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Perícias em Odontologia Conceituar, discutir e elucidar sobre a importância dos diversos tipos de perícias no âmbito civil, criminal, trabalhista e previdenciário, dando ênfase nas perícias em Odontologia. “O dever do perito é dizer a verdade; no entanto, para isso é necessário: primeiro saber encontrá-la e, depois querer dizê-la. O primeiro é um problema científico, o segundo é um problema moral.” Nerio Rojas (ROJAS, 1936) A Odontologia, assim como todas as profissões, pode ter em seu elenco de atuação profissional a realização da perícia. Segundo o Código de Processo Civil (Lei Federal nº 5.869, de 11/01/73) em seu artigo 420, “A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação”. Silva (1999) define que as perícias são operações destinadas a ministrar esclarecimentos técnicos à justiça e França (2001) como “um ato pelo qual a autoridade procura conhecer, por meios técnicos e científicos, a existência ou não de uma questão judiciária ligada à vida ou à saúde do homem ou que com ele tenha relação”. A perícia pode ser realizada em diversos âmbitos e não somente na área criminal como muitos acreditam. A perícia é requisitada pela autoridade que legalmente estiver conduzindo o inquérito e a ação judicial, como o juiz, que poderá ou não nomear um perito (FRANÇA, 2001). O perito nomeado deverá possuir os conhecimentos técnicos ou científicos para a realização da mesma. As perícias mais freqüentes são realizadas no fôro civil e criminal, sendo que no civil, analisa-se a possibilidade de ressarcimento de danos e na criminal, se houve infração penal descrita no Código Penal. França (2001) elaborou um Decálogo Ético do Perito, norteando os princípios éticos para auxiliar os peritos: 1. Evitar conclusões intuitivas e precipitadas Ter prudência e concluir racionalmente baseado em fundamentos científicos. 1. Falar pouco e em tom sério. Falar o imprescindível, argumentando e apresentando evidências em momento oportuno. 1. Agir com modéstia e sem vaidade O sucesso e fama devem depender da ótima conduta ética do profissional. 1. Manter o segredo exigido O sigilo pericial deve ser respeitado 1. Ter autoridade para ser acreditado Decidir com firmeza e manter suas decisões. 1. Ser livre para agir com isenção Não permitir que convicções, paixões e ideologias influenciem o resultado. 1. Não aceitar a intromissão de ninguém Não aceitar que alguém deforme sua conduta ética e profissional. Não permitir que as pessoas interfiram em suas decisões e em seus pareceres. 1. Ser honesto e ter vida pessoal correta É preciso ser honesto para ser justo, conferindo credibilidade e respeitabilidade para os casos em que trabalhar como perito. 1. Ter coragem para decidir O que sabe, o que não sabe 1. Ser competente para ser respeitado Atualizar os estudos permanentemente. Para a realização de perícias no âmbito civil, o Código de Processo Civil ainda acrescenta: “Seção II – Do perito Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no art. 421. § 1º Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente, respeitado o disposto no Capítulo Vl, seção Vll, deste Código. (Incluído pela Lei nº 7.270, de 10.12.1984) § 2º Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos. (Incluído pela Lei nº 7.270, de 10.12.1984) § 3º Nas localidades onde não houver profissionais qualificados que preencham os requisitos dos parágrafos anteriores, a indicação dos peritos será de livre escolha do juiz. (Incluído pela Lei nº 7.270, de 10.12.1984) Art. 146. O perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que Ihe assina a lei, empregando toda a sua diligência; pode, todavia, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo.” Nas perícias no fórum civil, caso seja necessário, o juiz nomeia o seu perito, que é denominado perito do juiz e cada parte indicará um assistente técnico que poderá elaborar quesitos a serem respondidos pelo perito do juiz e também podem criticar, concordar ou complementar o laudo do perito oficial, que poderá ser ou não aceito pelo juiz (CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - Lei Federal nº 5.869, de 11/01/73): “Art. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo. (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992) § 1º Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da intimação do despacho de nomeação do perito: I - indicar o assistente técnico; II - apresentar quesitos. (...) Art. 425. Poderão as partes apresentar, durante a diligência, quesitos suplementares. Da juntada dos quesitos aos autos dará o escrivão ciência à parte contrária. Art. 426. Compete ao juiz: I - indeferir quesitos impertinentes; II - formular os que entenderem necessários ao esclarecimento da causa. Art. 427. O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na inicial e na contestação, apresentarem sobre as questões de fato pareceres técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes. (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992) Art. 428. Quando a prova tiver de realizar-se por carta, poderá proceder-se à nomeação de perito e indicação de assistentes técnicos no juízo, ao qual se requisitar a perícia. Art. 429. Para o desempenho de sua função, podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder de parte ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer peças.” As perícias no âmbito criminal são idealmente realizadas por peritos criminais ou oficiais, mas da não existência de peritos oficiais, o juiz poderá nomear profissionais devidamente qualificados para a realização da perícia, como é descrito no capítulo II do Código de Processo Penal (Decreto-Lei n°3689, de outubro de 1941): “CAPÍTULO II DO EXAME DO CORPO DE DELITO, E DAS PERÍCIAS EM GERAL Art.158.Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo suprí-lo a confissão do acusado. Art. 159. Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão feitos por dois peritos oficiais. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) §1º Não havendo peritos oficiais, o exame será realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, entre as que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) §2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)” Com isso, em regiões brasileiras remotas, com a ausência de peritos odontológos, devidamente concursados, a autoridade competente pode nomear temporariamente um profissional para realizar uma perícia. No entanto, o profissional deve requerer a documentação oficial por escrito para que não haja interferência inapropriada e ilegal em uma perícia. Perícia na área civil O cirurgião dentista poderá ser requisitado como assistente técnico da defesa ou da acusação, na qual auxiliará na formulação de quesitos, na contestação do laudo pericial e acompanhamento do seu cliente durante a perícia realizada pelo perito do juiz. Já o perito do juiz será nomeado pelo juiz, sendo pessoa de sua confiança. As perícias na área civil em Odontologia ocorrem principalmente com processos contra dentistas por ressarcimentos de danos, como nos casos de responsabilidade profissional ou erro profissional odontológico; em casos de acidentes como o de trabalho, de trânsito e em casos de agressão com comprometimento de órgãos dentários.O arbitramento judicial de honorários profissionais, a exclusão de paternidade, a estimativa da idade, principalmente em casos de adoção e a avaliação de equipamentos odontológicos para fins contratuais e avaliação de seguradoras também podem ser realizados no âmbito civil (SILVA, 1997). “TÍTULO IX Da Responsabilidade Civil CAPÍTULO I Da Obrigação de Indenizar Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. (...) Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança. CAPÍTULO II Da Indenização Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. (...) Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.” Perícia na área criminal A perícia na área criminal em Odontologia é aquela realizada quando há a suspeita de um crime que envolva danos no sistema estomatognático ou para a identificação médico ou odonto-legal. Para um melhor entendimento, é necessária a definição de crime. Segundo o Código Penal (DECRETO-LEI N°2.848, de 7 de dezembro de 1940), o crime só existirá se uma lei anterior o definir: “PARTE GERAL TÍTULO I DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Anterioridade da Lei Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)” Todos os tipos de perícias que requerem a Identificação Humana deverão passar por requerimento da autoridade competente que na maioria das vezes é um delegado. Não se pode realizar uma perícia sem essa autorização. Caso um dentista seja convocado para realizar a perícia de identificação deverá ser por requisição, assim como disposto anteriormente. Baseado na divisão elaborada por Silva (2003), as perícias de identificação podem ser realizadas no vivo, no cadáver e nos esqueletos, e divididas didaticamente em: 1. Identificação no vivo: ● Presença de marcas de mordida na vítima ou no agressor ● Presença de marcas de mordida em alimentos e objetos ● Presença de marcas de mordida em alimentos e objetos 1. Identificação no cadáver: ● Indivíduos em adiantado estado de putrefação, afogados ou carbonizados, nos quais a identificação dactiloscópica é impossível devido à degradação ou ausências das polpas digitais. ● Casos de acidentes em massa como catástrofes naturais, acidentes de aviso, entre outros, nos quais inúmeras pessoas perdem a vida ao mesmo tempo dificultando o reconhecimento. ● Casos de dilaceração de corpos 1. Identificação no esqueleto: ● Identificação da espécie animal ● Estimativa do sexo ● Estimativa da idade ● Estimativa da estatura ● Estimativa do biótipo 1. Lesões corporais – traumatologia forense ● Análise do comprometimento da face e dos dentes em crimes e acidentes ● Análise da lesão em casos de erro profissional odontológico 1. Determinação da idade ● De criminosos sem idade comprovada ● De vítimas sem idade comprovada 1. Perícias de vestígios biológicos e manchas encontradas na local do crime ou no corpo da vítima ● Diagnósticos diferenciais de manchas de saliva, esperma, mucosidade vaginal, sangue, etc. ● Diagnósticos diferenciais de manchas de saliva, esperma, mucosidade vaginal, sangue, etc. ● Extração e análise do DNA de dentes ou seus fragmentos encontrados na local do crime Perícias na área trabalhista As perícias trabalhistas são realizadas quando a face e a boca são atingidas por algum tipo de acidente do trabalho e quando ocorrem doenças profissionais com manifestações bucais que serão melhores estudadas no capítulo de manifestações bucais de doenças profissionais. Perícias administrativas As perícias administrativas podem ocorrer em duas vertentes, segundo Silva (1997): Processos éticos e auditorias realizadas em convênios. No entanto, pode-se incluir nesse elenco as auditorias em saúde (parte administrativa) que visam a melhoria dos serviços prestados pelo consultório ou clínica odontológica. 1. Processos éticos realizados nos Conselhos Regionais de Odontologia: o cirurgião-dentista é avaliado sobre seus comportamentos éticos durante o exercício da odontologia, após uma denúncia de comportamento antiético. A perícia é realizada pela comissão de perícias e avaliações de tratamentos odontológicos e pela comissão de ética do Conselho Regional e/ou Federal. 