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DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS INTRODUÇÃO Quando o bebê deixa o útero materno, iniciam-se os movimentos respiratórios, de forma que oxigênio inspirado entra nos alvéolos. Quando isso ocorre, o líquido que antes o ocupava é expulso, levando a redução da pressão pulmonar e, consequentemente, a resistência. Assim, há aumento do fluxo aos pulmões e fechamento do forame oval. Quando esse processo fisiológico não ocorre, o bebê apresenta um quadro de desconforto respiratório. Diante disso, devemos pensar nos distúrbios respiratórios do recém- nascido, tais quais: • Doença da membrana hialina • Taquipneia transitória do recém-nascido • Síndrome de aspiração meconial • Hérnia diafragmática • Broncodisplasia Sinais de desconforto respiratório • Batimento de asa de nariz • Gemido expiratório • Tiragem intercostal • Retração esternal (xifoide) • Sincronização Boletim de Silverman Andersen O boletim de Silverman Andersen avalia os sinais de desconforto respiratório, dando ao bebê uma pontuação que indicará a conduta – quando pior a pontuação, mais desconfortável ele se encontra. Conduta • 0 a 5 pontos à oxigênio o Obs.: Cianose que melhora com oxigênio provavelmente é de origem respiratória. Caso não melhore, devemos estar diante de uma alteração cardiológica • 6 ou 7 pontos à CPAP • > 7 pontos à indica-se IOT (intubação orotraqueal), pois caso contrário, o bebê pode entrar em insuficiência respiratória FATORES ASSOCIADOS AOS DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS 1. História materna a. Diabetes mellius gestacional (DMG) b. Trabalho de parto prematuro (TPP) 2. Clínica e idade gestacional do bebê 3. Exames a. Hemograma b. Raio-X DOENÇA DE MEMBRANA HIALINA A doença de membrana hialina, atualmente denominada síndrome da angústia respiratória do recém-nascido (SARN) ocorre devido a deficiência de surfactante, substância que reduz a tensão superficial dos alvéolos. Com a ausência/deficiência desse líquido, além do aumento da tensão superficial, ocorre diminuição da distensibilidade dos alvéolos, culminando com difuso colapso e atelectasia alveolares. Desenvolvimento normal do pulmão do bebê O desenvolvimento dos alvéolos (estrutura responsável pela troca de oxigênio), em geral, tem início por volta das 24/25 semanas de gestação. Geovana Sanches, TXXIV Dessa forma, prematuros nascidos antes da 24ª semana de gestação tem alta probabilidade de vir a óbito, pois não possui a função pulmonar de troca gasosa. Fisiopatologia • O surfactante é sintetizado a partir da 20ª semana gestacional • A produção atinge a quantidade suficiente por volta das 34 ou 35 semanas o RNs nascidos com mais de 34 semanas de idade gestacional tem menor probabilidade de cursarem com essa doença • O diabetes materno prejudica a quantidade e a qualidade do surfactante o Mãe diabética à hiperglicemia à inibição da produção de cortisol à deficiência / insuficiência de surfactante • O uso de corticoide antenatal protege o surfactante pulmonar o Condições que cursam com aumento do cortisol reduzem a probabilidade de doença de membrana hialina Fatores de risco • Idade gestacional < 35 semanas • Diabetes materno, asfixia perinatal, sangramento materno • Recém-nascidos pré-termo e AIG o Bebês PIG apresentam sofrimento no ambiente uterino, o que promove secreção elevada de cortisol à menor probabilidade de desenvolver doença da membrana hialina, mas pode ter outras alterações • Mae que não recebeu tratamento adequado com corticoide • Produção insuficiente de surfactante Quadro clínico Os sinais e sintomas da doença da membrana hialina tem início logo após o nascimento, piorando progressivamente nas 36 a 48 horas subsequentes – relacionado com o consumo do pouco surfactante que obebê apresentava. Baseiam-se nos sinais de desconforto respiratório, tais quais o gemido expiratório, batimento de asa de nariz, taquipneia, retração da caixa torácica e xcanose. Exames complementares Raio-X • Infiltrado reticulogranular (vidro moído) • Bilateral, uniforme e com broncograma aéreo Hemograma O hemograma é normal, pois não se trata de um processo infeccioso, mas sim alteração no desenvolvimento