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Aula consolidada-1 A 10- Historia da America-Colonizacao e Independencia

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História da América I
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Aula 1: Povos ameríndios originais
Apresentação
Nesta aula, estabeleceremos uma relação de diálogo com o processo de ocupação do território americano, observando que ela se deu de forma diferenciada por causas diversas, como a questão climática, os obstáculos naturais, a necessidade humana de reproduzir e dominar a natureza etc.;
Veremos também que, entre os povos ameríndios, os níveis diferenciados de desenvolvimento cultural foi decorrente da própria necessidade dos povos de intervir no meio ambiente para tornar possível a vida naquele território.
Objetivos
· Compreender o estudo sobre a origem da ocupação do continente americano.
· Compreender as teses mais aceitas pela arqueologia continental.
· Entender o processo de ocupação diferenciada do continente, que provocou a concentração populacional na área central continente e na região andina, onde hoje está o Peru.
· Compreender as diferenças no nível de desenvolvimento técnico dos diversos povos indígenas.
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Ocupação do território americano
A ocupação do território americano é um tema bastante controverso. De certo, sabemos que os ameríndios estavam aqui quando os europeus desembarcaram nas costas do continente.
Mas por que é importante saber a origem dos primeiros americanos 
e quando eles entraram no continente?
Porque a partir desse conhecimento é possível compreender alguns aspectos importantes da forma de ocupação do continente.
Poderemos analisar as origens de muitos dos aspectos culturais desenvolvidos em nosso continente e compreender questões referentes ao uso ou não de instrumentos de trabalho por esses povos que ocuparam todo o continente americano.
Ou seja, o trabalho realizado pela arqueologia americana é fundamental para compreender as organizações sociais dos povos ameríndios antes da chegada dos europeus.
Duas teses básicas se confrontam quando nos remetemos à origem de seres humanos no continente americano:
1. A primeira defende um único ponto de entrada de grupos humanos oriundos da Ásia.
2. A segunda defende as múltiplas entradas de origens e em tempos diferentes.
Estreito de Bering
A primeira tese é defendida basicamente pela arqueologia estadunidense. Eles acreditam que a entrada de humanos no continente americano se deu através do Estreito de Bering há cerca de 12.000 anos.
Essa tese se sustenta em descobertas arqueológicas feitas há mais de meio século na região do Alaska. Lá foram descobertos fósseis humanos, alguns muito bem preservados pelas baixas temperaturas.
Esses fósseis de homo sapiens oriundos da Ásia levou os arqueólogos do continente americano a aceitar a tese de que “ao fim da última era glacial, quando o Estreito de Bering era na verdade uma ligação entre os continentes asiático e americano, grandes levas de grupos humanos migraram por aquela área continental em busca de alimentos. A partir do Alaska, então, ocuparam o continente”.
No entanto, a partir da década de 1970, houve um grande desenvolvimento na arqueologia de outras partes do continente.
Arqueólogos chilenos, peruanos, mexicanos e brasileiros desenvolveram pesquisas sobre a ação das culturas humanas em seus territórios e algumas descobertas colocaram em xeque a tese da entrada única pelo Estreito de Bering. Os arqueólogos questionavam, principalmente, a datação de 12.000 anos como limite.
Uma das mais importantes descobertas foi a do fóssil de Luzia. Encontrada em Lagoa Santa, Minas Gerais, esse fóssil recebeu datação entre 11.500 e 16.400 anos, ou seja, não poderia o ser humano ter entrado no continente há 12.000 anos, pelo norte, e estar em 11.500 anos no meio da parte sul do continente.
A partir daí foram feitas novas descobertas no Chile e Peru que levaram a novos questionamentos. Desta vez, o ponto principal não era a data, mas a origem cultural, pois objetos descobertos não conectavam os povos que ali viviam com as sociedades de origem asiática. Apresentavam uma inclinação cultural para povos africanoides, a exemplo dos encontrados na Austrália, Nova Zelândia, Papua.
	Crânio de Luzia. | Fonte: Gian Cornachini. Disponível em: Wikimedia. Acesso em: maio 2019.
	Reconstituição de Luzia. | Fonte: Dornicke. Disponível em: Wikimedia. Acesso em: maio 2019.
Essas descobertas, somadas àquela feita no Brasil, gerou a tese 
da múltipla entrada em múltiplas datas.
Hoje, a datação mais aceita pela arqueologia internacional para a origem do homem americano gira em torno de 30.000 a 35.000 anos. Uma datação bastante elástica, que circunscreve a migração para o continente americano na última era glacial, que ocorreu entre 50.000 a.C. e 12.000 a.C.
É importante ressaltar que uma boa parte da arqueologia estadunidense ainda se mantém apegada à tese da entrada única pelo Estreito de Bering e atribui essas datações mais antigas a erros técnicos.
Por outro lado, existe também a tese da arqueóloga brasileira, Niéde Guidon, que afirma que o ser humano está em nosso continente há pelo menos 100 mil anos.
A imensidão do continente americano foi povoada de forma bastante heterogênea, obedecendo aos limites das condições ambientais e climáticas. Nas áreas mais hostis do continente a ocupação se deu em menor escala, mas essa regra não segue uma lei de proporção direta, ou seja, isso não significa dizer que áreas generosas eram populosas.
A ocupação do território
	VÍDEO 1: A ocupação do território 1
Profª Marina Senne
	
	VÍDEO 2: A ocupação do território 2
Profª Marina Senne
Ao longo do tempo, as áreas que foram conhecendo uma grande concentração populacional, foram aquelas em que as exigências ambientais 
e climáticas levaram o ser humano a desenvolver a agricultura.
O controle da produção de gêneros alimentícios gerou segurança para as sociedades e permitiu um grande aumento populacional em áreas como a Mesoamérica (América Central).
As características ambientais impuseram também comportamentos culturais a esses povos. Na maior parte do continente, seja ao norte ou ao sul, o nomadismo ou o seminomadismo eram comportamentos comuns dos povos dos planaltos do atual Estados Unidos, nas florestas equatoriais e tropicais da América do Sul ou ainda nas mais frias do continente, como no Alaska e no Canadá.
 
Povos nômades
O comportamento cultural nômade se dava de maneira variada e por motivos diferentes.
1. No planalto estadunidense os motivos eram as mudanças climáticas sazonais. No inverno, a escassez de alimentos obrigavam os povos que ali viviam a migrar em busca de áreas com maior oferta de alimentos.
2. Nos casos das regiões frias do Canadá e das florestas tropicais, as bases populacionais eram mais estáticas, podendo ocupar um território por dez anos ou mais no caso das áreas de florestas.
3. No entanto, passado um ciclo de contínua exploração alimentar dessas regiões, as mudanças de localização das tribos eram necessárias para manter a capacidade de provimento de nutrientes.
Como essas sociedades viviam basicamente da caça, da pesca e da coleta de alimentos, sendo a agricultura tratada como forma complementar de obtenção de alimentos, habitar uma área com grande diversidade de fauna e flora eram essenciais e as mudanças também eram fundamentais para que o ambiente explorado pudesse se recuperar.
Comentário
Compreendendo as circunstâncias ... Ainda hoje, podemos observar que tribos indígenas brasileiras que mantêm um comportamento cultural similar ao que observávamos nos tempos coloniais: precisam de uma extensa área territorial, pois como dependem dos recursos naturais para se alimentarem e extraem esses recursos da natureza, transformam a floresta no seu gigantesco supermercado, evitando esgotar os recursos de uma região para permitir a rápida recomposição.
É por isso que as reservas indígenas demarcadas são, normalmente, gigantescas. A relação dos indígenas com a floresta é simbiótica.
----------------------------------------------------------Povos sedentários
O sedentarismo na América ocorreu de forma similar ao que 
ocorreu em outras áreas do mundo.
A agricultura foi sendo desenvolvida para atender às necessidades alimentares dos povos, que ampliavam em número de indivíduos, mas não conseguiam obter da natureza uma fonte regular e permanente de recursos. A domesticação de plantas e animais foi a saída encontrada por diversos povos para garantir a sua existência.
Os povos, que buscaram na agricultura e na criação de animais a saída para suas deficiências alimentares, eram aqueles que habitavam regiões onde a natureza era escassa em recursos.
A necessidade de ocupar regiões escassas em recursos, somada às técnicas desenvolvidas na domesticação de animais e plantas foram os elementos circunstanciais que permitiram a sedentarização de diversos povos na América.
A região da América Central foi a que conheceu o maior nível de sedentarização e durante uma grande extensão temporal. Os arqueólogos apontam vestígios de povos sedentários desde 1.000 a.C., com um bom grau de desenvolvimento cultural.
Pouco antes da chegada dos espanhóis na região da América Central existiam diversos povos sedentarizados com níveis elevadíssimos de desenvolvimento cultural naquela região, por exemplo:
Olmecas, Maias e Astecas são apenas alguns dos exemplos que podemos citar de sociedades sedentarizadas daquela região.
 Olmecas Maias Astecas
Além da América Central, outra região que conheceu desenvolvimento histórico similar foi o altiplano peruano. Ali também se desenvolveu uma sociedade sedentarizada, cuja produção alimentar era feita com a utilização de uma técnica peculiar e típica daquele povo. A produção de alimentos era feita em terraços, ou seja, cortes feitos nas montanhas onde eram plantados diversos tipos de alimentos.
A diferença mais importante entre o processo de sedentarização na América Central e no Altiplano foi o momento em que cada um aconteceu. Enquanto na Mesoamérica, como já vimos, esse processo se deu em milhares de anos; no Altiplano era relativamente recente, quando da chegada dos espanhóis.
Na próxima aula compreenderemos melhor essa temática.
