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Mascaras - TCCMovimentoPhanchay

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FECHANDO LACUNAS E 
CONSTRUINDO NOVAS IDENTIDADES
Narradores 
Juliana Tessaroli Bravo 
Leidijane Terto dos Santos 
1
 
“Quando você atinge a iluminação não se torna uma nova pessoa. Na verdade, você 
não ganha nada, apenas perde algo: se desprende de suas correntes, de suas 
amarras, deixa para trás seu sofrimento.” OSHO 
 
2
MÁSCARAS 
Narrativas reais com personagens fictícios. 
Histórias impactantes e comoventes, que exercerão 
grandes influências e transformações na vida 
de quem assim como esses personagens 
estão em busca de se libertar das prisões 
da mente condicionada. 
Histórias para te inspirar a seguir firme 
no caminho do autoconhecimento. 
 
3
 Índice 
 PRIMEIRA PARTE 
 “O MEDO DO ABANDONO" 
 A Reprovação 08 
 Tudo Começou na Infância 09 
 O Renascimento 14 
 O Desejo de uma Parceira 15 
 Na Busca por Respostas 16 
 SEGUNDA PARTE 
 “O GRANDE DESAFIO QUE É RELACIONAR-SE” 
 Feridas de uma Vida 19 
 Reforçando as Necessidades 21 
 Revivendo o Passado 24 
 
 TERCEIRA PARTE 
 “DESPERTANDO PARA VIDA" 
 
 Criando Máscaras e Personagens 28 
 Imagens Limitantes 31 
 Vivendo no Passado 35 
 As Escolhas não Feitas 32 
 Voando Alto 37 
 Seguindo de Coração Aberto 43 
4
 
 QUARTA PARTE 
 "O MERGULHO EM MIM QUE ME LIBERTOU" 
 Foi Fácil Nascer 45 
 Memórias de uma Infância 46 
 A Ovelha Negra da Família 48 
 Traições, Onde Tudo Começou 50 
 Casamento e Traumas 52 
 A Minha Primavera Chegou 57 
 
 
 
5
PREFÁCIO 
Fazemos parte de uma mentoria avançada da Phanchay University onde 
estamos aprendendo cada dia mais a desenvolver e expandir nossa consciência 
com nosso mestre, líder, amigo e educador Cristian Fabian Coronel Bobadilla e seus 
ensinamentos. 
Esse livro nasceu com a missão de transmitir o nosso entendimento de 
acordo com as várias aulas, exercícios e experiências que tivemos a respeito do 
Mecanismo de Percepção do Ego e o porquê somos condicionados a perceber tudo 
que nos acontece baseado no passado. 
Constantemente nos vemos agindo e reagindo a tudo que acontece à nossa 
volta sem nos darmos conta do quê fazemos ou o porquê fazemos determinada 
coisa. E porque estamos tão automatizados a rotina da vida, na maioria das vezes 
nem percebemos que é nosso inconsciente quem comanda nossas ações e por isso 
não reagimos conscientemente no presente do agora. 
Vamos contar quatro histórias e experiências diferentes, que falam e relatam 
o mesmo assunto: O condicionamento no qual vivemos diariamente, a mente 
aprisionada que programamos no decorrer de nossas vidas. 
Somos seres em evolução constante, líderes de nossa própria jornada com 
experiências de vida bem distintas, mas com o intuito integrado de compartilhar 
nossa história. Nos preparar para auxiliar na jornada do próximo, para que ao 
entender o mecanismo funcionando, possamos nos desvencilhar dessa armadilha e 
fazer escolhas conscientes e saudáveis para todos nós e para o maior número de 
pessoas possíveis ao nosso redor. 
6
PRIMEIRA PARTE 
“O MEDO DO ABANDONO" 
7
A REPROVAÇÃO/APROVAÇÃO 
 
No dia 13 de Janeiro de 2021, foram incumbidos Júlio, Pedro, Aurora e 
Joana de realizar um trabalho para a Phanchay University onde seria desenvolvido 
o tema do MPE mecanismo de percepção do ego. Cada participante desenvolveu 
uma parte teórica e trouxeram seus relatos e experiências pessoais para 
exemplificar o conteúdo. 
Júlio estava apreensivo em receber o resultado do trabalho no que 
interpretou como um TCC, o que era novo para ele, pois era a primeira vez em que 
ele fazia um TCC. Eles faziam parte do grupo de WhatsApp da mentoria avançada 
da Phanchay University onde era realizado mais um outro TCC de outro grupo de 
líderes. Quando veio a resposta que o TCC deles tinha sido reprovado, já ligou um 
sinal de alerta no Júlio, gerando sintomas de ansiedade e dúvida. Quando veio o 
resultado que o trabalho deles também tinha sido reprovado e que deveriam refazer, 
surgiu uma sensação de frustração e um posicionamento de querer se defender por 
ter seguido à risca o que tinha sido pedido pelo seu orientador, Cristian Fabian. 
Alguns líderes começaram a argumentar no grupo que tinham seguido as 
orientações do orientador, Júlio concordava com a posição deles, mas escolheu não 
se expor por medo de gerar conflitos, assumindo assim uma posição de defesa e 
reatividade aos fatos, e que na verdade concordava que tinha apenas o 
conhecimento teórico sob esse mecanismo. 
A seguir, abriremos uma janela no tempo para voltar ao passado do Júlio e 
dar um zoom para que você, leitor, possa entender melhor como ele interpretou e 
significou os fatos de sua vida. 
8
TUDO COMEÇOU NA INFÂNCIA 
O dia 6 de julho de 1985 é um marco no começo de uma história, onde um 
homem e uma mulher (que mais tarde chamaremos de pai e mãe de Júlio) se 
conheceram e começaram a relacionar-se, mas é preciso voltar um pouco mais no 
tempo. Ele Antônio, de uma família que veio desbravar e abrir a mata para começar 
a estabelecer moradia e a cultivar a terra. Antônio teve uma infância que envolvia 
muito trabalho e as condições de vida não eram nada fáceis. Ela Lúcia, que por um 
tempo foi criada por sua madrinha de batismo e aos 6 anos sua família foi para o 
Paraná, e foi seu pai que foi buscá-la pois sua mãe não fazia questão de ir. 
Cada um chegou nesse relacionamento trazendo dainfância suas 
necessidades emocionais não atendidas, como: afeto, carinho, toque e palavras 1
amorosas como "eu te amo" e também crenças, verdades e paradigmas individuais, 
familiares e coletivos tanto a nível psicológico, emocional e sexual que acreditavam 
como verdades absolutas. Além de terem experimentado situações emocionais que 
levaram a desenvolver algumas feridas emocionais, como a ferida da rejeição, 2 3
abandono, humilhação, traição e injustiça em menor ou maior intensidade cada 4 5 6 7
uma delas. 
 Desenvolvidas da infância por volta dos 3 a 8 anos. Quando o amor, segurança e 1
proteção não são nutridos. Criando-se lacunas emocionais. Extraído do material de uso 
exclusivo da Universidade Phanchay.
 BOURBEAU, Lise. As cinco Feridas Emocionais. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.2
 Ferida Emocional da Rejeição: aquele que sofre por causa dela se sente-se rejeitado 3
em seu ser e, principalmente, em seu direito de existir.
 Ferida Emocional do Abandono: diz respeito à falta de alimento afetivo ou do tipo de 4
alimento desejado.
 Ferida Emocional da Humilhação: O despertar dessa ferida se produz no momento em 5
que a criança sente que um de seus pais tem vergonha dela quando ela está suja, faz uma 
má-criação (sobretudo em público ou em família), está mal-vestida, etc. 
 Ferida Emocional da Traição: A criança que cresce com esta ferida se sentem traídas 6
pelo genitor do sexo oposto sempre que este trai sua confiança, não cumprindo suas 
promessas ou o que foi dito.
 Ferida Emocional da Traição: A criança acha injusto não conseguir integrar sua 7
individualidade, não conseguir se exprimir e ser ela mesma. Ela sofre igualmente com o 
autoritarismo, as críticas frequentes, a severidade, a intolerância ou o conformismo. 
9
Essas experiências passaram a moldar a forma como os pais do Júlio 
enxergavam, significavam e interpretavam as situações que aconteceram em suas 
vidas e como reagiram a elas. Antônio e Lúcia oficializaram o início de uma vida de 
casal, no dia 6 de Julho de 1985 e começaram a viver juntos formando assim uma 
linda família. 
No dia 9 de março de 1987, de um encontro sexual entre Antônio e Lúcia 
veio a este mundo Júlio, o primeiro filho desse casal. Nesse momento não estavam 
presentes apenas seus corpos, estava presente também toda uma bagagem de 
informações que cada um deles carregavam de suas experiências de vida que 
foram elas individuais, familiares, sociedade/cultura e de toda sua ancestralidade. 
Todas essas informações dos pais de Júlio, se misturaram naquele encontro sexual, 
transferindo para Júlio todos os conteúdos e cargas emocionais vivenciados. 
Júlio nasceu de cesárea no hospital da cidade. Uma parteira insistia no 
parto natural até que o médico a indagou "os dois ficarão vivos"? (mãe e filho, 
corriam riscos de vida). Naquele momento Lúcia foi levada para o centro cirúrgico 
sendo induzida a realizar uma cesariana. 
Primeiro filho do casal, eles não tinham muita experiência para 
desempenhar esse papel, tendo apenas suas referências por meio do que eles 
apreenderam nas suas infâncias através de seus pais e os avós de Júlio. Essa 
experiência é nova para eles, não sabiam nada sobre cuidar de um ser pequeno e 
frágil. Após três semanas de vida Júlio começou a receber água de arroz para 
completar sua alimentação, pois o leite do peito da mãe era fraco. Infelizmente, Júlio 
contraiu uma grave infecção intestinal, onde tinha sangue em suas fezes. Júlio foi 
internado no hospital, recebeu alguns medicamentos e depois de vários testes 
conseguiram ter resultado e felizmente acabar com a infecção. Nos primeiros três 
meses de vida, ele não tinha mais acesso ao leite materno como alimentação, esse 
fato impactou sua psiquê, interpretando como se estivesse sido abandonado por 
não ter o alimento que desejava. Teve um fato que impactou a mãe de Júlio nessa 
época em que ele passou pela infecção, Lúcia foi buscar apoio e conforto com sua 
mãe, a avó de Júlio, mas para decepção dela as palavras foram as seguintes: "deixe 
ele ir”! No sentido de não se esforçar para deixar Júlio vivo. Mais tarde, ele veio a 
descobrir que sua avó tinha perdido um filho e por isso a razão do seu 
comportamento triste. 
