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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química Programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos NATÁLIA NEY LYRIO AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA E DO PODER SURFACTANTE DAS SAPONINAS DO JUÁ (Ziziphus joazeiro) MODIFICADAS ENZIMATICAMENTE Rio de Janeiro 2016 Natália Ney Lyrio AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA E DO PODER SURFACTANTE DAS SAPONINAS DO JUÁ (Ziziphus joazeiro) MODIFICADAS ENZIMATICAMENTE Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós- graduação em Ciência de Alimentos, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro objetivando a obtenção do título de Mestre em Ciências. Orientadora: Profa. Maria Alice Zarur Coelho, D.Sc. Co-orientador: Prof. Bernardo Dias Ribeiro, D.Sc. Rio de Janeiro 2016 Lyrio, Natália Ney. Avaliação da atividade antimicrobiana e do poder surfactante das saponinas do juá (Ziziphus joazeiro) modificadas enzimaticamente – Rio de Janeiro: UFRJ, 2016. 65 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, 2016. Orientadores: Maria Alice Zarur Coelho e Bernardo Dias Ribeiro. 1. saponinas. 2. juá. 3. enzimas. 4.antimicrobiano. 5. surfactante. I. Coelho, Maria Alice Zarur. (orient). II. Ribeiro, Bernardo Dias. (orient). III. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de Pós Graduação em Química. IV. Título. Natália Ney Lyrio AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA E DO PODER SURFACTANTE DAS SAPONINAS DO JUÁ (Ziziphus joazeiro) MODIFICADAS ENZIMATICAMENTE Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós- graduação em Ciência de Alimentos, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro objetivando a obtenção do título de Mestre em Ciências. Aprovada em _____________________________________________________ Orientadora: Maria Alice Zarur Coelho, D.Sc. (EQ/UFRJ) _____________________________________________________ Orientador: Bernardo Dias Ribeiro, D.Sc. (EQ/UFRJ) _____________________________________________________ Alexandre Guedes Torres, D.Sc. (IQ/UFRJ) _____________________________________________________ Gizele Cardoso Fontes Sant’Ana, D.Sc. (IQ/UERJ) Rio de Janeiro 2016 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por me presentear com tamanho desafio e por ser tão generoso em permitir que eu pudesse contar com a ajuda de tantas pessoas especiais. Agradeço à minha linda família, em especial aos meus pais, Rodolpho e Arina, que sempre me deram toda a estrutura para que eu pudesse alcançar os meus objetivos e o fizeram com o amor mais lindo que eu poderia receber nesse mundo. Obrigada por cuidarem de mim, por me entenderem e por serem a minha melhor companhia. Obrigada aos meus irmãos e cunhada, Daniel, Felipe e Flávia, por serem, além de tudo, verdadeiros amigos, que eu tanto amo. Agradeço aos meus amigos, que entenderam minhas ausências, minhas recusas de convites, meus adiamentos de encontros e meu humor, muitas vezes diferente do normal. Todos vocês foram importantes na minha jornada, ouvindo minhas dificuldades e ansiando, tanto quanto eu pelas minhas vitórias. Às amigas de toda minha vida acadêmica, Ana Paula, Gabriela, Thaís e Marcela, com quem sei que posso contar, para o que for, meu muito obrigada por fazerem parte, tão de perto, da minha história e pelo suporte de sempre. Gostaria de agradecer, também, àquelas do meu convívio diário, pessoas que conheci há pouco tempo, mas que já levo no coração, pela forma carinhosa como me tratam, por terem se preocupado, acompanhado de perto todo meu esforço e por me darem o amparo que eu precisei: Juliana, Sandra, Helayne e Gabi. Agradeço, de todo o coração, ao Renato, um grande companheiro, que se privou junto comigo de muitos finais de semana ensolarados e me proporcionou um ambiente propício ao estudo e à concentração, fundamental ao longo desse trabalho. Agradeço ao Rodrigo e ao Diego, que se dispuseram a tirar minhas dúvidas. E ao amigo Vinicius, por ter sido o porta-voz da esperança, quando eu achei que não teria forças para continuar. O seu recado ficou marcado em mim durante todo esse tempo. Gostaria de agradecer especialmente àquela que esteve ao meu lado, desde o início de tudo, aquela que aprendeu junto comigo dos princípios mais básicos da química até a defesa do mestrado. Marselle, você e Rafael fazem jus ao significado da palavra amizade e contribuíram de sobremaneira para