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Modelo de Petição Inicial

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AO JUÍZO DA _ VARA ESPECIALIZADA DA FAMÍLIA DO TERMO 
JUDICIÁRIO DE SÃO LUÍS – COMARCA DA ILHA DE SÃO LUÍS- MA 
 
 
Anna Fitzgerald, brasileira, portadora do RG nº ……, CPF nº ……, residente e 
domiciliada em São Luís, Maranhão, CEP ……, representada por Kelly (tia biológica), inscrita 
no CPF nº……, RG nº……., por intermédio de seus advogados in fine assinados, através de 
instrumento procuratório, vem a este douto juízo, fundamentados no artigo 5º, XXXV da 
Constituição Federal dispor o seguinte: 
 
AÇÃO DE EMANCIPAÇÃO MÉDICA c/c DIREITOS DE DISPOR SOBRE O 
PRÓPRIO CORPO COM O PEDIDO DE SUSPENSÃO PARCIAL DOS DIREITOS 
FAMILIARES. 
Em descrédito de Sara e Brian Fitzgerald (pais biológicos), casados, profissão 
ignorada, inscritos nos RGs de nº ……, ……, CPFs nº ……, …… residentes e domiciliados 
em São Luís, Maranhão, na forma e para os efeitos que dispõe a Constituição Federal/88, o 
Código Civil, o Código de Processo Civil e a Lei 9.434/97, de acordo com as razões de fato e 
de direito abaixo introduzidas: 
GRATUIDADE DA JUSTIÇA 
Em razão da menoridade da requerente, ela não possui trabalho e nem renda e assim 
não tem condições de arcar com os gastos processuais, logo, o pagamento das custas do 
processo impediria seu próprio acesso à justiça, motivo no qual, conforme disciplina do art. 98 
do CPC/15 é causa justa e correta para a concessão do aludido benefício, In Verbis: 
 Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de 
recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios 
tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei. 
 
Pelo exposto, cabe salientar que conforme disposto no CPC/15, a comprovação de 
insuficiência feita por Pessoa Física é presumidamente verdadeira, conforme o artigo 99, §3º: 
 Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na 
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso. § 3º 
Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por 
pessoa natural. (Grifos nossos). 
Assim, litiga desde já pela concessão de benefício baseado no artigo 98 e os que 
seguem do Código de Processo Civil em vigência. 
 
DOS FATOS 
A autora Srta. Anna Fitzgerald é filha de Brian e Sara Fitzgerald e irmã menor de 
Kate que é uma paciente acometida com leucemia, um tipo de câncer que tem início nas células-
tronco da medula óssea. Fato é que Anna foi concebida para ser um bebê de proveta, ou seja, 
ser doador compatível de órgãos para sua irmã. Tal iniciativa do procedimento foi tomada como 
recurso extraordinário pois levanta uma série de questionamentos éticos, morais e jurídicos. 
Em suma, ao longo de sua vida, Anna teve de enfrentar alguns procedimentos 
cirúrgicos como a doação de sangue do seu cordão umbilical, um transplante de medula óssea 
apenas com 05 (cinco) anos de idade e por fim ao completar seus 11 (onze) anos, os pais exigem 
que a solicitante se submeta a um transplante de rim. Exausta de encarar essas intervenções que 
possuem certo grau de risco a sua integridade, a Autora requer o direito de decidir sobre as 
ações que afetam seu próprio corpo. 
Dentro dessa perspectiva, encontra-se um legítimo caso de redução da vida humana 
para a satisfação dos interesses pessoais dos pais da requerente, ao passo que ela se sinta apenas 
um ser instrumental, não planejada ou desejada por si mesma, mas apenas com a finalidade de 
prover órgãos para sua irmã. 
Diante dos fatos expostos, prezando pelo bem-estar e saúde da solicitante do 
processo com o intuito de torná-la autônoma no que tange às decisões clínicas sobre possíveis 
intervenções médicas em seu corpo, pede-se que seja acatado o presente pedido para no fim 
conceder a ação de direito ao corpo para tomar decisões médicas independentemente da decisão 
dos pais através de emancipação médica. 
 
