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Apuração de ICMS e IPI a pagar - Apostila

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CONTABILIDADE 
COMERCIAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Identificar os principais tributos incidentes sobre a compra e venda de 
mercadorias.
 > Definir a forma de contabilizar o ICMS e o IPI.
 > Explicar como se apura o ICMS e o IPI: a recuperar (ativo) e a recolher 
(passivo).
Introdução
Segundo dados da Receita Federal do Brasil (RFB) publicados em 2020, os tributos 
incidentes sobre bens e serviços representaram mais de 44,74% da arrecadação 
total no país, representando quase o dobro da segunda maior fonte de arreca-
dação dos entes — os encargos sobre a folha de salários, que representavam 
27,39% (BRASIL, 2020). Desde 2009, ano em que se iniciou o acompanhamento 
desses dados, o panorama tem se mantido. A tributação sobre bens e servi-
ços — categoria em que estão compreendidos o Imposto sobre Circulação de 
Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Produtos Industrializados 
(IPI) — representa a maior fonte de arrecadação do estado brasileiro. 
As operações de compra e venda de mercadorias, sobre as quais incidem 
os tributos mencionados, são complexas e frequentemente envolvem diversos 
entes da federação. Ainda, têm sistemáticas de cálculo bastante peculiares. 
Todos esses aspectos demandam uma dedicação especial ao tema da tributação 
incidente sobre a compra e a venda de mercadorias.
Apuração de ICMS 
e IPI a pagar
Ronaldo Akiyoshi Nagai
Assim, neste capítulo, você vai estudar os principais tributos incidentes sobre 
a compra e a venda de mercadorias e os seus fundamentos. Você também vai 
aprender sobre a base de cálculo, a alíquota e o fato gerador das principais 
operações, além da forma de contabilização dos tributos.
Tributos sobre a compra e a venda de 
mercadorias
Diversas são as formas de classificação de tributos. Podemos classificar os 
tributos conforme a competência de quem os institui ou cobra (por exemplo, 
um tributo de competência federal, estadual ou municipal), conforme o fato, 
a operação ou o evento tributado (patrimônio e renda, comércio exterior, 
produção e circulação) ou conforme a espécie. Neste capítulo, trataremos 
dessas últimas duas classificações. 
Via de regra, encontramos três espécies tributárias, quais sejam: os im-
postos, as taxas e as contribuições. Segundo Schoueri (2019): 
 � os impostos são as espécies que se prestam a ser índice de capaci-
dade contributiva, não vinculados, servindo de fonte de receita para 
o financiamento dos gastos gerais dos entes, sendo exemplos o ICMS, 
o IPI, o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), o Imposto 
sobre Operações Financeiras (IOF), o Imposto de Renda Pessoa Jurídica 
(IRPJ) e Pessoa Física (IRPF), entre outros;
 � as taxas são cobradas para cobrir os custos do Estado no exercício do 
seu poder de polícia ou na prestação de serviços públicos específicos 
e divisíveis (e, portanto, vinculados à atividade estatal), como a taxa 
de emissão de passaporte, a taxa de lixo, entre outras;
 � as contribuições são vinculadas a uma atuação estatal, não voltada 
diretamente ao contribuinte, mas a um grupo do qual esse contribuinte 
faz parte, sendo exemplos as contribuições sociais e as contribuições 
de melhoria.
Com relação ao evento, à operação ou ao fato tributado, nos basearemos 
no Código Tributário Nacional (CTN — Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966) 
(BRASIL, 1966). O Título II da referida Lei trata dos impostos. Por sua vez, 
os Capítulos II, III e IV discorrem, respectivamente, sobre os impostos sobre 
o comércio exterior (arts. 19 a 28), os impostos sobre o patrimônio e a renda 
(arts. 29 a 45) e os impostos sobre a produção e a circulação (arts. 46 a 73). 
Apuração de ICMS e IPI a pagar2
Além do CTN, destacamos a importância de se conhecer a Lei Complementar 
nº 87, de 13 de setembro de 1996, a famosa Lei Kandir, que dispõe sobre o 
ICMS. A seguir, serão apresentados esses tributos com base na legislação, além 
da regra matriz de incidência tributária e exemplos práticos de incidência.
