Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 DEFICIÊNCIAS MULTIPLAS 1 Sumário FACULESTE ............................................................................................ 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 Conceitos sobre deficiência múltipla: consensos possíveis ..................... 4 Deficiência Múltipla ................................................................................ 11 A criança com deficiência múltipla e a escola ........................................ 17 Necessidades da pessoa com múltiplas deficiências ............................ 24 Tecnologias assistivas – trabalhando com necessidades múltiplas ...... 27 Os tipos de deficiência ........................................................................... 28 O papel da escola e do professor na inclusão ....................................... 36 CONCLUSÃO ........................................................................................ 42 REFERENCIA ........................................................................................ 43 2 FACULESTE A história do Instituto FACULESTE, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a FACULESTE, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A FACULESTE tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO A deficiência múltipla é a ocorrência de duas ou mais deficiências simultaneamente, sejam intelectuais, físicas, distúrbios neurológicos, emocionais, linguagem e desenvolvimento educacional, vocacional, social e emocional, dificultando sua autossuficiência. As deficiências múltiplas atrasam o desenvolvimento global da criança, dificultando sua aprendizagem e autonomia. Diante desse quadro, a pessoa pode já nascer ou adquirir baixa visão e deficiência física ou intelectual, cegueira e distúrbios neurológicos, surdez e mobilidade física, entre outros, de níveis que vão de leve a severo. De acordo com a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação (MEC), o que define deficiência múltipla é o nível de desenvolvimento, as possibilidades funcionais, de comunicação, interação social e de aprendizagem que determinam as necessidades educacionais dessas pessoas. A maneira como cada deficiência afeta o aprendizado de tarefas simples e o desenvolvimento da comunicação da pessoa varia de acordo com o grau de comprometimento propiciado pelas deficiências, associado aos estímulos que a pessoa recebeu ao longo da vida. Para que haja avanço no processo de desenvolvimento em crianças com múltiplas deficiências é necessário o compartilhamento de atendimento multidisciplinar, em que estão incluídas ações integradas entre educação, saúde e família. O professor deve estar atento às limitações do aluno e, dentro das propostas de educação inclusiva, deve preparar um conteúdo adaptado às necessidades de cada criança para garantir sua participação em todas as atividades desenvolvidas, assim o ensino aprendizado acontece de forma justa e igualitária. 4 Conceitos sobre deficiência múltipla: consensos possíveis A necessidade de entendimento e a busca por uma definição para melhor compreensão do que seja a deficiência múltipla se confronta com a complexidade que a própria nomenclatura representa e a escassez de estudos na área, pois: “a deficiência múltipla é um termo muito controverso e aparentemente pouco discutido no cenário nacional e internacional” (TEIXEIRA & NAGLIATE, 2009, p. 13). Dugnani e Bravo (2009), ao realizarem um levantamento bibliográfico no Brasil, verificaram que as pessoas com deficiência múltipla não tem sido alvo das preocupações da comunidade científica. Em suas palavras: 5 A falta de pesquisas científicas nesta área, não é uma especificidade do Brasil. Machado, Oliveira e Bello (2009) realizaram uma pesquisa em bases de dados americanas e os resultados mostraram um número ínfimo de estudos publicados, principalmente quando relacionados à educação dos sujeitos alvo desse artigo. Esta situação também se repete na Europa. Em 2009, Teixeira, Nagliate e Reis publicaram resultados de levantamentos bibliográficos a respeito do tema deficiência múltipla em periódicos europeus de Educação e Psicologia. Foram identificados artigos sobre o uso de tecnologias para a melhoria da comunicação; a importância de se tratar o tema no âmbito político; estratégias de alfabetização e práticas educacionais, dentre outras questões. Ainda assim, a pesquisa apontou a necessidade da ampliação dos estudos e publicações também na realidade europeia. Sobre tal questão, o que se nota é que apesar da escassez de estudos – ou até mesmo por conta desta escassez – há inúmeras interpretações sobre o que seja deficiência múltipla. Tal aspecto pode ser identificado na literatura internacional, pois além de haver diversas definições sobre a deficiência múltipla, também constatamos que não há consenso entre os estudiosos em determinar as características desta deficiência (TEIXEIRA & NAGLIATE, 2009). Segundo nosso levantamento realizado nos bancos de dados Redalic (Rede de Revistas Científicas da América Latina e do Caribe) e no Scielo (Biblioteca Eletrônica Científica online), ainda hoje, essas informações são pertinentes. Vale mencionar, para ilustrar, que no conjunto das revistas científicas brasileiras disponíveis no Scielo, incluindo a Revista Brasileira de 6 Educação Especial, apenas identificamos um artigo que trata sobre o tema da deficiência múltipla. Quanto ao não consenso entre os pesquisadores em relação à conceituação de deficiência múltipla, verificamos que alguns a consideram como uma deficiência inicial que foi geradora de outras . Outros a entendem como a associação entre duas ou mais deficiências, sem necessariamente uma ter sido causa do desenvolvimento da outra. De acordo com esta última forma de entendimento, Carvalho (2000) compreende que deficiência múltipla é uma: Tal definição está em consonância como o que temos disposto em diferentes documentos federais como a Política Nacional de Educação Especial (BRASIL, 1994)5 e o documento Subsídios para Organização e Funcionamento de Serviços de Educação Especial – área de Deficiência Múltipla (BRASIL, 1995). De acordo com estes dois documentos, a deficiência múltipla é uma: “associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias (mental/visual/auditivo/física), com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa” (BRASIL, 1995, p.17). Estas duas definições mostram que a deficiência múltipla pode implicar extensa possibilidade de associação de deficiências, variando conforme o número, a natureza, o