2. Auditorias realizadas em convênios: São realizadas auditorias constantes que convencionalmente são denominadas de “perícias”. O cirurgião-dentista que trabalha com convênios declara expressamente que está ciente da realização dessa “perícia” no paciente em qualquer momento do tratamento odontológico, tanto no começo, como no final do tratamento. Algumas empresas realizam, obrigatoriamente, as “perícias” antes e depois do tratamento sendo que outras só a realizam aleatoriamente. Outros tipos de perícias Deve-se lembrar que segundo a Resolução CFO – 63/2005 – Consolidação das normas para procedimentos nos Conselhos de Odontologiao em seu artigo 63 - parágrafo único, citada anteriormente, que “se as circunstâncias o exigirem”, o cirurgião-dentista pode “estender-se a outras áreas, se disso depender a busca da verdade, no estrito interesse da justiça e da administração”. Dessa maneira, se o especialista em odontologia legal tiver conhecimentos adquiridos em cursos de pós-graduação ou mesmo com formação de perito criminal, ele poderá realizar outros tipos de perícias não descritas nesse curso, sendo vasta a sua área de atuação. Perícia em Local do Crime Conceituar os princípios da perícia em local do crime, abrangendo os cuidados necessários para a preservação dos vestígios encontrados no local do crime, assegurando uma cadeia de custódia O primeiro item a ser analisado em perícias criminais ou penais são os locais do crime, para isso, nesse capítulo serão discutidas algumas orientações sobre sua sequência e a sua realização. No Brasil, o perito criminal que realiza a perícia em local do crime. O cirurgião dentista perito pode acompanhar ou mesmo ser esse perito criminal concursado. É de suma importância que o perito tenha conhecimentos acerca da constatação e da preservação do local do crime para posterior perícia do local. Visando o estabelecimento de normas para coleta e exame de materiais biológicos para identificação humana, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) baixou a Resolução SSP-194 em 2 de junho de 1999 (São Paulo, 1999): Considerando: a) a necessidade de normatizar os serviços os periciais relativos à coleta de materiais biológicos para exames de identificação humana, tanto nos locais de crime quanto na pessoa humana, viva ou morta; b) que os procedimentos a serem seguidos pelos órgãos policiais e periciais oficiais devem estar em consonância com os ditames da legislação em vigor, e c) que é imprescindível a correta preservação das amostras para não haver contaminações ou outros prejuízos. (p. 104) Na mesma Resolução, em seu anexo, descreve os cuidados que devemos ter para a coleta, armazenamento e análise do material biológico para a extração de DNA. Os cuidados incluem utilização de luvas descartáveis,instrumentos de coleta, armazenamento e análise devem ser estéreis, a documentação completa do vestígio eleito para a coleta, incluindo-se fotografias da região, tipo de armazenamento entre outros, o armazenamento do material biológico úmido em sacos plásticos deve ser de no máximo 2 horas, ou quando possível, permitir que seque antes do acondicionamento final. Cada tipo de amostra de material biológico (sangue, saliva, osso, dente, etc.) deve ter sua coleta e acondicionamento individualmente descrito. Amostras que não estiverem adequadamente identificadas e documentadas podem ser questionadas; aquelas, que não forem corretamente coletadas, são passíveis de não serem analisadas; outras, se não forem devidamente acondicionadas, pode sofrer contaminação e se não forem criteriosamente preservadas, pode ocorrer decomposição e deterioração, impossibilitando sua utilização na investigação (FBI, 2003). A cadeia de custódia é definida pelo FBI (2006) como os procedimentos e documentos que garantem a integridade de uma evidência acompanhando sua manipulação e armazenagem do seu ponto de coleta até sua disposição final. Para saber mais sobre cadeia de custódia e sua importância, leia a dissertação de mestrado de Zouain (2011) em bibliotecadigital.fgv.br. A Agência Federal de Investigação dos Estados Unidos (EUA), mais conhecida como FBI (Federal Bureau of Investigation), em 2000 elaborou um guia para a investigação do local do crime (TWGCSI – Grupo de trabalho técnico da investigação do local do crime, 2000 – vide em www.fbi.gov), visando à padronização das práticas adotadas para a investigação do local do crime dos policiais e peritos americanos, tornando-se referência em investigação do local do crime. Eles elaboraram esse manual dividindo em cinco sequências: chegada á cena do crime, documentação preliminar e avaliação da cena, processando a cena, finalizando a investigação do local do crime. A coleta dos materiais biológicos do local do crime, como saliva, sangue e outros fluidos corpóreos e também os dentes ou fragmentos dentários devem ser minuciosamente colhidos, seja quando dispostos no local do crime ou quando forem de indivíduos devidamente identificados (INTERPOL, 2001). Qualquer que seja o material biológico a ser coletado, o manipulador deverá utilizar equipamento de proteção individual como luvas ou pinças devidamente estéreis. Amostras de sangue, saliva, sêmen ou mucosidade vaginal, encontradas na cena do crime, em vestes e nos corpos podem ser coletadas com esfregaços apropriados para esse procedimento. Aconselha-se esperar secar os esfregaços para posteriormente serem embalados em envelope de papel ou caixas de papel estéreis, evitando que a umidade facilite o crescimento de http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/9024/RELAT%C3%93RIO%20COMPLETO%20DEFESA.pdf?sequence=1 http://www.fbi.gov/about-us/lab/forensic-science-communications/fsc/april2000/twgcsi.pdf/view bactérias e fungos. Tecidos, dentes, ossos e fios de cabelos também podem servir de fonte de células para análise de DNA (FBI, 2003). A estocagem do material deve ser em refrigerador a 4°C ou em freezer a -20°C, no entanto, para longos períodos, estocar a -70°C (BUTLER, 2005). Outros cuidados devem ser tomados para a documentação das amostras coletadas na cena do crime: fotografar o local de remoção das evidências, realizar anotações da sua disposição e de características pertinentes, com uso de escalas específicas (figura 2) (SÃO PAULO, 1999; INTERPOL, 2001; FBI, 2003; BONACORSO, 2005). Na polícia técnico científica de São Paulo, existem os fotógrafos que realizam as fotografias do local do crime Identificação Humana - parte geral Conceituar metodologias de identificação humana, demonstrando suas características e diferenças, discutindo sobre sua importância nas Ciências Forenses Segundo Ernani Simas Alves (1965) a “identidade é o conjunto de caracteres físicos, funcionais, normais ou patológicos, que individualizam determinada pessoa” e a “identificação é o emprego de técnicas especiais para determinar a identidade de alguém”. Ainda acrescenta que a identificação “é o ato mediante o qual se estabelece a identidade de uma pessoa”. Dessa maneira, serão estudadas técnicas especiais para a individualização das pessoas, dando ênfase àquelas que podem ser utilizadas pelo cirurgião-dentista ou odonto-legista. Segundo Simas Alves (1965) e a identificação é dividida em: 1. Identificação Judiciária ou Policial: são métodos utilizados para reconhecimentos técnicos, caracterizando o indivíduo. E segundo Leitão e Silva, são divididos em: a. Identificação civil: estipula a personalidade jurídica da pessoa. b. Identificação criminal: visa colher informações sobre antecedentes ou ações criminais. 2. Identificação Médico-legal: exige conhecimentos médico-legais para chegar à identidade. Os conhecimentos em odontologia legal também fazem parte dessa divisão. Identidade é o conjunto de caracteres físicos, funcionais ou psíquicos, que individualizam determinada pessoa (ALVES, 1965), e Vanrell (2003) ainda acrescenta que “além da identificação física, inclui todos os elementos que possam individualizar uma pessoa, como: estado civil, filiação, idade, nacionalidade, condição social, profissão, etc.” A identificação já é o processo pelo qual se determina a identidade de uma pessoa (SILVA, 1997) ou um conjunto de procedimentos diversos para individualizar uma pessoa ou objeto (VANRELL, 2003). Leitão e Silva (2003) acrescenta que “a finalidade da identificação é permitir, de modo rigoroso e exato, a fixação da personalidade jurídica do indivíduo para todos os atos de sua vida pública ou privada”, abrangendo de forma completa a definição da identificação. Um método de identificação é aceito ao preencher os requisitos de unicidade e imutabilidade segundo Simas Alves (1965) e atualmente, Silva (1997), França (2001) e Vanrell (2003) acrescentam além desses, a perenidade, praticabilidade e classificabilidade: ● UNICIDADE: o conjunto de caracteres pessoais não podem ser repetido em outro indivíduo. ● IMUTABILIDADE: As características não mudam com o tempo. ● PERENIDADE: Os caracteres devem se manter ao longo do tempo, resistindo por toda a vida e até após a morte. ● PRATICABILIDADE: Procedimento praticável no dia-a-dia pericial. ● CLASSIFICABILIDADE: importante para o arquivamento dos dados, assim como a facilidade de comparaçãopost-mortem. No entanto, o exame de DNA, mesmo não possuindo, atualmente, a praticabilidade, por ser uma técnica mais complexa, requerendo conhecimento e equipamentos específicos e mais demorada que outras, ele é utilizado por permitir a identificação quando os outros métodos de identificação como a datiloscopia e a identificação pela arcada dentaria não são possíveis (veja nos próximos capítulos as suas características e relacione-as com esses requisitos básicos). A identificação médico-legal é sempre feita por legistas, exigindo conhecimentos de técnicas médico-legais e entendimentos de outras ciências relacionadas (FRANÇA, 2001). A perícia para a identificação odonto legal ou perícias criminais também exigem conhecimentos específicos e são realizadas por odonto-legistas ou peritos criminais especialistas em odontologia legal dentro dos Institutos Médicos Legais do Brasil. Como estudado anteriormente, outros tipos de perícias odonto-legais podem ser realizadas por especialistas em odontologia legal no âmbito civil e administrativo Identificação Humana - Datiloscopia Conceituar datiloscopia, demonstrar a metodologia de Vucetich e correlacionar sua importância nos processos de identificação humana A identificação humana pode ser realizada com diversas metodologias, alguns pesquisadores correlacionam a papiloscopia como parte da antropologia forense, no entanto, para fins didáticos, inicia-se o estudo da datiloscopia anteriormente, para seguir uma sequência recomendada na identificação humana, seguiremosos capítulos a seguir: datiloscopia, antropologia forense, identificação pela arcada dentária, e posteriormente nos últimos capítulos, a genética forense. A papiloscopia consiste no estudo das papilas dérmicas encontradas no corpo humano, como nos dedos, palmas das mãos, dos pés, entre outros (FIGINI, 2003). As impressões plantares, das palmas dos pés, exibem cristas papilares perenes e aqui no Brasil é utilizada principalmente nos recém-nascidos, garantido pela Lei 8069/90 em seu artigo 10, inciso II que cria a obrigatoriedade de impressão plantar do recém nascido. Já a datiloscopia é a “ciência que se propõe a identificar as pessoas fisicamente consideradas, por meio das impressões ou reproduções físicas dos desenhos formados pelas cristas papilares das extremidades digitais”, como definida por seu idealizador, Juan Vucetich (LEITÃO E SILVA, 2003). A impressão digital é a mais estudada e utilizada para a identificação humana atualmente. Foi desenvolvida por Juan Vucetich Kovacevich, em 1891, na Argentina. Foi por iniciativa de Félix Pacheco, que o Presidente da República, Dr. Rodrigues Alves, que em 05 de fevereiro de 1903, através do Decreto 4.764, introduziu a Datiloscopia como método mais simples e mais perfeito para identificar pessoas. Todos estes dados serão subordinados à classificação dactiloscópica, de acordo com o Sistema Vucetich, considerando-se, para todos os efeitos, a impressão digital como prova mais concludente e positiva da identidade do indivíduo, dando-lhe prioridade ao conjunto dos outros dados que servirão para complementação da individualidade (POLÍCIA CIVIL – RJ, 2008). As impressões digitais possuem todos os requisitos técnicos de uma técnica ideal, quando presentes em um indivíduo vivo ou morto, desde que suas papilas digitais estejam intactas, daí a sua importância nos processos de identificação humana: Perenidade: as cristas papilares e os desenhos aparecem antes do indivíduo nascer (sexto mês de vida intra-uterina); Imutabilidade: Única alteração é a cicatriz ou mesmo a deformidade, na qual ocorre a ausência de um dos dedos; Unicidade ou individualidade: Não existem duas impressões idênticas, nem mesmo nos diversos dedos de uma pessoa; Praticabilidade: Técnica simples e rápida; Classificabilidade: existe diversas classificações, entre elas a de Sistema de Vucetich (ARGENTINA, 1891). A impressão digital é dividida em: Sistema basal - Entre a segunda e terceira falange; sistema marginal - Bordas da impressão; sistema central ou nuclear - conjunto de impressão entre os dois sistemas anteriores; e delta - união de todos eles. A presença ou não de deltas numa impressão digital estabelece os quatro tipos fundamentais do Sistema Datiloscópico de Vucetich: verticilo, presilha interna, presilha externa e arco (Figura 3). Existe uma classificação utilizando-se os sistemas descritos para todos os dedos, sendo que o polegar da mão direita é denominadofundamental, sendo a base de todo o sistema. Os pontos característicos de cada impressão também são estudados e anotados. Esses pontos são denominados de linha, ponto, bifurcação, ilha, ilhota, desvio, fim de linha e outros que são comparados com a impressão digital que é investigada. Os poros presentes na pele também são utilizados para fins comparativos (SIMAS ALVES, 1965; FRANÇA, 2001; FIGINE, 2003, LEITÃO E SILVA, 