a realização deste trabalho. Vocês não fazem ideia do quanto foi importante tê-los por perto nos momentos em que mais precisei. Agradeço profundamente aos meus orientadores, professores Maria Alice e Bernardo Dias, pela paciência, confiança e por todo o conhecimento passado através dessa bela profissão que escolheram. Entre tantas outras coisas, agradeço ao Prof. Bernardo pelas portas sempre abertas, e à Prof. Maria Alice por sua força, que nos traz confiança e conforto. Agradeço a todos os membros do Grupo Biose, companheiros de laboratório, especialmente à doutoranda e amiga Ariane Gaspar, que me orientou durante todo o trabalho e com quem tive oportunidade de aprender tanto. E ao amigo Felipe Vale, que tanto contribuiu com suas boas ideias e ajudas. Agradeço ao programa e aos professores do PPGCAL, em especial os Professores Alexandre Torres e Daniel Perrone, que me abriram as portas do seu laboratório, ao seu aluno e hoje meu amigo Fabrício Silva, que se dispôs a me ajudar a operar o rotaevaporador, e a todos eles por compartilharem seus conhecimentos na área de cromatografia. Agradeço, finalmente, à CAPES pelo incentivo financeiro concedido através de bolsa de estudos, à Fiocruz, pelo fornecimento dos micro-organismos, e ao CENPES/Petrobras, pela análise das amostras por cromatografia. “Nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez.” Thomas Edison RESUMO LYRIO, Natália Ney. Avaliação da atividade antimicrobiana e do poder surfactante das saponinas do juá (Ziziphus joazeiro) modificadas enzimaticamente. Rio de Janeiro, 2016. Dissertação (Mestrado em Ciência de Alimentos) – Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. Saponinas são glicosídeos encontrados, principamente, em vegetais superiores, mas também em alguns animais marinhos invertebrados. Possuem um esqueleto triterpênico ou esteroidal ligado a cadeias de açúcares através de uma ou mais ligações glicosídicas. A estrutura das saponinas apresenta característica anfifílica, o que faz com que essas substâncias apresentem propriedades surfactantes. Neste trabalho, investigaram-se as saponinas triterpênicas do juá (Ziziphus joazeiro), avaliando-se não só seu poder tensoativo, através da determinação da sua concentração micelar crítica (CMC) e do seu índice de emulsificação 24 horas (IE24), como também sua atividade antimicrobiana, pela determinação da concentração inibitória mínima (MIC) contra Salmonella choleraesuis (ATCC 10708), Escherichia coli (ATCC 8739), Pseudomonas aeruginosa (ATCC 9027), Staphylococcus aureus (ATCC 6538), Bacillus subtilis (ATCC 6633) e Candida albicans (ATCC 10231). Posteriormente, as saponinas do juá foram submetidas a reações de hidrólise enzimática por três enzimas comerciais: Viscozyme L (celulases e hemicelulases), Ultrazym AFPL (pectinases) e Celluclast 1.5L (celulases). As condiçõesreacionais utilizadas foram pH 5, temperatura 50ºC, rotação 200 rpm, concentração de saponina igual a 1%, enzima 5% (v/v) e tempo reacional mínimo de 24 horas. Os produtos das reações foram caracterizados por HPLC- MS e avaliados quanto às propriedades surfactantes e antimicrobiana. A Celluclast foi a enzima que mais produziu compostos hidrolizados. Não houve alteração das propriedades surfactantes após a modificação enzimática das saponinas. As saponinas originais do juá apresentaram atividade contra C. albicans em concentrações entre 2,5 e 0,313 mg/mL, mas não apresentaram atividade contra nenhuma das bactérias testadas. As saponinas modificadas não apresentaram atividade contra nenhum dos micro-organismos testados. Observou-se uma relação entre a MIC e a CMC, indicando que o poder antimicrobiano de compostos surfactantes depende de como as moléculas se encontram em solução: na forma livre ou em micelas. Palavras-chave: Saponinas, juá, hidrólise, enzimas, surfactantes, antimicrobiano. ABSTRACT LYRIO, Natália Ney. Antimicrobial and surfactant activities of jua (Ziziphus joazeiro) enzymatically modified saponins. Rio de Janeiro, 2016. Dissertação (Mestrado em Ciência de Alimentos) – Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. Saponins are glycosides mainly found in many higher plants but also in some marine invertebrates. They have a triterpenic or steroid skeleton linked to one or more sugar chains by glycosidic linkages. The structure of saponins has amphiphilic character, which makes these substances exhibit surfactant properties. In this work, we