grau e a abrangência das deficiências em questão; consequentemente, variam os efeitos dos comprometimentos na vida cotidiana das pessoas que a apresentam. Em 2004, a deficiênciamúltipla também foi caracterizada pelo Ministério da Educação no documento “Saberes e práticas da inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem – deficiência múltipla” (BRASIL, 2004) como sendo a associação de duas ou mais deficiências podendo ser estas de ordem física, mental, sensorial, comportamental e /ou emocional. No ano de 2007, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) apresentou um conceito para deficiência múltipla, seguindo na mesma direção. Em nível internacional, podemos citar o conceito apresentado pelo National Information Center for Children and Youth with Disabilities (NICHCY) que nos Estados Unidos (2007) define deficiência múltipla como sendo a condição em que pessoas apresentam deficiência intelectual profunda e que 7 frequentemente apresentam dificuldades adicionais nos movimentos, perdas sensoriais e problemas de comportamento. Neste caso, podemos perceber uma concepção que define deficiência múltipla, partindo especificamente da deficiência intelectual. Já, mais próximo com as posições adotadas pelos documentos oficiais brasileiros, temos o conceito do Individuals with Disabilities Education Act (IDEA), órgão americano que define a deficiência múltipla como sendo deficiências concomitantes ou simultâneas, apontando a associação entre deficiências intelectuais, sensoriais ou físicas. Este órgão não considera a surdocegueira6 como deficiência múltipla, colocando-a como outra modalidade de deficiência, uma vez que se trata de um caso estritamente sensorial (TEIXEIRA & NAGLIATE, 2009). Esta consideração sobre a surdocegueira também é adotada oficialmente em nosso país. Ainda em termos internacionais, cabe mencionar que em Portugal, a definição adotada pelo Ministério da Educação daquele país é proveniente do conceito apresentado por Nunes (2001): Como podemos depreender a definição portuguesa concebe a deficiência múltipla partindo da deficiência cognitiva; podendo estar associada a outras formas de deficiência, sensoriais ou físicas. Ou seja, esta concepção, assim como da definição da NICHCY defende que a deficiência múltipla ocorre somente quando há a deficiência intelectual. 8 Voltando ao cenário nacional, vale mencionar o documento “Educação Infantil - saberes e práticas da inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem - deficiência múltipla” (BRASIL, 2006), que define essa deficiência “para caracterizar o conjunto de duas ou mais deficiências associadas, de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social” (p.11). No mesmo texto, há uma consideração que nos chama atenção para a complexidade da questão, alertando-nos sobre o que verdadeiramente caracteriza um determinado caso de deficiência múltipla: Neste sentido, a atenção às especificidades e necessidades de cada pessoa é fundamental não podendo se restringir apenas aos laudos médicos. Mensurar o desenvolvimento contando apenas com as características que costumam se apresentar na ocorrência de determinadas deficiências não é o suficiente para o efetivo conhecimento do sujeito e, consequentemente, das suas necessidades. O mesmo pode-se considerar com relação às potencialidades que podem apresentar, pois o desempenho e as competências dessas crianças são heterogêneos e variáveis (BRASIL, 2006; ROCHA, 2014). Além das características apresentadas de acordo com as deficiências que o sujeito pode ter associadas, o grau de comprometimento também depende de aspectos influenciados pelo ambiente, bem como pelas oportunidades, 9 estímulos, relações vivenciadas por ele, dentre tantos outros aspectos. A este respeito Silva (2011) descreve que: Ao exemplificar ações, considerando a importância delas para o desenvolvimento das pessoas que apresentam deficiência múltipla, a autora explicita que as possibilidades não ficam engessadas às deficiências apresentadas. Com relação à questão biológica, as experiências vivenciadas podem ter grande influência. Por isso, a ação educacional é imprescindível: Sobre esta questão Machado, Oliveira e Bello (2009) postulam que: 10 A respeito das peculiaridades nos processos de aprendizagem de alunos com deficiências múltiplas Cormedi (2009) aponta a necessidade de se considerar o impacto das limitações cognitivas, motoras, sensoriais e também de comunicação. Vejamos em suas palavras: Mediante tais questões, faz-se necessário ter clareza de que as pessoas com deficiência múltipla apresentam necessidades que não podem ser ignoradas, uma vez que se tenha a real intenção de oportunizar o seu desenvolvimento. Os documentos oficiais reconhecem tal aspecto ao sinalizarem que: 11 Deficiência Múltipla A deficiência múltipla é uma associação de duas ou mais deficiências primárias como física, mental, visual ou auditiva, no mesmo indivíduo. As pessoas com deficiência múltipla apresentam comprometimento que causam atrasos no desenvolvimento, na aprendizagem e na capacidade administrativa. De acordo com Política Nacional de Educação Especial (PNEE) a deficiência múltipla é uma “associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiência primárias (mental/ visual/auditiva/física) com comprometimento que https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/deficiencia-multipla/57024 12 acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa (MEC,1994). O programa TECNEP (2008) afirma que deficiência múltipla: É a deficiência auditiva ou a deficiência visual associada a outras deficiências (mental e/ou física), como também a distúrbios neurológicos, emocionais, linguagem e desenvolvimento educacional, vocacional, social e emocional, dificultando a sua autossuficiência. Ainda no campo da definição da deficiência múltipla, o decreto federal nº 5.296 explica que é uma “ associação de duas ou mais deficiências” podendo ser de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social, podendo ser agravada por alguns aspectos, tais como a idade de aquisição, o grau das deficiências e a quantidade de associações que o indivíduo apresenta. No entanto, não é a soma da associação de deficiências que irá caracterizar a deficiência múltipla, mas sim o “nível de desenvolvimento, as possibilidades funcionais, de comunicação, interação social e de aprendizagem que determinam as necessidades educacionais dessas pessoas” (GODÓI, 2006, p. 11). As causas da deficiência múltipla 13 As causas que envolvem a deficiência múltipla