DO DIREITO 
DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
O princípio da dignidade da pessoa humana constitui direito inerente ao indivíduo 
e à República Federativa do Brasil, ele integra um dos vitais fundamentos de um Estado 
Democrático de Direito. Este princípio é a garantia das necessidades vitais do ser humano, 
como um valor intrínseco a ele. Está disposto no artigo 1º, inciso III, da Carta Magna: 
 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de 
Direito e tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Outrossim, a dignidade da pessoa humana vai muito além de embasamento para o 
ordenamento jurídico, se relaciona também com aspectos filosóficos, éticos e morais. O 
filósofo Immanuel Kant na obra “Fundamentação da Metafísica dos Costumes” entendia a 
dignidade humana como um valor em que se realça tudo aquilo que não tem preço, é uma 
qualidade inerente ao ser humano como um ser moral, não é passível de substituição. 
Muitas noções conceituais apresentam o princípio da dignidade humana como o 
principal guia do direito, ou seja, este princípio enfatiza a visão do humano enquanto sujeito 
pleno e capaz de ter sua autodeterminação agraciada e protegida pelo ordenamento e pela vida 
em sociedade, como entende Corrêa (2013). 
Assim se faz oportuno a leitura do posicionamento do doutrinador Thiago Luís 
Santos Sombra, em seu livro “A eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas”, ele 
ensina: 
 “Somado aos atributos inerentes à fundamentalidade, o princípio da dignidade da 
pessoa humana reforça a posição ocupada pelas normas jus fundamentais no centro 
de gravitação do ordenamento jurídico. O sistema de direitos fundamentais do 
ordenamento jurídico brasileiro – e de grande parte dos Estados Sociais e 
Democráticos de Direito – retira seu fundamento de existência, validade e eficácia do 
princípio da dignidade da pessoa humana.” 
Logo, faz-se entender que a dignidade da requerente é usurpada a cada vez que tem 
que se submeter a tratamento médico invasivo e mais ainda, quando não consentido. Cabe 
salientar que o direito à vida, previsto no art. 5º da Lei Maior deve ser entendido à luz da 
dignidade humana, pois entende que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.”. Visto que é 
necessária para que a vida caminhe com garantias e condições sociais devidas de cada pessoa. 
Dessa forma, se existe a ausência desses direitos tão imprescindíveis na vida do 
indivíduo, deve-se garanti-los a ele. 
DA EXTINÇÃO PARCIAL DOS DIREITOS FAMILIARES 
A perda ou suspensão dos direitos parentais sobre o menor é a maneira mais 
drástica de destituição do poder familiar e se dá através de ato judicial iniciado pelo Ministério 
Público ou pelo interessado quando os pais ou a mãe ou o pai praticam atos avessos à moral e 
aos bons costumes e abusam de suas autoridades parentais. Toda e qualquer criança tem o 
direito de viver em harmonia com sua família e ter seus direitos protegidos e respeitados por 
eles. Infelizmente, nem sempre acontece desta forma. 
Em voga, os direitos da criança são especialmente salvaguardados pela Carta 
Magna em seu art. 227. Tem-se: 
 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiare comunitária, além de colocá-los a 
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade 
e opressão. 
Tais direitos também estão inseridos no Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA), Lei 8.069/90 criado especialmente para garantir e proteger os direitos de crianças e 
adolescentes. 
Ademais, em casos em que os pais abusam ou desviam do desígnio dos seus 
deveres frente aos filhos ou por consequência de seus atos violarem qualquer direito da criança, 
os pais podem ter a qualquer momento seus direitos parentais suspensos ou até mesmo extintos. 
Nestas situações, o Ministério Público ou outro interessado pode acionar o juiz que 
tomará as decisões que lhe pareçam mais cabíveis, como disposto no artigo 1.637 do Código 
Civil: 
 "Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles 
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, 
ou o Ministério Público, adotar à medida que lhe pareça reclamada pela segurança do 
menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha." 
Cabe salientar, que não é do interesse da autora se desvincular de sua família, o seu 
único desejo é que não seja mais obrigada pelo poder de seus pais a se submeter a tratamentos 
médicos que lhe causam dores e transtornos, sendo assim, o pedido é para que a extinção dos 
direitos parentais seja parcial, o juízo deve entender que a suspensão desses poderes é de suma 
importância para a requerente. 
Nesta seara, entende Paulo Lôbo (2011), “A suspensão pode ser total ou parcial, 
para a prática de determinados atos. Esse é o sentido da medida determinada pelo juiz, para a 
segurança do menor e de seus haveres.” 
Dessa forma, é evidente que os requeridos ultrapassaram os limites dos poderes 
paternais forçando a autora menor passar por diversos procedimentos sem ao menos ser 
questionada de sua vontade própria sobre os mesmos, assim, pugna-se pela procedência do que 
já foi exposto acima e pela emancipação médica da requerente como disposto a seguir. 
 