10
Essas situações começaram a permear Júlio, o levando a desenvolver suas 
primeiras feridas emocionais, a da rejeição e abandono. 8 9 10
Júlio começa a fase escolar, passa a ter contato com crianças da sua 
mesma faixa etária, surgindo também suas primeiras dificuldades em se relacionar. 
Seus pais chegaram a levá-lo a um médico para ver se ele não era autista, por ser 
fechado e isolado e o parecer do médico foi que se fosse autista, era em um grau 
bem leve. 
A mãe de Júlio tem origem alemã e o diálogo em família era em alemão 
mesmo morando no Brasil, dessa forma Júlio não conseguia se relacionar com os 
colegas. Foi então que sua família percebeu essa dificuldade, passando a conversar 
em português. Pode ser que esse fato tenha causado a dificuldade de Júlio em se 
relacionar principalmente com mulheres, chegando a assumir em certas situações 
uma identidade agressiva e tentativas de escapar da interação. 11
Teve um fato na escola que marcou Júlio, onde sua família tinha uma casa 
de madeira, e seu pai participava de um campeonato de bolão (boliche), nessa 
ocasião Júlio pediu para sua família trancar a casa já que o campeonato era à noite. 
No caso, ele associa sua casa com a história dos três porquinhos, onde o lobo 
assopra e derruba a casa de palha e de madeira, sobrando apenas a de tijolos. O 
medo de Júlio de não ser protegido era porque seu pai não estava presente, sentia 
falta de carinho e contato físico com ele. 
Em 7 de setembro, Júlio foi para a escola para assistir o desfile desta data 
comemorativa. Sua família não estava presente para assistir o seu desfile, pois sua 
mãe estava na sua segunda gravidez e nos últimos dias de gestação. Lá pelo final 
desse mesmo dia nasceu seu irmão através de uma cesárea, já era tarde e Júlio 
estava cansado quando o médico foi dar a notícia do nascimento de seu irmão e da 
 Ferida Emocional da Rejeição: aquele que sofre por causa dela se sente-se rejeitado 9
em seu ser e, principalmente, em seu direito de existir.
 Ferida Emocional do Abandono: diz respeito à falta de alimento afetivo ou do tipo de 10
alimento desejado.
 Identidade: É algo próprio, uma realidade interior que pode ficar oculta atrás de atitudes 11
ou comportamentos que, na realidade, não são próprios da pessoa.
https://conceito.de/identidade 
11
https://conceito.de/identidade
dificuldade que sua mãe havia passado por ter tido uma aderência do intestino 
devido a primeira cirurgia. 
Quando sua mãe foi para casa com seu irmão, Júlio começou a perceber 
que já não tinha mais aquela atenção de antes, agora essa atenção era limitada, 
seu irmão recebia mais atenção que ele. Júlio pensou que precisava fazer algo para 
que seus pais o notassem novamente. Para receber essa atenção, Júlio começou a 
mostrar-se como era responsável, certinho e bem comportado. 
Ocorreu um fato após uns dois anos do nascimento de seu irmão. Antônio 
não estava em casa e na cabeça de Júlio ele queria proteger a propriedade. Ele 
tinha uma melancia bem grande perto da divisa onde passava um caminhão, e 
pensando que ele iria roubar pegou a sua bicicleta e foi atrás. Tinha uma descida e 
Júlio fez o trajeto em alta velocidade, porém a bicicleta só tinha freio na roda 
dianteira e quando ele freou, Júlio caiu se machucando feio. Ele não lembra de nada 
só de acordar com o guidão da bicicleta na sua coxa e um corte grande. 
Provavelmente ele capotou a bicicleta. 
Júlio chegou em casa e chamou pela mãe que ficou assustada e seu irmão 
começou a chorar. Ela mandou lavá-lo e tinha que esperar seu pai voltar para ser 
levado ao hospital, chegando no hospital foi preciso fazer treze pontos em seu 
ferimento. 
Depois desses acontecimentos, Júlio se recorda daquela mesma sensação,de estar sozinho e abandonado durante e após o desfile enquanto esperava alguém 
ir buscá-lo, e percebe ter ficado preso por um longo período no piso infantil. 12
No piso infantil a criança começa a explorar e experienciar o mundo à sua 
volta através dos cinco sentidos, tudo é novo para ela. A importância nesse piso é a 
criança sentir-se amada, abraçada, beijada e protegida. E também as experiências 
emocionais de alegria, felicidade, amor e paz, como experiências negativas como 
medo, raiva, tristeza e frustração. Todas essas experiências são gravadas em sua 
psiquê e biologia sem nenhum filtro por não ter o cérebro totalmente desenvolvido 
para avaliar e questionar as situações que ocorrem. 
 Piso Infantil: Nesse piso se forma as raízes da identidade, crenças e dores dessa criança. 12
Experiências como a rejeição, o abandono são vividas durante a infância, essas 
experiências, chamadas de feridas emocionais, formaram sua personalidade. Extraído do 
material de uso exclusivo da Universidade Phanchay.
12
O RENASCIMENTO 
Uma data marcante e inesquecível, foi o dia 10 de Janeiro de 2009. Para os 
familiares de Júlio essa data foi como se ele e seu irmão tivessem nascido outra 
vez, pois sobreviveram a um acidente na volta pra casa de uma viagem que fizeram 
ao santuário de Nossa Senhora Aparecida. 
Ricardo, irmão de Júlio, ganhou essa viagem de presente de formatura do 
ensino fundamental de seu primo e padrinho de crisma. Como ele era menor de 
idade Júlio foi incumbido de ir junto com ele como responsável. Foram em um 
ônibus de excursão de romeiros. A viagem também tinha como destino o Rio de 
Janeiro, para conhecer o Maracanã e o Cristo Redentor. A viajem estava sendo 
ótima e divertida. Na ida a São Paulo antes de retornar ao Paraná também foram 
conhecer Campos do Jordão na Serra da Mantiqueira. 
Quando estavam indo embora algo inesperado aconteceu. O trajeto era 
uma descida e havia uma curva antes de entrar em um túnel, houve-se um barulho 
e logo perceberam que o ônibus ficou sem freio. Todos que estavam no ônibus 
ficaram desesperados, o ônibus foi ganhando mais velocidade e batendo a lateral 
em um paredão de rocha. Entraram no túnel e ao sair o motorista fez com que o 
ônibus tombasse e fosse derrapando sobre o asfalto. Infelizmente, cinco pessoas 
morreram nesse grave acidente e outras ficaram mutiladas. Júlio e Ricardo não 
sofreram machucados graves, apenas contusões devido ao forte impacto do ônibus. 
Nessa situação, novamente Júlio passa a viver a sensação de estar 
sozinho, desprotegido e sendo responsável por seu irmão. Essa experiência teve 
um alto impacto emocional na vida dele, o fazendo perceber que revivia a mesma 
sensação de abandono e passou a vestir uma identidade de vítima, contando essa 
história com o discurso: "olhem o que aconteceu comigo”!. 
13
O DESEJO DE UMA PARCEIRA 
No ano de 2018, Júlio ouvia sempre as mesmas perguntas: 
- “Quando vai casar”? 
- “Como vai conhecer alguém se fica em casa”?. 
Júlio sempre respondia: 
- “Ela vai vir atrás de mim, e um dia vou me casar como meu pai”. 
Após ter feito 31 anos essa data chegou e nada, Júlio se frustrou e sentiu 
uma sensação de vazio. 
Em Julho desse mesmo ano, uma moça chamada Ana começou a trocar 
mensagens pelo Messenger e foram mantendo contato por WhatsApp. Como Júlio 
tinha uma carência afetiva desejou muito que esse relacionamento desse certo. 
Nesse momento inicial enxergava tudo de bom nessa moça e em duas semanas 
oficializaram um compromisso sério. Aconteceu o esperado, Júlio começou a ver os 
comportamentos negativos de Ana, onde ela tinha uma identidade que sustentava 
um comportamento de vítima, queixava-se por ser mãe solteira e ter sido mandada 
embora. Essa repetição de comportamento começou a incomodar Júlio, chegando 
ao ponto que ele não aguentou mais e terminou o namoro via WhatsApp de uma 
forma grosseira e estúpida. 
Por Júlio viver na identidade de carente afetivo, tentou retornar o namoro 
mas ele não aconteceu, isso o levou a vivenciar um processo depressivo onde tinha 
pensamentos de tirar até a própria vida. Felizmente, Júlio teve o apoio de sua 
família e em janeiro de 2019 começou a busca pelo autoconhecimento. Percebeu 
que estava repetindo ciclos em sua vida que não queria mais esses sofrimentos na 
sua vida. 
14
NA BUSCA POR RESPOSTAS 
Júlio acordou, passou a observar toda a dinâmica das suas experiências 
passadas. Passou a reviver várias experiências em sua vida e alinhar com as 
possíveis raízes e causas de seus sofrimentos. Percebeu que na sua infância teve 
uma necessidade que não foi atendida, que era a de se sentir protegido. Dessa 
necessidade surgiu uma identidade de vítima e de abandonado. Essa identidade 
passou a contar histórias para reviver essas necessidades gerando um círculo 
vicioso que se auto-alimentava. 
Todos os fatos narrados aqui fazem parte de memórias implícitas e 13
memórias explícitas que chamamos de passado. E como Júlio era criança e não 14
tinha o neocórtex desenvolvido ele não racionalizava os fatos, apenas 
experimentava a partir do cérebro reptiliano que tem como objetivo a sobrevivência. 
Esses fatos geraram dor e sofrimento e, seu foco mental funcionava para evitar 
essas situações de sofrimento reforçando assim essas memórias e revivendo em 
sua vida essas mesmas situações. 
