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SOPROS Os sopros são produzidos por vibrações decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo. Em condições normais, o sangue flui como corrente laminar, com velocidade um pouco mais rápida na porção central, tal como as águas de um rio sem obstáculos em seu leito. Fato fundamental é que flui sem formar turbilhões, pois, quando isso acontece, o fluxo deixa de ser laminar e surgem vibrações que originam os ruídos denominados sopros. Para avaliar semiologicamente um sopro, é necessário investigar os seguintes parâmetros: situação no ciclo cardíaco, localização, irradiação, intensidade, timbre e tonalidade, modificação com a fase da respiração, com a posição do paciente e com exercício físico. Situá-los corretamente no ciclo cardíaco é a primeira e mais importante análise semiológica. Não pode haver qualquer dúvida sobre isso, sendo essencial o reconhecimento das 1 a e 2 a bulha Quanto à situação no ciclo cardíaco, os sopros podem ser sistólicos, diastólicos e sistodiastólicos ou contínuos. SOPROS SISTÓLICOS Os sopros sistólicos são classificados em: sopro sistólico de ejeção e sopro sistólico de regurgitação Os sopros sistólicos de ejeção são causados por estenose da valva aórtica ou pulmonar e se originam durante o período de ejeção ventricular, particularidade tão importante que deu origem à sua designação CARACTERÍSTICAS DO SOPRO DE EJEÇÃO O sopro de ejeção começa alguns centésimos de segundo após a 1 a bulha, intervalo que corresponde à fase de contração isovolumétrica. Como foi visto anteriormente, neste período, a pressão intraventricular se eleva e as valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide) se fecham, dando originando à 1 a bulha. Contudo, a pressão intravascular (aorta e pulmonar) ainda está mais elevada que a pressão dentro dos ventrículos, e por isso as valvas sigmoides (aórticas e pulmonares) continuam fechadas sem que haja saída de sangue dos ventrículos. Em consequência deste fato, percebe-se o sopro após a 1 a bulha INSUFICIÊNCIA E ESTENOSE Quando a pressão intraventricular ultrapassa a pressão intraaórtica e intrapulmonar, o sangue começa a ser expulso dos ventrículos. A princípio, a ejeção é lenta, passando a ser máxima na mesossístole e voltando a reduzir na telessístole. Por este motivo, do ponto de vista estetoacústico, o que se observa é um sopro em crescendo- decrescendo. O sopro termina antes da 2 a bulha porque, na última fase da sístole, as pressões dentro dos ventrículos praticamente se igualam às pressões na aorta e na pulmonar, não havendo quase nenhuma ejeção de sangue neste momento. Estenose Aórtica I: Hipertrofia Ventricular Esquerda II: Fadiga III: Dispneia IV: Dor pré-cordial aos esforços V: Tonteira VI: Síncope Tem-se o Ictus palpável, habitualmente aumentado, visível e propulsivo A irradiação é de acordo com a direção do sangue A sua ausculta é não contínua, com impressão de que o sopro cresce e decresce OBS: Pode haver estalido de abertura OBS: Habitualmente, é panfocal CARACTERÍSTICAS DO SOPRO DE REGURGITAÇÃO Este tipo de sopro é audível desde o início da sístole; por isso aparece com a 1 a bulha, recobrindo-a e mascarando-a. Ocupa todo o período sistólico com intensidade mais ou menos igual e termina imediatamente antes da 2 a bulha ou pode recobri-la Esses sopros são causados pela regurgitação de sangue dos ventrículos para os átrios, quando há insuficiência mitral ou tricúspide, ou de um ventrículo para o outro, quando existe uma comunicação entre eles. Para se compreender o sopro de regurgitação, é necessário lembrar que, durante a fase de contração isovolumétrica, período em que as valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide) estão se fechando, a pressão dentro dos ventrículos já está mais alta que no átrio e, por este motivo, o sangue regurgita para a câmara de menor pressão desde o início da sístole. Durante todo o período sistólico, o sangue continua regurgitando e só deixa de fazê-lo ao terminar a contração ventricular. Insuficiência Mitral Sopro sistólico I: Ictus mais difuso OBS: Sopro pode irradiar para a região da axila II: BI hipofonético III: B3 com sobrecarga de volume para o VE: causa turbilhonamento que lembra