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FECHANDO LACUNAS E CONSTRUINDO NOVAS IDENTIDADES Narradores Juliana Tessaroli Bravo Leidijane Terto dos Santos 1 “Quando você atinge a iluminação não se torna uma nova pessoa. Na verdade, você não ganha nada, apenas perde algo: se desprende de suas correntes, de suas amarras, deixa para trás seu sofrimento.” OSHO 2 MÁSCARAS Narrativas reais com personagens fictícios. Histórias impactantes e comoventes, que exercerão grandes influências e transformações na vida de quem assim como esses personagens estão em busca de se libertar das prisões da mente condicionada. Histórias para te inspirar a seguir firme no caminho do autoconhecimento. 3 Índice PRIMEIRA PARTE “O MEDO DO ABANDONO" A Reprovação 08 Tudo Começou na Infância 09 O Renascimento 14 O Desejo de uma Parceira 15 Na Busca por Respostas 16 SEGUNDA PARTE “O GRANDE DESAFIO QUE É RELACIONAR-SE” Feridas de uma Vida 19 Reforçando as Necessidades 21 Revivendo o Passado 24 TERCEIRA PARTE “DESPERTANDO PARA VIDA" Criando Máscaras e Personagens 28 Imagens Limitantes 31 Vivendo no Passado 35 As Escolhas não Feitas 32 Voando Alto 37 Seguindo de Coração Aberto 43 4 QUARTA PARTE "O MERGULHO EM MIM QUE ME LIBERTOU" Foi Fácil Nascer 45 Memórias de uma Infância 46 A Ovelha Negra da Família 48 Traições, Onde Tudo Começou 50 Casamento e Traumas 52 A Minha Primavera Chegou 57 5 PREFÁCIO Fazemos parte de uma mentoria avançada da Phanchay University onde estamos aprendendo cada dia mais a desenvolver e expandir nossa consciência com nosso mestre, líder, amigo e educador Cristian Fabian Coronel Bobadilla e seus ensinamentos. Esse livro nasceu com a missão de transmitir o nosso entendimento de acordo com as várias aulas, exercícios e experiências que tivemos a respeito do Mecanismo de Percepção do Ego e o porquê somos condicionados a perceber tudo que nos acontece baseado no passado. Constantemente nos vemos agindo e reagindo a tudo que acontece à nossa volta sem nos darmos conta do quê fazemos ou o porquê fazemos determinada coisa. E porque estamos tão automatizados a rotina da vida, na maioria das vezes nem percebemos que é nosso inconsciente quem comanda nossas ações e por isso não reagimos conscientemente no presente do agora. Vamos contar quatro histórias e experiências diferentes, que falam e relatam o mesmo assunto: O condicionamento no qual vivemos diariamente, a mente aprisionada que programamos no decorrer de nossas vidas. Somos seres em evolução constante, líderes de nossa própria jornada com experiências de vida bem distintas, mas com o intuito integrado de compartilhar nossa história. Nos preparar para auxiliar na jornada do próximo, para que ao entender o mecanismo funcionando, possamos nos desvencilhar dessa armadilha e fazer escolhas conscientes e saudáveis para todos nós e para o maior número de pessoas possíveis ao nosso redor. 6 PRIMEIRA PARTE “O MEDO DO ABANDONO" 7 A REPROVAÇÃO/APROVAÇÃO No dia 13 de Janeiro de 2021, foram incumbidos Júlio, Pedro, Aurora e Joana de realizar um trabalho para a Phanchay University onde seria desenvolvido o tema do MPE mecanismo de percepção do ego. Cada participante desenvolveu uma parte teórica e trouxeram seus relatos e experiências pessoais para exemplificar o conteúdo. Júlio estava apreensivo em receber o resultado do trabalho no que interpretou como um TCC, o que era novo para ele, pois era a primeira vez em que ele fazia um TCC. Eles faziam parte do grupo de WhatsApp da mentoria avançada da Phanchay University onde era realizado mais um outro TCC de outro grupo de líderes. Quando veio a resposta que o TCC deles tinha sido reprovado, já ligou um sinal de alerta no Júlio, gerando sintomas de ansiedade e dúvida. Quando veio o resultado que o trabalho deles também tinha sido reprovado e que deveriam refazer, surgiu uma sensação de frustração e um posicionamento de querer se defender por ter seguido à risca o que tinha sido pedido pelo seu orientador, Cristian Fabian. Alguns líderes começaram a argumentar no grupo que tinham seguido as orientações do orientador, Júlio concordava com a posição deles, mas escolheu não se expor por medo de gerar conflitos, assumindo assim uma posição de defesa e reatividade aos fatos, e que na verdade concordava que tinha apenas o conhecimento teórico sob esse mecanismo. A seguir, abriremos uma janela no tempo para voltar ao passado do Júlio e dar um zoom para que você, leitor, possa entender melhor como ele interpretou e significou os fatos de sua vida. 8 TUDO COMEÇOU NA INFÂNCIA O dia 6 de julho de 1985 é um marco no começo de uma história, onde um homem e uma mulher (que mais tarde chamaremos de pai e mãe de Júlio) se conheceram e começaram a relacionar-se, mas é preciso voltar um pouco mais no tempo. Ele Antônio, de uma família que veio desbravar e abrir a mata para começar a estabelecer moradia e a cultivar a terra. Antônio teve uma infância que envolvia muito trabalho e as condições de vida não eram nada fáceis. Ela Lúcia, que por um tempo foi criada por sua madrinha de batismo e aos 6 anos sua família foi para o Paraná, e foi seu pai que foi buscá-la pois sua mãe não fazia questão de ir. Cada um chegou nesse relacionamento trazendo dainfância suas necessidades emocionais não atendidas, como: afeto, carinho, toque e palavras 1 amorosas como "eu te amo" e também crenças, verdades e paradigmas individuais, familiares e coletivos tanto a nível psicológico, emocional e sexual que acreditavam como verdades absolutas. Além de terem experimentado situações emocionais que levaram a desenvolver algumas feridas emocionais, como a ferida da rejeição, 2 3 abandono, humilhação, traição e injustiça em menor ou maior intensidade cada 4 5 6 7 uma delas. Desenvolvidas da infância por volta dos 3 a 8 anos. Quando o amor, segurança e 1 proteção não são nutridos. Criando-se lacunas emocionais. Extraído do material de uso exclusivo da Universidade Phanchay. BOURBEAU, Lise. As cinco Feridas Emocionais. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.2 Ferida Emocional da Rejeição: aquele que sofre por causa dela se sente-se rejeitado 3 em seu ser e, principalmente, em seu direito de existir. Ferida Emocional do Abandono: diz respeito à falta de alimento afetivo ou do tipo de 4 alimento desejado. Ferida Emocional da Humilhação: O despertar dessa ferida se produz no momento em 5 que a criança sente que um de seus pais tem vergonha dela quando ela está suja, faz uma má-criação (sobretudo em público ou em família), está mal-vestida, etc. Ferida Emocional da Traição: A criança que cresce com esta ferida se sentem traídas 6 pelo genitor do sexo oposto sempre que este trai sua confiança, não cumprindo suas promessas ou o que foi dito. Ferida Emocional da Traição: A criança acha injusto não conseguir integrar sua 7 individualidade, não conseguir se exprimir e ser ela mesma. Ela sofre igualmente com o autoritarismo, as críticas frequentes, a severidade, a intolerância ou o conformismo. 9 Essas experiências passaram a moldar a forma como os pais do Júlio enxergavam, significavam e interpretavam as situações que aconteceram em suas vidas e como reagiram a elas. Antônio e Lúcia oficializaram o início de uma vida de casal, no dia 6 de Julho de 1985 e começaram a viver juntos formando assim uma linda família. No dia 9 de março de 1987, de um encontro sexual entre Antônio e Lúcia veio a este mundo Júlio, o primeiro filho desse casal. Nesse momento não estavam presentes apenas seus corpos, estava presente também toda uma bagagem de informações que cada um deles carregavam de suas experiências de vida que foram elas individuais, familiares, sociedade/cultura e de toda sua ancestralidade. Todas essas informações dos pais de Júlio, se misturaram naquele encontro sexual, transferindo para Júlio todos os conteúdos e cargas emocionais vivenciados. Júlio nasceu de cesárea no hospital da cidade. Uma parteira insistia no parto natural até que o médico a indagou "os dois ficarão vivos"? (mãe e filho, corriam riscos de vida). Naquele momento Lúcia foi levada para o centro cirúrgico sendo induzida a realizar uma cesariana. Primeiro filho do casal, eles não tinham muita experiência para desempenhar esse papel, tendo apenas suas referências por meio do que eles apreenderam nas suas infâncias através de seus pais e os avós de Júlio. Essa experiência é nova para eles, não sabiam nada sobre cuidar de um ser pequeno e frágil. Após três semanas de vida Júlio começou a receber água de arroz para completar sua alimentação, pois o leite do peito da mãe era fraco. Infelizmente, Júlio contraiu uma grave infecção intestinal, onde tinha sangue em suas fezes. Júlio foi internado no hospital, recebeu alguns medicamentos e depois de vários testes conseguiram ter resultado e felizmente acabar com a infecção. Nos primeiros três meses de vida, ele não tinha mais acesso ao leite materno como alimentação, esse fato impactou sua psiquê, interpretando como se estivesse sido abandonado por não ter o alimento que desejava. Teve um fato que impactou a mãe de Júlio nessa época em que ele passou pela infecção, Lúcia foi buscar apoio e conforto com sua mãe, a avó de Júlio, mas para decepção dela as palavras foram as seguintes: "deixe ele ir”! No sentido de não se esforçar para deixar Júlio vivo. Mais tarde, ele veio a descobrir que sua avó tinha perdido um filho e por isso a razão do seu comportamento triste. 