podem ser várias. Elas podem ser de ordem sensorial, motora e linguística e originada de “ fatores pré- natais, perinatais ou natais e pós-natais, além de situações ambientais tais como: acidentes e traumatismos cranianos, intoxicação química, irradiações, tumores e outras” (SILVA, 2011). As causas também podem ser por má-formação congênita, Hipotireoidismo, Síndrome de Rett , e por infecções virais como Síndrome da rubéola congênita, ou por doenças sexualmente transmissíveis. De acordo com Campos (2003) as causas da deficiência múltipla ainda podem ser por Icterícia, infecção do ouvido, falta de oxigênio no cérebro, sarampo, glaucoma, traumatismos, tumor cerebral, toxoplasmose, catarata e casamentos consanguíneos. O programa TECNEP (2008), também menciona algumas causas como prematuridade, a sífilis congênita e a meningite. Outros fatores também podem ser atribuídos às causas para a deficiência múltipla como doenças venéreas, gravidez de risco, falta de saneamento básico e infecções hospitalares (idem). 14 De acordo com a Associação Brasileira de Pais e Amigos dos Surdo- cegos e dos Múltiplos Deficientes Sensoriais (Abrapacem), a forma como a deficiência afetará a vida, o aprendizado de atividades simples e o desenvolvimento da comunicaçãodo indivíduo, varia de acordo com o grau de comprometimento proporcionado pelas deficiências, associado aos estímulos que essa pessoa irá receber ao longo da vida. Caracterização da deficiência múltipla De acordo com a Fenapaes (2007, p.23 apud SILVA, 2011) a caracterização da deficiência múltipla deve ser levado em consideração que ela pode apresentar-se mediante a associação das seguintes categorias, dentre outras: - FÍSICA E PSÍQUICA – são exemplos dessa condição: (a) deficiência física associada à deficiência intelectual; (b) deficiência física associada a transtorno mental. - SENSORIAL E PSÍQUICA – exemplificam essa condição: (a) Deficiência 15 auditiva ou surdez associada à deficiência intelectual; (b) Deficiência visual ou cegueira associada à deficiência intelectual; (c) Deficiência auditiva ou surdez associada a transtorno mental. - SENSORIAL E FÍSICA – são exemplos dessa condição: (a) Deficiência auditiva ou surdez associada à deficiência física; (b) Deficiência visual ou cegueira associada à deficiência física. - FÍSICA, PSÍQUICA E SENSORIAL – são ilustrativas dessa condição: (a) Deficiência física associada à deficiência visual ou cegueira e à deficiência intelectual; (b) Deficiência física associada à deficiência auditiva ou surdez e à deficiência intelectual; (c) Deficiência física associada à deficiência visual ou cegueira e à deficiência auditiva ou surdez. Características Gerais da Criança com Deficiência Múltipla. Crianças com deficiência múltipla apresentam algumas características distintas que as diferem das outras. De acordo com Nascimento (2006,p.11) essas características são: 16 -Dificuldade na abstração das rotinas diárias, nos gestos ou na comunicação; -Dificuldades no reconhecimento de pessoas do seu cotidiano; -Movimentos corporais involuntários; -Respostas mínimas a estímulos causados por barulhos, toques, entre outros. -Aprendem mais lentamente; - Tendem a esquecer o que não praticam; -Tem dificuldade em generalizar habilidades aprendidas separadamente; - Necessitam de instruções organizadas e sistematizadas; - Necessita de ter alguém que possa mediar seu contato com o meio que o rodeia. Percebe-se assim, que as crianças com deficiência múltipla podem apresentar movimentos estereotipados e repetitivos, não demonstrar conhecer as funções dos objetos, não se comunicar da forma convencional, apresentar resistência ao contato físico, não reter informações entre outros. Portanto, trabalhar com pessoas com deficiências múltiplas requer um compromisso no que se refere à autonomia da criança ou adolescente, seja na escola, na vida diária ou para a inserção no mundo do trabalho. 17 A criança com deficiência múltipla e a escola Ao longo da história, é possível perceber como é difícil a convivência em sociedade, principalmente para as pessoas que não se enquadram nas expectativas de normalidade estabelecidas como padrões sociais, como por exemplo, ser capaz de andar, falar ou desenvolver algum tipo de trabalho. A sociedade valoriza o que culturalmente se convencionou como belo, sadio, forte, eficiente e produtivo. Dentro desta perspectiva, quem possui estas características é um ser normal. Todavia, os indivíduos que não se enquadram nesses padrões e que apresentam algum tipo de anomalia, seja ela congênita ou adquirida, são pessoas que trazem consigo o estigma da diferença, maior ainda se essa diferença for expressa na forma de uma deficiência. Na história da deficiência, as pessoas que não apresentavam os padrões de comportamento ou de desenvolvimento, ou seja, os padrões da normalidade, eram totalmente excluídas do contexto social e da convivência com os demais, inclusive da família. As pessoas com deficiência não tinham direito a participarem do mercado de trabalho e dos processos educacionais. Portanto, não eram considerados cidadãos. Dessa forma, as pessoas com deficiência carregam consigo a marca do defeito, da degeneração humana devendo ser isolados e castrados para que não procriassem, gerando assim mais pessoas defeituosas. 18 No século XIX que surgem as instituições especializadas em pessoas com deficiência. Essas instituições, de acordo com Sassaki (apud SASSAKI, 2003, p. 31) “eram em geral muito grandes e serviam basicamente para dar abrigo, alimento, medicamento e alguma atividade para ocupar o tempo ocioso”. Paralelo a isso, observa-se também no século XIX o surgimento da Educação Especial. Em uma rápida análise da trajetória da Educação especial, é possível identificar que o período que antecede o século XX é marcado por atitudes sociais de exclusão educacional de pessoas com deficiência, uma vez que eram consideradas indignas ou incapazes de receberem educação escolar. Na década de 50, de acordo com a SILVA (2006, p.11), “começaram a surgir as primeiras escolas especializadas e as classes especiais. A Educação Especial se consolidava como um subsistema da Educação comum”. Essa época, foi um período no qual predominou a concepção científica da deficiência, acompanhada ainda, pela atitude social do assistencialismo, no qual a pessoa 19 com deficiência recebia atendimentos médicos a era preparada de maneira resignada, a uma posição social de submissão. Nesta época os deficientes são considerados cidadãos, com direitos e deveres, mas de forma