insuficiência hepatocelular, hipertensão porta; precipitada por hemorragia digestiva, infecções (PBE), constipação, hipocalemia e alcalose, diurético. • Diagnóstico: clínico • Clínica: sonolência, flapping,desorientação, inversão do ciclo sono-vigília (manifestação + precoce). • Tratamento: • Evitar fatores precipitantes • Evitar restrição proteica – tem alto risco de desnutrição, deve-se manter o suporte nutricional, tentar priorizar proteínas de origem vegetal • Lactulose: efeito laxativo, também deixa o pH mais ácido → NH3 vira NH4 • ATB: neomicina, metronidazol, rifaximina (escolha) – diminui bactérias do cólon • Transplante: tratamento definitivo SÍNDROME HEPATORRENAL O paciente com falência hepática tem tendência à vasodilatação, pelo aumento de oxido nítrico circulante. Ocorre naquele hepatopata quando o “rim se suicida”. A vasodilatação esplâncnica diminui a perfusão renal, e os rins fazem vasoconstrição intensa para compensar, sofrendo com isto. Em resumo, é uma vasodilatação periférica + vasoconstrição renal. É um diagnóstico de exclusão! • Hepatopata grave + HP + IRA pré renal ou Creatinina > 1,5 que não melhora com volume • Urina concentrada e diminuição de sódio • Sem choque, sem droga nefrotóxica e; • USG e EAS normais Tipo 1 Rápida progressão da IRA Creatinina duplica e fica > 2,5 em < 2 semanas Tipo 2 Insidiosa, melhor prognóstico, espontânea Creatinina 1,5-2mg/dl Tratamento • Evitar descompensação • Albumina + Terlipressina • ± Hemodiálise • Se não der certo: transplante hepático! SÍNDROME DE INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA Aguda (“fulminante”): icterícia, encefalopatia, hemorragia Crônica: “estigmas hepáticos” Cirrose Entre o hepatócito e o sinusoide existe um espaço virtual chamado de espaço de Disse, que é onde inicia-se o processo de cirrose. No espaço de Disse encontram-se as células estreladas quiescentes, que se ativam em qualquer agressão crônica do fígado, causando fibrose hepática pela deposição de colágeno, fechando as fenestras dos sinusoides; desta forma, o hepatócito não consegue mais realizar sua função e perde suas microvilosidades. A fibrose “aperta” de fora para dentro o sinusoide hepático, aumentando sua pressão, que é transmitida retrogradamente, atingindo a veia porta. A fibrose forma “ilhas” de hepatócitos, que se tornam insuficientes. Como os hepatócitos tem grande capacidade de regeneração, a biópsia demonstra traves de fibrose com nódulos de regeneração hepática; apesar disso, estes nódulos não têm capacidade plena, pois continuam isolados pela fibrose. Cirrose = fibrose + nódulos de regeneração O desarranjo estrutural é mais importante do que a perda de células parenquimatosas. O processo de lesão-regeneração pode fazer com que ocorra um erro na divisão celular, levando à metaplasia. Logo, a cirrose hepática é um fator de risco para CHC (Carcinoma Hepatocelular). MANIFESTAÇÕES DA CIRROSE CAUSAS DA CIRROSE Hiperestrogenismo (ginecomastia, atrofia testicular, telangiectasias, eritema palmar, rarefação de pelos, queda da libido) Vírus HBV / HCV / HDV Baqueteamento digital Tóxica Alcoólica/ Não alcoólica - Triglicerídeos / Drogas Contratura de Dupuytren – flexão 4o/5o dedo (álcool) Tumefação de parótidas (álcool) Autoimune Hepatite AI / Colangite B. 1ª / Colangite Esclerosante O fígado ativa testosterona e depura precursor de estrogênio, então, na doença hepática, sobram percursores de estrogênio, gerando hiperestrogenismo + hipoandrogrenismo (fenótipo feminino) Estadiamento CHILD-PUGH MELD BEATA Bilirrubina Encefalopatia Albumina TAP Ascite BIC Bilirrubina INR Creatinina 5 – 6 pontos: grau A 7-9 pontos: grau B ≥ 10 pontos: grau C Estabelece prioridade na fila de transplante Doença Hepática Gordurosa Não-Alcoólica Tem prevalência de 20% no mundo, e seu grande fator de risco é a síndrome metabólica. A fisiopatologia envolve a resistência insulínica, ocorrendo acúmulo de gordura no fígado pela deficiência de ação da insulina (triglicerídeos no fígado). Dos 25% com esteatose, 3-5% desenvolvem esteato-hepatite (NASH) e 1-3% evoluem para cirrose. 