2003; VANRELL, 2003). Classificação primária da datiloscopia do sistema Vucetich, também empregada no Brasil desde 1903 SAIBA MAIS Veja mais em http://www.youtube.com/watch?v=sttjWRxdjeE: Filme que mostra como a evolução histórica da identificação humana e posteriormente a análise das impressões digitais. Segundo Leitão e Silva (2003), a impressão digital encontrada na cena do crime ou de uma pessoa desconhecida deverá ser comparada com a impressão encontrada no http://www.youtube.com/watch?v=sttjWRxdjeE Sistema de Padrões Datiloscópicos, sendo que o fragmento de impressão digital tenha os requisitos: Existência de no mínimo 12 pontos característicos e uma impressão nítida e/ou existência de 8 a 12 pontos característicos, uma impressão nítida, ser classificável, sem nenhuma dúvida, presença de poros suficientes para confronto, ter o mesmo tamanho e largura dos sulcos e linhas na impressão padrão e na encontrada como vestígio. As impressões digitais não são iguais nem em gêmeos univitelinos, que possuem inclusive o mesmo perfil genético, ou seja, o mesmo DNA. Jain et al (2002) analisaram a similaridade da impressão digital de duas gêmeas idênticas ou univitelinas (proveniente do mesmo óvulo e espermatozóide, que se dividiu após a fertilização) e detectaram que mesmo sendo parecidas, não são idênticas ao serem analisadas com o auxílio de softwares específicos como o Digital Byometrics Inc. A remoção de impressões digitais de cadáveres, caso seja necessário, pode-se realizar a remoção/incisão das polpas digitais e com o próprio dedo do perito pressiona-se contra a ficha datiloscópica. No entanto, Porta et al (2007) recomenda uma técnica de tomada de impressões digitais por látex líquido, principalmente em cadáveres degradados ou mumificados. As impressões digitais são analisadas com auxílio de softwares específicos para essa finalidade, que aumentam a capacidade de visualização das linhas e possibilitam a comparação de pontos coincidentes (JAIN ET AL, 2002; PORTA ET AL, 2007). Antropologia forense Conceituar antropologia forense, demonstrar metodologias que estimam espécie, sexo, idade, cor de pele e estatura humana, que mi podem auxiliar na identificação humana A Antropologia forense é uma ferramenta importante para a identificação humana, principalmente em caso em que há a necessidade de reconstrução das características fisionômicas do indivíduo desconhecido. Em casos que não há indícios de identificação humana por não haver a possibilidade de análise pela datiloscopia, pode-se utilizar a identificação pela arcada dentária, que será estudado no próximo capítulo. Se mesmo assim, não houver possibilidade por falta de prontuário odontológico, há o advento do DNA. No entanto, essas três metodologias – Datiloscopia, Identificação pela arcada dentária e DNA (genética forense) requerem dados prévios para serem comparados e no caso do DNA, um suposto vínculo familiar genético, como pai, mãe, filhos, sendo que quanto mais próximo o parentesco melhor. Atualmente, a antropologia forense é utilizada amplamente em casos de identificação de cadáveres em estado avançado de putrefação, degradados ou mesmo esqueletizados. Aristóteles (384 a 322 AC) já havia descrito a palavra antropólogos, que seriam todos aqueles que se preocupavam com o estudo dos problemas relativos ao homem, já a antropologia estuda o aspecto físico dos indivíduos, assim como seus aspectos culturais (Arbenz, 1959): Antropologia = Anthropos (homem) + logos (ciência, estudo). É dividida em antropologia física e cultural. Sendo que a física será estudada nesse curso. A antropometria é a ciência que estuda o conjunto dos elementos mensuráveis do ser humano, fazendo parte da antropologia física. O Sistema Antropométrico de Bertillon foi o 1° método científico de identificação e foi introduzido em 1882 em Paris. Utilizavam-se dados antropométricos e sinais individuais após os 20 anos de idade. Os dados antropométricos são anotados e classificados. No entanto, havia certa complexidade de métodos, com falhas, sobretudo, no que se relacionava com as medidas que variavam naturalmente e aquelas que eram identificadas erroneamente pelos técnicos (FRANÇA, 2001). Eram realizadas diversas medidas pelo corpo todo e devidamente catalogadas, para visualizar as imagens, clique nos links: ● Fotografia de Bertillon realizando medidas antropométricas - Figura 01. ● Fotografia de Bertillon realizando medidas antropométricas - Figura 02. ● Mensurações realizadas por Alphonse Bertillon. Foto disposta no National Gallery of Canada, Ottawa - Figura 03. Veja mais: Histórico em inglês de bertillion,com as imagens contidas acima. Utilizando-se os conhecimentos da antropologia física, a identificação humana é realizada por diversos métodos, segundo o tipo de definição e os tipos de exames (SIMAS ALVES, 1965; SILVA, 1997; FRANÇA, 2001; SLAUS ET AL, 2007). Definição espécie A. Exames macroscópicos http://www.nlm.nih.gov/visibleproofs/media/detailed/iii_c_100c.jpg http://www.nlm.nih.gov/visibleproofs/media/detailed/iii_c_100c.jpg http://www.nlm.nih.gov/visibleproofs/media/detailed/iii_c_102.jpg http://www.nlm.nih.gov/visibleproofs/media/detailed/iii_c_102.jpg http://www.nlm.nih.gov/visibleproofs/media/detailed/iii_c_138.jpg http://www.nlm.nih.gov/visibleproofs/media/detailed/iii_c_138.jpg http://www.nlm.nih.gov/visibleproofs/galleries/technologies/bertillon.html I. Radiografias dos ossos: trama óssea é específica para humano. II. Osso da clavícula: 1. Forma um “S” itálico alongado. 2. Diferente de qualquer espécie. B. Exames microscópicos: I. Estudos histológicos do dente humano. II. Estudos histológicos dos ossos humanos. Definição do sexo A. Cadáver íntegro: visual, exceção: hermafroditas B. Carbonizados: verificar a presença de útero e ovário C. Esqueletizado: I. Pelve: apresenta maior dimorfismo sexual. 1. Classificação: a. Ginecóide: características femininas. No geral, existe menos proeminências e menos inserções musculares, tem forma arredondada e o diâmetro transversal supera a altura da pélvis. b. Andróide: características masculinas. No geral, possui mais proeminências, é mais robusta e possui mais ranhuras de inserções musculares, possui formato de coração e o diâmetro vertical predominam sobre as horizontais. c. Platiplelóide: características intermediárias e é considerado raro D. Pelo exame do crânio: A estimativa do sexo pelos elementos do crânio tem sua importância pericial, principalmente quando em casos que o mesmo é encontrado separado do corpo, ou existem dúvidas em relação à análise da pélvis (SILVA, 1997). As características femininas e masculinas de um crânio podem ser resumidamente apresentadas: Resumo das características da estrutura do crânio quanto ao sexo. Adaptado de Silva, (1997) e Vanrell (2003) Veja em 143.107.240.24/departamentos/social/legal/aula_estsex uma aula de estimativa do sexo pelos elementos dentários. Estimativa de altura: A. Existem diversas metodologias internacionais. B. Pode ser utilizada a mensuração do esqueleto inteiro, mas não é fidedigna, sendo passível de erros. C. Poucas para a população brasileira, a única mais recente é a tese de Mestrado de Freire (2000), na qual o autor estudou mensurações de fêmur, úmero, rádio e tíbia e comparou com a estatura de cada indivíduo, formulando uma tabela pra a estimativa da altura em brasileiros http://143.107.240.24/departamentos/social/legal/aula_estsex.htm Modelos ajustados para a estimativa da altura para indivíduos brasileiros, sendo U (tamanho do Úmero), R (tamanho do Rádio), F (tamanho do Fêmur), T (tamanho da Tíbia). Extraído da Dissertação de José J. B. Freire. A estimativa da altura por meio do estudo das dimensões do dentes é realizada pelo método descrito por Carrea em 1920 e estudado para a população brasileira por Silva, em 1971(SILVA, 1997). A estatura real dos indivíduos brasileiros foi de 70% entre o valor máximo e mínimo calculado por esse método, demonstrando não ser uma técnica confiável para essa estimativa. No entanto, Silva (1997) recomenda que todos os achados antropológicos podem ser significativos para chegar à conclusão final da perícia. Medidas realizadas: Corda - Mensurou-se o incisivo central e lateral e os caninos inferiores com o auxílio de um paquímetro. Arco - mesial do incisivo central até a distal do canino utilizando-se uma fita métrica. Contra-indicações: Dentes apinhados ou ausentes. Estimativa da cor da pele O crânio oferece mais características para a estimativa da cor da pele. O crânio fornece maiores possibilidades para a pesquisa da cor da pele do que outras estruturas ósseas (Birkby, 1966), pois se preserva com maior facilidade após a morte e pode ser classificado de diversas maneiras. Inicialmente, é necessária a definição de cada tipo descrito pelos diversos autores: A. Segundo a cor da pele (utilizada mais freqüentemente pelos autores brasileiros): I. Melanodermas: pele com melanina, característicos de pessoas com pele negra. II. Leucoderma: pele branca. III. Xantoderma: pela amarela – orientais e indígenas. B. Segundo a região – definição antropológica I. Caucasoíde: relativo a ou indivíduo pertencente à divisão étnica da espécie humana que inclui grupos de povos nativos da Europa, Sudoeste da Ásia, Norte da África, ou seus descendentes; caucasiano. A pele desses indivíduos varia entre as cores clara e morena, e os cabelos são finos, variando de lisos a crespos (DICIONÁRIO HOUAISS, 2001). Pode ser dividido em: 1. Nórdico: que habita o norte da Europa. 2. Alpino: que habita o centro da Europa. II. Mediterrâneo: que habita o sul da Europa. Varia entre os caucasianos, com pele mais escura. III. Indiano: que habita a Índia. Possui pele amarelo-avermelhada, cabelos pretos lisos e espessos, supercílios espessos, nariz saliente e longo, barbas espessas, fronte vertical e nariz mais salientes e longos. IV. Negróide: que habita a África subsaariana. Possui pele negra, cabelos crespos e em tufos, crânio pequeno, perfil facial prognata, fronte alta e saliente e nariz largo e achatado. V. Mongolóide: que habita a República Popular da Mongólia ou aos mongóis. Possui pele amarelada, cabelos lisos, face mais achatada, fronte larga e mais baixa, espaço interorbital mais largo, maxilares pequenos e menos salientes. VI. Australóide: aborígenes que habitam a Austrália. Possuem pele morena, arcadas zigomáticas largas e volumosas, prognatismo maxilar e mandibular e arcadas superciliares salientes. No Brasil, existe uma grande miscigenação ao comparar com outros países (Arbenz, 1988; Melani, 1995). Para a realização desses estudos, é necessária a análise e mensuração entre distâncias de pontos de reparos anatômicos específicos. Segundo Krogman (1955, APUD SILVA, 1997), alguns caracteres morfológicos crânio-faciais qualitativos são observados em diferentes tipos de grupos populacionais (Quadro 2), fornecendo uma ferramenta a mais para o estudo antropológico. Resumo das características crânio faciais qualitativos em diferentes grupos populacionais. Estimativa da idade A estimativa da idade fetal pode ser obtida pelos estudos: A. Quando se tratar de cadáver e esqueleto: I. Das características anatômicas macroscópicas. II. Da medida crânio-caudal e dos centros de ossificação. III. Das suturas cranianas. IV. Do crescimento e desenvolvimento do crânio e da face. B. Quando se tratar de indivíduo vivo: I. Métodos radiográficos em ossos longos A estimativa da idade normalmente é realizada observando-se a estatura, o peso, a presença de rugas, caracteres sexuais secundários e pela análise do desenvolvimento ósseo e dental. Uma das metodologias a ser utilizada para a estimativa da idade pelo crânio é o fechamento de suturas cranianas. Dorandeu et al (2008) recentemente publicou um artigo para a estimativa de idade pelas suturas cranianas com desvio padrão de 1 a 18,4 anos. Diversos estudos demonstram que os dentes são as estruturas orgânicas que fornecem os melhores subsídios para a estimativa da idade, sofrem menos interferências de fatores sistêmicos e de desnutrição, principalmente da vida fetal até os 21 anos aproximadamente, que termina o desenvolvimento dentário. Dessa maneira, quanto mais jovem, mais próximo da idade cronológica será a estimativa da idade. Para isso, o maior número de informações é necessário, tais como a mineralização e seqüência de erupção dentária, presença de patologias odontológicas (cáries, exodontias e periodontopatias) e sinais de envelhecimento (desgastes fisiológicos) (SILVA, 1997). Inúmeros autores descreverammétodos para diferentes populações ao redor do mundo (KVAAL ET AL, 1995; SCHMELING, 2007; CARDOSO, 2007). Um exame direto através de exame clínico é realizado analisando-se o número de dentes