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2020 APOSTILA DE DOENÇAS DOS SUÍNOS PROF. GERALDO CAMILO ALBERTON Universidade Federal do Paraná – Setor Palotina Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 1 Sumário Capítulo 1 - Aspectos gerais sobre as doenças dos suínos .............................................................. 3 1. Interação entre as doenças com o ambiente da granja, a microbiota ................................................... 3 2. Como controlar patógenos facultativos nas granjas de suínos ............................................................. 6 CAPÍTULO 2 - DOENÇAS DO TRATO DIGESTÓRIO .......................................................................... 11 1. Colibacilose Neonatal ................................................................................................................... 11 2. Coccidiose .................................................................................................................................... 13 3. Rotavirose ........................................................................................................................................... 14 4. Colibacilose Pós-desmame ........................................................................................................... 16 5. Disenteria Suína ........................................................................................................................... 16 6. Colite Espiroquetal ....................................................................................................................... 20 7. Úlcera Gástrica ............................................................................................................................. 22 CAPÍTULO 3 - DOENÇAS DO TRATO RESPIRATÓRIO....................................................................... 25 1. Rinite Atrófica Progressiva ........................................................................................................... 25 2. Pneumonia Enzoótica ................................................................................................................... 28 CAPÍTULO 4 - DOENÇAS DO SISTEMA LOCOMOTOR ...................................................................... 32 1. Osteocondrose ............................................................................................................................. 32 2. Lesões nos Cascos......................................................................................................................... 36 3. Artrite dos Lactentes .................................................................................................................... 40 CAPÍTULO 5 - DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO ........................................................................... 42 1. Meningite Estreptocócica ............................................................................................................. 42 2. Doença de Aujeszky ..................................................................................................................... 43 3. Intoxicação por Sal ....................................................................................................................... 46 CAPÍTULO 6 - INFECÇÃO DO TRATO GÊNITO-URINÁRIO EM PORCAS ............................................ 48 1. Infecções urinárias ....................................................................................................................... 48 2. Parvovirose Suína ......................................................................................................................... 56 CAPÍTULO 7 – DOENÇAS QUE AFETAM MÚLTIPLOS SISTEMAS ..................................................... 59 1. Circovirose .......................................................................................................................................... 59 2. Erisipela dos Suínos ............................................................................................................................ 61 3. Peste Suína Clássica...................................................................................................................... 62 CAPÍTULO 8 - MICOTOXICOSES...................................................................................................... 65 1. Características das micotoxinas .......................................................................................................... 65 2. Intoxicação por Aflatoxina .................................................................................................................. 66 Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 2 3. Intoxicação por zearalenona ............................................................................................................... 68 4. Intoxicação por fumonisina ................................................................................................................ 69 5.Intoxicação por tricotecenos ............................................................................................................... 69 CAPÍTULO 9 - GRANJA DE REPRODUTORES SUÍDEOS CERTIFICADA – GRSC .................................. 70 Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 3 Capítulo 1 - Aspectos gerais sobre as doenças dos suínos 1. Interação entre as doenças com o ambiente da granja, a microbiota Nas granjas modernas, apesar de todas as medidas de biossegurança e de manejo, muitas doenças podem se desencadear. De acordo com o comportamento destas enfermidades, elas podem ser classificadas em duas grandes categorias: a) Doenças causadas por um agente específico, com alta contagiosidade e que são denominadas doenças primárias, como exemplos: Febre Aftosa, Peste Suína Clássica e Doença de Aujeszky. b) Doenças de etiologia complexa que encontram em certos rebanhos, condições predisponentes e permanecem como doenças enzoóticas, também chamadas de doenças do rebanho ou doenças multifatoriais (ex. meningite estreptocócica, Doença de Glasser e infecção urinária). Estas doenças geralmente são provocadas por patógenos facultativos e que fazem parte da microbiota normal dos suínos. 1.1 - DOENÇAS MULTIFATORIAIS Estima-se que 85% ou mais das perdas sanitárias em uma criação intensiva de suínos estejam relacionadas às doenças multifatoriais. A importância das doenças multifatoriais, no entanto, não é absoluta e sim determinada por fatores intrínsecos da própria granja, os quais nem sempre inviabilizam a produção, mas influenciam consideravelmente nos resultados de produtividade. Os fatores intrínsecos da criação fazem com que determinadas doenças multifatoriais tornem-se mais importantes que outras. Por exemplo, as infecções urinárias causam elevadas perdas em alguns rebanhos e, não são importantes em outros. Quando uma doença multifatorial se desenvolve dentro de uma criação, seu nível de intensidade não depende somente das características de virulência do agente determinante, mas principalmente das condições ambientais fornecidas e do hospedeiro em si. Quando os fatores ambientais agem sobre o hospedeiro de forma negativa, aumenta a probabilidade da ocorrência e da gravidade da doença na criação. 1.2 FATORES DE RISCOS Fator de risco representa uma característica do indivíduo ou do seu ambiente que, uma vez presente em um dado sistema de produção, aumenta a probabilidade de aparecimento e desenvolvimento de determinados problemas sanitários. Os fatores de risco para determinadas doenças podem diferir de uma região para outra. Cada rebanho deve medir suas variáveis em função do problema existente, para encontrar os fatores de risco mais importantes. Contaminação ambiental Em criações intensivas, a frequência e gravidade de ocorrência de doenças está diretamente relacionadas com o nível de contaminação ambiental e este, por sua vez, está relacionadoao sistema de manejo da instalação e ao programa de limpeza e desinfecção. Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 4 Sistema de manejo contínuo: Neste sistema, suínos de diferentes idades são mantidos em uma mesma instalação; desta forma, os animais mais velhos que estejam excretando agentes patogênicos, contaminam os mais novos e desta forma, os agentes infecciosos sempre estão presentes, e dificilmente consegue-se manter seu nível abaixo do limiar de infecção conforme pode ser visto na FIGURA 1. Nas maternidades que adotam este sistema de produção, temos constantemente porcas parindo, porcas com leitões recém-nascidos e com leitões em diferentes faixas etárias. A partir do momento que a concentração de agentes patogênicos ultrapassa o limiar de infecção, ocorrerão com frequência casos de diarreia e artrites, entre outras, e a taxa de mortalidade crescerá progressivamente. Fig.1 - Evolução da concentração de agentes patogênicos em uma granja com sistema contínuo de produção. (l) início da contaminação em uma granja com pressão de infecção baixa. (2) cada queda da curva de evolução indica que as instalações foram limpas, lavadas e desinfetadas. (3) o nível de infecção foi ultrapassado e surge a doença. Sistema de manejo "todos dentro todos fora": Este sistema consiste no manejo em lotes, de modo que cada lote de animais estão na mesma idade ou na mesmo estágio reprodutivo. Na maternidade, creche, recria e terminação, este manejo é muito importante, para que não haja mistura de animais de idades diferentes. Na maternidade, por exemplo, as atividades ocorrem numa série de salas de parto, ao invés de uma única, onde um grupo de porcas pare num mesmo período e são todas desmamadas ao mesmo tempo. Isto permite a limpeza e desinfecção completa e simultânea de todas as áreas da sala de parto, quebrando-se assim o ciclo de transmissão de agentes patogênicos dos animais mais velhos para os mais novos e fornecendo aos leitões um ambiente com concentração de agentes patogênicos praticamente semelhante ao de uma granja nova (FIGURA 2). Figura 2 - Evolução da concentração de agentes patogênicos em uma granja que utiliza o sistema de manejo " todos dentro todos fora". (1) A sala é limpa e desinfetada completamente. A pressão de infecção cai periodicamente até o nível de uma granja nova. (2) Excepcionalmente o nível de infecção pode ser ultrapassado, porém após lavar e desinfetar a unidade volta ao nível de uma granja nova. Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 5 Quebrando-se o ciclo de transmissão de agentes patogênicos dos leitões mais velhos para os mais novos, reduz-se automaticamente a probabilidade de incidência de algumas das principais doenças que se desenvolvem na maternidade e, os leitões apresentam melhor desenvolvimento, inclusive após o desmame. Vazio sanitário Considera-se como vazio sanitário, o período em que a instalação permanece vazia após a limpeza e desinfecção. Este período permite a destruição de microrganismos não destruídos pela desinfecção, mas que se tornam sensíveis à ação dos agentes físicos naturais. Para uma secagem completa, são necessários no mínimo 4 a 8 dias de vazio. O período de vazio sanitário somente terá validade se a instalação permitir que o local seja fechado à passagem de qualquer pessoa ou de animais. Entretanto, durante o dia, as cortinas deverão permanecer aberta para melhor secagem e penetração da luz solar. Atualmente, como os custos das instalações são muito grandes, as granjas não praticam o vazio sanitário necessário para que as instalações sequem completamente. Isto contribui para a manutenção de patógenos no ambiente e para a continua circulação dos agentes patogênicos no ambiente. Acredita-se que não haverá retorno para a prática de vazios sanitários prolongados e novas tecnologias deverão ser desenvolvidas para secar as instalações em curto período de tempo, algo que ainda não está disponível na suinocultura. Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 6 2. Como controlar patógenos facultativos nas granjas de suínos Na suinocultura intensiva, as principais doenças que acometem os suínos são as multifatoriais, sendo estas enfermidades desencadeadas por fatores de risco existentes nas granjas. Em condições de criações comerciais, poucos suínos chegam ao peso final sem terem adquirido algum tipo de doença, principalmente as entéricas e as respiratórias O impacto econômico destas enfermidades deve-se a diminuição na taxa de crescimento, aumento da conversão alimentar, aumento no uso de antibióticos, eliminação de animais doentes, mortes e condenação de carcaça. A grande maioria dos agentes que causam as doenças mais frequentes na suinocultura pode ser encontrada em todas as granjas, sem necessariamente causar doença. Estes agentes podem ser considerados como patógenos facultativos, pois a presença dos mesmos no animal ou no rebanho é natural e esperada. Como exemplo cita-se Pasteurella multocida, Actinobacillus pleuropneumoniae, Haemophilus parasuis, Streptococcus suis e Mycoplasma hyorhinis. Por outro lado, existem agentes que quando presentes no rebanho, sempre desencadeiam a doença, como é o caso do Mycoplasma hyopneumoniae, além dos agentes primários como vírus da Doença de Aujeszky e da Peste Suína Clássica. Estes não são considerados patógenos facultativos, portanto, na medida do possível, as granjas devem ficar livres dos mesmos. Embora os patógenos facultativos possam permanecer sem causar doenças, nas últimas décadas eles têm causado prejuízos de grande monta à suinocultura, desencadeando doenças como a Doença de Glasser, a pleuropneumonia, a meningite estreptocócica, enterites, entre outras. Para controlar estas doenças, tem se destacado o uso profilático e metafilático de antibióticos, vacinação e medidas de biossegurança. Apesar do avanço sanitário significativo que estas medidas proporcionaram à suinocultura, as doenças causadas pelos patógenos facultativos continuam sendo muito frequentes nos dias de hoje, sendo que algumas delas como a Doença de Glasser, tem se manifestado com mais frequência do que no passado. Adicionalmente, alguns agentes que raramente causavam doença, atualmente têm provocado prejuízos, como é o caso do Mycoplasma hyorhinis e o Clostridium difficile. O fracasso no controle das enfermidades causadas por agentes da microbiota normal e o surgimento de novas doenças também causadas por agentes que sempre estiveram nas granjas nos faz refletir sobre a maneira como a suinocultura está enfrentando este problema e, se as estratégias de controle destas enfermidades podem estar contribuindo para que novas doenças surjam e que patógenos facultativos encontrem oportunidade para causar doenças. Como os patógenos facultativos possuem capacidade de causar doença, para que o convívio com os suínos seja harmonioso, uma série de condições deve ser atendida, caso contrário, muitas enfermidades surgem na granja. Deste modo, o objetivo desta revisão é apresentar os princípios básicos sobre microbiota normal e exclusão competitiva, bem como discutir algumas práticas de manejo que podem auxiliar no estabelecimento da microbiota normal dos suínos. 2.1 Colonização e imunidade Os leitões ao nascer são colonizados por uma série de microrganismos, sendo que a porca e o ambiente são as principais fontes destes agentes. A colonização por estes agentes no momento que a imunidade passiva é alta, é um mecanismo natural de proteção da leitegada e, no caso do H. parasuis e S. suis esta colonização precoce com cepas da granja, é o principal mecanismo de proteção da leitegada contra a doença causada por estes agentes na fase pós-desmame. Alguns agentes como o S. suis colonizam os leitões já no momento do nascimento e outros colonizam ao longo da lactação, como o H. parasuisaos 14 dias e o A. pleuropneumoniae aos 28 dias. Deste modo, leitões desmamados precocemente apresentam menor percentual de colonização do que leitões desmamados com 28 dias de idade. O ponto chave no sucesso da colonização dos leitões, sem o desencadeamento da doença, está na existência de imunidade aos agentes colonizadores, caso contrário, se a cepa colonizadora for Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 7 patogênica, a mesma pode desencadear a doença. Neste sentido, biologicamente, os leitões devem receber a maior parte da colonização pelo contato com sua mãe, que, por outro lado, lhe fornece também a imunidade passiva para os agentes que estão sendo transferidos, de modo que o equilíbrio entre agente e imunidade permitirá que não ocorra a doença. Portanto, para que os patógenos facultativos estejam em equilíbrio com os animais, deve ocorrer eficiente transferência destes agentes da porca para os leitões no período enquanto a proteção pela imunidade passiva é maior. Dois fatores devem ser analisados a partir desta situação de manejo, a própria função da imunidade passiva e o resultado da colonização precoce das mucosas, ambos imunologicamente de grande relevância para o desempenho deste indivíduo no futuro. Inicialmente, como a própria função desta imunidade passiva, na forma de anticorpos passados pelo colostro, na medida em que são homólogos aos desafios iniciais do ambiente, permitem que o neonato suporte um desafio inicial, resultando no contato com o patógeno e estimulação da imunidade adaptativa deste leitão para recrutamento da mesma em desafios futuros, com sobrevivência e desempenho zootécnico adequado. O outro fator a ser analisado é o resultado direto desta colonização precoce das mucosas, principalmente, que culmina com o incremento da resposta inata constitutiva. Esta será a resposta mais interessante para o animal na sua vida produtiva, pelo baixo custo metabólico de manutenção e de uso. Entretanto, vale lembrar que grande parte das bactérias que colonizam os leitões possui potencial patogênico, de modo que em algumas doenças, como por exemplo, a meningite estreptocócica, a presença de portadores sadios associado a fatores de risco, principalmente ambiência inadequada, que predispõe a queda de imunidade, é suficiente para desencadear a doença clínica no rebanho. Assim sendo, tanto a presença como a ausência dos agentes colonizadores precoces deve ser encarada como fator de risco, sendo que a ausência é muito mais perigosa para o rebanho. Uma questão importante a ser analisada é o papel biológico destes patógenos facultativos. As bactérias existem como seres integrados em seus nichos, e não como agentes infecciosos. Sua colonização em locais inadequados é que recebe os termos de infecção ou contaminação, mas do ponto de vista do ambiente natural, estas bactérias estão cumprindo seus papéis. Neste sentido, quando uma determinada doença é desencadeada no rebanho, antes de se incriminar os possíveis responsáveis pela introdução daquele agente patogênico no plantel, deve haver a análise das possíveis práticas de manejo que favoreceram o desencadeamento da doença por um agente que já existia na granja. Esta análise fica ainda mais reforçada, quando observamos estudos com microbiota normal dos javalis, que são do mesmo gênero e espécie do suíno doméstico. Nestes animais em vida livre, observaram similaridade de microbiota do trato respiratório superior com as dos suínos domésticos. Observaram, também, que as cepas de H. parasuis encontradas nos javalis não eram diferentes das observadas nos suínos domésticos. Importante salientar, que a Doença de Glasser não é uma enfermidade relatada em javalis de vida livre, o que nos demonstra que o desencadeamento desta doença nas criações de suínos modernas, deve-se a uma falha na convivência com o agente e não uma consequência natural da presença do mesmo no rebanho. Para