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Análise das Demonstrações Contábeis Unidade 3 Análise contábil do fluxo de caixa e capital de giro Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria MICHEL TEIXEIRA PEREIRA AUTORIA Michel Teixeira Pereira Sou formado em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor do Departamento de Administração do Centro de Ensino Grau Técnico Curitiba, com experiência em ministrar as disciplinas de Contabilidade Societária, Análise das Demonstrações Contábeis, Economia e Mercado, Gestão da Qualidade e Contabilidade Introdutória. Possuo experiência profissional em empresa de gestão financeira, onde trabalhei com avaliação de empresas e gestão de recursos por meio de indicadores econômicos e financeiros. Também fui assistente contábil e financeiro em empresas da área de comunicação (TV, rádio e jornal) com ênfase em gestão contábil e financeira. Atuei no setor bancário com atendimento a empresas de pequeno e médio portes realizando visitas técnicas e negociações. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Elaboração e análise do fluxo de caixa ............................................. 10 Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) ........................................................................ 10 Métodos de elaboração da demonstração de fluxo de caixa (DFC) ......... 13 Índices para análise da Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) ................ 16 Elaboração e análise do valor adicionado .......................................20 Demonstração do Valor Adicionado (DVA) .................................................................. 20 Modelo de Demonstração do Valor Adicionado (DVA) .......................................22 Índices para análise da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) ...........23 Entendendo a situação financeira .......................................................27 Indicadores de atividade ou rotatividade (prazos médios) ...............................27 Mensuração dos ciclos operacionais e financeiros a partir das demonstrações contábeis ........................................................................................................28 Avaliação dos ciclos operacionais ......................................................................................32 Análise da necessidade de capital de giro (NCG) .........................34 Necessidade de Capital de Giro (NCG) ...........................................................................34 Exemplo prático de determinação da Necessidade de Capital de Giro (NCG) ....................................................................................................................................................... 36 Efeito Tesoura .....................................................................................................................................37 Overtrade ou overtrading ......................................................................................................... 38 Fontes de Financiamento da Necessidade de Capital de Giro (NCG) .... 39 Capital de Giro Próprio (CGP) ................................................................................................. 39 7 UNIDADE 03 Análise das Demonstrações Contábeis 8 INTRODUÇÃO Esta unidade visa a introduzir o leitor na Análise da Gestão Financeira das Companhias. Quais são os índices de rotatividade e como acontece essa análise por índices? Quais são eles? O que a Demonstração do Valor Adicionado revela? Por que o fluxo de caixa é importante? Empresa com problema em seu fluxo de caixa são propensas à falência? Este e-book foi preparado de forma bastante objetiva e direta, e busca integrar teoria e prática. Espero que ele possa ser uma efetiva contribuição não somente para a sua formação acadêmica, mas para o seu aprimoramento e evolução profissional. Tenha em mente que este conteúdo requer estudo constante e contínuo. Faça uma boa leitura e mergulhe de cabeça neste universo! Análise das Demonstrações Contábeis 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo(a) à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Contrastar a Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC). 2. Contrastar a Demonstração do Valor Adicionado (DVA). 3. Identificar os principais índices que constituem a análise financeira de uma empresa. 4. Selecionar a necessidade de capital de giro (NGC). Então? Preparado(a) para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Análise das Demonstrações Contábeis 10 Elaboração e análise do fluxo de caixa OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender o que é a Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) e como analisá-la. Quais são suas finalidades? O que ela indica? Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) A Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) é uma demonstração financeira que traz informações essenciais para a organização empresarial. Facilita a previsão de fluxos de caixa futuros e proporciona uma visão direta das entradas e saídas de caixa ocorridas no período, fornecendo apoio à tomada de decisão (BORGES et al., 2012). Muitas companhias vão à falência por não saberem administrar seu fluxo de caixa. O Balanço Patrimonial (BP) e a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) baseiam-se nos métodos de competência, o que significa que as receitas e as despesas são reconhecidas no momento da compra ou venda e, em contrapartida, a DFC acompanha as implicações em dinheiro das transações (BODIE; et al., 2011). Diante do regime de competência (BP e DRE), a Contabilidade considera a receita gerada e a despesa incorrida em determinado exercício social, não importando seu recebimento ou pagamento. Já o regime de caixa (DFC) considera receita e despesa aquelas efetivamente ocorridas dentro do exercício. Para a análise da evolução do patrimônio e para o conhecimento da sua efetiva rentabilidade, o BP e a DRE juntos respondem adequadamente e de forma muito mais eficiente. Já para a análise financeira de curtíssimo