irrompidos, sua seqüência eruptiva e o estado geral dos elementos dentários. É realizado também um exame indireto através de radiografias, que permite a análise mais completa para a estimativa da idade pelos dentes. Pesquisas realizadas por Arbens e Mendel (apud SILVA, 1997) utilizam a idade mínima e máxima que o dente está presente, analisando a mineralização dos dentes, no entanto, verificaram que em indivíduos miscigenados podem não correspondem a idade, não sendo aconselhado utilizar a técnica isoladamente. A técnica mais utilizada e recomendada para a estimativa da idade pelo exame dos dentes aqui no Brasil, em indivíduos até aproximadamente 21 anos, é a descrita por Nicodemo, Moraes e Médici (1974): os autores relacionam os estágios de mineralização dos elementos dentários (Quadro 1): A. Primeiro estágio do desenvolvimento da coroa B. Um terço de coroa C. Dois terços de coroa D. Coroa completa E. Início de mineralização da raiz F. Um terço de raiz G. Dois terço de raiz H. Raiz completa Cronologia da mineralização dos dentes permanentes entre brasileiros, por Nicodemo, Moraes e Médici Filho Vide a aula online sobre estimativa de idade pelo exame dos dentes143.107.240.24/departamentos/social/legal/aula da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Reconstrução facial Para a realização da identificação humana, existe a necessidade de comparar dados previamente obtidos antes da morte para a realização do estudo datiloscópico, para a realização da identificação pela arcada dentária ou mesmo a análise de DNA comparando com o material genético de familiares (SILVA, 1997; VERZÉ, 2009, CARVALHO, 2009). Com isso, na presença de um corpo em estado avançado de http://143.107.240.24/departamentos/social/legal/aula_ei.htm putrefação, sem suspeita de identidade, fica praticamente impossível identificar a pessoa se não haver suspeita de familiares. Atualmente, a reconstrução facial pode ser utilizada para facilitar a identificação humana que poderá ser realizada posteriormente pela arcada dentária ou DNA. (CARVALHO, 2009; WIKINSON, 2010). Wikinson (2010) descreve diversas metodologias para a realização de reconstrução facial: um desenho em duas dimensões, com sobreposição de imagem em cima da foto de crânio; uma reconstrução manual em três dimensões (3D) utilizando argila com sobreposição por camadas simulando os músculos e a pele (veja uma reconstrução manual em www.youtube.com); e por fim a reconstrução em 3D por imagens computadorizadas (Veja mais no artigo completo, com fotos coloridas: www.ncbi.nlm.nih.gov e assista em www.youtube.com um vídeo completo demonstrando a aplicabilidade da reconstrução em 3D computadorizada). http://www.youtube.com/watch?v=6G0LvImAGAg http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2815945/?report=classic http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2815945/?report=classic http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Jbl27LHM1YI Parte 7: Identificação humana pela arcada dentária - parte 1 Conceituar as metodologias utilizadas para a identificação odonto legal, demonstrando a contribuição do cirurgião dentista para a identificação humana. Seu estudo envolve: anomalias dentárias, alterações funcionais e radiologia forense, arco dentário e rugoscopia palatina, assim como a importância da radiologia forense para a identificação pelos dentes. Em casos que envolvem a perda da impressão digital, não possibilitando a análise comparativa ante mortem da mesma, a segunda metodologia de escolha é a identificação pelos dentes ou pela arcada dentária ou identificação odonto legal. Os dentes constituem elementos preciosos na identificação, principalmente em carbonizados ou esqueletizados (SILVA, 1997; FRANÇA, 2001; VANRELL, 2003; PRETTY E SWEET, 2001; INTERPOL, 2008). Esse processo de identificação é também conhecido como Sistema Odontológico de Amoedo, como descrito no primeiro módulo, tendo como estratégia o levantamento completo das informações sobre a arcada dentária para formar um conjunto individualizador (FRANÇA, 2001). (Leia mais emhttp://www.ricardohenrique.com.br/artigos/artigo_importancia_odont_ident.pdf. Artigo sobre identificação pelos dentes) Os dados anatômicos dos dentes são analisados e utilizados pelos peritos: http://www.ricardohenrique.com.br/artigos/artigo_importancia_odont_ident.pdf ● Dente decíduo ou permanente ● Grupo de dente que pertence (incisivos, molares e pré-molares) ● Dente central ou lateral, primeiro ou segundo ● Dente presente na arcada superior ou inferior ● Dente presente no lado direito ou esquerdo ● Alterações dentárias de interesse pericial Diversas características particulares podem estar presentes na arcada dentária, incluindo as anomalias e alterações dentárias. Para que esses dados sejam devidamente documentados, é necessário que o cirurgião-dentista realize tais anotações em uma ficha odontológica adequada, que deve fazer parte do prontuário odontológico de forma completa (vide em http://cfo.org.br/wp-content/uploads/2009/10/prontuario_2004.pdf, Relatório final apresentado ao Conselho Federal de Odontologia pela Comissão Especial instituída pela Portaria CFO-SEC-26, de 24 de julho de 2002). Uma das características que pode-se estudar em casos que envolvem identificação humana são as anomalias dentárias, que podem ser encontradas em um indivíduo, podendo ser utilizadas para a sua individualização quando morto ou mesmo de um criminoso, como ocorre em marcas de mordida. Elas podem ser resumidas didaticamente, segundo Silva (1997) em: 1. Volume – heterometrias. a. Comum observá-los em dentes homólogos b. Podem ser: ○ Coronárias ○ Radiculares ○ Totais a. Tipos de alteração: ○ Microdontia ○ Macrodontia http://cfo.org.br/wp-content/uploads/2009/10/prontuario_2004.pdf Microdontia generalizada dos dentes incisivos inferiores, superiores e caninos. Dente incisivo central apresenta macrodontia. Verifique a diferença de tamanho entre os outros dentes da arcada. Fonte acessada em 10/03/08 1. Número a. Anodontia: ausência de elementos dentários ● Total ● Parcial a. Oligodontia = mais de 6 permanentes ausentes ● Podem ser: ● Verdadeira - agenesia ● Falsa – inclusão de elemento dentário a. Polidontia ● Verdadeira – extranumerários 1. Forma a. Conoidismo: dentes em forma de cones b. Dilaceração (curva ou desvio) do dente ou da raiz. c. Coalescência: ● Concreção – cemento une dois dentes. ● Fusão – presença de sulco nítido entre eles. Dois dentes fusionados. ● Geminação – uma única câmara pulpar. Um único folículo origina dois dentes soldados 1. Posição – Heterotopias a. Giroversão b. Vestibuloversão c. Linguoversão d. Lateroversão e. Mesioversão f. Distoversão g. Migração 1. Erupção a. Erupção precoce ou retardada b. Impactações 1. Hábitos a. Desgaste dos dentes ● Hábito de ranger. ● Roedores de unha: pode ocasionar desgaste dos dentes incisivos superiores e inferiores. ● Geofagia: comer terra ou outras coisas estranhas: pode ocasionar desgastes dos dentes posteriores. ● Fumadores de cachimbo: desgaste dos dentes localizado, exatamente na região que a pessoa segura ao cachimbo a. Escurecimentos dos dentes dos fumantes: a coloração fica mais amarelada ou até amarronzada. Todas as características citadas anteriormente deverão ser observadas e devidamente anotadas em ficha específica para a comparação com as características presentes no odontograma presente no prontuário do paciente elaborado previamente ao óbito, assim como as radiografias, modelos, tomografias e outros exames que houver disponível antes do óbito. No entanto, características como a forma dos arcos dentários, na norma horizontal, podem exibir variações de forma características como: Normal: em forma de arco de elipse, Trapezoidal, Triangular, Redonda: em "arco de ferradura" (arco decírculo) e Assimétrica (SCORALICK ET al, 2013). Veja um caso real, com imagens coloridas da identificação pelos dentes em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S1807-25772013000100012&lng=en& http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S1807-25772013000100012&lng=en&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S1807-25772013000100012&lng=en&nrm=iso&tlng=pt nrm=iso&tlng=pt (SCORALICK, Raquel Agostini et al. Identificação humana por meio do estudo de imagens radiográficas odontológicas: relato de caso. Rev. odontol. UNESP [online]. 2013, vol.42, n.1, pp. 67-71) As propriedades da rugoscopia palatina fazem com que ela seja uma das técnicas recomendadas para a identificação humana, não somente pelas suas formas e desenhos específicos e individuais (Figura__) e sim por serem imutáveis: Unicidade: apenas um único indivíduo pode tê-los. Imutabilidade: não mudam nunca de forma, nem mesmo após a morte. Individualidade: são absolutamente diferentes de uma pessoa para outra. Classificabilidade: possibilidade de classificá-los para facilitar sua localização racional em arquivos. Praticabilidade: utilização facilitada pelo baixo custo, facilidade de coleta etc. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S1807-25772013000100012&lng=en&nrm=iso&tlng=pt Diferentes tipos de rugas palatinas delineadas em dois modelos maxilares (a e b). Reto (S), Ondulares (W) e rugas curvas (C) são as formas mais prevalentes. Unificações (U) são menos comuns e não específicas (N) em poucos casos. As quatro disposições fundamentais das rugas palatinas, conforme CARREA (apud Silva, 1997) A radiologia forense deverá ser utilizada e segundo Brogdon (1998), a radiologia forense é indicada em casos de: Determinação de identidade; Investigação criminal; Avaliação de injúrias e morte acidental e não-acidental; Injúrias ósseas; corpos desaparecidos; balística forense; investigação civil em avaliação de tratamentos odontológicos e médicos e/ou procedimentos administrativos; educação; pesquisas e administração (prontuário do paciente). Traumatologia forense Conceituar e discutir sobre a traumatologia forense, demonstrando os possíveis agentes lesivos e suas implicações no corpo humano As lesões corporais estão presentes em diversos tipos de agressões e violências, assim como acidentes. As lesões corporais são estudadas pela traumatologia forense (ALVES, 1965). A traumatologia forense compreende o estudo sistemático das lesões produzidas por agentes lesivos exógenos, de modo a oferecer à Justiça subsídios, como: diagnóstico, classificação jurídica, nexo causal, se a lesão é vital ou pós-mortal, enquadramento legal e a gravidade do dano causado (CALABREZ, 1997). França (2001) define a traumatologia forense ou lesonologia médico-legal como o estudo das lesões e estados patológicos, imediatos ou tardios, produzidos por violência sobre o corpo humano, nos seus aspectos do diagnostico, do prognostico e das suas implicações legais e sócio-econômicas, tratando também das diversas modalidades de energias causadoras desses danos. Alves (1965) ainda define que as lesões corporais ocorrem quando um agente de natureza mecânica, física ou química atua de forma violenta sobre o organismo humano, resultando num dano anatômico, funcional ou psíquico. O Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de Dezembro de 1940), descreve o crime de lesões corporais e suas penas: CAPÍTULO II DAS LESÕES CORPORAIS Lesão corporal Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Lesão corporal de natureza grave § 1º - Se resulta: I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. § 2º - Se resulta: I - incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. Lesão corporal seguida de morte § 3º - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. (...) Lesão corporal culposa § 6º - Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano. (...) CAPÍTULO III DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE (...) Perigo para a vida ou saúde de outrem Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: (...) (...) Omissão de socorro Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Maus-tratos Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: (...) Os crimes são divididos em doloso e culposo, que são definidos pelo Código Penal: Art. 18 - Diz-se o crime: Crime doloso I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo Crime culposo II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Determinação do agente lesivo: os agentes são determinados por: Agentes mecânicos ● Ordem física ● Agente mecânicos ● Perfurantes ● Cortantes ● Contundentes ● Mistos: ● Cortocontu sas ● Perfuro cortantes ● Perfurocon tudentes Agentes não-mecânicos ● Temperatura: ● Frio ● Quente ● Pressão atmosférica ● Eletricidade ● Radioatividade ● Radiações não-ionizantes, Luz e Som Agentes biológicos Energias de ordem mista A partir de agora, os agentes lesivos são descritos de