reduzir os riscos de doenças nas granjas, tem sido proposta a erradicação destes patógenos facultativos. Entretanto, a eliminação de uma bactéria em um ambiente abre vaga para novo organismo, o qual estava sendo excluído pela presença da primeira. Na maioria das vezes, o novo organismo tem impacto absolutamente imprevisível. Neste sentido, foi apresentado uma teoria que tenta explicar a alta frequência da contaminação de ovos e a ocorrência de tantos surtos recentes de infecções por Salmonella Enteritidis em pessoas: a S. Enteritidis, que antes se restringia aos roedores, passou a ocupar nicho deixado nas criações de aves comerciais pela erradicação de S. Pullorum-Gallinarum. Em outras palavras, a infecção por S. Pullorum-Gallinarum proporcionava exclusão competitiva de S. Enteritidis. Em condições normais, a maior parte dos agentes patogênicos precisa de um sítio de ligação para se fixar no hospedeiro e, a partir daí, iniciar sua multiplicação. Baseado nesse conceito, a competição de sítios específicos é uma forma interessante de controlar a manifestação clínica de alguns patógenos, por meio da exclusão competitiva. Deve-se considerar que somente a interferência no processo de adesão das bactérias à célula não é capaz de prevenir a colonização Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 8 e a infecção. Este princípio é baseado em cepas com diferentes graus de patogenicidade, porém com antígenos comuns. Uma vez que o sítio de ligação em questão está ocupado por bactérias menos virulentas, porém com antígenos comuns às cepas virulentas, este sítio não estará disponível para a fixação de cepas mais virulentas, caso a mesma esteja presente na granja. Ainda com relação aos patógenos facultativos, observa-se que a presença deles no organismo dos leitões é favorável ao controle de doenças por dois mecanismos diferentes, ou seja, a exclusão competitiva, onde um agente menos patogênico ocupa o nicho que poderia ser ocupado por outro mais patogênico; e a segunda forma seria a adaptação ao agente, independentemente da cepa ser patogênica ou não. Ainda assim, a microbiota residente regula a resposta imune também fora do intestino ou pulmão, ou seja, questões como tolerância imunológica e intensidade da resposta inflamatória são determinadas pela coexistência destes patógenos facultativos. Assim sendo, o manejo de maternidade tem um reflexo muito grande na saúde dos leitões nas fases subsequentes. Várias práticas de manejo interferem sobremaneira na colonização dos leitões, como, por exemplo, o uso de antibioticoterapia preventiva nas porcas e leitões, uso de vacinas e desmame com menos de 21 dias. Adicionalmente, outras práticas afetam a transferência de imunidade da porca para os leitões, como por exemplo, a preparação da leitoa, o manejo da ingestão do colostro e a transferência de leitões entre porcas. 2.2 Práticas de manejo para equilibrar colonização e imunidade dos leitões Adaptação sanitária das leitoas As leitoas possuem menor capacidade de transferência de microbiota para suas leitegadas e, da mesma forma, transferem menos imunidade passiva aos seus leitões. Deste modo, os leitões filhos de primíparas são considerados potenciais amplificadores de doenças, pois adoecem mais facilmente, amplificando os patógenos e aumentando a pressão de infecção; de tal forma que, até leitões que normalmente não desenvolveriam a doença, passam a adoecer devido ao desafio muito elevado. Desta forma, deve ser dada atenção especial ao manejo de adaptação sanitária destas futuras matrizes. Esta etapa deve ser realizada assim que as leitoas chegam à granja de destino, e deve ter duração de pelo menos dois meses. Neste período as fêmeas serão submetidas ao manejo de indução de puberdade e, paralelamente à adaptação sanitária, que consiste na exposição a animais mais velhos e materiais biológicos potenciais carreadores de microrganismos que irão infectar as leitoas. É importante salientar que este manejo deve ser encerrado pelo menos 15 dias antes dacobertura, evitando, desta forma, que a contaminação pelo parvovírus ou por outros vírus causadores de perdas reprodutivas, ocorra durante a gestação. Para leitoas alojadas em quarentena, este manejo de adaptação sanitária deve ser iniciado ainda nestas instalações, caso contrário, o tempo disponível para este manejo será reduzido. Deve-se dar preferência na aquisição de leitoas o mais jovem possível, pois quanto mais tempo elas ficarem em adaptação com a microbiota da nova granja antes da primeira cobertura, melhor será a transferência de anticorpos e microbiota para os leitões. De forma prática, as leitoas devem ficar alojadas o mais próximo possível de porcas mais velhas e, o ideal é que na baia das leitoas fosse alojada uma porca multípara, podendo ser um animal descarte. Durante o manejo de indução de puberdade, o cachaço, que deve ser um animal adulto e de boa libido, deve ser introduzido na baia das leitoas, a fim de que ocorra melhor estímulo sexual e maior contaminação das leitoas com secreções, fezes e urina do macho. O cachaço deve permanecer no mínimo 15 minutos em cada baia, sempre com a supervisão de um funcionário. Algumas vezes na semana, deve ser jogadas nas baias das leitoas, fezes de porcas multíparas, bem como placentas e fetos mumificados picados. Este tipo de manejo não deverá ser realizado em granjas que possuam doenças primárias como leptospirose e Aujeszky, pois os agentes causadores destas enfermidades podem ser disseminados pelo manejo. No capítulo “Pneumonia Enzoótica” será discutida a “Aclimatação de leitoas”, que consiste em contaminar as leitoas recém-chegadas na granja com o Mycoplasma hyopneumoniae da granja de destino, de modo que as fêmeas Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 9 desenvolvam imunidade contra este agente o mais rápido possível, o que permitirá que as mesmas estejam livres deste agente no momento do primeiro parto, quebrando o ciclo de transmissão das porcas para os leitões. Neste caso específico não se trata de um agente de microbiota, portanto, quanto menos os leitões fiquem contaminados pela mãe na maternidade, menor será a gravidade da doença. Evitar o uso preventivo de antibióticos para as porcas na fase pré e pós-parto Uma prática bastante disseminada na suinocultura é a de medicar as rações das porcas com antibióticos de amplo espectro no período pré e pós-parto. Estas medicações auxiliam no controle de infecções urinárias, reduzindo então problemas puerperais, favorecendo o desenvolvimento dos leitões na maternidade. Por outro lado, estas medicações interferem na capacidade de colonização dos leitões pela microbiota normal, favorecendo, desta forma, o aparecimento de doenças nas fases de creche, recria e terminação. Vale ressaltar que a interferência que os antibióticos exercem na microbiota normal compromete o amadurecimento e a modulação do sistema imunológico. Como alternativa à antibioticoterapia preventiva, sugere-se medicar somente as porcas com problema de infecção urinária (Ver capítulo de 6 – Infecções do trato gênito-urinário). Não utilizar antibioticoterapia preventiva nos leitões na maternidade Como os leitões são muito susceptíveis à doenças como artrites, epidermites e diarreias na fase de maternidade, utiliza-se com frequência a medicação preventiva com antibiótico de amplo espectro e de longa duração. Estas medicações interferem na colonização precoce, prejudicando a estabilidade sanitária do rebanho. Esta prática de manejo deve ser substituída por melhorias de manejo e, com destaque para a limpeza e desinfecção das celas parideiras antes do alojamento das porcas, bem como o controle de temperatura e umidade. O uso de antibiótico nesta fase deve ser somente curativo ou metafilático. Manejo adequado de ingestão do colostro e uniformização de leitegadas As porcas possuem placenta epiteliocorial e, desta forma, não existe transferência de anticorpos para os fetos via placenta. Deste modo, os leitões dependem da ingestão imediata do colostro para receber a imunidade passiva da mãe, sendo que a concentração de IgG no plasma de leitões neonatos está positivamente relacionada com a taxa de sobrevivência dos mesmos. Como o epitélio intestinal dos leitões neonatos é permeável à macromoléculas como as imunoglobulinas apenas nas primeiras horas de vida, a partir de 12 horas de nascimento, esta transferência começa a diminuir, e torna-se praticamente nula entre 24 e 36 horas pós-parto. Além das imunoglobulinas, o colostro desempenha função importante de nutrição, maturação e desenvolvimento do epitélio intestinal, maturação de enzimas intestinais e desenvolvimento e modulação do sistema imune. O colostro também possui células do sistema imune da porca como polimorfonucleares, linfócitos e macrófagos que após a ingestão do colostro, atravessam a parede intestinal e invadem os linfonodos e outros tecidos dos leitões. Para que esta imunidade celular seja absorvida e colonize os órgãos linfóides, é necessário que os leitões mamem em suas mães biológicas, caso contrário estas células de defesa não atravessam o intestino dos leitões. Deste modo, quando os leitões tomam o colostro nas suas mães adotivas, as células de defesa não colonizam os órgãos linfóides, e os leitões perdem esta linha de defesa. A máxima transferência de imunidade via colostro ocorre nas primeiras doze horas de vida do leitão. Portanto, a transferência deve ser realizada após doze horas de permanência com suas mães biológicas e, somente quando necessário. Os leitões devem ser supervisionados por um funcionário, permitindo que todos tenham acesso ao aparelho mamário e façam mamadas de sucesso. Deve-se evitar ao máximo a prática de homogeneização por pesos, com mistura intensa de leitões de diferentes porcas, sendo que o máximo de transferências de leitões deve ser de 20%, diminuindo assim os desequilíbrios entre imunidade e colonização. O tempo máximo para transferência de imunidade pelo colostro é de 24 horas, pois após este período a capacidade de absorção de anticorpos do colostro da mãe adotiva será muito pequena, e Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 10 é muito importante que ocorra esta absorção, para que haja um equilíbrio entre a microbiota que ele vai receber da mãe adotiva com os anticorpos transferidos via colostro desta mãe. Não são recomendáveis novas transferências após as 24 horas de nascimento para equilibrar peso de leitegada, pois os novos reagrupamentos além de provocarem brigas e diminuírem o peso de desmame, geram novos desequilíbrios entre colonização e imunidade. Não desmamar com menos de 21 dias de idade. Além de um correto manejo de colostro, a idade de desmame é extremamente importante, pois animais que permanecem um período maior em contato com a mãe, tendem a apresentar melhor colonização pelos patógenos facultativos. Foi observado que leitões filhos de porcas mais velhas e que foram desmamados mais tarde, tiveram percentual maior de colonização por H. parasuis quando comparados com filhos de primíparas ou com leitões desmamados precocemente. Adicionalmente, os leitões com 24 dias de vida ou mais, apresentam melhor maturidade, o que lhe confere melhor capacidade de se adaptar à dietas sólidas. 