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LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS LIBRAS-PRODUÇÃO E TRADUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE SURDOS

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77 
 
 Sérgio Ribeiro: autor de “Textos em Libras” (Figura 2), em que reúne 
alguns textos de sua autoria na categoria didáticos, infantil, infanto-juvenil e juvenil 
escritos em SignWriting. 
 
 
 
9 PRODUÇÃO E TRADUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE 
SURDOS 
A língua portuguesa, na modalidade escrita, não é uma língua natural para os 
surdos. Nesse sentido, a produção de materiais didáticos para o ensino dessa 
comunidade precisa levar em consideração que a metodologia utilizada para a 
 
78 
 
produção e tradução desses materiais deve ser diferenciada, planejada, elaborada e 
avaliada por pessoas fluentes na língua de sinais, além de contar com pessoas surdas 
participando desse processo. A produção de materiais didáticos para esse fim é 
complexa, porque a língua de sinais é a primeira língua dos sujeitos surdos e a língua 
portuguesa, na modalidade escrita, é a segunda língua deles. Assim, os textos 
escritos em língua portuguesa, uma língua oral, terão que ser traduzidos para a língua 
de sinais, uma língua gestual/visual. Ou seja, não é somente uma transposição ou 
uma simples tradução de conteúdo, mas toda uma elaboração que exige o 
conhecimento da cultura surda e também dos aspectos linguísticos, tanto da língua 
portuguesa quanto da língua de sinais (SZULCZEWSKI, 2019). 
Muitas pesquisas têm sido realizadas no sentido de melhorar a produção dos 
materiais didáticos, ainda poucos no mercado. As tecnologias digitais estão vindo para 
colaborar nesse sentido, já que, como os surdos são sujeitos visuais, o uso de 
imagens e de vídeos é muito importante no seu processo de ensino/aprendizado. 
Além disso, a avaliação desses materiais é fundamental e precisa ser feita por 
pessoas conhecedoras da língua de sinais e também por sujeitos surdos. 
Neste capítulo, você vai conhecer alguns materiais didáticos pensados para o 
ensino dos sujeitos surdos, vendo a importância da sua produção e tradução. Além 
disso, você vai ver formas de realizar esses processos de produção e tradução de 
materiais didáticos no contexto da educação inclusiva e vai ver como avaliar esses 
materiais a partir das necessidades dos alunos aos quais se dirigem. 
9.1 Produção e Tradução de Materiais Didáticos Para o Ensino de Surdos 
A produção de materiais didáticos para o ensino de surdos tem como 
pressuposto o conhecimento sobre esses sujeitos. Para isso, é fundamental conhecer 
as concepções sobre a surdez a partir das quais esses materiais devem ser pensados 
e elaborados. 
No caso dos sujeitos surdos compreendidos pela concepção cultural, é 
fundamental que a equipe de profissionais que elabore um material voltado para esses 
alunos seja conhecedora dos conceitos de identidade surda, comunidades surdas, 
cultura surda, diferença, ou seja, como se constitui esse sujeito ou como se constitui 
um jeito surdo de ser e estar no mundo. Os surdos são sujeitos visuais e gestuais que 
 
