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Ação Penal e Processual 02 1. Da Prisão 5 Conceito de Prisão 5 Prisão em Domicílio 6 Mandado de Prisão 7 Custódia 8 Prisão Fora do Território do Juiz 8 Prisão em Perseguição 8 Prisão Especial 9 Prisão Provisória Domiciliar 10 2. Prisões Cautelares 12 Prisão em Flagrante 12 Espécies de Flagrante 12 Flagrante nas Várias Espécies de Crimes 14 Formalidades do Auto de Prisão em Flagrante 15 Prisão Preventiva 16 Conceito 16 Requisitos e Pressupostos Legais para a Prisão Preventiva 17 Momento para a Decretação da Prisão Preventiva 18 Admissibilidade da Prisão Preventiva 18 Proibição 19 Necessidade de Fundamentação 19 Revogação 19 Legitimidade para Requerer 20 Prisão Temporária 20 Previsão Legal 20 A Prisão Temporária e os Crimes Hediondos 21 Prisão por Pronúncia e por Sentença Penal Condenatória Recorrível 22 3 3. Liberdade Provisória 25 Conceito 25 Espécies 25 Conceito de Fiança 26 Valor da Fiança 26 Modalidades de Fiança 27 Competência 27 Recurso 27 Oportunidade para Sua Concessão 28 Recusa ou Demora na Concessão 28 Restituição da Fiança 28 Cassação 28 Reforço de Fiança 29 Quebramento de Fiança 29 Perda Total da Fiança 30 4. Referências Bibliográficas 32 04 5 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL 1. Da Prisão Fonte: Ciências Criminais1 Conceito de Prisão a privação da liberdade de lo- comoção determinada por or- dem escrita da autoridade compe- tente ou em caso de flagrante delito. Espécies de prisão: Prisão-pena ou prisão penal: é a que resulta de condenação transi- tada em julgado, na qual foi imposta pena privativa de liberdade. Tem fi- nalidade repressiva. Prisão processual penal: tam- bém denominada prisão cautelar ou prisão provisória, subdivide-se em três modalidades: Prisão em flagrante (CPP arts. 301 a 310); 1 Retirado em https://canalcienciascriminais.com.br/ Prisão preventiva (CPP, arts. 311 a 318); Prisão temporária (Lei n. 7.960, de 21-12-1989). Prisão civil: é a decretada em ca- sos de devedor de alimentos (art. 5º, LXVII). Prisão disciplinar: permitida pe- la Constituição para o caso de trans- gressões militares e crimes militares (CF, art. 5º, LXI). Obs: A prisão administrativa foi abolida pela nova ordem constituci- onal. A prisão para averiguação, que é a privação momentânea da li- berdade, fora das hipóteses de E 6 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL flagrante e sem ordem escrita do juiz competente, além de in- constitucional, configura crime de abuso de autoridade (Lei. n. 13.869/2019, art. 9º). Art. 282. A exceção do fla- grante delito, a prisão não poderá efetuar-se senão em virtude de pro- núncia ou nos casos determinados em lei, e mediante ordem escrita da autoridade competente. As hipóteses de prisão proces- sual, que é a que nos interessa espe- cialmente no presente estudo, são as seguintes: A prisão em flagrante; A prisão preventiva; A prisão temporária; A prisão processual tem natu- reza cautelar, ou seja, visa a proteção dos bens jurídicos envolvidos no processo ou que o processo pode, hi- poteticamente, assegurar. Isso significa que precisam es- tar presentes os pressupostos das medidas cautelares, que são o fumus boni iuris e o periculum in mora. O fumus boni iuris é a probabilidade de a ordem jurídica amparar o di- reito que, por essa razão, merece ser protegido. O periculum in mora é o risco de perecer que corre o direito se a medida não for tomada para preservá-lo. O primeiro princípio que rege a prisão processual informa que: a prisão não se mantém nem se decre- ta se não houver perigo à aplicação da lei penal, perigo à ordem pública ou necessidade para a instrução cri- minal. O segundo princípio é o de que a prisão deve ser necessária para que se alcance um daqueles objetivos. Não pode caber qualquer critério de oportunidade ou conveniência; o critério é de legalidade e de adequa- ção a uma das hipóteses legais. O terceiro princípio é o de que os fundamentos da prisão proces- sual podem suceder-se, mas não se cumulam. Assim, se a prisão em fla- grante é válida, não se decreta, sobre ela, a preventiva. Esta ou aquela, por sua vez, são substituídas pela prisão por pronúncia ou por sentença con- denatória recorrível. Prisão em Domicílio Art. 283. § 2º A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas as restri- ções relativas à inviolabilidade do domicílio. A Constituição Federal dispõe, no seu art. 5º, XI, que “a casa é o asilo inviolável do indivíduo, nin- guém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desas- tre, ou para prestar socorro, ou du- 7 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL rante o dia, por determinação judi- cial” Com isso, temos duas situações distintas - a violação do domicílio à noite e durante o dia: Durante a noite: somente se pode penetrar no domicílio alheio em quatro hipóteses: Com o consentimento do mo- rador; Em caso de flagrante delito; Desastre; ou Para prestar socorro. Durante o dia, cinco são as hi- póteses: Consentimento do morador; Flagrante delito; Desastre; Para prestar socorro; ou Mediante mandado judicial de prisão ou de busca e apreen- são. Assim, havendo mandado de prisão, a captura, no interior do do- micílio, somente pode ser efetuada durante o dia (das 6 às 18 horas), dispensando-se, nesse caso, o con- sentimento do morador. Durante a noite, na oposição do morador ou da pessoa a ser preso, o executor não poderá invadir a casa, devendo aguardar que ama- nheça para dar cumprimento ao mandado, sob pena de, ao violar, es- tar caracterizado o crime de abuso de autoridade, conforme Lei n. 13. 