Com o processo profundo de autoconhecimento, Júlio aprendeu que a maior 
parte de sua vida foi movida pelo Mecanismo de Percepção do Ego. Interpretando 15
e significando as situações de sua vida através de suas referências internas do 
passado. Ele nunca estava de frente ao novo. 
Todos os fatos do passado de Júlio, toda sua história de vida experimentado 
através de situações que envolveram seus conteúdos individuais, familiares e 
coletivos a nível psicológico, emocional e sexual, junto com suas feridas emocionais 
acabaram moldando a forma como ele percebe e interpreta o mundo e as situações 
a sua volta. 
 Memórias Implícitas: Experiências de outras pessoas (positiva/negativa).13
 Memórias Explícitas: Experiências que vivemos individualmente (positiva/negativa) 14
 O Mecanismo de Percepção do Ego: é o agente que utiliza as informações colhidas 15
nas experiências passadas para dar um significado e interpretar as coisas que nos 
acontecem, criando assim, identidades para poder reviver a história criada no momento da 
interpretação e reforçar a necessidade de tudo isso. 
15
Júlio continua na sua jornada para transcender e modificar suas 
interpretações e assim poder viver com leveza na vida e construindo 
relacionamentos saudáveis e funcionais. 
16
SEGUNDA PARTE 
“O GRANDE DESAFIO QUE É RELACIONAR-SE” 
17
FERIDAS DE UMA VIDA 
Pedro é o primeiro filho de João, que possui um grande histórico de dor e 
sofrimento, e que carrega em si a ferida emocional da rejeição. E também filho de 16
Clotilde, que possui um grande histórico de dor e sofrimento e carrega em si a 
ferida emocional do abandono. No momento em que foi concebido todas essas 17
informações que seus pais carregavam foram passadas para ele. Vamos chamar 
essas informações de banco de dados. 18
Durante sua infância, Pedro passou por algumas situações que despertaram 
essas mesmas feridas e que hoje fazem parte de sua biologia e mente. No caso da 
ferida emocional da rejeição pelo fato de ser o primeiro filho, seu pai sem 
experiência alguma em relação a como cumprir esse papel, Pedro acaba não 
recebendo tanto amor quanto necessitava dele. João estava sempre trabalhando e 
os relatos de Clotilde era que ele não queria ter uma família naquela época, não 
estava preparado para assumir a responsabilidade de pai. Seu conceito do que era 
ser um pai vinha de suas próprias experiências, e isso era basicamente que um pai 
tinha somente que se preocupar em colocar a comida na mesa, o resto a mãe e a 
escola tinham que fazer e ensinar. 
De acordo com algumas situações vividas em casal, Joãocarregava 
dúvidas se Pedro era mesmo seu filho e por diversas vezes, Pedro chegou a ouvir 
seu pai dizendo que queria um exame de DNA para comprovar a paternidade. 
Com todas essas experiências em relação a seu Pai, Pedro acabou 
arquivando em seu banco de dados que ele o rejeitava e que não era merecedor de 
seu amor, foi aí então despertado a ferida da rejeição. 
 Ferida Emocional da Rejeição: aquele que sofre por causa dela se sente-se rejeitado 16
em seu ser e, principalmente, em seu direito de existir.
 Ferida Emocional do Abandono: diz respeito à falta de alimento afetivo ou do tipo de 17
alimento desejado.
 Banco de Dados: São todas nossas informações em mente e biologia e são compostos 18
por 3 agentes influenciadores: Individual, Familiar e Coletivo e cada um deles a nível 
Psicológico, Emocional e Sexual. Extraído do material de uso exclusivo da Universidade 
Phanchay.
18
Em relação à ferida do abandono, sendo o primeiro filho de Clotilde, 19
despertou essa ferida quando seu outro irmão nasceu e a atenção e agrados dela 
se voltaram totalmente a ele. Por diversas vezes, por conta do trabalho que Clotilde 
tinha, Pedro precisava ser cuidado por outras pessoas, vizinhas, babás, primas e 
tias, e com essas experiências acabou arquivando em seu banco de dados a 
imagem de uma mãe ausente, o sentimento de solidão, a história de que sua mãe 
tinha o abandonado e reforçando assim suas feridas. 
19
REFORÇANDO SUAS NECESSIDADES 
Já na sua adolescência, Pedro começou a interpretar os ambientes sociais 
que vivia e atuar com os mesmos comportamentos de seu pai. Percebeu que os 
comportamentos de seu pai eram baseados em agradar as outras pessoas, a forma 
que se arrumava, as roupas que usava e tudo que comprava era com esse intuito. 
Pedro conta que ele comprou um carro bem caro na época e que não cabia em seu 
orçamento, só para poder chamar atenção de amigos. Clotilde costumava dizer que 
os amigos andavam com mais frequência naquele carro do que os dois juntos. 
Pedro logo começou a seguir os mesmos comportamentos de seu pai, ele 
se arrumava e se vestia para os outros, estava sempre preocupado com o que os 
outros estavam pensando dele. Muitas das vezes que estava para sair com amigos, 
Pedro sentia a necessidade de comprar uma peça de roupa diferente para usar, e 
então passava horas se arrumando e o cabelo tinha que estar perfeito com um 
topete jogado para o lado, as roupas todas certas no corpo e sempre muito bem 
perfumado. 
Hoje em dia Pedro ainda preza muito por sua aparência física, mas naquela 
época ele agia assim para ser aceito, devido a uma forte carência pelo fato de ter 
suas necessidades emocionais não atendidas por seus pais. Devido a esses 20
comportamentos visando sanar carências, Pedro começou a buscar uma forma de 
ser aceito por mulheres, mas por não saber como ter um relacionamento, acabou 
passando por mais situações de dor e sofrimento que reforçaram ainda mais suas 
feridas o levando a interpretar seus relacionamentos com mulheres de uma forma 
totalmente disfuncional e distorcida. 
Durante sua juventude e transição para se tornar um adulto, Pedro 
experienciou três situações bem marcantes na dinâmica que envolve 
relacionamentos com mulheres. 
O primeiro foi quando ele tinha 14 anos de idade e tentou se relacionar com 
uma mulher mais velha, na época ela tinha 18. Ela era uma mulher linda, charmosa 
e seu corpo era muito sensual, ela se relacionava com alguns caras mais 
 Desenvolvidas da infância por volta dos 3 a 8 anos. Quando o amor, segurança e 20
proteção não são nutridos. Criando-se lacunas emocionais. Extraído do material de uso 
exclusivo da Universidade Phanchay.
20
“descolados” da cidade e esses caras possuíam carros, motos, boas roupas e 
aparência, se comunicavam bem e tinham fama. Todas as suas tentativas de ficar 
com ela foram falhas, pois a referência interna que ele tinha de como ter uma garota 
como aquela era a dos caras com quem ela se relacionava. Logo percebeu que não 
possuía nenhuma daquelas características, ou pelo menos era isso que ele 
acreditava. 
Com essa experiência, gravou em seu banco de dados a seguinte crença: 
“mulheres bonitas só se relacionam com homens que possuem bens materiais, boa 
comunicação, beleza física e status”, e que, como ele não possuía nada disso, não 
poderia ter mulheres dentro deste padrão em sua vida. Com essa crença 
disfuncional registrou emoções de incapacidade e insuficiência, e se via como um 
cara que não merecia ter mulheres com essas características como namorada. 
Aos 17 anos passou por outra dessas experiências que ficou bem marcada 
em sua psiquê. Conheceu uma garota no final de uma festa, se relacionaram, 
trocaram números e deram início a várias conversas durante 2 meses. Após muita 
insistência de sua parte, marcaram de se encontrar um dia em um parque. Quando 
se encontraram, ela demonstrava resistência para beijá-lo, resistência para ficar 
perto e chegou até a perguntar se possuía carro ou moto. Após esse encontro, já no 
outro dia, Pedro tentou contato com essa garota, porém ela não respondeu. Ficou 
super mal e abalado emocionalmente, e novamente o registro dessa experiência 
comprovava a crença que ele tinha arquivado em seu banco de dados há três anos 
atrás, de que ele era incapaz de ter um relacionamento com esse tipo de mulher, 
pois não tinha os requisitos necessários. 
Dois anos após essa experiência conheceu uma outra mulher em uma festa 
e logo começaram a se relacionar, foi mágico, ela era linda, sensual e inteligente, 
possuía todas as características de mulher que Pedro tanto queria construir um 
relacionamento. Tudo estava indo bem e estavam juntos há 2 meses, porém o mais 
interessante foi que de repente Pedro decidiu não ter mais contato com ela. Isso 
mesmo, parou de falar com ela sem lhe dar nenhuma razão concreta, literalmente 
fugindo da relação. O motivo? De acordo com suas próprias experiências 
emocionais fortemente vividas, chegou a conclusão de que não era bom o bastante 
para ela, se sentia incapaz de estar nesse relacionamento porque ele não preenchia 
21
os requisitos que havia arquivado em seu banco de dados sobre ser o cara 
merecedor daquele tipo de mulher. 
22
REVIVENDO O PASSADO 
 
Em uma noite, há apenas alguns dias, Pedro estava no trabalho quando viu 
uma mulher nova em seu departamento, ela possui características semelhantes às 
dos exemplos passados, linda, charmosa, inteligente e sensual, e naquele exato 
momento O Mecanismo de Percepção do Ego entrou em ação e logo buscou as 21
informações necessárias para poder interpretar o que ela era. 
Naquele momento surgiu a velha historinha da mulher bonita e ele incapaz, 
que vimos nos exemplos passados. Esse momento gerou algumas emoções, e ele 
pode reconhecer uma mistura de excitação, alegria, uma vontade de ser aceito 
misturado a um sentimento negativo de incapacidade, pelo fato de em sua 
interpretação, ainda não possuir as características ideais para merecê-la. Então a 
imagem que Pedro gravou dela naquela situação, foi uma imagem superior a ele, 
uma coisa que ele tinha que lutar para conseguir. Et Voilà, com aquele filme em 
ação, ele interpretava outra vez o pobre e incapaz jovem que estava atraído pela 
moça bonita. Suas ações eram basicamente tentar chamar a atenção dela com tudo 
que tinha aprendido em suas referências passadas com seu pai. 