assistencialista. Ainda neste mesmo período, as pessoas com deficiência, começam a ter acesso às salas regulares de ensino desde que se adaptassem e não causassem nenhum transtorno ao contexto escolar. No início da década de 80, quando houve um considerável número de alunos com deficiência começando a frequentar classes regulares de ensino, começou-se a projetar a fase da inclusão. Dessa forma, intensificou-se a atenção à necessidade de educar os alunos com deficiência no ensino regular, como consequência do aumento de matrículas e insatisfações existentes em relação às modalidades de atendimento em Educação Especial, que para muitos não atendia as necessidades educacionais e sociais dos alunos. Porém, trabalhar com crianças, com deficiência múltipla, que apresentam “dificuldades acentuadas no processo de desenvolvimento e aprendizagem é um grande desafio, com o qual podemos aprender e crescer como pessoas e profissionais, buscando compreender e ajudar o outro” (GODÓI, 2006, p. 13). Ainda de acordo com a autora, os alunos com deficiência múltipla possuem várias potencialidades, possibilidades funcionais e necessidades concretas que necessitam ser compreendidas e consideradas. Apresentam, algumas vezes, interesses inusitados, diferentes níveis de motivação, formas incomuns de agir, comunicar e expressar suas necessidades, desejos e sentimentos (GODÓI, 2006, p. 13). Sendo assim, inclusão de alunos com deficiências múltiplas na escola comum requer não apenas a aceitação da diversidade humana, mas implica em transformação significativa de atitudes e posturas, principalmente em relação à prática pedagógica. Ao trabalhar com pessoas com deficiência múltipla espera- se que o educador, tenha conhecimentos adequados sobre o que pretende 20 ensinar e que tenha uma metodologia de ensino adequada para que seus alunos assimilem os conteúdos ministrados. Para que haja um eficaz aprendizado escolar do aluno com necessidades educacionais especiais, é necessário ainda, que o projeto político pedagógico e o currículo da escola estejam em consonância com as necessidades educativas dos alunos, sendo na metodologia de trabalho e formas de avaliação. É imprescindível que o currículo seja adaptado às necessidades e realidade dos alunos. De acordo com a Associação dos deficientes físicos de Betim (adefib), “as adaptações são recursos necessários parafacilitar a integração dos educandos com necessidades especiais nas escolas”. As adaptações do currículo são “modificações ou provisão de recursos espaciais, temporais, materiais ou de comunicação que favorecem o aluno com necessidades educacionais especiais no desenvolvimento do currículo regular” (GUIJARRO, 1992, p.134 apud GODÓI, 2006, p. 33). 21 Porém, as adaptações de acesso ao currículo são de responsabilidade da escola, e envolvem segundo Godói (2006, p. 34) • mobiliário adequado (mesas, cadeiras, triângulo para atividades no solo, equipamentos para atividades em pé e locomoção independente); • equipamentos específicos e tecnologia assistida; • sistemas alternativos e ampliados de comunicação; • adaptação do espaço e eliminação de barreiras arquitetônicas, ambientais, play ground; • recursos materiais e didáticos adaptados; • recursos humanos especializados ou de apoio; • situações diversificadas de aprendizagem e apoio para participação em todas as atividades pedagógicas e recreativas; • adaptações de atividades, jogos e brinquedos. Necessidades Educacionais da criança com Deficiência Múltipla 22 Para que haja um desenvolvimento e aprendizado significativo das crianças com deficiência múltipla, não basta somente as adaptações no currículo, é também necessário, de acordo com Sbaraini, observar algumas necessidades educacionais dos alunos tais como: - Posicionamento e manejo apropriado: evitará dores e complicações posturais, o posicionamento adequado do aluno permitirá que ele veja, ouça, alcance objetos e movimente-se nas diversas atividades; - Oportunidades de escolha: oportunizar o aluno a fazer escolhas, para a sua maior e melhor autonomia; - Métodos apropriados de comunicação; todas as formas de comunicação devem ser usadas; - Estimulação constante, de pessoas que se comuniquem de forma adequada e que proporcionem situações de interação; 23 - Planejamento de toda a aprendizagem, incluindo aspectos simples e básicos de vida diária; - Interação em ambientes naturais, incluindo pessoas e objetos; - Oportunidades de aprendizagem centradas em experiências de vida real; - Organização e estruturação dos ambientes para lhes trazer segurança. Esses são fatores essenciais e capazes de atender às necessidades específicas de aprendizagem dos alunos com deficiência múltipla. Todavia, para que a criança com deficiência múltipla participe das atividades pedagógicas relevantes para o processo do desenvolvimento e aprendizagem, é necessário um professor atento, capacitado, disponível para dialogar e efetuar a mediação, tanto em termos de comunicação, quanto de ajuda física, na realização das brincadeiras e atividades escolares. 24 Necessidades da pessoa com múltiplas deficiências Podem ser agrupadas em três grupos: Necessidades físicas e médicas: A causa mais frequente de deficiência múltipla é a paralisia cerebral, que compromete a postura e mobilidade, limitando os movimentos. Necessidades emocionais: Possuem necessidades de afeto, atenção, de desenvolver relações sociais e afetivas, e de estabelecer uma relação de confiança. Necessidades educativas: 25 As necessidades educativas são devido a limitações no acesso ao ambiente; a dificuldades em dirigir atenção para estímulos relevantes, a dificuldades na interpretação da informação, etc. DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA E EDUCAÇÃO • A maneira como cada deficiência afeta o aprendizado de tarefas simples e o desenvolvimento da comunicação da pessoa varia de acordo com o grau de comprometimento propiciado pelas deficiências, associado aos estímulos que a pessoa recebeu ao longo da vida. • Para que haja avanço no processo de desenvolvimento em crianças com múltiplas deficiências é necessário o compartilhamento de atendimento multidisciplinar, em que estão incluídas ações integradas entre educação, saúde e família. • O professor deve estar atento às limitações do aluno e, dentro das propostas de educação inclusiva, deve preparar um conteúdo adaptado às necessidades de cada criança para garantir sua participação em todas as atividades desenvolvidas. • De acordo com o referencial curricular nacional para a educação infantil, publicado em 2008 pelo