prazo, a DFC mostra-se mais útil (MARTINS, 1999). A DFC surgiu nos Estados Unidos, em 1987, com a publicação do Financial Accounting Standard (FAS) nº 95, seguida, em 1992, pelo Reino Unido, com a publicação do Financial Reporting Standard (FRS) nº 01(SILVA, 2000). Análise das Demonstrações Contábeis 11 A DFC somente passou a ser obrigatória e normatizada para as companhias abertas no Brasil em 2008, embora algumas delas já estivessem fazendo sua divulgação. A DFC substituiu a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR). Conforme a Lei nº 11.638/2007, as companhias fechadas com patrimônio líquido, na data do balanço, inferior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) não são obrigatórias a elaboração e publicação da DFC. Na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), as receitas e despesas são registradas segundo o regime de competência, ou seja, independentemente do recebimento ou desembolso efetivo. Na DFC, utiliza-se o regime de caixa, em que se leva em consideração os ingressos e desembolsos de recursos na companhia, não apenas os oriundos das receitas e despesas, mas de todas as origens e aplicações de recursos. Por exemplo: aporte de capital; captação e pagamento de empréstimos, aquisição ou alienação de bens; recebimentos de duplicatas emitidas em exercício anterior, porém recebidas no exercício da elaboração da DFC (SILVA, 2000). A DFC indica as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa e equivalentes de caixa, separando essas alterações em três fluxos de atividades: • Atividades operacionais – são as principais atividades geradoras de receita da entidade e outras atividades diferentes das de investimento e de financiamento. • Atividades de investimento – são referentes à aquisição e à venda de ativos de longo prazo e de outros investimentos não incluídos nos equivalentes de caixa. • Atividades de financiamento – são aquelas que resultam em mudanças no tamanho e na composição do capital próprio e no endividamento da entidade, não classificadas como atividade operacional. Análise das Demonstrações Contábeis 12 Esses fluxos evidenciarão os recebimentos e pagamentos, demonstrando as causas da variação do Capital Circulante Líquido (será visto adiante) em um determinado período. A Demonstração do Fluxo de Caixa permite extrair informações importantes sobre o comportamento financeiro da companhia em um exercício. A insuficiência de geração de caixa, para pagar em dia as operações e dívidas da companhia, pode levar à falência. Por isso a importância de uma demonstração que se utiliza do regime de competência, tornando evidente aos usuários os problemas que uma geração de caixa ruim pode causar. A DOAR (que foi substituída pela DFC) carregava conceitos, como, por exemplo, as variações de capital circulante líquido que não eram facilmente compreendidos. Diferentemente da DFC, que se utiliza de conceitos mais simples e possibilita um melhor entendimento por parte dos usuários das demonstrações contábeis. A DFC é um ótimo instrumento para o gestor financeiro atentar- se a prazos de pagamentos e recebimentos. O excesso de caixa não é aconselhável, pois a companhia está deixando de investir ou deixando recursos parados. Entretanto, ter caixa suficiente para honrar compromissos é estritamente importante. O gestor financeiro também deverá atentar-se para o momento certo de contrair dívidas para cobrir a falta de fundos, assim como quando fazer alguma aplicação com o excesso de dinheiro de, dessa forma, proporcionar maior rendimento à companhia. O controle constante do fluxo de caixa é essencial para que o gestor dimensione o volume de entradas e saídas de recursos financeiros, realizando mudanças nos prazos de recebimentos e pagamentos. A Norma Brasileira de Contabilidade Técnica Geral 03 (NBC TG 03) (CFC, 2016) apresenta seu objetivo e os benefícios da informação dos fluxos de caixa. Análise das Demonstrações Contábeis 13 ACESSE: Veja a norma completa no link a seguir e faça a leitura, Clique aqui. Métodos de elaboração da demonstração de fluxo de caixa (DFC) A DFC para um determinado período ou exercício deve apresentar o fluxo de caixa e equivalentes de caixa oriundos das ou aplicados nas atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos, e o seu efeito líquido sobre os saldos de caixa, conciliando seus saldos no início e no final do período ou exercício. Essa demonstração será obtida de forma direta (a partir da movimentação do caixa e equivalentes de caixa) ou de forma indireta (com base no Lucro/Prejuízo do Exercício). A DFC é o único demonstrativo contábil elaborado com base em regime de caixa, enquanto os demais são elaborados de acordo com o Princípio da Competência de Exercício. Método Direto A DFC apresentada pelo Método Direto facilita a visualização e a compreensão do fluxo financeiro, demonstrando os recebimentos e pagamentos decorrentes das atividades operacionais da empresa, possibilitando a avaliação do comportamento do seu nível de solvência. Nesse método são apresentados os componentes dos fluxos por seus valores brutos, ao menos para os itens mais significativos dos recebimentos e dos pagamentos. Análise das Demonstrações Contábeis http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTG03(R3).pdf 14 Quadro 1 – Método Direto simplificado para fins de entendimento DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA. Companhia ABC – Exercício X5 Fonte: Adaptado de Matarazzo (2010). Conforme a NBC TG 03, é necessário destacar os fluxos das operações dos financiamentos e dos investimentos. Quadro 2 – Método Direto completo Fonte: Adaptado de Matarazzo (2010). Método Indireto A DFC exibida pelo Método Indireto é semelhante à DOAR, visto que a primeira linha da demonstração é o Lucro Líquido do Exercício, sendo somadas rubricas sem efeito de caixa, para, em seguida, vir a efetiva variação do caixa. A composição dessa relação é feita da seguinte forma: Análise das Demonstrações Contábeis 15 • Adicionam-se as rubricas que na DRE não afetaram o caixa, como, por exemplo, a Depreciação, a Variação Cambial