forma mais detalhada: Agentes físicos mecânicos: As lesões mecânicas são produzidas por instrumentos mecânicos podem ser externas ou internas, sendo que as externas resultam de instrumentos que ao colidirem com o corpo produzem alterações anatômicas variáveis e a segunda resulta de esforço ou da penetração de corpos estranhos no interior do corpo humano (Alves, 1965). Segundo Calabrez (1997), são as energias que tendem a modificar o estado de repouso, ou movimento, em parte ou de todo o corpo e correspondem a mais de 97 % dos casos IML, sendo 98 % dos casos de tentativa ou consumação de homicídio e crimes de lesão corporal. A classificação é dividida: formas puras ou mistas: Agente Modo de Contato Forma de Atuação Características Morfológicas Perfurante Ponto Pressão Ponta rígida, fina e alongada Cortante Linha Pressão e deslizamento Lâmina com gume Contundente Plano Pressão, choque, às vezes associado ao deslizamento, tração, etc... Superfície romba ou plana Formas mistas: ● Cortocontusas ● Perfurocortantes ● Perfurocontudentes A partir de agora até o final do capítulo, utilizando-se como referência as descrições de Souza Lima (1965), Calabrez (1997); França (2001); Vanrell (2003), foram dispostos a seguir de forma didática os tipos de agentes e os respectivos tipos de lesões produzidas: Agente Lesivo Físico Mecânico Perfurante: que agem idealmente por um ponto que, pressionado, lesa o corpo da vítima, produzindo ferimento punctório, provocando o afastamento das fibras dos tecidos. È causada por instrumentos afilados, pontiagudos, alongados, o seu diâmetro não é largo e tem-se como exemplos: lança, agulha, cone pequeno, flecha. Possuem como características: OE (orifíciode entrada), trajeto, OS (orifício de saída) pode ou não existir. Sua classificação médico legal é a sua profundidade é bem maior que a extensão da lesão. A lesão é denominada lesão punctória, na qual se o objeto não for retirado, o ferimento apresenta sangramento nulo ou mínimo e o OE geralmente é menor que o diâmetro do instrumento devido à elasticidade e retração tecidual. Já se o instrumento for cônico, a lesão pode ter aparência de “casa de botão”. O seu prognóstico é variável, sendo de total reparação ou levar à morte. Agente Lesivo Físico Mecânico Cortantes: Agem idealmente por uma linha representada pelo gume da arma, seccionando os tecidos, dando origem à lesão incisa. Agem por pressão e deslizamento, conjuntamente. Podem ser classificados como simples na qual ocorre a ação perpendicular do agente; com retalho, ação oblíqua do agente; mutilantes, ação tangencial à superfície; sendo que os dois últimos dilaceram os tecidos. Um exemplo perfeito é o bisturi clínico cirúrgico ou a navalha, que possui bise afiado e não necessariamente a ponta afilada. A extensão da lesão é maior que sua profundidade. Pode-se apresentar na região do pescoço como: Esgortejamento que ocorre na região anterior do pescoço; a Degola que ocorre na região anterolateral do pescoço; e a Decapitação, na qual há o seccionamento do pescoço do restante do corpo. Pode ocorrer no corpo todo ou em suas partes o esquartejamento. O seu prognóstico é variável desde sua reparação total como a morte e se a pessoa sobrevive fica cicatriz. Agente Lesivo Físico Mecânico Contundente: Atuam por pressão, deslizamento e tração, podendo originar impressões na pele. Ocorre uma variação das cores da lesão de acordo com o tempo de evolução após a ocorrência da lesão em pessoas vivas, que se deve pela transformação da hemoglobina provocada por reações químicas. Tal alteração de cores denomina Espectro equimótico de Legrand du Saulle conforme imagem disposta abaixo. Quanto aos agentes contundentes, podem ser ativos quando esse atinge o corpo que estava parado, como um projétil atingindo o corpo; ou passivo, quando o corpo se projeta para um agente que está parado, como em uma queda no chão. Existe diversos tipos de lesões ocasionadas por agentes contudentes: em forma de bastão; escoriação, com ligeira descontinuidade tecidual; lacerante, com perda de tecido epitelial e adjacentes; escalpelamento, um tipo de lesão lacerante que ocorre especificamente no couro cabeludo, arrancando dos os cabelos e os tecidos por meio de máquina rotatriz ou roda de moto e kart; lácero contundente, que ocorre em trauma em tecidos moles com a presença de tecido ósseo ou dente abaixo, como rebordos alveolares e lábios ou bochecha; equimoses, por derramamento sanguíneo; podem se apresentar como petéquias, em forma de pontos e hematoma, rompimento de vasos sanguíneos maiores e impressão cutânea, por chutes, unhas ou mão. Podem ocorrer as contusões profundas, levando a fratura óssea ou de dentes, luxação, rotura de órgãos internos, esmagamento, inclusive a própria decapitação por objeto pesado, derrame cavitário ou não cavitário. FORMAS MISTAS: Os agentes não podem ser classificados na forma pura e muitas vezes são mistos, como os perfurocortantes que perfuram e cortam ao mesmo tempo; os perfurocontundentes que perfuram e contundem por ação de pressão mesmo não sendo pontiagudos; e cortocontundente que cortam e contundem, pois não são afiados. Agente Lesivo Físico Mecânico Perfurocortante: Agem por pressão e deslizamento, assim como o agente cortante, no entanto, sua profundidade pode ser maior ou semelhante à extensão da lesão. Esse agente sempre terá uma extensão considerável, ao contrário da lesão incisa ou punctória pura. Um exemplo seria a própria faca, que apesar de poder ser somente cortante ou perfurante, pode também ser perfuro cortante. Nesse caso, ao perfurar, o agressor ainda puxa para um dos lados, seccionando o tecido de forma profunda e extensa, ocasionando a lesão perfuro incisa. Agente Lesivo Físico Mecânico Cortocontundente: Agem por pressão associado a força de impacto. Um objeto que pode ocasionar esse tipo de lesão é o machado, a foice e o facão não afiado, na qual, apesar de alguns terem um corte biselado, as que não possuem corte afiado, realizam um ferimento se não for aplicado uma força de impacto, ocasionando a lesão corto contusa. Frequentemente são mortais, pois causam lesões extensas e de difícil prognóstico. Agente Lesivo Físico Mecânico Perfurocontundentes: Agem por pressão extrema devido sua força de impacto e por serem de pequeno diâmetro causam lesões profundas no corpo humano, sendo considerados perfurocontudentes. O melhor exemplo é o projétil de arma de fogo, que quando disparado pela arma de fogo, atinge a pele em alta velocidade, ocasionando lesões profundas. Podem produzir orlas externas e zonas de tatuagem devido à presença de pólvora após ser disparado pela arma de fogo. Pode ser um ou múltiplos disparos, sendo que mesmo com um disparo único, alguns projéteis podem se fragmentar ou se dividir em vários fragmentos, aumentando o dano aos tecidos acometidos. Veja mais sobre o estudo dos projéteis de arma de fogo em http://www.youtube.com/watch?v=-M49ilO0iHY. AGENTES FÍSICOS PRODUTORES DE LESÕES Exposição ao frio: Diversas características podem estar presentes no corpo, tais como palidez da pele; retração dos mamilos e testículos; desordens do sistema nervoso; hipofuncionamento dos órgãos; baixa coagulação sanguínea; espuma sanguinelonta das vias respiratórias e a anemia cerebral. Ocasiona a hipotermia e pode ser grave se a pessoa não for rapidamente socorrida. Exposição ao calor: Pode ocorrer por calor difuso - insolação ou internação ou calor direto – queimaduras. As queimaduras podem ser classificadas em: 1° grau (rubefação da pele); 2° grau (rompimento da derme com aparecimento de flictenas); 3° grau (destruição da derme); 4° grau (carbonização de tecidos). São imagens fortes, mas que demonstram realmente como ficam os corpos após a carbonização em acidentes, principalmente, os aéreos:http://www.youtube.com/watch?v=2WPMiJBrLuM. Os http://www.youtube.com/watch?v=-M49ilO0iHY http://www.youtube.com/watch?v=-M49ilO0iHY http://www.youtube.com/watch?v=2WPMiJBrLuM cadáveres ao sofrerem por calor intenso, suas articulações e musculatura sofrem retração levando-os a ficar em uma posição retraída, como se fosse a de um boxeador se defendendo. Pressão atmosférica: Normalmente são acidentes em altas ou baixas profundidades atmosféricas, caracterizadas como “Mal-das-montanhas”, “Doença dos aviadores” em locais altos e problemas com mergulhadores, não havendo muita correlação com a odontologia. Eletricidade: A correte elétrica possui um excelente condutor no corpo humano que é a água, com isso, tecidos com maior retenção de água sofrem maiores danos, assim como o próprio sistema nervosos que pode com uma simples correte elétrica ser afetado, principalmente em crianças. Pode ser dividida em atmosférica e industrial ou artificial. Na atmosférica tem-se a fulguração, na qual a pessoa acometida por raio ainda está viva e possui perturbações oculares, digestivas, urinárias, confusão mental e queimaduras, no entanto, na fulminação, ocorre o êxito letal. Na eletricidade industrial, tem-se a eletropressão, morte causada por descarga elétrica e a eletrocussão, acidente causado pela corrente elétrica industrial sobre o organismo. A lesão característica por ação da eletricidade é a marca de Jelineck, podendo também acontecer outras lesões como a ruptura de órgãos internos, queimaduras e até a secção parcial ou total do corpo na região abdominal.Veja mais em http://www.youtube.com/watch?v=LBdHuBrRrbU, na qual profissionais da medicina demonstram no tratamento e prevenção de queimaduras. http://www.youtube.com/watch?v=LBdHuBrRrbU Radioatividade: O interesse médico-legal pode estar associado com bombas atômicas, esterilização, mutagênese: alteraçãono DNA com repercussão em doenças dificilmente detectadas. Um vídeo que demonstra muito bem as possíveis doenças após uma contaminação excessiva de radioatividade em Chernobyl:http://www.youtube.com/watch?v=Z4vMk5aCCg8. E outro que mostra a como ocorreu o bombardeio, contaminação e a sobrevivência após a bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki no Japão na segunda guerra mundial:http://www.youtube.com/watch?v=kreMfHRwjig. Outros cuidados estão relacionados com a prevenção da radiação ionizante oriundos de equipamentos de raios x: http://www.youtube.com/watch?v=hDTdPj0p52U. http://www.youtube.com/watch?v=Z4vMk5aCCg8 http://www.youtube.com/watch?v=kreMfHRwjig http://www.youtube.com/watch?v=hDTdPj0p52U AGENTE LESIVO QUÍMICO: São ocasionados pela utilização de produtos químicos industriais, como os ácidos e bases e outros tipos de produtos químicos utilizados comercialmente. Os cáusticos são os ácidos ou sais ácidos, que podem causar queimaduras químicas que posteriormente cicatrizam em pessoas vivas e são chamadas de vitriolagem devido a aparência de tecido brilhante (como o vidro) que as pessoas acometidas por ácido sulfúrico apresentam. Já os liquefacientes são compostos pelos básicos como hidróxido de sódio (NaOH) ou soda cáustica, que apresenta-se, ocasionalmente, como uso doméstico para a desobstrução de encanamentos e sumidouros pois é altamente corrosivo e pode produzir queimaduras, cicatrizes e cegueira. Reage com a água e aquecido suficientemente pode produzir chamas, de modo que é altamente recomendável possuir um extintor adequado ao trabalhar com o produto. Alguns autores também citam os medicamentos como agentes lesivos químicos, apesar de alguns serem de origem natural. Podem estar presentes em overdoses medicamentosas em casos de suicídios, por exemplo. AGENTES BIOLÓGICOS PRODUTORES DE LESÕES: Representadas pelas substâncias como os venenos, que atuam entrando em reação química com a célula viva, interferindo diretamente no metabolismo da célula e provocando processos degenerativos. Exemplos: medicamentos a base de produtos biológicos ou naturais, produtos químicos oriundos de animais e plantas tóxicas. Podem causar problemas graves e as pessoas devem ser imediatamente socorridas, principalmente se o veneno for de cobra (vide o vídeo http://www.youtube.com/watch?v=CSBUidkhnQw) AGENTES MISTOS E OUTROS AGENTES CAUSADORES DE LESÕES: Diversos casos que envolvem a Medicina ou Odontologia Legal, não há apenas um agente lesivo e sim vários, como ocorre em acidentes de massa, podendo haver diversos agentes lesivos, ou em agressões e torturas, no qual o criminoso muitas vezes utiliza de diversos agentes para causar as lesões. Com isso, é necessário que o perito em http://pt.wikipedia.org/wiki/Hidr%C3%B3xido http://www.youtube.com/watch?v=CSBUidkhnQw Odontologia Legal esteja sempre atento a esses detalhes ao realizar a necropsia, quando o indivíduo encontra-se morto, ou a perícia no esqueleto ou no vivo. ASFIXIA POR CONSTRIÇÃO DO PESCOÇO (ENFORCAMENTO, ESTRANGULAMENTO E ESGANADURA) E ASFIXIA POR SUFOCAÇÃO E POR MONÓXIDO DE CARBONO. Soterramento: Meio aéreo é substituído pelo meio sólido Afogamento: Meio aéreo é substituído pelo meio líquido, ocorrendo edema do pulmão, cogumelo de espuma nas narinas, brônquios e pulmão; maceração cadavérica (mão de lavadeira); e diluição da concentração sanguínea. Oxiprivas: ocorrem pela baixa concentração de oxigênio no organismo, podendo ser ocasionadas por: 1. Confinamento (ex. gases inertes) 2. Sufocação 1. Ativa ou direta: supressão do ar atmosférico pela presença de obstáculo. 