Regra matriz de incidência tributária
O termo “regra matriz de incidência tributária” foi cunhado pelo 
professor Paulo de Barros Carvalho. Trata-se de um método para compreender 
o fenômeno jurídico-tributário, estruturando-o em antecedente e consequente. 
No antecedente (o da hipótese tributária), devemos analisar os aspectos material 
(o quê), espacial (onde) e temporal (quando). No consequente, analisam-se os 
aspectos pessoal (quem) e quantitativo (quanto). Esquematicamente, temos o 
seguinte:
 
Regra matriz de 
incidência 
tributária
Antecedente 
(hipótese)
Aspecto material (o quê?)
Quais são as hipóteses de incidência e o fato 
gerador?
Aspecto espacial (onde?)
Em que local é devido?
Aspecto temporal (quando?)
Em que momento ocorre o fato gerador?
Consequente
Aspecto subje�vo (quem?)
Quem poderá cobrar (sujeito a�vo) e quem 
vai pagar o tributo (sujeito passivo)?
Aspecto quan�ta�vo (quanto?)
Qual é o valor a ser pago (base de cálculo e 
alíquota)?
IPI
Segundo o inciso IV do art. 153 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), 
compete à União instituir imposto sobre produtos industrializados. O CTN, 
por sua vez, dispõe sobre os critérios da regra matriz de incidência tributária 
apresentada anteriormente. Tais critérios são descritos a seguir.
Apuração de ICMS e IPI a pagar 3
 � Aspecto material: industrialização, entendida como a modificação 
da natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a 
finalidade do produto.
 � Aspecto espacial: território nacional, sendo o local de ocorrência do 
fato gerador aquele em que se localiza o estabelecimento industrial 
ou equiparado.
 � Aspecto temporal: o momento do desembaraço aduaneiro de produtos 
estrangeiros e a saída de produto do estabelecimento industrial ou 
equiparado ao industrial.
 � Aspecto subjetivo: conforme o art. 51 do CTN, de forma geral, o con-
tribuinte é o importador ou o equiparado (inciso I), o industrial ou o 
equiparado (inciso II); o sujeito passivo é a União.
 � Aspecto quantitativo: disposto no art. 47 do CTN. A base de cálculo 
é: valor aduaneiro + imposto de importação (II) + taxas e encargos 
cambiais no caso de desembaraço aduaneiro, e o valor da operação 
na saída de produto do estabelecimento industrial. Já a alíquota é 
variável conforme a essencialidade do produto e poderá ser conferida 
na tabela de incidência do IPI (TIPI).
Tabela de incidência do IPI
A TIPI apresenta uma lista de produtos baseada na Nomenclatura 
Comum do Mercosul (NCM). Os diversos produtos previstos na TIPI são divididos 
em seções, que agrupam produtos de categorias semelhantes. As alíquotas de IPI 
são relacionadas à NCM de cada produto e podem variar de 0 a 300%, conforme 
a essencialidade do bem e/ou a estratégia político-econômica da administração 
federal. A TIPI pode ser consultada no site da RFB.
ICMS
Segundo o inciso II do art. 155 da CF/1988, compete aos Estados e ao Dis-
trito Federal instituir impostos sobre operações relativas à circulação de 
mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e 
intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações 
se iniciem no exterior. A Lei Kandir e a CF/1988 dispõem sobre os critérios 
da regra matriz de incidência tributária apresentada anteriormente (BRASIL, 
1996, 1988).
Apuração de ICMS e IPI a pagar4
 � Aspecto material: é a operação mercantil relativa à circulação de mer-
cadoria e à prestação de serviços de transporte e de comunicação. 
Destaca-se o atributo “mercantil”, pois a mera circulação de mercadoria 
entre estabelecimentos, como as simples remessas entre uma unidade 
e outra, não se sujeitam à tributação de ICMS. As operações com energia 
elétrica também serão tributadas pelo ICMS.