10 Essas situações começaram a permear Júlio, o levando a desenvolver suas primeiras feridas emocionais, a da rejeição e abandono. 8 9 10 Júlio começa a fase escolar, passa a ter contato com crianças da sua mesma faixa etária, surgindo também suas primeiras dificuldades em se relacionar. Seus pais chegaram a levá-lo a um médico para ver se ele não era autista, por ser fechado e isolado e o parecer do médico foi que se fosse autista, era em um grau bem leve. A mãe de Júlio tem origem alemã e o diálogo em família era em alemão mesmo morando no Brasil, dessa forma Júlio não conseguia se relacionar com os colegas. Foi então que sua família percebeu essa dificuldade, passando a conversar em português. Pode ser que esse fato tenha causado a dificuldade de Júlio em se relacionar principalmente com mulheres, chegando a assumir em certas situações uma identidade agressiva e tentativas de escapar da interação. 11 Teve um fato na escola que marcou Júlio, onde sua família tinha uma casa de madeira, e seu pai participava de um campeonato de bolão (boliche), nessa ocasião Júlio pediu para sua família trancar a casa já que o campeonato era à noite. No caso, ele associa sua casa com a história dos três porquinhos, onde o lobo assopra e derruba a casa de palha e de madeira, sobrando apenas a de tijolos. O medo de Júlio de não ser protegido era porque seu pai não estava presente, sentia falta de carinho e contato físico com ele. Em 7 de setembro, Júlio foi para a escola para assistir o desfile desta data comemorativa. Sua família não estava presente para assistir o seu desfile, pois sua mãe estava na sua segunda gravidez e nos últimos dias de gestação. Lá pelo final desse mesmo dia nasceu seu irmão através de uma cesárea, já era tarde e Júlio estava cansado quando o médico foi dar a notícia do nascimento de seu irmão e da Ferida Emocional da Rejeição: aquele que sofre por causa dela se sente-se rejeitado 9 em seu ser e, principalmente, em seu direito de existir. Ferida Emocional do Abandono: diz respeito à falta de alimento afetivo ou do tipo de 10 alimento desejado. Identidade: É algo próprio, uma realidade interior que pode ficar oculta atrás de atitudes 11 ou comportamentos que, na realidade, não são próprios da pessoa. https://conceito.de/identidade 11 https://conceito.de/identidade dificuldade que sua mãe havia passado por ter tido uma aderência do intestino devido a primeira cirurgia. Quando sua mãe foi para casa com seu irmão, Júlio começou a perceber que já não tinha mais aquela atenção de antes, agora essa atenção era limitada, seu irmão recebia mais atenção que ele. Júlio pensou que precisava fazer algo para que seus pais o notassem novamente. Para receber essa atenção, Júlio começou a mostrar-se como era responsável, certinho e bem comportado. Ocorreu um fato após uns dois anos do nascimento de seu irmão. Antônio não estava em casa e na cabeça de Júlio ele queria proteger a propriedade. Ele tinha uma melancia bem grande perto da divisa onde passava um caminhão, e pensando que ele iria roubar pegou a sua bicicleta e foi atrás. Tinha uma descida e Júlio fez o trajeto em alta velocidade, porém a bicicleta só tinha freio na roda dianteira e quando ele freou, Júlio caiu se machucando feio. Ele não lembra de nada só de acordar com o guidão da bicicleta na sua coxa e um corte grande. Provavelmente ele capotou a bicicleta. Júlio chegou em casa e chamou pela mãe que ficou assustada e seu irmão começou a chorar. Ela mandou lavá-lo e tinha que esperar seu pai voltar para ser levado ao hospital, chegando no hospital foi preciso fazer treze pontos em seu ferimento. Depois desses acontecimentos, Júlio se recorda daquela mesma sensação,de estar sozinho e abandonado durante e após o desfile enquanto esperava alguém ir buscá-lo, e percebe ter ficado preso por um longo período no piso infantil. 12 No piso infantil a criança começa a explorar e experienciar o mundo à sua volta através dos cinco sentidos, tudo é novo para ela. A importância nesse piso é a criança sentir-se amada, abraçada, beijada e protegida. E também as experiências emocionais de alegria, felicidade, amor e paz, como experiências negativas como medo, raiva, tristeza e frustração. Todas essas experiências são gravadas em sua psiquê e biologia sem nenhum filtro por não ter o cérebro totalmente desenvolvido para avaliar e questionar as situações que ocorrem. Piso Infantil: Nesse piso se forma as raízes da identidade, crenças e dores dessa criança. 12 Experiências como a rejeição, o abandono são vividas durante a infância, essas experiências, chamadas de feridas emocionais, formaram sua personalidade. Extraído do material de uso exclusivo da Universidade Phanchay. 12 O RENASCIMENTO Uma data marcante e inesquecível, foi o dia 10 de Janeiro de 2009. Para os familiares de Júlio essa data foi como se ele e seu irmão tivessem nascido outra vez, pois sobreviveram a um acidente na volta pra casa de uma viagem que fizeram ao santuário de Nossa Senhora Aparecida. Ricardo, irmão de Júlio, ganhou essa viagem de presente de formatura do ensino fundamental de seu primo e padrinho de crisma. Como ele era menor de idade Júlio foi incumbido de ir junto com ele como responsável. Foram em um ônibus de excursão de romeiros. A viagem também tinha como destino o Rio de Janeiro, para conhecer o Maracanã e o Cristo Redentor. A viajem estava sendo ótima e divertida. Na ida a São Paulo antes de retornar ao Paraná também foram conhecer Campos do Jordão na Serra da Mantiqueira. Quando estavam indo embora algo inesperado aconteceu. O trajeto era uma descida e havia uma curva antes de entrar em um túnel, houve-se um barulho e logo perceberam que o ônibus ficou sem freio. Todos que estavam no ônibus ficaram desesperados, o ônibus foi ganhando mais velocidade e batendo a lateral em um paredão de rocha. Entraram no túnel e ao sair o motorista fez com que o ônibus tombasse e fosse derrapando sobre o asfalto. Infelizmente, cinco pessoas morreram nesse grave acidente e outras ficaram mutiladas. Júlio e Ricardo não sofreram machucados graves, apenas contusões devido ao forte impacto do ônibus. Nessa situação, novamente Júlio passa a viver a sensação de estar sozinho, desprotegido e sendo responsável por seu irmão. Essa experiência teve um alto impacto emocional na vida dele, o fazendo perceber que revivia a mesma sensação de abandono e passou a vestir uma identidade de vítima, contando essa história com o discurso: "olhem o que aconteceu comigo”!. 13 O DESEJO DE UMA PARCEIRA No ano de 2018, Júlio ouvia sempre as mesmas perguntas: - “Quando vai casar”? - “Como vai conhecer alguém se fica em casa”?. Júlio sempre respondia: - “Ela vai vir atrás de mim, e um dia vou me casar como meu pai”. Após ter feito 31 anos essa data chegou e nada, Júlio se frustrou e sentiu uma sensação de vazio. Em Julho desse mesmo ano, uma moça chamada Ana começou a trocar mensagens pelo Messenger e foram mantendo contato por WhatsApp. Como Júlio tinha uma carência afetiva desejou muito que esse relacionamento desse certo. Nesse momento inicial enxergava tudo de bom nessa moça e em duas semanas oficializaram um compromisso sério. Aconteceu o esperado, Júlio começou a ver os comportamentos negativos de Ana, onde ela tinha uma identidade que sustentava um comportamento de vítima, queixava-se por ser mãe solteira e ter sido mandada embora. Essa repetição de comportamento começou a incomodar Júlio, chegando ao ponto que ele não aguentou mais e terminou o namoro via WhatsApp de uma forma grosseira e estúpida. Por Júlio viver na identidade de carente afetivo, tentou retornar o namoro mas ele não aconteceu, isso o levou a vivenciar um processo depressivo onde tinha pensamentos de tirar até a própria vida. Felizmente, Júlio teve o apoio de sua família e em janeiro de 2019 começou a busca pelo autoconhecimento. Percebeu que estava repetindo ciclos em sua vida que não queria mais esses sofrimentos na sua vida. 14 NA BUSCA POR RESPOSTAS Júlio acordou, passou a observar toda a dinâmica das suas experiências passadas. Passou a reviver várias experiências em sua vida e alinhar com as possíveis raízes e causas de seus sofrimentos. Percebeu que na sua infância teve uma necessidade que não foi atendida, que era a de se sentir protegido. Dessa necessidade surgiu uma identidade de vítima e de abandonado. Essa identidade passou a contar histórias para reviver essas necessidades gerando um círculo vicioso que se auto-alimentava. Todos os fatos narrados aqui fazem parte de memórias implícitas e 13 memórias explícitas que chamamos de passado. E como Júlio era criança e não 14 tinha o neocórtex desenvolvido ele não racionalizava os fatos, apenas experimentava a partir do cérebro reptiliano que tem como objetivo a sobrevivência. Esses fatos geraram dor e sofrimento e, seu foco mental funcionava para evitar essas situações de sofrimento reforçando assim essas memórias e revivendo em sua vida essas mesmas situações. Com o processo profundo de autoconhecimento, Júlio aprendeu que a maior parte de sua vida foi movida pelo Mecanismo de Percepção do Ego. Interpretando 15 e significando as situações de sua vida através de suas referências internas do passado. Ele nunca estava de frente ao novo. Todos os fatos do passado de Júlio, toda sua história de vida experimentado através de situações que envolveram seus conteúdos individuais, familiares e coletivos a nível psicológico, emocional e sexual, junto com suas feridas emocionais acabaram moldando a forma como ele percebe e interpreta o mundo e as situações a sua volta. Memórias Implícitas: Experiências de outras pessoas (positiva/negativa).13 Memórias Explícitas: Experiências que vivemos individualmente (positiva/negativa) 14 O Mecanismo de Percepção do Ego: é o agente que utiliza as informações colhidas 15 nas experiências passadas para dar um significado e interpretar as coisas que nos acontecem, criando assim, identidades para poder reviver a história criada no momento da interpretação e reforçar a necessidade de tudo isso. 15 Júlio continua na sua jornada para transcender e modificar suas interpretações e assim poder viver com leveza na vida e construindo relacionamentos saudáveis e funcionais. 