79 
 
se comunicam pela língua de sinais, que é a sua língua materna ou sua primeira língua 
(L1), e que tem na língua portuguesa na modalidade escrita a sua segunda língua 
(L2). 
Para produzir uma educação de qualidade e para que os sujeitos tenham 
aprendizagens significativas, é fundamental que tenhamos um ensino propositivo e 
voltado para as especificidades dos sujeitos, independentemente da sua condição. No 
caso dos sujeitos surdos, é fundamental que esses conhecimentos estejam muito 
claros para essa equipe que irá elaborar o material didático. 
A produção de material didático, de uma forma geral, tem evoluído bastante, 
tendo em vista que a tecnologia veio e vem colaborando de uma forma bastante 
presente na elaboração de materiais voltados para a área da Educação de uma forma 
geral. O uso de material didático não é novidade: a Educação, desde os seus 
primórdios, utiliza os mais diversos tipos de materiais didáticos, cujo objetivo é servir 
de ferramenta para auxiliar o professor no dia a dia e proporcionar aos alunos um 
ensino de qualidade. 
Antes de pensar na elaboração do material didático para os surdos, é 
necessário que se tenha muito claro que a língua de sinais é a língua oficial desses 
sujeitos. Diferente da língua portuguesa, que é uma língua na modalidade oral, a 
língua de sinais é uma língua na modalidade gestual/visual, ou seja, o canal de acesso 
à língua se dá pelos movimentos gestuais e pelas expressões faciais, que são 
percebidos pela visão. Essa questão muda toda a forma de se pensar e elaborar o 
material didático, já que o surdo percebe o mundo pela visão. 
Outra questão importante é a de que os surdos, pela concepção cultural, não 
se consideram pessoas com deficiência, e, sim, sujeitos que pertencem à outra 
cultura, no caso a cultura surda. Essa é uma questão que requer bastante cuidado e 
conhecimento na proposta de materiais didáticos para esses alunos, porque a 
concepção da surdez precisa ser respeitada e considerada (SZULCZEWSKI, 2019). 
A partir dos anos 1990, com a Declaração de Jomtien (1990) e a Declaração 
de Salamanca (1994), o Brasil assumiu um pacto internacional de “educação para 
todos”. Nesse sentido, muitas políticas públicas foram pensadas para incluir todos na 
escola regular. Contudo, além de incluir, torna-se necessário pensar propostas 
pedagógicas que atendam tanto os alunos sem quanto os alunos com deficiência, 
respeitando as especificidades de cada um. 
 
80 
 
Aos sujeitos surdos, está garantido o direito linguístico, da mesma forma que o 
acesso aos conhecimentos ou conteúdos escolares, que têm que acontecer por meio 
da língua de sinais. No entanto, no dia a dia das instituições escolares, não é bem 
assim que acontece. A maioria das escolas regulares não conta com professores 
bilíngues, ou seja, os conteúdos são apresentados pelo professor na língua 
portuguesa e o intérprete de língua de sinais tem a função de interpretar esses 
conhecimentos para os alunos surdos. O que muitas vezes acontece é que esse 
intérprete não tem a formação necessária nesse conteúdo específico, e isso impacta 
de forma negativa no momento da tradução desses conteúdos. Somente o intérprete 
de língua de sinais não garante a aprendizagem desses sujeitos, tendo em vista que 
o ensino dos alunos surdos precisa levar em conta tanto as questões linguísticas 
quanto as culturais e sociais do aluno surdo. Essa questão envolve de forma direta a 
produção do material didático para os alunos surdos, de modo que podemos 
questionar: será que os materiais didáticos estão sendo pensados e elaborados para 
atender esses alunos? 
Apesar de muitos avanços, tanto em relação à concepção da surdez quanto em 
relação às políticas públicas, a produção de materiais didáticos bilíngues ainda é 
escassa. Segundo Moraes, Scolari e Paula (2013 apud GALASSO et al., 2018, p. 2), 
“[...] parte significativa da bibliografia de disciplinas técnicas é desenvolvida somente 
em língua portuguesa, e os alunos surdos contam somente com a exposição da aula 
interpretada, sem a possibilidade de revisar o conteúdo e estudar a partir de materiais 
didáticos produzidos em Libras” 
Outra questão importante apontada por Galasso et al. (2018) é em relação à 
infraestrutura das instituições, já que tanto as escolas quanto as universidades não 
têm infraestrutura física adequada para receber esses alunos ou métodos de ensino 
que contemplem a especificidade da Libras e da cultura surda. 
Em relação à produção do material didático, os tradutores-intérpretes de língua 
de sinais têm uma função essencial nesse processo, já que a tradução “[...] 
caracteriza-se como atividade constante e necessária para produção de qualquer 
objeto de aprendizagem bilíngue” (GALASSO et al., 2018, p. 4). 
Como você pode perceber, a produção e a tradução de material didático para 
o ensino de surdos requer um trabalho sério e comprometido com as especificidades 
tanto linguísticas quanto culturais e sociais dos sujeitos surdos. Ouseja, não há como 
 