e os Resultados de Equivalência Patrimonial. • Retiram-se as rubricas que afetam caixa decorridas antes ou após o período de apuração do resultado. Quadro 3 – Método Indireto completo Fonte: Adaptado de Matarazzo (2010). Existem determinadas rubricas na DRE que reduzem o Lucro Líquido (LL), mas não representam saída de dinheiro da empresa. É o caso da Depreciação. Por isso, na DFC, pelo Método Indireto, adiciona-se a Depreciação ao LL. A Depreciação não caracteriza um desembolso, mas um fato econômico. Aumentos no Ativo Circulante levam ao uso do dinheiro; reduções no Ativo Circulante aumentam o caixa. Temos como exemplo: o aumento do Estoque, que reduz o dinheiro em caixa (necessário para o pagamento); o aumento de Duplicatas a Receber, que retarda o recebimento de recursos (caixa). Uma diminuição de Estoques e Duplicatas a Receber indica mais recursos disponíveis em caixa. Por outro lado, quando os clientes antecipam um pagamento, diminui-se o saldo de duplicatas a receber e, como resultado, há um aumento do caixa. Análise das Demonstrações Contábeis 16 Aumentos no Passivo Circulante, de forma geral, impedem a saída de caixa; reduções no Passivo Circulante indicam que um pagamento foi realizado, reduzindo-se o dinheiro em caixa. Temos como exemplo: um aumento de Fornecedores significa que um pagamento foi postergado, podendo-se utilizar o dinheiro para outras finalidades. Logo, um pagamento de um Fornecedor (diminuição do Passivo Circulante) representa dinheiro saindo do caixa. De forma geral, temos que, para calcular as variações líquidas de caixa, é necessário ter o saldo atual das contas do Ativo Circulante e Passivo Circulante e subtrair do saldo anterior. No que diz respeito às atividades de Investimento (Ativo Não Circulante), a compra de prédios, máquinas, ações, entre outros, reduz o dinheiro em caixa. Por outro lado, a venda desses itens auments o saldo de caixa. As atividades de Financiamento são referentes aos proprietários ou a terceiros. Um aumentodo capital social da empresa ou empréstimo bancário representa mais dinheiro em caixa. Logo, o pagamento de dividendos aos acionistas ou a liquidação de empréstimos significa redução do caixa. ACESSE: Veja o texto “Um terço dos negócios no Brasil fecha em dois anos”, Clique aqui e confira a principal causa de mortalidade em empresas no Brasil. Índices para análise da Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) Neste subitem, você verá que, a partir da DFC, é possível calcular alguns índices ou indicares que ajudam em análises das demonstrações contábeis específicas. Inicialmente, é exposto o Quadro 4 como referência para a formulação dos índices. Análise das Demonstrações Contábeis https://exame.abril.com.br/pme/um-terco-dos-negocios-no-brasil-fecha-em-dois-anos 17 Quadro 4 – Exemplo DFC DFC – Cia. ABC Fonte: Adaptado de Marion (2012). Cobertura de juros Cobertura de juros = Caixa Gerado nas Operações(b) / Juros pagos no período Nesse caso, o Caixa Gerado nas Operações (CGO) seria antes dos Impostos e Juros. Admita que a empresa tem um CGO de R$ 15.000 e pagou R$ 5.000 de juros no ano. Assim, a cobertura de juros seria: 15.000 / 5.000 = 3,0 A cada R$ 1,00 pago de juros, foram gerados R$ 3,00 de caixa na atividade operacional, ou seja, a empresa trabalha 4 meses (12/3) para gerar caixa relativo aos juros. Capacidade de quitar dívidas Cap. de quitar dívidas = Caixa Gerado nas Operações após Operações Financeiras(d) / Financiamentos Onerosos Nesse caso, o Caixa Gerado nas Operações (CGO) seria depois do pagamento dos Impostos e Juros. Também seriam subtraídos os dividendos pagos no período, pois são obrigações anuais repetitivas. Admita que o novo CGO seja de R$ 7.000 e que os financiamentos de Longo Prazo que geraram os juros de R$ 5.000 acima sejam R$ 28.000. Assim temos que: 7.000 / 28.000 = 0,25 Análise das Demonstrações Contábeis 18 A companhia gerou recursos para pagar 25% da dívida. Esse financiamento poderia ser pago ao longo de 4 anos (100%/25%). No caso de o prazo de financiamento ser superior a 4 anos (por exemplo, 8 anos), a companhia poderia gerar caixa para reinvestimento. Esse indicador poderia carregar no seu denominador toda a dívida da companhia, incluindo a de curto prazo, dependendo da análise que se pretende fazer. Taxa de retorno do caixa Taxa de retorno do caixa = Caixa Gerado nas Operações(b) / Ativo Total Considere o CGO de R$ 15.000 e um Ativo Total de R$ 75.000. Em tal caso, o CGO utilizado é antes dos Juros e Impostos. Sendo assim: 15.000 / 75.000 = 0,20 O ativo da companhia produz 20% de recuperação de caixa por ano, ou seja, levará, em média, 5 anos para gerar o equivalente do ativo em caixa. Outra forma de calcular esse índice é utilizando como denominador o Ativo Operacional, levando em consideração apenas os ativos da operação ou até mesmo o Patrimônio Líquido, tirando uma média da taxa de retorno em caixa do capital investido pelos acionistas. Nível de recebimento das vendas Nível de rec.de vendas = Caixa Gerado nas Vendas / Vendas Considere um total vendido de R$ 30.000 e um recebimento efetivo de caixa de R$ 24.000. Logo: 24.000 / 30.000 = 0,80 Nesse caso, 80% das vendas foram recebidas. Esse é um bom indicador para avaliar políticas de crédito e cobrança quando comparado com anos anteriores e com companhias concorrentes. Capacidade de novos investimentos Cap. de novos investimentos = Caixa Gerado nas Operações após Operações Financeiras(d) / Novos Investimentos no Imobilizado Análise das Demonstrações Contábeis 19 Considere a aquisição de imobilizado no valor de R$ 4.000 e Caixa Gerado nas Operações após operações financeiras no valor de R$ 7.000. Assim: 7.000 / 4.000 = 1,75 Esse indicador tem a finalidade de medir os recursos PRÓPRIOS disponíveis após o pagamento de dividendos para a perpetuidade do negócio. Nessa situação, a companhia seria capaz de adquirir os novos investimentos com recursos gerados em caixa. No nosso exemplo, a companhia adquiriu novos empréstimos, sendo que, do Caixa Gerado nas Operações após operações financeiras no valor de R$ 7.000, sobrou R$ 4.000 (57%) após Amortização de Empréstimos. RESUMINDO: Neste capítulo aprendemos sobre a Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) e os métodos de elaboração da demonstração de fluxo de caixa (DFC), que são os Métodos Direto e Indireto. Além disso, vimos os Índices para análise da Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC). Análise das Demonstrações Contábeis 20 Elaboração e análise do valor adicionado OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender o que é a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) e como analisá-la. Quais são suas finalidades? O que ela indica? Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Demonstração do Valor Adicionado (DVA) A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) surgiu na Europa, essencialmente por influência da Inglaterra, da França e da Alemanha, e tem cada vez mais demanda em âmbito internacional até mesmo por recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU) (MARION, 2012). A principal função da DVA é indicar o quanto de riqueza uma companhia produziu. O quanto a empresa adicionou de valor a seus fatores de produção e, também, de que forma essa riqueza foi retida na companhia e distribuída entre os seus acionistas, empregados, credores e governo. A DVA deve evidenciar o valor da riqueza gerada pela companhia, a sua distribuição entre os elementos que contribuíram para a geração dessa riqueza (empregados, financiadores, acionistas, governo, entre outros) e a parcela da riqueza não distribuída. A DVA é uma demonstração bastante útil, inclusive do ponto de vista macroeconômico, uma vez que, conceitualmente, o somatório dos valores adicionados (ou valores agregados) de um país representa, na verdade, seu Produto Interno Bruto (PIB). A DVA passou a ser obrigatória para as sociedades anônimas de capital aberto a partir do exercício de 2008, apesar de algumas empresas já fazerem sua divulgação. A Lei nº 6.404/1976 não detalha os itens que devem compor esse novo demonstrativo contábil. Por sua vez, a NBC TG 09 determinou que Análise das Demonstrações Contábeis 21 a distribuição da riqueza criada deve ser detalhada, minimamente, da seguinte forma: 1. Pessoal e encargos. 2. Impostos, taxas e contribuições. 3. Juros e aluguéis. 4. Juros sobre o capital próprio (JCP) e dividendos. 5. Lucros retidos/prejuízos do exercício. O Valor Adicionado é calculado subtraindo-se da Receita Operacional os custos dos recursos adquiridos de terceiros (compras de matéria-prima, mercadorias, embalagens, energia elétrica, terceirização da produção) utilizados no processo operacional. Esse primeiro valor calculado poderia ser chamado de Valor Adicionado Bruto. Um ponto fundamental é a depreciação que reflete a redução do Imobilizado Tangível (máquinas, instalações, veículos etc.), como a perda do potencial de uso desses ativos. Ainda que na depreciação não ocorra desembolso (consumo parcial de Ativo Imobilizado), certamente ela o provocará, no futuro, quando a empresa fizer a reposição dos bens. Há, consequentemente, redução da riqueza gerada, que deverá, portanto, ser subtraída, provocando um segundo resultado, que convencionamos chamar de Valor Adicionado Líquido. Esse resultado corresponde à riqueza gerada pela empresa. Outros acréscimos e reduções desse resultado, além do operacional, deveriam ser destacados para melhor análise dos usuários, como é o caso de Receita Financeira, Dividendos, Despesas Não Operacionais etc. Convencionamos chamar esse resultado, simplesmente, de Valor Adicionado. Em seguida, como parte mais relevante dessa demonstração, temos a Distribuição do Valor Adicionado, que mostra a contribuição da empresa para os vários segmentos da sociedade. Mostra qual é o tamanho da “fatia de bolo” para os empregados, os donos daempresa, os banqueiros, o governo, outros e para a própria empresa em termos de reinvestimento. Análise das Demonstrações Contábeis 22 Assim, faz-se uma análise da priorização da distribuição da empresa dos recursos por ela gerados, evidenciando sua contribuição à comunidade local, aos acionistas, à remuneração ao capital de terceiros, a toda a sociedade por meio dos impostos etc. A NBC TG 09 (CFC, 2008) apresenta características das informações constantes na DVA (itens 10 a 12). Modelo de Demonstração do Valor Adicionado (DVA) A NBC TG 09 apresenta três modelos DVA: um para empresas em geral, outro para instituições financeiras e um para seguradoras. A seguir, é apresentado o modelo indicado para as empresas em geral. Quadro 5 – Demonstração do Valor Adicionado – Empresas em geral Análise das Demonstrações Contábeis 23 (*) O total do item 8 deve ser exatamente igual ao item 7. Fonte: Adaptado de CFC (2008). Índices para análise da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) Neste subitem, você verá que, a partir da DVA, é possível calcular alguns índices ou indicadores que ajudam em análises das demonstrações contábeis específicas. Inicialmente, é exposto o Quadro 6 como referência para a formulação dos índices. Quadro 6 – Exemplo DVA Fonte: Adaptado de Marion (2012). Potencial do Ativo em Gerar Riqueza Potencial do Ativo em Gerar Riqueza = Valor Adicionado / Ativo Total O Ativo, financiado por Capital Próprio e Capital de Terceiros, é que gera receita, a qual, por sua vez, gera riqueza para a empresa. Esse índice mede quanto cada real investido no Ativo gera de riqueza (valor adicionado) a ser transferida para vários setores que se relacionam com a empresa. Análise das Demonstrações Contábeis 24 Suponha que, na Cia. ABC, o Ativo Total é R$ 830.000, teremos o seguinte indicador: 150.000 / 830.000 = 0,18 O ideal é que esse índice cresça ao longo dos anos por meio da Análise Horizontal. Retenção da Receita Retenção da Receita = Valor Adicionado / Receita Operacional Da Receita Total, parte é comprometida com terceiros (matéria- prima, embalagem, serviços), ou seja, transferida para outras empresas que não agregam valor para a empresa em análise. Esse percentual mostra quanto fica dentro da empresa, acrescentando valor ou benefício para