16 SEGUNDA PARTE “O GRANDE DESAFIO QUE É RELACIONAR-SE” 17 FERIDAS DE UMA VIDA Pedro é o primeiro filho de João, que possui um grande histórico de dor e sofrimento, e que carrega em si a ferida emocional da rejeição. E também filho de 16 Clotilde, que possui um grande histórico de dor e sofrimento e carrega em si a ferida emocional do abandono. No momento em que foi concebido todas essas 17 informações que seus pais carregavam foram passadas para ele. Vamos chamar essas informações de banco de dados. 18 Durante sua infância, Pedro passou por algumas situações que despertaram essas mesmas feridas e que hoje fazem parte de sua biologia e mente. No caso da ferida emocional da rejeição pelo fato de ser o primeiro filho, seu pai sem experiência alguma em relação a como cumprir esse papel, Pedro acaba não recebendo tanto amor quanto necessitava dele. João estava sempre trabalhando e os relatos de Clotilde era que ele não queria ter uma família naquela época, não estava preparado para assumir a responsabilidade de pai. Seu conceito do que era ser um pai vinha de suas próprias experiências, e isso era basicamente que um pai tinha somente que se preocupar em colocar a comida na mesa, o resto a mãe e a escola tinham que fazer e ensinar. De acordo com algumas situações vividas em casal, Joãocarregava dúvidas se Pedro era mesmo seu filho e por diversas vezes, Pedro chegou a ouvir seu pai dizendo que queria um exame de DNA para comprovar a paternidade. Com todas essas experiências em relação a seu Pai, Pedro acabou arquivando em seu banco de dados que ele o rejeitava e que não era merecedor de seu amor, foi aí então despertado a ferida da rejeição. Ferida Emocional da Rejeição: aquele que sofre por causa dela se sente-se rejeitado 16 em seu ser e, principalmente, em seu direito de existir. Ferida Emocional do Abandono: diz respeito à falta de alimento afetivo ou do tipo de 17 alimento desejado. Banco de Dados: São todas nossas informações em mente e biologia e são compostos 18 por 3 agentes influenciadores: Individual, Familiar e Coletivo e cada um deles a nível Psicológico, Emocional e Sexual. Extraído do material de uso exclusivo da Universidade Phanchay. 18 Em relação à ferida do abandono, sendo o primeiro filho de Clotilde, 19 despertou essa ferida quando seu outro irmão nasceu e a atenção e agrados dela se voltaram totalmente a ele. Por diversas vezes, por conta do trabalho que Clotilde tinha, Pedro precisava ser cuidado por outras pessoas, vizinhas, babás, primas e tias, e com essas experiências acabou arquivando em seu banco de dados a imagem de uma mãe ausente, o sentimento de solidão, a história de que sua mãe tinha o abandonado e reforçando assim suas feridas. 19 REFORÇANDO SUAS NECESSIDADES Já na sua adolescência, Pedro começou a interpretar os ambientes sociais que vivia e atuar com os mesmos comportamentos de seu pai. Percebeu que os comportamentos de seu pai eram baseados em agradar as outras pessoas, a forma que se arrumava, as roupas que usava e tudo que comprava era com esse intuito. Pedro conta que ele comprou um carro bem caro na época e que não cabia em seu orçamento, só para poder chamar atenção de amigos. Clotilde costumava dizer que os amigos andavam com mais frequência naquele carro do que os dois juntos. Pedro logo começou a seguir os mesmos comportamentos de seu pai, ele se arrumava e se vestia para os outros, estava sempre preocupado com o que os outros estavam pensando dele. Muitas das vezes que estava para sair com amigos, Pedro sentia a necessidade de comprar uma peça de roupa diferente para usar, e então passava horas se arrumando e o cabelo tinha que estar perfeito com um topete jogado para o lado, as roupas todas certas no corpo e sempre muito bem perfumado. Hoje em dia Pedro ainda preza muito por sua aparência física, mas naquela época ele agia assim para ser aceito, devido a uma forte carência pelo fato de ter suas necessidades emocionais não atendidas por seus pais. Devido a esses 20 comportamentos visando sanar carências, Pedro começou a buscar uma forma de ser aceito por mulheres, mas por não saber como ter um relacionamento, acabou passando por mais situações de dor e sofrimento que reforçaram ainda mais suas feridas o levando a interpretar seus relacionamentos com mulheres de uma forma totalmente disfuncional e distorcida. Durante sua juventude e transição para se tornar um adulto, Pedro experienciou três situações bem marcantes na dinâmica que envolve relacionamentos com mulheres. O primeiro foi quando ele tinha 14 anos de idade e tentou se relacionar com uma mulher mais velha, na época ela tinha 18. Ela era uma mulher linda, charmosa e seu corpo era muito sensual, ela se relacionava com alguns caras mais Desenvolvidas da infância por volta dos 3 a 8 anos. Quando o amor, segurança e 20 proteção não são nutridos. Criando-se lacunas emocionais. Extraído do material de uso exclusivo da Universidade Phanchay. 20 “descolados” da cidade e esses caras possuíam carros, motos, boas roupas e aparência, se comunicavam bem e tinham fama. Todas as suas tentativas de ficar com ela foram falhas, pois a referência interna que ele tinha de como ter uma garota como aquela era a dos caras com quem ela se relacionava. Logo percebeu que não possuía nenhuma daquelas características, ou pelo menos era isso que ele acreditava. Com essa experiência, gravou em seu banco de dados a seguinte crença: “mulheres bonitas só se relacionam com homens que possuem bens materiais, boa comunicação, beleza física e status”, e que, como ele não possuía nada disso, não poderia ter mulheres dentro deste padrão em sua vida. Com essa crença disfuncional registrou emoções de incapacidade e insuficiência, e se via como um cara que não merecia ter mulheres com essas características como namorada. Aos 17 anos passou por outra dessas experiências que ficou bem marcada em sua psiquê. Conheceu uma garota no final de uma festa, se relacionaram, trocaram números e deram início a várias conversas durante 2 meses. Após muita insistência de sua parte, marcaram de se encontrar um dia em um parque. Quando se encontraram, ela demonstrava resistência para beijá-lo, resistência para ficar perto e chegou até a perguntar se possuía carro ou moto. Após esse encontro, já no outro dia, Pedro tentou contato com essa garota, porém ela não respondeu. Ficou super mal e abalado emocionalmente, e novamente o registro dessa experiência comprovava a crença que ele tinha arquivado em seu banco de dados há três anos atrás, de que ele era incapaz de ter um relacionamento com esse tipo de mulher, pois não tinha os requisitos necessários. Dois anos após essa experiência conheceu uma outra mulher em uma festa e logo começaram a se relacionar, foi mágico, ela era linda, sensual e inteligente, possuía todas as características de mulher que Pedro tanto queria construir um relacionamento. Tudo estava indo bem e estavam juntos há 2 meses, porém o mais interessante foi que de repente Pedro decidiu não ter mais contato com ela. Isso mesmo, parou de falar com ela sem lhe dar nenhuma razão concreta, literalmente fugindo da relação. O motivo? De acordo com suas próprias experiências emocionais fortemente vividas, chegou a conclusão de que não era bom o bastante para ela, se sentia incapaz de estar nesse relacionamento porque ele não preenchia 21 os requisitos que havia arquivado em seu banco de dados sobre ser o cara merecedor daquele tipo de mulher. 22 REVIVENDO O PASSADO Em uma noite, há apenas alguns dias, Pedro estava no trabalho quando viu uma mulher nova em seu departamento, ela possui características semelhantes às dos exemplos passados, linda, charmosa, inteligente e sensual, e naquele exato momento O Mecanismo de Percepção do Ego entrou em ação e logo buscou as 21 informações necessárias para poder interpretar o que ela era. Naquele momento surgiu a velha historinha da mulher bonita e ele incapaz, que vimos nos exemplos passados. Esse momento gerou algumas emoções, e ele pode reconhecer uma mistura de excitação, alegria, uma vontade de ser aceito misturado a um sentimento negativo de incapacidade, pelo fato de em sua interpretação, ainda não possuir as características ideais para merecê-la. Então a imagem que Pedro gravou dela naquela situação, foi uma imagem superior a ele, uma coisa que ele tinha que lutar para conseguir. Et Voilà, com aquele filme em ação, ele interpretava outra vez o pobre e incapaz jovem que estava atraído pela moça bonita. Suas ações eram basicamente tentar chamar a atenção dela com tudo que tinha aprendido em suas referências passadas com seu pai. Apesar de no momento das cenas, ele em sua mente não possuir os requisitos necessários para se qualificar, decidiu tentar mesmo assim e vestiu a máscara do dependente, máscara essa que adquiriu quando sua ferida do 22 abandono foi despertada por sua mãe. Correu ao banheiro e ajeitou os cabelos e as roupas, como assim tinha ensinado seu pai, mudou a forma de andar e o jeito de falar e encenou os comportamentos de um cara “descolado” que também havia aprendido no passado, colocou uma música levemente alta, que talvez ela gostassepara poder chamar mais atenção dela e ficava indo de um lado para o outro falando com os outros funcionários. O Mecanismo de Percepção do Ego: é o agente que utiliza as informações colhidas 21 nas experiências passadas para dar um significado e interpretar as coisas que nos acontecem, criando assim, identidades para poder reviver a história criada no momento da interpretação e reforçar a necessidade de tudo isso. Máscara do Dependente: Quem utiliza essa máscara exibe um corpo carente de tônus. 