2. Passiva ou indireta: supressão do ar atmosférico pela compressão do tórax. 3. Constrição do pescoço por enforcamento, estrangulamento ou esganadura. No enforcamento o indivíduo possui sulco cervical de enforcamento e conjuntivas do enforcado; já no estrangulamento, existe a presença de marcas oriundas do objeto utilizado para prender o pescoço; já a esganadura, ocorre obrigatoriamente com as mãos. Traumatologia forense aplicada a Odontologia Conceituar e discutir sobre a traumatologia forense, demonstrando os possíveis agentes lesivos, os danos no paciente e suas implicações nas áreas de atuações do Cirurgião Dentista. Na Odontologia, os cirurgiões dentistas podem presenciar e tratar diversas lesões que podem estar associadas a traumas, principalmente na cirurgia buco maxilo facial. O traumatismo facial está relacionado a acidentes automobilísticos, acidentes desportivos, agressões físicas, acidentes domésticos e trabalhistas. Nestes traumas pode-se ter danos aos tecidos duros e moles, causando traumas por vezes irreversíveis. Como foi disposto no capítulo anterior sobre lesões corporais, o Código Penal Brasileiro resguarda a integridade individual no artigo 129. Nas perícias no âmbito penal, a primeira preocupação é quanto ao tempo de incapacitação, sendo considerados todos os aspectos relacionados ao trauma: extensão e gravidade do dano, recuperação e reparação. O perito deverá analisar a extensão do dano, as suas conseqüências e seqüelas e segundo Cardozo (1997): “Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem” denota a maioria dos ferimentos de menor gravidade, inclusive quando afetam a região buco-maxilo-facial. Já a “Lesão corporal de natureza grave, §1°, I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias”, muitos dos traumatismos faciais, como fratura da mandíbula e maxila, cortes profundos no rosto, possuem tempo de recuperação acima de 30 dias, sendo que na maioria dos casos, existe a necessidade de avaliação da deformidade somente meses após a injúria. “§1° - III - debilidade permanente de membro, sentido ou função”, na qual os traumas que envolvem o aparelho estomatológico podem resultam principalmente em limitação de abertura bucal, dificuldade ou inexistência de movimentos mandibulares, falta de oclusão entre os dentes, dificuldade na mastigação e perda da estética pela perda dos dentes. “§2° - I - incapacidade permanente para o trabalho” sendo que os traumas no aparelho estomatognático podem resultar em incapacidade permanente para o trabalho principalmente: Falta de dentes e incapacidade de abertura bucal: dificuldade de falar adequadamente – locutores, professores, etc; problemas estéticos: principalmente modelos, apresentadores de televisão, etc. “§2° - II - enfermidade incurável” representadas por traumas na região da articulação têmporo mandibular; traumas na região maxilar – mandibular: dificuldades fonéticas, mastigatórias e estéticas; tramas nos dentes: dificuldades mastigatórias e conseqüentemente digestivas. “§2° - III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função” retratada principalmente pela perda de dentes de indivíduo que possuía todos os elementos ou quase todos, pode ser considerado a perda da capacidade de mastigação; limitação da abertura bucal: perda da capacidade de mastigação; lesão em nervos faciais, como pode ocorrer quando há a fratura de mandíbula, pode acarretar na perda da sensibilidade da região de mandíbula, lábios e parte da língua em alguns casos: perda da sensibilidade. “§2° - IV - deformidade permanente” associado a perda fonética, deglutição, mastigatória ou estética Cardozo (1997) ressalta que “a possibilidade de confecção de aparelho protético em nada muda a situação, uma vez que, das perdas dentárias, sempre restará um prejuízo permanente; por mais adequado que seja o tratamento recebido”. Nas perícias de âmbito civil, que repercute na reparação do dano causado à pessoa, sendo independente do processo criminal que pode ser realizado concomitantemente. Segundo o Código Civil Brasileiro: TÍTULO IX DA RESPONSABILIDADE CIVIL CAPÍTULO I DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. (...) Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. (...) CAPÍTULO I IDA INDENIZAÇÃO Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. Art. 946. Se a obrigação for indeterminada, e não houver na lei ou no contrato disposição fixando a indenização devida pelo inadimplente, apurar-se-á o valor das perdas e danos na forma que a lei processual determinar. (...) Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: I – no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II – na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima. Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido. Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez. Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho. Segundo Cardozo (1997), os prejuízos sofridos pela vítima poderão ser divididos em: Despesas de cura: todas as despesas deverão ser ressarcidas; Incapacidade temporária ou total: todo o valor não recebido em função dos dias parados no trabalho deverá ser contabilizado; Incapacidade parcial permanente: calculo do valor que a vítima potencialmente iria receber o restante de sua vida; Pretium doloris: Compreende as dores do momento de ocorrência do trauma até a reparação da lesão, ou se isso não acontecer, a dor que a vítima sentirá para o resto da vida; Prejuízo estético: dependendo do indivíduo poderá acarretar em um dano muito grave, podendo até incapacitar o indivíduo para as relações sociais, trabalhistas e matrimoniais, aumentando mais ainda o pretium doloris e a conseqüência do dano na vida da pessoa. Gassner et al (1999) analisaram a quantidade de lesões dentárias em 6000 pacientes com lesões faciais e detectou que 48,25% desses indivíduos possuíam lesões dentárias, estando presente em 57,8% dos acidentes decorrentes de atividades; 50,1% de práticas esportivas; 38,6% dos acidentes de trabalho; 35,8% dos atos de violência, 34,5% de acidentes de trânsito e 31% de acidentes não específicos que possuíam lesões faciais. Dentre as lesões dentárias ocorreram 50,6% de subluxação; 37,5% de fratura coronária; 7,4% de avulsionamento do dente; 2,5% de fraturas radiculares; e concussão em 2%. Em outro trabalho, Gassner et al (2003) analisaram 9543 pacientes com 21067 lesões crânio maxilo facial, identificando na população americana os tipos de lesões maxilo-faciais que ocorrem com mais freqüência, assim como os tipos de injúrias resultantes. Gassner et al (2004) também analisaram as causas das lesões de 3385 pessoas com idade até 15 anos e constataram que os acidentes ocasionados por atividade diárias e brincadeiras são mais comuns (58,2%), seguido pelos esportes (31,8%), como ocorreu também nos indivíduos acima de 15 anos (Gasssner et al, 2003). Tanatologia forense Conceituar e discutir sobre a tanatologia forense, demonstrando as alterações cadavéricas e a evolução da decomposição, assim como os fatores que podem interferir no corpo humano, acelerando ou retardando o seu processo. Apesar do óbito ser diagnosticado e declarado pelo médico, o cirurgião dentista deverá ter noções básicas sobre a tanatologia forense para que possa atuar de forma eficaz na identificação humana em Odontologia Legal. A competência do médico declarar o óbito é exclusiva (FRANÇA, 2001), sendo interessante o conhecimento da tanatologia forense pelo perito em odontologia legal, não para a declaração de óbito, e sim para o seu exercício juntamente com o médico-legista em casos que existe a necessidade de identificação odonto legal (SILVA, 1997). A morte é a “cessação total e irreversível das funções vitais que, no entanto, não desaparecem de uma só vez, razão pela qual se costuma dizer que a morte não é um fato e sim um processo que leva o organismo a uma série de transformações em que a volta à normalidade torna-se impossível” (SILVA, 1997). O conceito de morte é constantemente revisto principalmente com os modernos processos de transplantes de órgãos e tecidos existentes atualmente. Nesses casos, é necessário diagnosticar a morte encefálica, que é muito difícil de precisar e deve ser precisada com a análise de todos os parâmetros clínicos recomendados (FRANÇA, 2001). O exame tanatológico “consiste no exame do cadáver e na verificação das circunstancias que envolveram a morte”, envolvendo a necroscopia, que pode ser chamada de tanatoscopia, necropsia e autópsia. Vale à pena lembrar que apesar de usual, alguns autores consideram o termo autopsia, incorreto, pois significa auto-análise, o que não ocorre de fato (SILVA, 1997). A necrópsia é realizada em todos os casos de morte violenta e é disciplinada no Código de Processo Penal: “Art. 162. A autópsia será feita pelo menos 6 (seis) horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto.” Para as mortes naturais, não há nenhuma regulamentação no momento, sendo comumente realizada com a permissão de familiares, sendo recomendada principalmente em casos nos quais o médico não possui um diagnóstico da morte preciso (FRANÇA, 2001). Segundo Santos (2003-2004) a necrópsia médico-legal deve ser sempre completa, isto é, compreende a abertura da caixa craniana, caixa torácica, cavidade abdominal e a exploração de qualquer outro segmento corporal visando contribuir para o completo esclarecimento da causas mortis. As incisões das partes moles e as aberturas das estruturas ósseas permitem: a observação dos diferentes órgãos e sistemas, registrar as suas alterações morfológicas, patológicas ou traumáticas, e permitir também a sua retirada e posterior observação e corte de forma individualizada com registro dos achados relevantes. Por fim, as vísceras serão introduzidas novamente no interior das cavidades torácicas e abdominal e encerradas todas as incisões que foram necessárias realizar. Procurar-se-á entregar à família o cadáver nas melhores condições possíveis, devendo o médico que realiza a autópsia não proceder a qualquer exploração para além das previstas pela técnica da autópsia que não seja justificada e que de algum modo possa desfigurar o cadáver. No decorrer da autópsia e dependendo do caso em análise o médico pode solicitar exames complementares: Exames toxicológicos (nível de álcool e drogas no sangue, medicamentos, inseticida, monóxido de carbono, etc); exames bioquímicos, metabólicos, histológicos, bacteriológicos e virulógicos; pesquisa de esperma(cavidade oral, vaginal, anal, outra) e de outros tipos de materiais biológicos como saliva, urina e fezes; DNA: identificação de material biológico do(s) possível(is) suspeito(s) e para identificação do cadáver; pesquisa de resíduos de disparo de arma de fogo, exame de projéteis, armas e instrumentos que causam a lesão; exame de peças de vestuário; Raios X e quaisquer outros que possam contribuir com a investigação do óbito (SANTOS, 2004). Veja em http://www.youtube.com/watch?v=1yalUkThPqk uma necropsia completa. Além da necropsia, a perinecroscopia, exame do cadáver no local dos fatos, pode ser realizada; assim como a tanatognosia, diagnóstico da realidade da morte, e a cronotanatognosia, que é o conhecimento do tempo da morte (FRANÇA, 2001), que é realizada seguindo os diversos parâmetros: ● Cadáver ainda quente: morte recente, de uma a duas horas ● Cadáver com temperatura sensivelmente inferior a 37°C: pouco mais de 2 horas ● Temperatura de cadáver “morno”, com rigidez total, ausência de mancha verde: morte há pouco mais de oito horas ● Cadáver frio, rigidez total, mancha verde inicial: 20 a 30 horas França (2001) didaticamente resume os fenômenos cadavéricos a serem descritos a seguir em um calendário denominado “da morte”:Quadro 9: Calendário “da morte” contendo as características cadavéricas (FRANÇA, 2001). Características cadavéricas Tempo após a morte http://www.youtube.com/watch?v=1yalUkThPqk%20uma%20necropsia%20completa Corpo flácido, quente e sem livores Menos de 2 horas Rigidez da nuca e mandíbula Esboço de livores Esvaziamento das papilas oculares no fundo do olho De 2 a 4 horas Rigidez dos membros superiores, da nuca e da mandíbula Livores relativamente acentuados Anel isquêmico de ½ do