DA EMANCIPAÇÃO MÉDICA 
Atualmente dentro do ordenamento jurídico brasileiro várias doutrinas abordam a 
emancipação como a aquisição da capacidade de exercer plenamente os direitos da vida civil 
antes da maioridade legal, ou seja, é o adiantamento da possibilidade de desempenhar a 
capacidade de fato ou de exercício, tal medida pode ser adquirida através da concessão dos 
responsáveis legais ou por decisão de algum juizado, como determina os atos da lei. 
(GONÇALVES, 2016). 
O tipo de emancipação adotada pelo Código Civil é a emancipação civil que 
estabelece no artigo 5º parágrafo único da vigente legislação: 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento 
público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido 
o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; 
II - pelo casamento; 
III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de 
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha 
economia própria (BRASIL, 2002). 
A conjuntura jurídica do país via de carrega a sua atenção a emancipação 
estabelecida pelo Código Civil, entretanto, existem outros universos em que esse conceito pode 
ser utilizado, são eles: a emancipação feminina, a emancipação política e a considerada mais 
elementar para a construção deste pedido, a emancipação médica. 
Contextualizando, a emancipação médica possibilita ao menor ser responsável por 
agir de forma autônoma nas suas decisões no que tange intervenções cirúrgicas e tratamentos 
médicos. O menor que possuir o direito torna-se apto a decidir sobre quaisquer tipos de 
tratamentos que eventualmente poderá ser submetido, sem interferências de terceiros. Assim 
sendo, esse direito se torna imprescindível frente os anseios da autora pelo fato de se poder 
tomar as decisões a ela pertinentes, eximindo de seus pais o poder e a autoridade total perante 
as decisões médicas da filha, tendo em vista os seus claros interesses pessoais. 
Para além, de acordo com a disposição do artigo 1.635, II, do CC o jovem 
emancipado não deve obediência ao poder familiar (BRASIL, 2002), uma das principais 
características do instituto. Sob a perspectiva legal, desde que não existam outras restrições, o 
menor adquire uma maior liberdade e capacidade de escolha (ARAÚJO, 2008). 
Contudo, é necessário discutir as limitações impostas pela legislação brasileira, um 
evidente exemplo é a doação de órgãos, ao observar as disposições da Lei Federal n.º 9.434/97 
e Lei Federal nº 10.211/01, observa-se que a autorização judicial é requisito fundamental, 
mesmo que o menor seja emancipado ou não. Nesse caso, ainda que medicamente emancipado 
a autorização da justiça não se torna dispensável. 
Por fim, é importante ressaltar que a emancipação médica, diferentemente da civil, 
não retira o menor do poder familiar, esse ainda subsistiria, o instituto apenas exime o menor 
do consentimento ou obrigação de seus responsáveis em assuntos relacionados a procedimentos 
médicos e intervenções cirúrgicas. Resumindo, em outros assuntos da vida civil a autora estaria 
sob tutela de seus representantes legais. 
 
DO DIREITO AO PRÓPRIO CORPO 
Fato é que o ser humano possui diversas características representacionais assim 
como muitas formas de projeção da sua própria personalidade, no que diz respeito ao direito 
do próprio corpo é indispensável a associação a integridade física do indivíduo. Ademais, o 
corpo é capaz de traduzir elementos da identidade de uma pessoa, desde um nível particular e 
individual até em níveis sociais ou de uma determinada comunidade (SOBRADO, 2019). 
Quando se trata da indisponibilidade dos direitos de personalidade, em um primeiro 
momento pode-se observar uma certa contradição acerca dos limites de disposição do próprio 
corpo. Entretanto, é certo que o ordenamento jurídico brasileiro foca na força da vontade 
individual para que a pessoa em ocasiões específicas, possa dispor ou não de alguma 
característica pessoal, sem que essa descaracterize a essência fundamental de tais direitos 
(CUPIS, 2004). 
Sobre disponibilidade admitida pelo ordenamento brasileiro, nas situações que 
estão voltadas para os atos de disposição dos atributos de personalidade, por vezes a 
interpretação vem com o intuito de conferir validade jurídica à manifestação da própria vontade 
em questões que são vinculadas ao próprio corpo. Tal validade poderá ser atribuída até mesmo 
para aqueles que ainda não possuem plena capacidade. O objetivo é a facilitação da construção 
de seu projeto de vida individual que embora encontre liberdades, não as detém de forma 
ilimitada. 
Com tais apontamentos, o Código Civil no seu artigo 5º dispõe que “Ninguém pode 
ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção 
cirúrgica.” Sendo assim, ação dos pais da representada viola veementemente o artigo vigente, 
uma vez que ela se recusa a ser submetida a intervenção de transplante de rim. 
Teoricamente, ignorar a vontade da requerente, em não se submeter a tal 
intervenção prezando pelo direito ao próprio corpo fere também o princípio da dignidade 
humana. Sobre isso Alexandre de Moraes (2004) aponta: 
A dignidade da pessoa humana concede unidade aos direitos e garantias 
fundamentais, sendo inerente às personalidades humanas. Esse fundamento afasta a 
ideia de predomínio das concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em 
detrimento da liberdade individual. A dignidade é um valor espiritual e moral inerente 
à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e 
responsável da própriae que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais 
pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve 
assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao 
exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária 
estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. 
Entende-se, diante do elemento exposto, que o ser humano tem o direito à vida e 
não o dever à vida, razão pela qual não se justifica sujeitar a representada a um tratamento 
médico ou mesmo a intervenção cirúrgica que meramente satisfaça o interesse de seus 
responsáveis. 
 