81 
 
pensar em um ensino de qualidade para eles se todas essas características não forem 
pensadas e respeitadas no momento da elaboração desse material. 
9.2 Formas de Produção e Tradução de Materiais Didáticos na Educação de 
Surdos 
O reconhecimento da língua de sinais como uma língua oficial e com status de 
língua é bastante recente. Muitas pesquisas já foram realizadas e continuam sendo 
feitas para que possamos, a cada dia mais, conhecer esse universo de sinais que se 
desenha na contemporaneidade. Não é que os surdos ou a língua de sinais não 
existissem antes disso, mas, com certeza, muitos foram os avanços obtidos até hoje 
para chegarmos ao entendimento que temos sobre a surdez e sobre os surdos. 
Apesar disso, muito temos que aprender ainda, principalmente no que se refere à 
produção e à tradução de materiais didáticos para a educação inclusiva dos surdos. 
As políticas públicas voltadas para a educação de surdos têm incentivado a 
produção de materiais didáticos com acessibilidade em língua de sinais. No entanto, 
esse material ainda é escasso no contexto brasileiro. De acordo com Rosa et al. (2012, 
p. 1): 
É possível encontrar, no mercado editorial, dicionários virtuais, digitais e 
impressos, entretanto, são poucos os materiais voltados para o ensino da 
Libras. [...] Os dicionários existentes apresentam apenas o estudo 
lexicográfico da Libras, e não a língua em uso no contexto comunicativo. Os 
websites e programas de ensino da língua para uso na internet também 
seguem o mesmo modelo dos dicionários, sem atividades comunicativas. 
Além disso, os dicionários impressos não contemplam elementos básicos da 
Libras, como os movimentos e expressões faciais. 
O curso de Letras Libras na modalidade EAD é um exemplo de curso de 
graduação que produz material didático institucional para o ensino dos surdos. O 
curso iniciou na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que se tornou um 
centro nacional de referência na área de Libras, e, hoje, conta com vários polos 
espalhados por todo o Brasil. O objetivo do curso é formar professores que atuem no 
ensino da língua de sinais como primeira e segunda língua. Segundo Rosa et al. 
(2012), a metodologia utilizada no curso é diferenciada, tendo como foco a tecnologia 
visual, e todas as disciplinas são ministradas em língua de sinais, por 
videoconferência; além disso, os alunos têm acesso aos vídeos em língua de sinais 
por meio do ambiente virtual de aprendizagem (AVA). 
 
82 
 
A metodologia utilizada nesse curso tem como principal diferencial a 
preocupação com a modalidade da língua de sinais, de modo que todas as disciplinas 
são pensadas para atender às especificidades linguísticas dos surdos. Por exemplo, 
o ambiente virtual de aprendizagem possui um glossário de termos acadêmicos e 
outro da língua portuguesa explicado em Libras. Essa metodologia de ensino desperta 
no aluno o interesse pelo uso da Libras e também incentiva a exploração visual, 
característica principal dos surdos. Em relação ao material didático, as disciplinas são 
compostas por muitos vídeos e textos, e, para cada texto, há um vídeo com tradução 
em Libras. As atividades a serem desenvolvidas pelos alunos também se baseiam em 
vídeos, assim como os trabalhos a serem postados pelos alunos — o uso de imagens 
é a principal estratégia do curso. É importante destacar que o Curso de Letras Libras, 
na modalidade à distância, é ofertado apenas para alunos fluentes em Libras. Para os 
alunos ouvintes, a opção na modalidade presencial, no entanto, conta com uma 
metodologia diferente. 
Rosa et al. (2012, p. 5), baseados em uma bibliografia internacional, reforçam 
a importância da utilização de vídeos para elaboração das disciplinas: “O uso de vídeo 
permite o contato real com a língua de sinais, que é viso-gestual e que depende do 
contato visual para sua emissão e recepção”. Com base nessa premissa, o material 
didático elaborado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) segue a seguinte 
disposição: a) um glossário mínimo, que permita o estudo e a revisão em casa; b) 
produção de vídeos que utilizam a Libras em contextos reais em diálogos e outras 
situações da vida cotidiana; c) produção de pequenos documentários que 
problematizem e discutam a cultura surda. 
Para os professores, esses materiais produzidos deveriam apresentar as 
seguintes características: “1. o uso de uma linguagem visual capaz de prescindir, ao 
máximo, da linguagem escrita; 2. potencial comunicativo e 3. tecnologia de fácil 
manuseio” (ROSA et al, 2012, p. 6). 
Como você pode perceber, a principal preocupação da equipe responsável pela 
produção desse material didático é a de colocar a língua de sinais em primeiro plano. 
Isso fica claro com a utilização de vídeos e, também, com a preocupação em fazer 
vídeos de todos os textos escritos, o que, para a Libras, é fundamental. Isso não 
acontece na maioria dos cursos, ou seja, os textos são disponibilizados em língua 
portuguesa e os surdos precisam dar conta da leitura. Como sabemos, os surdos têm 
 
