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ASMA NA INFÂNCIA DEFINIÇÃO A asma é uma doença heterogênea, caracterizada usualmente por inflamação crônica das vias aéreas. É caracterizada com a história de sintomas respiratórios como sibilância, respiração curta, opressão torácica e tosse que variam ao longo do tempo e em intensidade acompanhado de limitação variável ao fluxo aéreo expiratório. A limitação ao fluxo aéreo pode se tornar persistente, motivo pelo qual o diagnóstico e tratamento durante a infância são tão importantes. A partir dos 30 anos, a VEF1 cai 20mL ao ano. Assim, indivíduos que apresentam perda da função pulmonar desde a infância apresentam uma qualidade de vida interior na vida adulta e, especialmente, na velhice. DIAGNÓSTICO A asma é geralmente caracterizada pela inflamação e hiperresponsividade das vias aéreas, mas estes achados não são suficientes para fazer o diagnóstico. O diagnóstico é baseado numa boa anamnese, associado a evidência da limitação ao fluxo aéreo variável, com reversibilidade ao broncodilatador. A evidência do diagnóstico de asma deve ser documentada antes mesmo de iniciar o tratamento, tendo em vista que a confirmação após o início do mesmo é muito difícil. Sintomas • Sibilância • Respiração curta • Opressão torácica • Tosse Favorecem o diagnóstico de asma • Presença de vários destes sintomas • Piora à noite e no início da manhã • Variação dos sintomas com o tempo e em intensidade • Desencadeantes o Vírus o Exercícios o Exposição a alérgenos o Mudanças de tempo o Risadas o Irritantes (fumaça, tabaco e odores fortes) Não favorecem diagnóstico de asma • Tosse isolada sem outros sintomas respiratórios • Supuração crônica o Secreção crônica deve ser um alerta • Respiração curta associada a tontura, sensação de pré síncope e dor torácica • Dispneia induzida por exercício com respiração ruidosa o Estridor induzido por exercício físico Exame físico • Fora das crises, o exame físico é normal • Características crônicas, tais como crepitações crônicas e baqueteamento digital falam mais a favor de DPOC do que de asma Prova de função (espirometria) A prova de função pulmonar é um exame não invasivo que tem como objetivo documentar obstrução variável e limitação ao fluxo respiratório. Deve ser realizada idealmente antes do início do tratamento. Todavia, caso não seja possível realizá-lo prontamente, deve-se instituir o tratamento. A maioria das crianças apresenta função pulmonar normal. Quando há alterações, em geral se trata de uma asma mais séria, sendo importante a documentação do resultado para avaliação da progressão da doença. • Obstrução o VEF1/CVF baixo (geralmente > 0,80 em adultos e > 0,90 em crianças) o VEF1 baixo ou normal • Variabilidade o Resposta positiva a BD (10 a 15 minutos após 200 a 400 mcg de salbutamol) § Adultos: aumento de 200mL e 12% do basl Geovana Sanches, TXXIV § Crianças: > 12% do predito o Variação no peak flow ao longo de 2 semanas § ▲ diurno > 10% em adultos e 13% em crianças o Queda no VEF1, com exercício e bronco-provocação (sensível, pouco específico) o Variação no VEF1 entre consultas • VEF1 pode ser normal, mas melhorar significativamente após o broncodilatador o Muitas crianças, especialmente as maiores, apresentam função pulmonar normal em relação a população geral. Todavia, ao compararmos ele com ele mesmo, há melhor após o BD, indicando obstrução. • Quanto maior a variabilidade ao fluxo aéreo em pacientes com sintomas respiratórios, maior a probabilidade de asma • Crianças raramente apresentam remodelamento (obstrução fixa das vias aéreas) • ATENÇÃO: pacientes com asma grave podem ter função pulmonar normal Outros exames Alguns exames podem auxiliar, mas não confirmar o diagnóstico. IgE específico e testes cutâneos • Presença de atopia aumenta a probabilidade de asma alérgica em quem tem sintomas respiratórios, mas não é específica de asma • Nem todo asmático é atópico Possíveis exames auxiliares Outros exames podem ser solicitados