869/2019, art. 22, III). Mandado de Prisão Salvo o caso de flagrante, a pri- são sempre se efetiva com mandado escrito da autoridade judicial, repre- sentado por um instrumento que corporifica a ordem judicial compe- tente. Art. 285. “A autoridade que or- denar a prisão fará expedir o respec- tivo mandado”. Requisitos do mandado de pri- são: Deve ser lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade competente; Deve designar a pessoa que ti- ver de ser presa, por seu nome, alcunha ou sinais característi- cos; Deve conter a infração penal que motivou a prisão (a cf exige que a ordem seja funda- mentada - art. 5º, lxi); Deve indicar qual o agente en- carregado de seu cumprimen- to (oficial de justiça ou agente da polícia judiciária). Cumprimento do mandado: A prisão poderá ser efetuada a qualquer dia e a qualquer ho- ra, inclusive domingos e feria- dos, e mesmo durante a noite, respeitada apenas a inviolabi- lidade do domicílio acima mencionada (CPP, art. 283); O executor entregará ao preso, logo depois da prisão, cópia do mandado, a fim de que o mes- 8 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL mo tome conhecimento do motivo pelo qual está sendo preso, conforme art. 286, do CPP); O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo- lhe assegurada à assistência da família e de advogado (CF, art. 5º, LXIII); O preso tem direito à identifi- cação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interro- gatório extrajudicial (CF, art. 5º, LXIV); A prisão, excepcionalmente, pode ser efetuada sem a apre- sentação do mandado, desde que o preso seja imediatamen- te apresentado ao juiz que de- terminou sua expedição, con- forme art. 287 do CPP). Não é permitida a prisão de eleitor, desde 5 dias antes até 48 horas depois da eleição, salvo flagrante delito ou em virtude de sentença penal con- denatória (art. 236, caput, do Código Eleitoral). Custódia Art. 288. Ninguém será reco- lhido à prisão, sem que sejaexibido o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entregue có- pia assinada pelo executor ou apre- sentada à guia expedida pela autori- dade competente, devendo ser pas- sado recibo da entrega do preso, com declaração de dia e hora. A custódia, sem a observância dessas formalidades, constitui crime de abuso de autoridade (Lei n. 13. 869/2019, art. 9). No caso de custó- dia em penitenciária, há necessidade de expedição de guia de recolhimen- to, nos termos dos arts. 105 e 106 da Lei de Execução Penal. Prisão Fora do Território do Juiz Art. 289. Quando o réu estiver no território nacional, em lugar es- tranho ao da jurisdição, será depre- cada a sua prisão, devendo constar da precatória o inteiro teor do man- dado. Parágrafo único. Havendo ur- gência, o juiz poderá requisitar a pri- são por qualquer meio de comunica- ção, do qual deverá constar o motivo da prisão, bem como o valor da fi- ança se arbitrada. Prisão em Perseguição Art. 290. Se o réu, sendo per- seguido, passar ao território de ou- tro município ou comarca, o execu- tor poderá efetuar lhe a prisão no lu- gar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autoridade local, depois de lavrado, se for o caso, o au- to de flagrante, providenciará para a remoção do preso. 9 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL Parágrafo 1º - Entender-se-á que o executor vai à perseguição do réu, quando: Tendo-o avistado, for perse- guindo sem interrupção, em- bora depois o tenha perdido de vista; Sabendo, por indícios ou in- formações fidedignas, que o réu tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em que o procure, for ao seu encalço. Parágrafo 2º - Quando as au- toridades locais tiverem fundadas razões para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legali- dade do mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até que fique esclarecida a dúvida. Nesta hipótese, contanto que a perseguição não seja interrompida, o executor poderá efetuar a prisão onde quer que alcance o capturando, desde que dentro do território naci- onal. Prisão Especial Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à dis- posição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva: I. Os ministros de Estado; II. Os governadores ou interven- tores de Estados ou Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os prefei- tos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia. III. Os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Econo- mia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados; IV. Os cidadãos inscritos no “Li- vro de Mérito”; V. Os oficiais das Forças Arma- das e os militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; VI. Os magistrados; VII. Os diplomados por qualquer das faculdades superiores da Re- pública; VIII. Os ministros de confissão reli- giosa; IX. Os ministros do Tribunal de Contas; X. Os cidadãos que já tiveram efetivamente a função de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapacidade para o exercício daquela função; XI. Os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e Terri- tórios, ativos e inativos. Leis especiais ampliam o rol, como por exemplo, para professores e pilotos de aeronaves. Consoante redação do artigo supramencionado, observamos que determinadas pessoas, em razão da função que desempenham ou de 10 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL uma condição especial que osten- tam, têm direito à prisão provisória em quartéis ou em cela especial. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que, na ausência de aco- modações adequadas em presídio especial, o titular do benefício po- derá ficar preso em estabelecimento militar (HC 3.375-2, 5ª T., DJU, 12 jun. 1995, p.17634). A prisão especial perdurará enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória. Após esta, o condenado será recolhido ao estabe- lecimento comum. O presidente da República, durante o seu mandado, não está su- jeito a nenhum tipo de prisão provi- sória, já que Constituição Federal exige sentença condenatória (art. 86, parágrafo 3º). Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei de execução penal. Prisão Provisória Domiciliar Nas localidades onde não hou- ver estabelecimento adequado para o recolhimento em prisão especial, o juiz, considerando a gravidade da infração e ouvido o Ministério Pú- blico, poderá autorizar a prisão do réu ou indiciado na própria residên- cia, de onde não poderá ele afastar- se sem prévia autorização judicial (Lei n. 5.256, de 6-4- 1967). A prisão domiciliar não exone- ra o preso de comparecer e de outras restrições estabelecidas pelo juiz. Poderá haver vigilância quanto ao cumprimento da prisão domiciliar, mas deverá respeitar a intimidade da residência. A violação de qual- quer das condições impostas impli- cará perda do benefício, devendo o réu ser recolhido a estabelecimento penal, onde permanecerá separado dos demais presos. A prisão domiciliar tem sido utilizada como alternativa para a prisão-albergue (forma de cumpri- mento de pena, regime aberto), em locais em que não há estabelecimen- to adequado para o cumprimento da prisão-albergue. Essa prática, ainda que justificável, não tem base legal, porque a prisão domiciliar, enquan- to forma de cumprimento da pena alternativa ao regime aberto, só é prevista para o condenado maior de 70 anos, acometido de doença grave, ou à condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental, ou à con- denada gestante. 