investigated the triterpenic juá saponins (Ziziphus joazeiro), evaluating not only their surfactant power, by determining the critical micellar concentration (CMC) and its 24 hours emulsification index (IE24), as well its antimicrobial activity, by determining the minimum inhibitory concentration (MIC) against Salmonella choleraesuis (ATCC 10708), Escherichia coli (ATCC 8739), Pseudomonas aeruginosa (ATCC 9027), Staphylococcus aureus (ATCC 6538), Bacillus subtilis (ATCC 6633) and Candida albicans (ATCC 10231). Subsequently, the juá saponins were subjected to enzymatic hydrolysis reactions of three commercial enzyme: Viscozyme L (cellulases and hemicellulases) Ultrazym AFPL (pectinase) and Celluclast 1.5L (cellulases). The reactions were conducted in pH 5, temperature 50 ° C, 200 rpm, saponin concentration of 1% enzyme 5% (v / v) and minimal reaction time of 24 hours. The products of the reactions were characterized by HPLC-MS and evaluated for surfactants and antimicrobial properties. Celluclast enzyme produced more hydrolyzed compounds. There was no change in the surfactant properties after enzymatic modification of saponins. The original juá saponins showed activity against C. albicans at concentrations between 2.5 and 0.313 mg / ml, but showed no activity against any of the bacteria tested. The modified saponins showed no activity against any of the tested microorganisms. It was observed a relationship between MIC and CMC, indicating that the anti- microbial power of surfactant compounds depends on how the molecules are in solution: in free form or in micelles Keywords: Saponins, jua, hydrolysis, enzymes, surfactants, antimicrobial. Lista de Tabelas Tabela 1. Concentração final (em µmols equivalentes em glicose/mL) de açúcares redutores no meio após hidrólise enzimática.....................................44 Lista de Ilustrações Figura 1. Disposição preferencial dos surfactantes nas interfaces ................................. 19 Figura 2. Influência da formação de micelas nas propriedades físicas das soluções de surfactantes .......................................................................................................................... 21 Figura 3. Esqueletos representativos de saponinas triterpênicas (ácido oleanólico) e esteroidais (diosgenina). ..................................................................................................... 23 Figura 4. Saponinas esteroidais com esqueletos do tipo furostano e espirostano (R= açúcares). ............................................................................................................................. 24 Figura 5. Estruturas dos 10 tipos de esqueletos triterpênicos das saponinas. .............. 24 Figura 6. Estruturas das saponinas isoladas da banana-de-papagaio. .......................... 27 Figura 7. Saponinas encontradas no juá. .......................................................................... 30 Figura 8. Fluxograma do método de extração das saponinas. ........................................ 36 Figura 9. Esquema ilustrativo do método de microdluição para determinação da MIC.40 Figura 10. Curva-padrão de calibração do método DNS. ................................................ 42 Figura 11. Cromatograma das amostras de saponinas a 203 nm................................... 45 Figura 12. Cromatograma em escala aumentada, do tempo 30 a 48 minutos. ............. 46 Figura 13. Espectro de massa do pico de tr=17,117 no modo negativo. ........................ 47 Figura 14. Espectro de massas do pico de tr=20,496 no modo negativo. ...................... 48 Figura 15. Espectro de massas do pico de tr=24,531 no modo negativo. ...................... 48 Figura 16. Espectro de massas do pico de tr=29,354 no modo negativo. ...................... 49 Figura 17. Espectro de massas do pico de tr=30,5 minutos no modo positivo. ............. 50 Figura 18. Espectro de massas do pico de tr=33,5 minutos no modo positivo. ............. 50 Figura 19. Determinação da CMC pelo método turbidimétrico para a saponina não- modificada............................................................................................................................. 51 Figura 20. Determinação da CMC pelo método turbidimétrico para a saponina modificada pela Viscozyme ................................................................................................. 