Concluindo...
Observamos, nesta aula, que o processo de ocupação do território americano não aconteceu de forma homogênea e monocultural. Querer unificar esse processo, nomeando os povos que aqui viviam de índios, sem observar suas diferenças culturais e os diferentes processos históricos no desenvolvimento de suas culturas é negar a possibilidade de diversidade cultural entre os seres humanos, ou ainda estabelecer como possível a hierarquização das culturas humanas, como se uma cultura com mais técnicas fosse superior à outra que não precisava das técnicas para obter a sua sobrevivência.
Sejam nômades, seminômades ou sejam sedentarizados, os povos que ocuparam a América antes da chegada dos europeus eram grupamentos humanos organizados em sociedades complexas e com grande aparato cultural, que precisam ser estudados e valorizados. Afinal, muitos dos seus aspectos ainda estão presentes nas sociedades atuais.
VÍDEO 3: a invenção da América
 Profª Marina Senne
Atividade
Analise as afirmativas a seguir :
I. A forma de ocupação da América foi dada por um único ponto de entrada de grupos humanos oriundos da Ásia.
II. Jamais pode-se defender as múltiplas entradas de origens e em tempos diferentes.
III. A região da América Central foi a que conheceu o maior nível de sedentarização e durante uma grande extensão temporal.
Podemos afirmar que:
a. apenas a afirmativa II está correta.
b. apenas a afirmativa III está correta.
c. apenas as afirmativas II e III estão corretas.
d. todas as afirmativas estão corretas.
Referências
FURTADO, Celso. A economia latino-americana: formação histórica e problemas contemporâneos. 4. ed. São Paulo: Cia. das Letras, 2007.
KARNAL, Leandro. Estados Unidos - a formação da nação. São Paulo: Contexto, 2007.
PINSKY, Jaime et al. História da América através de textos.10. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
Próxima aula
· As grandes civilizações americanas: Maias, Astecas e Incas, que amplificaram o conceito de sociedade americana para os europeus.
· A base da cultura desses povos: crença religiosa. Veremos como as relações sociais e de domínio eram definidas pela crença em deuses e semideuses.
· A evolução dessas sociedades tão presas a conceitos religiosos. Veremos como evoluíram tecnicamente em áreas como a arquitetura, a medicina, a astronomia, engenharia urbana, matemática, entre outras.
Créditos
Designer Instrucional: Samantha Sydow
Web Designer: Rodrigo Cavalcante
Administrador do LMS: Rostan Luiz
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História da América I
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Aula 2: As grandes civilizações ameríndias
Apresentação
Nesta aula, identificaremos algumas características específicas das grandes civilizações ameríndias: os Incas, os Maias e os Astecas.
Além disso, veremos o processo de formação desses povos bem como a relação entre as suas culturas e a base cultural latinoamericana contemporânea.
Objetivos
· Identificar as características peculiares das grandes civilizações ameríndias.
· Compreender o processo de formação dos povos Astecas, Maias e Incas.
· Relacionar a cultura desses povos com a base cultural latinoamericana principalmente no Peru, na Bolívia e no México.
· Observar os enfrentamentos entre esses povos e os espanhóis colonizadores, que culminaram na destruição dessas grandes culturas.
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Maias
Os Maias eram um povo sedentário que ocupou geograficamente os territórios da Guatemala e Honduras, entre os séculos III e XV. A sua presença é especialmente importante nos territórios de Guatemala e Belize, com uma rica história de mais de 3.000 anos.
Os Maias construíram grandes templos e grandes cidades como Tikal, Nakbé, San Bartolo (no norte de Petén), Palenque, Copán, Calakmul e Uaxactún, Piedras Negras. Os monumentos dos mais notáveis são as pirâmides Maias que construíram em seus centros religiosos.
Origem da civilização Maia
Os historiadores e arqueólogos apontam três períodos de desenvolvimento da sociedade Maia.
· Pré-clássico
·  Clássico
·  Pós-clássico
Pré-clássico
As primeiras aldeias e os primeiros centros cerimoniais surgem quando se estrutura a agricultura em meio a floresta -̶ base cultural e econômica da sociedade. Com isso, estabelece-se a base da estrutura política que iria determinar o comportamento da sociedade Maia pelos séculos seguintes.
Recentes descobertas no sítio arqueológico de Nakbé (Guatemala) sugerem a existência de tribos do Oriente pré-clássico com capacidade de organização e disponibilidade de mão de obra necessária para projetos de construção em grande escala.
Está claro que os habitantes pré-clássicos das terras baixas de Petén (Guatemala) sabiam maximizar as condições ecológicas do território que habitavam, o que envolvia o uso de tecnologias agrícolas suficientes para sustentar as populações crescentes.
No entanto, os processos que levaram ao desenvolvimento de sociedades complexas nas planícies Maia não são nada claras. Essa questão aponta problemas significativos como as condições ambientais da região. Não há nenhuma explicação definitiva para o desenvolvimento de um dos mais importantes centros da região, como o Mirador Tikal, e de locais isolados e aparentemente pobre de recursos naturais, em especial de água.
A busca de explicações para esses processos é um verdadeiro 
desafio para a pesquisa arqueológica.
Organização política
Os Maias se organizavam em pequenas aldeias, que não tinham necessariamente contatos permanentes. O que as uniam eram o aspecto cultural e a necessidade de apoio nos momentos de hostilidades inimigas.
Vídeo 1.
Profª Marina Senne
No entanto, já no período clássico,algumas cidades surgiram em meio a floresta. Essas cidades eram centros cerimoniais pouco habitados, mas que, em períodos de culto religioso, recebiam um número grande de pessoas, que trocavam informações e estabeleciam contatos sociais, como casamentos intertribais.
Ainda assim, a vida dos povos Maias dependia inteiramente dos recursos naturais e do cultivo e da colheita de produtos que eles mesmos desenvolveram, como o milho, por exemplo.
No sentido antropológico, eram sedentários e cultivavam primitivamente seus recursos alimentares em meio a floresta. Essa relação com a floresta, que os protegia e provia, gerou um sistema religioso baseado na adoração simples da natureza e de elementos relacionados ao plantio, tais como o Sol, a chuva, o vento, as montanhas e a água.
A sociedade Maia foi se tornando mais complexa, com um sistema religioso controlado por sacerdotes, que ocupavam também a liderança política. Os sacerdotes tornaram-se detentores do conhecimento científico e dominaram com esse saber o poder político.
Organização econômica
A economia baseava-se na agricultura de subsistência complementada pelo processo de caça e coleta na floresta provedora. No entanto, aos poucos a necessidade de uma produção que gerasse excedentes fez surgir uma atividade agrícola mais complexa e uma atividade extrativista que exigia especialização.
Os excedentes eram comercializados com outros povos, o que gerou influências na rede cultural Maia, estabelecendo novas necessidades às quais a floresta não era mais capaz de atender. Por isso, no final do período Clássico e, principalmente, no período Pós-clássico, a cidades Maias passaram a ocupar áreas nas margens das florestas.
Os Maias usavam canais de irrigação, o que permitia o aumento da produção agrícola. Outras técnicas ampliaram a base produtiva e gerou excedentes para o comércio.
Entre os produtos comercializados estavam o mel, a copaíba, o algodão, o cacau e o látex de sapoti.
 Copaíba  Cacau  Sapoti
Religião
O Estado Maia pode ser considerado um Estado teocrático, dada a dimensão que a religião assumia na vida cultural e política desse povo.
Os Maias eram politeístas e seus deuses estavam relacionados, como em várias das culturas ameríndias, aos elementos do seu cotidiano. Os principais deuses maias eram:
	01
Hunab Ku, o criador, Senhor do céu e deus do dia.
	02
Itzamná, filho de Hunab Ku.
	03
Chaac, deus da chuva, da fertilidade.
	04
Ah Puch, deus da morte.
	05
Yun Kaax, deus da vegetação e dos animais.
 Estátua de Chaac na antiga cidade de Chichén Itzá (Yucatán, México).
Assim como em outras culturas politeístas, para os Maias os deuses não eram necessariamente maus ou bons, suas concessões ou determinações obedeciam aos desígnios de um equilíbrio de forças no ambiente natural. Dessa forma, o respeito à natureza era algo essencial para não alterar esse equilíbrio e, portanto, determinar uma ação negativa dos deuses.
É neste sentido que precisamos entender os sacrifícios. Eles ocorriam no intuito de restabelecer esse equilíbrio e evitar ações violentas dos deuses. Eram os deuses, assim acreditavam os Maias, que guiavam os sacerdotes em suas descobertas, guiavam suas mãos nas intervenções médicas e guiavam a sociedade Maia para a supremacia entre todos os povos.
Comentário
O calendário desenvolvido pelos Maias, que há alguns anos atraiu atenções pelo prenúncio do fim do mundo, também era estabelecido por um caráter ritualista.
Esse calendário foi estabelecido obedecendo a vários ciclos celestiais relacionados aos deuses Maias.
Astecas
A capital da Confederação Asteca era Tenochtitlán, uma das maiores cidades do mundo na época em que os espanhóis alcançaram suas terras. Alguns estudiosos defendem que Tecochititlán tinha uma população de no mínimo 100 mil habitantes, o que equivalia às populações de Paris e Londres, as maiores cidades europeias.
A cidade ocupava a região do lago Texcoco, e tanto as suas ilhas quanto suas margens serviram de território aos povos que formavam a Confederação Asteca.
A concepção urbanística da cidade atendia aos interesses e às dinâmicas de crescimento e desenvolvimento econômico que foram ocorrendo ao longo do tempo.
