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TUTORIA 02 - M3 - P4 @gabrielholandac INTOXICAÇÃO _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Objetivos: ● Compreender o que é intoxicação e diferenciar os tipos e causas ● Conhecer os possíveis efeitos toxicológicos no organismo dos benzodiazepínicos, anti-inflamatórios, analgésicos e antidepressivos ● Conhecer os procedimentos imediatos, quadro clínico e tratamento dos medicamentos acima ● Conhecer os efeitos e tratamentos de intoxicação por solvente Intoxicação ● Desenvolvimento de efeitos adversos dose-dependente após exposição a substâncias químicas, fármacos ou xenobióticos ● Pode ser local ou sistêmica, dependendo da via de exposição, propriedades químicas e mecanismo de ação ● Gravidade e reversibilidade dependem das reservas funcionais do indivíduo ou órgão-alvo Atendimento inicial ● Sempre tratada como potencialmente grave ● Realizar breve exame físico para identificar as medidas imediatas para estabilizar ○ Sinais vitais, Glasgow, pupilas, temperatura e umidade da pele, oximetria, glicose, ECG, abrir vias aéreas e IOT (se necessário), acesso venoso calibroso ● Administrar tiamina e glicose IV se alteração em nível de consciência, exceto alcoólica e hipoglicemia forem excluídos ● Administrar naloxona se intoxicação por opióide ● Procurar sinais de trauma, infecção, marcas de agulha ou edema História da exposição ● 5 Ws: Who, What, When, Where e Why ● Informações podem ser omitidas ou distorcidas, principalmente em tentativas de suicíduo, homicídio, aborto, uso de drogas ilícitas ou maus tratos Exames complementares ● Depende do agente envolvido e do quadro clínico ● Laboratoriais, ECG, RX, TC, EDA ● Toxicológicos Descontaminação ● Remoção do agente a fim de diminuir a absorção ● Procedimentos específicos dependendo da via de contaminação ○ Cutânea: remover roupas contaminadas e lavar a superfície ○ Respiratória: Remover a vítima do local e administrar O2 umidificado ○ Ocular: Colírio anestésico e lavagem com SF 0,9% ou água filtrada ○ Gastrointestinal: Remoção do agente para evitar absorção Descontaminação gastrintestinal ● Depende da substância ingerida, sintomas e gravidade do caso ● Benefícios se: ○ Ausência de fatores de risco para complicações como torpor e sonolência ○ Ingestão de quantidades tóxicas ○ Ingestões recentes de até 2h ○ Agentes que diminuem o fluxo intestinal ou de absorção lenta ● Duas etapas: Lavagem gástrica (LG) e administração de carvão ativado Lavagem gástrica ● Infusão e aspiração de SF 0,9% por sonda nasogástrica ou orogástrica ● Avaliar risco x benefício, havendo chance de aspiração ● Contraindicada em ingestão de cáusticos, solventes e quando há risco de perfuração e sangramentos ● Sonda de grande calibre, mantendo o paciente em decúbito lateral esquerdo ● Infundir e retirar o volume de SF recomendado Crianças 10ml/kg por infusão até volume total: Escolares 4 - 5 L Lactentes 2 - 3 L RN 0,5 L Adultos 250ml por vez até volume total de 6-8 L ou até retornar límpido Carvão ativado ● Pó obtido da pirólise de material orgânico com alto poder de absorção do agente ● Geralmente usado após a LG ● Pode ser usado como medida única de descontaminação ● Maioria das vezes utilizado em dose única mas pode ser usado em doses múltiplas como medida de eliminação ● Contraindicações: RN, gestantes, pacientes debilitado, cirurgia abdominal recente, administração de antídotos VO ○ Ingestão de cáusticos ou solventes ou com obstrução intestinal ○ Substâncias que não são efetivamente absorvidas pelo carvão: ácidos, álcalis, álcoois, cianeto e metais Dose única Crianças 1g/kg em suspensão com água ou SF em 4-8mL/g Adultos 50g em 250mL de água ou SF Múltiplas doses Intervalos de 4/4h; associar catártico junto à 3ª dose Usar o catártico como parte da suspensão do CA. Ex.: 100 mL de Sulf Mag 10% (10g) + 150mL de SF + 50g CA Lavagem intestinal ● Administração de solução de polietilenoglicol (PEG) via sonda naso-enteral ● Induzir a eliminação do agente pelas fezes ● Raramente utilizada ● Contraindicada se íleo paralítico, perfuração GI, hemorragia GI e instabilidade hemodinâmica Crianças 9m - 6a 500 mL/h Crianças 6 - 12a 1000 mL/h Adolescentes e adultos 1500 - 2000 mL/h Substâncias AINES ● Geralmente produzem alterações gastrointestinais leves ● Toxicidade maior ocorre com substâncias como fenilbutazona, ácido mefenâmico e piroxicam Ação ● Maioria atua inibindo a COX-1 e COX-2, reduzindo a produção de prostaglandinas ● As prostaglandinas atuam na manutenção da mucosa gástrica e regulação da circulação renal, como ocorre redução delas, há danos nos órgãos ● Outros tipos são inibidores seletivos da da COX-2, não inibindo a COX-1 em doses terapêuticas ○ Não inibem a formação de tromboxano-A2, mas reduzem as prostaciclinas ○ Maior risco de eventos tromboembólicos ● Dose tóxica com ingestão 5-10x maior que a dose terapêutica Quadro clínico ● Intoxicações agudas frequentes, mas raramente são graves ● Uso crônico ou inadequado traz alterações gastrointestinais, renais e cardiovasculares ● Intoxicação leve ○ Assintomáticos ou sintomas leves: náuseas, vômitos, dor ou desconforto abdominal ○ Pode haver sonolência, cefaleia, letargia, ataxia, nistagmo e desorientação ○ Convulsões incomuns e auto-limitadas, exceto em ác. mefenâmico e fenilbutazona ○ Insuficiência renal aguda (IRA) é incomum ● Intoxicação grave ○ Geralmente com doses tóxicas de fenilbutazona, ác. mefenâmico, piroxicam ou doses muito altas de outros tipos ○ Hipoprotrombinemia, acidose metabólica, disfunção hepática, convulsões, coma e alterações cardiovasculares Tratamento ● Medidas de suporte: A, B e C do trauma, monitorar sinais vitais e hidratação ● Descontaminação com lavagem gástrica (LG) de carvão ativado não são indicados na rotina, excetos casos muito graves ● Não há antídoto ● Em casos leves basta protetores de mucosa ● Se convulsionar tratar com diazepam e hipotensão com hidratação e vasoativas Benzodiazepínicos ● Usados em transtornos ansiosos ● Anticonvulsivantes, abstinência alcoólica, estado hiperadrenérgico e sedativos em procedimentos ● Zolpidem e zopiclona são sedativo-hipnóticos mas se incluem nessa categoria de intoxicação Ação ● Agem por agonismo aos receptores GABA ● Hiperpolarizando a membrana e reduzindo a excitabilidade neuronal ● Causam depressão generalizada dos reflexos da medula e do sistema ativador reticular ● Risco de coma e depressão respiratória ● Dose tóxica é variável Quadro clínico ● Intoxicação leve a moderada ○ Sonolência, sedação e fala arrastada ● Intoxicação grave ○ Coma com depressão respiratória ○ Hipotensão e hipotermia ○ Majoritariamente IV ou associados a outros depressores (ex: álcool) Tratamento ● Medidas de suporte: A, B e C do trauma, monitorar sinais vitais e hidratação ● Descontaminação com ● LG e carvão ativado (1g/kg) ○ Se o carvão for administrado rapidamente não é necessário LG em casos leves ● Antídoto: Flumazenil 0,1 a 0,2 mg IV em 15-30s e repetida até 1 mg ○ Somente usado em sedações iatrogênicas ou intoxicações graves com depressão respiratória Analgésicos (paracetamol) ● Ação central e antipirético ● Propriedades anti-inflamatórias periféricas mínimas ● Muito usado em crianças e medicamentos compostos por associação de analgésicos Ação ● Em overdose as vias de glucuronidação e sulfatação aumentam, e o metabolismo do P450 também aumenta ● Causa aumento da produção de NAPQI, esgotando a glutationa celular ● Quando 70% da glutationa se esgota e o NAPQI se liga covalentemente com as proteínas dos hepatócitos ● Causam alterações de membrana, morte celular e degeneração no fígado ● Pode ocorrer dano renal pelo mesmo mecanismo, aumento do CYP renal ● Dose tóxica ○ Adultos: 7,5 - 10g ○ Crianças < 6 anos: 200 mg/kg ○ Crianças > 6 anos: 150 mg/kg Quadro clínico ● Fase 1 (até 24h): Assintomático ou sintomas gastrintestinais: anorexia, náusea e vômito ● Fase 2 (24-72h):Assintomático mas com alterações de função hepática ○ TGO, TGP, INR e TP ● Fase 3 (72-96h): Necrose hepática: icterícia náuseas, vômitos, distúrbios de coagulação, IRA, miocardiopatia, encefalopatia, confusão mental, coma e óbito ● Fase 4 (4d - 2sem): Recuperação hepática com fibrose residual em sobreviventes Tratamento ● Medidas de suporte: A, B e C do trauma, monitorar sinais vitais e hidratação ● Descontaminação: LG e carvão ativado ● Em intoxicações leves basta protetores de mucosa e antieméticos ● Antídoto: N-acetilcisteína (NAC) ○ Administrado em qualquer paciente com