Buscar

Quatro pecados capitais

Prévia do material em texto

Quatro pecados capitais
José Bonifácio manda em 1823, uma representação a assembleia Constituinte e
Legislativa do Império do Brasil, dizendo que o principal ostaculo a construção da naçao
brasileira era a existência da escravidão, que separava os brasileiros em castas e corroía as
entranhas da sociedade. Nessa época os escravizados eram 30% da população.
Hoje em dia o maior obstáculo continua sendo a desigualdade social, que abrange a
renda, a educação e outras dimensões da vida social. Em 2000 nosso país era o oitavo do
mundo em termos de PIB, mas quando dividido per capita, passava para a 34ª posição. O
índice de Gini é o mais alto do mundo. A pobreza medida pela OMS (menos de US$70,00
mensais) atinge 54% da população e há uma grande desigualdade entre regiões.
Quase 15% dos brasileiros ainda são analfabetos. Na região urbana do Nordeste, o
índice é de 29%, já na rural chega a 46%. No Sudeste em sua área urbana, é de 8,6% e na
rural, é de 25%. O analfabetismo funcional (menos de 4 anos escolares) atinge 50% da
população do Nordeste urbano e o Sudeste atinge 25%; na área rural o Nordeste tem 72% e
o Sudeste 49% (1997).
A cor das pessoas influencia na desigualdade. O analfabetismo entre brancos é de
9% e entre negros/pardos 22%. No quesito renda, 33% dos brancos recebem ate um salario
minimo, entre negros/pardos fica em 61%. Acima de 5 salários mínimos temos: brancos,
15%; pretos/pardos: 4%. A renda média branca é de 4,9 salários mínimos, pretos/pardos
2,2.
Ao celebrar os 500 anos da conquista desse território pelos portugueses, a elite
mistifica e o povo que comemora se ilude. Do ponto de vista histórico, 4 pecados capitais
ajudam a entender a persistência da desigualdade: O primeiro é a escravidão. No contato de
1502 da Coroa portuguesa com Fernando de Noronha para explorar o novo território já
estava previsto o comércio de escravos. Na época da conquista existiam mais ou menos 8
milhões de nativos, número que decresceu para 800 mil no final do período colonial. A
escravidão generalizou-se com o sequestro de cerca de 4 milhões de africanos. Sobre o
ombro deles a economia brasileira se sustenta até hoje. A cerca de 130 anos a escravidão
foi abolida legalmente.
O segundo é o latifúndio. A colonização brasileira era parte de um comércio, onde a
primeira coisa vendida para a Europa, foi o pau-brasil. Depois começou o comércio de
açúcar, que necessitava de grandes engenhos e muito capital/mão de obra, gerando
desigualdades na distribuição de terras. A 1ª lei de terras de 1850, exigia o cadastro das
terras públicas, o que até hoje não rolou, deixando espaço para grileiros ocuparem e
deixando trabalhadores sem um pedaço de terra para cultivar.
O terceiro é o patriarcalismo, que negou às mulheres direitos civis e políticos até
1930, e que causa assassinatos, violências e desigualdades salariais. O quarto é o
patrimonialismo, ou seja, quando o bem público é apropriado de maneira privada. Portugal
não tinha população suficiente para colonizar e governar o Brasil, por isso se utilizou da
cooperação das classes dominantes coloniais, que desenvolveram uma relação de
clientelismo e nepotismo político. Além disso, os 3 poderes fizeram acordos entre si de tetos
salariais que chegam a 77 vezes um salário mínimo (sem contar os acúmulos de
vencimentos e de aposentadoria, que somados chegam a 153 vezes).
Nos últimos anos houve um avanço na educação fundamental, diferentemente do
período colonial e republicano, onde se desprezou esse fator. Com relação a distribuição de
renda, houve um progresso nos 2 primeiros anos do Plano Real, mas a crise de 1999 desfez
isso. Segundo o IPEA, de 1990-1998, os 50% mais pobres perderam participação na renda
nacional, de 12,7% para 11,2%, e os mais ricos ganharam, de 62,8% para 63,8%. A
deterioração também atinge os direitos civis. A violência urbana nos anos 2000 no Rio de
Janeiro, Vitória, Recife, Niterói, Campinas e São Paulo, fazia com que as estatísticas de
homicídio no país fossem comparáveis às da Colômbia, onde havia uma guerra civil.

Continue navegando