Apesar de no momento das cenas, ele em sua mente não possuir os 
requisitos necessários para se qualificar, decidiu tentar mesmo assim e vestiu a 
máscara do dependente, máscara essa que adquiriu quando sua ferida do 22
abandono foi despertada por sua mãe. Correu ao banheiro e ajeitou os cabelos e as 
roupas, como assim tinha ensinado seu pai, mudou a forma de andar e o jeito de 
falar e encenou os comportamentos de um cara “descolado” que também havia 
aprendido no passado, colocou uma música levemente alta, que talvez ela gostassepara poder chamar mais atenção dela e ficava indo de um lado para o outro falando 
com os outros funcionários. 
 O Mecanismo de Percepção do Ego: é o agente que utiliza as informações colhidas 21
nas experiências passadas para dar um significado e interpretar as coisas que nos 
acontecem, criando assim, identidades para poder reviver a história criada no momento da 
interpretação e reforçar a necessidade de tudo isso. 
 Máscara do Dependente: Quem utiliza essa máscara exibe um corpo carente de tônus. 22
Um corpo esguio, magro e apático indica uma ferida do abandono mais profunda. Livro: 
“As cinco feridas emocionais”.
23
Pedro, mesmo com oportunidades, não se comunicava com ela com 
frequência, pelo medo de ser rejeitado e pelo fato de não conseguir se expressar 
com clareza, e por isso, aos poucos começou a se sentir para baixo, desanimado, 
sem energia. O sentimento de inferioridade tomando conta e o fato dela não estar 
dando atenção para ele e sim para o seu gerente, acabou piorando a situação e 
reforçando a imagem de que ele não possuía os requisitos necessários para ter uma 
mulher assim. 
Os comportamentos negativos tais como, comer diversas coisas sem estar 
com fome, ficar se distraindo nas redes sociais, reclamar e xingar sem razão, 
ficaram mais constantes e automáticos. Através da observação, Pedro percebeu 
seus comportamentos acontecendo de forma automática como por exemplo: ir 
pegar uma barra de chocolate para comer mesmo não tendo fome. Porém não 
conseguia evitá-los, as vozes que dominavam a sua mente falavam “eu preciso 
sentir prazer” em formas de pensamentos. Isso durou até ela ir embora, e quando 
ela foi os impulsos se foram junto com ela. 
As informações que Pedro adquiriu com suas experiências individuais 
envolvendo suas feridas emocionais e seus registros de dor e sofrimento, somado 
às informações passadas no conteúdo familiar e as informações do coletivo, 
alimentaram assim, seu banco de dados.Essas informações são usadas pelo 
Mecanismo de Percepção do Ego para interpretação e criação de sua própria 
realidade. 
Novamente, no exemplo pessoal de Pedro, toda vez que ele está diante de 
uma mulher dos sonhos, em milésimos de segundos vai surgir um sentimento 
familiar, o sentimento predominante que ele registrou quando passou por 
experiências parecidas no passado. Logo após, surgirá a imagem dessa mulher 
como sendo um prêmio, uma conquista e que talvez ele não seja merecedor a não 
ser que preencha os requisitos que ele próprio criou com seu passado e de acordo 
com essa imagem, vai contar uma história, que baseada nas informações que já 
possui irão dizer, “mulheres deste nível só se relacionam com caras que possuem 
status, bens materiais e boa comunicação”. e, como ele não tem todas esses 
requisitos, ele não se sente merecedor. 
Nesse momento em que o filme começa a rodar, Pedro veste a identidade 
do cara incapaz e começa a reviver essa história, ou como agressor, tentando se 
24
qualificar para obter o que deseja, ou como vítima, se inferiorizando e reforçando o 
quanto é incapaz de ter aquela mulher por não possuir os requisitos necessários. 
Em outras palavras, a necessidade é de ter um relacionamento com uma 
mulher bonita, inteligente e sensual, logo surge a identidade que vai contar essa 
história e ele começa a viver a mesma situação repetidamente, reforçando assim a 
necessidade que já existe há tempo, é um looping infinito de repetição. 
O Mecanismo de Percepção do Ego é o agente que utiliza as informações 
colhidas nas experiências passadas para dar um significado e interpretar as coisas 
que nos acontecem, criando assim, identidades para poder reviver a história criada 
no momento da interpretação e reforçar a necessidade de tudo isso. 
25
TERCEIRA PARTE 
“DESPERTANDO PARA A VIDA” 
26
CRIANDO MÁSCARAS E PERSONAGENS 
Foi em uma terça feira cheia de sol, calor e alegria, há aproximadamente 
treze mil dias atrás que nasceu Joana. 
Consequência do encontro sexual dos seus pais somada a sua própria 
caminhada de vida terrena de 35 anos bem vividos, Joana é um pouco de tudo: 
mulher, amante, música, escritora, bartender, guerreira, cantora, compositora e ama 
se expressar através da arte. Ela é amante fiel da natureza e seu coração sempre 
pede mar, floresta, árvores, bichinhos, nascer e pôr de sol. 
Filha mais nova de um padre Filipino e uma freira Brasileira de corações 
lindos mas cheios de limitações e dores também. Seu pai, Joey, nasceu, cresceu e 
se formou em teologia e filosofia nas Filipinas, um país lá longe cercado por 
tradições e culturas distintas, que Joana desconhece, mas que traz muitas raízes 
em quem ela é. Sua avó Carmen teve sempre que trabalhar muito para conseguir 
colocar comida na mesa, pois seu avô morreu cedo por ter infeccionado um tiro que 
levou na perna, defendendo as Filipinas contra os Japoneses na segunda guerra 
mundial. Joey ainda era muito pequeno, tinha 3 anos de idade e desde então todos 
os irmãos sempre tiveram que se esforçar muito na escola, porque quando eram o 
melhor da classe, ganhavam o ensino de graça. Joey sempre cobrou Joana da 
importância de ter estudo e educação, sempre afirmou que esse era o maior 
presente que poderia dar. E quando Joana tirava 10 no boletim, ela recebia uma 
recompensa financeira por isso. Sempre guardava parte do dinheiro e a outra parte 
gastava em besteiras de crianças. Aqui nota-se a criacao de uma identidade que 
quando se trabalha duro e atinge a perfeição, gera uma recompensa. Por isso, 
desde cedo a necessidade de Joana se sentir aprovada pelos outros. 
Sua mãe, Maria, nasceu e cresceu em Indaial, uma cidade pequena em 
Santa Catarina num sítio em que todos tinham que trabalhar na roça para ganhar 
seu sustento. Os avós de Joana tiveram 13 filhos, mas 2 deles morreram logo bem 
pequenos. De origem Italiana, eram uma família muito pobre e Maria dizia que tinha 
que andar com os pés descalços até a escola todos os dias, às vezes com o frio da 
geada e às vezes com o calor do verão. Com a escassez de sua infância, nasce 
então a necessidade de Maria de sempre guardar dinheiro, colecionar coisas 
velhas, quebradas ou que não funcionam mais, caso precise usar elas um dia. 
27
Bem cedo ela se mudou para ir morar em outra cidade numa escola de freiras, onde 
teve a oportunidade de se formar em nutrição e seguir na vida religiosa. 
Os pais de Joana viveram suas individualidades, crenças e paradigmas 
antes de se encontrarem. Seu pai como missionário saiu cedo de casa e viajou o 
mundo todo antes de chegar no Brasil. Foram tribos, países, cidades, culturas e 
línguas diferentes que ele experienciou e aprendeu no decorrer de sua vida. Muitas 
pessoas hoje em dia ainda comparam Joana muito com seu pai, pois ela é 
desbravadora e ama viajar e conhecer novos povos e culturas diferentes, assim 
como ele um dia. Sua mãe, com o ensino da vida religiosa, seguiu rodando o Brasil 
nos povos mais necessitados em busca de ajudar os outros e evangelizar. 
Seus pais se encontraram e se conheceram no Ceará, onde “largaram” a 
igreja quando Maria engravidou do seu primeiro filho, aos 38 anos de idade e 
começaram literalmente do zero a partir daí, seu pai então com 40 anos. Ao abrir 
mão da vida que viviam na igreja católica, que tinham feito voto de pobreza, eles 
saíram de mãos vazias e foram morar com tia Laura, irmã e confidente de Maria, até 
Joey achar emprego e conseguir alugar uma casa e começar a vida juntos. Joana 
sabe hoje em dia, que foi difícil eles se libertarem da crença que tinham quanto à 
castidade e do que era certo ou errado perante a igreja e se sente grata demais por 
eles terem escolhido o caminho mais desafiador ao invés do caminho mais fácil e 
começar assim, uma família linda. 
Joana não foi uma gravidez planejada pois os dois tinham apenas 
concebido seu irmão, começado a vida em casal e não tinham recursos financeiros 
para receber um outro filho.Por isso esse sentimento eterno de ela não se sentir 
suficiente, apesar de sempre se sentir amada. Esse é um exemplo clássico da 
famosa rejeição, ferida emocional que foi criada ainda na fase uterina e que Joana 
carrega em si até hoje em dia, gerando sempre um sentimento de não ser 
suficiente. 
Como seus pais vieram de famílias que viviam em escassez e preocupação 
com o dinheiro, desde cedo Joana foi ensinada que precisa estudar e trabalhar 
muito para “ser alguém" na vida e também a sempre economizar uma parte do que 
ela ganha. Isso se reflete muito em quem ela é, pois em todos os trabalhos que ela 
teve, sempre deu muito de si, a ponto de esquecer de comer, de deixar de 
28
descansar e colocar quase sempre o trabalho como prioridade. Isso tudo para se 
sentir merecedora de estar ali e de sentir a aprovação de todos à sua volta. 
Apesar das dificuldades financeiras dos pais de Joana quando ela nasceu, ela 
sempre teve um estilo de vida muito confortável, às vezes melhor, às vezes nem 
tanto. Ela vê o dinheiro como algo que precisamos trabalhar muito duro para 
conseguir e está aprendendo a dissolver essa memória que não é saudável. Apenas 
recentemente aprendeu a investir em si mesma. Vemos isso como um padrão de 
sua mãe, de dar primeiro pra quem precisa, mas não saber se cuidar, se dar 
prioridade. 