DA AUTONOMIA DA VONTADE 
Dentro dos direitos fundamentais, o princípio estabelecido como a autonomia da 
vontade basicamente trata do direito que todo indivíduo previamente capaz deve possuir para 
decidir sobre os atos de sua vida, saúde e de se optar frente a sua percepção do que lhe assegura 
ser correto. Muitos doutrinadores classificam a autonomia da vontade como a faculdade de 
autodeterminação, o direito de ditar os rumos da própria vida e de desenvolver livremente a 
sua própria liberdade (BARROSO, 2010). 
No âmbito da saúde Maria Helena Diniz (2001) esclarece que, a autonomia em 
saúde é a capacidade de decisão autônoma, baseada em um consentimento esclarecido, tomado 
de forma voluntária, sem impedimentos externos ou internos frente todas as informações que 
são consideradas relevantes ao caso. Propor esse consenso é evidenciar a autonomia do 
indivíduo em suas tomadas de decisões perante intervenções e tratamentos médicos. 
Caso o agente seja capaz medicamente, o que se busca para a requerente, e possua 
condições de discernimento, sua vontade deve ser respeitada tanto pela família quanto pelo 
Estado. Diante do alto grau de complexidade e riscos que envolvem a intervenção que os pais 
da representada pretendem fazê-la se submeter, tal ação esbarra no princípio fundamental do 
direito à vida. Referente ao Direito, Moraes (2003) conceitua que é o direito mais elementar de 
todos os direitos estabelecidos na Constituição Federal, pois, é pré-requisito para todos os 
demais direitos. 
No presente caso é importante não considerar apenas o sistema civil de 
incapacidades, mas também, fazer uma interpretação deste sistema com base no discernimento 
de poder decidir o que é melhor para si por parte da requerente, colocando em discussão o fato 
de não se submeter ao transplante, porque, segundo Teixeira e Konder (2008) não se pode 
permitir que a vulnerabilidade carregada pela menor sirva para aprisioná-la aos interesses 
estritamente pessoais de seus pais, como ocorre no campo das incapacidades civis. 
Ainda, o enunciado n. º138 do Conselho da Justiça Federal, deferido na III Jornada 
de Direito Civil, chegou ao comum entendimento que “a vontade dos absolutamente incapazes, 
na hipótese do inc. I do art. 3.º, é juridicamente relevante na concretização de situações 
existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto” 
(CJF, 2012). 
Para além, ressalta-se a Resolução 41, de 13 de outubro de 1995 do Conselho 
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), ao dispor que “a criança e 
adolescente têm o direito a não ser objeto de ensaio clínico, provas diagnósticas e terapêuticas, 
sem o consentimento informado de seus pais ou responsáveis e o seu próprio, quando tiver 
discernimento para tal” (CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE, 1995). 
DA PRODUÇÃO DAS PROVAS 
Com o intuito de subvencionar a melhor compreensão da lide o Autor pretende 
instruir seus argumentos com base nas seguintes provas: 
a) Que sejam ouvidas as testemunhas, cujo rol será apresentado na devida 
oportunidade; 
b) Que se promova uma análise pericial e psicológica da requerente 
c) Os peritos médicos envolvidos neste caso deverão ser ouvidos 
DOS PEDIDOS 
Pelo exposto, REQUER: 
1. A concessão da gratuidade da justiça, conforme salvaguardado no artigo 98 do 
CPC/15, retirando a responsabilidade econômica da Autora e da sua representante posto 
que esta não tem condições para custear a ação. 
2. A intimação do Ministério Público para que proceda ao acompanhamento da presente 
ação, já que se trata de interesse de menor; 
3. A citação do Réu, para se quiser, responder à presente ação 
4. O deferimento do pedido de emancipação médica, permitindo à requerente tomar 
suas próprias decisões no que concerne à saúde do seu corpo. 
5. Seja determinado a extinção parcial dos direitos paternais, para que não se permita 
que ambos abusem de seu poder familiar para com a Autora. 
6. A produção de todas as provas admitidas em direito, em especial a análise pericial da 
requerente, bem como a oitiva delas em juízo; 
Requer, por fim, que todas as intimações e notificações referentes ao caso sejam 
publicadas e informadas, exclusivamente e conjuntamente, em nome dos seguintes advogados: 
ANDREW TALYSSON NASCIMENTO DA SILVA (OAB/MA) e JULIANE SANTOS 
LIMA (OAB/MA), sob pena de nulidade. 
 