52 Figura 21. Determinação da CMC pelo método turbidimétrico para a saponina modificada pela Ultrazym. ................................................................................................... 52 Figura 22. Determinação da CMC pelo método turbidimétrico para a saponina modificada pela Celluclast. .................................................................................................. 53 Figura 23. Índice de emulsificação 24 horas para a saponina não-modificada e para as modificadas pelas enzimas Viscozyme, Ultrazym e Celluclast, nas concentrações 0,1 e 1 g/L....................................................................................................................................... 53 file:///E:/DISSERTACAO%20-%20Copia.docx%23_Toc464587315 Lista de Abreviaturas e Siglas ATCC American Type Culture Collection BHI Brain Heart Infusion CLSI/NCCLS Clinical and Laboratory Standards Institute/National Committee for Clinical Laboratory Standards CMC Concentração Micelar Crítica DNS ácido 3,5-dinitrosalicílico ESI Ionização por Eletrospray Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz HPLC High Performance Liquid Chromatography IE24 Índice de Emulsificação 24 horas MIC Minimal Inhibitory Concentration g Micrograma mg Miligrama mL Mililitro MS Mass spectrometer pH Potencial hidrogeniônico rpm Rotações por minuto RPMI Roswell Park Memorial Institute Tween 80 Poloxietileno monooleato de sorbitana UV Ultravioleta SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................... 17 2.1. SURFACTANTES .............................................................................................17 2.1.1. Classificação dos Surfactantes ............................................................... 17 2.1.1.1. Quanto à Natureza da Parte Hidrofílica................................................... 17 2.1.1.2. Sintéticos x Naturais.................................................................................. 18 2.1.2. Comportamento dos Surfactantes em Solução ................................... 19 2.1.3 Emulsões ..................................................................................................... 21 2.1.4. Formação de espuma ................................................................................ 22 2.2. SAPONINAS ..................................................................................................... 22 2.2.1. Classificação ................................................................................................ 23 2.2.2. Fontes de Saponinas ................................................................................. 25 2.2.3. Propriedades ................................................................................................ 25 2.2.3.1. Poder Surfactante...................................................................................... 26 2.2.3.2. Interação com esteróis .............................................................................. 26 2.2.3.3. Atividade Antimicrobiana .......................................................................... 27 2.2.4. Saponinas do Juá ...................................................................................... 28 2.2.5. Modificação Estrutural das Saponinas ........................................................ 31 2.2.5.1. Enzimas como Bioconversores ................................................................ 31 3. OBJETIVOS .............................................................................................................. 34 3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 34 4. MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................... 35 4.1. MATERIAIS ....................................................................................................... 35 4.2. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS .......................................................... 35 4.2.1. Extração e Hidrólise Total das Saponinas ............................................ 35 4.2.1.1. Obtenção do Extrato Rico em Saponinas ............................................... 35 4.2.1.2. Hidrólise Total das Saponinas ....................................................................... 36 4.2.2. Modificação Enzimática das Saponinas ................................................. 37 4.2.3. Caracterização das Saponinas ................................................................. 