As ilhas foram interligadas por pontes e todos os caminhos levavam à parte central da cidade, onde ficava o centro cerimonial, elemento fundamental na cultura asteca e essencial aos sacerdotes que controlavam o poder naquela sociedade.
 Mapa de Tenochtitlán (1519-1521). Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tenochtitlan_y_Golfo_de_Mexico_1524.jpg. Acesso em: maio 2019.
Organização econômica
A economia asteca baseava-se na agricultura e na produção de manufaturas. O processo de comércio era feito por escambo com outras sociedades.
Os principais gêneros agrícolas produzidos eram milho, fumo, pimenta, frutas e agave. No entanto, é preciso observar que cada área conquistada pelos Astecas passava a obedecer um rígido controle produtivo. Os excedentes dessas áreas eram dados como tributo aos Astecas.
Organização cultural
Os povos Astecas eram bastante desenvolvidos culturalmente. Eles utilizavam de pictogramas e hieróglifos para estabelecer seus registros e mensagens. A riqueza de detalhes desses elementos pictóricos nos dão diversas pistas sobre o comportamento cultural desse povo religioso e conquistador.
Era um povo politeísta que acreditava que o mundo tinha sido criado e destruído quatro vezes, e que, somente na quinta vez, os deuses produziram uma terra perfeita e os homens e as mulheres puderam ocupar e povoar mundo.
Eles tinham muitos deuses, entre eles:
	01
Coatlicue a deusa da terra.
	02
Huitzilopochtli, o deus da guerra, a força suprema.
	03
Xochipill, o deus das flores, do amor e da fertilidade.
	04
Tlazolteotl, a deusa do prazer e da sensualidade. Cada fenômeno atmosférico também foi associado com um deus, por exemplo: Tlaloc, às chuvas e Ehecatl Quetzalcoatl, aos  ventos.
 Estátua de Coatlicue.
Ciências
Grande parte do embasamento religioso desse povo vinha do conhecimento da astronomia, que foi uma ciência bastante desenvolvida entre as grandes sociedades mesoamericanas.
A astronomia compreendia a observação, com grande precisão, das revoluções do Sol, da Lua, de Vênus e, talvez, de Marte. Os Astecas agrupavam as estrelas em constelações, conheciam a existência de cometas, a frequência de eclipses do Sol e da Lua, e criaram um calendário complexo.
Esse conhecimento permitiu também desenvolver o conhecimento da meteorologia e prever geadas ou estabelecer as características dos ventos predominantes.
 Calendário Asteca.
Embora a astronomia tenha sido uma das ciências mais desenvolvidas pelos astecas, não foi a única. A medicina também apresentava um elevado grau de desenvolvimento.
A medicina estava intimamente ligada à magia. O conhecimento da natureza, das plantas e minerais permitiu aos Astecas encontrar a cura para algumas das enfermidades que os afligiam, e os sacrifícios humanos, de caráter sagrado (incluindo a remoção do coração e do desmembramento do corpo), permitiu o conhecimento de anatomia humana e a compreensão de diversas doenças que afetavam os órgãos humanos.
Os Astecas sabiam consolidar fraturas, cuidar de picadas de cobra e corrigir problemas dentários.
Apesar de a medicina ser praticada por homens e mulheres astecas, somente as mulheres eram autorizadas a empreender partos.
Arquitetura e arte
A capacidade de manusear metais e o desenvolvimento de técnicas apuradas de moldagem levou os Astecas a desenvolver a ourivesaria. Brilhantes trabalhos de joalheiros e ourives podem ser observados nas lindas peças que foram encontradas por arqueólogos. Foi esse ouro que encantou os espanhóis quando chegaram.
As artes visuais também contavam com belíssimas esculturas, sempre relacionadas a temas religiosos e ao poder Asteca, e com pinturas realizadas em paredes ou em objetos decorativos que demonstram a riquezadessa cultura.
Sociedade
O imperador Asteca tinha poder ilimitado que cobria todas as coisas e todas as pessoas. Ao lado dele, os guerreiros e sacerdotes eram o grupo social mais poderoso. Os guerreiros eram o principal apoio do imperador e permitiram a criação de um poderoso império, mas politicamente isolado.
Vídeo 2:
Profª Marina Senne
O único grupo social intermediário era formado pelos ricos comerciantes da capital que conseguiram adquirir sua riqueza através das trocas comerciais. Além disso, conquistavam prestígio organizando festas e oferecendo um de seus escravos como uma vítima de um sacrifício ritual (coisa tão rara quanto cara).
A maioria da população era composta por artesãos, agricultores, funcionários públicos etc., que foram organizados em grupos de parentesco chamados calpulli.
Havia também escravos, que eram utilizados para o trabalho agrícola, para transporte, comércio e serviço doméstico. Alguns eram escravos temporários, ficavam nessa condição até pagar uma dívida ou uma condenação. Outros, eram prisioneiros de guerra que poderiam ser sacrificados a Huitzilopochtli.
Incas
Os Incas eram líderes do maior império americano. Perto do fim do século XIV, o império começou a expandir de seu território inicial, na região de Cuzco, para a região sul da Cordilheira dos Andes da América do Sul . A palavra Inca designava o líder desse povo, e Cuzco era a capital do império.
Machu Picchu (Peru).
O império Inca terminou brutalmente com a invasão espanhola liderada por Francisco Pizarro em 1532.
No momento de sua rendição, o império, que chegou a controlar uma população estimada de 12 milhões de pessoas (o que representa, hoje, o Peru, o Equador e grande parte do Chile, da Bolívia e da Argentina) viu sua cultura sucumbir diante da supremacia militar espanhola e de táticas e estratégias de guerra que sua cultura não admitiria.
Os Incas chamavam seu território de Tawantinsuyu, que em quíchua, a língua inca, significa quatro partes. O seu território era formado por uma terra caracterizada por diversos terrenos e climas, incluindo uma tira grande do deserto ao longo da costa, e intercalada com ricos vales irrigados, picos elevados e profundos vales férteis dos Andes, além dos picos das montanhas da floresta tropical ao leste.
A origem
Os povos protoincas viviam na região norte do que hoje é a Argentina. As disputas tribais entre grupos indígenas diferentes levaram esses grupos a percorrer uma longa distância, fazendo inúmeras trocas culturais com outros grupos ao longo de alguns séculos. Quando alcançaram as altas montanhas dos Andes peruanos, encontraram o sítio protegido que almejavam.
No Andes peruanos, os Incas desenvolveram a agricultura em terraços, a criação de lhamas e vicunhas e o cultivo da coca, que tinha efeitos químicos que auxiliavam no ambiente pobre em oxigênio.
Os Incas construíram estradas que ligavam os pontos mais remotos a Cuzco, construíram cidades, centros de observação astronômicos, templos.
Eles ampliaram sua rede de domínio conquistando novos povos, subjugando inimigos, estabelecendo relações de proteção a grupos menores.
Todos os que faziam parte do Império Inca deveriam pagar tributos, que poderiam ser em espécie ou em trabalho, a mita.
A mita era cumprida nas obras públicas, mas tinha um caráter devocional. 
Construíam estradas, cidades ou templos para homenagear os deuses. Além disso, as estradas normalmente conduziam os próprios trabalhadores, quando já não cumpriam mais essa função, à Cuzco, capital do Império e seu centro religioso.
Cultura
O quíchua era a língua oficial falada na maioria das comunidades até a chegada dos espanhóis, mas pelo menos 20 dialetos locais remanesceram em algumas partes do império.
Os Incas desenvolveram um estilo altamente funcional da arquitetura pública que era notável para a sua engenharia avançada e trabalho de pedra fina.
A planta das cidades foi baseada em um sistema das avenidas principais cruzadas pelas ruas menores convergentes em uma praça rodeada de edifícios municipais e templos.
Para a construção de monumentos de grande porte, como a grande fortaleza de Sacsayhuaman, perto de Cuzco, enormes blocos poligonais estavam reunidos com precisão extraordinária.
Em regiões montanhosas, como a espetacular cidade dos Andes, localizada no Machu Picchu, a arquitetura dos Incas refletiu adaptações frequentemente engenhosas de relevo natural.
Vídeo 3.
Profª Marina Senne
Religião
A religião do Estado foi baseada na adoração dos imperadores. Os Incas eram considerados descendentes do deus Sol e adorados como deuses. O ouro, símbolo do deus Sol, foi explorado para o uso de líderes e membros da elite, não como moeda, mas para roupas, decoração e rituais.
A religião dominou toda a estrutura política. Do Templo do Sol, no centro de Cuzco, nós poderíamos extrair uma linha imaginária para os lugares de culto de diferentes classes sociais na cidade.
Práticas religiosas consistiram em inquéritos de oráculos, sacrifícios como oferendas, transes religiosos e confissões públicas. O ciclo anual de festas religiosas foi regulado pelo calendário Inca, extremamente preciso e no ano agrícola.
Atividade Correlacione
1. Vamos praticar o que acabamos de aprender?
Correlacione as afirmativas a seguir a suas respectivas civilizações, selecionando o número correspondente.
Maia 1
Asteca 2
Inca 3
a) Assim com em outras culturas politeístas, para estes os deuses não eram necessariamente maus ou bons, suas concessões ou determinações obedeciam aos desígnios de um equilíbrio de forças no ambiente natural.
1 2 3
b) O quíchua era a língua oficial falada na maioria das comunidades até a chegada dos espanhóis, mas,  pelo menos 20 dialetos locais remanesceram em algumas partes do império. As disputas tribais entre grupos indígenas diferentes levou esses grupos a percorrer uma longa distância, fazendo inúmeras trocas culturais com outros grupos ao longo de alguns séculos.