83 
 
dificuldades com a língua portuguesa na modalidade escrita. Mesmo que a legislação 
entenda que a língua portuguesa na modalidade escrita seja a L2 dos sujeitos surdos, 
essa questão precisa ser muito discutida e pesquisada — nesse sentido, uma opção 
que vem ganhando força é a escrita de sinais. 
Outra questão interessante em relação à produção e tradução de materiais 
didáticos voltados para a acessibilidade dos surdos é uma experiência realizada no 
Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e desenvolvida pelo Núcleo de 
Educação Online (NEO). Para os idealizadores do projeto, o primeiro passo para a 
produção de materiais didáticos bilíngues é a estruturação de uma equipe 
multidisciplinar que seja capaz de desenvolver ações pedagógicas (professores), 
linguísticas (tradutores-intérpretes) e técnicas (filmagem, design gráfico e edição). 
 
 
 
 
De acordo com Galasso et al. (2018), toda a produção de materiais didáticos 
produzidos pelo NEO é digital, justamente por considerar os aspectos visuoespaciais 
da língua de sinais. Os idealizadores do projeto ressaltam a importância do trabalho 
multidisciplinar para a construção de objetos de aprendizagem digitais. Essa equipe é 
composta por professores, desenhistas educacionais, designers gráficos, roteiristas, 
tradutores-intérpretes e equipe de estúdio. Nesse sentido, essa equipe multidisciplinar 
trabalha a partir de um fluxo de trabalho coletivo distribuído da seguinte forma: 
 
Pré-produção → tradução → pós-produção 
 
 
84 
 
Essas três etapas são importantes para a produção de materiais didáticos para 
a inclusão de alunos surdos no ensino superior. A etapa de pré-produção é dividida 
em cinco etapas, quais sejam: 
 
1. professor-autor desenvolve material bruto; 
2. professor-autor coloca o roteiro na aplicação; 
3. desenhistas educacionais fazem ajustes e retornam ao professor; 
4. roteirista estrutura no formato televisivo; 
5. professor-autor e desenhistas educacionais aprovam o roteiro para produção. 
 