2.3 Considerações finais As estratégias de controle dos patógenos facultativos que a suinocultura tem adotado nas últimas décadas têm sido frustrantes, pois além de não controlar efetivamente os agentes, tem contribuído para o surgimento de novas doenças. Deste modo, as evidências científicas indicam que o futuro será conviver com estes agentes, respeitando o equilíbrio natural entre os hospedeiros e sua microbiota. O mais interessante de tudo isso é que, embora a produção animal disponha de tecnologia da mais alta qualidade, a solução para o enfrentamento dos problemas com os patógenos facultativos envolverá as práticas de manejo mais simples e básicas. Novos produtos estão disponíveisna suinocultura, como os probióticos, os prébióticos, os ácidos orgânicos e os óleos essenciais. As pesquisas com estas substâncias têm sido animadoras e provavelmente estes produtos serão grandes aliados na busca pela estabilidade sanitária dos rebanhos. . Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 11 CAPÍTULO 2 - DOENÇAS DO TRATO DIGESTÓRIO QUADRO 2 – Distribuição, por faixa etária, das principais doenças gastrintestinais infecciosas dos suínos. Doença Faixa etária de maior ocorrência Agente Colibacilose neonatal 0 - 5 dias Escherichia coli Isosporose ou coccidiose 5 - 15 dias Cystoisospora suis Rotavirose 5 - 50 dias Rotavírus Colibacilose pós- desmama 30 - 50 dias Escherichia coli Colite espiroquetal Início do crescimento Brachyspira pilosicoli Disenteria suína Crescimento – terminação Brachyspira hyodysenteriae Ileíte 40 dias a 6 meses Lawsonia intracellularis Úlcera gástrica Recria/engorda e reprodutores Estresse + granulometria muito fina da ração 1. Colibacilose Neonatal Doença que acomete os leitões nos primeiros cinco dias de vida, produzindo diarreia intensa, seguida de desidratação e morte. Quando as instalações de maternidade eram com piso todo compacto esta doença era bastante importante na suinocultura. O uso de piso ripado de ferro ou plástico reduziu significativamente a umidade das instalações, e com isto, houve redução da incidência desta enfermidade. Etiologia A enfermidade é provocada por determinadas cepas de E.coli patogênicas. A patogenicidade está relacionada com o fato de certas cepas de E.coli possuírem estruturas que permitem a citoaderência e a produção de enterotoxinas. Fatores de aderência: A adesão da E.coli às vilosidades do intestino delgado é determinada por estruturas conhecidas como "pili" ou fimbrias, que são projeções semelhantes à pelos, que saem da parede bacteriana. Enterotoxinas: A atividade de hipersecreção no intestino delgado nos casos de colibacilose neonatal é determinada pela ação de enterotoxinas produzidas por certas cepas de E.coli. Epidemiologia Existem muitos fatores que influenciam a doença, dentre os quais podemos citar: Temperatura ambiental: a temperatura ideal para os leitões recém-nascidos se situa entre 30 a 32ºC, diminuindo com a idade. Com a queda da temperatura ambiental, há redução na ingestão do colostro e maior gasto de energia para a manutenção da temperatura corporal, com conseguinte predisposição às infecções bacterianas e virais (ver diagrama 1). Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 12 Contaminação das instalações: há uma relação direta entre a carga infecciosa ambiental e o aparecimento das diarreias, pois sempre que o nível de agressão superar a capacidade de resistência do organismo haverá o desencadeamento do quadro de doença clínica. Umidade ambiental e corrente de ar: quanto maior a umidade ambiental e presença de correntes de ar, maior a perda de calor do leitão. Baixa imunidade transferida pelo colostro: leitões nascidos de fêmeas primíparas são mais susceptíveis do que os nascidos de porcas multíparas. Isto se deve ao fato das porcas jovens não ter entrado em contato com determinados patógenos, não desenvolvendo imunidade para transferir aos leitões pelo colostro. Além disso, também em multíparas, falhas vacinais podem ocorrer, seja pela aplicação incorreta ou pela deficiência do sistema imune da fêmea que leva a menor capacidade de produzir anticorpos. Restrições ou dificuldades para que os leitões mamem o colostro: ocorre quando os leitões ficam presos no escamoteador por um período muito longo ou quando as barras laterais da cela parideira impedem o acesso aos tetos da porca. Patogenia Para que a E coli possa causar a doença, ela precisa aderir-se à mucosa do ID e produzir as enterotoxinas. As enterotoxinas se ligam a receptores específicos no epitélio intestinal, desencadeando a estimulação de duas enzimas: guanil ciclase e adenil ciclase. Estas enzimas provocam um incremento na concentração intracelular do AMP cíclico, causando aumento na transferência de bicarbonato de sódio e de água das células ao lúmem intestinal. Este aumento no fluxo secretório leva a um quadro de diarreia. Como consequência, pode-se chegar a um quadro de desidratação, hemoconcentração, acidose metabólica e morte. Sinais clínicos A doença pode afetar todos ou apenas alguns leitões da leitegada. O aparecimento da diarreia aparece comumente 24 horas após o parto, no entanto, a diarreia pode aparecer 2 a 3 horas após o parto. Alguns leitões podem morrer sem apresentar diarreia, enquanto outros mostram diversos graus desta. A diarreia é de coloração branca amarelada podendo variar para marrom. Os leitões continuam a mamar, mas quando a desidratação se agrava, ficam apáticos, e a taxa de mortalidade pode ser alta. Lesões Não há lesões microscópicas, mas é possível ver, em alguns casos, grande quantidade de bactérias aderidas às vilosidades formando uma “falsa borda em escova”. Macroscopicamente observa-se o intestino delgado repleto de líquido, muco e gás e a desidratação da carcaça. A mucosa do intestino delgado não apresenta alterações. Diagnóstico O diagnóstico clínico é fácil, mas deve-se fazer um diagnóstico diferencial com outras diarreias que acometem os suínos antes do desmame como rotavirose, TGE e a coccidiose. Tratamento e controle O uso de antimicrobianos para o tratamento da doença apresenta bons resultados, desde que sua utilização seja feita no início do processo. As drogas que possuem maior efetividade sobre a E. coli são as quinolonas, gentamicina e a neomicina. Estes princípios ativos são facilmente encontrados em formulações específicas para leitões recém-nascidos. Nos casos mais adiantados é necessário promover a reidratação dos leitões com aplicações via oral de soro caseiro ou de fluidos comerciais via intraperitoneal. A prevenção inclui a redução dos fatores predisponentes como a umidade e o frio, e a melhoria das condições sanitárias. Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 13 O uso de um programa de vacinação para a colibacilose neonatal associado com boas práticas de manejo tem dado bons resultados na prevenção da doença. A vacina deve ser aplicada da seguinte maneira: - Marrãs: 1ª dose – aos 80 dias de gestação 2ª dose – aos 100 dias de gestação - Porcas: aos 100 dias de gestação (dose única) 2. Coccidiose Doença que acomete leitões lactentes, produzindo diarreia persistente que provoca aumento acentuado na taxa de leitões refugos e baixa mortalidade. Doença bastante difundida na suinocultura brasileira, mas com baixo impacto econômico, uma vez que o uso de anticcoccidiano de forma preventiva é bastante difundido nas criações. Etiologia O agente principal é o protozoário Cystoisospora suis. O leitão se infecta ao ingerir oocistos esporulados presentes no piso da maternidade. No intestino, os oocistos liberam 8 esporozoítos cada. Estes penetram nas células das vilosidades do jejuno e íleo e iniciam a reprodução assexuada e posteriormente a sexuada, da qual resulta a formação de oocistos, que são liberados pelas fezes. Todo o ciclo de vida intra-intestinal leva de 5 a 8 dias, enquanto que o período pré-patente é de 5 dias. Os oocistos eliminados nas fezes são envoltos por uma capa protetora, resistente à ação física, química e bacteriana. A esporulação no meio ambiente ocorre em torno de 4 dias após, dependendo das condições ambientais. Epidemiologia Doença mais comumente observada em granjas que utilizam intensamente a maternidade, e que não praticam o sistema “todos dentro – todos fora”. A doença acomete leitões de 5 a 25 dias de idade. A morbidade pode chegar a 100% e a mortalidade geralmente situa-se em níveis abaixo de 5%. Os leitões se infectam