38 4.2.4. Concentração Micelar Crítica (CMC) ....................................................... 39 4.2.5. Índice de Emulsificação (IE24) ................................................................... 39 4.2.6. Atividade Antimicrobiana das Saponinas do Juá ................................. 39 4.2.6.1. Cultivo e Preparo do Inóculo .................................................................... 40 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................... 42 5.1. EXTRAÇÃO E HIDRÓLISE TOTAL DAS SAPONINAS .............................. 42 5.1.1. Obtenção do Extrato Rico em Saponinas .............................................. 42 5.1.2. Hidrólise Total das Saponinas .................................................................. 42 5.2. MODIFICAÇÃO ENZIMÁTICA DAS SAPONINAS ....................................... 43 5.3. CARACTERIZAÇÃO DAS SAPONINAS ....................................................... 44 5.4. CONCENTRAÇÃO MICELAR CRÍTICA ........................................................ 51 5.5. ÍNDICE DE EMULSIFICAÇÃO (IE24) .............................................................. 53 5.6. ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DAS SAPONINAS DO JUÁ .................... 54 6. CONCLUSÕES E SUGESTÕES ............................................................................ 57 7. PERSPECTIVAS ...................................................................................................... 59 8. REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 60 14 1. INTRODUÇÃO Saponinas é o nome genérico dado a glicosídeos oriundos do metabolismo secundário dos vegetais. Consistem em um esqueleto derivado de isoprenóides, triterpênico ou esteroidal, denominado aglicona ou sapogenina, ligado a cadeias de açúcares através de uma ou mais ligações glicosídicas (Augustin et al., 2011). Assim como outros metabólitos secundários, tais como fitoesteróis, carotenóides, entre outros, as saponinas não desempenham papel essencial no crescimento das plantas, mas desempenham funções fisiológicas que favorecem sua sobrevivência, sendo parte do sistema de defesa dos organismos vegetais (Kalinowska et al., 2005 apud Ribeiro, 2012). O nome “saponina” está relacionado à capacidade dessas substâncias formarem espumas estáveis em soluções aquosas, da mesma forma que os sabões (Vincken et al., 2007; Wang et al., 2011). Essa propriedade é devida ao caráter anfifílico de suas moléculas, que possuem uma parte lipofílica (aglicona) e uma parte hidrofílica (cadeia de açúcares). Tal característica faz com que as saponinas sejam classificadas como surfactantes naturais. As saponinas, assim como os fosfolipídeos e algumas proteínas ou hidrolisados proteicos, apresentam-se como alternativas mais verdes em relação aos surfactantes sintéticos, devido à sua maior biodegradabilidade, menor toxicidade e por serem extraídos de fontes renováveis, ao contrário dos surfactantes sintéticos, que possuem o petróleo como matéria-prima (Nitschke & Pastore, 2002). Encontradas naturalmente em alguns alimentos, como alho-poró, cebola, beterraba, erva-mate, entre outros, as saponinas encontram-se inseridas na nossa dieta. Das fontes de saponina que compõem a biodiversidade brasileira, o juá (Ziziphus joazeiro) apresentou-se com o maior potencial de aplicação, em razão de suas propriedades tensoativas, como capacidade de redução da tensão superficial da água e índice de emulsificação, serem mais expressivas que as de saponinas oriundas de diversos vegetais estudados. Ainda assim, os índices de emulsificação encontrados são baixos em relação aos surfactantes comerciais, indicando que a saponina do juá deveria ser utilizada em conjunto 15 com outro surfactante, na estabilização de emulsões (Ribeiro, 2012). Entretanto, a presença de grupos sulfato em algumas saponinas encontradas no juá (Higuchi et al., 1984) amplia seu uso como surfactante, uma vez que elas podem apresentar-se com caráter aniônico, ao contrário da maioria das saponinas, que são surfactantes não-iônicos. A aplicação das saponinas, entretanto, vai além de sua atuação como surfactante. Elas têm potencial aplicação industrial também como preservativos, modificadores de sabor e até como agentes de remoção de colesterol de laticínios (Guclu-Ustundag & Mazza, 2007; San Martin & Briones, 1999 apud Augustin et al., 2011). Com relação à sua potencial atividade antimicrobiana, saponinas de diversas fontes