para direcionar investifacao, se necessário, para excluir outros diagnósticos e comorbidades. • Raio-X de tórax • Imunoglobulinas • PPD (prova tuberculínica) Diagnóstico em lactentes e pré-escolares O diagnóstico em lactentes e pré-escolares pode ser muito difícil, sendo possível apenas com o seguimento / acompanhamento do paciente. É importante lembrar, também, que nem todos as crianças sibilantes dessas faixas serão futuros asmáticos. Atualmente, há aplicativos que coletam os dados da criança e nos indicam a probabilidade de que ela tenha asma. Probabilidade de diagnóstico de asma em crianças de 5 anos ou menos • Sibilância recorrente pode estar associada a infecções recorrentes • Características que indicam fortes candidatos a asma o Frequência dos sintomas o Episódios que duram mais de 10 dias o Presença de dermatite atópica DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Síndrome de tosse crônica de via aérea • Fibrose cística: geralmente, a triagem neonatal a identifica, mas nem sempre • Discinesia: termo com doença renal policística, situs inversos/ PICADAR SCORE • Tuberculose • Displasia broncopulmonar (DBP) • Cardiopatia • Corpo estranho • Bronquiectasias – imunodeficiência?? • Deficiência de alfa-1-antitripsina: raramente causa sintomas pulmonares na infância • Refluxo gastroesofágico: infrequente se assintomático • Disfunção de corda vocal • IVAS de repetição: muito frequente!!! • Doença parenquimatosa pulmonar • Outras causas de tosse: iECA, tosse de hábito (“psicogênica”) FENÓTIPOS DA ASMA Os fenótipos da asma não apresentam forte correlação com processos patológicos específicos, padrões clínicos ou resposta a tratamentos – casos leves, em geral, respondem da mesma forma. Todavia, pode guiar tratamentos em pacientes com asma grave. Geovana Sanches, TXXIV Asma alérgica • Maioria dos casos na infância, durante a qual tem início • Histórico pessoal ou familiar de doenças alérgicas • Escarro eosinofílico • Boa resposta a corticoides inalatórios Asma não alérgica • Escarro eosinofílico, neutrofílico ou paucigranulocítico • Má resposta a corticoides inalatórios Asma de início tardio • Mulheres adultas • Necessidade de altas doses ou tratamento refratário aos corticoides inalatórios o Difícil tratamento • Necessário descartar asma ocupacional Asma com limitação persistente ao fluxo aéreo • Doença de longa duração • Limitação persistente ou irreversível • Provável remodelamento Asma associada à obesidade • Tecido adiposo é pró-inflamatório, de forma que a obesidade tem papel no desenvolvimento, controle e gravidade da asma • Inflamação não eosinofílica ANÁLISE DO CONTROLE DOS SINTOMAS Asthma control test (ACT) Asthma symptom control – GINA FATORES DE RISCO PARA DESFECHOS DESFAVORÁVEIS A função pulmonar deve ser feita aos 0, 3 e 6 meses de tratamento e os fatores de risco para exacerbações (mesmo se sintomas controlados), avaliados periodicamente. Dentre esses fatores, estão: • Alto uso de broncodilatador: uso de mais de um frasco de salbutamol por mês, não uso de CIs, uso inadequado de CIs, técnica incorreta, má adesão • Comorbidades: obesidade, alergia alimentar, refluxo gastroesofágico, risossinusite crônica, gravidez • Exposições: tabaco, alérgenos ambientais • Problemas socioeconômicos • VEF1 < 60%, alta resposta a BD • Eofisofilia, FENO elevado (em adultos com asma alérgica não usando CI) Outros fatores de risco independentes para exacerbações • Já ter sido intubado ou estado em UTI por asma • Uma ou mais exacerbação grave no último ano o Valorizar crises asmáticas com necessidade de corticoide oral, pois essas são no mínimo moderadas Fatores de risco para obstrução fixa • Prematuridade, baixo peso ao nascer, excesso de ganho de peso na lactância, hipersecreção de muco• Não uso de corticoides inalatórios • Exposição a tabaco, subst6ancias químicas, exposição ocupacional • Baixo VEF1 inicial, eosinofilia sérica ou no escarro Fatores de risco para efeitos colaterais de medicações Sistêmicos • Uso frequente de corticoide oral • Uso prolongado de altas doses de corticoide inalatório • Corticoide inalatório potente • Uso de inibidores de citocromo P450 Locais • Má técnica inalatória, como não lavar a boca após aplicação • Corticoide inalatório potente ou em alta dose Comorbidades Obesidade • Perda de função pulmonar pela obesidade • Tecido adiposo como fonte de moléculas inflamatórias Geovana Sanches, TXXIV Rinite • Via aérea única Eczema • Perda de qualidade de vida • Piora do sono • Uso de corticoide (somatória de doses – inalatório para a asma e tópico para o eczema) DISPOSITIVOS PARA INALOTERAPIA NA INFÂNCIA Idade Dispositivo < 4 anos MDI/névoa suave com espaçador e máscara Múltiplas respirações, 6 – 10 4 a 5-6 anos MDI/névoa suave com espaçador e boca no bocal Múltiplas respirações, 6 – 10 6-7 anos MDI/névoa suave com espaçador e boca no bocal, inspiração lenta e profunda Pausa inspiratória de 10 segundos 7-8 anos MDI/névoa suave com espaçador e boca no bocal, inspiração lenta e profunda Inalador de pó seco, inspiração rápida e profunda Pausa inspiratória de 10 segundos TRATAMENTO O tratamento da asma visa controlar os sintomas e minimizar os riscos. É essencial estabelecer uma parceria médico-paciente e tratar a asma em um ciclo contínuo: (1) avaliar; (2) ajustar o tratamento (farmacológico e não farmacológico); (3) rever a resposta. É sempre importante instruir e reforçar as habilidades essenciais, tais como: • Técnicas de uso do inalador • Adesão ao tratamento • Autotratamento direcionado o Plano de ação por escrito para asma o Automonitoramento o Avaliação médica periódica Ciclo de tratamento de asma baseado no controle Nível de controle x Tratamento Intervenções não farmacológicas • Evitar tabaco • Evitar alérgenos • Evitar agentes ocupacionais • Manter peso ideal • Evitar medicações que pioram a asma • Higiene ambiental domiciliar • Leite: não há correlação alguma com a asma, sendo um problema apenas para pacientes alérgicos ou com intolerância Intervenções farmacológicas (GINA) Asma leve Bem controlada com passo 1 ou 2 Asma moderada Bem controlada com passo 3 ou 4 Asma grave Necessita passo 5 Crianças com 5 anos ou menos • Step 1: crianças sem sintomas • Step 2: pequena dose diária de corticoide inalatório Geovana Sanches, TXXIV • Step 3: dose dupla de pequena dose de corticoide inalatório • Step 4: continuar controle e encaminhar para o especialista Crianças entre 6 e 11 anos • Step 1: dose baixa de CIs • Step 2: dose baixa de corticoide inalatório diária • Step 3: dose baixa de CI-LABA OU dose média de CI OU dose muito baixa de CIs- formoterol • Step 4: dose média de CI-LABA OU dose baixa de CIs-formoterol • Step 5: encaminhar para o especialista visando identificação do fenótipo o Considerar dose alta de CI-LABA ou adicionar terapia o Possível adição de terapia anti-IgE Adolescentes (> 12 anos) e adultos • Step 1 e 2: dose baixa de ICS-formoterol quando necessário • Step 3: dose baixa de CIs-formoterol diária • Step 4: dose média de CIs-formoterol • Step 5: associar LAMA e encaminhar para o especialista visando identificação do fenótipo o Possível utilização de anti-IgE, anti- IL5/5R o Considerar dose alta de CIs- formoterol Observações gerais • O corticoide inalatório está indicado para diminuição da chance de crises e para preservação da função pulmonar • Crianças com asma leve não devem utilizar broncodilatador isoladamente, mas sim corticoide inalatório associado (budesonida + formoterol, por exemplo) • Abaixo dos 5 anos de idade, o GINA ainda não proíbe o uso de broncodilatador isolado nas crises. Acima disso, nunca utilizar BD isolado. • Entre os 6 e os 11 anos, o GINA não recomenda associação de budesonida e formoterol nos passos iniciais – será utilizado como manutenção e alívio apenas a partir do step 3 • Ainda entre os 6 e 11 anos, não é recomendada dobrar a dose de corticoide, pois isso aumenta a chance de complicações
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