 � Aspecto espacial: qualquer local do território estadual, nas hipóteses 
do art. 11 da Lei Kandir.
 � Aspecto temporal: conforme o art. 12 da Lei Kandir, engloba o momento 
da saída da mercadoria do estabelecimento do contribuinte, do desem-
baraço aduaneiro de mercadorias ou bens importados do exteriore as 
demais hipóteses específicas elencadas no referido artigo.
 � Aspecto subjetivo: o sujeito ativo é o Estado, sendo o sujeito passivo 
aquele que realiza operação mercantil de circulação de mercadoria, 
bem como o importador de bem.
 � Aspecto quantitativo: conforme o art. 13 da Lei Kandir, a base de cálculo 
é o valor da operação na saída da mercadoria do estabelecimento 
contribuinte, nos casos de venda de mercadoria. Nos casos de impor-
tação, abrange a soma do valor da mercadoria ou do bem constante 
no documento de importação, o imposto de importação, o IPI, o IOF 
e os demais impostos, taxas, contribuições e despesas aduaneiras. 
As alíquotas aplicáveis são determinadas pela lei estadual.
Ainda sobre as alíquotas de ICMS, a determinação segue a mesma lógica 
da seletividade em função da essencialidade do bem ou serviço observada 
no IPI. Via de regra, na maioria dos Estados brasileiros, temos três faixas de 
alíquotas de ICMS:
 � 7 a 12% para produtos essenciais e básicos (geralmente do gênero 
alimentício);
 � 17 e 18% para os mais diversos produtos (alíquota base e geral); e
 � 25% ou mais para os bens considerados não essenciais (por exemplo, 
bebidas alcóolicas, armas e munições, cigarros), além de energia elé-
trica, telecomunicações e combustíveis, que, apesar de serem essenciais 
no mundo moderno, tiveram altas alíquotas fixadas pelos Estados. 
A fixação dessas alíquotas é uma faculdade de cada Unidade da Federação 
e aplica-se às operações que ocorrem dentro de seus territórios.
Apuração de ICMS e IPI a pagar 5
Outro aspecto, distinto da ideia de essencialidade já discutida, está rela-
cionado à origem e ao destino das operações interestaduais, que obedecem 
a seguinte regra:
a) origem da operação nos Estados do Sul (Rio Grande do Sul, Santa 
Catarina e Paraná) e do Sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Rio de 
Janeiro), exceto o Espírito Santo, e destino para os demais Estados: 
aplicação da alíquota de 7%;
b) todas as demais operações: aplicação da alíquota de 12%.
A regra tem como fundamento desonerar a carga tributária de ICMS nas 
operações interestaduais em que o destinatário se encontra fora do eixo 
Sul-Sudeste, considerado pelo legislador como mais desenvolvido economi-
camente, e, com isso, promover um equilíbrio no desenvolvimento regional 
brasileiro.
Sistemática de apuração do ICMS e do IPI
Tanto no caso do ICMS quanto no do IPI, há que se observar o princípio da 
não cumulatividade. Para o ICMS, ele está previsto no inciso I, § 2º, do art. 155 
da CF/1988 e no art. 19 da Lei Kandir. Para o IPI, ele está previsto no inciso II, 
§ 3º, art. 153 da CF/1988 e no art. 49 do CTN. A seguir, será apresentada essa 
sistemática.
Princípio da não cumulatividade: sistemática de 
créditos e débitos 
Pela regra da não cumulatividade, o contribuinte poderá compensar o mon-
tante devido em uma operação com o imposto recolhido nas operações 
anteriores. A aplicação dessa sistemática possibilita que o contribuinte não 
calcule tributos sobre bases já tributadas; dessa forma, a base de cálculo 
na prática será sempre o valor acrescido (ou agregado) em cada operação.
Nas aquisições de insumos, o contribuinte reconhece o montante dos 
impostos incidentes, um direito seu, como “créditos” que poderão ser recu-
perados nas operações subsequentes, chamando-os de “IPI a recuperar” e 
“ICMS a recuperar”. Por outro lado, a cada operação de saída de produtos, 
há o registro de “débitos”, que representam os valores a serem recolhidos 
pelos contribuintes, sendo chamados de “IPI a recolher” e “ICMS a recolher”.