vegetais são citadas como portadoras de atividade antifúngica (Yang et al., 2006), porém não costumam ser eficientes em sua ação antibacteriana (Hostettmann & Marston, 2005). As propriedades funcionais, bem como as propriedades físico-químicas, são consequências da estrutura química das moléculas. Alterações na estrutura provocam, via de regra, alterações físico-químicas, uma vez que a massa e a geometria molecular são determinantes para tais propriedades,sendo relativamente fácil prever de que forma essas mudanças estruturais irão afetá-las. Quanto às propriedades funcionais, como a atividade antimicrobiana e o poder surfactante, por exemplo, tal relação de causa e efeito não é previsível. Nesse sentido, dada a imensa diversidade estrutural e de atividades das saponinas, ainda não é possível prever que tipo de atividade cada uma irá apresentar apenas conhecendo sua estrutura. Por se tratar de uma biomolécula com grande potencial tecnológico, estudos experimentais acerca da relação atividade/estrutura ainda são necessários e de grande relevância para seu melhor entendimento e definição de novos rumos de pesquisa (Augustin et al., 2011). Liu et al. (2013) avaliaram a relação estrutura-bioatividade de saponinas naturais e modificadas quimicamente, observando aumento da citotoxicidade de saponinas contra células cancerígenas quando se aumentava a cadeia de açúcares, entre outras conclusões. Feng et al. (2015) modificaram saponinas 16 de chá através de esterificação, obtendo saponinas modificadas com maior poder surfactante. Uma estratégia verde para serem obtidas saponinas modificadas é através de reações enzimáticas. Wie et al. (2007) utilizaram β-glicosidase e α- rhamnosidase obtidas de Aspergillus niger para modificar enzimaticamente saponinas de Platycodon grandiflorum, obtendo saponinas com cadeia lateral de açúcares reduzida. Enzimas do tipo carboidrolases são biocatalisadores capazes de quebrar as ligações entre duas moléculas de açúcares, produzindo saponinas parcialmente hidrolisadas, o que pode ter algum efeito sobre suas propriedades, como o poder surfactante e a atividade antimicrobiana. 17 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. SURFACTANTES Surfactantes são moléculas que apresentam, em sua estrutura, uma parte apolar (hidrofóbica) e uma parte polar (hidrofílica). Essa característica anfifílica confere a elas algumas propriedades, tais como detergência, poder emulsificante e formação de espuma. De uma forma geral, os surfactantes atuam reduzindo a tensão interfacial entre duas fases imiscíveis. A tensão interfacial é definida como a energia livre da interface por unidade de área. Quanto maior essa energia, maior o trabalho necessário para expandir a interface (Tadros, 2005). As propriedades dos surfactantes fazem com que eles encontrem variadas aplicações na indústria, como na área de cosméticos, produtos de higiene e limpeza. Na indústria de petróleo, são importantes na recuperação terciária de óleo nos poços. Na indústria de alimentos, são utilizados como emulsificantes na formulação de diversos produtos, como achocolatados, leite em pó, pães, molhos, entre outros. 2.1.1. Classificação dos Surfactantes Os surfactantes são classificados de acordo com a natureza da parte hidrofílica, que pode ser não-iônica, iônica (aniônica ou catiônica) ou anfótera. Podem, ainda, ser classificados como sintéticos ou naturais, sendo estes últimos subdivididos quanto à origem: microbiana ou vegetal. 2.1.1.1. Quanto à Natureza da Parte Hidrofílica A parte hidrofílica da molécula é a responsável pelo caráter iônico ou não-iônico dos surfactantes: se sua polaridade for grande o suficiente para gerar íons por dissociação (cargas verdadeiras), tem-se um surfactante aniônico ou catiônico, dependendo se a carga gerada na molécula for negativa ou positiva (Daltin, 2011). Exemplos de surfactantes aniônicos são os sabões (sais de ácido carboxílico) e os sulfatados, como o laurilsulfato de sódio. Os 18 surfactantes catiônicos são representados pelos sais quaternários de amônia (Peres, 2005). Entretanto, se a parte polar da molécula apresentar apenas carga parcial, não havendo formação de íons, o surfactante é não-iônico. Existem, ainda, os surfactantes anfóteros, que são aqueles que podem apresentar-se carregados positiva ou negativamente, dependendo do pH do meio (Daltin, 2011). 