ao ingerirem oocistos remanescentes no pisoda maternidade (leitão infectado elimina mil a quatrocentos mil oocistos por grama de fezes). A doença é mais frequentemente observada nos meses quentes e úmidos (favorece a esporulação). Antigamente acreditava-se que a porca contaminava o ambiente pela eliminação de oocistos nas fezes. Atualmente sabe-se que a porca raramente elimina oocistos e em baixos títulos. Uma vez introduzida na granja, raramente consegue-se erradicar esta doença. Patogenia A patogenicidade da coccidiose depende da dose de oocistos esporulados ingeridos e da idade do leitão (a dose letal de oocistos para leitões recém-nascidos provoca apenas sinais clínicos discretos para leitões com 30 dias de idade). A intensidade da infecção está relacionada com o número de células parasitadas e destruídas, que depende da quantidade de oocistos ingeridos. Os sinais clínicos estão relacionados à severidade e extensão da atrofia das vilosidades causada pelo parasito e à taxa de renovação celular do epitélio do intestino. A atrofia das vilosidades reduz a superfície de absorção do intestino delgado. O parasito evolui no jejuno e íleo. Ocorre também a hiperplasia das criptas intestinais, que resulta em hipersecreção que, por sua vez, contribui para o quadro de diarreia, comum na coccidiose suína. Sinais clínicos Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 14 São mais frequentemente observados em leitões com 5 a 15 dias de idade. Estes apresentam diarreia fétida, amarelada a acinzentada, cremosa a pastosa (raramente líquida), que persiste por no mínimo 10 dias. A região do períneo fica frequentemente impregnada de fezes, a pelagem fica arrepiada, os leitões tornam-se menos ativos e deprimidos, mas continuam a se alimentar. A diarreia cessa espontaneamente em 3 a 4 semanas, porém o estado geral dos leitões nesta ocasião está bastante comprometido (leitões refugos). A resposta a antibioticoterapia de rotina é pobre, fato este que serve de indicativo da presença de coccidiose na granja. Lesões Macroscópicas: raramente observa-se lesão macroscópica. Microscópicas: observa-se no jejuno e íleo atrofia das vilosidades, hiperplasia das criptas e presença de formas endógenas do coccídeo nas células epiteliais das vilosidades. Diagnóstico Clínico: sugestivo, baseado nos sinais clínicos de diarreia persistente dos 5 aos 15 dias de idade que não responde ao tratamento de rotina, e baixa mortalidade. Histopatológico: detecção das lesões microscópicas no jejuno e íleo (prova mais segura) Esfregaço de fezes: observação dos agente em fezes contaminadas, por meio de esfregaço de fezes aquecidas em lâmina com iodo, observação em microscópio óptico em aumento de 10X (exame que pode ser realizado na própria granja). Exame de fezes: pesquisa dos oocistos na fezes pela técnica de Willis-Mollay e Sheather modificada. É importante fazer o diferencial dos oocistos de Cystoisospora da Eimeriae, a qual não é patogênica para os suínos. Este exame pode dar falso negativo quando a coleta é realizada em momentos que os oocistos não estão sendo excretados. Tratamento e controle O tratamento de leitões com diarreia pode apressar a cura e só tem valor quando é feito precocemente. Nas propriedades com problemas de coccidiose deve-se preconizar o seguinte programa: 1. Aplicar em todos os leitões via oral 20 mg/Kg de toltrazuril no 4º dia de vida. 2. Remoção das fezes da maternidade duas vezes por dia; 3. Após a retirada da porca e dos leitões da cela parideira por ocasião da desmama: • Lavar a cela parideira com jatos fortes de água; • Aplicar desinfetante; • Aplicar vapor quente ou lança chama no piso (indispensável para eliminar os oocistos das instalações). 4. Na construção ou reforma das instalações priorizar a utilização de piso de maternidade vazados e preferencialmente de metal, para facilitar a eliminação do agente. 3. Rotavirose Doença que afeta leitões na fase de maternidade e creche provocando vômito e diarreia e taxa de mortalidade moderada. Etiologia É causada pelo Rotavírus suíno, que pertence à família Reoviridae, gênero Rotavírus. O Rotavírus A, B e C são os que mais causam enfermidade nos leitões, sendo que praticamente todos os suínos apresentam anticorpos contra os tipos A e C. Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 15 Os Rotavírus são muito resistentes no ambiente, tanto nas fezes frescas e em ambientes úmidos como na poeira e em fezes secas, podendo ficar viável por alguns meses. Por este motivo, os suínos acabam se infectando em algum momento da vida, podendo, em algumas situações, gerar a doença. Epidemiologia A persistência do vírus no ambiente gera imunidade nas matrizes, a qual é transferida aos leitões, prevenindo a doença em infecções por vírus homólogo (do mesmo sorotipo). A imunidade colostral protege os leitões por até duas semanas. Leitões filhos de porcas primíparas são mais suscetíveis à doença, principalmente quando estas matrizes não são submetidas à adaptação sanitária com troca antigênica. A mortalidade varia de 5 a 20%, podendo chegar a 50% em rebanhos jovens. A proteção cruzada entre distintos sorotipos é limitada, tanto após infecção ou vacinação. A infecção principal é orofecal podendo a fonte de infecção ser os leitões doentes ou mesmo, animais adultos. Patogenia O período de incubação é curto, de 2 a 4 dias. O Rotavírus penetra nos enterócitos maduros da porção média e alta das vilosidades do intestino delgado, provocando ruptura das células, com consequente atrofia de vilosidade e diarreia por má absorção. O Rotavírus também produz uma enterotoxina que provoca hipersecreção. Entretanto, a principal causa da diarreia na rotavirose é a má absorção. Sinais Clínicos Em rebanhos com imunidade alta para o Rotavírus e que possuem bom manejo e boas instalações, a rotavirose tem pouco impacto, sendo os surtos costumam ser brandos. Em rebanhos com baixa imunidade e problemas de manejo e instalações a doença se manifesta mais gravemente, com diarreia profusa em leitões jovens (2 a 8 semanas de vida), de coloração branco-amarelada e vômito. O curso da doença é de 5 a 10 dias, ocorrendo a cura espontânea. Podem ocorrer coinfecções com outros patógenos, o que agrava a doença e aumenta a taxa de mortalidade. Lesões As carcaças estão desidratadas, intestino delgado dilatado, flácido e com paredes delgadas. O conteúdo intestinal é aquoso à cremoso. No histopatológico observa-se degeneração das células do topo das vilosidades, necrose, descamação e substituição por células imaturas. Animais que adoeceram após 48h do início da doença apresentam atrofia das vilosidades e hiperplasia das criptas. Diagnóstico Por se tratar de um agente muito presente nos rebanhos, deve-se tomar cuidado na interpretação dos resultados, tanto dos sorológicos como os de pesquisa do antígeno. O exame sorológico é de pouco valor diagnóstico, pois não indica a doença. Da mesma forma, a presença do vírus nas fezes pode indicar apenas o quadro de portador. Portanto, deve-se considerar na interpretação dos laudos, o quadro clínico e as lesões. Vários testes podem ser utilizados para detectar o Rotavírus nas fezes, como a eletroforese em gel de poliacrilamida (PAGE) e o isolamento viral. Nos tecidos, utiliza-se a imunofluorescência, a imunohistoquímica e a hibridização “in situ”. Controle Durante o período de adaptação das leitoas, as mesmas devem ser expostas à fezes diarreicas de leitões, gerando imunidade para os patógenos de maternidade, a qual será transferida pelo colostro. Existe vacina comercial no mercado brasileiro, mas o uso das mesmas não é tão difundido. Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 16 Medidas de manejo como ingestão do colostro na mãe biológica por pelo menos 12 horas após o parto, bem como a manutenção dos leitões em ambiente limpo, seco, aquecido e sem corrente de ar, são algumas das práticas que auxiliam no controledesta enfermidade. Colibacilose Pós-desmame A diarreia pós desmame ou colibacilose do desmame, é uma doença que afeta os animais nas duas primeiras semanas após o desmame. Com a redução da idade do desmame, esta síndrome tem aumentado muito na suinocultura. Provoca perdas por mortalidade, surgimento de leitões refugos e pelos gastos com medicamentos. É uma síndrome de etiologia múltipla, onde alguns agentes infecciosos, principalmente amostras de E. coli enterotoxigênicas e o rotavírus são envolvidos. Sinais clínicos Diarreia aquosa de coloração amarelo-acinzentada, geralmente persistente, podendo ser transitória, desaparecendo 3 a 5 dias após. Provoca desidratação acentuada, podendo levar à morte em 24 horas. Em alguns casos, especialmente quando o rotavírus está envolvido, a evolução é lenta, evoluindo para um quadro de enterite crônica, com elevado número de refugos entre os sobreviventes. Lesões Carcaça desidratada podendo aparecer cianose nas extremidades, estômago repleto de alimento, serosas sem brilho e fígado congesto; Diagnóstico • CLÍNICO: baseado no quadro de diarreia 5 a 10 dias pós-desmame; • LABORATORIAL: identificação dos sorotipos patogênicos de E. coli e histopatológico. Prevenção Uso de rações com ingredientes de alta digestibilidade; A doença é menos observada onde os leitões são agrupados em baias limpas e desinfetadas, com fonte de aquecimento e com divisão área-suja/área-limpa. Confecção de lotes homogêneos e não superior a 15 animais; Incorporação de óxido de zinco (2.500 ppm) na ração pré-inicial do 1º dia ao 15º dia pós desmame Utilizar o sistema de produção “todos dentro – todos fora"; Acostumar os leitões com a alimentação seca o mais cedo possível (10 dias de idade) Fornecer ração úmida em comedouro auxiliar nos 4 primeiros dias após o desmame. O ideal é incluir na água de diluição da ração, produto com ação antipirética e antinflamatória. 