Apuração de ICMS e IPI a pagar6
Periodicamente (via de regra em bases mensais), o contribuinte realiza um 
“balanço” dos débitos e créditos dos impostos. Caso o montante de débitos 
seja superior ao dos créditos, deve-se recolher a diferença à União ou ao 
Estado. Caso os créditos sejam superiores aos débitos, a diferença poderá 
ser acumulada para ser compensada em momento posterior. Veja um exemplo 
numérico a seguir.
A não cumulatividade do IPI e do ICMS
Imagine a seguinte cadeia econômica: um produtor de minério de 
ferro, que vende a matéria-prima a uma indústria de máscaras e armaduras de 
ferro. Esta, por sua vez, vende a sua produção a um varejista de bairro. 
Para simplificarmos a nossa conta, vamos supor que o produtor de minério de 
ferro venda a matéria-prima necessária para fabricação de uma máscara e uma 
armadura de ferro por $100,00 à indústria. Nessa primeira operação (Operação 
1), a produtora de matéria-prima vai recolher $10,00 de IPI ($100 × 10%) e $18,00 
de ICMS ($100 × 18%).
A indústria de armaduras e máscaras de ferro adquire esse insumo e, nesse 
momento, apropria os créditos de IPI e ICMS pagos pela empresa de mineração 
na Operação 1, reconhecendo o “IPI a recuperar” e o “ICMS a recuperar”. Quando 
realiza a operação dos produtos manufaturados ao comerciante (Operação 2) 
por $200, deve registrar um “IPI a recolher” de $20 ($200 × 10%) e um “ICMS a 
recolher” de $36 ($200 × 18%). No final do período de apuração, comparará o 
saldo de ICMS e IPI que tem de crédito ($10 de IPI e $18 de ICMS) e compensará 
com os valores de débito ($20 de IPI e $36 de ICMS). A diferença será o valor de 
ICMS e IPI a ser recolhido ($10 de IPI e $18 de ICMS).
Atenção agora à Operação 3. Veja que agora o sujeito passivo dos impostos 
é um comércio. Vimos na seção anterior, quando discutimos a regra matriz 
de incidência tributária do IPI, que o aspecto material é a industrialização, 
entendida como a modificação da natureza, o funcionamento, o acabamento, 
a apresentação ou a finalidade do produto. Já no aspecto subjetivo, o contribuinte 
do imposto é o importador, o industrial ou os equiparados.
Tratando-se atividade unicamente comercial, não há hipótese de incidência 
tributária do IPI, tampouco um sujeito passivo contribuinte do IPI. Logo, na 
venda do produto pelo comerciante ao consumidor final, teremos tão somente 
a incidência de ICMS. Não havendo tributação de IPI na operação de venda, não 
há o que se falar em tomada de crédito desse imposto pelo comerciante. 
Apuração de ICMS e IPI a pagar 7
Operação (1):
venda de matéria-
-prima por $100
Operação (2):
venda de produto
fabricado por $200
Operação (3):
venda ao consumidor
final por $300
Isso significa que não há o ônus (peso) do IPI nessa operação? Negativo! 
Veja que, na Operação 2, a indústria recolheu o IPI e o repassou no custo do 
produto ao estabelecimento comercial. O estabelecimento comercial, por sua 
vez, repassou esse valor no preço do produto. No final da história, toda a carga 
tributária dessa cadeia ($28,00 das Operações 1 e 2 e $18,00 da Operação 3, 
totalizando $74,00) foi suportada pelo consumidor final.