Maria tem roupas hoje de 30 anos atrás e ainda guarda muitas coisas que 
não usa faz anos, e provavelmente nem vai mais usar, mas como ela nasceu e 
cresceu na escassez, a identidade que ela criou conta histórias dizendo que talvez 
um dia vai precisar de determinadas coisas. 
Joey sempre repete a frase “dinheiro não se come” e por isso quase nunca 
tem dinheiro no bolso. Mas também é o primeiro a ajudar quem precisa, quando 
alguém precisa. Ela admira muito essa bondade e o carinho deles. Apesar de tantas 
feridas emocionais registradas em seu ser, ela sempre conseguiu ver que era e é 
muito amada, mas nem sempre sentiu esse amor da forma que desejava, porque a 
ferida da rejeição estava muito carimbada em sua biologia. 
29
IMAGENS LIMITANTES 
Joana considera sua mãe o ser mais lindo que já conheceu nessa vida, 
sempre inspirando a ser o melhor dela mesmo constantemente. Foi lindo ver Joana 
sair de casa para aprender a apreciar os pais que tinha. Ela ainda está aprendendo 
a ver seu pai como consciência pura que ele é, e dissolver as imagens negativas 
criadas dele no passado de ele nunca a ver como boa o suficiente. Hoje com 
embasamento teórico sobre o assunto, entende que isso é a imagem que ela passa 
para ele enxergá-la, então apesar de ele já ter mudado as atitudes dele, ele ainda 
se comporta assim com Joana. 
A maior imagem negativa registrada de seu pai, foi quando ela era ainda 
muito pequena e foi brincar de fazer cócegas nele, mas ele estava lendo jornal e a 
ignorou totalmente. Até aí tudo bem, o que passou é que uns 5 minutos depois, o 
seu irmão foi brincar com ele de fazer cócegas também e ele largou o jornal e 
brincou com ele. Joana se sentiu muito rejeitada, partindo seu coração, e reforçando 
assim a necessidade que ela tem de ser aceita e amada e não se sentir boa o 
suficiente. 
O que acontece nesse caso, é que como ela já tinha a ferida da rejeição 
bem carimbada em sua biologia e a necessidade de se sentir suficiente, ela criou 
uma identidade, um personagem para se proteger dessa rejeição, e essa identidade 
automaticamente busca histórias similares a essa que viveu para reforçar a sua 
necessidade de atenção, de ser aceita e se sentir suficiente. Só que quando ela 
registrou essa memória ela ainda não tinha o cérebro racional desenvolvido, ela 
registrou a emoção que sentiu com a visão da criança que ela era. Hoje, tomando 
uma postura de adulto, Joana consegue ver como foi o acontecido e entender que 
na hora seu pai simplesmente estava entretido na leitura dele e não parou para 
brincar com ela. Ponto. Não tem nada demais na atitude e na reação dele, mas suas 
referências internas já eram de rejeição e por isso o forte sentimento de novamente 
não se sentir o suficiente. Ele reagindo da forma que reagiu e ignorando Joana na 
brincadeira, gerou uma forte emoção que ela significou de acordo com o que 
conhecia na época, criando assim uma imagem de seu pai (nesse caso negativa). 
30
Por falta de conhecimento nós muitas vezes não sabemos o que estamos sentindo, 
já que existem mais de 400 emoções conhecidas na ciência hoje em dia, e quase 
não conseguimos nomear 30 delas, imagina então, Joana como criança nomeando 
uma emoção de acordo com a referência que ela tinha na época, que era muito 
pequena em relação ao conteúdo que ela tem hoje. 
Vemos então, o mecanismo de percepção do ego atuando fortemente, de 
ela ainda olhar seu pai hoje em dia com a mesma imagem negativa que foi gravada 
tantos anos atrás, quando ela não podia ainda nem utilizar a razão, limitando assim 
seu relacionamento com ele. Depois de significar e dar nome a essa imagem criada, 
toda vez que ela encontra seu pai, ela relaciona ele automaticamente a imagem que 
ela criou no passado e não a pessoa que ele é no agora. E por essa imagem criada 
ter sido negativa, não importa o quanto de coisas boas ele fez ou faz, o sentimento 
vai ser o mesmo porque ela ainda vai estar vendo o seu pai não por quem ele é, e 
sim pelo comportamento que ele teve com ela há 30 anos atrás. 
É muito louco isso, porque é um ciclo sem fim. Já que as necessidades 
seguem se reforçando toda vez que uma identidade cria histórias similares para que 
a gente siga vivenciando as mesmas situações. E Joana sabe que seu pai não 
condiz nenhum um pouco com essa imagem gravada que ela tem dele, e não 
entendia o porquê de sempre se ver batendo de frente com ele e não entendendo o 
porquê de as pessoas acharem ele um cara tão legal. Hoje ela percebe que estava 
errada. Porque ao sustentar aquela imagem negativa que ela tinha dele, ela obriga 
ele a agir automaticamente da mesma forma, reforçando assim sua necessidade de 
ser aceita, amada e suficiente. 
É lindo ver sua transformação. Ela está aprendendo a pôr em prática a 
ciência do perdão com ele, que nada mais é do que a consequência de atualizar a 
imagem em uma polaridade positiva. De ver e entender o que se sucedeu apenas 
foi como foi, e de mudar a imagem negativa que criou dele para a positiva. 
31
VIVENDO NO PASSADO CRIANDO UM NOVO EU 
Isso tudo aconteceu por muito tempo inconscientemente, e faz pouco tempo 
que Joana se viu frente a essa verdade: De que temos as relações que temos, 
porque ainda sustentamos as imagens criadas no passado e projetamos isso 
constantemente no agora. Por isso dizemos que o Mecanismo de Percepção do Ego 
é o condicionamento de perceber influenciado só pelo passado. 
Por muito tempo ela se culpou e culpou seus pais por um abuso que sofreu 
quando tinha 11 anos por um vizinho da casa de praia, pastor, policial e pai. Foi uma 
castração muito grande para ela mesma, pois ela via ele como um porto seguro e 
alguém que confiava. O fato de não ter dito não, a machucou muito mais que o 
abuso em si. Se sentiu em falha consigo mesma de não ter voz para expor que não 
entendia e não queria aquilo que estava acontecendo. Outra vez, uma percepção 
com olhos de criança que não tinha o cérebro racional ainda desenvolvido. 
Joana se cobrou muito por toda essa situação e isso se refletiu em todos os 
seus relacionamentos. Na maioria das vezes ela não deixava seus parceiros a 
tocarem no sexo, porque inconscientemente achava que eles também iriam 
machuca-la. Então teve alguns relacionamentos de muito amor e pouca intimidade. 
Ela procurava sexo com pessoas desconhecidas e ai conseguia se permitir sentir e 
ser tocada, pois não associava a falta de proteção a quem não conhecia e confiava. 
Aqui é um outro grande exemplo do mecanismo de percepção do ego atuando, com 
a necessidade de se sentir segura e protegida, ela criou uma identidadeque conta 
as mesmas histórias para reviver essa necessidade constantemente. 
Ter conhecimento teórico e intelectual diz muito pouco a respeito desse mecanismo, 
porque é na experiência que aprendemos e transcendemos a mente, que tenta o 
tempo todo nomear e significar as coisas. 
Poucos dias atrás Joana participava de um grupo responsável em 
desenvolver um TCC a respeito do mecanismo, e todos no grupo se baseiam 
literalmente no conteúdo teórico. Utilizaram alguns exemplos próprios do que 
acreditavam terem entendido, e adaptaram o trabalho de acordo com suas 
referências internas de como um TCC deveria ser. Quando receberam a reprovação 
e seu mentor disse que teriam que refazer todo o trabalho mesmo tendo atingido 
32
todos os requisitos que ele tinha dado ao fazer o mesmo, muitas identidades de 
Joana vieram à tona e trouxeram uma emoção junto com elas: de 
injustiça, de querer fazer as coisas certas, de ser aprovada, de ser aceita, de ser 
reconhecida, de confusão... Joana percebeu alguns mecanismos atuando, não deu 
uma resposta na hora mas não conseguiu evitar de sentir tudo o que essas 
identidades lhe trouxeram. Conseguiu segurar sua resposta automatizada do seu 
inconsciente, mas não conseguiu deixar de sentir as emoções que vieram junto com 
as identidades. Afinal, pessoas que estudaram todo um mecanismo pelo qual a 
maioria sofre, foram orientadas a preparar um trabalho em um formato específico e 
incorporaram identidades para fazerem tudo isso, significaram e interpretaram de 
acordo com suas referências internas. Fizeram o trabalho e receberam uma 
reprovação terrível. Nesse momento, eles mesmos ficam tomados pelo mesmo 
mecanismo que acreditavam saber. 
Loucura! Que lindo! Porque nada melhor que nossa própria experiência para 
aprofundarmos ainda mais o conhecimento e entendimento. Quando damos um 
ponto final e nos conformamos em responder uma pergunta de apenas uma forma, 
matamos a possibilidade de novas descobertas, pois limitamos a nós mesmos 
acreditar que aquilo que foi respondido de uma única explicação, sacia a pergunta. 
Muitos de nós, desde crianças, fomos “programados” a sempre querer ganhar, 
vencer e chegar em primeiro lugar, distorcendo assim, a percepção do perder. E 
quando perdemos, ou algo nos é tomado, nos desesperamos, porque não temos a 
exata compreensão da perda e sua função. 
Muitas das vezes nos perdemos nas relações, tanto amorosas, quanto 
familiar, no ambiente de trabalho ou amizades, porque nos tornamos reativos de 
acordo com o comportamento do outro, esquecendo que o outro é essência e 
consciência pura, e não a imagem que criamos de acordo com seus 
comportamentos que desencadearam determinadas emoções. O comportamento 
em si é uma parte muito pequena do ser humano para ele ser resumido apenas 
nisso, ele é muito mais que isso. 