2.1.1.2. Sintéticos x Naturais Os surfactantes sintéticos são de origem petroquímica e encontram-se disponíveis comercialmente, com ampla aplicação industrial. Os álcoois sulfatados foram os primeiros surfactantes usados comercialmente. Depois, surgiram os alquilbenzenos sulfonados (ABS), que, por serem ramificados e, consequentemente, pouco biodegradáveis, foram substituídos pelo linear alquilbenzeno sulfonado (LAS), que é menos prejudicial ao meio ambiente (Peres, 2005). O mercado global de surfactantes foi avaliado pela Acmite Market Intelligence (2016) em aproximadamente US$ 30,65 bilhões em 2015. Com um crescimento esperado de 4,4% ao ano, espera-se que esse mercado chegue a US$ 39,69 bilhões em 2021. Entretanto, em termos sustentáveis, os surfactantes naturais trazem inúmeras vantagens. Enquanto os surfactantes sintéticos são derivados de fontes fósseis, produzidos por processo que, em si, já traz impacto para o meio ambiente, os naturais são extraídos de fontes renováveis ou produzidos por micro-organismos, sendo muito menos agressivos por serem biodegradáveis e apresentarem baixa toxicidade, ao contrário dos sintéticos (Mulligan, 1993 apud Nitschke & Pastore, 2002). Os biossurfactantes incluem glicolipídeos, lipopeptídeos, lipoproteínas fosfolipídios e ácidos graxos, surfactantes poliméricos e surfactantes particulados produzidos por micro-organismos e são classificados de acordo com sua composição química ou origem microbiana (Desai, 1993 apud Nitschke & Pastore, 2002). São utilizados em várias aplicações, como na biorremediação de solos, na recuperação melhorada de petróleo, em 19 aplicações terapêuticas, na agricultura, na mineração, em produtos de higiene e cosméticos e na indústria de alimentos (Nitschke & Pastore, 2002). Apesar disso, ainda possuem um mercado muito menor do que o dos surfactantes sintéticos: espera-se atingir 2,3 milhões em 2020, segundo a Grand View Research, Inc (2016). Surfactantes também podem ser extraídos de fontes vegetais, como é o caso das saponinas, além de fosfolipídeos, proteínas ou hidrolisados proteicos. Um exemplo bem conhecido de surfactante natural é a lecitina de soja, mistura de fosfolipídeos amplamente utilizada na indústria alimentícia (Ribeiro, 2012). 2.1.2. Comportamento dos Surfactantes em Solução Devido ao seu caráter anfifílico, a solubilização de um surfactante em meio polar (como a água) ou apolar (como óleo) sempre envolve uma certa instabilidade, oriunda da não-afinidade de parte da molécula pelo meio solvente. A fim de diminuir essa instabilidade, as moléculas de surfactante tendem a migrar para as interfaces do sistema, sejam elas a superfície do líquido (interface líquido-ar), as paredes do sistema (interfaces líquido-sólido) ou a interface entre dois líquidos imiscíveis, se for um sistema com mais de uma fase. Dessa forma, a parte hidrofílica da molécula fica voltada para a fase mais polar, dando maior estabilidade ao sistema (Daltin, 2011). Esse processo é explicado na Figura 1, na qual a parte polar da molécula é representada por elipses. Figura 1. Disposição preferencial dos surfactantes nas interfaces Fonte: Daltin, 2011. 20 Quando não há mais espaço para se dispor nas interfaces, as moléculas de surfactantes livres no meio do líquido começam a se agrupar. Por exemplo, em meio aquoso, essas moléculas se dispõem de forma que suas cadeias apolares se aproximem umas das outras, expondo as porções polares para o seio do líquido. Esse processo tem o mesmo objetivo que a disposição preferencial dos surfactantes quando se orientam perpendicularmente nas interfaces: diminuir a instabilidade do sistema, através da diminuição da energia livre. Às estruturas assim formadas, dá-se o nome de micelas, e concentração em que se inicia a formação de micelas é chamada Concentração Micelar Crítica(CMC) (Bordel & Giesecke, 2007; Daltin, 2011). A CMC é uma importante propriedade, característica de cada surfactante. O processo de formação de micelas é fundamental para qualquer aplicação de um surfactante, uma vez que propriedades como emulsificação, detergência e formação de espuma só se pronunciam quando a concentração do surfactante é maior que a CMC (Jumpertz et al., 2010). A CMC pode ser determinada experimentalmente, aumentando-se gradativamente a concentração do surfactante em solução e observando-se a redução da tensão superficial que ocorre devido à migração das moléculas tensoativas para as interfaces líquido-ar e líquido-sólido. A tensão superficial cai com o aumento da concentração até que, na CMC, todas as interfaces estão saturadas e inicia-se a formação de micelas. Nesse ponto, a tensão deixa de variar e atinge um patamar mínimo, tornando possível a determinação da CMC graficamente (Daltin, 2011). Na CMC, ocorrem mudanças em propriedades macroscópicas da solução (Figura 2), sendo possível determiná- las não só pelo acompanhamento da tensão superficial, como também pela variação da turbidez, pressão osmótica, solubilidade, condutividade, auto- difusão, etc (Gurgel, 2000; Viades-Trejo et al., 2012). 