22 Um corpo esguio, magro e apático indica uma ferida do abandono mais profunda. Livro: “As cinco feridas emocionais”. 23 Pedro, mesmo com oportunidades, não se comunicava com ela com frequência, pelo medo de ser rejeitado e pelo fato de não conseguir se expressar com clareza, e por isso, aos poucos começou a se sentir para baixo, desanimado, sem energia. O sentimento de inferioridade tomando conta e o fato dela não estar dando atenção para ele e sim para o seu gerente, acabou piorando a situação e reforçando a imagem de que ele não possuía os requisitos necessários para ter uma mulher assim. Os comportamentos negativos tais como, comer diversas coisas sem estar com fome, ficar se distraindo nas redes sociais, reclamar e xingar sem razão, ficaram mais constantes e automáticos. Através da observação, Pedro percebeu seus comportamentos acontecendo de forma automática como por exemplo: ir pegar uma barra de chocolate para comer mesmo não tendo fome. Porém não conseguia evitá-los, as vozes que dominavam a sua mente falavam “eu preciso sentir prazer” em formas de pensamentos. Isso durou até ela ir embora, e quando ela foi os impulsos se foram junto com ela. As informações que Pedro adquiriu com suas experiências individuais envolvendo suas feridas emocionais e seus registros de dor e sofrimento, somado às informações passadas no conteúdo familiar e as informações do coletivo, alimentaram assim, seu banco de dados.Essas informações são usadas pelo Mecanismo de Percepção do Ego para interpretação e criação de sua própria realidade. Novamente, no exemplo pessoal de Pedro, toda vez que ele está diante de uma mulher dos sonhos, em milésimos de segundos vai surgir um sentimento familiar, o sentimento predominante que ele registrou quando passou por experiências parecidas no passado. Logo após, surgirá a imagem dessa mulher como sendo um prêmio, uma conquista e que talvez ele não seja merecedor a não ser que preencha os requisitos que ele próprio criou com seu passado e de acordo com essa imagem, vai contar uma história, que baseada nas informações que já possui irão dizer, “mulheres deste nível só se relacionam com caras que possuem status, bens materiais e boa comunicação”. e, como ele não tem todas esses requisitos, ele não se sente merecedor. Nesse momento em que o filme começa a rodar, Pedro veste a identidade do cara incapaz e começa a reviver essa história, ou como agressor, tentando se 24 qualificar para obter o que deseja, ou como vítima, se inferiorizando e reforçando o quanto é incapaz de ter aquela mulher por não possuir os requisitos necessários. Em outras palavras, a necessidade é de ter um relacionamento com uma mulher bonita, inteligente e sensual, logo surge a identidade que vai contar essa história e ele começa a viver a mesma situação repetidamente, reforçando assim a necessidade que já existe há tempo, é um looping infinito de repetição. O Mecanismo de Percepção do Ego é o agente que utiliza as informações colhidas nas experiências passadas para dar um significado e interpretar as coisas que nos acontecem, criando assim, identidades para poder reviver a história criada no momento da interpretação e reforçar a necessidade de tudo isso. 25 TERCEIRA PARTE “DESPERTANDO PARA A VIDA” 26 CRIANDO MÁSCARAS E PERSONAGENS Foi em uma terça feira cheia de sol, calor e alegria, há aproximadamente treze mil dias atrás que nasceu Joana. Consequência do encontro sexual dos seus pais somada a sua própria caminhada de vida terrena de 35 anos bem vividos, Joana é um pouco de tudo: mulher, amante, música, escritora, bartender, guerreira, cantora, compositora e ama se expressar através da arte. Ela é amante fiel da natureza e seu coração sempre pede mar, floresta, árvores, bichinhos, nascer e pôr de sol. Filha mais nova de um padre Filipino e uma freira Brasileira de corações lindos mas cheios de limitações e dores também. Seu pai, Joey, nasceu, cresceu e se formou em teologia e filosofia nas Filipinas, um país lá longe cercado por tradições e culturas distintas, que Joana desconhece, mas que traz muitas raízes em quem ela é. Sua avó Carmen teve sempre que trabalhar muito para conseguir colocar comida na mesa, pois seu avô morreu cedo por ter infeccionado um tiro que levou na perna, defendendo as Filipinas contra os Japoneses na segunda guerra mundial. Joey ainda era muito pequeno, tinha 3 anos de idade e desde então todos os irmãos sempre tiveram que se esforçar muito na escola, porque quando eram o melhor da classe, ganhavam o ensino de graça. Joey sempre cobrou Joana da importância de ter estudo e educação, sempre afirmou que esse era o maior presente que poderia dar. E quando Joana tirava 10 no boletim, ela recebia uma recompensa financeira por isso. Sempre guardava parte do dinheiro e a outra parte gastava em besteiras de crianças. Aqui nota-se a criacao de uma identidade que quando se trabalha duro e atinge a perfeição, gera uma recompensa. Por isso, desde cedo a necessidade de Joana se sentir aprovada pelos outros. Sua mãe, Maria, nasceu e cresceu em Indaial, uma cidade pequena em Santa Catarina num sítio em que todos tinham que trabalhar na roça para ganhar seu sustento. Os avós de Joana tiveram 13 filhos, mas 2 deles morreram logo bem pequenos. De origem Italiana, eram uma família muito pobre e Maria dizia que tinha que andar com os pés descalços até a escola todos os dias, às vezes com o frio da geada e às vezes com o calor do verão. Com a escassez de sua infância, nasce então a necessidade de Maria de sempre guardar dinheiro, colecionar coisas velhas, quebradas ou que não funcionam mais, caso precise usar elas um dia. 27 Bem cedo ela se mudou para ir morar em outra cidade numa escola de freiras, onde teve a oportunidade de se formar em nutrição e seguir na vida religiosa. Os pais de Joana viveram suas individualidades, crenças e paradigmas antes de se encontrarem. Seu pai como missionário saiu cedo de casa e viajou o mundo todo antes de chegar no Brasil. Foram tribos, países, cidades, culturas e línguas diferentes que ele experienciou e aprendeu no decorrer de sua vida. Muitas pessoas hoje em dia ainda comparam Joana muito com seu pai, pois ela é desbravadora e ama viajar e conhecer novos povos e culturas diferentes, assim como ele um dia. Sua mãe, com o ensino da vida religiosa, seguiu rodando o Brasil nos povos mais necessitados em busca de ajudar os outros e evangelizar. Seus pais se encontraram e se conheceram no Ceará, onde “largaram” a igreja quando Maria engravidou do seu primeiro filho, aos 38 anos de idade e começaram literalmente do zero a partir daí, seu pai então com 40 anos. Ao abrir mão da vida que viviam na igreja católica, que tinham feito voto de pobreza, eles saíram de mãos vazias e foram morar com tia Laura, irmã e confidente de Maria, até Joey achar emprego e conseguir alugar uma casa e começar a vida juntos. Joana sabe hoje em dia, que foi difícil eles se libertarem da crença que tinham quanto à castidade e do que era certo ou errado perante a igreja e se sente grata demais por eles terem escolhido o caminho mais desafiador ao invés do caminho mais fácil e começar assim, uma família linda. Joana não foi uma gravidez planejada pois os dois tinham apenas concebido seu irmão, começado a vida em casal e não tinham recursos financeiros para receber um outro filho.Por isso esse sentimento eterno de ela não se sentir suficiente, apesar de sempre se sentir amada. Esse é um exemplo clássico da famosa rejeição, ferida emocional que foi criada ainda na fase uterina e que Joana carrega em si até hoje em dia, gerando sempre um sentimento de não ser suficiente. Como seus pais vieram de famílias que viviam em escassez e preocupação com o dinheiro, desde cedo Joana foi ensinada que precisa estudar e trabalhar muito para “ser alguém" na vida e também a sempre economizar uma parte do que ela ganha. Isso se reflete muito em quem ela é, pois em todos os trabalhos que ela teve, sempre deu muito de si, a ponto de esquecer de comer, de deixar de 28 descansar e colocar quase sempre o trabalho como prioridade. Isso tudo para se sentir merecedora de estar ali e de sentir a aprovação de todos à sua volta. Apesar das dificuldades financeiras dos pais de Joana quando ela nasceu, ela sempre teve um estilo de vida muito confortável, às vezes melhor, às vezes nem tanto. Ela vê o dinheiro como algo que precisamos trabalhar muito duro para conseguir e está aprendendo a dissolver essa memória que não é saudável. Apenas recentemente aprendeu a investir em si mesma. Vemos isso como um padrão de sua mãe, de dar primeiro pra quem precisa, mas não saber se cuidar, se dar prioridade. Maria tem roupas hoje de 30 anos atrás e ainda guarda muitas coisas que não usa faz anos, e provavelmente nem vai mais usar, mas como ela nasceu e cresceu na escassez, a identidade que ela criou conta histórias dizendo que talvez um dia vai precisar de determinadas coisas. Joey sempre repete a frase “dinheiro não se come” e por isso quase nunca tem dinheiro no bolso. Mas também é o primeiro a ajudar quem precisa, quando alguém precisa. Ela admira muito essa bondade e o carinho deles. Apesar de tantas feridas emocionais registradas em seu ser, ela sempre conseguiu ver que era e é muito amada, mas nem sempre sentiu esse amor da forma que desejava, porque a ferida da rejeição estava muito carimbada em sua biologia. 