MEC, a educação, nesse contexto, tem as funções de cuidar e educar. • No caso das crianças com deficiência múltipla, que podem apresentar diferentes limitações, o desenvolvimento delas deve partir do conjunto de ações de reabilitação e inclusivas no âmbito social e educacional. • As diretrizes nacionais para educação especial na educação básica se baseiam 26 na premissa que todas as crianças são capazes de aprender, não importando o grau de severidade da deficiência. • Quando as crianças com deficiência são incluídas desde cedo em programas de creche e pré-escola que tenham por objetivo o desenvolvimento integral, o acesso à informação e ao conhecimento historicamente acumulado, dividindo essa tarefa com os pais e serviços da comunidade. • A inclusão requer algumas modificações, tanto de atitude quanto de estrutura dos centros de educação infantil, como: flexibilidade, tolerância, compreensão do comportamento e das necessidades emocionais, provisão de currículo adaptado às necessidades específicas, mobiliário adaptado para execução de atividades, adaptação de jogos pedagógicos, materiais específicos e recursos tecnológicos que favoreçam a interação, a comunicação e a aprendizagem. • É preciso um trabalho transdisciplinar entre o professor do ensino regular, o professor especializado de apoio, a família e a equipe de suporte (fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo, etc.) para avaliar as necessidades específicas e sugerir adaptações e recursos que facilitem o processo de comunicação e aprendizagem da criança. 27 Tecnologias assistivas – trabalhando com necessidades múltiplas Para trabalhar com pessoas com múltiplas deficiências é preciso buscar atividades funcionais que favoreçam o desenvolvimento da comunicação e das interações sociais, levando em conta as potencialidades da pessoa. As tecnologias assistivas permitem a criação de alternativas que possibilitam ao aluno com deficiência fazer parte do processo de ensino- aprendizagem. A Tecnologia Assistiva (TA) é a área do conhecimento (de caráter interdisciplinar) que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidade ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.A TA está presente em situações quem que há necessidade de comunicação alternativa e ampliada; adaptações de acesso ao computador; equipamentos de auxílio para visão e audição; controle do meio ambiente (por exemplo, adaptações como controles remotos para acender a apagar luzes); adaptações de jogos e brincadeiras; adaptações da postura sentada; mobilidade alternativa; entre outros. 28 A tecnologia assistiva pode ir desde uma fita crepe para prender o papel à mesa, até um software leitor de tela para acesso ao computador Os tipos de deficiência Deficiência é o termo empregado para definir a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatômica. As deficiências podem ser congênitas (nascem com a pessoa) ou adquiridas. As várias deficiências podem agrupar-se em cinco conjuntos distintos, sendo eles: Deficiência Visual Deficiência Auditiva Deficiência Mental Deficiência Física Deficiência Múltipla Deficiência Visual Deficiência visual é a perdaou redução das funções básicas do olho e do sistema visual. Existem dois grupos de deficiência: https://pedagogiaaopedaletra.com/tipos-de-deficiencia/#visual https://pedagogiaaopedaletra.com/tipos-de-deficiencia/#auditiva https://pedagogiaaopedaletra.com/tipos-de-deficiencia/#mental https://pedagogiaaopedaletra.com/tipos-de-deficiencia/#fisica https://pedagogiaaopedaletra.com/tipos-de-deficiencia/#multipla 29 Cegueira – há perda total da visão ou pouca capacidade de enxergar. Seu processo de aprendizagem será através dos sentidos remanescentes (tato, audição, olfato, paladar) utilizando o sistema BRAILE como principal meio de comunicação escrita. Baixa visão – define-se pelo comprometimento do funcionamento visual dos olhos, mesmo depois de tratamento ou correção. O processo educativo do aluno com baixa visão se desenvolverá, por meios visuais com emprego de recursos específicos como escrita ampliada, lupa, entre outros. Deficiência auditiva A deficiência auditiva é a perda parcial ou total da audição em um ou ambos os ouvidos. Pode ser de nascença ou causada por doenças. 30 É definido surdo toda pessoa cuja audição não é funcional no dia-a-dia, e considerado parcialmente surdo todo aquele cuja capacidade de ouvir, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva. Tipos de deficiência auditiva: Deficiência Auditiva Condutiva São geralmente de grau leve ou moderado, variando de 25 a 65 decibel. Os casos de deficiência auditiva condutiva podem ser tratados com o uso do aparelho auditivo ou com implante de ouvido médio. Deficiência Auditiva Sensorioneural A perda de audição neurossensorial decorre de danos ocasionados pelas células sensoriais auditivas ou no nervo auditivo. Ela pode ser de grau leve, moderada, severa ou profunda. 31 Deficiência Auditiva Mista A deficiência auditiva mista é uma associação de uma perda auditiva Sensorioneural e condutiva. Decorrente de problemas em ambos os ouvidos: interno e externo ou médio. Deficiência Auditiva Neural A deficiência auditiva neural é comumente profunda e permanente. Aparelhos auditivos e implantes cocleares não amenizam a deficiência auditiva, visto que o nervo não é capaz de transmitir informações sonoras para o cérebro. Deficiência mental Deficiência mental é a designação que caracteriza os problemas que acontecem no cérebro e levam a um baixo rendimento, mas que não afetam outras regiões ou áreas cerebrais. Esse tipo de deficiência caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual geral, significativamente abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimento, concomitante com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder 32 adequadamente às demandas da sociedade, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e comunidade, independência na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho. ( Adotada pelo Brasil em 1992 – AAMD –Associação Americana de Deficiência Mental). Segundo Rocha (2016, p. 11), há quatro níveis de retardo mental que é dado por variação do quociente de inteligência (ou Q.I.): Retardo Mental Leve O retardo mental leve pode não ser diagnosticado até que as crianças afetadas ingressem na escola, já que suas aptidões sociais e comunicativas podem ser adequadas nos anos pré-escolares Este é equivalente ao que foi certa vez chamado “educável”. Este grupo constitui o maior segmento de pessoas com retardo mental – aproximadamente 