5. Disenteria Suína Também conhecida como “Diarreia de Sangue” é uma enfermidade infectocontagiosa que afetam os leitões principalmente nas fases de recria e terminação, caracterizada por diarreia muco- hemorrágica, emagrecimento dos animais e lesões fibrino-hemorrágicas no ceco e colón. Etiologia e propriedades gerais Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 17 A doença é causada pela bactéria Gram-negativa e anaeróbia Brachyspira hyodysenteriae, a qual tem formato espiralado (espiroqueta). O micro-organismo é sensível a altas temperaturas e ao pH ácido. Não mantém-se viável por longos períodos fora do hospedeiro, quando exposto a luz solar. No ambiente, quando envolvida por fezes, pode sobreviver por até 112 dias. A patogenicidade de B. hyodysenteriae parece estar relacionada a presença da hemolisina, lipoproteínas e endotoxinas (LPS). São conhecidos 11 sorogrupos e diferentes genótipos de B. hyodysenteriae, embora ainda não esteja totalmente esclarecido o impacto dos sorotipos e distintos genótipos na virulência dos isolados. Epidemiologia Além dos suínos, outros animais podem se infectar e disseminar a B. hyodysenteriae. A bactéria já foi isolada de emas, ratos, gaivotas e patos Mallard. Camundongos são frequentemente usados como modelos experimentais e podem também se infectar naturalmente eliminando a B. hyodysenteriae por mais de 120 dias. Estudos realizados com javalis demonstraram que estes animais são portadores naturais da bactéria, embora não manifestem a doença, de modo que esta bactéria é considerada um membro normal da microbiota, e que só desenvolve a doença em condições de disbiose (desequilíbrio da microbiota). A infecção dos suínos por B. hyodysenteriae não desencadeia necessariamente a doença. Não estão totalmente esclarecidas as condições que desencadeiam a doença, embora a ocorrência da doença seja influenciada por fatores como estresse, alimentação rica em polissacarídeos não amiláceos (fibra) ou deficiente em vitamina E e selênio, instalações frias e úmidas, e mudanças bruscas de ração, retirada de medicação da ração, movimentação e superpopulação de baias. A composição da microbiota do intestino grosso parece ser um fator decisivo para o desencadeamento da doença, provavelmente ligado à digestibilidade da dieta. Quando se utiliza dietas altamente digestíveis, como farelo de arroz, a doença é inibida. Em contraste, quando a dieta é rica em fibra, ocorre o aumento da viscosidade do alimento e a proliferação de outras bactérias anaeróbicas com ação sinérgica com a B. hyodysenteriae. A morbidade geralmente varia entre 30 a 40%, podendo atingir 90% em propriedades endêmicas, enquanto a mortalidade ocorre entre 5 a 15%, podendo atingir até 30% dos animais, dependendo da precocidade e adequação do tratamento. A transmissão ocorre principalmente pela ingestão de material fecal proveniente de animais infectados. A bactéria pode ser encontrada nas fezes até 70 dias após início dos sinais clínicos. A disseminação da bactéria pode ocorrer por alimentos e água contaminados (particularmente lâmina d’água), e fômites como botas e roupas sujas contaminadas por fezes. Novos surtos de disenteria suína geralmente ocorrem após o histórico da introdução de animais portadores no rebanho, ou após o fornecimento de alimento contaminado. Veículos contaminados ou visitantes que tiveram contato com suínos infectados também devem ser levados em consideração na introdução da bactéria em criatórios indenes. Porcas e marrãs portadoras podem infectar leitões, que podem apresentar sinais clínicos somente ao desmame. Leitões provenientes de granjas endêmicas podem se infectar de forma subclínica e disseminar o patógeno para granjas indenes após a comercialização. Dentre os fatores de risco para a introdução da doença nos rebanhos destaca-se: (1) ausência de quarentenário, (2) acesso de visitantes sem troca de roupa e calçado, (3) entrada de caminhão na área limpa da granja sem a passagem por arco de desinfecção, (4) presença de ratos e outros Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 18 animais como cães, gatos e aves na granja, (5) ausência de cerca perimetral telada e (6) aquisição de reprodutores com infecções subclínicas ou em fase de incubação da doença. A B. hyodysenteriae é resistente em condições frias e úmidas, embora seja muito sensível ao calor e a dessecação. Em fezes diluídas em água a bactéria mantém-se viável por 48 dias entre 0 a 10oC, por 7 dias à 25oC e <24 horas à 37oC. Deste modo, a remoção constante das fezes das baias é uma forma de reduzir a pressão de infecção em rebanhos endêmicos. Patogenia A patogênese da disenteria suína é complexa e ainda não está completamente entendida. Várias bactérias da microbiota intestinal, além da influência da dieta sobre a densidade e composição da microbiota, parecem exercer sinergismo com B. hyodysenteriae, favorecendo a colonização do intestino grosso. Após a ingestão de alimentos ou água contaminados, B. hyodysenteriae é protegida da acidez estomacal pelo muco das fezes diarreicas. Em seguida, o micro-organismo atinge o intestino grosso e invade as criptas da mucosa, multiplicando-se ativamente. A diarreia da disenteria suína ocorre por má absorção em consequência de falência dos canais transportadores de íons epiteliais, que normalmente transportam íons sódio e cloreto do lúmen intestinal para o sangue. A ação de B. hyodysenteriae leva a grande produção de muco no lúmen intestinal, devido à hiperplasia das células caliciformes do epitélio intestinal. Com a progressão da doença se desenvolve inflamação catarro-hemorrágica e edema de mucosa, que em seguida é substituída por fibrina e áreas de necrose. Sinais Clínicos O período de incubação varia de 10 a 14 dias, embora possa durar até seis semanas até o início dos primeiros sinais clínicos. Os principais sinais clínicos da doença são de diarreia mucosa com sangue, ocasionalmente com presença de fibrina, associada à anorexiae morte em poucos dias após o início dos sinais clínicos, quando os animais não são adequadamente medicados. As sinais clínicos inicialmente atingem poucos animais do lote. Estes casos isolados de diarreia podem representar a única manifestação clínica da doença, mascarando o caráter infeccioso. Com o aumento da pressão de infecção, o número de animais infectados aumenta de forma progressiva, com diferentes graus de severidade, assumindo, inclusive, a forma de surtos. A doença pode acometer os animais de forma hiperaguda, aguda ou crônica. Na forma aguda, mais comum, B. hyodysenteriae causa colite severa que cursa com diarreia sanguinolenta, febre (40oC), anorexia, retração dos flancos do abdômen e emagrecimento. Na forma hiperaguda, os animais podem evoluir para óbito em até 24 horas, geralmente somente com sinais de diarreia. Após 48 a 72 horas do início da diarreia, as fezes de aspecto muco-sanguinolento adquirem coloração marrom- chocolate e podem conter fragmentos de material brancacento e muco fibrinoso. Os animais afetados apresentam rápida perda da condição corporal, olhos aprofundados na órbita, costelas salientes, pele áspera e presença de sujidades e sangue na região perineal. Comumente os animais se recuperam, mas com perda significativa na conversão alimentar e ganho de peso. Na forma crônica, B. hyodysenteriae causa diarreia não sanguinolenta, inapetência, depressão e diminuição do ganho de peso diário. A morte dos animais ocorre por desidratação, acidose metabólica, choque endotóxico e/ou séptico. Diagnóstico Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 19 O diagnóstico de rotina da disenteria suína é baseado nos achados clínico-epidemiológicos, diagnóstico microbiológico e exames anatomopatológicos. Achados clínico-epidemiológicos A ocorrência de disenteria com presença de sangue, de início súbito, em suínos principalmente de recria e terminação é sugestivo de infecções por B. hyodysenteriae. O histórico recente de introdução de animais sem permanecer no quarentenário, originários de granjas e/ou regiões endêmicas, o oferecimento de alimentos e água contaminados, ou acesso de pessoal e veículos estranhos ao serviço devem ser considerados na introdução do micro-organismo em plantéis livres. Bacterioscopia Esfregaços da mucosa ou de fezes de animais suspeitos observados em microscópio de campo escuro, de contraste de fase ou corados pela safranina, mostram aumento no número de espiroquetas. Esse tipo de identificação tem a vantagem de não necessitar do cultivo microbiano. No entanto, os resultados da bacterioscopia das fezes ou visualização direta não são adequados para firmar inequivocamente o diagnóstico. Diagnóstico microbiológico O diagnóstico pode ser firmado pelo isolamento e identificação bioquímica de B. hyodysenteriae. O isolamento é reconhecido como “padrão ouro” para a identificação do agente, visto que é muito sensível. Apesar de eficiente, o isolamento do agente é fastidioso e podendo levar até duas semanas para se obter o diagnóstico definitivo, fato que pode prejudicar o controle e erradicação da doença no rebanho. No entanto, a necessidade do isolamento é enaltecida quando há a necessidade de se estudar a sensibilidade “in vitro” de Brachyspiras sp. aos antimicrobianos ou tipificar os isolados. Diagnóstico molecular O teste de PCR (polymerase chain reaction) vem sendo amplamente utilizado como técnica de diagnóstico, pois, apresenta boa especificidade e sensibilidade além de acelerar o diagnóstico. O teste de PCR duplex, capaz de detectar B. hyodysenteriae e B. pilosicoli simultaneamente apresentam bons resultados quando aplicado em DNA extraído de amostras fecais. A PCR em tempo real também tem sido desenvolvida recentemente para o diagnóstico e permite, além da identificação molecular de B. hyodysenteriae, quantificar o número de micro-organimos. Lesões Os animais mortos apresentam marcada emaciação, períneo sujo de fezes e acentuada desidratação. As lesões macroscópicas se limitam ao intestino grosso, quase sempre evidentes na junção íleo-cecal. A alteração macroscópica mais característica da doença é a presença de enterite muco-hemorrágica ou fibrino-hemorrágica. A mucosa apresenta-se edematosa, congesta e hiperêmica, recoberta por muco, fibrina e traços de sangue, com focos de necrose superficial, com áreas de lesões mais extensas e severas formando uma pseudomembrana mucofibrinosa. O conteúdo do lúmen intestinal varia de amolecido a fluido, com presença de muco e sangue e, por vezes, contendo membranas fibrino-necróticas. Pode ser observada linfadenopatia mesentérica. A visualização de Brachyspiras sp. patogênicas pode ser realizada por coloração a base de prata ou imunoistoquímica utilizando-se anticorpos monoclonais específicos ou policlonais. No entanto, estes anticorpos não estão comumente disponíveis no mercado. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial da disenteria suína deve considerar principalmente outros agentes infecciosos que causam enterite, ocasionalmente com sangue, como Lawsonia intracellularis, Salmonella spp., Circovírus suíno tipo II, colite espiroquetal, Trichuris suis e a colite não especifica aparentemente associado a granulação da ração. Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 20 Tratamento Os animais doentes devem ser tratados com medicação parenteral ou pela água, devendo-se evitar a medicação via ração, pois a doença provoca acentuada redução na ingestão de alimento, em contraste ao consumo de água que se mantém relativamente constante mesmo em animais doentes. A medicação via ração é utilizada somente quando se medica todo o lote, de forma preventiva. Os fármacos mais frequentemente utilizados são a valnemulina (5 a 12 mg/kg, oral), tiamulina (9 a 12 mg/kg, IM ou oral), tilosina (20 a 30 mg/Kg, IM) e lincomicina 15 a 25 mg/kg, IM ou oral). No Brasil, determinadas empresas têm utilizado produtos fitoterápicos via ração, tanto na forma preventiva como curativa, com grande sucesso. Entre os fitoterápicos utilizados merecem destaque os elaborados à base de tomilho, alfarroba ou orégano. Profilaxia, controle e erradicação A erradicação da disenteria suína sem o despovoamento tem sido empregada em muitos plantéis, inclusive no Brasil. A chance de sucesso é de aproximadamente 90% e depende exclusivamente das estratégias utilizadas no programa. O retorno financeiro do custo do programa de erradicação geralmente ocorre entre seis meses a um ano. Adicionalmente, ocorrem ganhos indiretos com a melhoria dos programas de biossegurança e a redução da mão-de-obra com medicações. O programa de erradicação é fundamentado em três pilares: (1) na eliminação do agente do ambiente (controle de insetos e roedores, limpeza dos arredores da granja e fômites), (2) eliminação da bactéria dos animais e (3) reposição com animais livres da doença. Quando vários rebanhos na região estão acometidos, o programa de erradicação deve ser aplicado em todos os plantéis positivos, caso contrário a recontaminação pode ocorrer rapidamente, pois B. hydysenteriae pode ser disseminada por veículos, insetos, roedores e pessoas. Não está claro se a erradicação é a melhor ferramenta ou se o uso de fitoterápicos e boas práticas de limpeza, desinfecção e manejo, além da dieta balanceada podem manter a microbiota em equilíbrio e a B. hyodysenteriae sem manifestações clínicas. 6. Colite Espiroquetal Enfermidade infectocontagiosa, caracterizada por diarreia mucosa, redução do ganho de peso e aumento da conversão alimentar, causada pela infecção do intestino grosso de leitões e animais adultos pela bactéria Brachyspira pilosicoli. Etiologia e propriedades gerais Essa espiroqueta se adere à extremidade do epitélio da mucosa intestinal, paralelamente uma a outra, formando aspecto “piloso” ou de “falsa borda em escova” no lúmen. Os fatores de virulência de B. pilosicoli não estãocompletamente esclarecidos, mas parecem estar relacionados a presença de adesina e citotoxina (hemolisina). Epidemiologia A colite espiroquetal está amplamente disseminada em países nos quais a criação de suínos é expressiva. Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 21 A B. pilosicoli pertence à microbiota entérica normal de javalis. Além dos suínos, outras espécies podem se infectar naturalmente e também desenvolver a doença. Os isolados de suínos, cães, primatas não humanos, aves e humanos são muito próximos geneticamente e é possível a infecção cruzada de isolados interespécies. A bactéria foi descrita também em roedores e marsupiais. A transmissão do patógeno entre os animais ocorre por via fecal oral. Os animais portadores eliminam a bactéria pelas fezes de maneira contínua ou intermitente, por algumas semanas. B. pilosicoli é relativamente resistente no ambiente. Em ambientes úmidos e frios a sobrevivência da bactéria pode ser de até 100 dias e mais de 200 dias em solo contendo material fecal. O comportamento da doença varia de plantel para plantel. Em alguns criatórios a incidência é alta em toda criação, enquanto em outras granjas a doença está confinada a algumas baias. Este fato está ligado às condições predisponentes para a doença em cada plantel ou à diferença de patogenicidade entre os isolados presentes nos rebanhos. Patogenia A patogenia da colite espiroquetal ainda é pouco entendida. A presença da hemolisina de B. pilosicoli não foi ainda determinada, portanto não se sabe o potencial desta citotoxina com fator de virulência. A patogenicidade de B. pilosicoli parece estar intimamente associada a capacidade da bactéria de se aderir ao muco que recobre o glicocálix dos enterócitos do intestino grosso, que é influenciada pela viscosidade e constituintes da alimentação do animal. Evidências suportam que a lipoproteína nomeada mglB possa ser um fator de virulência para B. pilosicoli. Essa lipoproteína pode mediar o mecanismo de estabelecimento de B. pilosicoli na superfície epitelial, auxiliando na adesão, contribuindo na patogenicidade da bactéria. Após a adesão íntima aos enterócitos, ocorre colonização da superfície epitelial, com formação de uma “falsa borda em escova” ou com aspecto “piloso”, que, motivou o nome da espécie da bactéria, B. pilosicoli. A adesão induz a reorganização do citoesqueleto e perda das microvilosidades do enterócito, que resulta em diarreia por má absorção. Devido à alta capacidade funcional do intestino grosso, nem todos os animais infectados apresentam diarreia, permanecendo na condição subclínica da doença, com a piora na taxa de conversão alimentar, mas com manutenção do apetite. A absorção reduzida de líquidos pode dar origem a menor tempo de passagem do alimento no intestino grosso, resultando em redução na produção e absorção de ácidos graxos voláteis. Clínica O sinal característico da doença é a diarreia pastosa com cor acinzentada semelhante a “cimento fresco”. Alguns animais podem apresentar também diarreia de aspecto mucoide, brilhante, de coloração amarelada. A diarreia geralmente é auto-limitante, perdurando entre 2 a 14 dias. A presença de febre pode ser observada em alguns animais. A maioria dos animais continua a se alimentar. Os animais com quadros mais graves de diarreia apresentam acentuada perda de peso e podem se tornar refugos. Animais tratados ou convalescentes pode apresentar reagudização de diarreia. A doença comumente ocorre após o desmame (18 a 21 dias), ou em leitões recentemente agrupados na recria (60 a 70 dias) e submetidos a uma nova dieta. Entretanto, também pode acometer animais na terminação ou em animais adultos. A doença causa evidente perda de peso, piora da conversão alimentar, lotes desuniformes ou heterogêneos. Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 22 Diagnóstico O diagnóstico de rotina da colite espiroquetal é baseado nos achados clínico-epidemiológicos, exames microbiológicos e anatomopatológicos. Macroscopicamente, a colite espiroquetal pode apresentar graus variados de lesões, conforme a severidade da doença. Usualmente é caracterizada pela parede intestinal flácida, com conteúdo mucoso, presença de fluido acinzentado no ceco e colon, e acúmulo de muco em casos mais acentuados. A mucosa apresenta-se edematosa com regiões hiperêmicas ou hemorrágicas em menor grau e, ocasionalmente, ulcerações. Também são encontradas erosões focais superficiais coalescentes com depósito de fibrina aderidas a mucosa juntamente com material necrótico, fezes e partículas de ração, dando aspecto de “calçamento de paralelepípedos”. Geralmente não há alterações na serosa, mas em lesões crônicas, observa-se edema acentuado, com aspecto gelatinoso e translucido por toda a superfície da serosa. O achado histológico característico é colite ulcerativa ou erosiva, catarral, multifocal na mucosa e submucosa da superfície do ceco e do cólon, com presença de grande número de espiroquetas, unidas por uma extremidade ao epitélio, formando figura definida como “falsa borda em escova”. Observa-se dilatação das criptas, grande quantidade de muco no lúmen intestinal, hiperplasia das células caliciformes e grande quantidade de neutrófilos. Diagnóstico diferencial Outros micro-organismos que causam enterite em suínos devem ser considerados no diagnóstico diferencial, como Lawsonia intracellularis, Salmonella spp., colibacilose, Circovírus suíno tipo II, Trichuris suis, Brachyspira hyodysenteriae e a colite não especifica aparentemente associado a granulação da ração. Tratamento O tratamento da colite espiroquetal segue os mesmos princípios utilizados no tratamento da disenteria suína por Brachyspira hyodysenteriae. A tiamulina e valnemulina são os fármacos de eleição para o tratamento, por via parenteral ou oral, na água de bebida ou na ração. Controle e profilaxia Assim como na disenteria suína, cuidados de biossegurança e de higiene devem ser seguidos para evitar a introdução da doença ou manter a profilaxia/controle. Em rebanhos infectados, a limpeza diária das baias e o uso de utensílios de limpeza e de calçados exclusivos para as baias afetadas são medidas úteis para evitar a disseminação entre as baias. Tendo em vista que o impacto econômico da doença é relativamente baixo, exceto nos casos de surtos ou propriedades endêmicas, não se justifica a implantação de um programa de erradicação à semelhança da disenteria suína, pois a doença pode ser controlada com medidas de higiene, isolamento e tratamento dos animais doentes. 