29 IMAGENS LIMITANTES Joana considera sua mãe o ser mais lindo que já conheceu nessa vida, sempre inspirando a ser o melhor dela mesmo constantemente. Foi lindo ver Joana sair de casa para aprender a apreciar os pais que tinha. Ela ainda está aprendendo a ver seu pai como consciência pura que ele é, e dissolver as imagens negativas criadas dele no passado de ele nunca a ver como boa o suficiente. Hoje com embasamento teórico sobre o assunto, entende que isso é a imagem que ela passa para ele enxergá-la, então apesar de ele já ter mudado as atitudes dele, ele ainda se comporta assim com Joana. A maior imagem negativa registrada de seu pai, foi quando ela era ainda muito pequena e foi brincar de fazer cócegas nele, mas ele estava lendo jornal e a ignorou totalmente. Até aí tudo bem, o que passou é que uns 5 minutos depois, o seu irmão foi brincar com ele de fazer cócegas também e ele largou o jornal e brincou com ele. Joana se sentiu muito rejeitada, partindo seu coração, e reforçando assim a necessidade que ela tem de ser aceita e amada e não se sentir boa o suficiente. O que acontece nesse caso, é que como ela já tinha a ferida da rejeição bem carimbada em sua biologia e a necessidade de se sentir suficiente, ela criou uma identidade, um personagem para se proteger dessa rejeição, e essa identidade automaticamente busca histórias similares a essa que viveu para reforçar a sua necessidade de atenção, de ser aceita e se sentir suficiente. Só que quando ela registrou essa memória ela ainda não tinha o cérebro racional desenvolvido, ela registrou a emoção que sentiu com a visão da criança que ela era. Hoje, tomando uma postura de adulto, Joana consegue ver como foi o acontecido e entender que na hora seu pai simplesmente estava entretido na leitura dele e não parou para brincar com ela. Ponto. Não tem nada demais na atitude e na reação dele, mas suas referências internas já eram de rejeição e por isso o forte sentimento de novamente não se sentir o suficiente. Ele reagindo da forma que reagiu e ignorando Joana na brincadeira, gerou uma forte emoção que ela significou de acordo com o que conhecia na época, criando assim uma imagem de seu pai (nesse caso negativa). 30 Por falta de conhecimento nós muitas vezes não sabemos o que estamos sentindo, já que existem mais de 400 emoções conhecidas na ciência hoje em dia, e quase não conseguimos nomear 30 delas, imagina então, Joana como criança nomeando uma emoção de acordo com a referência que ela tinha na época, que era muito pequena em relação ao conteúdo que ela tem hoje. Vemos então, o mecanismo de percepção do ego atuando fortemente, de ela ainda olhar seu pai hoje em dia com a mesma imagem negativa que foi gravada tantos anos atrás, quando ela não podia ainda nem utilizar a razão, limitando assim seu relacionamento com ele. Depois de significar e dar nome a essa imagem criada, toda vez que ela encontra seu pai, ela relaciona ele automaticamente a imagem que ela criou no passado e não a pessoa que ele é no agora. E por essa imagem criada ter sido negativa, não importa o quanto de coisas boas ele fez ou faz, o sentimento vai ser o mesmo porque ela ainda vai estar vendo o seu pai não por quem ele é, e sim pelo comportamento que ele teve com ela há 30 anos atrás. É muito louco isso, porque é um ciclo sem fim. Já que as necessidades seguem se reforçando toda vez que uma identidade cria histórias similares para que a gente siga vivenciando as mesmas situações. E Joana sabe que seu pai não condiz nenhum um pouco com essa imagem gravada que ela tem dele, e não entendia o porquê de sempre se ver batendo de frente com ele e não entendendo o porquê de as pessoas acharem ele um cara tão legal. Hoje ela percebe que estava errada. Porque ao sustentar aquela imagem negativa que ela tinha dele, ela obriga ele a agir automaticamente da mesma forma, reforçando assim sua necessidade de ser aceita, amada e suficiente. É lindo ver sua transformação. Ela está aprendendo a pôr em prática a ciência do perdão com ele, que nada mais é do que a consequência de atualizar a imagem em uma polaridade positiva. De ver e entender o que se sucedeu apenas foi como foi, e de mudar a imagem negativa que criou dele para a positiva. 31 VIVENDO NO PASSADO CRIANDO UM NOVO EU Isso tudo aconteceu por muito tempo inconscientemente, e faz pouco tempo que Joana se viu frente a essa verdade: De que temos as relações que temos, porque ainda sustentamos as imagens criadas no passado e projetamos isso constantemente no agora. Por isso dizemos que o Mecanismo de Percepção do Ego é o condicionamento de perceber influenciado só pelo passado. Por muito tempo ela se culpou e culpou seus pais por um abuso que sofreu quando tinha 11 anos por um vizinho da casa de praia, pastor, policial e pai. Foi uma castração muito grande para ela mesma, pois ela via ele como um porto seguro e alguém que confiava. O fato de não ter dito não, a machucou muito mais que o abuso em si. Se sentiu em falha consigo mesma de não ter voz para expor que não entendia e não queria aquilo que estava acontecendo. Outra vez, uma percepção com olhos de criança que não tinha o cérebro racional ainda desenvolvido. Joana se cobrou muito por toda essa situação e isso se refletiu em todos os seus relacionamentos. Na maioria das vezes ela não deixava seus parceiros a tocarem no sexo, porque inconscientemente achava que eles também iriam machuca-la. Então teve alguns relacionamentos de muito amor e pouca intimidade. Ela procurava sexo com pessoas desconhecidas e ai conseguia se permitir sentir e ser tocada, pois não associava a falta de proteção a quem não conhecia e confiava. Aqui é um outro grande exemplo do mecanismo de percepção do ego atuando, com a necessidade de se sentir segura e protegida, ela criou uma identidadeque conta as mesmas histórias para reviver essa necessidade constantemente. Ter conhecimento teórico e intelectual diz muito pouco a respeito desse mecanismo, porque é na experiência que aprendemos e transcendemos a mente, que tenta o tempo todo nomear e significar as coisas. Poucos dias atrás Joana participava de um grupo responsável em desenvolver um TCC a respeito do mecanismo, e todos no grupo se baseiam literalmente no conteúdo teórico. Utilizaram alguns exemplos próprios do que acreditavam terem entendido, e adaptaram o trabalho de acordo com suas referências internas de como um TCC deveria ser. Quando receberam a reprovação e seu mentor disse que teriam que refazer todo o trabalho mesmo tendo atingido 32 todos os requisitos que ele tinha dado ao fazer o mesmo, muitas identidades de Joana vieram à tona e trouxeram uma emoção junto com elas: de injustiça, de querer fazer as coisas certas, de ser aprovada, de ser aceita, de ser reconhecida, de confusão... Joana percebeu alguns mecanismos atuando, não deu uma resposta na hora mas não conseguiu evitar de sentir tudo o que essas identidades lhe trouxeram. Conseguiu segurar sua resposta automatizada do seu inconsciente, mas não conseguiu deixar de sentir as emoções que vieram junto com as identidades. Afinal, pessoas que estudaram todo um mecanismo pelo qual a maioria sofre, foram orientadas a preparar um trabalho em um formato específico e incorporaram identidades para fazerem tudo isso, significaram e interpretaram de acordo com suas referências internas. Fizeram o trabalho e receberam uma reprovação terrível. Nesse momento, eles mesmos ficam tomados pelo mesmo mecanismo que acreditavam saber. Loucura! Que lindo! Porque nada melhor que nossa própria experiência para aprofundarmos ainda mais o conhecimento e entendimento. Quando damos um ponto final e nos conformamos em responder uma pergunta de apenas uma forma, matamos a possibilidade de novas descobertas, pois limitamos a nós mesmos acreditar que aquilo que foi respondido de uma única explicação, sacia a pergunta. Muitos de nós, desde crianças, fomos “programados” a sempre querer ganhar, vencer e chegar em primeiro lugar, distorcendo assim, a percepção do perder. E quando perdemos, ou algo nos é tomado, nos desesperamos, porque não temos a exata compreensão da perda e sua função. Muitas das vezes nos perdemos nas relações, tanto amorosas, quanto familiar, no ambiente de trabalho ou amizades, porque nos tornamos reativos de acordo com o comportamento do outro, esquecendo que o outro é essência e consciência pura, e não a imagem que criamos de acordo com seus comportamentos que desencadearam determinadas emoções. O comportamento em si é uma parte muito pequena do ser humano para ele ser resumido apenas nisso, ele é muito mais que isso. 33 AS ESCOLHAS NÃO FEITAS Em todo o momento a vida está acontecendo ao nosso redor e nem nos damos conta disso, pois interpretamos ela