1 2 3
c) Eram bastante desenvolvidos culturalmente; acreditavam que o mundo tinha sido criado e destruído quatro vezes e somente na quinta vez é que os deuses se ocuparam de produzir uma terra perfeita. Embora a medicina fosse praticada por homens e mulheres, somente as mulheres eram autorizadas a empreender partos.
1 2 3
Próxima aula
· A chegada dos europeus à América.
· O período de conquista espanhola no continente americano.
· Os principais aspectos do sistema colonial ibérico.
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História da América I
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Aula 3: Os europeus na América: a cruz, a espada e fome
Apresentação
Nesta aula, compreenderemos de que forma a expansão comercial europeia redundou na conquista da América.
Além disso, veremos os interesses que motivaram os europeus, nas lutas pelas conquistas, e os indígenas, nas lutas pelos seus territórios e pelas suas culturas.
Objetivos
· Compreender o processo das grandes navegações no contexto de expansão comercial europeia.
· Identificar os principais elementos de conflito entre os europeus e os indígenas.
· Relacionar a expansão comercial com o processo de conquista dos territórios ameríndios e o processo de trabalho compulsório no continente americano.
· Verificar o processo de tomada de decisão dos grandes impérios nativos do continente.
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As Grandes Navegações
O século XV foi marcado pela definição de novas rotas marítimas que interligaram de forma mais rápida os continentes.
Os portugueses, através do seu forte investimento e da instituição da Escola de Sagres, conseguiram romper com os limites que a tecnologia os impunha, dobraram o Cabo das Tormentas, renomeado para Boa Esperança, e chegaram à Índia.
A navegação passou a ser a alternativa para o comércio das potências Ibéricas. 
Voltadas para o Atlântico, Portugal e Espanha buscaram no Oceano oscaminhos para alimentar a sua burguesia de produtos exóticos e interessantes do ponto de vista comercial, mas, em uma época que as rotas comerciais, mares e territórios podiam ser controlados por potências militares, descobrir novas rotas e dominar novos territórios era uma necessidade política e econômica.
Com os italianos dominando o mar Mediterrâneo, os portugueses controlando as rotas africanas para as Índias, os espanhóis precisavam encontrar uma alternativa.
VÍDEO 1:
Profª Marina Senne
A proposta de Cristóvão Colombo de chegar à Índia rumando a oeste foi inicialmente recebida com desconfiança e rejeição. A Igreja Católica, que tinha grande poder na época, chegou a acusar Colombo de heresia, pois este defendia que era possível circundar a Terra através dos oceanos.
No fim, prevaleceram os interesses econômicos da burguesia espanhola e da própria Coroa. Avaliaram que o custo era pequeno diante do potencial econômico que a definição de uma rota marítima para a Índia poderia gerar.
Rotas marítimas-período das Grandes Navegações. Disponível em: wikipedia. Acesso em: maio 2019.
Embora, inicialmente, acreditasse que estivesse chegado às Índias, Colombo chegou em um novo continente, um território completamente desconhecido dos europeus. Encontrou por estas terras culturas diferentes de todas as que eram de conhecimento na Europa.
E o mais importante: Colombo encontrou ouro sendo utilizado pelas tribos da ilha de Santo Domingo e de Cuba. Além do ouro, encontrou árvores, frutas e outros elementos naturais que interessaram à burguesia espanhola.
VÍDEO 2:
Profª Marina Senne
Empresa colonial
A partir das descobertas de Colombo, a Coroa espanhola, junto com a burguesia de Sevilha, de Córdoba e de Madri, estabeleceu a empresa colonial. Constituiu-se um sistema que estimulava a conquista, controlava os recursos e exigia vassalagem absoluta dos colonos para com a Coroa hispânica.
Na base desta estrutura, está um conjunto de leis que os historiadores chamam de Pacto Colonial. Na verdade, eram regras determinadas pelas metrópoles para serem obedecidas pelas colônias. As regras variavam de colônia a colônia, mas em sua base estavam três princípios fundamentais:
	Relações comerciais exclusivas
	Proibição de produ-ção de manufaturas na colônia
	Proibição de produção de gêneros semelhantes aos da metrópole
	A colônia só po-deria estabele-cer relações co-merciais com as metrópoles, ficando vedada qualquer troca com países aliados ou não.
	Dessa forma, a metró-pole garantia um mer-cado consumidor para seus produtos manufa-turados, elemento im-portante em um modelo comercial exclusivista como o Mercantilismo.
	Significa dizer que, se um produto agrícola fosse produzido na metró-pole, esse produto não poderia ser produzido na colônia. Essa regra também garantia mercado consu-midor aos produtos metropolitanos e ainda garantia total concentração colonial nos produtos agrícolas ou minerais que interessavam ao mercado consumidor europeu.
Estabelecidos os princípios fundamentais da relação entre colônia e metrópole, a Coroa espanhola estimulou a ação de conquista dos novos territórios. Os habitantes originais das terras que interessavam aos espanhóis viram-se obrigados a se defender dos ataques ou aceitar a submissão ao novo conquistador.
É interessante ressaltar que, embora muitos dos povos e das sociedades que ocupavam o continente conhecessem a relação de conquistar e ser conquistado por outros grupos mais fortes, em nada diminui o caráter violento e torpe da conquista espanhola na América.
Outro aspecto relevante desse processo está relacionado à recém conquista da região de Granada, na própria Espanha.
As técnicas militares utilizadas para expulsar os Mouros bem como os benefícios oferecidos aos comandantes da reconquista foram aplicados com os indígenas no novo mundo.
 (
Palácio de Alhambra, Granada (Espanha).
)
A Conquista
De acordo com historiadores como Romano e Todorov, a Conquista é demarcada pelo período entre a chegada de Colombo e meados do século XVI. Esse limite teria sido determinado pelo temor dos espanhóis de que houvesse um despovoamento da América caso as guerras de conquista continuassem. Afinal as áreas conquistadas até a metade daquele século já rendiam aos colonizadores os benefícios almejados.
A fase da conquista se valeu de uma tríade espada, cruz e fome, evocada por Rugiero Romano e Benito Schmidt como fatores explicativos do processo de conquista.
A espada indica a desproporção militar que havia entre conquistadores e conquistados. Armas de fogo, cavalos, armaduras, armas de aço, cães eram alguns dos instrumentos de guerra dos hispânicos. Além disso, as estratégias de guerra dos europeus eram infinitamente mais eficientes do que as das sociedades americanas. Do outro lado, os indígenas contavam com arcos e flechas, tacapes, boleadeiras e setas venenosas, mas também havia o pavor dos cães e cavalos usado pelos espanhóis.
A cruz é um tanto autoexplicativa. A presença de padres junto dos espanhóis, com a missão estrita de catequizar as tribos e sociedades, facilitava de várias formas o processo de conquista. Ao catequizar, criava-se um conflito cultural entre a tradição e a nova fé e isso fragilizava os povos que viviam o impasse entre respeitar os desígnios de Deus e aceitar a dominação ou combater os invasores com seu Deus cheios de culpas e limites.
A fome por sua vez não era apenas a falta de alimentos para o corpo, mas também alimentos para a alma. Era a foma de utilizar a terra de acordo com a sua cultura, de cultuar seus deuses, de respeitar a natureza sua principal fornecedora de alimentos. 
Era a fome também de alimentos, porque a exigência do trabalho compulsório nas haciendas limitava o tempo para produção de alimentos para subsistência dos ameríndios.
O trabalho da conquista foi estimulado pela distribuição de títulos que geravam altos lucros aos aventureiros que se dispunham a desbravar as terras ocupadas por sociedades. Esses títulos variavam de acordo com o seu nível de organização e a capacidade de lutar.
Os desbravadores recebiam o título de adelantados. Um título de outorga de poder, comum nas guerras de reconquista da Península Ibérica, este benefício dava ao conquistador o direito de administrar as riquezas das terras por ele conquistada, inclusive dava a ele controle sobre a mão de obra.
Saiba mais
A tríade espada, cruz e fome é muito bem explorada por Pablo Neruda em seu poema “Ode à Araucária Araucana”. Para ler o poema, acesse:  https://www.neruda.uchile.cl/obra/obranuevasodas2.html. Acesso em: maio 2019.
Fases da Conquista
Segundo Schmidt, o período denominado de conquista pode ser dividido em três partes:
	1
Exploração das Antilhas
	2
Conquista do México (Confederação Asteca)
	3
Conquista da região andina (Império Inca)
Primeira fase
O grande interesse dos conquistadores na primeira fase da conquista era o ouro de aluvião que ocorria nos rios das ilhas antilhanas. Sua grande vantagem era, sem dúvida, contar com uma grande força de trabalho oriunda das tribos conquistadas pelo poder da espada e da fé.
No entanto, a produção aurífera com bateias nas beiras dos rios aos poucos foi se tornando desvantajosa. Além disso, as doenças trazidas pelos conquistadores e as guerras ainda empreendidas foram eliminando o potencial de mão de obra que aquela região oferecia.
Essa situação passou a gerar inúmeros problemas potenciais para a própria empresa colonial.
Para tentar resolver o problema de mão de obra, a Coroa espanhola estabeleceu o sistema de encomiendas, no qual um espanhol recebia o título de encomendero e administrava a utilização da força de trabalho indígena nas haciendas (unidades produtivas da colônia espanhola).
Esse sistema era baseado na lógica do pagamento de tributos 
com a força de trabalho.
Vídeo 03:
Profª: Marina Senne
Cada indígena era obrigado a trabalhar para os espanhóis durante quatro meses no ano e, ao encomendero, cabia determinar quem trabalharia e em qual unidade produtiva.