12 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL 2. Prisões Cautelares Fonte: Estudo Pratico2 Prisão em Flagrante termo flagrante provém do la- tim flagrare, que significa queimar, arder, ou seja, representa o crime que ainda queima, que está sendo cometido ou acabou de sê-lo. É, portanto, medida restritiva da liberdade, de natureza cautelar e processual, consistente na prisão, independente de ordem escrita do juiz competente, de quem é surpre- endido cometendo, ou logo após ter cometido, um crime ou uma contra- venção. Consoante entendimento do mestre José Frederico Marques, “... flagrante delito é o crime cuja prática é surpreendida por alguém 2 Retirado em https://www.estudopratico.com.br/prisao-cautelar-o-que-e-e-como-funciona/ no próprio instante em que o delin- quente executa a ação penalmente ilícita...” No flagrante deve haver a certeza visual do crime, razão pela qual a pessoa que o assiste está au- torizada a prender o seu autor, con- duzindo-o, em seguida, à autoridade competente, conforme autorização legal prevista no art. 301, do CPP. Art. 301. Qualquer do povo po- derá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Espécies de Flagrante As espécies de flagrante estão implícitas na própria norma proces- sual abaixo transcrita. Vejamos: O 13 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL Art. 302. Considera-se em fla- grante delito quem: I. Está cometendo a infração pe- nal; II. Acaba de cometê-la; III. É perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infra- ção; IV. É encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. a. Flagrante próprio (real ou ver- dadeiro) - CPP, art. 302, I e II. É aquele em que o agente é surpreendido cometendo uma infra- ção penal ou quando acaba de co- metê-la. b. Flagrante impróprio (irreal ou quase-flagrante) - CPP, art. 302, III. Ocorrequando o agente é per- seguido, logo após cometer o ilícito, em situação que faça presumir ser o autor da infração. A expressão “logo após” compreende todo o espaço de tempo necessário para a polícia che- gar ao local, colher as provas eluci- dadoras da ocorrência do delito e dar início à perseguição do autor. Não tem qualquer fundamento a re- gra popular de que e de vinte e qua- tro horas o prazo entre a hora do crime e a prisão em flagrante, pois, no caso de flagrante impróprio, a perseguição pode levar até dias, desde que ininterrupta. c. Flagrante presumido (ficto ou assimilado) - CPP, art. 302, IV. O agente é preso, logo depois de cometer a infração, com instru- mentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da infração. Não é necessário que haja perseguição, bastando que a pessoa seja encontrada logo depois da prática do ilícito em situação sus- peita. A doutrina tem entendido que o “logo depois”, do flagrante presu- mido, comporta um lapso temporal maior do que o “logo após”, do fla- grante impróprio. d. Flagrante preparado ou provo- cado Uma vez provado, estará pre- sente a modalidade de crime impos- sível, pois, embora o meio empre- gado e o objeto material sejam idô- neos, há um conjunto de circunstân- cias previamente preparadas que eliminam totalmente a possibilidade de produção do resultado. Neste ca- so, em face da ausência de vontade livre e espontânea do infrator e da ocorrência de crime impossível, a conduta é considerada atípica. Aliás, o entendimento jurisprudencial é farto neste sentido. 14 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL e. Flagrante esperado Nesse caso, a atividade do po- licial ou do terceiro consiste em sim- ples aguardo do momento do come- timento do crime, sem qualquer ati- tude de induzimento ou instigação. f. Flagrante prorrogado ou re- tardado Está previsto no art. 2º, II da Lei n. 9.034/95, chamada de Lei do Crime Organizado, e “consiste em retardar a interdição policial do que se supõe ação praticada por organi- zações criminosas ou a ela vincu- lada, desde que mantida sob obser- vação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no mo- mento mais eficaz do ponto de vista da formação de provas e forneci- mento de informações”. Neste caso, portanto, o agente policial detém discricionariedade para deixar de efetuar a prisão em flagrante no mo- mento em que presencia a prática da infração penal, podendo aguardar um momento mais importante do ponto de vista da investigação crimi- nal ou da colheita de prova. Somente é possível na ocorrência de crime or- ganizado. Obs: O flagrante é obrigatório quando a autoridade policial ou seus agentes estão obrigados a efetuar a prisão em flagrante, não tendo dis- cricionariedade sobre a conveniên- cia ou não de efetivá-la. Ocorre em qualquer das hipóteses previstas no art. 302 (flagrante próprio, impró- prio e presumido). O flagrante é facultativo quan- do se referir às pessoas comuns do povo, que consiste na faculdade de efetuá-lo ou não, de acordo com cri- térios de conveniência e oportuni- dade. Abrange, também, todas as es- pécies de flagrante estabelecidas no art. 302, do CPP. Flagrante nas Várias Espécies de Crimes Crime permanente: enquanto não cessar a permanência, o agente encontra- se em situação de fla- grante delito (art. 303). Art. 303. Nas infrações perma- nentes, entende-se o agente em fla- grante delito enquanto não cessar a permanência. Crime de ação penal privada: nada impede a prisão em flagrante, uma vez que o art. 301 não distingue entre crime de ação pública e pri- vada, referindo- se genericamente a todos os sujeitos que se encontrarem em flagrante delito. No entanto, cap- turado o autor da infração, deverá o ofendido autorizar a lavratura do auto ou ratificá-la dentro do prazo da entrega da nota de culpa, sob pe- na de relaxamento. 