através de filtros que são os nossos 5 sentidos: Visão - Olfato - Paladar - Tato - Audição. O que acontece é que muitos desses sentidos estão anestesiados, pois vivemos num cotidiano de rotina automáticos, não paramos o suficiente para apreciar tudo o que podemos sentir como ser humano: o sabor dos alimentos, o canto dos passarinhos, a brisa do vento no rosto, o cheiro do amanhecer e a visão das cores indescritíveis quando o sol se põe. E vivendo com os nossos sentidos anestesiados, a nossa mente condicionada se posiciona automaticamente em três movimentos: Omissão - Distorção - Generalização. Por exemplo: Quando está chovendo forte na rua, Joana gosta de se jogar e dançar na chuva, com a chuva, porque isso faz ela se sentir viva, a sensação dos pingos d'água caindo em sua pele, o friozinho do contato da água gelada em todo seu ser e o gosto de vida, isso é tudo muito gostoso para ela, mas muita gente vê isso como perda de tempo, loucura e infantilidade. Nossa mente gosta de dar nomes a tudo que acontece e assim perdemos muitas vezes a oportunidade de apenas nos permitir sentir e observar a vida. O Mecanismo de Percepção do ego diz respeito de olharmos tudo isso acontecendo: de ver os julgamentos que fazemos, de ver entrarmos nas relações para tirar vantagem e ganhar algo, ainda que na maioria das vezes, inocentemente. E se não recebemos aquilo que desejamos, entramos automaticamente num sistema de manipulação constante. Por isso a descrição de “as escolhas não feitas”. Porque, como estamos condicionados a dar significado a todas as coisas que acontecem de acordo com as referências internas que temos, deixamos assim de escolher aquilo que desejamos. Em outras palavras, respondemos inconscientemente de acordo com o conhecimento carimbado em nossa biologia e por isso nosso passado, nossas memórias não saudáveis respondem automaticamente. Isso acontece o tempo todo por estarmos tão automatizados em tudo que fazemos, temos muita pressa, queremos fazer muitas coisas ao mesmo tempo, estamos aqui tomando café da 34 manhã, mas vendo as fotos do Instagram de outra pessoa que está na praia e nos comparamos a ela, porque gostaríamos de estar na praia também, não nos permitimos estar presente, e isso é uma das maiores armadilhas do ego: a comparação, porque quando comparamos, não conseguimos ver a realidade como ela realmente é, e isso nos tira a dádiva de estar presente. 35 VOANDO ALTO Aos 21 anos, Joana largou a faculdade de Psicologia, pediu demissão (trabalhava num laboratório como técnica em cerâmica) e foi para Dublin, Irlanda, usando o pretexto de aprender a língua inglesa como desculpa para sair de casa. Foi um movimento de mudança desafiador e necessário, pois ela já não se via na vida que estava vivendo, e sempre quis viajar, experienciar e ser livre, sempre sentiu que eu queria mais, que precisava de mais. Saiu de casa com dívidas, sem falar inglês e com seus pais e irmão desempregados. Ela diz até hoje que tem muito orgulho de ter se escolhido nesse dia, ao invés de escolher a situação que se encontrava e não queria viver, pois ao se movimentar em direção ao que queria, a vida começou a acontecer de uma forma que antes ela nem imaginava que podia. Foi transformador. Ela se sentiu como uma borboleta saindo do casulo. Morar em outro país com cultura, língua e clima diferentes do que era acostumada foi desafiador, e percebeu que apesar da distância em quilometragens de suas raízes, levou consigo muitas das identidades que trazia para se proteger de viver o que eu já tinha vivido, já que todos os relacionamentos que teve quando morou lá foram manipulados para que ela não se machucasse. A identidade de proteção que tinha criado seguia contando as mesmas histórias que ela iria se machucar, reforçando assim a necessidade que tinha de se proteger. Foi lá também que ela teve seu primeiro encontro sexual com uma mulher e foi lindo ver ela se permitir sentir e viver isso. Depois de 2 anos morando na Irlanda a vida pedia movimento de novo, e Joana voltou pro Brasil por falta de saber onde ir. Ficou pouco tempo no Brasil e logo conseguiu um emprego para trabalhar em um navio de cruzeiros como bartender e mixologista. Trabalhou por 10 anos para a Royal Caribbean, casou com Mia, a primeira pessoa que ela realmente se abriu para experimentar a intimidade e o sexo em um nível bem mais profundo, e se mudaram para a Africa do Sul, onde compraram uma casa em Langebaan e viveram juntas num relacionamento muito lindo mas muito imaturo também. Joana vivia inventando padrões altíssimos para Mia atingir e sabotava seus sentimentos muitas vezes porque sentia que estava estagnada e não sabia como seguir em frente, sempre procurando defeitos e o 36 porquê de se sentir tão vazia. Joana consegue ver claramente hoje em dia, as histórias que sempre contou em sua vida se repetindo para reforçar a necessidade de proteção. Issoclaro, acontecendo inconscientemente o tempo todo. No dia que completaram 7 anos juntas, Joana terminou com Mia. Ela estava cansada daquele jogo de sempre fazer ela se sentir mal por coisas absurdas e de ter se perdido na relação, por não saber mais quem era ou o que eu queria. Mia depois contou a Joana numa conversa de coração aberto que tiveram, que um dos grandes medos dela sempre foi de não ter um relacionamento que passasse dos 7 anos, e por isso o término aconteceu da forma que foi, pois ela sustentou a imagem de que não passariam dos 7 anos. Aqui se vê outra vez que nós temos o poder de criar o comportamento que desejamos que as pessoas tenham, por meio da imagem que sustentamos. As pessoas só respondem a aquilo que acreditamos delas, e geralmente nunca acreditamos naquilo que desejamos, e sim naquilo que nos dá medo, insegurança e nos deixa tristes, por causa das imagens que trazemos do passado de acordo com nossas feridas e buracos emocionais. Sabendo disso, somos então 100% responsáveis pelas relações que temos, pois sustentamos a imagem do passado e projetamos isso constantemente toda vez que nos relacionamos com elas. A partir do momento que eu registro uma história, seja ela boa ou ruim, a tendência é que eu repita essa história várias vezes. Por uma questão evolutiva do nosso cérebro, temos uma tendência muito maior em registrar de forma muito mais consistente, as experiências que nos geram sofrimento e dor, para nos prevenir de não voltar a viver isso novamente. Mas isso fazia sentido somente antigamente, quando estávamos fazendo a transição de homem da caverna para homem da agricultura, hoje já não faz mais sentido estimular essas histórias negativas que seguimos contando na nossa vida, porque todas as histórias que contamos começam a ser o padrão de experiência que vamos experimentar. Geralmente o que acontece quando percebemos esse looping da prisão da mente condicionada, esse ciclo da mesma narrativa e de seguir tendo os resultados que não queremos, é porque é a mesma identidade da mente condicionada e limitada, que vai em busca de ferramentas para curar e tratar os próprios sintomas. Mas isso demora muito, pois essa identidade vai se auto sabotar, 37 ela vai seguir contando e criando as mesmas histórias para reforçar a necessidade dela, não conseguindo então curar-se. A solução é criar uma nova identidade para ajudar a curar os sintomas dessa identidade doente, que não nos serve mais, assim sendo um processo bem mais rápido e possível. Lembrando que a identidade que falamos, é como se fosse um personagem, uma máscara que vestimos para contar nossas histórias e pensar os pensamentos, e muitas vezes ela é tão enraizada que tem sempre as melhores justificativas para fazer o que faz, mesmo sendo algo que conscientemente não queremos fazer. Por exemplo: Uma pessoa que acha que está sempre em dívida com alguém, que os outros sempre fazem mais por ele do que ele pelos outros. A necessidade dessa pessoa criou um sintoma de culpabilidade, essa identidade foi criada porque ele não tinha clareza, não tinha uma referência interna clara do que ele dava nas relações, ele superestimava aquilo que ele recebia das relações e assim criou uma sensação de dívida. Foi pedido para ele fazer uma lista das coisas que ele faz para ajudar os outros e como ele adiciona nas suas relações. Foi desafiador e ele teve que repetir várias vezes, para criar um sistema neural que permite olhar as coisas que ele dava e trazia para as relações. A partir dessa lista ele conseguiu enxergar que ele também fazia muito pelos outros, mas ele estava tão cego com a percepção de achar que sempre incomodava que ele não via isso, mas ao fazer a lista e criar essa clareza de que ele também contribuía e muito nas relações, automaticamente foi criando uma nova identidade que já não se sentia mais em dívida com os outros, e a culpa se dissolveu. E não é que ele curou a culpa, porque a culpa foi uma parte da identidade que ele criou porque sentia que devia aos outros. Mas por criar uma nova identidade que com clareza viu que ele também dava tanto quanto recebia nas relações, encontrou um equilíbrio e o sintoma de se sentir culpado, foi embora. Se conseguirmos enxergar isso, fica muito mais fácil conseguir a transformação que desejamos ver em nós mesmos. Lembrando que saber é só uma porção pequena de tudo isso, porque para a transformação acontecer precisamos colocar em prática e experienciar o todo e assim ir criando novas memórias saudáveis que vão ficar gravadas fortemente em nossa biologia. 