Dá-se a causa o valor de R$ 3.000,00 (três mil reais). 
Termos em que pede e aguarda deferimento. 
São Luís – MA, 31 de março de 2022 
 
 
 
Andrew Talysson Nascimento da Silva 
 OAB/MA 
 
 
 Juliane Santos Lima 
 OAB/MA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
ARAÚJO, Denilson Cardoso de. A emancipação civil e suas relações com o Estatuto da 
Criança e do Adolescente. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 13, n. 1727, 
24 mar. 2008. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/1 1069/a-emancipacao-civil-e-suas-
relacoes-com-o-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente>. Acesso em: 29 mar. 2022. 
BARROSO, Luís Roberto. Legitimidade da recusa de transfusão de sangue por 
Testemunhas de Jeová. Dignidade Humana, Liberdade Religiosa e Escolhas Existenciais. 
Parecer Jurídico, Rio de Janeiro, 05 de abril de 2010. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília, DF: Presidente da República, 2016. 
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. Diário 
Oficial da União, Brasília, DF, 17 março 2015. 
BRASIL. Código Civil, Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 1. ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2002. 
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069/90. São Paulo, Atlas, 1991 
CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Jornadas de direito civil I, III, IV e V. Enunciados 
Aprovados. Enunciado n. º138, aprovado na III Jornada de Direito Civil. Coordenador 
Científico: Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior. Brasília: Centro de Estudos Judiciários, 
2012. Disponível em: <https://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-
estudos-judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/EnunciadosAprovados-Jornadas-1345.pdf>. 
Acesso em: 30 de mar. de 2022. 
CORRÊA, Carlos Romeu Salles. Evolução da doutrina da dignidade da pessoa 
humana. Jus.Com. Br, [s. l], v. 1, n. 1, p. 1-1, mar. 2013. Disponível em: 
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Acesso em: 31 mar. 2022. 
CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. 
Resolução CONANDA nº 41/1995. Brasília, 13 de outubro de 1995. Disponível 
em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselho-
nacional-dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescenteconanda/resolucoes/resolucoes-1-a-
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CUPIS, Adriano de. Os direitos da personalidade. Tradutor Afonso Celso Furtado Rezende. 
Campinas: Romana, 2004. 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: parte geral/Carlos Roberto 
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SOMBRA, Thiago Luís Santos. A eficácia dosdireitos fundamentais nas relações privadas. 
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LÔBO, Paulo - Direito Civil - Famílias. 4. ed. Saraiva. 2011, p. 307. 
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 13ª Ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2003. 
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SOBRADO DE FREITAS, R. Autonomia decisória e direito ao próprio corpo: os reflexos da 
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TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; KONDER, Carlos Nelson. Crianças e Adolescentes na 
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______. Lei Federal n.º 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. Dispõe sobre a remoção de órgãos, 
tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. 
Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 5 fev. 1997. 
______. Lei Federal n.º 10.211, de 23 de março de 2001. Altera dispositivos da Lei no 9.434, 
de 4 de fevereiro de 1997, que "dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo 
humano para fins de transplante e tratamento". Diário Oficial da República Federativa do 
Brasil. Brasília, DF, 24 mar. 2001. 
_____. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução Paulo Quintela. Lisboa: 
Edições 70, 2005.

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