funcionários, acionistas, governo, financiadores e lucro retido. Nesse caso, uma Análise Horizontal (vários anos ou períodos) mostra a tendência da empresa em aumentar ou diminuir a receita que fica lá dentro. Na Cia. ABC: 150.000 / 800.000 = 0,19 Valor Adicionado per capita Valor Adicionado per capita = Valor Adicionado / Número de funcionários (média) É uma forma de avaliar quanto cada empregado contribui para a formação riqueza da empresa. De certa forma, é um indicador de produtividade que informa a participação de cada empregado na riqueza gerada na organização. Na Cia. ABC, imaginando-se 10 funcionários: 150.000 / 10 = 15.000 Ou seja, cada funcionário contribui para a formação de R$ 15.000 da riqueza da empresa. Análise das Demonstrações Contábeis 25 Índices em que o valor adicionado é destacado no denominador Esses índices são relacionados à distribuição da riqueza gerada na organização. A seguir, apresentamos alguns indicadores: Em uma Análise Horizontal (sequência de períodos), esses índices são relevantes para analisar a tendência de distribuição da riqueza. Por exemplo: Quadro 7 – Análise Horizontal da DVA Fonte: Adaptado de Marion (2012). Enquanto observamos uma estabilidade em relação a Impostos e Lucro Reinvestido, percebemos que a “fatia” dos empregados tem aumentado no bolo, principalmente em função da redução dos juros. Os acionistas tiveram também sua participação reduzida no que tange aos dividendos. Salienta-se que os indicadores apresentados não esgotam as possibilidades de análise. Tanto a DFC quanto a DVA podem ser mais minuciosamente exploradas, dependendo do objetivo do analista. Esta seção apenas explora algumas possibilidades. Análise das Demonstrações Contábeis 26 RESUMINDO: Neste capítulo aprendemos sobre a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) e o Modelo de Demonstração do Valor Adicionado (DVA). Além disso, vimos quais são os índices para análise da Demonstração do Valor Adicionado (DVA). Análise das Demonstrações Contábeis 27 Entendendo a situação financeira OBJETIVO: Neste capítulo, são apresentados os principais índices que constituem a análise de atividade de uma empresa e como funciona seu fluxo econômico-financeiro. A função de cada índice, sua fórmula, seu significado e sua interpretação. Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Indicadores de atividade ou rotatividade (prazos médios) A análise dos indicadores de atividade ou dos ciclos financeiro e operacional também é conhecida como índices de prazos médios. Na Figura 1, é possível visualizar o fluxo econômico-financeiro de uma companhia. Figura 1 – Fluxo econômico-financeiro de uma empresa industrial Fonte: Adaptado de Silva (2000). É possível observar que a fase Produtos em processo se restringe a indústrias. No comércio, o fluxo de compras segue diretamente para a estocagem. O Ciclo Operacional é individual de cada empresa, sendo que em algumas esse período é maior e em outras, menor, iniciando-se sempre em compras. A análise dos indicadores de atividade é muito próxima da análise dos índices de liquidez, mas leva em consideração a velocidade com que os recursos se convertem em dinheiro disponível para uso. Análise das Demonstrações Contábeis 28 Mensuração dos ciclos operacionais e financeiros a partir das demonstrações contábeis Para mensurar o ciclo operacional e financeiro, é necessário determinar os prazos médios em número de dias que a empresa leva para vender os estoques, receber de seus clientes e pagar seus fornecedores. Sendo possível extrair essas informações do BP e da DRE. Ao realizar esse tipo de análise, é preciso conhecer o negócio. Caso a empresa apresente algum tipo de sazonalidade nas suas operações, o produto obtido poderá exprimir distorções. O ideal é verificar o menor tempo em dias de um período e, assim, extrair o saldo médio. Suponha que seu prazo médio de estocagem seja de 25 dias (ciclo econômico). Seu ciclo operacional será a soma do prazo médio de estocagem com uma média de recebimento de clientes, suponha 60 dias. Então, seu ciclo operacional será de 85 dias (60 + 25). Agora, suponha que o prazo médio de pagamento de fornecedores seja de 40 dias. Seu ciclo financeiro será a subtração do ciclo operacional pelo prazo médio de pagamentos, ou seja, 85 – 40 = 45 dias. Prazo Médio da Rotação dos Estoques (PMRE) O Prazo Médio da Rotação dos Estoque (PMRE) indica, em média, quantos dias ou meses os produtos acabados ou mercadorias ficaram no estoque antes de serem vendidos. O ideal é que, quanto mais rápido for a rotação de estoques, melhor, desde que isso seja decorrente do elevado grau de comercialização de seus produtos, em função de um aumento na demanda ou uma boa penetração dos produtos no mercado. Para melhor aproveitamento desse índice, devemos usar o Estoque Médio do período (no caso, de dois períodos) obtido pelo somatório do Estoque do exercício anterior com o Estoque do exercício em curso, dividido por dois: PMRE = Estoque (ou Estoque Médio) / CMV x 360 (DP) Análise das Demonstrações Contábeis 29 O Custo da Mercadoria Vendida (CMV) é obtido por meio da fórmula: CMV = Estoque Inicial + Compras - Estoque Final Suponha que a Cia. ABC tenha um Estoque de R$ 982.114 e um CMV de R$ 4.741.311, seu PMRE será de 75 dias: 982.114 / 4.741.311 x 360 = 75 dias Pontos a serem considerados na análise: • Alto índice de rotação – também pode ser sinal de baixo investimento em estoques, o que pode acarretar a perda de vendas e a consequente redução nos lucros, apesar dessa redução nos investimentosser necessária à sua manutenção (armazenagem e seguros). • Baixo índice de rotação – a baixa rotação pode estar sinalizando um investimento excessivo nos estoques, incorrendo muito provavelmente em aumento nos seus custos com manutenção (armazenagem e seguros). É recomendável uma leitura atenta do relatório de administração a fim de se identificar se ocorreram mudanças na política de gestão dos estoques. Ainda, nas notas explicativas observar se é possível identificar a ocorrência de modificações nos critérios de avaliação. Um dos fatores de difícil