85%. À medida que ganham idade, entretanto, os déficits cognitivos como fraca capacidade para fazer abstrações e pensamento egocêntrico podem diferenciá-las de outras crianças de sua idade. Embora os indivíduos levemente retardados sejam capazes de funções acadêmicas no nível elementar superior e suas aptidões vocacionais sejam suficientes, para que se sustentem em alguns casos, a assimilação social pode ser difícil. Déficits de comunicação, fraca autoestima e dependência podem contribuir para sua relativa falta de espontaneidade social. Alguns indivíduos levemente retardados podem Ter relacionamentos com companheiros que exploram seus déficits. Na maioria dos casos, as pessoas com retardo mental leve podem atingir grau de sucesso social e ocupacional em um ambiente de suporte. Retardo Mental Moderado O retardo mental moderado tende a ser diagnosticado mais precocemente que o retardo mental leve, porque as aptidões comunicativas desenvolvem-se mais lentamente nas pessoas com retardo mental moderado e seu isolamento social pode iniciar nos primeiros anos de educação de primeiro grau. Embora as conquistas acadêmicas, geralmente, sejam limitação ao nível elementar 33 mediano, as crianças moderadamente retardadas beneficiam-se de um atendimento individual focalizado sobre o desenvolvimento de habilidade de autoajuda. As crianças com retardo mental moderado têm consciência de seus déficits e, frequentemente, sentem-se afastadas de seus pares e frustradas por suas limitações. Elas continuam necessitando de um nível relativamente alto de supervisão, mas podem tornar-se competentes em tarefas ocupacionais em ambientes de suporte. Elas podem aprender a viajar sozinhos a locais familiares. Constitui aproximadamente 10% da população com retardo. Retardo Mental Severo O retardo mental severo geralmente se evidencia nos anos da pré-escola, já que a linguagem da criança afetada é mínima, e seu desenvolvimento motor é fraco. Algum desenvolvimento da linguagem pode ocorrer nos anos escolares, na adolescência, se a linguagem for fraca, ocorre a evolução de formas não verbais de comunicação. Eles se beneficiam de apenas em uma extensão limitada de treinamento em coisas como o alfabeto e contas simples. Eles podem ser ensinados a identificar palavras como homens, mulheres, ônibus e parada, por exemplo. A incapacidade de articularem plenamente suas necessidades pode reforçar os meios corporais de comunicação. Os enfoques comportamentais podem ajudar a promover algum grau de cuidados pessoais, embora os indivíduos com retardo mental severo geralmente necessitem de supervisão extensa. Este grupo constitui 3 a 4% da população com retardo. Retardo Mental Profundo Constitui 1 a 2% da população com retardamento. As crianças com retardo mental profundo exigem supervisão constante e têm aptidões comunicativas e motoras severamente limitadas. Na idade adulta, algum desenvolvimento da linguagem pode estar presente, e habilidades simples de autoajuda podem ser adquiridas. Mesmo na idade adulta, necessitam de cuidados de enfermagem. 34 Deficiência Física Podemos definir a deficiência física como “diferentes condições motoras que acometem as pessoas comprometendo a mobilidade, a coordenação motora geral e da fala, em consequência de lesões neurológicas, neuromusculares, ortopédicas, ou más formações congênitas ou adquiridas” (MEC,2004). A deficiência física se refere ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema Osteoarticular, o Sistema Muscular e o Sistema Nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir grandes limitações físicas de grau e gravidades variáveis, segundo os segmentos corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida. (BRASIL, 2006, p. 28) Deficiência múltipla A deficiência múltipla é a associação de duas ou mais deficiências, sejam intelectuais, físicas, distúrbios neurológicos, emocionais, linguagem e desenvolvimento educacional, vocacional, social e emocional. 35 De acordo com alguns pesquisadores, a deficiência múltipla pode ser separada pelas seguintes dimensões: Física e psíquica Associa a deficiência física à deficiência intelectual; Associa a deficiência física à transtornos mentais. Sensorial e psíquica Engloba a deficiência auditiva associada à deficiência intelectual; A deficiência visual à deficiência intelectual; A deficiência auditiva à transtornos mentais; Perda visual à transtorno mental. Sensorial e física Associa a deficiência auditiva à deficiência física; A deficiência visual à deficiência física. Física, psíquica e sensorial: Traz a deficiência física associada à deficiência visual e à deficiência intelectual; A deficiência física associada à deficiência auditiva e à deficiência intelectual; A deficiência física associada à deficiência auditiva e à deficiência visual. 36 O papel da escola e do professor na inclusão O papel da escola e do professor na inclusão A imagem de que existem alunos incapazes de aprender e adquirir conhecimentos é muito comum na sociedade brasileira. Difundiu-se o estereótipo de que essas pessoas são destituídas de intelecto capaz de lhes oferecer as condições para desenvolver suas habilidades cognitivas. Nesse sentido, as escolas se inserem com participação decisiva para a sua formação e para a condição de cidadãos políticos e sociais. Cabe, portanto, a escola a difícil tarefa de prepará-los para inserção nessa sociedade tão complexa e excludente, incapaz de lidar com as diferenças, pois segundo Mantoan (2003), a inclusão escolar faz repensar o papel da escola e conduz a adoção de posturas mais solidárias e para a convivência. 37 O papel da escola e do professor na inclusão A educação brasileira tem se demonstrado ineficiente para o atendimento da maioria de sua clientela, pois conforme ideia de Gurgel (2007), a educação especial foi tradicionalmente concebida como destinada a atender o deficiente mental, visual, auditivo, físico e motor, além daqueles que apresentam condutas típicas, de síndromes e quadros psicológicos, neurológicos e psiquiátricos. Também estariam inseridos nessa modalidade de ensino os alunos que possuem altas habilidades e superdotação. O conceito de inclusão é uma dificuldade a ser enfrentada pelos professores das escolas, necessita de tempo para ser implementado, da mudança de paradigmas e concepções de educadores, de um projeto que seja tomado como de toda a escola e concomitante a isso, é necessário a mudança de práticas escolares, permitindo o acesso de alunos com necessidades educacionais especiais, mas antes de tudo, buscando garantir sua permanência nos espaços regulares de ensino. Rosseto nos diz que a inclusão é um programa a ser instalado no estabelecimento de ensino a longo prazo. Não corresponde a simples transferência de alunos de uma escola especial para uma escola regular, de um professor especializado para um professor de ensino regular. O programa de inclusão vai impulsionar a escola para uma reorganização. A escola necessitará ser diversificada o suficiente para que possa maximizar as oportunidades de aprendizagem dos alunos com necessidades educativas especiais (2005, p. 42). 