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Geovana Sanches, TXXIV DIAGNÓSTICOS DE NORMALIDADE A pediatria é o ramo da medicina responsável por tratar da saúde e prestar cuidados médicos para crianças de todas a idades. A palavra significa é derivada do grego pais (criança) e iatros (doutor ou curandeiro), podendo ser definida como “curandeiro das crianças” A puericultura, por sua vez, é a ciência que reúna todas as noções (fisiologia, higiene, sociologia) suscetíveis de favorecer o desenvolvimento físico e psíquico das crianças, desde o período da gestação até a puberdade. Dentro desse contexto, são avaliados os diagnósticos de normalidade, tais quais: • Crescimento estatural • Estado nutricional • Puberdade • Desenvolvimento neuropsicomotor • Alimentação • Vacinação • Ambiente A fim de não esquecermos de nenhuma dessas importantes áreas, podemos utilizar o método mnemônico “CEVADA Pura”. CRESCIMENTO ESTATURAL O crescimento estatural é dependente do ambiente, da genética e dos hormônios, sendo que, de acordo com a idade, alguns desses fatores predominam sobre outros. Durante o período intra-útero, a genética é predominante, de forma que a saúde materna e as alterações placentárias alteram o crescimento do feto. Seguindo para o período pós-natal, temos a nutrição como importante fator de crescimento, de forma que é essencial estimular o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e complementar até os 2 anos de idade. Outros fatores associados são a genética e os hormônios, especialmente o eixo tireoidiano e adrenal. Caso a criança não esteja crescendo nesse período, é muito importante descartar a presença de doenças crônicas. Com a evolução da idade, a partir do período pré-púbere, o fator hormonal passa a predominar, com enfoque no eixo GH-IGF1. Na púbere, os hormônios ainda predominam, porém agora temos o eixo gonadal como principal. Apesar dessa predominância, os demais fatores – ambiental e genético – sempre estarão presentes. Diferença entre os sexos Os meninos crescem cerca de 13 cm a mais do que as meninas, o que se dá basicamente por dois motivos: 1. Meninos tem maior velocidade de crescimento no estirão o Meninas: 8 a 9 cm/ano o Meninos: 9 a 10 cm/ano 2. Meninos tem maior tempo de crescimento pré-puberal (início da puberdade com atraso fisiológico de aproximadamente 2 anos) Alvo genético O alvo genético é calculado através da estatura da mãe e do pai. O canal familiar, por sua vez, é calculado através da soma ou subtração de 8,5 cm para ambos os sexos – trata-se da variação da normalidade, que será definido pelos demais fatores (hormonais e ambientais). Esse alvo tem maior importância para crianças maiores de 2 anos. !"#$#%&$ $()* = [(!.$/ + !1ã3) ± 67]9 Geovana Sanches, TXXIV :;<;= >;?@=@;A = BC ± 8,5 G? Durante o cálculo da estatura alvo, utilizaremos a soma de 13 para os meninos e a subtração de 13 para as meninas, o que é explicado pela diferença do crescimento entre os sexos já mencionada. Mensuração da estatura A mensuração da estatura em crianças menores de 2 anos deve ser feita com o uso de régua, estando a criança deitada e reta com as costas apoiadas. A parte fixa da régua deve ficar na cabeça, enquanto a parte móvel será locomovida até os pés. Já para as crianças maiores de 2 anos, devemos usar o estadiômetro com a criança em pé, reta, com as costas apoiadas e pés unidos. Considerando que sempre devemos seguir o procedimento do menos para o mais incômodo e tendo em vista que a mensuração da estatura descontenta os bebês, ela deve ser realizada ao final do exame. Análise dos dados A partir da mensuração da estatura, os valores encontrados devem ser incluídos nos gráficos de estatura x idade da OMS, os quais são diferentes para ambos os sexos. Interpretação • < - 2DP (P3): baixa estatura • Entre – 2 DP (P3) e + 2DP (P97): estatura adequada • > +2 DP (P97): alta estatura Para melhor análise da estatura, sempre devemos marcar no gráfico qual a estatura alvo da criança, de