33
AS ESCOLHAS NÃO FEITAS 
Em todo o momento a vida está acontecendo ao nosso redor e nem nos 
damos conta disso, pois interpretamos ela através de filtros que são os nossos 5 
sentidos: Visão - Olfato - Paladar - Tato - Audição. O que acontece é que muitos 
desses sentidos estão anestesiados, pois vivemos num cotidiano de rotina 
automáticos, não paramos o suficiente para apreciar tudo o que podemos sentir 
como ser humano: o sabor dos alimentos, o canto dos passarinhos, a brisa do vento 
no rosto, o cheiro do amanhecer e a visão das cores indescritíveis quando o sol se 
põe. 
E vivendo com os nossos sentidos anestesiados, a nossa mente 
condicionada se posiciona automaticamente em três movimentos: Omissão - 
Distorção - Generalização. Por exemplo: Quando está chovendo forte na rua, Joana 
gosta de se jogar e dançar na chuva, com a chuva, porque isso faz ela se sentir 
viva, a sensação dos pingos d'água caindo em sua pele, o friozinho do contato da 
água gelada em todo seu ser e o gosto de vida, isso é tudo muito gostoso para ela, 
mas muita gente vê isso como perda de tempo, loucura e infantilidade. Nossa mente 
gosta de dar nomes a tudo que acontece e assim perdemos muitas vezes a 
oportunidade de apenas nos permitir sentir e observar a vida. 
O Mecanismo de Percepção do ego diz respeito de olharmos tudo isso 
acontecendo: de ver os julgamentos que fazemos, de ver entrarmos nas relações 
para tirar vantagem e ganhar algo, ainda que na maioria das vezes, inocentemente. 
E se não recebemos aquilo que desejamos, entramos automaticamente num 
sistema de manipulação constante. Por isso a descrição de “as escolhas não feitas”. 
Porque, como estamos condicionados a dar significado a todas as coisas que 
acontecem de acordo com as referências internas que temos, deixamos assim de 
escolher aquilo que desejamos. 
Em outras palavras, respondemos inconscientemente de acordo com o 
conhecimento carimbado em nossa biologia e por isso nosso passado, nossas 
memórias não saudáveis respondem automaticamente. Isso acontece o tempo todo 
por estarmos tão automatizados em tudo que fazemos, temos muita pressa, 
queremos fazer muitas coisas ao mesmo tempo, estamos aqui tomando café da 
34
manhã, mas vendo as fotos do Instagram de outra pessoa que está na praia e nos 
comparamos a ela, porque gostaríamos de estar na praia também, não nos 
permitimos estar presente, e isso é uma das maiores armadilhas do ego: a 
comparação, porque quando comparamos, não conseguimos ver a realidade como 
ela realmente é, e isso nos tira a dádiva de estar presente. 
35
VOANDO ALTO 
Aos 21 anos, Joana largou a faculdade de Psicologia, pediu demissão 
(trabalhava num laboratório como técnica em cerâmica) e foi para Dublin, Irlanda, 
usando o pretexto de aprender a língua inglesa como desculpa para sair de casa. 
Foi um movimento de mudança desafiador e necessário, pois ela já não se via na 
vida que estava vivendo, e sempre quis viajar, experienciar e ser livre, sempre 
sentiu que eu queria mais, que precisava de mais. Saiu de casa com dívidas, sem 
falar inglês e com seus pais e irmão desempregados. Ela diz até hoje que tem muito 
orgulho de ter se escolhido nesse dia, ao invés de escolher a situação que se 
encontrava e não queria viver, pois ao se movimentar em direção ao que queria, a 
vida começou a acontecer de uma forma que antes ela nem imaginava que podia. 
Foi transformador. Ela se sentiu como uma borboleta saindo do casulo. 
Morar em outro país com cultura, língua e clima diferentes do que era 
acostumada foi desafiador, e percebeu que apesar da distância em quilometragens 
de suas raízes, levou consigo muitas das identidades que trazia para se proteger de 
viver o que eu já tinha vivido, já que todos os relacionamentos que teve quando 
morou lá foram manipulados para que ela não se machucasse. 
A identidade de proteção que tinha criado seguia contando as mesmas 
histórias que ela iria se machucar, reforçando assim a necessidade que tinha de se 
proteger. Foi lá também que ela teve seu primeiro encontro sexual com uma mulher 
e foi lindo ver ela se permitir sentir e viver isso. 
Depois de 2 anos morando na Irlanda a vida pedia movimento de novo, e 
Joana voltou pro Brasil por falta de saber onde ir. Ficou pouco tempo no Brasil e 
logo conseguiu um emprego para trabalhar em um navio de cruzeiros como 
bartender e mixologista. Trabalhou por 10 anos para a Royal Caribbean, casou com 
Mia, a primeira pessoa que ela realmente se abriu para experimentar a intimidade e 
o sexo em um nível bem mais profundo, e se mudaram para a Africa do Sul, onde 
compraram uma casa em Langebaan e viveram juntas num relacionamento muito 
lindo mas muito imaturo também. Joana vivia inventando padrões altíssimos para 
Mia atingir e sabotava seus sentimentos muitas vezes porque sentia que estava 
estagnada e não sabia como seguir em frente, sempre procurando defeitos e o 
36
porquê de se sentir tão vazia. Joana consegue ver claramente hoje em dia, as 
histórias que sempre contou em sua vida se repetindo para reforçar a necessidade 
de proteção. Issoclaro, acontecendo inconscientemente o tempo todo. 
No dia que completaram 7 anos juntas, Joana terminou com Mia. Ela estava 
cansada daquele jogo de sempre fazer ela se sentir mal por coisas absurdas e de 
ter se perdido na relação, por não saber mais quem era ou o que eu queria. 
Mia depois contou a Joana numa conversa de coração aberto que tiveram, que um 
dos grandes medos dela sempre foi de não ter um relacionamento que passasse 
dos 7 anos, e por isso o término aconteceu da forma que foi, pois ela sustentou a 
imagem de que não passariam dos 7 anos. 
Aqui se vê outra vez que nós temos o poder de criar o comportamento que 
desejamos que as pessoas tenham, por meio da imagem que sustentamos. 
As pessoas só respondem a aquilo que acreditamos delas, e geralmente nunca 
acreditamos naquilo que desejamos, e sim naquilo que nos dá medo, insegurança e 
nos deixa tristes, por causa das imagens que trazemos do passado de acordo com 
nossas feridas e buracos emocionais. Sabendo disso, somos então 100% 
responsáveis pelas relações que temos, pois sustentamos a imagem do passado e 
projetamos isso constantemente toda vez que nos relacionamos com elas. A partir 
do momento que eu registro uma história, seja ela boa ou ruim, a tendência é que 
eu repita essa história várias vezes. 
Por uma questão evolutiva do nosso cérebro, temos uma tendência muito 
maior em registrar de forma muito mais consistente, as experiências que nos geram 
sofrimento e dor, para nos prevenir de não voltar a viver isso novamente. Mas isso 
fazia sentido somente antigamente, quando estávamos fazendo a transição de 
homem da caverna para homem da agricultura, hoje já não faz mais sentido 
estimular essas histórias negativas que seguimos contando na nossa vida, porque 
todas as histórias que contamos começam a ser o padrão de experiência que 
vamos experimentar. Geralmente o que acontece quando percebemos esse looping 
da prisão da mente condicionada, esse ciclo da mesma narrativa e de seguir tendo 
os resultados que não queremos, é porque é a mesma identidade da mente 
condicionada e limitada, que vai em busca de ferramentas para curar e tratar os 
próprios sintomas. Mas isso demora muito, pois essa identidade vai se auto sabotar, 
37
ela vai seguir contando e criando as mesmas histórias para reforçar a necessidade 
dela, não conseguindo então curar-se. 
A solução é criar uma nova identidade para ajudar a curar os sintomas 
dessa identidade doente, que não nos serve mais, assim sendo um processo bem 
mais rápido e possível. Lembrando que a identidade que falamos, é como se fosse 
um personagem, uma máscara que vestimos para contar nossas histórias e pensar 
os pensamentos, e muitas vezes ela é tão enraizada que tem sempre as melhores 
justificativas para fazer o que faz, mesmo sendo algo que conscientemente não 
queremos fazer. Por exemplo: Uma pessoa que acha que está sempre em dívida 
com alguém, que os outros sempre fazem mais por ele do que ele pelos outros. A 
necessidade dessa pessoa criou um sintoma de culpabilidade, essa identidade foi 
criada porque ele não tinha clareza, não tinha uma referência interna clara do que 
ele dava nas relações, ele superestimava aquilo que ele recebia das relações e 
assim criou uma sensação de dívida. 
Foi pedido para ele fazer uma lista das coisas que ele faz para ajudar os 
outros e como ele adiciona nas suas relações. Foi desafiador e ele teve que repetir 
várias vezes, para criar um sistema neural que permite olhar as coisas que ele dava 
e trazia para as relações. A partir dessa lista ele conseguiu enxergar que ele 
também fazia muito pelos outros, mas ele estava tão cego com a percepção de 
achar que sempre incomodava que ele não via isso, mas ao fazer a lista e criar essa 
clareza de que ele também contribuía e muito nas relações, automaticamente foi 
criando uma nova identidade que já não se sentia mais em dívida com os outros, e a 
culpa se dissolveu. E não é que ele curou a culpa, porque a culpa foi uma parte da 
identidade que ele criou porque sentia que devia aos outros. Mas por criar uma nova 
identidade que com clareza viu que ele também dava tanto quanto recebia nas 
relações, encontrou um equilíbrio e o sintoma de se sentir culpado, foi embora. 
Se conseguirmos enxergar isso, fica muito mais fácil conseguir a 
transformação que desejamos ver em nós mesmos. Lembrando que saber é só uma 
porção pequena de tudo isso, porque para a transformação acontecer precisamos 
colocar em prática e experienciar o todo e assim ir criando novas memórias 
saudáveis que vão ficar gravadas fortemente em nossa biologia. 
38
SEGUINDO DE CORAÇÃO ABERTO 
Hoje, Joana sente o poder de desenvolver sua consciência e se tornar cada 
dia mais auto responsável e vê o quanto sua vida tem melhorado a partir disso. 