7. Úlcera Gástrica A úlcera gástrica (UG) é uma doença frequente em suínos criados intensivamente, pois nestas criações os animais são mais suscetíveis ao estresse e são alimentandos com rações com Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 23 granulometria muito fina. As UG são mais frequentemente observadas na região esofágica do estômago. Etiologia Acredita-se que variáveis ambientais, nutricionais e outros fatores estressantes estejam diretamente envolvidas na sua gênese; Dentre os fatores que tendem à aumentar a ocorrência da UG destaca-se o fornecimento de rações com granulometria muito fina (inferior à 500 micras de diâmetro). Quando a ração é muito fina, ocorre maior fluidez e mistura do conteúdo estomacal, consequentemente ocorre aumento da acidez e/ou atividade da pepsina na região esofágica do estômago. ESTRESSE: o mecanismo pelo qual o estresse favorece o aparecimento da UG ainda não está bem esclarecido. Durante o estresse ocorre estímulo vagal que induz à produção de pepsina e de ácido clorídrico que, por sua vez, irritam a mucosa gástrica. Altos níveis de sulfato de cobre na ração também têm sido associado à presença de úlceras gástricas Epidemiologia Ocorrem em toda as idades sendo mais frequente em animais de 4 a 8 meses de idade e em reprodutores. Espaço inadequado aosanimais, alta concentração de gases, presença de moscas, brigas, canibalismo, frio e calor são fatores associados à UG. Patogenia A causa básica da UG se deve à um aumento de secreção de ácido clorídrico no estômago e à uma redução simultânea da barreira de muco que protege a mucosa gástrica. O processo ulcerativo pode atingir qualquer porção do estômago, porém é mais frequente na região esofágica (porção não protegida pela mucina) do que nas regiões fúndica e pilórica. A UG inicia-se por erosão seguida de ulceração da mucosa gástrica e posteriormente por hemorragia e ruptura da parede estomacal. Sinais clínicos Os sinais clínicos são variáveis, de acordo com a forma de apresentação da doença. FORMA HIPERAGUDA: os animais são encontrados mortos como resultado de uma hemorragia interna grave no estômago. FORMA AGUDA: taquipnéia, perda de apetite, palidez das mucosas, fraqueza, hipotermia, fezes ressequidas e com cor preta. Os animais evitam deslocar-se. A morte ocorre em torno de 3 dias após o surgimento dos primeiros sinais, pela hemorragia que ocorre no estômago. FORMA SUBAGUDA: também pode levar os animais à morte, porém a evolução do quadro clínico pode levar semanas. Os animais ficam deitados, apresentam anorexia, mucosas e pele pálida e queda de peso progressiva, fezes ressequidas e bem pretas. FORMA CRÔNICA: perda de peso progressiva até a morte, e fezes ressequidas e bem pretas. Diagnóstico Baseado nos sinais clínicos. Examinar com cuidado o interior do estômago dos suínos que morrem na granja e levantamento no frigorífico por ocasião do abate. Controle Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 24 Em se tratando de reprodutores com sinais discretos da doença, compensa utilizar terapias como o omeprazol e a ranitidina; Em casos moderados à grave, melhor indicação é o abate; Minimizar as condições estressantes na granja; Corrigir a granulometria da ração. Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 25 CAPÍTULO 3 - DOENÇAS DO TRATO RESPIRATÓRIO 1. Rinite Atrófica Progressiva Doença crônica e contagiosa do trato respiratório superior, caracterizada por atrofia das conchas nasais e piora no desempenho zootécnico dos animais. Embora a vacinação para esta doença venha sendo praticada já há algum tempo no Brasil, o que se observa nas monitorias de abate, é que a maioria dos animais apresentam lesões nas conchas nasais. Etiologia As bactérias Bordetella bronchiseptica (TDN+) e Pasteurella multocida tipo Capsular D (TDN+) atuam em conjunto para produzir a doença, havendo potencialização da infecção por fatores ambientais e de manejo como: sistema contínuo de produção, excesso dos gases de amônia, sulfídrico e gás carbônico, ventilação inadequada e superlotação. As cepas causadoras desta enfermidade produzem uma toxina denominada toxina dermonecrótica (TDN) OBS: Quando a doença é causada apenas pela Bordetella bronchiseptica, ela é denominada apenas Rinite Atrófica, mas não progressiva, pois as lesões podem regredir completamente. Epidemiologia É uma doença com distribuição mundial, com prevalência em rebanhos comerciais de 25 a 50%. No Brasil, em pesquisa realizada na região Sul, as lesões de rinite atrófica foram encontradas em 98,4% das granjas amostradas e 42% dos animais de cada granja apresentavam as lesões nas conchas nasais. A transmissão ocorre por meio do contato direto entre suínos, sendo as porcas e cachaços infectados os reservatórios da doença. A reposição com reprodutores infectados nas granjas é o principal meio de introdução da doença em plantéis livres da doença. Porcas cronicamente afetadas transmitem a doença às suas leitegadas por contato nasal, durante o período de aleitamento. Os leitões infectados constituem fonte ativa de infecção para outros suínos. O nível de imunidade dos suínos jovens influencia o grau de infecção e a incidência da doença clínica. A imunidade do colostro de porcas sorologicamente positiva para rinite atrófica é transferida para os leitões, fornecendo proteção por 2 a 5 semanas. A doença clínica não aparece em leitões com altos níveis de imunidade passiva; Patogenia 1ª Fase – cepas de B. bronchiseptica TDN+ colonizam a cavidade nasal do suíno, produzem a toxina dermonecrótica que causa atrofia moderada, não progressiva e regenerativa nas conchas nasais. 2ª Fase – cepas de P. multocida tipo capsular D TDN+, produzem a toxina dermonecrótica que vai agravar a lesão provocada pela Bordetella, provocando atrofia persistente e irreversível nas conchas nasais. *A toxina dermonecrótica atua sobre os osteoblastos prejudicando a síntese da matriz óssea (distúrbio no processo de osteogênese). A toxina também estimula os osteoclastos, aumentando a reabsorção óssea. A gravidade da doença depende da idade em que o leitão se infectou, e da imunidade passiva: Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 26 •Infecção na 1ª semana de vida: lesões graves •Infecção na 4ª semana de vida: lesões moderadas •Infecção na 10ª semana de vida: não desenvolvem lesões Nível de imunidade dos leitões influencia o grau de infecção e na incidência da doença clínica (imunidade passiva protege por 2 a 5 semanas). Sinais clínicos Estágios agudos (3 a 9 semanas de idade) – espirros, corrimento nasal mucoso e formação de placas escuras nos ângulos internos dos olhos (devido à obstrução do canal lacrimal, provocando epífora, que é a drenagem externa da lágrima), epistaxe passageira. Estágios crônicos – espirros, desvio do focinho para um dos lados e/ou encurtamento do mesmo, com formação de pregas na pele que o recobre e má performance dos animais na engorda. Diagnóstico Clínico – baseado nos sinais clínicos (mais evidente a partir de 5 semanas de idade). Anatomopatológico – Exame das conchas nasais de animais enviados ao frigorífico. O exame é feito após o corte transversal do focinho entre o 1º e 2º dentes pré-molares. Sorológico – pouco valor, pois não há relação segura entre a presença de anticorpos e a presença da doença. Diferencial – Rinite por corpúsculo de inclusão (citomegalovirose). Surto explosivo e com curso agudo, e no histopatológico, presença dos corpos de inclusão típicos da doença no epitélio glandular da cavidade nasal. Classificação de Rebanhos com Rinite Atrófica por meio do Índice de Rinite Atrófica (IRA) Usado para monitoramento de granjas por meio do exame das conchas nasais dos animais abatidos no frigorífico. Deve-se escolher animais com mais de 3 meses, devendo-se amostrar pelo menos 32 animais por granja. O focinho deve ser serrado transversalmente entre o primeiro e o segundo dente pré-molar. Analisa-se as conchas ventrais e dorsais, atribuindo-se escores de 0 a 3. Em seguida, multiplica-se o número de animais afetados pelo escore atribuído, soma-se e divide-se pela número de animais avaliados. Escores: • Conchas normais = 0 • Atrofia leve = 1 • Atrofia moderada = 2 • Atrofia grave ou completa = 3 •Exemplo: exame de 32 animais: 8 animais grau 0, 8 com grau 1, 8 com grau 2 e 8 com grau 3, a média ponderada será: (8x0=0)+(8x1=8)+(8x2=16)+(8x3=24)= 48 dividido por 32 animais = 1,5 IRA Interpretação do IRA IRA Classificação dos rebanhos 0 a 0,30 Livres ou, com nível insignificante da doença. 0,31 a 0,45 Levemente afetados ou com probabilidade de 3% do aparecimento de lesões graves. 0,46 a 3,0 Moderado a gravemente afetado. Probabilidade de Doenças dos Suínos – Alberton, G. C. - UFPR - 2020 - Página 27 6 a 20% dos animais apresentarem lesões graves. Controle da Rinite Atrófica Como a gravidade da doença depende da idade em que os leitões desenvolvem a atrofia das conchas, a proteção da vacinação tem que ser precoce, de modo que isto só é possível por meio da vacinação das matrizes. •Vacinação: as vacinas mais utilizadas atualmente são as bacterinas
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