diâmetro no fundo do olho De 4 a 6 horas Rigidez generalizada Manchas de hipóstase Não surgimento de mancha verde abdominal Mais de 8 e menos de 16 horas Desaparecimento das artérias do fundo do olho Rigidez generalizada Esboço de mancha verde abdominal Reforço da fragmentação venosa Desaparecimento das artérias do fundo do olho Mais de 16 e menos de 24 horas Presença de mancha verde abdominal Início de flacidez Papilas e máculas não localizáveis no fundo de olho De 24 a 48 horas Extensão da mancha verde abdominal Fundo de olho reconhecível só na periferia De 48 a 72 horas Fundo de olho irreconhecível De 72 a 96 horas Desaparecimento das partes moles do corpo e presença de insetos De 2 a 3 anos Esqueletização completa Mais de 3 anos Utilizando-se como referência os fenômenos cadavéricos descritos por Souza Lima (1965); Silva (1997); França (2001) e Vanrell (2003), realizou-se um roteiro explicativo didático a seguir: a. Fenômenos abióticos imediatos: Perda da consciência, insensibilidade geral e dos sentidos, imobilidade e abolição total do tônus muscular, máscara da morte: relaxamento dos músculos da face, modificado os traços fisionômicos originais, faltando-lhe uma expressão; inércia; relaxamento esfinctérico: pode resultar na saída de substâncias fecais; midríase (dilatação pupilar): no momento da morte as pupilas se dilatam e se contraem depois; cessação da respiração, da circulação e da atividade cerebral: registro da atividade diencefálica. b. Fenômenos abióticos consecutivos: Desidratação cadavérica: sofre evaporação tegumentar, ocasionando decréscimo de peso, pergaminhamento da pele: com a evaporação tegumentar, ocorre o ressecamento e endurecimento da pele, ficando com a aparência de pergaminho; dessecamento das mucosas dos lábios; modificação dos globos oculares com opacificação da córnea, deformação da íris e da pupila. Ocorre também o algor mortis, livor mortis e rigor mortis que será detalhado a seguir: O Algor mortis consiste no resfriamento corporal, iniciando-se pelos pés, mãos e face. De maneira geral, órgãos internos mantêm-se aquecidos por 24 horas em temperatura ambiente, sendo que vários fatores influenciam: temperatura ambiente; presença de gordura na pele (obesos demoram mais pra esfriar); envoltos em roupas ou não; doenças crônicas e hemorragias ante-mortem resfriam mais rapidamente o corpo; insolação, internação, intoxicação por venenos e doenças infecciosas agudas apresentam esfriamento mais lento. Livor mortis caracteriza-se pelo aparecimento de manchas de alteração de coloração do corpo humano, oriundo da própria putrefação cadavérica e autólise tecidual. Inicia-se por manchas de hipóstase cutâneas ou manchas de posição, tendo seu aparecimento: 2 a 3 horas após a morte, sua fixação de 8 a 12 horas e permanece na mesma posição caso se vire o cadáver, permitindo diagnóstico de alteração do local do crime. Rigor mortis caracteriza-se pela rigidez cadavérica, tendo uma ordem de aparecimento - Lei de Nysten – Sommer na sequencia: face, mandíbula e pescoço; seguido de membros superiores e tronco e por fim membros inferiores; e seu desaparecimento ocorre na mesma ordem. Seu aparecimento inicia-se de 1 a 2 horas após a morte com grau máximo de 8 a 12 horas e seu desfazimento inicia-se em 24 horas, com isso, em temperatura padrão de 25°C, não é recomendado que o corpo seja inumado, isso quer dizer, enterrado, após esse tempo do óbito. O espasmo cadavérico pode ocorrer e é raro, caracterizando-se quando a vítima normalmente é torturada ou quando surpreendidas pela morte. a. Fenômenos transformativos ● Autólise: fenômenos fermentativos dentro da célula motivados pelas próprias enzimas celulares proteolíticas, alterando inicialmente o citoplasma e em seguida o núcleo da célula até o seu completo desaparecimento. ● Maceração: processo especial de transformação que sofre o cadáver do feto no útero materno do sexto ao nono mês de gravidez, na qual se observa o destacamento de pele assemelhando-se a luva e avermelhada, iniciando a perda de tecidos e ossos dentro do útero. ● Putrefação: ocorre pela decomposição pelas bactérias saprófitas presentes no intestino. Possuem quatro fases: Fase de coloração: ● Período post-mortem: 16 a 20 horas, permanece por 7 dias ● Presença de mancha verde abdominal Fase gasosa: ● Período post-mortem: 1 a 3 semanas ● Ocorre devido aos gases da putrefação, com bolhas em todo o corpo, inchando de forma generalizada aumentando o tamanho real do mesmo. Fase coliquotativa ou liquefação ou coliquação: ● Período post-mortem: de um a vários meses ● Depende das condições ambientais ● Liquefação dos tecidos ● Aumento do número de larvas de insetos Fase esqueletização: ● Período post-mortem: Cronologia muito variável ● início - terceira a quarta semana ● término - seis meses a anos Diversos fatores que influenciam em toda essa evolução temporal, tais como clima, quanto maior e mais úmido mais rápido ocorre; ambiente com fauna cadavérica, tais como animais carnívoros, insetos e outros que podem se alimentar no corpo; ar livre; inumação, local de enterramento pode facilitar ou dificultar; submersão em água pode acelerar o processo; e em carbonizados: pode ocorrer a fragmentação dos ossos. a. Fenômenos Conservadores: São fenômenos que podem conservar o corpo ● Mumificação: ● Artificiais: processos especiais de conservação (ex. múmias egípcias) e embalsamamento ● Naturais: a. Clima quente e seco e perda rápida de água que impede a ação microbiana responsável pela putrefação (Vide vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=yMMTDwFaSZM de corpos conservados naturalmente. ● Saponificação: transformação do cadáver resultando em aparência de sabão. Ocorre com excesso de umidade, terrenos argilosos, terrenos sem circulação de ar atmosférico, sendo mais freqüentes em indivíduos obesos, com grande quantidade de gordura corporal. ● Corificação: Ocorre em cadáveres acolhidos em urnas metálicas de zinco hermeticamente fechadas. Não se sabe ao certo o processo, mas ocorre um tipo de mumificação natural. ● Congelação: Cadáver submetido a baixíssimas temperaturas ● Conservação plena do cadáver ● Temperaturas abaixo de -40°C podem conservar o corpo por tempo indefinido. Lesõesvitais (in vitam) e pós morte (post mortem). Outra característica que deve ser analisada sãs as lesões presentes no cadaver que podem ser lesões adquiridas quando a pessoa estava viva (in vitam) devem ser diferenciadas daquelas que adquiridas depois da morte (post mortem), principalmente para estimar a causa da morte. Características como presença de hemácias fora do sistema circulatório – arterias, veias e capilares em tecidos adjacentes são caracteristicas de lesoes em vida, assim como a coagulação sanguínea e se houver descontinuidade tecidual, retração tecidual. As bordas da lesão ficam eritematosas – avermelhadas, contendo hemácias impregnadas, sendo visíveis mascroscopicamente ou microscopicamente por exame histológico. Marcas de Mordida Conceituar e apresentar técnicas de análise de marcas de mordida, demonstrando a sua utilização em identificação humana. As marcas de mordida podem estar presentes em casos de violência sexual, agressões e tentativa de defesa. Mordidas são lesões complexas produzidas pela pressão do apertamento dos dentes com ou sem descontinuidade tecidual. A mordida é complementada pela pressão dos tecidos moles da pele pelos lábios e pela língua (WHITTAKER, 1990; MELANI, 1997; MARQUES, 2004). A marca de mordida pode ser encontrada na pele ou em objetos inanimados, podendo ser produzida pelo homem ou por algum animal (CLARCK, 1992; MARQUES 2004). Em uma mordida, os dentes podem produzir vários tipos de lesões, incluindo eritema, contusão, abrasão, laceração, ou avulsão tecidual (SWEET & SHUTLER, 1999; MARQUES, 2004). O mais importante passo para a análise da marca de mordida é reconhecê-la como uma injúria. Os próximos passos são documentá-la e analisá-la. São utilizados métodos comparativos para a análise, tais como medida do arco, tamanho e formato das incisais dos dentes e alinhamento dentário (THALI et al, 2003). È muito importante que se siga uma manual para a análise de marcas de mordida. O mais recente dói da American Board of Forensic Odontology que publicou em agosto de 2013 o seu manual atualizado a partir da página 113 (vide mais informações emhttp://www.abfo.org/resources/abfo-manual/). As marcas produzidas pelos dentes na pele ou em objetos podem auxiliar na identificação do agressor devido às particularidades morfológicas de cada dente, como tamanho, formato, desgastes, rotações, diastemas, giroversões, restaurações, fraturas ou ausência do mesmo. (MELANI, 1997; MARQUES, 2004). A análise da marca de mordida não se limita exclusivamente ao estudo dos dentes do agressor. Deve-se levar em consideração além dos dentes do mordedor, a ação da língua, dos lábios e das bochechas, devido à ação da musculatura, e a parte do corpo que foi afetada (LEVINE, 1977; MELANI, 1997). Em alguns casos, a mordida pode ser identificada de forma bem visível, ao passo que outras não (Marques, 2004). As marcas de mordida freqüentemente podem ser bem definidas, pois o agressor normalmente morde a vítima vagarosa e intencionalmente, e podem apresentar-se como uma leve reentrância na pele até lacerações com penetração até os tecidos mais profundos. Constantemente, as marcas apresentam formatos ovais, elípticos ou circulares (MELANI, 1997). Pode existir na marca de mordida, a equimose - mancha na pele derivada de extravasamento de sangue das veias ocasionada por contusão – que pode ter ocorrido pela pressão positiva dos dentes ou pela pressão negativa causada pela sucção e empurramento pela língua (AMERICAN BOARD OF FORENSIC ODONTOLOGY, 2013). Nas pessoas que sobreviveram às lesões sofrem o processo de reparação tecidual, na qual ocorre uma mudança de cor ao passar dos dias até o seu total desaparecimento podendo auxiliar na estimativa do tempo decorrente após a mordedura (WRIGHT & DAILEY, 2001), semelhante ao espectro equimótico de Le Gran Du Salle retratado no capítulo de Traumatologia, no agente física mecânico contundente. O tempo será estimado analisando-se a cor da equimose, que passará da enegrecida ou http://www.abfo.org/resources/abfo-manual/ arroxeada, à violácea após 2 ou 3 dias, mudando para esverdeada entre 4 ou 5 dias, e por fim para a cor amarela e branca, extinguindo-se o processo equimótico, ao fim de 10 a 20 dias. Essa seqüência sucessiva de matizes foi denominada de espectro equimótico, sendo que esses prazos podem variar de acordo com a idade e a constituição do indivíduo, dependendo da natureza, estrutura e vitalidade dos tecidos lesados (SOUZA LIMA, 1933). Marcas de mordida podem ser encontradas em diversos tipos de alimentos, tais como frutas, chicletes, chocolates e em outros tipos de objetos como chaves, borracha, além da mordida na pele. Identificação pela marca de mordida é baseada na individualidade da dentição de possíveis suspeitos, que é usada para comparar com a marca encontrada na vítima (THALI ET AL, 2003; MARQUES, 2004). Marques (2004) testou diversas metodologias para análise de marcas de mordida e concluiu que técnicas de sobreposição de imagens obtidas do modelo do suspeito com as fotos das mordidas se mostraram mais eficazes, no entanto recomenda que se utilize no mínimo duas técnicas diferentes. (Veja mais em:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/23/23142/tde-30082004-141220/pt-br.php). Melani (1997) descreve duas metodologias para a obtenção do registro do contorno das superfícies incisais e oclusais dos dentes feito com folhas transparentes de acetato para a sobreposição com a fotografia da lesão. Uma metodologia consiste em obter uma fotografia do modelo para posteriormente copiar o registro em papel transparente, sendo que na outra, realiza-se o registro em folha transparente ao realizar um contato direto do modelo de gesso com a mesma. Outras técnicas de sobreposição de imagens podem ser utilizadas. A sobreposição de imagens com o auxílio de programas de computador, aprovada pela ABFO (2002), pode oferecer uma facilidade a mais para a sua análise. Deve-se tomar cuidado ao fotografar as imagens para não haver distorção (Clarck, 1992). Rawson et al. (1986) relata que a distorção fotográfica pode dificultar o entendimento e a interpretação quando a tomada fotográfica foi realizada com ângulos http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/23/23142/tde-30082004-141220/pt-br.php desconhecidos. Se houver possibilidade, a correção dessa distorção deve ser realizada. Bowers & Johansen (2001) demonstram como o programa Adobe® Photoshop® pode auxiliar na retificação da distorção de marcas de