Gratidão e abundância é um estado de espírito constante e muito apreciado por ela. 
Joana está casada com Bia há mais de três anos e sente ser a primeira vez 
realmente a escolher estar consciente em uma relação. Segue evoluindo em luz e 
espírito em sua jornada individual e de casal, vivendo um relacionamento bem 
saudável (na maioria das vezes) e se permitindo sentir tudo que existe em seus 
corações. Foi com Bia que Joana se abriu e permitiu viver todos os desejos e 
vontades tanto no sexo quanto no dia a dia com mais profundidade. Bia a inspira a 
ser melhor e a evoluir nessa jornada da vida. 
Bia ajudou no processo de criar uma nova identidade para Joana que não 
precise de proteção, e por isso agora ela segue contando histórias diferentes. Ainda 
percebe se sabotar uma vez ou outra, quando a antiga identidade que foi criada 
pela necessidade de se sentir protegida se faz presente, mas porque ela consegue 
enxergar essa identidade atuando, ela apenas observa os pensamentos e 
sentimentos que traz e escolhe ignorar eles. É bem desafiador, mas é tão libertador 
ver e ter a consciência de que a cada dia ela se torna mais auto responsável e dona 
de sua própria jornada. 
Ela mora na costa norte da Inglaterra, numa cidadezinha cheia de magia 
chamada Fakenham. Joana vê a pandemia como um dos melhores presentes que 
recebeu nessa vida, porque a tirou de sua zona de conforto e fez ela se movimentar 
em outra direção.Ela foi então em busca de autoconhecimento porque via que 
sempre acabava fazendo aquilo que não queria, ao invés de ter como resultados 
aquilo que desejava. Sentia um vazio imenso e precisava dar um basta na forma 
automatizada que estava vivendo. 
Foi transformador! Ela aprendeu e continua aprendendo a viver em 
equilíbrio entre sua mente, corpo, espírito e ambiente e começou a ouvir mais seu 
coração, pois finalmente estava tendo os resultados que sempre quis. 
39
“Foi em uma terça feira cheia de sol, calor e alegria, há aproximadamente treze mil 
dias atrás que nasceu Joana. Consequência do encontro sexual dos seus pais 
somada a sua própria caminhada de vida terrena de 35 anos bem vividos, Joana é 
um pouco de tudo: mulher, amante, música, escritora, bartender, guerreira, cantora, 
compositora e ama se expressar através da arte. Ela é amante fiel da natureza e 
seu coração sempre pede mar, floresta, árvores, bichinhos, nascer e pôr de sol”. 
Assim é a história de Joana, mas sabemos que ela não é apenas sua 
mente, seu corpo e sua sexualidade... Ela é consciência pura, na maior forma divina 
de ser digna de experimentar a vida na sua essência mais profunda. Ela não tem 
limites, e é a mudança que sempre sonhou em ver no mundo. Ela é uma história 
real de que transcendendo a barreira do medo que temos do desconhecido, ela 
percebeu que pode tudo na vida. 
E segue de coração aberto. 
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QUARTA PARTE 
"O MERGULHO EM MIM QUE ME LIBERTOU" 
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NOTAS DA NARRADORA 
“O mergulho em mim que me libertou", escrito no verão de 2021, é o meu 
primeiro trabalho escrito e publicado. Narrarei a história de Aurora, uma personagem 
intrigante, misteriosa que carrega umabusca incansável de se conhecer. Pode ser 
que você pense: “nossa, ela conhece cada detalhe dessa personagem que 
provavelmente ela deve estar contando sua própria história. Talvez seja, ou talvez 
eu conheça tão bem a Aurora. As histórias contadas aqui são expressadas a partir 
de uma linguagem leve e livre, mas com formas emocionais intensas e impactantes 
que também foram para mim. 
O enfoque em “O mergulho em mim que me libertou", é o início de grandes 
descobertas sobre a personagem, sua família e o mundo ao seu redor. Em alguns 
momentos eu entro no interior de Aurora, e me percebo vivendo intrinsecamente 
suas experiências e juntas vamos deixar a nossa mensagem. 
Aqui é narrado o desenvolvimento de Aurora, desde a sua infância até a 
fase adulta. Ela transita em diversas áreas da vida, seu crescimento vem da 
conquista de sua maturidade e independência. Aurora é filha de pastor e 
considerada por muitos como a "ovelha negra da família”. À medida que vai 
crescendo trilha por distintos caminhos, cruza por por outros personagens que terão 
grandes impactos emocionais, psicológicos e sexuais em sua vida. 
E aos 33 anos Aurora entra em um estado consciente de busca pelos 
significados de sua existência, mergulha no conhecimento de si mesma. Agora ela 
sabe as razões que a levaram a tomar determinadas decisões e a agir de diversas 
maneiras que a levaram a ter que assumir suas consequências. 
Aurora precisou passar por situações inimagináveis, até para ela mesma. 
Saiu do padrão familiar, fez escolhas que por muito tempo levou a carregar o peso 
amargo da culpa. Ela nasceu borboleta, quis voar mas lhe cortaram as asas. 
Morreu, renasceu e encontrou a segurança que tanto almejou no melhor lugar, 
dentro dela mesma. Em 2020, disse "chega"!. "Chega de passar os dias sofrendo 
por aquilo que eu não posso controlar, eu quero saber de fato quem eu sou”! 
Ainda pode parecer um tanto clichê, mas Aurora sabia que era só através da 
entrega em seu autoconhecimento que ela iria se livrar dos pesos do passado e 
42
assim o fez. E tudo começou em Abril de 2020. 
Enquanto escritora, farei com que Aurora influencie gerações, tornando “O 
mergulho em mim que me libertou" a obra mais importante da minha vida. A 
intenção dessa narrativa é fazer com que o leitor sinta que, independente se suas 
bagagens carregam histórias de dor e sofrimento, existem infinitas possibilidades 
para mapear as respostas/causas e com elas poder seguir na vida com mais leveza. 
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FOI FÁCIL NASCER 
Aurora é várias em uma só. É mãe de um pré-adolescente de 13 anos e 
vem descobrindo o universo materno totalmente diferente do que lhe ensinaram, 
mas afirma que essa é a relação que mais a faz crescer como ser humano. 
Formada em psicologia, atuando como empreendedora e produtora de conteúdos 
digitais e hoje vive um relacionamento consciente (ao menos ela vem tentando). 
Bom, Aurora hoje vem permitindo-se ser aquilo que sente em ser, sem rótulos e sem 
destinos. 
Aurora não foi uma criança fácil, mas de uma coisa ela sabia, ela queria ser 
livre! 
Prova disso foi seu nascimento. Terceira de quatro filhas, seu parto foi 
normal às 4h da manhã e sua mãe Lisa sempre falava que, quando Aurora nasceu 
ela não sentiu nenhuma dor. 
— Aurora foi fácil de nascer! — Disse sua mãe. 
Nas oportunidades de conversas que Aurora tinha, ela adora falar desse 
acontecimento de sua vida, expressando-se com orgulho por não ter dado trabalho 
ao nascer. Acredito que esse sentimento remete a Aurora uma sensação de poder. 
Quatro filhas mulheres, imaginem a loucura que não era! Mas tem um ponto 
importante aqui, o sonho de Mário, pai de Aurora era ter um filho homem, mas esse 
sonho não foi realizado, não no casamento com Lisa, sua mãe. Quando sua mãe foi 
para o hospital dar à luz a Aurora, assim que ela nasceu sua tia, Madalena que 
estava com ela ligou para Mário e deu a notícia que ela tinha nascido e que era uma 
menina. Ele sem hesitar falou: “se é mais uma menina, então diga para a Lisa que 
fique com ela sozinha”. Dias depois, talvez arrependido, ele foi visitar sua esposa e 
quando viu Aurora se apaixonou, assim relata Lisa. Ela disse que Aurora era uma 
bebê linda com os cabelos bem pretinhos e quando Mário viu se encantou. Esse 
acontecimento na vida de Aurora impactou profundamente a nível inconsciente sua 
vida, levando a desenvolver a ferida do abandono. 
MEMÓRIAS DA INFÂNCIA 
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Das quatros filhas, Aurora sempre foi a que deu mais trabalho, a que mais 
recebia castigo de seus pais. A levando a desenvolver a ferida da rejeição. 
Certo dia, Aurora pegou escondido algumas folhas de caderno de sua irmã 
mais velha para pintar, quando sua mãe descobriu a pós de castigo amarrada no pé 
da mesa de jantar. Na cabeça de Aurora, não fazia sentido receber aquele castigo 
tão severo por um fato tão bobo. 
Outro castigo severo assim, aconteceu em um dia que Aurora quebrou um 
vaso de sua mãe, e como punição foi trancada dentro do banheiro o dia inteiro, sua 
mãe só abria a porta para colocar comida para Aurora. Na maioria das situações 
que envolviam castigos, eles eram sempre severos e dados pela sua mãe. Seu pai 
nunca a pôs de castigo, não daquela forma triste e desumana. 
Essas punições, fizeram com que Aurora desenvolvesse um sentimento de 
raiva e ódio por sua mãe. Aurora interpretou todos aqueles castigos de que sua mãe 
não a amava e que seu pai e irmãs não a protegiam fortalecendo ainda mais sua 
ferida da rejeição. 
Aurora era uma criança que adorava brincar de boneca, de casinha, de 
comidinha, andar de bicicleta e brincar na rua, é uma fase da qual ela sente muita 
falta. Pelo fato de que seus pais como forma de proteger suas filhas, faziam o 
possível para mantê-las sempre dentro de casa, Aurora, gênio forte e destemida 
fugia de casa para brincar na rua, encontrava inúmeras estratégias para pular o 
muro de sua casa e voltar antes do seu pai chegar do trabalho. Claro que tinham 
consequências, como ficar de castigo e ser punida de diversas formas. 