uma bulha SOPROS DIASTÓLICOS Os sopros diastólicos, como o nome indica, aparecem durante a diástole e, conforme o momento em que nela se situam, são classificados em protodiastólicos, mesodiastólicos e telediastólicos ou présistólicos. Ocorrem em dois grupos de afecções: estenoses atrioventriculares (mitral e tricúspide) e insuficiência das valvas aórtica e pulmonar ESTENOSE ATRIOVENTRICULAR O sopro diastólico das estenoses atrioventriculares (estenose mitral e estenose tricúspide) ocupa a parte média da diástole, momento em que se dá o enchimento rápido dos ventrículos; algumas vezes se prolonga, podendo sofrer certo reforço no fim da diástole ou pré- sístole. Existe um nítido intervalo entre a 2 a bulha e o início desses sopros. Isso porque, nesse período, as pressões intraatriais e intraventriculares são quase iguais e passa pouco sangue pelos orifícios valvares. Outra característica importante é sua qualidade, ou seja, são sopros de baixa frequência e tonalidade grave, o que lhes confere o caráter de “ruflar”, designação muito usada para caracterizá-los Estenose Mitral Sopro diastólico I: Dispneia Paroxística Noturna II: Fibrilação atrial com queixa de palpitação III: Hipertrofia atrial IV: B1 Hiperfonética: Descrição do sopro V: Sopro ruflar. À medida que ele cresce e ocupa todo o período, é critério de gravidade VI: Pode possuir estalido na valva Estenose Tricúspide Sopro diastólico I: Congestão venosa INSUFICIÊNCIA AÓRTICA É um sopro diastólico Sintomas I: Dispneia II: Tosse III: Dor pré-cordial Sinais I: Ictus mais difuso II: O sopro lembra algo que está sendo “sugado” ou “aspirado” e, frequentemente, mascara B2 III: Pulso em martelo d’água OBS: Habitualmente, é panfocal, mas não irradia em direção do sangue SOPROS SISTODIASTÓLICOS OU CONTÍNUOS Os sopros contínuos são ouvidos durante toda a sístole e a diástole, sem interrupção, recobrindo e mascarando a 1 a e a 2 a bulha. O examinador deve estar prevenido para não tomar como sopros contínuos aqueles que ocorrem combinadamente na sístole e na diástole, sem adquirir, contudo, o caráter de sopros contínuos propriamente ditos. A parte sistólica desses sopros costuma ser mais intensa e mais rude. São designados sopros “em maquinaria” porque lembram o ruído de máquina a vapor em movimento. Aparecem na persistência do canal arterial, nas fístulas arteriovenosas, nas anomalias dos septos aortopulmonares e no rumor venoso. LOCALIZAÇÃO Localiza-se um sopro na área em que é mais audível e, como pontos de referência, empregam-se as áreas de ausculta e as demais regiões, descritas anteriormente. Cumpre salientar, entretanto, que a localização de um sopro, em função das áreas de ausculta, não tem valor absoluto, pois o fato de localizar-se um sopro na área mitral não significa, obrigatoriamente, que ele esteja sendo formado na valva mitral. Neste aspecto, a direção em que se irradia muito contribui para se conhecer o local de origem do sopro. INTENSIDADE + corresponde aos sopros débeis, audíveis somente quando se ausculta com atenção e em ambiente silencioso ++ indica sopros de intensidade moderada +++ traduz sopros intensos ++++ corresponde aos sopros muito intensos, audíveis mesmo quando se afasta o estetoscópio da parede torácica ou quando se interpõe entre esta e o receptor a mão do examinador. A intensidade de um sopro depende de vários fatores, alguns relacionados com a transmissão das vibrações, sobressaindoa espessura da parede torácica e a ocorrência de enfisema ou de derrame pericárdico, outros diretamente ligados ao próprio mecanismo de formação do sopro. Dentre estes, destacam-se a velocidade do fluxo e o volume de sangue que passa pelo local em que ele se origina. A influência da velocidade da corrente sanguínea torna-se clara quando se compara a intensidade do sopro da comunicação interventricular de pequena magnitude com as grandes comunicações. Se for pequeno, o fluxo de sangue apresenta grande velocidade, provocando um sopro intenso (+++ a ++++). Ao contrário, nas comunicações amplas, a velocidade do fluxo é menor e o sopro fica débil ou moderado (+ a ++). Quando o volume sanguíneo é pequeno, o sopro tem fraca intensidade; quando é grande, torna- se mais intenso. Resta salientar que a intensidade