percepção, a partir da simples leitura das demonstrações contábeis, é a identificação da existência de significativa quantidade de itens obsoletos, pois tal circunstância só será conhecida se for declarada pela empresa. O analista deve observar, em paralelo às formas de financiamento dos estoques e correspondentes prazos de pagamento, o seu impacto nos índices de liquidez e as características do ramo de atividade da empresa, antes de formular sua conclusão sobre o indicador do PMRE. Outro aspecto a ser considerado é que a empresa pode, na data do levantamento de suas demonstrações contábeis, possuir estoques elevados ou bastante reduzidos em função de aspectos conjunturais, ou, como é comum ocorrer, trabalhar com mercadorias ou matérias- primas sazonais, o que poderá distorcer uma análise comparativa se tal circunstância não for considerada. Análise das Demonstrações Contábeis 30 Destaca-se que o fato de se trabalhar na fórmula de cálculo do PMRE com os estoques das datas de encerramento do balanço pode apresentar problemas. Caso a empresa tenha algum tipo de sazonalidade em suas atividades, o resultado obtido poderá carregar alguma distorção. Uma alternativa é calcular estoques mensais para encontrar uma média. A inflação também pode contribuir para distorcer os cálculos, especialmente se não houver mecanismos de correção dos valores das demonstrações contábeis. Prazo Médio do Recebimento das Vendas (PMRV) Esse indicador mostra quantos dias ou meses, em média, a empresa leva para receber suas vendas. Cabe lembrar que o volume de Duplicatas a Receber de uma empresa decorre do montante de suas vendas a prazo e dos prazos concedidos. No cálculo, devemos usar a Média de Duplicatas a Receber quando ocorrer discrepância significativa entre os dois saldos. A Média de Duplicatas a Receber é obtida pela soma dos saldos de Duplicatas a Receber do ano anterior com os do ano em curso, dividido por dois: PMRV = Duplicatas a Receber (ou média dos períodos) / Receita Líquida de Vendas x 360 (DP) Suponha que a Cia. ABC tenha um saldo de Duplicatas a Receber de R$ 1.031.415 e uma Receita Líquida de Vendas de R$ 6.975.090, seu PMRV será de 53 dias: 1.031.415 / 6.975.090 x 360 = 53 dias Esse indicador mostra que, quanto maior o prazo de recebimento, pior será para a companhia. No entanto, outros índices devem ser observados em conjunto, pois interferem diretamente na avaliação desse indicador. São eles: o prazo de rotação dos estoques e de pagamento das compras. O PMRB também é indicado para avaliar a eficiência do setor de cobranças e avaliar a política de concessão de crédito. Prazo Médio do Pagamento das Compras – Fornecedores (PMPC) O Prazo Médio do Pagamento das Compras (PMPC) indica, em média, quantos dias ou meses a empresa leva para pagar suas dívidas Análise das Demonstrações Contábeis 31 com fornecedores. O ideal é que o PMPC seja superior ao PMRV, de forma a permitir a manutenção de um nível de liquidez adequado. No cálculo, devemos usar a Média de Fornecedores quando ocorrer discrepância significativa entre os dois saldos. A Média de Fornecedores é obtida pela soma dos saldos de Fornecedores do ano anterior com os do ano em curso, dividido por dois: PMPC = Fornecedores (ou média dos períodos) / Compras x 360 (DP) Se, CMV = Estoque Inicial + Compras - Estoque Final, então Compras = CMV + Estoque Final - Estoque Inicial Suponha que a Cia. ABC tenha um saldo de Fornecedores de R$ 1.532.933 e um saldo de compras de R$ 4.777.575, seu PMPC será de 116 dias: 1.532.933 / 4.777.575 x 360 = 116 dias Ao analisarmos empresas industriais, podemos nos deparar com uma situação diferente, pois, enquanto uma empresa comercial adquire e revende diretamente as mercadorias, em uma empresa industrial as matérias-primas adquiridas sofrem o processo de industrialização, no qual são agregados ao custo de aquisição de matéria-prima outros custos, sejam eles diretos ou indiretos. Esses custos irão se refletir no saldo dos seus estoques de produtos acabados ou em elaboração. Defrontando-se com a responsabilidade de analisar uma empresa industrial, o ideal é que o analista obtenha da empresa o valor real das suas compras. Na impossibilidade de acesso a esse valor, deve recorrer a métodos de estimativa para determinar o percentual dos custos de fabricação em relação aos custos totais da indústria. O analista deve, entretanto, estar atento, pois esses percentuais obtidos não deverão ser aplicados de forma indiscriminada para todos os tipos de indústria, já que cada segmento industrial tem uma formação de custos diferenciada. Análise das Demonstrações Contábeis 32 Avaliação dos ciclos operacionais A partir da avaliação do espaço de tempo que uma empresa tem para realizar o pagamento de compras com o recebimento das vendas, é possível verificar se o ciclo operacional é superavitário ou deficitário. A realização desse tipo de análise deve ser feita com as Análises Horizontal e Vertical dos Ativos e Passivos Circulantes e com a Análise da Necessidade de Capital de Giro (que será vista adiante). Ciclo Operacional Superavitário (COS) Ocorre quando a companhia recebe o valor das vendas antes do prazo para pagamento de fornecedores, desfrutando de um período de tempo para aplicar o dinheiro até a data de vencimento da fatura com fornecedores, aumentando, assim, sua rentabilidade final: COS = PMRE + PMRV / PMPC ≤ 1 Um exemplo de Ciclo Operacional Superviário (COS), supondo PMRE = 35 dias, PMRV = 40 dias e PMPC = 80 dias: (35+40) / 80 = 0,94 O ciclo operacional dessa situação superavitária poderia ser expresso da seguinte forma: Figura 2 – Ciclo operacional superavitário Fonte: Adaptado de Silva (2000). Ciclo Operacional Deficitário (COD) Se o ciclo for deficitário, o recebimento do valor das vendas só acontece depois de efetuado o pagamento da compra de matéria- prima ou mercadorias para revenda, gerando a necessidade de busca de recursos que poderão agregar novos custos financeiros para equilibrar a posição de caixa da empresa, prejudicando, assim, sua rentabilidade final: Análise das Demonstrações Contábeis 33 COD = PMRE + PMRV / PMPC > 1 Um exemplo de Ciclo Operacional Deficitário (COD), supondo PMRE = 49 dias, PMRV = 31 dias e PMPC = 54 dias: 49 + 31 / 54 = 1,48 O ciclo operacional dessa situação deficitária poderia ser expresso da seguinte forma: Figura 3 – Ciclo operacional deficitário Fonte: Adaptado de Silva (2000) Determinadas empresas, por força de circunstâncias ou por contingências de mercado, se veem obrigadas a operar com ciclos deficitários, tendo, portanto, que repassar esse incremento de custo financeiro aos seus preços. Recomenda-se, por isso, extremo rigor na determinação dos prazos médios de rotação, de forma a evitar uma elevação de preços, inviabilização do produto ou favorecimento da concorrência. RESUMINDO: Neste capítulo, aprendemos sobre os indicadores de atividade ou rotatividade (prazos médios) e a mensuração dos ciclos operacionais e financeiros a partir das demonstrações contábeis, que são Prazo Médio da Rotação dos Estoques (PMRE), Prazo Médio do Recebimento das Vendas (PMRV) e Prazo Médio do Pagamento das Compras – Fornecedores (PMPC). Além disso, estudamos sobre a avaliação dos ciclos operacionais, que são Ciclo Operacional Superavitário(COS) e Ciclo Operacional Deficitário (COD). Análise das Demonstrações Contábeis 34 Análise da necessidade de capital de giro (NCG) OBJETIVO: Neste capítulo, é apresentada a Necessidade de Capital de Giro (NCG). Como compreendê-la, como interpretá-la, suas implicações e exemplos práticos. Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Necessidade de Capital de Giro (NCG) A Necessidade de Capital de Giro (NCG) é útil para determinar a situação financeira da companhia, revelando o grau de recursos necessários para a manutenção da rotação dos negócios. As rubricas empregadas no seu cálculo exprimem operações de curto prazo. Nesse caso, quaisquer alterações no período de estocagem, de crédito ou de pagamentos irão produzir efeitos imediatos sobre o fluxo de caixa da companhia. Para se obter a NCG, não podemos apenas comparar o PMRE e o PMRV com o PMPC. Outros componentes, conhecidos como contas cíclicas, são diretamente afetados na produção e na venda de estoques. São eles: Quadro 8 – Contas cíclicas Fonte: Adaptado de Marion (2012). A NCG é a chave para a administração financeira de uma companhia. Basicamente, retrata a diferença entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante, consistindo em um dinheiro que a companhia dispõe Análise das Demonstrações Contábeis 35 para quitar seus compromissos de curto prazo. Sua análise deve levar em consideração outros indicadores, como os de Liquidez, Atividade Operacional e o estudo de Capital de Giro Próprio, que será visto em sequência. NCG = Ativo Circulante - Passivo Circulante Para alguns autores, um método de análise mais coerente com a realidade operacional brasileira seria: NCG = Ativo Circulante Operacional - Passivo Circulante Operacional O Ativo Circulante Operacional (ACO) é o investimento que decorre automaticamente das atividades de compra/produção/estocagem/ venda, enquanto o Passivo Circulante Operacional (PCO) é o financiamento, também automático, que decorre dessas atividades. Determinado o valor da NCG, o analista deverá proceder à sua interpretação por meio dos critérios constantes no Quadro 9. Quadro 9 – Critérios de avaliação da Necessidade de Capital de Giro (NCG) Fonte: Adaptado de Matarazzo (2010). Ao definirmos o ACO e o PCO, também podemos definir as contas do Ativo Circulante Não Operacional (ACNO) e Passivo Circulante Não Operacional (PCNO) que são aquelas que, sendo ou não de natureza financeira, não se relacionam diretamente com as atividades de operações da empresa. Análise das Demonstrações Contábeis 36 Quando realizamos o ACNO menos o PCNO, obtemos o Saldo de Tesouraria, que representa recursos que não estão diretamente ligados à atividade operacional da companhia, por consequência, alheios ou não a sua atividade-fim. O ideal é sempre manter um Saldo de Tesouraria positivo. Contudo, às vezes, um saldo grande pode apontar que a companhia não está aproveitando oportunidades de investimento compatível com sua estrutura de financiamento. Outro ponto que merece observação é quando a NCG é financiada com recursos de curto prazo ou empréstimos bancários, aumentando, assim, o risco de insolvência por parte da companhia. Exemplo prático de determinação da Necessidade de Capital de Giro (NCG) Quadro 10 – Balanço Patrimonial da Cia. ABC Fonte: Silva (2000, p. 173). Quadro 11 – Apuração da Necessidade de Capital de Giro da Cia. ABC Legenda: CCL (Capital Circulante Líquido). Fonte: Silva (2000, p. 174). Análise das Demonstrações Contábeis 37 Com base nas informações do Quadro 11, verificamos que a companhia precisa de R$ 503.171 de Capital de Giro para suportar suas atividades operacionais. Observa-se, ainda, que o seu Saldo de Tesouraria é positivo, no valor de R$ 381.359. Percebe-se que a Cia. ABC tem Capital de Giro suficiente para subsidiar sua NCG. O vencimento das dívidas de curto prazo com fornecedores pode ser um dos fatores para a manutenção de tais recursos em tesouraria. Efeito Tesoura Para que a companhia tenha uma saúde financeira adequada, é fundamental o acompanhamento da NCG e do Capital Circulante Líquido (CCL). Caso ocorra um crescimento das atividades acima da capacidade de financiamento, haverá um desequilíbrio entre esses indicadores. Quando o Saldo de Tesouraria é menor do que zero, ou seja, negativo, significa que a companhia tem dívidas vencíveis no curto prazo, normalmente contraídas em instituições financeiras, com a finalidade de custear suas atividades de capital de giro. Ocorrendo por sucessivos exercícios um crescimento da NCG superior ao do CCL, dizemos que a companhia convive com o que se convencionou chamar de Efeito Tesoura. À medida que o Ativo Circulante Operacional (ACO) é financiado por dívidas de curto prazo, ocorre um acréscimo na diferença entre a NCG e o CCL, ampliando o Efeito Tesoura. Figura 4 – Efeito Tesoura CCL NCG R$ Anos Fonte: Adaptado de Silva (2000). Análise das Demonstrações Contábeis 38 O Efeito