Referente à apropriação de créditos de ICMS, há uma situação específica 
em que devemos ter mais atenção. Trata-se do crédito apurado na aquisição de 
bens do ativo imobilizado. A primeira regra envolvendo a tomada de créditos 
do ativo imobilizado se refere aos bens admitidos. Pela disposição do art. 20 
da Lei Kandir, o contribuinte poderá se apropriar dos créditos dos bens do 
ativo imobilizado quando estes são diretamente relacionados ao seu processo 
de produção ou comercialização de mercadorias. A segunda regra se refere 
ao prazo permitido para a apropriação de tais créditos. Conforme o inciso I, 
§ 5º, do art. 20 da Lei Kandir, os créditos oriundos da operação de aquisição 
desses ativos devem ocorrer à razão de 1/48 por mês.
A regra é intuitiva e lógica: só podemos tomar créditos de compras e 
aquisições que resultaram em saídas tributadas subsequentes. No caso dos 
ativos imobilizados, a saída tributada subsequente ocorrerá em “diversas 
parcelas futuras”, pois a máquina estará à disposição da empresa por meses, 
quiçá anos, gerando produtos tributados durante o seu tempo de vida útil.
Apuração de ICMS e IPI a pagar8
Cálculo de ICMS e IPI na operação de venda
Vimos no exemplo anterior que os tributos incidentes na cadeia são repas-
sados pelas empresasno valor de venda do produto. Mas como esse cálculo 
é realizado? No caso do ICMS, utilizamos uma sistemática de cálculo deno-
minada “cálculo por dentro”. Essa sistemática consiste em aplicar a seguinte 
fórmula matemática:
Preço de venda (com ICMS) =
Preço de venda (sem ICMS)
(1 − alíquota % do ICMS)
 
A aplicação dessa fórmula evita a redundância do cálculo do ICMS, uma 
vez que o imposto é calculado com base na aplicação da alíquota sobre o 
valor da operação mercantil. A questão da redundância fica mais clara no 
exemplo a seguir.
ICMS: redundância do cálculo “por fora” e do cálculo “por dentro” 
na operação de venda
Para este exemplo, vamos imaginar uma operação de venda de R$100,00 com 
alíquota de ICMS de 18%. Realizando o cálculo “por fora”, teríamos a seguinte 
situação:
 � Preço de venda sem ICMS (base de cálculo): R$100,00
 � Alíquota de ICMS: 18%
 � ICMS na operação (cálculo “por fora”): R$18,00
 � Preço de venda com ICMS: R$118,00
Ocorre que, como o preço de venda (agora com ICMS) se tornaria o novo valor 
da operação de saída, a nova base de cálculo do imposto seria de R$118,00, 
devendo ocorrer a aplicação da alíquota de 18% sobre esse valor. Note que esse 
processo nunca terminaria, pois sempre precisaríamos somar o ICMS calculado 
ao preço de venda, resultando em uma nova base de cálculo.
Para resolver esse problema da redundância, propõe-se adotar a sistemática 
do cálculo “por dentro”. Veja como ficariam os cálculos utilizando os mesmos 
dados do exemplo:
 � Preço de venda sem ICMS (base de cálculo): R$100,00
 � Alíquota de ICMS: 18%
Apuração de ICMS e IPI a pagar 9
 � Preço de venda com ICMS: 
100
(1 − 0,18)
=
100
0,82
= R$121,95 
Preço de venda (com ICMS) =
Preço de venda (sem ICMS)
(1 − alíquota % do ICMS)
 
 � ICMS na operação (cálculo “por dentro”): R$21,95
Do total do preço de venda de R$121,95, o ICMS corresponderá a R$21,95, 
e o restante é exatamente o preço de venda sem o imposto. 
Por outro lado, no caso do IPI, realizamos o cálculo “por fora”. Nesse caso, 
a alíquota do imposto é aplicada sobre o valor da venda, acrescido ao final 
para resultar no valor da operação. Nesse caso, a sistemática é simples e 
segue o primeiro exemplo do ICMS. Contudo, não incorreremos na questão 
da redundância, uma vez que o IPI não integra o valor da própria operação 
nos documentos fiscais. 