forma que seguiremos o percentil encontrado como base. Velocidade de crescimento A velocidade de crescimento sempre deve ser verificada com um intervalo mínimo de 6 meses, sendo a taxa anual comparada com a normalidade. Considera-se normal a criança que segue uma curva e ascende na estatura. Situações como estabilização e, especialmente, curva descendente, são sinais de alerta, sendo necessária a avaliação, por exemplo, de doenças e déficit nutricional. Velocidade de crescimento normal • Fetal o 1º ao 3º mês: 1,5 cm/semana o 2º ao 6º mês: 5 cm/semana o 7º ao 9º mês: 0,5 cm/semana • 1º ano o 25 cm/ano § 1º ao 6º mês: 2,5 cm/mês § 7º ao 12º mês: 1,5 cm/mês • 2º ano o 12,5 cm/ano • 3º e 4º ano o 7,5 cm/ano • 4º ano – puberdade o 5 a 6 cm/ano • Puberdade (2 – 3 anos) o Meninas: 8 a 9 cm/ano o Meninos: 10 a 11 cm/ano • Fim da puberdade (por cerca de 3 anos) o 1 a 1,5 cm/ano Avaliar proporção - Envergadura • Recém-nascido: Env < E (2,5 cm) • ♀ 10a e ♂ 12a: Env > E o Diferença média de + ou - 5 cm entre a envergadura e a estatura Geovana Sanches, TXXIV - Relação SS/SI (segmento superior sobre segmento inferior) • RN: 1,7 • 3a: 1,33 • 5a: 1,17 • 10a: 1,0 • > 10a: < 1 (relação de coluna para braços e pernas mais proporcional) o Em adolescentes, as vezes a relação SS/SI é menor do que 1, pois primeiro crescem os membros e depois a coluna vertebral. Altura x comprimento Apesar de altura e comprimento serem ambas medidas da estatura, seus conceitos são diferentes. Chamamos de altura a medida encontrada com a criança em pé, utilizando o estadiômetro. O comprimento, por sua vez, é aquele obtido com a criança deitada, através da régua. A altura e o comprimento possuem uma diferença média de 0,8cm. ESTADO NUTRICIONAL Mensuração do peso A mensuração do peso em menores de 2 anos (ou abaixo de 16kg) deve ser feita através da balança de mesa, com a criança deitada ou sentada. Por outro lado, para crianças maiores de 2 anos (ou acima de 16kg) devemos utilizar balança de chão ou plataforma, com a criança em pé, com as mãos na barriga ou ao lado do corpo. Nos casos em que a criança está impossibilitada de ser pesada sozinha, devemos pesar o responsável com a criança em seu colo e apenas o responsável posteriormente, subtraindo os valores para determinar o peso da criança solo. Ganho ponderal normal • Fetal o 1ª – 17ª s: 10g/semana o 17ª – 27º s: 85g/semana o 28ª – 37ª s: 200g/semana o > 37ª s: 70g/semana • Recém-nascido o Normal: 2500g a 4000g o Macrossomia: > 4000 g o Baixo peso (BP): < 2500g o Muito baixo peso (MBP): < 1500g o Extremo baixo peso (EBP): < 1000g • 1º ano o 1º ao 3º m: 700g/mês § 25 a 30 g/dia o 2º ao 6º mês: 600g/mês § 20 g/dia o 7º ao 9º mês: 500g/mês § 15g/dia o 10º ao 12º mês: 400g/mês § 12g/dia • 2º ano até puberdade o 2 Kg/ano o Peso estimado: idade (anos) x 2 + 8 A partir disso, temos que o peso duplica em até 5 meses de vida e triplica com até 1 ano de idade. Importante Nos primeiros dias de vida, a criança perda até 10% do seu peso de nascimento (PN), o qual é recuperado em 10 a 14 dias para os AIG/Termo. Para as crianças PIG/Pré-termo, pode ocorrer uma perda maior do que 10% do peso de nascimento, com recuperação em até 14 dias de vida e catch-up até os 2 anos. Assim como fazemos com a estatura, após aquisição do peso da criança, os dados devem ser inseridos no gráfico de peso x idade da OMS, principalmente para crianças abaixo de 2 anos. • < -3DP (P0,1): Muito baixo peso • - 3DP a -2DP: baixo peso Geovana Sanches, TXXIV • - 2DP a +2DP: peso adequado • > + 2 (DP97): peso elevado Após os 2 anos de idade, utilizamos principalmente o gráfico de índice de massa corpórea (IMC) x idade, também proveniente da OMS. • < -3DP (P0,1): Magreza acentuada • -3DP (P0,1) a -2DP (P3): Magreza •- 2DP (P3) a +1DP (P85): Eutrofia • + 1 DP (P85) a +2DP (P97) o Risco de sobrepeso (< 5 anos) o Sobrepeso (> 5 anos) • + 2DP (P97) a +3DP (P99,9) o Sobrepeso (< 5 anos) o Obesidade (> 5 anos) • > +3DP (P99,9) o Obesidade (< 5 