10 a 50% dos pacientes tem > 45 anos, DM, obesidade Manifestações Assintomático • Dor; aumento de transaminases (TGP > TGO) Diagnóstico • Esteatose por imagem (comum) ou biópsia (raro) • Excluir álcool e outras causas de Esteatose (HCV, Wilson...) Tratamento: dieta + exercício / Glitazona / vitamina E • As glitazonas reduzem a resistência insulínica; maior beneficio que a metformina • A vitamina E reduz o estresse oxidativo, diminuindo a possibilidade de progressão da doença Doença Hepática Gordurosa Alcoólica Os limites seguros de ingestão de álcool é de 21U e 14U para homens e mulheres, respectivamente (1 lata = 1,7U). Acima destes limites o indivíduo está exposto à doença hepática. Alguns questionários detectam abusadores de álcool, como o CAGE e o AUDIT. • CAGE: Cut-Down, Annoyed, Guilty, Eye-Opener • Alguns exames laboratoriais podem detectar abusadores, como o aumento de GGT e de VCM. A hepatite alcoólica ocorre por uma libação em um bebedor crônico, e o culpado é o acetaldeído. • Hepatite: febre, icterícia, dor abdominal, TGO > TGP (AST > ALT), > 20-40g/dia etanol • Leucocitose: reação leucemoide (acetaldeído tem efeito quimiotático) • Biópsia: corpúsculos de Mallory Tratamento: consiste em corticoide por 4 semanas → Prednisolona • A Prednisolona não necessita ser metabolizada (convertida) pelo fígado. Hepatite B Crônica • Caracteriza-se por HBsAg (+) > 6 meses • Cronificação: adultos 1-5%/ crianças 20-30% / RN 90% • Dos que cronificam, 20-50% tem cirrose, 10% câncer; os demais tornam-se portadores inativos QUANDO TRATAR? Replicação Viral + Lesão hepática HbeAg ou ↑HBV-DNA ↑ ALT > 2x Biópsia ou Elastografia (METAVIR ≥ A2/F2) Cirros e Manifestações Extra-hepáticas PAN, GN membranosa... Imunossupressão / HCV, HIV / HMF de CHC Tratamento Objetivo: negativar HBeAg, ou, pelo menos, anti-HBeAg + HbeAg (+) INTERFERON Via SC 48 sem Não pode se disfunção hepática ou cardíaca, gestante, citopenias, câncer, doença autoimune HbeAg (-) TENOFOVIR Via oral, tempo indefinido Não pode se doença renal Pacientes com HIV CIRROSE DOENÇA RENAL IMUNOSSUP / QT ENTECAVIR Via oral, tempo indefinido Hepatite C Crônica • Caracteriza-se por Anti-HCV > 6 meses • Cronificação 80-90% Cirrose 20-30% / Câncer 5-10% • Demais tem curso variável, diferente da hepatite B, por isso, hoje, todos que tem hepatite C irão tratar • O tratamento depende do genótipo (1a, 1b, 2, 3, 4, 5, 6) e há diversos antivirais disponíveis • Objetivo: HCV-RNA negativo – resposta virológica sustentada REGRA 1 Todos os genótipos SOFOSBUVIR + DACLATASVIR REGRA 2 Tratamento = 12 semanas, exceto... HIV / CIRROSE Child B e C = 24 sem REGRA 3 Opcional para melhorar resposta RIBAVIRINA Doença de Wilson → cobre O cobre é necessário na fabricação de proteínas e enzimas. O excesso é excretado através do fígado. O indivíduo nasce com uma mutação na ATP7B (adenosina trifosfatase) que diminui a excreção hepática de cobre na bile. O acúmulo inicia-se no fígado e posteriormente no organismo. O excesso de cobre liga-se à ceruloplasmina, assim ocorre cobre aumentado e ceruloplasmina baixa (por não fabricar). • Jovem (5 – 30 anos) • Rara (1:30.000) • Anéis de Kayser-Fleisher (99% com lesão SNC e 50% com hepatopatia) → lâmpada de fenda Manifestaçõe s HEPÁTICA Aguda / Crônica SNC Alteração do movimento (distonia, tremores) e personalidade Anéis de Kayser-Fleisher (associação de 98% com sintomas de SNC) OUTROS Hemólise / Doença Tubular Renal Diagnóstico: • Triagem: ↓ ceruloplasmina • Confirmação: anéis KF, ↑ cobre (urina, hepático), genética, bx hepática se dúvida Tratamento: • Quelantes: trientina (preferível) / penicilamina • Transplante (cura): casos graves ou refratáriosApesar de afetar geneticamente homens e mulheres, os homens apresentam a doença mais frequentemente, uma vez que as mulheres menstruam e eliminam ferro mensalmente. É uma doença genética causada pela mutação do gene HFE, levando ao aumento da absorção intestinal de ferro e seu Hemocromatose hereditária consequente acúmulo. • Doença comum (1:250), caucasiano, 40-50 anos Manifestações • ↑ Saturação de transferrina / ↑ Ferritina • 6H: hepatomegalia / hiperglicemia / hiperpigmentação / heart (ICC, arritmia)/ hipogonadismo / hartrite • Ocorre pela deposição de ferro nos tecidos • Heart = insuficiência cardíaca Diagnóstico • Triagem: ↑ Ferritina e Saturação da transferrina • Confirmação: Teste genético → mutação C282Y e H63D Tratamento: flebotomia (ferritina ~50ng/mL) / transplante (não cura → o defeito está na absorção intestinal)
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