15 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL Crime continuado: existem vá- rias ações independentes, sobre as quais incide, isoladamente, a possi- bilidade de se efetuar a prisão em flagrante. Formalidades do Auto de Pri- são em Flagrante São as seguintes as etapas do auto de prisão em flagrante: Antes da lavratura do auto, a autoridade policial deve co- municar à família do preso, ou à pessoa por ele indicada, acerca da prisão (CF, art. 5º, LXIII, 2ª parte); Em seguida, procede-se à oi- tiva do condutor (agente pú- blico ou particular), que é a pessoa que conduziu o preso até a autoridade. Após, ouvem-se as testemu- nhas que acompanharam o condutor, que devem ser, no mínimo, duas (a jurisprudên- cia tem admitido que o condu- tor funcione como testemu- nha, necessitando-se, portan- to, de apenas mais uma, além dele - RT, 665/297); A falta de testemunhas da in- fração não impedirá a lavratu- ra do auto de prisão em flgrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão assinar a peça pelo menos duas pessoas que tenham testemunhado a apresentação do preso à auto- ridade (testemunhas instru- mentais ou indiretas); estas testemunhas só servem para confirmar que o preso foi apre- sentado pelo condutor à auto- ridade; Ouvidas às testemunhas, a au- toridade interrogará o acusado sobre a imputação que lhe é feita (CPP, art. 304), devendo alertá-lo sobre o seu direito constitucional de permanecer calado (CF, art. 5º, LXIII); em caso de crime de ação privada ou pública condicionada, deve ser procedida, quando possí- vel à oitiva da vítima; Se o interrogado for menor, deverá ser-lhe nomeado cura- dor, sob pena de relaxamento da prisão (CPP, art. 15); O auto é lavrado pelo escrivão e por ele encerrado, devendo ser assinado pela autoridade, condutor, ofendido (se ouvi- do), testemunhas (ou testemu- nha), pelo preso, seu curador (se menor de 21 anos) ou de- fensor; No caso de alguma testemu- nha ou do ofendido recusa- rem-se, não souberem ou não puderem assinar o termo, a autoridade pedirá a alguém que assine em seu lugar, de- pois de lido o depoimento na presença do depoente (CPP, art.216); Se o acusado se recusar a assi- nar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto será assinado por duas testemunhas (instru- mentárias) que tenham ouvido 16 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL a leitura, na presença do acu- sado, do condutor e das teste- munhas (CPP, art.304, § 3º); encerrada a lavratura do auto de prisão em flagrante, à pri- são deve ser imediatamente comunicada ao juiz compe- tente que, por sua vez, deve dar vista ao Ministério Público para que este, na qualidade de fiscal da lei, se manifeste sobre a regularidade formal do auto de prisão em flagrante e sobre a possibilidade de liberdade provisória. Até vinte e quatro horas após a lavratura do auto, será dada nota de culpa ao preso, que é um instru- mento informativo dos motivos da prisão. Dela constará, nome do con- dutor e os das testemunhas. A não entrega da nota de culpa dentro do prazo acima fixado, implica, obriga- toriamente, no relaxamento da pri- são em flagrante. Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encon- tre serão comunicados imedia- tamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele in- dicada. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). § 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri- são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advo- gado, cópia integral para a De- fensoria Pública. (Redação da- da pela Lei nº 12.403, de 2011). § 2º No mesmo prazo, será en- tregue ao preso, mediante re- cibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). O preso passará recibo da nota de culpa, e, no caso de não saber, nãopoder ou não querer assinar, duas testemunhas por ele assinarão. Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, depois de lavrado o auto de prisão em flagrante. Prisão Preventiva Conceito Representa uma das espécies do gênero “prisão cautelar de natu- reza processual”, cuja detenção an- tecede a sentença penal condenató- ria. Somente poderá ser decretada pelo juiz durante o inquérito policial ou o processo criminal, sempre que estiverem preenchidos os requisitos legais e ocorrerem os motivos auto- rizadores. Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva de- cretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação da- da pela Lei nº 13.964, de 2019) 17 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL Requisitos e Pressupostos Le- gais para a Prisão Preventiva Os requisitos legais e os pres- supostos para a decretação da prisão preventiva vêm implícitos no art. 312, do CPP, senão vejamos: Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econô- mica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplica- ção da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indí- cio suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Requisitos: Garantia da ordem pública: a prisão cautelar é decretada com a fi- nalidade de preservar bem jurídico essencial à convivência social, como, por exemplo, a proteção social con- tra réu perigoso que poderá voltar a delinquir; a proteção das testemu- nhas ameaçadas pelo acusado ou proteção da vítima, garantindo a credibilidade da justiça, em crimes que provoquem grande clamor po- pular; Conveniência da instrução cri- minal: visa impedir que o agente perturbe ou impeça a produção de provas, ameaçando testemunhas, apagando vestígios do crime, destru- indo documentos etc., situações que demonstram evidente o periculum in mora, pois não se chegará à ver- dade real se o réu permanecer solto até o final do processo. Garantia de aplicação da lei pe- nal: no caso de iminente fuga do agente do distrito da culpa, inviabi- lizando a futura execução da pena. Se o acusado ou indiciado não tem residência fixa, ocupação lícita, nada, enfim, que o radique no dis- trito de culpa, há um sério risco para a eficácia da futura decisão se ele permanecer solto até o final do