mordida com o auxílio de uma escala ABFO, n°2. Segundo Sweet et al. (1996), a saliva depositada na pele durante o ato da mordida pode ser coletada para a extração do DNAe posterior análise do perfil genético do depositor. Ao depositarem saliva na pele de cadáveres, realizaram a sua coleta após 5 minutos, 24 e 48 horas, e constataram que a concentração de DNA extraído da saliva até 24 horas após a sua deposição diminui, no entanto, fica estável a partir desse tempo até 48 horas. Relacionando-se a saliva com as marcas de mordida, Sweet et al. (1997) preconizaram uma metodologia de coleta de saliva depositada sobre a pele Double Swab Technique (técnica do duplo esfregaço com algodão). A técnica consiste em utilizar duas hastes com algodão (swab) estéreis para a remoção da saliva impregnada na pele, sendo uma umedecida com água estéril e a outra seca, que são usados um em seguida do outro. Segundo os autores, a técnica permite coletar uma maior quantidade de material biológico para a extração de DNA Identificação humana pelo DNA Conceituar as metodologias utilizadas para a identificação humana pelo DNA utilizando material biológico como dente, saliva e sangue e sua aplicação na prática forense. A identificação humana pelo DNA pode ser competência legal e atuação do cirurgião-dentista, pois os textos legais que regulamentam o exercício profissional garantem esta atuação, principalmente quando envolvem dentes e saliva. A Lei 5081, de 24 de agosto de 1966 (BRASIL,1966) em seu Art. 6o, incisos IV e IX, como visto anteriormente no capítulo de exercício lícito da odontologia, determina: “Compete ao Cirurgião-Dentista:IV - proceder à perícia Odonto-Legal em foro civil, criminal, e trabalhista e em sede administrativa; ... IX - utilizar, no exercício da função de perito-odontólogo, em caso de necropsia, as vias de acesso do pescoço e da cabeça”. A Resolução CFO-63/2005, também citada anteriormente, estabelece o elenco das especialidades odontológicas. Em seu artigo 63, encontramos a Odontologia Legal definida e em seu parágrafo único retrata que se “as circunstâncias o exigirem” poderá “estender-se a outras áreas”, mas se houver “interesse da justiça e da administração”: “Odontologia Legal é a especialidade que tem como objetivo a pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, químicos e biológicos que podem atingir ou ter atingido o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestígios, resultando lesões parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis. Parágrafo único: A atuação da Odontologia legal restringe-se à análise, perícia e avaliação de eventos relacionados com a área de competência do Cirurgião-Dentista podendo, se as circunstâncias o exigirem, estender-se a outras áreas, se disso depender à busca da verdade, no estrito interesse da justiça e da administração.” Ainda em seu artigo 64, a mesma Resolução define as áreas de atuação do especialista em Odontologia Legal, que incluem: identificação humana; perícias logísticas no vivo, no morto, íntegro ou em suas partes em fragmentos, e ainda perícia em vestígios correlatos, inclusive de manchas ou líquidos oriundos da cavidade bucal ou nela presentes (CFO, 2005). As técnicas ou recursos metodológicos a serem empregados para se proceder à identificação humana não foram especificados, dessa maneira, é permitido ao cirurgião-dentista aproximar-se e incorporar os recursos da biologia molecular. Essa interpretação também pode ser dada quando houver novas tecnologias para a identificação humana, que potencialmente poderá ser estudada e utilizada pelo odontolegista, ficando patente o respaldo jurídico para que os cirurgiões-dentistas executem perícias envolvendo quaisquer materiais biológicos, não havendo também impedimento para que empreguem as técnicas de biologia molecular. Parecendo-nos oportuno que os profissionais que atuam em odontologia legal na área pericial se familiarizem com quaisquer novos conhecimentos tecnológicos das análises forenses (ANZAI ET AL, 2001). DNA fingerprint ou impressão digital de DNA (ácido desoxirribonucléico), foi descrito pela primeira vez por Alec Jeffreys em 1985 e revolucionou a análise do DNA visando à caracterização de vínculo genético. Alguns acontecimentos que marcaram a história da investigação do DNA em ciências forenses já foram previamente discutidos ao longo do capítulo, como a criação do CODIS – Sistema de indexação de combinação de DNA, vinculado ao FBI. No Brasil, também houve outras repercussões em relação à padronização dos procedimentos de investigação do DNA (SSP-SP, 1999; SENASP, 2005) . O DNA armazena toda a informação genética, sendo encontrados nos cromossomos do núcleo e nas mitocôndrias, sendo a maior parte localizada no primeiro e pode ser extraído de amostras de sangue, de esfregaços bucais, de saliva, de osso, de dente, de tecidos e órgãos, de fios de cabelos, de sêmen, entre outros materiais biológicos (BRETTELL ET AL, 2005; ANZAI-KANTO, 2005). O conjunto completo de seqüências no material genético de um organismo é denominado genoma incluindo todos os cromossomos mais qualquer DNA presente nas organelas. O genoma nuclear humano possui cerca de 3300 Mb, distribuídos em 22 cromossomos autossômicos e 2 sexuais, compostos de 30 a 35 mil genes, caracterizando por 1,5% a 2% de DNA codificante de proteínas, sendo que 46% do total constitui-se de seqüências de DNA repetitivas (SZYMASKY, 2005). O genoma mitocondrial possui particularidades que o diferenciam do genoma cromossômico, sendo sua herança materna. Sua estrutura circular de 16,5Kb lhe fornece maior resistência à digestão enzimática e em uma única célula, há a presença de milhares de mitocôndrias, cada qual com uma cópia de DNA mitocondrial, sendo que 93% do seu genoma é codificante, não possuindo íntrons e com poucas regiões repetitivas (Anderson et al, 1981). Dentro de uma única célula, há inúmeras cópias do genoma mitocondrial, ao contrário do genoma nuclear que possui uma cópia por célula (BUDOWLE et al, 2003). As regiões analisadas em genética forense, englobam os VNTR (Variable Number of Tandem Repeats) ou repetições consecutivas de número variável ou minissatélites, e também os STR (Short Tandem Repeats) ou repetições consecutivas curtas ou microssatélites. A diferença entre eles é o tamanho da seqüência que se repete, sendo que nos microssatélites essa estrutura é menor, pois possuem repetições constituídas de 2 a 9 pares de bases, e o minissatélite, de 10 a 64 pares de bases. Esse DNA satélite na maioria das vezes não é transcrito, conseqüentemente não estão associados com a expressão da informação genética (EDWARDS et al, 1991; HAMOND et al, 1994). A análise do DNA em caracterização do vínculo genético engloba desde o domínio da metodologia de coleta do material biológico até a interpretação dos resultados obtidos (BUTLER, 2005). Cada qual possui sua particularidade e cuidados inerentes à técnica que podem possuir vantagens e desvantagens de acordo com o objetivo almejado. Esquema de todos os procedimentos envolvidos em caracterização do vínculo genético. Os cuidados para a coleta incluem utilização de luvas descartáveis, instrumentos de coleta, armazenamento e análise devem ser estéreis e apropriados para cada tipo de material, a documentação completa do vestígio eleito para a coleta, incluindo-se fotografias da região, tipo de armazenamento entre outros, o armazenamento do material biológico úmido em sacos plásticos deve ser de no máximo 2 horas, ou quando possível, permitir que seque antes do acondicionamento final. Cada tipo de amostra de material biológico (sangue, saliva, osso, dente, etc.) deve ter sua coleta e acondicionamento individualmente descrito (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo – SSP-SP, 1999; INTERPOL, 2009) . A extração de DNA de forma adequada irá garantir a quantidade, a pureza e a integridade do DNA, podendo ser influenciados pelas metodologias aplicadas para a sua extração. A maioria das técnicas envolve em sua primeira fase, a lise celular, seguida de desnaturação ou inativação de proteínas, seguido de separação de proteínas através de solubilização em água, e em seguida precipitado com etanol. Outras metodologias com o mesmo princípio, inclusive kits comerciais, podem ser utilizadas para cada tipo de amostra biológica, como de saliva (WALSH D et al., 1992; ANZAI et al., 2001, ANZAI-KANTO, 2005); de dente humano (OLIVEIRA et al, 2002), de osso (HAGELBERG et al., 1991); de material parafinado (MESQUITA et al., 2001), entre outros. A quantificação do DNA após a sua extração é importante para o aperfeiçoamento da qualidade do produto de DNA resultante da PCR (INTERNACIONAL SOCIETY FOR FORENSIC HAEMOGENETICS, 1992). A análise do perfil genético iniciou-se por Jeffreys et al. (1985) ao analisar as regiões de minissatélites do DNA humano, possibilitando a investigação de paternidade e a identificação em casos criminais. Outra tecnologia que revolucionou o campo da biologia molecular foi a PCR tendo como seu inventor Kary Mullis, recebendo o Prêmio Nobel por essa descoberta (INTERPOL, 2009). A PCR consiste na amplificação seletiva de uma seqüência-alvo de DNA específica a partir de uma coleção heterogênea de DNA, empregando-se um par de oligonucleotídeos iniciadores que são complementares a uma certa extensão em ambas as fitas do DNA a ser amplificado (SAIKI et al, 1985). As vantagens da utilização da PCR na ciência forense são a sua sensibilidade, poisé capaz de amplificar seqüências a partir de quantidades ínfimas da seqüência-alvo de DNA e até mesmo do DNA de uma única célula; e sua robustez, permitindo a amplificação de seqüências específicas a partir de material biológico degradado (ISFH, 1992, INTERPOL, 2009). No entanto, tal eficiência e sensibilidade implicam também na atenção aos cuidados para evitar-se a contaminação de DNA externo, que pode ocorrer durante todo o processo de análise do DNA (Internacional Society For Forensic Haemogenetics – ISFH, 1992). A eletroforese é uma metodologia amplamente empregada para a separação, isolamento, análise e manipulação dos ácidos nucleicos, sendo utilizada após a PCR em sequenciador automático de DNA. Em inclusão ou exclusão de paternidade, compara-se os alelos presentes no filho com o do suposto pai, sendo que um seria o alelo obrigatório materno e o outro paterno. O mesmo acontece em inclusão de suspeitos de um crime, no qual se compara o DNA encontrado na vítima, como ocorre com marcas de mordida ou presença de sêmen na vítima, ou na cena de um crime. Pode ocorrer uma mistura de amostras biológicas que poderá conter DNA da vítima e do agressor. Dessa maneira, compara-se o DNA da vítima com o dos suspeitos confrontando-os com o DNA das amostras presentes na local do crime. Tais análises são realizadas em pelo menos 13 STRs distintos (INTERPOL, 2009; Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP, 2006), no entanto, Butler (2012) recomenda que essa quantidade aumente para 20 STRs, o que já esta acontecendo e servindo de padrão inclusive no Brasil (veja mais emhttp://www.cstl.nist.gov/strbase/pub_pres/Butler-Hill-FSR2012-newSTRloci.pdf) Os dentes assim como os conhecimentos específicos do odonto-legistas têm sido valorizadas nas análises dos registros odontológicos como das possíveis análises genéticas uma vez que a cavidade pulpar pode propiciar um meio estável para o DNA (OLIVEIRA et al, 2003). A saliva também serve de substrato biológico à obtenção do DNA. Essa utilização ocorre em virtude dos avanços tecnológicos, que permitem que os limites de detecção do DNA sejam diminuídos permanentemente. Por outro lado, cada vez mais a saliva torna-se material eletivo nas extrações de DNA em casos de http://www.cstl.nist.gov/strbase/pub_pres/Butler-Hill-FSR2012-newSTRloci.pdf investigação de paternidade e criminais (NICOLÁS & CANELA, 1999; ANZAI-KANTO et al, 2005). Anzai-Kanto et al (2005) verificou a reprodutibilidade de análise de DNA de saliva coletada sobre a pele, simulando casos que envolvam marcas de mordida. O estudo proporcionou um gradual aumento de conhecimentos técnicos e científicos acerca dessa recente tecnologia de identificação individual, que demonstrou ser sensível e eficiente em casos criminais que há a presença de saliva em marcas de mordida. A partir da década de 80, os avanços científicos apresentados pela biologia molecular contaram com a colaboração da odontologia legal para o estabelecimento de novos modelos à prática da identificação humana, seja no estabelecimento de diferentes formas de extração do DNA a partir de dentes (polpa dentária e tecidos duros) ou de saliva, seja compondo equipes multiprofissionais de trabalho ou ainda na investigação de casos adversos.