estrutural. Tratamento • Suporte hemodinâmico • Assistência respiratória o Oxigênio o CPAP o Ventilação mecânica (VMP) • Terapia com surfactante exógeno o Survanta: proveniente da vaca o Curosurf: proveniente do porco o Exosurf: não está mais disponível em são Paulo. Geovana Sanches, TXXIV Modo de administração do surfactante • Minimamente invasivo o Menos danos ao recém-nascido § Necessário profissional treinado, pois é uma técnica mais rebuscada o Realizado quando o bebê está no CPAP o Passa-se sonda no estômago para descomprimi-lo e um cateter na traqueia do bebê, a partir do qual conecta-se o surfactante, infundindo-o diretamente nos pulmões • Insure o Técnica invasiva, muito agressiva o Realizado em bebês intubados o Administração do surfactante diretamente na cânula TAQUIPNEIA TRANSITÓRIA DO RECÉM-NASCIDO Durante a vida fetal, os pulmões são expandidos pela presença de fluido. Durante e após o nascimento, esse líquido deve ser removido e trocado por ar. Um dos fatores que auxilia essa troca é a passagem pelo canal de parto, sendo o restante removido posteriormente pelos capilares e vasos linfáticos pulmonares. A taquipneia transitória do recém-nascido (TTRN) é caracterizada pela retenção desse fluido pulmonar fetal, de forma que também é denominada doença do pulmão úmido. Trata-se de um quadro autolimitado e de evolução benigna, mas alguns pacientes têm necessidade de altos parâmetros respiratórios. Epidemiologia: maior incidência • Recém-nascidos prematuros limítrofes • Recém-nascidos a termo nascido de parto cesárea eletiva o Distúrbio respiratório mais frequente em hospitais particulares devido a essa condição • Sexo masculino Fatores predisponentes • Cesárea eletiva • Sedação materna • RN de mãe diabética • Trabalho de parto prolongado • RN GIG • Apgar < 7 História materna • RNT ou RNPT > 34 semanas • Parto cesárea, principalmente se for sem que o trabalho de parto tenha se iniciado • Pode acontecer no parto normal, mas é extremamente raro • Demora no clampeamento do cordão • Asfixia perinatal Quadro clínico A taquipneia transitória do recém-nascido tem início precoce, nas primeiras horas após o nascimento. Ela evolui com melhora progressiva e se resolve com aproximadamente 72h. Os sintomas são significativamente menos graves quando comparados com a doença da membrana hialina (DMH). • Taquipneia, com FR entre 80 e 100 bpm o FR normal do RN: 40 a 60 bpm • Sinais de desconforto respiratório o Retração intercostal o Batimento de asas do nariz o Gemido o Cianose que melhora facilmente com o aumento da concentração de oxigênio • Ausculta normal ou com estertores subcreptantes finos • Melhora bem com oxigênio Exames complementares Raio-X • Costelas retificadas • Congestão para-hilar simétrica o Aumento da trama vasobrônquica • Espessamento das cisuras interlobares (cisurite) • Hiperinsuflação • Ocasionalmente, pode ocorrer discreta cardiomegalia ou derrame pleural Hemograma • Sem alterações Geovana Sanches, TXXIV Tratamento • Suporte respiratório, de acordo com o boletim de Silverman Andersen o 0 a 5 pontos à oxigênio § Geralmente é suficiente o 6 e 7 pontos à CPAP o > 7 contos à IOT SÍNDROME DA ASPIRAÇÃO MECONIAL O mecônio se refere a primeira evacuação do recém-nascido. A síndrome da aspiração meconial, por sua vez, se refere a condições em que o bebê aspira esse mecônio; ela pode ser observada em RN a termo, pós-termo ou com RCIU – não é uma condição habitual em prematuros. Está presente em 2 a 3% dos nascimentos. Fatores de risco • Asfixia • Mães que usam drogas • Hipertensas • Pneumopatiase cardiopatias • Gestação prolongada • Partos laboriosos (complicados) • Apresentação pélvica • Bradicardia fetal • Mecônio espesso História materna • IG > 37 semanas ou pós maturos o 3x mais frequente em RN pós- termo e RN GIG • Todas as causas de insuficiência placentária aguda ou crônica • Presença de líquido amniótico meconial o Observado como um LA amarelado Fisiopatologia Quando o mecônio é fino, há obstrução dos bronquíolos. Já quando é espesso, causa obstrução mecânica (mecanismo valvular). Mecanismo de válvula: na expiração, o ar permanece aprisionado devido ao colapso das vias aéreas em torno da obstrução. esse ar aprisionado pode