pro- cesso, diante da sua provável evasão. Garantia da ordem econômica: o art. 86 da Lei n. 8.884, de 11 de ju- nho de 1994 (Lei Antitruste), incluiu no art. 312 do CPP esta hipótese de prisão preventiva. Trata-se de uma repetição do requisito “garantia da ordem pública”. Pressupostos: Prova da existência do crime (prova da materialidade deli- tiva) Indícios suficientes da autoria. Com efeito, esses pressupostos constituem o fumus boni iuris para a decretação da custódia. O juiz so- mente poderá decretar a prisão pre- ventiva se estiver demonstrada a probabilidade de que o réu tenha sido o autor de um fato típico. Observa-se que, nessa fase, não se exige prova plena, bastando 18 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL meros indícios, isto é, que se de- monstre a probabilidade do réu ou indiciado ter sido o autor do fato de- lituoso. A dúvida, portanto, milita em favor da sociedade, e não do réu (princípio do in dubio pro societate). Os fundamentos da preven- tiva nada mais são do que o outro da tutela cautelar, qual seja, o pericu- lum in mora. Momento para a Decretação da Prisão Preventiva Conforme previsto no art. 311, do CPP, supramencionado, a prisão preventiva pode ocorrer em qual- quer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, em virtude de re- querimento do Ministério Público, representação da autoridade policial (seguida de manifestação do par- quet), ou de ofício pelo juiz. Cabe tanto em ação penal pública quanto em ação privada. Nada obsta que se, não houver IP, o próprio Ministério Público a re- queira, quando já tiver materialida- de e indícios suficientes de autoria, comprovados por documento. Decretada à prisão preventiva, terá a autoridade policial o prazo de 10(dez) dias para concluí-lo. Encerrada a fase instrutória, a prisão cautelar só pode decorrer de sentença penal condenatória recor- rível. Se, recebidos os autos de in- quérito policial relatados, o Ministé- rio Público devolvê-los para diligên- cias complementares, o juiz não po- derá decretar a prisão preventiva, pois, se ainda não há indícios de au- toria suficientes para a denúncia, o juiz não poderá decretá-la. Entre- tanto, convém lembrar o art. 10, ca- put, do CPP, onde o prazo para a conclusão do inquérito, no caso de haver prisão preventiva, começa a contar do cumprimento efetivo do mandado. Admissibilidade da Prisão Pre- ventiva Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva. I. Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). II. Se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Códi- go Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). III. Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mu- lher, criança, adolescente, idoso, 19 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL enfermo ou pessoa com deficiên- cia, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Consoante o artigo supracita- do, não cabe prisão preventiva em caso de crime culposo, contravenção penal, e crimes em que o réu se livre solto, independente de fiança. Não se decreta, também, no caso de ter o réu agido acobertado por causa de exclusão da ilicitude. Proibição Conforme dispõe o art. 314, do CPP, abaixo transcrito, não poderá ser decretada a PP se houver prova inequívoca de que o acusado agiu acobertado por uma das causas de exclusão de ilicitude, descritas no art. 23, incisos I, II e III, do Código Penal. Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições do art. 23, incisos I, II ou III, do Código Penal. Necessidade de Fundamenta- ção Em obediência ao princípio constitucional da motivação das de- cisões judiciais, o despacho que de- cretar ou denegar a prisão preventi- va será sempre fundamentado, isto é, o juiz deve realçar as provas da existência do crime ou não, e os in- dícios suficientes de autoria ou não. Deverá ainda demonstrar a sua ne- cessidade para garantia da ordem pública, como conveniência da ins- trução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal. Inteligência do art. 315, do CPP, a seguir trans- crito: Art. 315. A decisão que decre- tar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Recursos: Da decisão que não concede a PP cabe RESE, conforme art. 581, V, do CPP; Da decisão que conceder a PP não cabe nenhum recurso, va- lendo-se o acusado do remédio heroico denominado Habeas Corpus, conforme art. 647 e segs. Do CPP. Revogação Segundo dispõe o art. 316, do CPP, a seguir transcrito, o juiz po- derá revogar a PP quando cessar os motivos que a ensejaram, a qualquer tempo. Se não o fizer, a instância su- perior, via habeas corpus, poderá contrastar-lhe o despacho denegató- rio. Art. 316. O juiz poderá, de ofí- cio ou a pedidodas partes, revogar a 20 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL prisão preventiva se, no correr da in- vestigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela sub- sista, bem como novamente decretá- la, se sobrevierem razões que a justi- fiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). Todavia, vale lem- brar que da decisão que revoga a pri- são preventiva, cabe recurso em sen- tido estrito (CPP, art. 581, V). Legitimidade para Requerer Conforme dispõe o art., 311, do CPP, já transcrito no início deste tó- pico, a lei confere legitimidade ao: Ministério Público; Querelante; Autoridade Policial. OBS: os dois primeiros sob a forma de requerimento, e a Autoridade Po- licial sob a forma de representação (demonstrando a conveniência da determinação da medida extrema. Prisão Temporária Previsão Legal A prisão temporária foi edi- tada pela Medida Provisória n. 111, de 24 de novembro de 1989, posteri- ormente substituída pela Lei n. 7.960, de dezembro de 1989. Conceito: Representa uma das es- pécies do gênero “prisão cautelar de natureza processual”, cuja detenção terá prazo pré-fixado pela autori- dade judicial, a possibilitar as inves- tigações a respeito de crimes graves, somente durante o inquérito poli- cial. Autoridade competente para decretação: Só pode ser decretada pela autoridade judiciária, mediante representação da autoridade policial ou requerimento do Ministério Pú- blico. Fundamentos: A prisão temporá- ria pode ser decretada nas seguintes situações: Imprescindibilidade da me- dida para as investigações do IP; Indiciado não tem residência fixa ou não fornece dados ne- cessários ao esclarecimento de sua identidade; Fundadas razões da autoria ou participação do indiciado em qualquer um dos seguintes cri- mes: homicídio doloso, se- questro ou cárcere privado, roubo, extorsão, extorsão me- diante sequestro, estupro, atentado violento ao pudor, rapto violento, epidemia com resultado morte, envenena- mento de água potável ou substância alimentícia ou me- dicinal com resultado morte, quadrilha ou bando, genocí- dio, tráfico de drogas e crimes contra o sistema financeiro. Ressalta-se, por oportuno que, para Tourinho, os requisitos são al- 21 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL ternativos: ou um, ou outro. Já para Scarance Fernandes há necessidade de estarem presentes os três requisi- tos, sendo, portanto, cumulativos. Por outro lado, Damásio E. de Jesus entende que só pode ser decre- tada nos crimes acima relacionados, desde que concorra qualquer uma das duas primeiras situações. Consoante posição esposado por Vicente Greco Filho, pode ser decretada em qualquer das situações legais, desde que, com ela, concor- ram os motivos que autorizam a de- cretação da prisão preventiva. Por fim, segundo entendimen- to de Fernando Capez, a prisão tem- porária somente pode ser decretada nos crimes em que a lei permite à custódia, desde que o agente seja apontado como suspeito ou indici- ado, e, além disso, deve estar pre- sente pelo menos um dos outros dois requisito, evidenciadores do pericu- lum in mora. Prazo: 05 (cinco) dias, prorrogá- veis por igual período. Este prazo não deve ser computado naquele que deve ser respeitado para a con- clusão da instrução criminal. A Prisão Temporária e os Cri- mes Hediondos São os crimes hediondos pre- vistos na Lei n. 8.072, de 25-7-1990: Homicídio praticado em ativi- dade típica de grupo de exter- mínio, ainda que cometido por um só agente; Latrocínio; Extorsão qualificada pelo re- sultado morte; Extorsão mediante sequestro, na forma simples e qualifi- cada; Estupro; Atentado violento ao pudor, na forma simples e qualifi- cada; Epidemia com resultado morte; e Genocídio (de acordo com a nova redação dada ao art. 1º, por força da lei n. 8.930, de 6- 9-1994); Tráfico ilícito de entorpecen- tes e drogas afins; Terrorismo; Tortura. Nos termos do art. 2º, pará- grafo 3º, da Lei n. 8.072, § 3o Em ca- so de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. Sujeito passivo e oportunidade para decretação: Sujeito passivo: o indiciado, ou mesmo o suspeito, não havendo ne- cessidade de indiciamento formali- zado. Oportunidade: o momento em que pode ser decretada vai da ocor- rência do fato até o recebimento da denúncia, porque, se instaurada a ação penal, o juiz deverá examinar a hipótese como de prisão preventiva. 22 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL Características: A prisão temporária será de- cretada pelo juiz, mediante re- presentação da autoridade po- licial ou a requerimento do Mi- nistério Público; Não pode ser decretada pelo juiz de ofício; No caso de representação da autoridade policial, o Ministé- rio Público deve ser ouvido; O juiz tem o prazo de 24 horas, a partir do recebimento da re- presentação ou requerimen- to, para decidir fundamenta- damente sobre a prisão; O mandado de prisão deve ser expedido em duas vias, uma das quais deve ser entregue ao indiciado, servindo como nota de culpa; Efetuada a prisão, a autori- dade policial deve advertir o preso do direito constitucional de permanecer calado; O prazo de 5 (ou 30) dias pode ser prorrogado, desde que comprovada à extrema neces- sidade; Decorrido o prazo legal, o pre- so deve ser colocado imediata- mente em liberdade, a não ser que tenha sido decretada sua prisão preventiva, pois o atra- so configura crime de abuso de autoridade (Lei n. 13.869/ 2019, art. 12, IV); O preso temporário deve per- manecer separado dos demais detentos. Prisão por Pronúncia e por Sentença Penal Condenatória Recorrível A pronúncia por crime inafi- ançável ou a condenação em crime dessa natureza, não sendo conce- dido o regime aberto, deveria acar- retar a ordem de prisão. Todavia, o art. 413, § 3º (com a redação dada pela Lei n. 11.689/2008), e o art. 387, parágrafo único (com a redação dada pela Lei. 11.719/2008), respec- tivamente, determinam que o juiz decida sobre a situação prisional do acusado. Esses dispositivos estão as- sim redigidos: “Art. 413. O juiz, fundamental- mente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficien- tes de autoria ou de participação. § 1º A fundamentação da pro- núncia limitar-se-á à indicação de materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz de- clarar o dispositivo legal em que jul- gar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena. § 2º. Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para concessão ou manutenção da liber- dade provisória. 23 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL § 3º. O juiz decidirá, motiva- damente, no caso de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e, tra- tando-se de acusado solto, sobre a necessidade de decretação da prisão ou imposição de quaisquer medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código.” Parágrafo único. O juiz deci- dirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, impo- sição de prisão preventiva ou de ou- tra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento da apelação que vier a ser interposta. ” Com toda a propriedade, a re- dação em vigor abandonou para a li- berdade provisória o detestável cri- tério de ser o acusado primário e de bons antecedentes, que gerava polê- mica e que era evidentemente inade- quado para se aferir da necessidade, ou não, da prisão após a decisão de pronúncia ou a sentença condenató- ria recorrível. O critério, agora, é o da necessidade definida pelos crité- rios da prisão preventiva, que é o pa- râmetrogeral para a prisão proces- sual que tem natureza cautelar. A decisão, então, de manter ou não o réu na prisão ou a de determinar o seu recolhimento quando até então solto será ditada pelos requisitos da