38 As dificuldades no processo de inclusão formam uma rede de situações que vão influenciando umas às outras, gerando, novos processos de exclusão dos alunos. Mantoan (2003) acredita que recriar um novo modelo educativo com ensino de qualidade, que diga não é a exclusão social, implica em condições de trabalho pedagógico e uma rede de saberes que entrelaçam e caminham no sentido contrário do paradigma tradicional de educação segregadora. É uma reviravolta complexa, mas possível, basta que lutemos por ela, que nos aperfeiçoemos e estejamos abertos a colaborar na busca dos caminhos pedagógicos da inclusão. Pois nem todas as diferenças necessariamente inferiorizam as pessoas. Ela tem diferenças e igualdades, mas entre elas nem tudo deve ser igual, assim como nem tudo deve ser diferente. Santos apud MANTOAN, diz que “é preciso que tenhamos o direito de sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza e o direito de sermos iguais quando a diferença nos inferioriza” (2003, p. 79). Os alunos com necessidades educacionais especiais requerem um trabalho específico, com ferramentas e posturas diferenciadas dos demais alunos, para que possam atender e se desenvolver. Nessa perspectiva, a dificuldade apresentada pelo aluno não é o parâmetro fundamental, mas as potencialidades, as possibilidades de descobrir outras formas de conhecer. Incluir requer, portanto, uma postura crítica dos educadores e dos educandos em relação aos saberes escolares e à forma como os mesmos podem ser trabalhados. Incluir implica considerar que a escola não é uma estrutura pronta, acabada, inflexível, mas uma estrutura que deve acompanhar o ritmo dos alunos, em um processo que requer diálogo nos grupos de trabalho, na relação com a comunidade escolar e com os outros campos do conhecimento. Também é importante destacar o papel do professor, diante dos alunos com necessidades educacionais especiais, em colaborar com o desenvolvimento integral do aluno, respeitando as diferenças e valorizando as potencialidades de cada um; oferecer um espaço em que o aluno possa aprender e se perceber como sujeito ativo na construção do conhecimento, por meio de atividades individualizadas e também em grupo, para que haja uma cooperação entre os alunos e para que esse processo se desenvolva de forma conjunta, pois é na relação com o outro que o sujeito se constitui e se transforma; trabalhar em 39 parceria com a equipe especializada que acompanha o aluno, dentro e/ou fora da escola, bem como com as respectivas famílias, com o intuito de ampliar as possibilidades de inclusão. O ofício do professor não pode mais ser visto como vocação, e sim como profissão que requer muito estudo, reflexão e uma prática realmente transformadora. A capacitação docente é um dos meios de começar a mudança na qualidade do ensino para criar contextos educacionais inclusivos, capazes de propiciar a aprendizagem de todos os alunos, respeitando ritmos, tempos, superando barreiras físicas, psicológicas, espaciais, temporais, culturais, dentre outras. A formação de professores para a inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais não deve se restringir a torná-los conscientes das potencialidades dos alunos, mas também de suas próprias condições para desenvolver o processo de ensino inclusivo. Portanto, a inclusão consiste em adequar os sistemas gerais da sociedade, de tal modo, que sejam eliminados os fatores que excluíam certas pessoas do seu meio e as mantinham afastadas. A eliminação de tais fatores deve ser um processo contínuo e concomitante com o esforço que a sociedade deve empreender no sentido de acolher todas as pessoas independentemente de suas diferenças individuais e de suas origens na diversidade humana. Para que haja a inclusão, a sociedade, deve ser modificada a partir do entendimento de que ela é e precisa ser, capaz de atender às necessidades de seus membros. A inclusão, social e escolar, exige mudança de mentalidade, mudança nos modos de vida, muitas reflexões e, como princípio fundamental, valorizar a diversidade humana. Ela é importante para o desenvolvimento social, pois iremos trabalhar com os novos indivíduos que irão ditar as regras e padrões da nova sociedade que estaria se formando, por meio da nova geração. Através da convivência com as diferenças, as crianças vão construindo o processo para inclusão social, um mundo melhor, no qual todos saem ganhando. Aceitar e valorizar a diversidade das classes sociais, de culturas, de estilos individuais de aprender, de habilidades, de línguas, de religiões e etc, é o primeiro passo para a criação de uma escola de qualidade para todos. 40 Educando todos os alunos juntos, as pessoas com deficiências têm oportunidade de preparar-separa a vida na comunidade, os professores melhoram suas habilidades profissionais e a sociedade toma a decisão consciente de funcionar de acordo com o valor social da igualdade para todas as pessoas, com os consequentes resultados de melhoria da paz social (STAINBACK; STAINBACK, 1999, p. 21). O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na escola regular decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir progressos significativos desses alunos na escolaridade, por meio da adequação das práticas pedagógicas à diversidade dos aprendizes. E só se consegue atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada. Para que as escolas sejam verdadeiramente inclusivas, ou seja, abertas à diversidade, há que se reverter o modo de pensar, e de fazer educação nas salas de aula, de planejar e de avaliar o ensino e de formar e aperfeiçoar o professor, especialmente os que atuam no ensino fundamental. Entre outras inovações, a inclusão implica também em uma outra fusão, a do ensino regular com o especial e em opções alternativas/aumentativas da qualidade de ensino para os aprendizes em geral (BELISÁRIO, 2005, p. 130). A inclusão do aluno com alguma deficiência também requer a inclusão dos próprios professores de modo que estes disponham