A etapa de tradução é composta por tradutores-intérpretes que atuam no par 
linguístico Libras/língua portuguesa, enquanto na etapa de pós-produção atuam os 
designers gráficos, o editor de vídeo e locutores profissionais. 
A segunda etapa, a tradução, é um processo essencial na produção de 
materiais didáticos bilíngues, já que é a partir da tradução para a sua língua materna 
que os surdos adquirem o conhecimento de forma natural — ou seja, sem a tradução, 
não existe material acessível para os surdos. 
O trabalho de tradução requer uma análise minuciosa para verificar a proposta 
do material didático solicitado, o objetivo, o público-alvo, o estilo, o perfil mais 
adequado do tradutor-intérprete, etc. Essa análise é fundamental, tendo em vista que 
não é possível planejar um material didático pensado para o ensino superiore utilizá-
lo, por exemplo, no ensino fundamental. 
Galasso et al. (2018) trazem um exemplo de o quanto o trabalho de tradução é 
minucioso e requer tempo para a sua realização. No caso de um texto de 13 páginas, 
o tempo em média para tradução é de aproximadamente 40 horas, ou seja, uma 
semana de trabalho para realizar a tradução. Isso porque é importante lembrar que a 
tradução se faz da língua portuguesa para a língua de sinais, ou seja, de uma língua 
oral para uma língua gestual. 
O tradutor-apresentador também exerce uma função importante e complexa, já 
que cabe a ele fazer o ajuste do texto para o vídeo-registro, e são várias as técnicas 
utilizadas por esses tradutores para que o vídeo tenha a qualidade esperada pelo 
contratante. 
 
85 
 
Muitas experiências estão sendo realizadas na produção de material didático 
para o ensino dos sujeitos surdos, e o material didático digital desponta como uma 
excelente alternativa nesse sentido. Por meio dos vários recursos digitais disponíveis, 
é possível fazer um trabalho de tradução que contemple as especificidades do sujeito 
surdo. É importante que você lembre, também, que o material didático precisa ser 
pensado para as especificidades dos surdos e para o nível de ensino para o qual se 
pretende produzir o material. 
 
 
 
9.3 Avaliação de Materiais Didáticos Para o Ensino Dos Sujeitos Surdos 
A avaliação dos materiais didáticos bilíngues para o ensino dos sujeitos surdos 
é uma etapa fundamental no processo de produção desses materiais. Embora os 
materiais didáticos bilíngues para surdos ainda sejam escassos, algumas 
experiências importantes já estão sendo realizadas. No entanto, de um modo geral, 
muitas instituições ainda estão trabalhando com textos escritos na língua portuguesa, 
o que não é o ideal, tendo em vista que a língua natural dos sujeitos surdos é a língua 
de sinais. Esse material precisa ser traduzido para a língua de sinais para que os 
alunos surdos tenham acesso ao material na sua língua natural. 
Essa escassez de material não ocorre somente na área da Educação, outras 
áreas de conhecimento têm esse problema também. Cunha et al. (2018) produziram 
e avaliaram vídeos em Libras que foram utilizados com o objetivo de tornar acessível 
aos surdos informações importantes sobre questões de prevenção de algumas 
doenças, como a dengue e a tuberculose. 
 
86 
 
A utilização de vídeos na produção de materiais didáticos acessíveis bilíngues 
tem se tornado uma realidade no ensino de surdos, porque a tecnologia visual 
contribui para o diálogo da cultura surda e fortalece as questões identitárias, 
respeitando a forma de ser surdo. 
Contudo, é importante lembrar que esses materiais precisam ser produzidos a 
partir de conteúdos técnicos e linguagem adequada ao público-alvo a ser atingido. No 
que se refere aos materiais didáticos para surdos, o grande desafio é a questão 
linguística, já que os textos escritos estão na língua portuguesa, ou seja, uma língua 
oral e serão traduzidos para a língua de sinais, uma língua gestual/visual. 
Os vídeos foram avaliados por alunos surdos do ensino médio e também por 
intérpretes de língua de sinais. Os critérios adotados para avaliação foram pensados 
a partir das características linguísticas dos surdos e também das questões técnicas 
envolvendo a produção dos vídeos, como: 
 a estrutura dos aspectos sintáticos de Libras, que obedecem à ordem 
de: sujeito – verbo – objeto (SVO); 
 a não utilização de conjunções, preposições e artigos; 
 os verbos utilizados no infinito; 
 os termos específicos da disciplina (ou do material) que não têm sinal 
em Libras; 
 o uso da datilologia (soletração); 
 o uso dos classificadores; 
 a velocidade da tradução; 
 o layout dos vídeos; 
 adequação das legendas; 
 uso de imagens. 
 