Ocorreu outro episódio em que Aurora pulou o muro com sua bicicleta, o 
muro era bastante alto. Quando chegou em casa sua mãe estava com muita raiva, 
pois a mesma estava com medo do seu marido chegar e brigar com ela por sua filha 
ter saído, de longe Lisa, sua mãe jogou um objeto, jogou com tanta força que 
acertou na boca de sua filha, chegando a cortar e sair sangue, até hoje Aurora 
carrega a cicatriz nos lábios. Mas para ela valia a pena, sair para brincar na rua era 
a forma que Aurora sentia-se livre. Também são histórias que ela ama contar, era o 
que deixava Aurora com ar de coragem, independência e criatividade. Ela nasceu 
com essa ânsia e foi para o mundo assim. Infelizmente seus pais não sabiam lidar, 
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por falta de conhecimento com essa criança que queria apenas se expressar na sua 
mais pura essência. 
Osho diz: “A criança obediente é elogiada pelos pais, pelos professores, 23
por todo o mundo, e a criança brincalhona é condenada. Sua capacidade de brincar 
pode ser absolutamente inofensiva, mas ela é condenada porque existe um perigo 
de rebeldia em potencial”. 
O relacionamento com sua mãe não era nada fácil, por Aurora ser a única 
filha que não seguia as regras dentro de casa, não obedecia seus pais. Sua mãe 
por passar mais tempo dentro de casa tentava de todas as formas que Aurora fosse 
obediente e “igual" as outras filhas. Mas não mudava nada, e os castigos seguiram 
acontecendo a cada desobediência de Aurora. 
Não foi um processo fácil, mas hoje com sua maturidade e consciência que 
adquiriu em seu processo de autoconhecimento, Aurora acolhe essa mãe e entende 
que Lisa também foi criança e que tem todo um histórico de acontecimentos que a 
direcionaram a reagir assim na criação de suas filhas. 
Aurora passou por muitas fases para que sua personalidade fosse 
construída. Cada fase sua, carregava necessidades diferentes que a conduzirama 
desenvolver-se como pessoa. Muitas dessas fases foram permeadas por 
experiências de dor e sofrimento tornando Aurora emocionalmente instável, 
insegura e com medo. 
 RAJNEESH, Osho. O Livro das Crianças. Rio de Janeiro: BestSeller, 2020.23
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A OVELHA NEGRA DA FAMÍLIA 
 Sua adolescência também não foi nada fácil, por Aurora ser a “diferente” 
da família era julgada, criticada e muitas vezes rejeitada pela minha maneira 
incorreta de ser. Minhas irmãs “certinhas e comportadas” na igreja e Aurora rebelde 
que só levava "problemas" para seus pais. Ela nunca se sentiu fazendo parte 
daquela dinâmica familiar, até hoje carrega esse sentimento. 
Conhecida por toda a família como "a ovelha negra”, por um bom período 
essa expressão fazia Aurora se sentir mal, inadequada, diferente, rejeitada e 
carregava uma carga gigantesca de culpa misturada a uma sensação de não 
pertencimento. Hoje, mais madura e mais desperta, começa a fazer as pazes com 
essa expressão, com esse “papel" que teve um propósito para que ele fosse 
vivenciado por ela, e até sente orgulho em falar “eu sou a ovelha negra da família”. 
Ela quebrou padrões e começou a equilibrar seu sistema familiar. 
Anos atrás, Aurora contava a sua minha história com uma postura de vítima, 
relatava os acontecimentos de sua infância culpando e julgando seus pais, suas 
irmãs e todos aqueles que não a defendiam quando ela era castigada e punida. 
Hoje, busca contar tudo isso com um posicionamento de auto responsável, trazendo 
para si a responsabilidade das causas e efeitos que permearam todo o seu 
desenvolvimento, buscando transcendê-los e direcionando-os para a construção de 
memórias mais positivas. 
Nas suas recordações da infância e adolescência tem dificuldade em 
resgatar memórias de acontecimentos felizes. Vamos entender essa dinâmica. 
Não significa que Aurora teve mais experimentas ruis do que boas, mas sim 
a forma como ela significou as experiência. Por ela ter memórias tão forte em sua 
mente, passou a nutri-las constantemente em sua mente condiciona se acostumou 
a esses estímulos dificultando assim o acesso as memórias boas e felizes de sua 
infância e adolescência. Existia uma identidade de vitima que interpretava os 
acontecimentos de maneira distorcida. Os fatos existiram, claro, mas Aurora só 
conseguiu interpretar que sua mãe não a amava, devido toda a punição que 
recebia. Em seu banco de dados tinham mais registros desses acontecimentos e 
supervalorizavam eles. 
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Aurora se perguntava do porquê sua mãe não gostava dela e olha que 
interessante, depois de muitos anos sua irmã mais nova, Laura levantou esse 
mesmo questionamento, relatando que também sentia que vossa mãe não gostava 
dela e que de alguma maneira se sentia rejeitada. Hoje, tudo isso se encaixa 
perfeitamente na cabeça de Aurora, ela hoje tem mais respostas que a direcionam 
ao entendimento de que não era sobre Aurora, mas sim sobre sua mãe. E também 
sobre as imagens que ela e suas irmãs criaram e os significados que atribuíram a 
partir das experiências que experimentaram. 
Hoje adulta, ela compreende que eram interpretações suas, baseado nas 
imagens que ela criou e como consequência sua mãe por muitos anos continuava 
desempenhando os mesmos papéis e Aurora, com as mesmas identidades que via 
a mãe como uma pessoa ruim, maldosa e punitiva. Quando Aurora mudou a 
imagem que tinha de sua mãe, quando passou a olhá-la com amor, acolhendo 
também sua individualidade e honrando a sua história, automaticamente seu 
comportamento mudou com Aurora. 
Começou a se libertar desses julgamentos, dessas interpretações 
distorcidas através de um novo olhar. Parou de sustentar as imagens do passado da 
mãe, porque ela não é era seus comportamentos, ela é as experiências que 
experimentou. passou então a ter uma maior qualidade de relacionamento com sua 
mãe, permitindo-se a ficar de frente ao novo. 
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TRAIÇÕES, ONDE TUDO COMEÇOU 
As experiências que Aurora viveu a levaram desenvolver muitas feridas 
emocionais, já sabemos que ela desenvolveu a ferida do abandono e rejeição na 
sua infância, mas foi na fase adulta outro ferida decidiu aparecer. A ferida da 
Traição. 
Aurora desenvolvei essa ferida, pelas interpretações que ela teve de traição 
vinda do pai. Ela cresceu vivenciando indiretamente as traições de seu pai. Recorda 
de um fato que sua mãe contou em 2017 que seu pai levava Aurora para feira aos 
domingos e lá seu pai se encontrava com a amante. Quando Aurora contou para a 
mãe, Mário brigou com Aurora e como punição não a levou mais para a feira. Aurora 
sentiu-se traída pelo pai. 
Existia uma rivalidade vinda da mãe de Aurora, por Mário levar Aurora a 
feira, aos passeios e aos bares quando sai para beber com os amigos. Esse 
comportamento gerava em Lisa, ciúmes e inveja.Como consequência disso, Lisa e 
Aurora nunca foram aquele tipo de mãe que é também amiga da filha. 
Nunca conversaram sobre namoradinhos, menstruação, sexualidade, sobre 
o mundo feminino, não havia uma preparação para lidar com o mundo. Do contrário, 
era pontuando e destacando as partes ruins do mundo e das pessoas, como por 
exemplo: que as amigas de Aurora eram falsas, que os homens traem e que não 
prestam, usar roupas curtas e batom vermelho era coisa de mulher “vulgar”, ficar na 
rua até tarde e que se eu saia a noite e chegava tarde dizia que boa coisa Aurora 
não estava fazendo e etc. 
Seu pai sempre foi muito trabalhador, era o provedor da família e nunca 
deixou sua família passar por necessidades. Ele comprava sempre os brinquedos, 
bonecas e jogos que sua filhas pediam, tudo ele dava um jeito de comprar. Aurora 
guarda são lembranças com muito amor. 
Um fato inesperado acontece em Julho desse mesmo ano. Lisa, chega na 
casa de Aurora e conta um grande segredo familiar. 
Mário tinha um filho fora do casamento de 29 anos. Aurora descobre que 
tem um irmão. Aconteceu quando Lisa estava grávida da Laura a irmã mais nova e 
a amante de Mário grávida de um filho homem. Ao escutar esse segredo, Aurora 
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chorei muito, uma mistura de emoções e pensamentos, porque ela sempre quis ter 
um irmão, achava um máximo algumas amigas suas terem. Mas nunca imaginou 
que seria nessas condições. 
A partir dessa revelação sua mãe decidiu contar todas as traições de Mário, 
foi um baque para ela e suas irmãs. Aurora enxergava seu pai como um herói, como 
o pai e marido exemplar, e descobrir que ele tinha uma identidade de traidor foi 
decepcionante para todos. Isso fez com que Aurora perdesse toda a admiração que 
tinha pelo pai mudando totalmente seu comportamento com ele, passou a rejeitá-lo, 
evitando contato e punindo-o com sua ausência. 
A cada traição do passado que meu pai cometeu até ano passado, minha 
mãe contava para ela e suas irmãs. Todas essa revelações não foram saudáveis 
para ninguém, passando a interferir em seus relacionamentos amorosos de Aurora. 
Apesar de que, de forma inconsciente e energética já interferia, esse padrão já 
existia, por isso Aurora sempre atrai para a sua vida homens que representavam 
essa mesma identidade, cumpriam o mesmo papel de seu pai. 
Obter o conhecimento disso foi libertador, confesso que não foi fácil 
trabalhar e lidar na prática mas foi o caminho para transformar, construir e viver 
relacionamentos saudáveis e funcionais. 
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CASAMENTO E TRAUMAS 
Das quatros filhas Aurora foi a única que teve a coragem de sair para o 
mundo. Foi a única a trabalhar e morar fora e a conhecer aquele mundo que seus 
pais falavam tanto que era mal. Ela tinha sede de liberdade! Começou a conhecer o 
que para seus pais era proibido. 
Foi nesse período que conheceu Renato, seu ex-marido. Essa foi a fase 
mais desafiadora de sua vida, mas também a que mais ensinou Aurora. Aurora foi 
para o mundo em busca de liberdade, segurança e prazer, encontrou alguém que 
estava em busca do prazer, e um passou a alimentar um necessidade do outro. 
Quando a mente

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