Esse sistema gerou uma lógicaextremamente corrupta e nociva, pois o encomendero cobrava dos fazendeiros para destinar um número maior de índios e cobrava dos chefes tribais para não requisitar nenhum dos seus indígenas.
Isso redundou na exploração exacerbada dos indígenas, que se ocupavam por mais de quatro meses, em condições similares ao tratamento dado aos escravos no Brasil.
Alguns colonizadores, como o Bispo Bartolomeu de Las Casas, passaram a criticar veementemente o sistema de encomienda.
As críticas de Las Casas foram contundentes. Sua pregação em defesa dos indígenas, demonstrando que o próprio sistema corria o risco de falir se não houvesse medidas para estancar a morte de indígenas (que, pelo cálculos de Romano chegou entre 1/2 e 2/3 da população indígena), acabou surtindo efeito
Em 1542, foram criadas as Leyes Nuevas, dando limites a exploração da mão de obra indígena e ao processo de conquista.
Segunda fase
A conquista do México com a vitória de Cortés sobre os Astecas foi um momento crucial para o estabelecimento da colônia espanhola.
A grande Confederação Asteca tinha muita força econômica e militar no território mexicano, vencê-los era crucial para aprofundar o processo de domínio sobre o continente.
Esta vitória não foi fácil e demandou muita cautela e estratégia do seu comandante. Cortés buscou conhecer os Astecas, saber sobre sua cultura, seus inimigos, suas táticas e estratégias. A partir deste conhecimento, conseguiu submeter Montezuma II ao seu comando, mas as vaidades e os interesses dos conquistadores fez com que o governador de Cuba tentasse derrubar Cortés.
Cortés deixou Tenochtitlán para combater Pánfilo de Narvaéz, que saiu vitorioso, mas quando retornou à capital Asteca viu a desordem estabelecida. Alvarado, homem que Cortés havia deixado no comando, tentou submeter os astecas à força e estes mataram Montezuma II, a quem não reconheciam mais como líder, e expulsaram os espanhóis.
Cortéz se refugiou em Cuba, aliou-se a inimigos dos Astecas e retornou a Tenochtitlán para derrotar definitivamente o poderio Asteca. Ele sabiamente utilizou os próprios indígenas para combater aquele poder e depois governou a região recebendo o título de governador da Nova Espanha.
Terceira fase
O outro grande Império sucumbiu na terceira fase da conquista, quando os espanhóis passaram a ter interesse na parte ao sul do istmo do Panamá.
A partir de 1524, a Coroa espanhola financiou diversas expedições à região andina. O objetivo era prospectar novas fontes de riqueza a serem exploradas.
Uma dessas expedições, a mais importante, foi liderada por Pizarro, Luque e Almagro, que tinham respectivamente as funções de diretiva militar, logística e financiamento da missão.
A tríade se aproveitou da crise vivida pelo Império Inca com a morte de Huayna Cápac, o inca. Como as regras sucessórias não eram definidas, os dois herdeiros, Huáscar e Atahualpa, passaram a lutar pelo direito de assumir o trono. Os espanhóis se aliaram a Huáscar que foi morto. Depois sequestraram e mataram Atahualpa.
Pizarro, então, avançou com suas tropas até Cuzco e dominou aos poucos todo o império Inca.
 
 Selo retratando Francisco Pizarro.  Execução do imperador Atahuallpa, por Pizarro.
Esta foi a mais importante vitória do período da conquista, pois, com o domínio do império Inca, veio junto a maior jazida de prata já descoberta no mundo. A prata foi explorada pelos espanhóis por mais de 300 anos e, até hoje, há exploração de prata nessa região.
Sistema de exploração da mão de obra
A fim de aproveitar o imenso potencial de mão de obra existente e evitar o despovoamento das terras coloniais por um modelo de exploração do trabalho aviltante e dizimador, a Coroa espanhola criou o sistema da encomienda (já visto anteriormente).
Esse sistema só resultou em algo positivo para o modelo colonial, porque veio combinado com a estrutura da corveia.
Desse modo, o encomendero era, na verdade, um beneficiário do sistema de tributos característico da Idade Média. No entanto, no Novo Mundo, esses tributos receberam o nome de cuatequil, na região anteriormente dominada pelos Astecas, e mita, nas áreas dominadas pelos Incas.
Nomes de tributos originários dessas regiões, a mita e cuatequil foram desvirtuados pelos espanhóis para atender aos seus interesses. Antes da chegada dos espanhóis, eram tributos de cunho eminentemente religioso e só eram cobrados na entressafra. No entanto, com os espanhóis não havia conotação religiosa.
Atividade Objetiva
1. A partir das descobertas de Colombo, a Coroa espanhola estabeleceu a empresa colonial, um sistema que estimulava a conquista de novos territórios.
Os princípios fundamentais da relação entre colônia e metrópole eram definidos pelo chamado Pacto Colonial.
A respeito do Pacto Colonial, é correto afirmar que:
a) a produção de manufaturas garantia um mercado consumidor para a colônia.
b) a colônia era proibida de produzir gêneros semelhantes aos da metrópole.
c) a produção colonial se concentrava em produtos agrícolas ou manufaturados.
d) a colônia só poderia estabelecer relações comercias com a metrópole e com os países aliados.
2. O período da Conquista espanhola vai desde a chegada de Colombo no continente americano até meados do século XVI. De acordo com Schmidt, esse período pode ser dividido em três fases. Relacione os eventos listados a seguir à fase correspondente do período da Conquista.
a) Conquista do México
1ª fase	2ª fase	3ª fase
b) Derrota do Império Inca
1ª fase	2ª fase	3ª fase
c) Exploração das Antilhas
1ª fase	2ª fase	3ª fase
d) Conquista da região andina
1ª fase	2ª fase	3ª fase
e) Derrota da Confederação Asteca
1ª fase	2ª fase	3ª fase
f) Produção aurífera (ouro de aluvião)
1ª fase	2ª faz	3ª fase
g) Descoberta da maior jazida de prata
1ª fase	2ª fase	3ª fase
Próxima aula
· O sistema mercantilista europeu e suas influências sobre a colonização da América.
· O Sistema Colonial Ibérico nas Américas Central e do Sul;
· O Pacto Colonial: conjunto de leis que estabeleciam a estrutura de domínio dos países europeus sobre as áreas da América.
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História da América I
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Aula 4: Sistema colonial espanhol
Apresentação
Nesta aula, veremos como se estabeleceu a colonização na América espanhola e entenderemos a economia nas colônias espanholas, sobretudo a dinâmica da atividade de mineração de ouro e prata dentro da lógica mercantilista.
Além disso, verificaremos como se deu a regulamentação das atividades econômicas dentro do que ficou conhecido como Pacto Colonial.
Objetivos
· Compreender os objetivos da expansão espanhola e como se estabeleceu a conquista e a dominação das terras americanas.
· Identificar o choque de culturas entre o velho e o novo mundo.
· Entender como, segundo a dinâmica do mercantilismo, os Estados absolutistas estabeleceram o monopólio sobre o comércio com as colônias, favorecendo as metrópoles.
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A descoberta da América por Cristóvão Colombo faz parte do processo de expansão do capitalismo europeu. O comércio, renascido em fins da Idade Média e desenvolvido no interior da Europa entre as cidades italianas e flamengas, foi deslocado, no século XIV, para o litoral atlântico.
Dessa forma, a busca de novos caminhos para atingir o Oriente, terra encarada como fonte de riquezas, passou a constituir uma questão de sobrevivência. Era necessário enfrentar o Atlântico, explorá-lo, buscando saídas, e para financiar um empreendimento desse porte era condição prévia a existência de Estados Nacionais com poder político centralizado e recursos financeiros volumosos. 
Portugal e Espanha formaram os primeiros Estados Nacionais. Estavam, portanto, aptos para liderar o expansionismo marítimo e, levados pela necessidade, assim procederam.
A conquista da América começa logoapós o descobrimento, em 1492, tendo início com a ocupação das Antilhas, seguida pela conquista do Império Asteca (por Hernan Cortez em 1521) e do Império Inca (por Francisco Pizarro em 1533).
Durante a conquista, funcionava o sistema de adelantado. Nesse sistema, o Rei concedia um título (de adelantado) aos conquistadores que empreendessem expedições com meios privados e que se convertessem em representantes da Coroa no território que conquistassem, com a garantia de poderes civis e militares a todos os particulares que empreendessem a conquista.
Sociedades americanas – diversidade
Os espanhóis encontraram diferentes tipos de sociedades durante o processo de conquista da América. Elas apresentavam tipos de organização social, política e econômica diferentes e, para cada uma, adotaram uma forma própria de dominação.
Caçadores e coletores
A economia da caça e coleta exigia uma grande extensão de terra. Eram nômades, pois as aldeias ou povoações permanentes não eram viáveis. Os grupos eram forçados a migrar, sempre que a disponibilidade local de alimentos começasse a se escassear. As coisas que podiam possuir eram poucas e limitadas ao que pudesse ser transportado de um lugar para outro. As habitações, geralmente consistiam de simples barracas, tendas, ou cabanas rústicas feitas de folhas e cascas de plantas ou de peles secas dos animais caçados. Os grupos sociais nunca podiam ser grandes, já que apenas um número limitado de pessoas podia conviver, sem esgotar rapidamente os recursos alimentares da região.
Agricultores sedentários
Grupos que residiam permanentemente em uma área definida à volta de uma aldeia, em um acampamento permanente ou em uma área limitada. Praticavam agricultura comunal e possuíam alguns animais para complementar a atividade agrícola.
Impérios e cidades-Estado
As sociedades Inca e Asteca, que possuíam um vasto exército, um hierarquizado sistema administrativo e técnicas próprias de produção, viviam em impérios centralizados. Já Maias, viviam em cidades-Estado independentes.