risco de lesão hepática ○ Nível sérico de paracetamol acima da linha de toxicidade do nomograma de Rumack-Matthew NAC IV de 21h Ataque 150 mg/kg 200ml de SG 5% IV em 60min Manutenção I 50 mg/kg 500ml de SG 5% IV em 4hr Manutenção II 100 mg/kg 1L de SG 5% IV em 16h NAC oral Ataque 140mg/kg 200ml de SG 5%, suco ou água Manutenção 70 mg/kg 1 dose a cada 4h, total de 17 doses Antidepressivos ISRS ● Usados no tratamento da depressão e transtornos psiquiátricos ● Fluoxetina, paroxetina, sertralina, citalopram e escitalopram Ação ● Inibem a recaptação de serotonina no SNC, SNP e plaquetas ○ Causam estimulação dos receptores serotoninérgicos ● Podem causar depressão do SNC e síndrome serotoninérgica se associados a drogas que aumentem o nível de serotonina ○ Tricíclicos, anfetaminas, ecstasy, cocaína, LSD e etc ● Doses tóxicas acima de 10x a dose terapêutica, pior se associado a outras drogas de abuso Quadro clínico ● Intoxicação leve e moderada ○ Ataxia e letargia ● Intoxicação grave ○ Bradicardia, hipotensão, depressão do SNC e coma ● Risco de síndrome serotoninérgica ○ Agitação, ansiedade, confusão e hipomania ○ Taquicardia, hipertensão, sudorese, hiperemia e midríase ○ Hiperreflexia, mioclonias, rigidez e tremores Tratamento ● Medidas de suporte: A, B e C do trauma, monitorar sinais vitais e hidratação ● Descontaminação: LG e carvão ativado ● Não há antídoto ● Síndrome serotoninérgica ○ Descontinuar agentes ○ Resfriamento corporal, antitérmicos não têm efeito ○ Se temperatura > 41º C avalia-se sedação, paralisia e intubação ○ Sedação por benzodiazepínicos, exceto haloperidol ○ Casos refratários: Antagonista da serotonina: Ciproeptadina 12mg iniciais Antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos ● Usados no tratamento da depressão maior, insônia e síndromes dolorosas crônicas ● Amitriptilina, clomipramina, imipramina, maprotilina e nortriptilina Ação ● Antagonismo colinérgico, bloqueio alfa-adrenérgico, inibição da recaptação da noradrenalina, serotonina e dopamina, bloqueio dos canais de sódio e potássio e depressão respiratória e do SNC ● Em intoxicação os principais são os efeitos no SNC e cardiovasculares ○ Taquicardia e hipertensão por ação anticolinérgica ○ Hipotensão por bloqueio alfa-adrenérgico ○ Depressão miocárdica e problemas na condução por bloqueio dos canais de sódio ● Dose tóxica um pouco acima da terapêutica, 10-20 mg/kg Quadro clínico ● Intoxicação leve ○ Sonolência, sedação, taquicardia, alucinações, midríase ou efeitos anticolinérgicos ● Intoxicação grave ○ Convulsões, coma, aumento do intervalo QRS, arritmias ventriculares, insuficiência respiratória e hipotensão Tratamento ● Medidas de suporte: A, B e C do trauma, monitorar sinais vitais e hidratação, avaliar estado mental e neurológico, verificar e corrigir distúrbios eletrolíticos de NA, K e Ca ● Descontaminação: LG precoce com SF 0,9% e carvão ativado SNG ● Não há antídoto ● Tratar sintomatologia específica Solventes ● Substâncias usadas para a dispersão de outra substância em seu meio ○ Maioria são hidrocarbonetos ● Ceras e polidores de metais são usados para causar abrilhantamento de pisos e objetos Ação ● Causam irritação direta em pele e mucosas ● Se inalados podem produzir pneumonite química ou rebaixamento do SNC ● Dose tóxica depende do agente envolvido e da via de contato Quadro clínico ● Irritação local, queimaduras ou lesão córnea ● Ingestão pode causar náuseas ou vômitos, até gastroenterite hemorrágica ● Toxicidade sistêmica com agitação, confusão, ataxia, cefaleia ou rebaixamento de consciência ● Exposição grande pode causar síncope, arritmias, coma e parada respiratória ● Aspiração pulmonar produz tosse ou asfixia imediata ○ Evolui para pneumonite química, desconforto respiratório, taquipnéia, roncos, hipóxia e hipercapnia Tratamento ● Medidas de suporte: A, B e C do trauma, monitorar sinais vitais e hidratação ● Não há descontaminação ● Não há antídoto ● Não são indicadas medidas de eliminação ● Se sintomático manter jejum até melhora dos sintomas ○ Protetores gástricos e antieméticos ○ Se suspeita de lesões corrosivas fazer EDA ○ Aspiração pulmonar: tratar broncoespasmo com broncodilatadores inalatórios e O2
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