Em relação ao IPI, demanda-se atenção em alguns casos específicos em 
que o imposto será incluído na base de cálculo do ICMS. Segundo o inciso 
XI, § 2º, do art. 155 da CF/1988 e o art. 13, § 2º, da Lei Kandir, o IPI integrará a 
base de cálculo do ICMS nas hipóteses em que:
 � a operação não for realizada entre contribuintes;
 � o objeto da operação for produto não destinado à industrialização ou 
à comercialização; e
 � a operação não configurar fato gerador de ambos os impostos.
De modo prático, as hipóteses apresentadas ocorrem quando a operação 
for realizada com consumidor final não contribuinte do ICMS e referir-se a 
produto destinado ao ativo fixo ou ao uso ou consumo do adquirente, ainda 
que este seja contribuinte do ICMS. A fórmula do ICMS “por dentro” com a 
inclusão do IPI na base de cálculo será a seguinte:
Preço de venda (com ICMS) =
Preço de venda (sem ICMS)
1 − [alíquota % do ICMS × (1 − alíquota do IPI)]
 
Veja a seguir um exemplo que ilustra os impactos da inclusão do IPI na 
base de cálculo do ICMS.
Apuração de ICMS e IPI a pagar10
IPI: inclusão na base de cálculo do ICMS
Para este exemplo, vamos imaginar a mesma operação de venda 
de R$100,00, de contribuinte para contribuinte, com alíquota de ICMS de 18%. 
Vamos considerar também a alíquota de IPI de 20%. Realizando os cálculos “por 
fora” do IPI e “por dentro” do ICMS, teríamos a seguinte situação:
� Preço de venda sem ICMS (base de cálculo): R$100,00
� Alíquota de ICMS: 18%
� Preço de venda com ICMS: R$121,95 = R$100 / (1 – 0,18)
� IPI na operação (20%): R$24,38
� ICMS na operação (cálculo “por dentro”): R$21,95
Agora, se a mesma operação fosse realizada de contribuinte para não con-
tribuinte (um consumidor final, por exemplo), teríamos os seguintes valores:
R$100,00
18%
R$127,55 = R$100 / [1 – (0,18 × 1,2)¹]
R$25,51
� Preço de venda sem ICMS (base de cálculo):
� Alíquota de ICMS:
� Preço de venda com ICMS e IPI:
� IPI na operação (20%):
� ICMS na operação (cálculo “por dentro”): R$22,95
¹ Nota: veja que o valor de 1,2 na fórmula do “preço de venda com ICMS e IPI” 
tem origem na alíquota de IPI (20%) + 1 — ou seja, 1 + 0,2 = 1,2.
A partir do entendimento das formas de cálculo do IPI e do ICMS nas 
operações de venda, bem como das hipóteses em que o contribuinte poderá 
se apropriar de créditos tributários desses impostos, vejamos na seção a 
seguir como reconhecer essas operações na contabilidade.
Contabilização do ICMS e do IPI
Para fins didáticos, separaremos a contabilização do ICMS e do IPI em dois 
subtópicos, quais sejam: a contabilização nas operações de compra e nas 
operações de venda. Utilizaremos uma empresa fictícia para contar a sua 
jornada: a Limonetta S. A., uma empresa fabricante de refrescos naturais, 
com operações em todo o país. A Limonetta está em processo de expansão 
Apuração de ICMS e IPI a pagar 11
das suas atividades e está planejando a compra de novas máquinas para 
rotulagem (modelo XYZ MAX 2k), além do aumento do estoque de garrafas. 
Segundo as informações da contadora da companhia, o XYZ MAX 2k repre-
sentará um investimento de R$400 mil reais, com pagamento à vista, estando 
incluídos nesse valor 12% de ICMS. O valor estimado dos estoques de garrafas 
a serem adquiridos é de R$20 mil reais (pagamento também à vista), dentro 
de seu próprio Estado, onde a alíquota de ICMS para esse tipo de produto é 
de 12%, e a de IPI é 10%.
Por fim, espera-se que a produção seja totalmente vendida no mês sub-
sequente ao da produção, alcançando uma receita de venda de refrescos 
na ordem de R$900 mil reais. A operação é tributada em 12% de ICMS, e a 
consulta na TIPI sugeriu que os refrescos produzidos pela Limonetta S. A. são 
tributados à alíquota de 15% de IPI. 