alcançar o interstício, levando ao enfisema intersticial e pneumotórax – necessário ventilação mecânica. Associado a essa obstrução, a presença do mecônio nos alvéolos leva a uma inibição do surfactante pulmonar, agravando ainda mais o prolapso alveolar – necessário reposição de surfactante. Complicação: hipertensão pulmonar Quadro clínico Caracteriza-se por hipoxemia, hipercapnia, acidose respiratória ou metabólica. • Impregnação de mecônico • Presença de mecônio na traqueia • Sinais e sintomas variáveis, desde assintomático até desconforto severo • A cianose e a Hipoxemia resistentes são indicadores de extrema gravidade • Quando não há complicações, evoui com melhor em 5 a 7 dias Exames complementares Raio-X de tórax • Hiperinsuflação pulmonar o Sem aeração • Infiltrados nodulares grosseiros, podendo ser mais evidente a direita • Pode ocorrer derrame pleural, pneumo- mediastino e pneumotórax (20 a 50%) Gasometria • Redução nos níveis de O2 • Aumento nos níveis de CO2 Hemogramas seriados • Inicialmente normal, mas o bebê pode evoluir com infecção Tratamento • Reanimação certa • Suporte respiratório o IOT imediata • Aspiração do mecônio Geovana Sanches, TXXIV • Antibioticoterapia o Penicilina contra Streptococcus o Aminoglicosídeo para E. coli • Surfactante exógeno o 100 a 150 mg/kg/dose • Tratamento semelhante à pneumonia HÉRNIA DIAGRAGMÁTICA CONGÊNITA Características • Abdome escavado o Diafragma rudimentar o Alças intestinais e estômago se encontram no tórax do bebê • Ruídos hidroaéreos diminuídos no tórax onde há a hérnia o Em geral, ocorre a esquerda, pois do lado direito há o fígado impedindo a passagem do conteúdo abdominal • Desvio do ictus cardíaco • Grave insuficiência respiratória • Polidrâmnio importante • Hipoplasia pulmonar à pode levar ao óbito Raio-X Tratamento • Balão intratraqueal o Realizado intra-útero o Passa-se um balão na traqueia do bebê para gerar insuflação à aumento do tamanho do pulmão à importante para sobrevida posterior o Retirado no 2º trimestre de gestação • Intubação em sala de parto • Óxido nítrico o Vasodilatador pulmonar o Utilizado quando não há queda da pressão pulmonar • Ventilação mecânica • Surfactante • Nutrição parenteral • Correção cirúrgica • Sildenafil o Inibidor da fosfodiesterase à atua na hipertensão pulmonar DISPLASIA BRONCOPULMONAR A displasia broncopulmonar é uma doença pulmonar crônica que acomete neonatos que permaneceram dependentes de oxigênio em concentrações acima de 21% por um período superior ou igual a 28 dias. Necessidade de oxigênio às 36 semanas de idade gestacional: prognóstico respiratório a longo prazo. Fatores de risco • Prematuridade • Oxigenoterapia • Barotrauma • Volutrauma • Infecção • Persistência do canal arterial • Inflamação e cicatrização • Fatores genéticos • Desnutrição • Deficiência de vitamina A Exames complementares Raio-X • Hiperinsuflação pulmonar com espessamento brônquico • Atelectasias • Traves opacas de fibrose • Cistos • Enfisema intersticial • Tronco da artéria pulmonar evidente • Aumento da área cardíaca Geovana Sanches, TXXIV Os pequenos pontos pretos no pulmão do bebê demonstram cistos (alvéolo fibrosado bilateralmente) Prevenção • Surfactante o De preferência administrado de forma minimamente invasiva • Pré-natal adequado • Corticoide o Nos casos de bebês prematuros • Ventilação mecânica gentil • Cafeína o Para menores de 34 semanas, promove estímulo cerebral e diminuição da incidência de displasia pulmonar • Óxido nítrico • Restrição hídrica • Corrigir PCA • Vitamina A Método canguru O contato pele a pele com os pais faz com que o recém-nascido precise de um tempo menor de ventilação mecânica. Tratamento • Oxigênio o Target de saturação o Projeto COALA (controlando oxigênio alvo ativamente) § SpO2 alvo = 91 a 95% § Alarmes: 88 a 95% • Diurético • Corticoide • Nutrição (LM, NPP, AA) • Broncodilatadores • Vacina: palivizumabe o Proteção contra o vírus sincicial respiratório Exit fetal Abordagem realizada no feto durante o parto, antes do clampeamento do cordão umbilical e com seu corpo já exteriorizado do útero parcial ou totalmente. É realizado com o suporte de circulação placentária.
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