38 SEGUINDO DE CORAÇÃO ABERTO Hoje, Joana sente o poder de desenvolver sua consciência e se tornar cada dia mais auto responsável e vê o quanto sua vida tem melhorado a partir disso. Gratidão e abundância é um estado de espírito constante e muito apreciado por ela. Joana está casada com Bia há mais de três anos e sente ser a primeira vez realmente a escolher estar consciente em uma relação. Segue evoluindo em luz e espírito em sua jornada individual e de casal, vivendo um relacionamento bem saudável (na maioria das vezes) e se permitindo sentir tudo que existe em seus corações. Foi com Bia que Joana se abriu e permitiu viver todos os desejos e vontades tanto no sexo quanto no dia a dia com mais profundidade. Bia a inspira a ser melhor e a evoluir nessa jornada da vida. Bia ajudou no processo de criar uma nova identidade para Joana que não precise de proteção, e por isso agora ela segue contando histórias diferentes. Ainda percebe se sabotar uma vez ou outra, quando a antiga identidade que foi criada pela necessidade de se sentir protegida se faz presente, mas porque ela consegue enxergar essa identidade atuando, ela apenas observa os pensamentos e sentimentos que traz e escolhe ignorar eles. É bem desafiador, mas é tão libertador ver e ter a consciência de que a cada dia ela se torna mais auto responsável e dona de sua própria jornada. Ela mora na costa norte da Inglaterra, numa cidadezinha cheia de magia chamada Fakenham. Joana vê a pandemia como um dos melhores presentes que recebeu nessa vida, porque a tirou de sua zona de conforto e fez ela se movimentar em outra direção.Ela foi então em busca de autoconhecimento porque via que sempre acabava fazendo aquilo que não queria, ao invés de ter como resultados aquilo que desejava. Sentia um vazio imenso e precisava dar um basta na forma automatizada que estava vivendo. Foi transformador! Ela aprendeu e continua aprendendo a viver em equilíbrio entre sua mente, corpo, espírito e ambiente e começou a ouvir mais seu coração, pois finalmente estava tendo os resultados que sempre quis. 39 “Foi em uma terça feira cheia de sol, calor e alegria, há aproximadamente treze mil dias atrás que nasceu Joana. Consequência do encontro sexual dos seus pais somada a sua própria caminhada de vida terrena de 35 anos bem vividos, Joana é um pouco de tudo: mulher, amante, música, escritora, bartender, guerreira, cantora, compositora e ama se expressar através da arte. Ela é amante fiel da natureza e seu coração sempre pede mar, floresta, árvores, bichinhos, nascer e pôr de sol”. Assim é a história de Joana, mas sabemos que ela não é apenas sua mente, seu corpo e sua sexualidade... Ela é consciência pura, na maior forma divina de ser digna de experimentar a vida na sua essência mais profunda. Ela não tem limites, e é a mudança que sempre sonhou em ver no mundo. Ela é uma história real de que transcendendo a barreira do medo que temos do desconhecido, ela percebeu que pode tudo na vida. E segue de coração aberto. 40 QUARTA PARTE "O MERGULHO EM MIM QUE ME LIBERTOU" 41 NOTAS DA NARRADORA “O mergulho em mim que me libertou", escrito no verão de 2021, é o meu primeiro trabalho escrito e publicado. Narrarei a história de Aurora, uma personagem intrigante, misteriosa que carrega umabusca incansável de se conhecer. Pode ser que você pense: “nossa, ela conhece cada detalhe dessa personagem que provavelmente ela deve estar contando sua própria história. Talvez seja, ou talvez eu conheça tão bem a Aurora. As histórias contadas aqui são expressadas a partir de uma linguagem leve e livre, mas com formas emocionais intensas e impactantes que também foram para mim. O enfoque em “O mergulho em mim que me libertou", é o início de grandes descobertas sobre a personagem, sua família e o mundo ao seu redor. Em alguns momentos eu entro no interior de Aurora, e me percebo vivendo intrinsecamente suas experiências e juntas vamos deixar a nossa mensagem. Aqui é narrado o desenvolvimento de Aurora, desde a sua infância até a fase adulta. Ela transita em diversas áreas da vida, seu crescimento vem da conquista de sua maturidade e independência. Aurora é filha de pastor e considerada por muitos como a "ovelha negra da família”. À medida que vai crescendo trilha por distintos caminhos, cruza por por outros personagens que terão grandes impactos emocionais, psicológicos e sexuais em sua vida. E aos 33 anos Aurora entra em um estado consciente de busca pelos significados de sua existência, mergulha no conhecimento de si mesma. Agora ela sabe as razões que a levaram a tomar determinadas decisões e a agir de diversas maneiras que a levaram a ter que assumir suas consequências. Aurora precisou passar por situações inimagináveis, até para ela mesma. Saiu do padrão familiar, fez escolhas que por muito tempo levou a carregar o peso amargo da culpa. Ela nasceu borboleta, quis voar mas lhe cortaram as asas. Morreu, renasceu e encontrou a segurança que tanto almejou no melhor lugar, dentro dela mesma. Em 2020, disse "chega"!. "Chega de passar os dias sofrendo por aquilo que eu não posso controlar, eu quero saber de fato quem eu sou”! Ainda pode parecer um tanto clichê, mas Aurora sabia que era só através da entrega em seu autoconhecimento que ela iria se livrar dos pesos do passado e 42 assim o fez. E tudo começou em Abril de 2020. Enquanto escritora, farei com que Aurora influencie gerações, tornando “O mergulho em mim que me libertou" a obra mais importante da minha vida. A intenção dessa narrativa é fazer com que o leitor sinta que, independente se suas bagagens carregam histórias de dor e sofrimento, existem infinitas possibilidades para mapear as respostas/causas e com elas poder seguir na vida com mais leveza. 43 FOI FÁCIL NASCER Aurora é várias em uma só. É mãe de um pré-adolescente de 13 anos e vem descobrindo o universo materno totalmente diferente do que lhe ensinaram, mas afirma que essa é a relação que mais a faz crescer como ser humano. Formada em psicologia, atuando como empreendedora e produtora de conteúdos digitais e hoje vive um relacionamento consciente (ao menos ela vem tentando). Bom, Aurora hoje vem permitindo-se ser aquilo que sente em ser, sem rótulos e sem destinos. Aurora não foi uma criança fácil, mas de uma coisa ela sabia, ela queria ser livre! Prova disso foi seu nascimento. Terceira de quatro filhas, seu parto foi normal às 4h da manhã e sua mãe Lisa sempre falava que, quando Aurora nasceu ela não sentiu nenhuma dor. — Aurora foi fácil de nascer! — Disse sua mãe. Nas oportunidades de conversas que Aurora tinha, ela adora falar desse acontecimento de sua vida, expressando-se com orgulho por não ter dado trabalho ao nascer. Acredito que esse sentimento remete a Aurora uma sensação de poder. Quatro filhas mulheres, imaginem a loucura que não era! Mas tem um ponto importante aqui, o sonho de Mário, pai de Aurora era ter um filho homem, mas esse sonho não foi realizado, não no casamento com Lisa, sua mãe. Quando sua mãe foi para o hospital dar à luz a Aurora, assim que ela nasceu sua tia, Madalena que estava com ela ligou para Mário e deu a notícia que ela tinha nascido e que era uma menina. Ele sem hesitar falou: “se é mais uma menina, então diga para a Lisa que fique com ela sozinha”. Dias depois, talvez arrependido, ele foi visitar sua esposa e quando viu Aurora se apaixonou, assim relata Lisa. Ela disse que Aurora era uma bebê linda com os cabelos bem pretinhos e quando Mário viu se encantou. Esse acontecimento na vida de Aurora impactou profundamente a nível inconsciente sua vida, levando a desenvolver a ferida do abandono. MEMÓRIAS DA INFÂNCIA 44 Das quatros filhas, Aurora sempre foi a que deu mais trabalho, a que mais recebia castigo de seus pais. A levando a desenvolver a ferida da rejeição. Certo dia, Aurora pegou escondido algumas folhas de caderno de sua irmã mais velha para pintar, quando sua mãe descobriu a pós de castigo amarrada no pé da mesa de jantar. Na cabeça de Aurora, não fazia sentido receber aquele castigo tão severo por um fato tão bobo. Outro castigo severo assim, aconteceu em um dia que Aurora quebrou um vaso de sua mãe, e como punição foi trancada dentro do banheiro o dia inteiro, sua mãe só abria a porta para colocar comida para Aurora. Na maioria das situações que envolviam castigos, eles eram sempre severos e dados pela sua mãe. Seu pai nunca a pôs de castigo, não daquela forma triste e desumana. Essas punições, fizeram com que Aurora desenvolvesse um sentimento de raiva e ódio por sua mãe. Aurora interpretou todos aqueles castigos de que sua mãe não a amava e que seu pai e irmãs não a protegiam fortalecendo ainda mais sua ferida da rejeição. Aurora era uma criança que adorava brincar de boneca, de casinha, de comidinha, andar de bicicleta e brincar na rua, é uma fase da qual ela sente muita falta. Pelo fato de que seus pais como forma de proteger suas filhas, faziam o possível para mantê-las sempre dentro de casa, Aurora, gênio forte e destemida fugia de casa para brincar na rua, encontrava inúmeras estratégias para pular o muro de sua casa e voltar antes do seu pai chegar do trabalho. Claro que tinham consequências, como ficar de castigo e ser punida de diversas formas. Ocorreu outro episódio em que Aurora pulou o muro com sua bicicleta, o muro era bastante alto. Quando chegou em casa sua mãe estava com muita raiva, pois a mesma estava com medo do seu marido chegar e brigar com ela por sua filha ter saído, de longe Lisa, sua mãe jogou um