preventiva, nos quais deve destacar- se o da garantia da ordem pública. Assim, o que deve orientar a decisão judicial a respeito são os pa- râmetros da prisão preventiva, por- que se a liberdade ofender a ordem pública ou colocar em risco a aplica- ção da pena não será deferida. As- sim, se o acusado estava preso ade- quadamente, em flagrante ou pre- ventivamente, não tem razão a sua liberdade quando pronunciado o condenado por crime inafiançável. Diferente é a situação se por ocasião da sentença e da pronúncia cessa- ram os motivos determinantes da prisão, como ocorre, por exemplo, se há desclassificação para crime mais leve, que comporta fiança ou sus- pensão condicional da pena. Nesse caso, a pronúncia ou sentença con- denatória, mas não tem cabimento a prisão. A recíproca, todavia, não se apresenta obrigatoriamente verda- deira, porque estando o réu solto até a pronúncia ou sentença, não terá necessariamente o direito à liberda- de, até porque podem ocorrer duas situações. Vejamos: Primeiramente, porque pode surgir o risco de o acusado tor- nar-se foragido, ou se ele ameaçar os jurados, entre outras hipóteses. Segundo, nas hipótese legais que exigem o recolhimento a prisão para recorrer, como trá- fico de entorpecentes, racismo e os considerados hediondos. 25 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL 3. Liberdade Provisória Fonte: Galvão e Silva3 Conceito liberdade provisória é a situa- ção substitutiva da prisão pro- cessual. É o contraposto da prisão processual. Representa um instituto processual que garante ao acusado o direito de aguardar em liberdade o transcorrer do processo até o trân- sito em julgado, cuja concessão pode estar vinculada a certas obrigações, que se não cumpridas enseja na sua revogação. Espécies A liberdade provisória obriga- tória pode ser conceituada como 3 Retirado em https://www.galvaoesilva.com/liberdade-provisoria-o-que-e-quais-os-tipos/ aquela em que não pode ser negada ao infrator. Por exemplo, imagine que um homem foi preso em fla- grante por estar anotando o cha- mado jogo do bicho. Sabemos que praticar o jogo do bicho não oferece uma pena restritiva de liberdade com reclusão do agente. Quanto à liberdade provisória permitida, vemos que é aquela que pode ser concedida na observação de inadequação da prisão preventiva, em concordância do Ministério Pú- blico. Neste caso, a lei define a pos- sibilidade da liberação com ou sem fiança, a depender de uma série de características técnicas. A 26 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL Conceito de Fiança A fiança é uma caução desti- nada a garantir o cumprimento das obrigações processuais do réu. Infrações inafiançáveis: Vem estar dispostas nos arts. 323 e 324, do CPP, a seguir transcrito: Art. 323. Não será concedida fiança: I. Nos crimes de racismo; (Reda- ção dada pela Lei nº 12.403, de 2011). II. Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; (Reda- ção dada pela Lei nº 12.403, de 2011). III. Nos crimes cometidos por gru- pos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 324. Não será, igualmen- te, concedida fiança: I. Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anterior- mente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; II. Em caso de prisão civil ou mi- litar; III. (Revogado); IV. Quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva Acrescenta-se. Crimes de racismo (CF. art. 5º, XLII; Lei 7.716/89); Crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e terrorismo (CF, art. 5ºXLIII; Lei n. 8.072/ 90, art. 2º, II) Valor da Fiança O valor da fiança é arbitrado pela autoridade que a conceder, se- gundo faixas correspondentes à maior ou menor gravidade da infra- ção, conforme dispõe o art. 325, abaixo transcrito, e tendo em vista as condições econômicas e vida pre- gressa do réu, bem como as circuns- tâncias indicativas de sua periculosi- dade, de acordo com o estabelecido no art. 326 também transcrito. Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conce- der nos seguintes limites: Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conce- der nos seguintes limites: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I. De 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de in- fração cuja pena privativa de li- berdade, no grau máximo, não for superior a 4 (quatro) anos; (Inclu- ído pela Lei nº 12.403, de 2011). 27 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL II. De 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o má- ximo da pena privativa de liber- dade cominada for superior a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 1o Se assim recomendar a si- tuação econômica do preso, a fiança poderá ser: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I. Dispensada, na forma do art. 350 deste Código; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). II. Reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). III. Aumentada em até 1.000 (mil) vezes. (Incluído pela Lei nº 12. 403, de 2011). Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em consideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as cir- cunstâncias indicativas de sua peri- culosidade, bem como a importância provável das custas do processo, até final julgamento. Modalidades de Fiança A fiança é o depósito em di- nheiro ou valores feito pelo acusado ou em seu nome para liberá-lo da prisão, nos casos previstos em lei, com a finalidade de compeli-lo ao cumprimento do dever de compare- cer e permanecer vinculado ao dis- trito da culpa, conforme dispõe o art. 330, a seguir transcrito: Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em de- pósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dí- vida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar. Competência Art. 332. Em caso de prisão em flagrante, será competente para con- ceder a fiança à autoridade que pre- sidir ao respectivo auto, e, em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver expedido, ou a autoridade ju- diciária ou policial a quem tiver sido requisitada a prisão. Recurso Das decisões do juiz sobre a fi- ança cabe recurso em sentido estrito com fundamento no artigo 581, V e VII. Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida indepen- dentemente de audiência do Minis- tério Público, este terá vista do pro- cesso a fim de requerer o que julgar conveniente. 28 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL Oportunidade para Sua Con- cessão A fiança, se cabível, será con- cedida imediatamente após a lavra- tura do flagrante, mas também po- derá ser concedida a qualquer tempo do processo, enquanto não transitar em julgado da sentença condenató- ria, é o que dispõe o art. 334, do CPP, a seguir transcrito: Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória. Recusa ou Demora na Conces- são No caso de recusa ou demora da concessão da fiança pela autori- dade policial, o preso, ou alguém ou ele, poderá prestá-la, mediante peti- ção, diretamente ao juiz, que deci- dirá depois de ouvir aquelaautori- dade, é o que dispõe o art. 335, do CPP, a seguir transcrito: Art. 335. Recusando ou retar- dando a autoridade policial a con- cessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, mediante simples petição, perante o juiz com- petente, que decidirá em 48 (qua- renta e oito) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Restituição da Fiança A fiança prestada será motivo de restituição, respeitadas as condi- ções previstas nos artigos 336 e 337 do CPP, a seguir transcritos: Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança ficarão sujeitos ao pagamento das custas, da indeni- zação do dano e da multa, se o réu for condenado. § único - Este dispositivo terá aplicação ainda no caso da prescri- ção depois da sentença condenatória (Código Penal, art.100 e seu §). Art. 337. Se a fiança for decla- rada sem efeito ou passar em jul- gado a sentença que houver absol- vido o réu ou declarada extinta a ação penal, o valor que a constituir será restituído sem desconto, salvo o disposto no parágrafo do artigo an- terior. O art. 336, do CPP, refere-se à restituição parcial, após incidir a de- dução das custas, reparação do dano e a pena de multa. O art. 337, do CPP, refere-se à restituição total, se o acusado for ab- solvido ou for extinta a ação penal, ou no caso de cassação e reforço não efetivado. Cassação Haverá cassação da fiança prestada se concedida fora das hipó- teses legais ou se houver alteração da classificação da infração para ou- tra inafiançável, conforme disposto nos arts. 338 e 339, do CPP, a seguir transcritos: 29 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL Art. 338. A fiança que se reco- nheça não ser cabível na espécie será cassada em qualquer fase do pro- cesso. Art. 339. Será também cassada a fiança quando reconhecida a exis- tência do delito inafiançável, no caso de inovação na classificação do de- lito. Reforço de Fiança Será exigido um reforço quan- do a fiança for tomada, por engano, em valor insuficiente, quando ino- vada a classificação do delito ou quando houver depreciação do valor dos bens hipotecados ou cauciona- dos, é o que dispõe o art. 340, do CPP, a seguir transcrito: Art. 340. Será exigido o re- forço da fiança: I. Quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente; II. Quando houver depreciação material ou perecimento dos bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou pedras preciosas; III. Quando for inovada a classifi- cação do delito. § único - A fiança ficará sem efeito e o réu será recolhido à prisão, quando, na conformidade deste ar- tigo, não for reforçada. Quebramento de Fiança Haverá quebramento se o acu- sado descumprir as obrigações de comparecer, não mudar de residên- cia e não se ausentar sem comunicar à autoridade (art. 341, abaixo trans- crito), com perda da metade do valor e expedição de ordem de prisão (art. 343, abaixo transcrito). No entanto, o quebramento pode ser relevado se o acusado demonstrar justo motivo para o descumprimento do ônus. Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado: (Reda- ção dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I. Regularmente intimado para ato do processo, deixar de compa- recer, sem motivo justo; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). II. Deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento do processo; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). III. Descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). IV. Resistir injustificadamente a ordem judicial; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). V. Praticar nova infração penal dolosa. (Incluído pela Lei nº 12. 403, de 2011). 30 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL Art. 342. Se vier a ser refor- mado o julgamento em que se decla- rou quebrada a fiança, esta subsis- tirá em todos os seus efeitos Art. 343. O quebramento in- justificado da fiança importará na perda de metade do seu valor, ca- bendo ao juiz decidir sobre a impo- sição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação da pri- são preventiva. Perda Total da Fiança Haverá perda total se o acu- sado, condenado, não se apresentar à prisão, é o que dispõe o art. 344, do CPP, a seguir transcrito: Art. 344. Entender-se-á per- dido, na totalidade, o valor da fiança, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do cumpri- mento da pena definitivamente im- posta. 31 31 32 AÇÃO PENAL E PROCESSUAL 32 4. Referências Bibliográficas CAPEZ, Fernando. Curso de processo pe- nal, São Paulo: Saraiva, 1997. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, Dec.Lei nº 3.689 de 03-10-1941. São Paulo: Sa- raiva, 2010. DELMANTO, Roberto. Código penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. São Paulo: Saraiva, 1998. FRANCO, Alberto Silva e outros. Leis Pe- nais Especiais. São Paulo: Revista dos Tri- bunais, 1995. GRECO Fº, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2010 MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. v.4, São Paulo: Bookseller, 1997 NORONHA, E. Magalhães. Curso de Di- reito Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 1997. TOURINHO Fº, Fernando da Costa. Prá- tica de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2009. XAVIER DE AQUINO, José Carlos & Na- lini, José Renato. Manual de Processo Pe- nal. São Paulo: Saraiva, 2008. 03 3
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