Aos espanhóis, interessavam-lhes apenas os grupos que pudessem ser úteis aos seus objetivos. Dessa forma, os caçadores e coletores que não se enquadravam no sistema colonial que pretendiam implantar eram descartados (exterminados ou, quando não, expulsos da área que ocupavam).
Eram resguardados os grupos que dominavam a agricultura bem como os Impérios estabelecidos (após serem impiedosamente combatidos e subjugados, posto que possuíam estruturas sociais e políticas aproveitáveis para exploração comercial). 
No caso dos Astecas e Incas, notadamente foram aproveitadas as relações de trabalho previamente existentes.
A economia nas colônias espanholas – mineração
Passado o período da conquista e subjugados os nativos, os europeus montaram sua estrutura de exploração nas Américas. Embora semelhantes em muitos aspectos, algumas diferenças foram se estabelecendo nas diversas áreas de colonização.
A dominação espanhola estabelece-se tendo por base a extração de mineral, secundada por uma agricultura de subsistência e de um complexo comercial que permitia a chegada dos minerais à Espanha e dos produtos europeus à América colonial.
Vídeo 01: exploração da América espanhola
Profª Marina Senne
Ao longo dos primeiros duzentos anos de dominação colonial, os 
espanhóis desenvolveram um setor mineiro que permitiu a manutenção
da economia metropolitana e da posição internacional espanhola em 
meio às demais nações da Europa Ocidental.
As primeiras descobertas de minas ocorreram no México e no Peru, no curto período de vinte anos (1545-65). Os territórios necessitavam de grande quantidade de mão de obra indígena que, recrutada por sorteio, era encaminhada periodicamente às minas, retornando a seguir às comunidades de origem para ser substituída por novos contingentes requisitados de igual maneira.
A mita era prática dos Incas (e dos Astecas, chamada de Cuatequil), que consistia no trabalho forçado das aldeias durante quatro meses, com o benefício revertido ao Estado. Os espanhóis se aproveitaram deste esquema na mineração, assumindo o antigo papel representado pelos estados indígenas. Os horrores desse tipo de mão de obra forçada constituem uma vasta literatura de exploração.
A encomienda era uma concessão feita pelo Rei da Espanha e empreendedores particulares, que tinham o direito de exigir das aldeias indígenas prestação de serviços sem remuneração, sobretudo na agricultura. A escravidão de negros africanos foi praticada especialmente na agricultura de produtos tropicais nas Antilhas.
 Minas de Potosí (Peru). Gravura de Théodore de Bry (1596).
A economia nas colônias espanholas – monopólio
Vídeo 02:
Como já vimos anteriormente, dentro da lógica mercantilista, os Estados absolutistas estabeleceram o monopólio do comércio colonial, concretizado na regulação do tráfico e na política fiscalista da Coroa e na ação de poucos comerciantes concessionários, permitindo que a metrópole vendesse caro seus produtos à população das colônias e comprasse barato as exportações americanas. 
O monopólio foi, portanto, um dos veículos de acumulação de capital comercial na Europa nos tempos modernos.
O Estado espanhol manteve esse monopólio até o século XVIII, quando, após a derrota na Guerra de Sucessão (1701-1713), assina o tratado de Utretch, permitindo à Inglaterra comerciar com as colônias hispânicas da seguinte maneira:
· navio de permiso – autorização à Inglaterra para enviar um navio por ano com capacidade de carga de 500 toneladas para comerciar com as colônias espanholas e
· asiento – permissão dada pelo governo espanhol para outros países para vender as pessoas como escravos para as colônias espanholas.
Ordenamento social na América espanhola
Divisão étnica como elemento de divisão de classes:
	01
Chapetones – Brancos nascidos na Espanha que monopoliza-vam os altos cargos da administra-ção, da Igre-ja, da Justiça e das forças militares coloniais.
	02
Criollos – Brancos nas-cidos na América, com descendentes nascidos na Europa. Formavam a verdadeira elite econô-mica, proprietários de terras e de minas. Eram impedidos de atuar no comércio externo e ocu-pavam cargos inferiores nas instâncias burocrá-ticas, militares e religio-sas da colônia.
	03
Mestiços – Originários da miscige-nação entre brancos e índios que ocupavam funções intermediári-as, tais co-mo de arte-são, capataz e pequenos negócios.
	04
Negros – Eram mais comum nas colôni-as das An-tilhas, sen-do a maio-ria escra-vos.
	05
Indígenas – Os mais numero-sos na socieda-de. Não podiam ser legalmente escravizados, tendo seu tra-balho explorado através da  mita e da  encomienda.
Estrutura administrativa: a Casa de contratação
Vídeo 03:
O principal órgão administrativo referente à colônia de natureza econômica foi a Casa de Contratación de las Índias. Fundada em 1503, em Sevilha, era destinada a fomentar e regular o comércio e a navegação com os novos territórios.
A Casa não era uma organização dedicada ao comércio, mas ao seu controle. O comércio cabia exclusivamente a particulares. Teve, inicialmente, as funções de uma alfândega, examinando as cargas e as importações e exportações, bem como recolhendo os tributos, especialmente os que iam para a Coroa. Registrava os passageiros que saíam para as Índias e era também responsável pelo controle técnico: armava e aprovisionava os navios que navegavam por conta da Coroa e inspecionava os navios particulares, antes de zarparem, para assegurar-se de que estavam em condições de navegabilidade.
O Conselho das Índias
Na terceira década do século XVI, tendo a Espanha se tornado a maior potência da Europa, o poder real, que começara a se afirmar, promove uma série de mudança no setor administrativo, com tendência claramente centralizadora, como manifestação de sua afirmação. O interesse da realeza era recuperar cada vez mais os seus poderes para arrecadar com mais eficiência as rendas dos novos territórios ultramarinos.
A Coroa passou, então, a implantar um complexo aparelho administrativoe fiscal. O poder político passou dos conquistadores para os funcionários da máquina estatal, pagos pelo erário régio.
A autoridade suprema para todas as questões coloniais, em Madri, era o Conselho das Índias3. Inicialmente, após o retorno de Colombo de sua segunda viagem, a Rainha Isabel escolheu alguns membros do Conselho de Castela, para sob a direção de seu capelão Juan Rodríguez de Fonseca, gerir os assuntos americanos.
Vice-Reinos
O cargo político mais importante nos territórios ultramarinos espanhóis era o de vice-rei, que recebia uma alta remuneração. Eram representantes diretos do Rei da Espanha e responsáveis por comandar os exércitos coloniais, controlar armas, fiscalizar a conversão dos índios, com poderes para intervir em todos os assuntos da colônia. Entretanto, o vice-rei não podia, entre outras coisas, tornar-se independente do controle da metrópole, nem tampouco dispor do dinheiro público por sua própria autoridade.
Tinham os poderes limitados apenas pelas Audiências (tribunal de apelação de estrutura colegiada – principal órgão de justiça de Castela, criado por Henrique II em 1369) e pelos Juízes de Visitação, mandados da Europa para fiscalizar a administração.
Em 1535, foi criado o Vice-reino de Nova Espanha, abrangendo o México e parte da América Central; em 1544, o Vice-reino do Peru, englobando boa parte da América do Sul espanhola (atuais Bolívia, Peru, Equador, Paraguai e Argentina). Quanto à sua formação, o vice-rei podia ser advogado, eclesiástico ou um militar aristocrata.
O seu poder era grande: exercia o cargo de governador da província pertencente à sua capital, presidia à audiência do vice-reino e era também capitán general. Ao vice-rei não cabiam atribuições jurídicas ou administrativas concretas. Como representante do poder real, ele dispunha de uma autoridade política geral e sua esfera de influência foi delineada inicialmente para o México e para Lima. O Império colonial não estava dividido em dois vice-reinos representando entidades administrativas fechadas em si.
Os poderes e atribuições do vice-rei eram regulados pela Coroa: as nomeações para as sedes episcopais e a organização de tropas pagas para repelir uma invasão, por exemplo, tinham de ter a prévia aprovação do rei. Além disso, ele era vigiado e, de certo modo, contido pelos juízes de audiência e, como os demais funcionários, deveria ser submetido a uma residência, ou seja, uma investigação judicial quanto ao desempenho de seu cargo, ao final de seu mandato. Na prática, o poder do vice-rei dependia de sua habilidade.
Audiências
Antes mesmo da criação do primeiro vice-reino, um importante passo na organização administrativa das colônias havia sido dado pela metrópole, com a criação, em 1511, da audiência de Santo Domingo. Um tribunal de apelação de estrutura colegiada, a audiência era um composto por juízes profissionais, os oidores, que tinham formação jurídica e seguiam o direito civil geral.
A Audiência foi um instrumento eficaz de controle das autoridades representantes da Coroa contra o abuso de poder. Embora fosse uma instância de caráter exclusivamente jurídica, desempenhou um papel altamente político durante a história colonial.
Cabildos
Eram as corporações municipais (câmaras), responsáveis pelos assuntos legislativos e judiciários locais. Eram compostos pela elite dos criollos.
Eram uma importante instituição de autogoverno na colônia, que futuramente centralizariam os movimentos de independência.
Atividade
1. Os espanhóis encontraram diferentes tipos de sociedades durante o processo de conquista da América. Os grupos que residiam permanentemente em uma área definida à volta de uma aldeia se denominavam:
a) caçadores e coletores.
b) agricultores sedentários.
c) impérios e cidades-Estado.
2. A autoridade suprema para todas as questões coloniais, em Madri, era:
a) Cúria romana.
b) Conselho das Índias.
c) Conselho de Castela.