do sopro não deve ser tomada como parâmetro absoluto e decisivo para a avaliação clínica de uma lesão vascular ou cardíaca. Para fins práticos, é lícito admitir que, quanto mais intenso, mais significativa costuma ser a anomalia responsável pelo sopro, não se esquecendo, contudo, que pode haver graves defeitos valvares com sopros de pequena intensidade, e vice-versa TIMBRE E TONALIDADE Essas características, com frequência referidas sob a designação simplificada de “qualidade do sopro”, estão relacionadas com a velocidade do fluxo e com o tipo de defeito causador do turbilhonamento sanguíneo. Usam-se várias denominações, quase todas procurando caracterizar de modo comparativo a qualidade de um sopro O aproveitamento semiológico das relações entre estes dois órgãos tem como melhor exemplo a manobra de Rivero Carvallo, com a qual se diferencia o sopro da insuficiência tricúspide do da insuficiência mitral. A manobra de Rivero Carvallo é executada da seguinte maneira: com o paciente em decúbito dorsal, coloca-se o receptor do estetoscópio na área tricúspide, pondo-se especial atenção na intensidade do sopro. Em seguida, solicita-se ao paciente que faça uma inspiração profunda, durante a qual o examinador procura detectar as modificações na intensidade do sopro. Se não houver alteração ou se o sopro diminuir de intensidade, diz-se que a manobra de Rivero Carvallo é negativa. Neste caso, o sopro audível naquela área é apenas propagação de um sopro originado na valva mitral. Se, ao contrário, o sopro aumenta de intensidade, pode-se concluir que sua origem é no aparelho valvar tricúspide. O mecanismo principal assim se explica: na inspiração profunda, há aumento da negatividade intratorácica, propiciando maior afluxo de sangue ao coração direito; se mais sangue chega ao ventrículo direito, haverá, ipso facto, maior refluxo de sangue para o átrio durante a sístole. Do ponto de vista estetoacústico, a consequência é a intensificação do sopro. Outra influência da respiração pode ser observada nas lesões aórticas, cujos sopros tornam-se mais audíveis se o paciente fizer uma expiração forçada. ATRITO PERICÁRDICO O atrito pericárdico é um ruído provocado pelo roçar de folhetos pericárdicos que perderam suas características normais. Estes folhetos são, normalmente, lisos, ligeiramente umedecidos, capazes de deslizar um sobre o outro sem provocar qualquer vibração. A causa mais frequente do atrito pericárdico é a pericardite fibrinosa, quando os folhetos desta serosa se tornam espessos e rugosos. SITUAÇÃO NO CICLO CARDÍACO O atrito pericárdico não coincide exatamente com nenhuma das fases do ciclo cardíaco, podendo ser ouvido tanto na sístole quanto na diástole; não mantém relação fixa com as bulhas e, às vezes, dá a sensação de ser independente dos ruídos produzidos no coração; habitualmente, é contínuo, com reforço sistólico; em algumas condições, restringe-se à sístole LOCALIZAÇÃO Ausculta-se o atrito pericárdico mais frequentemente entre a ponta do coração e a borda esternal esquerda. Irradiação. O atrito pericárdico não se propaga e, mesmo quando é intenso, sua área de audibilidade é bastante restrita. Intensidade. Varia muito de intensidade e a simples mudança de posição pode alterá-la. A força da pressão do receptor do estetoscópio contra a parede torácica também determina modificações da intensidade. TIMBRE E TONALIDADE Suas características de timbre e tonalidade – qualidade e ruído – são extremamente variáveis, podendo ter caráter musical ou assemelhar-se a um sopro. A melhor comparação para ele é o ruído que se obtém ao friccionar-se um couro novo. De um dia para outro, ou no espaço de algumas horas, o ruído pode apresentar mudanças na intensidade e na qualidade, o que não é observado nos sopros, nem nos estalidos. Em resumo, pode-se dizer que o atrito pericárdico é um ruído perceptível na sístole e na diástole, sem relação constante e fixa com as bulhas cardíacas, as quais ele pode recobrir e mascarar, em comparação ao ruído obtido pela fricção de um couro, mais audível entre a ponta do coração e a borda esternal esquerda e que apresenta modificações de intensidade e qualidade em curto período de tempo.
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