anos) o Obesidade grave (> 5 anos) Para crianças menores de 5 anos de idade, somos menos rigorosos pelo risco de inserir uma dieta nesse período. PERÍMETRO CEFÁLICO A mensuração do perímetro cefálico é obrigatória para crianças menores de 2 anos de idade e deve ser obtida através da maior circunferência fronto-occipital. Acima dessa idade, recomenda-se mensurar na primeira consulta para avaliar casos de macro ou microcefalia. Valores normais de PC • Recém-nascido: aproximadamente 35cm • 1º ano: 12 cm/ano o 1º ao 3º mês: 2cm/mês o 4º ao 6º mês: 1cm/mês o 7º ao 12º mês: 0,5cm/mês • 4º ano: completa-se a medida do PC Assim como nas mensurações anteriores, a medida encontrada deve ser colocada no gráfico perímetro cefálico x idade da OMS. • < -2 DP: microcefalia • - 2DP a +2DP: normal • > 2 DP: macrocefalia PUBERDADE A puberdade é a fase de transição entre a imaturidade sexual e o estágio potencialmente fértil. Nesse período, ocorrem algumas mudanças, tais quais: (1) aparecimento de características sexuais secundárias; (2) estirão do crescimento; (3) maturação esquelética; (4) alterações psicossociais. O primeiro sinal puberal é o aparecimento do broto mamário nas meninas – entre os 8 e 13 anos, e o aumento testicular nos meninos (volume > 4cm3 e diâmetro > 2,5cm) – entre os 9 e os 14 anos. Estadiamento de Marshall e Tanner O estadiamento de Tanner consiste na avaliação do estadio de maturação das mamas, testículos / pênis e dos pelos pubianos. Essa análise deve ser feita inclusive em bebês, para avaliar possíveis alterações. Meninas • M1: ausência de broto mamário • M2: broto mamário < aréola o Início do estirão • M3: broto mamário > aréola o Pico do estirão • M4: duplo contorno o Menarca • M5: mama adulta Geovana Sanches, TXXIV Meninos • G1: testículos < 4 cm3 ou diâmetro < 2,5 cm • G2: testículos entre 4 e 8 cm3 ou diâmetro entre 2,5 e 3,3 cm • G3: testículos entre 9 e 12 cm3 ou diâmetro entre 3,4 e 4 cm, acompanhado de aumento do comprimento peniano o Início do estirão • G4: aumento do diâmetro peniano e diferenciação da glande; testículos com 15 a 20 cm3 ou diâmetro de 4,1 a 4,5 cm o Pico do estirão o Espermarca • G4: pênis adulto; testículos > 20 cm3 ou diâmetro > 4,5 cm Pelos • P1: ausência de pelos ou lanugem (pelo fino, claro e liso) • P2: pelo escuro, grosso e encaracolado em grandes lábios ou na base do pênis • P3: pelo escuro, grosso e encaracolado em púbis • P4: pelo escuro, grosso e encaracolado ultrapassa a sínfise púbica • P5: pelo escuro, grosso e encaracolado nas raízes das coxas • P6: pelo escuro, grosso e encaracolado na linha alba Puberdade precoce Em meninas, a maior parte dos casos de puberdade precoce é idiopática. Já nos meninos, 50% dos casos são idiopáticos, enquanto os outros 50% são ocasionados por tumores de SNC – especialmente amartoma (tecido produtor de GnRh). É importante lembrar, ainda, da Síndrome de McCune-Albright, a qual cursa com puberdade precoce central, mas apresenta outros sinais e sintomas, tais como alterações esqueléticas e manchas café com leite espalhadas pelo corpo. DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR O desenvolvimento neuropsicomotor diz respeito a capacidade de realizar funções progressivamente mais complexas. Inclui a maturação neurológica, cognitiva, comportamental, social e afetiva. Esse desenvolvimento, com transição de funções reflexas para voluntárias, ocorre de acordo com o processo de mielinização, o qual se dá em sentido céfalo-caudal, fronto-occipital, centro-periferia (próximo-distal) e ulna-rádio (mediano-lateral). Até os 4 anos de idade, há 90% do desenvolvimento, sendo os demais 10% até a adolescência. A observação sempre deve iniciar com a criança no colo da mão. Posteriormente, devemos ficar na mesma altura da criança, conversando e a distraindo (com brinquedos, estetoscópio...) sempre que possível. Setores do desenvolvimento neuropsicomotor Esses quatro setores devem ser avaliados tanto em bebês, quanto em crianças