objeto, jogou com tanta força que acertou na boca de sua filha, chegando a cortar e sair sangue, até hoje Aurora carrega a cicatriz nos lábios. Mas para ela valia a pena, sair para brincar na rua era a forma que Aurora sentia-se livre. Também são histórias que ela ama contar, era o que deixava Aurora com ar de coragem, independência e criatividade. Ela nasceu com essa ânsia e foi para o mundo assim. Infelizmente seus pais não sabiam lidar, 45 por falta de conhecimento com essa criança que queria apenas se expressar na sua mais pura essência. Osho diz: “A criança obediente é elogiada pelos pais, pelos professores, 23 por todo o mundo, e a criança brincalhona é condenada. Sua capacidade de brincar pode ser absolutamente inofensiva, mas ela é condenada porque existe um perigo de rebeldia em potencial”. O relacionamento com sua mãe não era nada fácil, por Aurora ser a única filha que não seguia as regras dentro de casa, não obedecia seus pais. Sua mãe por passar mais tempo dentro de casa tentava de todas as formas que Aurora fosse obediente e “igual" as outras filhas. Mas não mudava nada, e os castigos seguiram acontecendo a cada desobediência de Aurora. Não foi um processo fácil, mas hoje com sua maturidade e consciência que adquiriu em seu processo de autoconhecimento, Aurora acolhe essa mãe e entende que Lisa também foi criança e que tem todo um histórico de acontecimentos que a direcionaram a reagir assim na criação de suas filhas. Aurora passou por muitas fases para que sua personalidade fosse construída. Cada fase sua, carregava necessidades diferentes que a conduzirama desenvolver-se como pessoa. Muitas dessas fases foram permeadas por experiências de dor e sofrimento tornando Aurora emocionalmente instável, insegura e com medo. RAJNEESH, Osho. O Livro das Crianças. Rio de Janeiro: BestSeller, 2020.23 46 A OVELHA NEGRA DA FAMÍLIA Sua adolescência também não foi nada fácil, por Aurora ser a “diferente” da família era julgada, criticada e muitas vezes rejeitada pela minha maneira incorreta de ser. Minhas irmãs “certinhas e comportadas” na igreja e Aurora rebelde que só levava "problemas" para seus pais. Ela nunca se sentiu fazendo parte daquela dinâmica familiar, até hoje carrega esse sentimento. Conhecida por toda a família como "a ovelha negra”, por um bom período essa expressão fazia Aurora se sentir mal, inadequada, diferente, rejeitada e carregava uma carga gigantesca de culpa misturada a uma sensação de não pertencimento. Hoje, mais madura e mais desperta, começa a fazer as pazes com essa expressão, com esse “papel" que teve um propósito para que ele fosse vivenciado por ela, e até sente orgulho em falar “eu sou a ovelha negra da família”. Ela quebrou padrões e começou a equilibrar seu sistema familiar. Anos atrás, Aurora contava a sua minha história com uma postura de vítima, relatava os acontecimentos de sua infância culpando e julgando seus pais, suas irmãs e todos aqueles que não a defendiam quando ela era castigada e punida. Hoje, busca contar tudo isso com um posicionamento de auto responsável, trazendo para si a responsabilidade das causas e efeitos que permearam todo o seu desenvolvimento, buscando transcendê-los e direcionando-os para a construção de memórias mais positivas. Nas suas recordações da infância e adolescência tem dificuldade em resgatar memórias de acontecimentos felizes. Vamos entender essa dinâmica. Não significa que Aurora teve mais experimentas ruis do que boas, mas sim a forma como ela significou as experiência. Por ela ter memórias tão forte em sua mente, passou a nutri-las constantemente em sua mente condiciona se acostumou a esses estímulos dificultando assim o acesso as memórias boas e felizes de sua infância e adolescência. Existia uma identidade de vitima que interpretava os acontecimentos de maneira distorcida. Os fatos existiram, claro, mas Aurora só conseguiu interpretar que sua mãe não a amava, devido toda a punição que recebia. Em seu banco de dados tinham mais registros desses acontecimentos e supervalorizavam eles. 47 Aurora se perguntava do porquê sua mãe não gostava dela e olha que interessante, depois de muitos anos sua irmã mais nova, Laura levantou esse mesmo questionamento, relatando que também sentia que vossa mãe não gostava dela e que de alguma maneira se sentia rejeitada. Hoje, tudo isso se encaixa perfeitamente na cabeça de Aurora, ela hoje tem mais respostas que a direcionam ao entendimento de que não era sobre Aurora, mas sim sobre sua mãe. E também sobre as imagens que ela e suas irmãs criaram e os significados que atribuíram a partir das experiências que experimentaram. Hoje adulta, ela compreende que eram interpretações suas, baseado nas imagens que ela criou e como consequência sua mãe por muitos anos continuava desempenhando os mesmos papéis e Aurora, com as mesmas identidades que via a mãe como uma pessoa ruim, maldosa e punitiva. Quando Aurora mudou a imagem que tinha de sua mãe, quando passou a olhá-la com amor, acolhendo também sua individualidade e honrando a sua história, automaticamente seu comportamento mudou com Aurora. Começou a se libertar desses julgamentos, dessas interpretações distorcidas através de um novo olhar. Parou de sustentar as imagens do passado da mãe, porque ela não é era seus comportamentos, ela é as experiências que experimentou. passou então a ter uma maior qualidade de relacionamento com sua mãe, permitindo-se a ficar de frente ao novo. 48 TRAIÇÕES, ONDE TUDO COMEÇOU As experiências que Aurora viveu a levaram desenvolver muitas feridas emocionais, já sabemos que ela desenvolveu a ferida do abandono e rejeição na sua infância, mas foi na fase adulta outro ferida decidiu aparecer. A ferida da Traição. Aurora desenvolvei essa ferida, pelas interpretações que ela teve de traição vinda do pai. Ela cresceu vivenciando indiretamente as traições de seu pai. Recorda de um fato que sua mãe contou em 2017 que seu pai levava Aurora para feira aos domingos e lá seu pai se encontrava com a amante. Quando Aurora contou para a mãe, Mário brigou com Aurora e como punição não a levou mais para a feira. Aurora sentiu-se traída pelo pai. Existia uma rivalidade vinda da mãe de Aurora, por Mário levar Aurora a feira, aos passeios e aos bares quando sai para beber com os amigos. Esse comportamento gerava em Lisa, ciúmes e inveja.Como consequência disso, Lisa e Aurora nunca foram aquele tipo de mãe que é também amiga da filha. Nunca conversaram sobre namoradinhos, menstruação, sexualidade, sobre o mundo feminino, não havia uma preparação para lidar com o mundo. Do contrário, era pontuando e destacando as partes ruins do mundo e das pessoas, como por exemplo: que as amigas de Aurora eram falsas, que os homens traem e que não prestam, usar roupas curtas e batom vermelho era coisa de mulher “vulgar”, ficar na rua até tarde e que se eu saia a noite e chegava tarde dizia que boa coisa Aurora não estava fazendo e etc. Seu pai sempre foi muito trabalhador, era o provedor da família e nunca deixou sua família passar por necessidades. Ele comprava sempre os brinquedos, bonecas e jogos que sua filhas pediam, tudo ele dava um jeito de comprar. Aurora guarda são lembranças com muito amor. Um fato inesperado acontece em Julho desse mesmo ano. Lisa, chega na casa de Aurora e conta um grande segredo familiar. Mário tinha um filho fora do casamento de 29 anos. Aurora descobre que tem um irmão. Aconteceu quando Lisa estava grávida da Laura a irmã mais nova e a amante de Mário grávida de um filho homem. Ao escutar esse segredo, Aurora 49 chorei muito, uma mistura de emoções e pensamentos, porque ela sempre quis ter um irmão, achava um máximo algumas amigas suas terem. Mas nunca imaginou que seria nessas condições. A partir dessa revelação sua mãe decidiu contar todas as traições de Mário, foi um baque para ela e suas irmãs. Aurora enxergava seu pai como um herói, como o pai e marido exemplar, e descobrir que ele tinha uma identidade de traidor foi decepcionante para todos. Isso fez com que Aurora perdesse toda a admiração que tinha pelo pai mudando totalmente seu comportamento com ele, passou a rejeitá-lo, evitando contato e punindo-o com sua ausência. A cada traição do passado que meu pai cometeu até ano passado, minha mãe contava para ela e suas irmãs. Todas essa revelações não foram saudáveis para ninguém, passando a interferir em seus relacionamentos amorosos de Aurora. Apesar de que, de forma inconsciente e energética já interferia, esse padrão já existia, por isso Aurora sempre atrai para a sua vida homens que representavam essa mesma identidade, cumpriam o mesmo papel de seu pai. Obter o conhecimento disso foi libertador, confesso que não foi fácil trabalhar e lidar na prática mas foi o caminho para transformar, construir e viver relacionamentos saudáveis e funcionais. 50 CASAMENTO E TRAUMAS Das quatros filhas Aurora foi a única que teve a coragem de sair para o mundo. Foi a única a trabalhar e morar fora e a conhecer aquele mundo que seus pais falavam tanto que era mal. Ela tinha sede de liberdade! Começou a conhecer o que para seus pais era proibido. Foi nesse período que conheceu Renato, seu ex-marido. Essa foi a fase mais desafiadora de sua vida, mas também a que mais ensinou Aurora. Aurora foi para o mundo em busca de liberdade, segurança e prazer, encontrou alguém que estava em busca do prazer, e um passou a alimentar um necessidade do outro. Quando a mente
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