3. É característica dos Cabildos:
a) ser composto pela elite dos Chapetones.
b) tratar-se de corporações municipais (câmaras), responsáveis pelos assuntos legislativos e judiciários locais.
c) Ser composto por juízes profissionais, que possuíam formação jurídica e seguiam o direito civil geral.
Próxima aula
· O sistema produtivo colonial ibérico.
· A introdução do escravismo africano no sistema colonial ibérico.
· A implantação do sistema de incomienda e repartimiento.
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História da América I
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Aula 5: O trabalho compulsório na América Ibérica
Apresentação
Nesta aula, conheceremos as estruturas sociais, políticas e econômicas dos sistemas produtivos coloniais, que tinham por objetivo o monopólio das colônias em favor das metrópoles.
Veremos também as diferenças entre os tipos de trabalho compulsórios implantados na América Ibérica e identificaremos as necessidades da implementação do trabalho escravo africano nos sistemas coloniais das Américas espanhola e portuguesa.
Objetivos
· Observar como se deu a implantação do trabalho compulsório na América Ibérica.
· Compreender como se estruturou o sistema produtivo colonial Ibérico.
· Entender os vários tipos de sistema de trabalho compulsórios e quais os ambientes mais adequados à sua aplicação.
· Aprender como, por que e onde se deu a introdução do escravismo africano nas Américas.
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Estrutura do sistema produtivo do sistema colonial ibérico
As necessidades que abarcavam o sistema produtivo ibérico, notadamente o hispânico, não se limitavam à mão de obra. Os trabalhadores precisavam de alojamentos, armazéns, igrejas, tavernas. Por sua vez, as minas precisavam de escoras para os poços, de alvenaria, de cabrestantes, de escadas e de grande quantidade de couro.
Necessitava-se, igualmente, de mulas e cavalos para transportes das barras para os locais de cunhagem e portos de exportação, para o transporte de produtos das plantações e das estâncias e para o carregamento das mercadorias europeias que aportavam ao litoral e que eram requisitadas pelos centros de mineração (utensílios de ferro e aço, artigos de luxo e, acima de tudo, o mercúrio, utilizado na amalgamação da prata a partir dos minérios brutos).
A mineração criou, igualmente, um mercado interno voltado para o consumo da produção colonial de têxteis de lã e algodão elaborados por artesãos individuais. 
Apesar das proibições, essa produção artesanal expandiu-se bastante já que os atacadistas importadores-exportadores manipulavam com exclusividade as lãs e sedas de excelente qualidade e altos preços fornecidos pela Europa Ocidental ou Extremo Oriente.
Os espanhóis necessitaram de setenta e oito anos para ocupar o território que viria a se tornar o seu império na América e levaram duzentos anos em tentativas e erros para estabelecer os elementos de uma economia colonial vinculada à Espanha e, através desta, à Europa Ocidental.
Por volta de 1700, a estrutura do seu sistema produtivo era composta pelos seguintes elementos:
01. Uma série de enclaves (territórios) de mineração, no México e no Peru.
02. Áreas de agricultura e pecuária situadas na periferia dos enclaves de mineração e voltadas para o fornecimento de gêneros alimentícios e matérias-primas.
03. Um sistema comercial planejado para permitir o escoamento da prata e do ouro (em espécie ou em lingotes) para a Espanha que, de posse dessa riqueza, adquiria os artigos produzidos na Europa Ocidental e escoados através de portos espanhóis para as colônias americanas.
Em se tratando de América portuguesa, a colonização por meio de agricultura tropical, como a inauguraram pioneiramente os súditos da Coroa, aparece como solução inicial através da qual se tornou possível valorizar economicamente as terras descobertas, e dessa forma garantir-lhes a posse (pelo povoamento).
Ou seja, isso permitiu enquadrar as novas áreas no esforço de recuperaçãoe expansão econômica que se vinha empreendendo, ao contrário do que ocorreu com a América espanhola, onde a mineração é que permitirá o ajustamento das condições americanas aos estímulos da economia europeia. No entanto, o caráter da empresa é evidentemente idêntico.
O sistema de colonização que a política econômica mercantilista visa desenvolver tem em mira os mesmos fins mais gerais do mercantilismo e a eles se subordina. 
Por isso, a primeira preocupação dos Estados Colonizadores será de resguardar a área de seu império colonial face às demais potências. Dessa forma, a administração se fará a partir da metrópole e a preocupação fiscal dominará todo o mecanismo administrativo. No entanto, a espinha dorsal do sistema, seu elemento definidor, reside no monopólio do comércio colonial.
Vídeo 01:
Em torno da preservação do monopólio, assumido inteiramente pelo 
Estado ou reservado à classe mercantil da metrópole ou parte dela, é que 
gira toda a política do sistema colonial. E aqui reaparece o caráter de exploração mercantil, que a colonização incorporou na expansão comercial, da qual foi um desdobramento.
Monopólio comercial
O monopólio do comércio das colônias pela metrópole define o sistema colonial porque é através dele que as colônias preenchem a sua função histórica, ou seja, respondem aos estímulos que lhe deram origem, que formam a sua razão de ser, enfim, que lhes dão sentido.
Reservando para si, com exclusividade, a aquisição de produtos coloniais, a burguesia mercantil metropolitana  pode forçar a baixa de seus preços até o mínimo, além do qual a produção se tornaria antieconômica. Dessa forma, a revenda na metrópole ou em outro lugar a preço de mercado cria uma margem de lucro apropriada pelos mercadores intermediários
A colonização agrícola no Brasil já se inicia dentro da estrutura monopolista do sistema colonial. O princípio já tinha se fixado nas experiências anteriores e derivava das próprias condições histórico-econômicas em que se processara a expansão marítima.
Alguns setores da exploração da América portuguesa reservam-se diretamente à Coroa, os chamados “estancos”, como o Pau-Brasil e sal, por exemplo. No mais, o grande comércio açucareiro fica dentro do monopólio da classe mercantil portuguesa.
O período de domínio espanhol, União Ibérica (1580-1640), assinala um enrijecimento desse regime monopolista. No entanto, após a restauração (1640), as mudanças da dinastia bragantina face ao equilíbrio europeu obrigaram-na a algumas concessões, todavia, sempre se buscava contornar algumas das cessões consignadas nos tratados.
Por outro lado, em um esforço para revigorar o comércio ultramarino português e inspirando-se no êxito da experiência holandesa, a política colonial lusitana se orienta para o regime das companhias de comércio (Cia. Geral do Comércio do Brasil – 1649), que representam um fortalecimento do regime monopolista.
Vídeo 02:
Encomienda (1509)
Foi a primeira forma institucionalizada de uso de trabalho indígena. Desenvolveu-se durante a segunda década do século XVI, em substituição à escravidão, ou como um compromisso oficial entre a escravidão extrema praticada pelos primeiros colonos e o sistema de trabalho livre, teoricamente aprovado pela Coroa.
No sistema de encomienda, o rei espanhol, na figura de seus administradores, concedia uma permissão à figura de um encomendero. Este, por sua vez, poderia utilizar-se da mão de obra de toda uma comunidade indígena, podendo exigir-lhes trabalho (encomienda de serviços) e gêneros (encomienda de tributos).
Em troca, o encomendero era obrigado a oferecer a catequização a todos os indígenas postos sob a sua responsabilidade.
O encomendero não poderia tomar as terras das comunidades indígenas e a sua concessão era repassada somente às duas gerações seguintes. Apesar dessas restrições, o sistema de encomienda também foi marcado pelo abuso e a exploração intensa das populações nativas.
Uma das maiores provas da violência e imposição dos espanhóis pode ser observada no rápido processo de dizimação das várias comunidades indígenas americanas.
A encomienda proporcionou o enriquecimento de muitos conquistadores e primeiros colonizadores, tendo sido a base das primeiras fortunas coloniais. Hernán Cortés, por exemplo, utilizou-se de uma encomienda (aproximadamente 400 índios) para extrair ouro, construir estaleiros e barcos e manter soldados nas terras recém-descobertas. Ainda que não houvesse conexão legal entre esse sistema e propriedade de terra, ao menos nas zonas mais importantes do império, a relação era clara.
Para barrar a catástrofe demográfica e os ímpetos senhoriais dos encomienderos, em 1542, foram promulgadas as Leyes Nuevas (novas leis), proibindo a escravidão indígena. Essas leis retiravam as encomiendas das autoridades civis e eclesiásticas, impediam a concessão de novas encomiendas e proibiam a sua hereditariedade.
Em 1549, proibiu-se também a prestação de serviços dos índios aos  encomenderos, mantendo-se a obrigação de tributos.
Na segunda metade do século XVI, a instituição de encomienda foi sendo progressivamente abandonada no México e no Peru, persistindo por muito tempo em áreas periféricas como o Paraguai, Tucumán, Chile, Yucatán, inclusive com o direito de prestação de trabalho.
Repartimiento
O sistema de repartimiento de índios substituiu a encomienda, ainda que esta tenha subsistido ao seu lado por algum tempo. Era um sistema já conhecido pelas populações indígenas, antes exploradas pelo império Inca (mita) e asteca (cuatéquil).
Nesse sistema, índios selecionados por sorteio deveriam trabalhar compulsoriamente durante certo tempo. Em geral, os indígenas eram submetidos às realizações de tarefas desgastantes em um ambiente bastante adverso. Ao fim da jornada, esses índios recebiam uma compensação financeira de baixo valor.
Cada comunidade deveria fornecer um número proporcional à sua população de homens adultos que trabalhariam periodicamente nas empresas coloniais (minas, haciendas e serviços públicos) em troca de um jornal diário (o que se recebia por uma jornada), retornando depois à sua aldeia.