maiores. Devemos analisá-la desde o momento em que ela entra no consultório, verificando o modo de andar, a socialização, interação com o médico, Geovana Sanches, TXXIV entre outras coisas. Todo o observado nos quatro eixos deve ser descrito em prontuário. Teste de Denver II O teste de Denver II tem como objetivo avaliar os quatro setores do DNPM de acordo com a idade da criança. Ele pode ser realizado desde o recém- nascido até os 6 anos de idade, mas apresenta maior sensibilidade até os 2 anos. Após esse período e especialmente depois dos 6 anos, devemos continuar avaliando os 4 setores do desenvolvimento neuropsicomotor, como através de: • Motor grosso: avaliar se a marcha da criança é adequada, quando ela está vindo em direção ao consultório; • Motor fino: podemos solicitar que a criança escreva algo ou desenhe, avaliando suas habilidades motoras • Psicossocial: avaliada através da interação que a criança tem com a equipe médica • Linguagem: avaliada durante a consulta, conversando com a criança. Um ponto importante é que, para crianças prematuras, devemos utilizar a idade corrigida até os 2 anos. ALIMENTAÇÃO Para avaliarmos a alimentação das crianças, é sempre interessante fazer um recordatório alimentar de 24h, incluindo o horário, o tipo de alimento e a quantidade ingeridos. Proporções adequadas • 50% vegetais • 25% cereais e tubérculos • 12,5% leguminosas • 12,5% carnes e ovos Para auxiliar na compreensão da criança sobre como o prato deve ser montado, podemos utilizar o parâmetro das mãos: • “Mão fechada”: arroz e feijão • “Palma da mão”: carne e frango • “Mão aberta”: peixe o Recomenda-se a ingestão de peixe ao menos 1x/semana • “Ponta do dedo”: gorduras, como óleo e manteiga • “Duas mãos abertas”: verduras e legumes VACINAÇÃO As vacinações sempre são feitas de acordo com o Programa Nacional de Imunização (PNI). Na prática, ao visualizarmos a carteira de vacinação da criança, os campos preenchidos com carimbo ou caneta se referem as vacinas já aplicadas. Por outro lado, as áreas preenchidas com lápis se referem as vacinas não aplicadas. Caso haja atraso no calendário, questionar aos pais o motivo pelo qual não ocorreu a aplicação. Ao nascer • Bebê o BCG o Hepatite B 2 meses • 5 Rotas VIP para o Pulmão o Pentavalente o VIP (poliomielite) o Pneumocócica 10 o VRH (rotavírus) 3 meses • 3 ao contrário = M o Meningo C 4 meses • 2 + 2= 4 o Segunda dose das vacinas aplicadas no 2º mês de vida o Pentavalente o VIP (poliomielite) o Pneumocócica 10 o VRH (rotavírus) Geovana Sanches, TXXIV 5 meses • 2 + 3= 5 o Segunda dose da vacina aplicada no 3º mês de vida o Meningo C 6 meses • 5 + 1= 6 o Pentavalente o VIP o Sarampo (dose 0) 9 meses • Setembro amarelo o Febre amarela 12 meses • TPM o Tríplice viral (SCR) o Pneumocócica 10 o Meningo C 15 meses • As 4 Vós DeTurPadas o Hepatite A o SCRV o VOP o DTP 4 anos • “FaVa de Vó” o Febre amarela o Varicela o VOP o DTP Dos 6 meses aos 6 anos • Influenza o A primeira dose tomada deve ser fracionada, de forma que a criança tomará duas doses Dos 9 aos 14 anos (♀), 11 aos 14 anos (♂) • HPV (dose 1) • HPV (dose 2) Dos 11 aos 12 anos • ACWY (meningite) Adolescência Durante a adolescência, temos três vacinas obrigatórias e três vacinas que dependem do calendário vacinal prévio: • Obrigatórias= HPV, ACWY e DT (dupla adulto) • Dependentes do calendário vacinal= tríplice viral (SCR), hepatite B e febre amarela AMBIENTE O ambiente deve ser seguro e acolhedor parao correto desenvolvimento da criança. Devem ser avaliados: • Local da habitação • Moradores • Número de cômodos • Condições sanitárias • Tabagismo na família • Animais de estimação • Atividade física e escolar o Mínimo: 150 minutos/semana ou 30 min/dia o Não há restrição de esporte, sendo interessante que a criança faça algo que goste (futebol, natação, caminhada, corrida etc.) • Tempo de tela recreativo o < 2 anos: nenhum o > 2 anos (incluindo adolescentes): até 2h/dia
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