Contabilização das operações de compra
Antes de iniciarmos a contabilização, vamos realizar os cálculos dos tributos 
nas operações de compra.
a) Compra da XYZ MAX 2k: 
 ■ Crédito de ICMS: 12% × R$400.000,00 = R$48.000,00
 ■ Crédito de ICMS (1/48 avos): R$1.000,00 por mês
b) Compra do estoque de garrafas: 
 ■ Crédito de ICMS: 12% × R$20.000,00 = R$2.400,00
 ■ Crédito de IPI: 10% × R$20.000,00 = R$2.000,00
A contabilização da compra da máquina XYZ MAX 2k ocorrerá da seguinte 
forma:
D – Ativo imobilizado (ativo não circulante) 352.000,00
D – ICMS a recuperar — circulante (ativo circulante) 12.000,00
D – ICMS a recuperar — não circulante (ativo não circulante) 36.000,00
C – Caixa / Bancos (ativo circulante) 400.000,00
Apuração de ICMS e IPI a pagar12
Nos razonetes:
Em seguida, a contabilização da compra de estoques de garrafas será da 
seguinte forma:
D – Estoques (ativo não circulante) 17.600,00
D – IPI a recuperar (ativo circulante) 2.000,00
D – ICMS a recuperar (ativo circulante) 2.400,00
C – Caixa / Bancos (ativo circulante) 22.000,00
Apuração de ICMS e IPI a pagar 13
Nos razonetes:
Note que os valores da máquina e dos estoques são reconhecidos na 
contabilidade pelo seu custo, e, dessa forma, os tributos recuperáveis não 
integram o seu valor. Observe também que, no caso do ICMS a recuperar do 
ativo imobilizado, devemos reconhecer uma parcela de curto prazo e outra 
de longo prazo, pois a totalidade dos créditos será usufruída ao longo de 48 
meses.
Contabilização das operações de venda
Antes de iniciarmos a contabilização, vamos realizar os cálculos dos tributos 
nas operações de venda.
c) Venda de toda a produção no mês subsequente: 
 ■ Receita de vendas: R$900.000,00
 ■ ICMS sobre venda (12%): 12% × R$900.000,00 = R$108.000,00
 ■ IPI sobre venda (15%): 15% × R$900.000,00 = R$135.000,00
Apuração de ICMS e IPI a pagar14
Acontabilização é a que segue:
C – Receita de vendas (resultado) 900.000,00
D – Caixa / bancos (ativo circulante) 900.000,00
D – ICMS sobre venda (resultado) 108.000,00
D – IPI sobre venda (resultado) 135.000,00
C – ICMS a recolher (passivo circulante) 108.000,00
C – IPI a recolher (passivo circulante) 135.000,00
Nos razonetes:
Contabilização do ICMS e do IPI a recolher
Conforme já discutido, os valores de ICMS e IPI a recolher no mês são obtidos 
confrontando-se os créditos e débitos registrados pela entidade. Dessa forma, 
caso os débitos superem os créditos, o saldo a recolher será o valor líquido. 
A contabilização das operações será a seguinte:
Apuração de ICMS e IPI a pagar 15
C – IPI a recuperar (ativo circulante) 2.000,00
C – ICMS a recuperar (ativo circulante) 14.400,00
D – IPI a recolher (passivo circulante) 2.000,00
D – ICMS a recolher (passivo circulante) 14.400,00
O saldo final de ICMS a recolher será de R$93.600,00, e o de IPI será de 
R$133.000,00.
Neste capítulo, percorremos a jornada do ICMS e do IPI, analisando as suas 
definições e os seus fundamentos jurídicos, além da regra matriz de incidência 
tributária e da forma de apuração desses tributos. Também foram verificados 
os aspectos práticos e contábeis, a forma de constituição dos créditos e a 
contabilização dos eventos relacionados à tributação sobre a venda, temas 
fundamentais para o profissional desta área. 
Referências 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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