Os trabalhadores eram designados pela autoridade comunal indígena, 
que os entregava a um “juiz repartidor” espanhol, que, por sua 
vez, os distribuía entre os colonos espanhóis.
O cargo de “juiz repartidor” passou a ser disputado por criollos pobres, que o perceberam como uma forma de enriquecimento:
· os índios e as comunidades subornavam os juízes para obterem isenções do trabalho e
· os hacendados espanhóis, para obterem um maior número de trabalhadores ou para que fossem ignorados alongamentos da temporada laboral ou as condições adversas de trabalho.
A vigência do repartimiento de índios significou a vinculação definitiva da população indígena ao processo econômico comandado pelos espanhóis, em condições de dominação e exploração crescentes. A imposição do novo sistema de trabalho produziu mudanças profundas nas comunidades.
 (
No período anterior à conquista e durante o da 
encomienda
, o indígena produzia seus meios de subsistência e o excedente imposto por seus dominadores, geralmente no mesmo espaço e sob as mesmas condições de produção.
No entanto, com o
 
repartimiento
 
houve uma cisão.
) (
A produção dos meios de subsistência continuou a ser efetuada nas terras comunais, enquanto o trabalho excedente era realizado fora delas, sob condições de produção distintas, em atividades especializadas da economia espanhola (mineração, agricultura e pecuária), com meios de produção e comandos alheios à comunidade.
)
Eram os funcionários espanhóis, e não mais as autoridades indígenas, que fixavam os tempos do trabalho compulsório, suas condições de execução, o salário e a divisão dos trabalhadores.
O novo sistema se apresentava mais vantajoso para a Coroa e para muitos colonos: sua consequência imediata seria o afastamento dos índios do controle arbitrário dos encomenderos, diminuindo sua riqueza e poder político que, de certa forma, interessava à Coroa. O novo sistematambém colocava os índios à disposição do crescente número de espanhóis que chegavam ao Novo Mundo (em 1570 apenas 4 mil dos 23 mil espanhóis possuíam encomiendas).
Hacienda
Largamente praticado, o sistema de hacienda consistia no endividamento de trabalhadores, afim de retê-los na propriedade.
A relação é amplamente conhecida como peonaje, na qual o trabalhador recebia como salário um crédito na tienda de raya (onde retirava alimentos, roupas etc), além de um lote mínimo de subsistência.
Suas contas eram manipuladas pelo hacendado de modo a tornar insolvente a dívida do peão, que ficava obrigado a pagá-la com trabalho. Enfim, muitos índios se dirigiam voluntariamente para as haciendas, sobretudo no século XVII, a fim de escaparem do repartimiento, dispondo-se a trabalhar gratuitamente para os fazendeiros em troca de um exíguo lote de subsistência.
Introdução do escravismo africano no sistema colonial ibérico
Na colonização espanhola, os escravos africanos passaram a ser um recurso estratégico, pois eram vistos, ao mesmo tempo, como mais confiáveis, resistentes e flexíveis do que a população nativa, e capazes de serem levados para pontos fracos do sistema imperial. No entanto, a permissão para sua entrada foi dada com cautela, e mesmo assim em pequeno número, já que havia sempre o risco de que exacerbassem a situação instável e delicada das primeiras décadas.
Até o ano de 1550, só estava registrada a importação de cerca de 15.000 escravos africanos pela América espanhola. Alguns africanos acompanharam as expedições iniciais de conquista, na comitiva dos principais conquistadores.
Os primeiros escravos africanos levados para o Novo Mundo vinham quase sempre das Ilhas Canárias ou da própria Península Ibérica, por isso, sabiam falar espanhol e já haviam adaptado suas habilidades à sociedade colonial.
Em 1510, foi permitida a exportação de 250 escravos de Lisboa, e, em 1518, foi preparado o primeiro asiento (tratado ou acordo  através do qual um grupo de comerciantes recebia da coroa espanhola uma rota comercial ou o monopólio de um produto) para o comércio de escravos.
Esses escravos eram admitidos por meio de uma licença, pela qual pagava-se uma taxa. Além disso, judeus, mouros, estrangeiros e hereges – na verdade, todos que não eram súditos de Castela ou não tinham o sangue puro – estavam formalmente excluídos das Índias.
Escravos africanos eram usados como criados, pedreiros, carpinteiros, coureiros, lavadeiras e cozinheiras, além de seu emprego nas plantations e obrajes, ou oficinas têxteis, nas quais predominava a mão de obra indígena.
Bartolomé de Las Casas, o dominicano que lutou contra os maus-tratos impostos aos índios, achou aceitável a escravidão de africanos em seu período inicial, e propôs, num texto de 1516, que os colonos tivessem permissão de utilizar africanos em vez de índios.
Essa proposta foi uma reação ao impacto completamente destrutivo da exploração, pelos colonos espanhóis, daqueles que lhes haviam sido confiados, retratando de maneira impressionante a ganância, a rapacidade sexual e a arrogância do  encomendero.
A situação dos africanos lhe parecia diferente, eles sobreviviam às condições de vida nas ilhas tão bem ou melhor que os espanhóis. Eram tratados como criados e eram mais estimados porque sabiam como cuidar de si mesmos e, por extensão, como cuidar de seus donos.
Las Casas reveria suas opiniões sobre a aceitação da escravidão africana quando grande número desses escravos ficou disponível e foi submetido aos trabalhos mais pesados. Essa mudança de opinião representou em parte um aprofundamento de sua hostilidade em relação aos colonizadores. No fim de sua vida, escreveu que se arrependia amargamente de ter recomendado a importação de mais escravos africanos, e não tinha certeza se Deus o perdoaria por isso.
 Bartolomé de Las Casas.
Vídeo 02:
 “A escravidão africana e o comércio atlântico de escravos acabaram dando uma contribuição expressiva para a fórmula imperial espanhola. A introdução de escravos africanos no novo mundo tinha dois aspectos positivos principais: em primeiro lugar, a venda de licenças para a entrada de africanos gerava dinheiro para o tesouro real, sempre uma preocupação importante. Em segundo lugar, ajudava o poder colonizador a fornecer mão de obra aos centros urbanos e aos novos empreendimentos, numa época em que a população nativa já tinha sido dizimada.” (BLACKBURN, 2003, p.166).
A taxa de importação de africanos aumentou com o decorrer do século, porque não havia escravos índios disponíveis nos principais centros e também porque os colonos espanhóis tinham dinheiro para comprá-los. Como as autoridades foram lentas em sua reação, corsários e intrusos ingleses e franceses passaram a contrabandear escravos em meados do século.
É importante registrar que apesar da redução assustadora do tamanho das populações indígenas, elas ainda representavam uma ameaça potencial aos conquistadores. Além disso, durante um período considerável, suas instituições preservaram a vitalidade.
Atenção
Apesar de diferente da escravidão negra adotada no Brasil, a exploração do trabalho indígena também é tratada por muitos historiadores como escravismo. No entanto, o termo predominante nos livros de história é trabalho compulsório.
Já o trabalho negro adotado em Cuba e nos países da América do Sul espanhola se assemelha muito ao trabalho escravo do Brasil, ao contrário do trabalho escravo negro adotado no sul dos Estados Unidos, onde os escravos eram bem tratados, incentivados a formar famílias, a se reproduzirem, como forma de reposição de mão de obra, sem que houvesse grande miscigenação de raças.
Escravismo como fator de produção agrícola em grande escala
Nas colônias onde não foi possível se dedicar imediatamente à mineração dos metais nobres, como na América espanhola, a colonização se especializaria na produção de produtos agrícolas tropicais. Dentre eles, o açúcar ocupava no início do século XVI uma posição excepcional no mercado europeu.
Cultivado nas ilhas atlânticas portuguesas, comercializado nas praças flamengas, a sua procura crescia na medida em que, por um lado, se desalojavam antigos centros de ofertas (produção siciliana), e, por outro, em função da elevação geral do nível de renda da população europeia nesta fase de desenvolvimento.
Além disso, a comercialização nas praças flamengas assegura à distribuição do produto os recursos das mais adiantadas técnicas de negócios da época.
Engenho de Pernambuco (século XVII).
A cultura da cana e o fabrico do açúcar nas regiões quentes e úmidas do Brasil tropical apresentam-se, assim, na quarta década do século XVI, como uma solução que permitia ao mesmo tempo valorizar economicamente a extensa colônia, integrando-a nas linhas do grande comércio europeu, e promover o seu povoamento e ocupação  efetiva, facilitando a sua defesa ante a concorrência colonial das grandes potências.
VISCONTI, Eliseu. Marco de sesmaria. 1921. Óleo sobre tela, 60 cm x 80 cm.
É assim que, com a instituição das donatárias, se inicia na América portuguesa as cessões territoriais (os donatários, além da porção de que se apropriavam, podiam e deviam ceder terras em nome do rei – as “sesmarias”) com vistas a implantação da cultura canavieira e manufatura do açúcar para o mercado europeu.
Mercado consumidor
A produção para o mercado europeu posteriormente se desdobrará nos outros produtos tropicais (tabaco, algodão etc.) em toda a América colonial (portuguesa, espanhola, inglesa, francesa); mas será sempre em torno deste tipo de produção – ou da mineração – que se desenvolverá a economia colonial.
A especialização da economia colonial em produtos complementares à produção europeia e seu caráter “monocultor” se inserem na mesma lógica da época mercantilista, e deriva das condições histórico-econômicas em que se estabeleceu.
A maneira de se produzir os produtos coloniais fica subordinada ao sentido geral do sistema, ou seja, a produção devia se

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