de um ambiente favorável à reflexão da prática e os sentimentos que a presença de uma dada peculiaridade suscita. É preciso investir na construção de um espaço de escuta desses profissionais, para que possam dar vazão aos sentimentos sejam estes de amor, de raiva, dor, angústia, frustação ou (in)satisfação, compartilhando e re(significando) sua experiência. O desafio de ensinar a todos os alunos, na escola que se quer inclusiva, exige, portanto, o compromisso com indagações, de modo que consiga subverter o ideal de turmas homogêneas à revelia de quadros diagnósticos pré-definidos. Incluir significa ver além da deficiência e as diferenças consideradas peculariedades que a escola precisa se dispor a acolher. Precisamos rever a nós 41 mesmos, sujeitos da ação, reconhecendo nossas atitudes, valores, limites, preconceitos, desejos e possibilidades, enquanto elementos contribuintes na efetivação do arquétipo inclusivo. Com a inclusão, torna-se grande o comprometimento de todos e a preocupação da escola em criar condições para que sejam supridos possíveis impasses estruturais, funcionais e formativos de seu corpo docente. Uma sociedade inclusiva vai bem além de garantir apenas espaços adequados para todos. Ela fortalece as atitudes de aceitação das diferenças individuais e de valorização da diversidade humana e enfatiza a importância do pertencer, da convivência, da cooperação e da contribuição que todas as pessoas podem dar para construírem vidas comunitárias mais justas, mais saudáveis e mais satisfatórias (SASSAKI, 2010, p. 172). 42 CONCLUSÃO A deficiência múltipla mais do que a soma de várias deficiências, trás diversas consequências no desenvolvimento da criança tanto na sua maneira de conhecer o mundo quanto no desenvolvimento das habilidades adaptativas. No âmbito escolar, é imprescindível o educador estar atento às competências e necessidades do aluno com deficiência múltipla. É necessário ainda propiciar um ambiente lúdico, buscar atividades adaptadas e funcionais que favoreçam o desenvolvimento da comunicação e das interações sociais dos alunos, respeitando os limites é o tempo de cada educando. Esses fatores podem determinar o sucesso na aprendizagem dos alunos com deficiência múltipla. Desejar uma sociedade acessível e se empenhar pela sua construção não pode significar o impedimento de acesso das pessoas com deficiência aos serviços atualmente oferecidos, pelo contrário, deve-se manter o olhar no ideal, mas os pés na realidade. A inclusão envolve mudanças em todas as pessoas e é um trabalho longo e desafiador. Igualdade de oportunidades é um desejo de muitas pessoas para um futuro, que esperamos, seja breve. 43 REFERENCIA BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL. LDB 4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. BRASIL. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA E LINHA DE AÇÃO SOBRE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS. BRASÍLIA: CORDE, 1996. BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. PARÂMETROS CURRICULARES ACIONAIS: ADAPTAÇÕES CURRICULARES. BRASÍLIA: MEC/SEF/SEESP, 1999. ADEFIB, ASSOCIAÇÃO DOS DEFICIENTES FÍSICOS DE BETIM. DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA. DISPONÍVEL EM HTTP://WWW.ADEFIB.ORG.BR/INDEX.PHP/DEFICIENCIA- MULTIPLA . ACESSADO EM 28/12/2013. BRASIL, DECRETO Nº. 5.296 DE 2 DE DEZEMBRO DE 2004 – DOU DE 3/12/2004. DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.PLANALTO.GOV.BR/CCIVIL/_ATO2004- 2006/2004/DECRETO/D5296.HTM#ART70 . ACESSADO EM 28/12/2013. ________, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL. POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL. BRASÍLIA: MEC/SEESP, 1994. CAMPOS, SHIRLEY DE. SURDOCEGUEIRAE MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA SENSORIAL. DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.DRASHIRLEYDECAMPOS.COM.BR/NOTICIAS/13379 . 44 ACESSADO EM 29/12/2013. FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES (FENAPAES). EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TRABALHO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS INTELECTUAL E MÚLTIPLA. BRASÍLIA, DF: FENAPAES. 2007. GODÓI, ANA MARIA DE. EDUCAÇÃO INFANTIL. SABERES E PRÁTICAS DA INCLUSÃO: DIFICULDADES ACENTUADAS DE APRENDIZAGEM: DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA. 4.ED. BRASÍLIA: MEC, 2006. SASSAKI, ROMEU KAZUMI. INCLUSÃO: CONSTRUINDO UMA SOCIEDADE PARA TODOS. RIO DE JANEIRO: WVA, 2003. SBARAINI, ALEX MADRUGA DA ROSA. DEFICIÊNCIAS MÚLTIPLAS. DISPONÍVEL EM SILVA, ADILSON FLORENTINOI DA. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS : DEFICIÊNCIA FÍSICA. BRASÍLIA : MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2006. SILVA, YARA CRISTINA ROMANO. DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA: CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO. ANAIS ELETRÔNICO VIIII EPCC – ENCONTRO INTERNACIONAL DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA CESUMAR. CESUMAR – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. EDITORA CESUMAR MARINGÁ – PARANÁ, 2011. NASCIMENTO, FÁTIMA ALI ABDALAH ABDEL CADER. EDUCAÇÃO INFANTIL. SABERES E PRÁTICAS DA INCLUSÃO: DIFICULDADE DE COMUNICAÇÃO E SINALIZAÇÃO: SURDOCEGUEIRA/ MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA SENSORIAL. 4.ED. BRASÍLIA: MEC, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2006. 45 TEIXEIRA, E. & NAGLIATE, P. DE C. DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA: CONCEITO. IN: COSTA, M. DA P. R. DA (ORG.). MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA: PESQUISA& INTERVENÇÃO. PEDRO & JOÃO EDITORES, SÃO CARLOS, SP, 2009. CORMEDI, M. A. A COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA NO CENTRO DE RECURSOS PARA SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA. IN: DELIBERATO, D.; GONÇALVES, M. DE J. & MACEDO, E. C. DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA: TEORIA, PRÁTICA, TECNOLOGIAS E PESQUISA. MEMMON EDIÇÕES CIENTÍFICAS. SÃO PAULO, 2009. DELIBERATO, D. COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA: RECURSOS E PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NO PROCESSO DE INCLUSÃO DO ALUNO COM SEVERO DISTÚRBIO NA COMUNICAÇÃO. 2006. DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.UNESP.BR/PROGRAD/PDFNE2005/ARTIGOS/CAPITULO%204/COMUN ICACAOALTERNATIVA.PDF . PASSONI, I. R. TECNOLOGIA ASSISTIVA NAS ESCOLAS. SÃO PAULO, SP: INSTITUTO DE TECNOLOGIA SOCIAL. 1998. DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.ASSISTIVA.ORG.BR/SITES/DEFAULT/FILES/TECNOASSISTIVA.PDF.
Compartilhar