Tesoura é um forte indicativo de que a companhia está encaminhando-se para a insolvência, visto que ela é incapaz de custear os investimentos operacionais de forma adequada, operando com recursos abaixo do nível de suas necessidades. Isso exige uma rápida alteração nas políticas de crédito, de vendas, prazos operacionais e renegociação de dívidas. O Efeito Tesoura pode ocorrer por várias razões, segundo Silva (2000): • Crescimento elevado do nível de atividade empresarial (overtrade) ou tendência do ciclo operacional deficitário. • Decisões de imobilizações sem que haja recursos próprios ou recursos de longo prazo disponíveis. • Desvio de recursos do giro para imobilizações. • Sucessivos prejuízos, levando a empresa a captar recursos de curto prazo para financiar suas atividades. • Inflação etc. Overtrade ou overtrading Uma situação de overtrade ocorre quando a empresa está operando além de sua capacidade financeira. Nessa circunstância, a companhia não tem capital de giro suficiente para custear suas atividades de curto prazo, sendo sua única saída endividar-se. Verifica-se que o aumento das atividades não produziu recursos suficientes para o pagamento das despesas. É nesse momento que a empresa se encontra em uma situação delicada pela falta de equilíbrio financeiro, visto que o Capital de Giro disponível é inferior ao volume de atividades, caracterizando o overtrade. O overtrade pode ocorrer com mais frequência em empreendimentos em fase de implantação ou em expansão de atividades, nos quais o plano de negócios não foi realizado adequadamente no que diz respeito às previsões de fluxo de caixa. Outras situações que sinalizam a entrada da empresa em um nível de overtrading são as seguintes, segundo Silva (2000): Análise das Demonstrações Contábeis 39 • Constantes quedas nos indicadores de liquidez. • Crescimento da Necessidade de Capital de Giro. • Excesso de Imobilizado em relação ao Circulante, sem uma clara justificativa. • Queda acentuada nas vendas. • Crescimento acentuado dos estoques em relação ao crescimento das vendas. • Crescente aumento do Ciclo Financeiro. • Aumento das despesas financeiras. • Dificuldades para efetuar o pagamento dos salários, impostos e despesas fixas. • Permanência de itens obsoletos no ativo imobilizado. • Alto nível de devolução de vendas. Fontes de Financiamento da Necessidade de Capital de Giro (NCG) As principais fontes de financiamento da Necessidade de Capital de Giro são, segundo Silva (2000): • Capital circulante próprio. • Debêntures. • Duplicatas descontadas. • Empréstimos bancários de curto prazo. • Empréstimos e financiamentos bancários de longo prazo. Capital de Giro Próprio (CGP) O Capital de Giro Próprio (CGP) caracteriza a capacidade da companhia de custear seu ciclo operacional com recursos próprios, sem considerar empréstimos (capital de terceiros). O cálculo PatrimônioAnálise das Demonstrações Contábeis 40 Líquido menos o Ativo Permanente permite verificar a folga ou carência de Capital de Giro da companhia. CGP = Patrimônio Líquido - Ativo Permanente Caso uma companhia tenha a capacidade de sustentar o investimento com recursos próprios, estará livre para elaborar planos de expansão e tomar novos empréstimos para essa finalidade. Existe uma relação inversa entre a velocidade do giro das aplicações do empreendimento e o quantitativo dos recursos próprios. Sendo assim, quanto mais rápido girar o capital aplicado, menor será a necessidade de capital próprio. Por outro lado, imobilizações de maior vulto tendem a necessitar de mais capital próprio. Por fim, observa-se que as operações que aumentam as contas do Ativo Perante ou que reduzem o Patrimônio Líquido implicam uma diminuição do CGP, bem como o inverso é verdadeiro. A partir dessas considerações, Silva (2000, p. 179) apresenta um elenco de atividades que atuam diretamente sobre o nível das variações descritas. Atividades que enfraquecem o CGP • Prejuízos. • Aquisição de ativo imobilizado. • Aquisição de investimentos. • Aplicações de recursos no ativo intangível. • Distribuição de lucros. Atividades que fortalecem o CGP • Lucros. • Alienação de investimentos. • Venda de bens do ativo imobilizado. • Venda de ativos intangíveis. • Aporte de recursos de sócios para aumento de capital. • Depreciação. Análise das Demonstrações Contábeis 41 RESUMINDO: Neste capítulo, vimos sobre a necessidade de Capital de Giro (NCG) e um exemplo prático de determinação da Necessidade de Capital de Giro (NCG). Compreendemos o que é o Efeito Tesoura e o overtrade ou overtrading. Vimos ainda as Fontes de Financiamento da Necessidade de Capital de Giro (NCG) e o Capital de Giro Próprio (CGP). Análise das Demonstrações Contábeis 42 REFERÊNCIAS BODIE, Z. et al. Investments. 9th ed. New York: McGraw-Hill, 2011. BORGES, M. S. D. et al. A demonstração dos fluxos de caixa e sua contribuição para uma tomada de decisão mais informada. Revista Universo Contábil, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, 2012. Disponível em: http://bit.ly/2PURItp. Acesso em: 02 jul. 2021. CFC. 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Análise das Demonstrações Contábeis Elaboração e análise do fluxo de caixa Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) Métodos de elaboração da demonstração de fluxo de caixa (DFC) Índices para análise da Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) Elaboração e análise do valor adicionado Demonstração do Valor Adicionado (DVA) Modelo de Demonstração do Valor Adicionado (DVA) Índices para análise da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) Entendendo a situação financeira Indicadores de atividade ou rotatividade (prazos médios) Mensuração dos ciclos operacionais e financeiros a partir das demonstrações contábeis Avaliação dos ciclos operacionais Análise da necessidade de capital de giro (NCG) Necessidade de Capital de Giro (NCG) Exemplo prático de determinação da Necessidade de Capital de Giro (NCG) Efeito Tesoura Overtrade ou overtrading Fontes de Financiamento da Necessidade de Capital de Giro (NCG) Capital de Giro Próprio (CGP)