De uma forma geral, tanto os alunos surdos quanto os intérpretes de Língua de 
Sinais sinalizam a eficácia e o uso de vídeos na produção de materiais didáticos para 
os surdos. No entanto, reforçam o seguinte: “[...] o uso de bons materiais didáticos é 
fundamental na transmissão desses conhecimentos. Logo, a produção deles com 
conteúdos técnicos e linguagem adequada às necessidades do público-alvo é 
imprescindível” (PIMENTEL et al., 2018, p. 3). 
 
87 
 
Teixeira e Baalbaki (2014), ao buscarem avaliar textos escritos na língua 
portuguesa para serem traduzidos para a língua de sinais, sinalizam que não existem 
critérios predefinidos tanto para análise quanto para avaliação de materiais em língua 
portuguesa (L2) para os surdos. Nesse sentido, as autoras encontraram na proposta 
de Tomlinson e Masuhara (2005) três tipos de avaliação que serviram de subsídio 
teórico para os seus estudos, quais sejam: 
 
 avaliação de pré-utilização; 
 avaliação durante a utilização; 
 avaliação de pós-utilização. 
 
Além desses três tipos de avaliação, as autoras, baseadas nos estudos de 
Holden e Rogers (2001), sinalizam alguns critérios que precisam ser considerados no 
momento de avaliar os materiais didáticos bilíngues dependendo do contexto de 
ensino e também das necessidades da turma. São eles: 
 
 interesse e relevância para o aluno; 
 facilidade de uso por professores e alunos; 
 nível do idioma; 
 abrangência e grau de dificuldade; 
 integração eficaz dos componentes; 
 adequação cultural; 
 apoio ao professor; 
 qualidade da apresentação física e durabilidade; 
 projeto, apresentação e facilidade de uso; 
 avaliação do aprendizado. 
 
As autoras reforçam que esses critérios não foram especificamente pensados 
para o ensino dos surdos, mas foram adaptados tendo em vista a falta de estudos 
elaborados na área da surdez. Nesse sentido, elas reforçam a ideia de que o material 
a ser produzido precisa ser pensado tendo em vista o modus vivendi surdo. Nesse 
sentido, as autoras elaboram os seguintes critérios de avaliação que contemplassem 
o jeito de ser surdo: 
 
88 
 
 referência à língua de sinais; 
 análise contrastiva das duas línguas; 
 inserção de elementos visuais. 
 
Muitos materiais, hoje em dia, podem ser encontrados na internet e utilizados 
como material didático, como textos, fotos, imagens, gráficos, modelos de atividades, 
entre outros — enfim, é um novo universo de possibilidades que se desenha. No 
entanto, é importante lembrar que estamos pensando em materiais didáticos que 
precisam ser traduzidos de uma língua oral para uma língua gestual e que, além disso, 
as questões culturais e sociais dos surdos precisam ser consideradas. Por isso, é 
fundamental verificar a procedência e a viabilidade desses materiais. 
 
10 A PEDAGOGIA BILÍNGUE 
A pedagogia bilíngue atua em processos relacionados ao ensino e à 
aprendizagem da linguagem, abordando os aspectos específicos desse processo 
pedagógico a partir da didática, da área educacional e dos mecanismos instrutivos 
que dialogam concomitantemente em duas línguas, ou seja, com o processo do 
bilinguismo no campo da educação (SOUZA, 2018). 
O interesse em questões relativas à pedagogia bilíngue é identificado por meio 
das inúmeras iniciativas sobre o ensino da língua de sinais no ensino regular em uma 
vertente da educação inclusiva. É importante destacar que a pedagogia bilíngue se 
baseia em princípios norteadores que são considerados elementares para a 
organização de todo o processo de ensino e aprendizagem do bilinguismo. 
Neste capítulo, você vai estudar esses princípios da pedagogia bilíngue, 
analisando a figura do professor como mediador da aprendizagem na perspectiva da 
diferença cultural e reconhecendo a importância da aprendizagem da língua de sinais 
por parte da sociedade.

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