21 Figura 2. Influência da formação de micelas nas propriedades físicas das soluções de surfactantes Fonte: Gurgel, 2000. 2.1.3 Emulsões Quando dois líquidos imiscíveis, como água e óleo, são agitados fortemente, forma-se uma emulsão na qual encontram-se suspensos entre si. A emulsão assim formada é um sistema instável, uma vez que a falta de afinidade entre a água e o óleo gera tensões interfaciais que o sistema tenderá a reduzir, a fim de ganhar mais estabilidade. Deste modo, as gotículas de água ou óleo suspensas tendem a coalescer aumentando de volume e, consequentemente, diminuindo a área superficial sujeita às tensões, até a completa separação das fases (Rieger, 1996 e Ansel et al., 2000 apud Casteli et al, 2008; Daltin, 2011). Os surfactantes têm a função de aumentar a estabilidade das emulsões, pois, além de reduzirem as tensões interfaciais, tendem a impedir a coalescência através de dois possíveis efeitos (dependendo do tipo de surfactante): repulsão eletrostática ou impedimento estérico. Quando dois líquidos imiscíveis são agitados na presença de um surfactante com concentração acima da CMC, ocorre a migração das moléculas surfactantes das micelas para as novas interfaces formadas. Se o surfactante for aniônico, as gotículas suspensas serão envoltas por cargas negativas que, por repulsão eletrostática, impedirão a coalescência e, consequentemente, a separação das fases. Se o surfactante for não-iônico, o efeito observado é o de impedimento estérico, ou seja, as gotículas suspensas não coalescem porque as moléculas 22 de surfactante encontram-se ao redor delas, impedindo sua aproximação. Para aumentar a estabilidade das emulsões de forma mais efetiva, é recomendado o uso combinado desses dois tipos de surfactantes (Daltin, 2011). Um importante parâmetro de avaliação do poder de um emulsificante e da estabilidade da emulsão é o Índice de Emulsificação (IE) (Cooper & Goldenberg, 1987; Abu-Ruwaida et al., 1991). De acordo com Cooper & Goldenberg (1987), o IE é calculado pela razão entre a altura remanescente de emulsão e a altura total de líquido, após agitação de dois líquidos imiscíveis, normalmente água e óleo, na presença de um surfactante. O IE é dependente do tempo, logo, estabelece-se um intervalo para sua avaliação, por exemplo, o IE24 é medido 24 horas após a agitação. O IE para um mesmo surfactante pode variar com o tipo de substância hidrofóbica utilizada (diferentes hicrocarbonetos ou óleos vegetais) (Barros et al., 2008). 2.1.4. Formação de espuma Quando uma solução contendo um surfactante em concentração acima da CMC é agitada, pequenas bolhas de ar podem entrar nessa solução e formar novas superfícies água–ar, em um processo muito semelhante ao de formação de uma emulsão. Como mais superfícies foram geradas, há migração das moléculas do surfactante para essas superfícies. As bolhas formadas, envoltas em surfactantes, emergem à superfície do líquido, formando a espuma. Surfactantes aniônicos, em especial os sulfatados, são geralmente os que proporcionam espumas mais volumosas e duradouras, uma vez que a espuma formada por estes possui um maior volume de filme líquido entre as bolhas de ar. Isso ocorre devido à repulsão eletrostática, uma vez que os surfactantes aniônicos apresentam a maior concentração de carga em suas partes polares (Daltin, 2011). 2.2. SAPONINAS Saponinas são glicosídeos produzidos como metabólitos secundários por diversos vegetais superiores. Apesar dessa classe de compostos naturais reunir substâncias com variadas estruturas, as saponinas apresentam algumas 23 características em comum, como a capacidade de formar espuma, devido ao caráter anfifílico de suas moléculas, que lhes confere atividade surfactante (Podolak et al., 2010). 2.2.1. Classificação As saponinas são classificadas de acordo com o tipo de esqueleto da aglicona: esteroidal ou triterpênico (Figura 3). Tanto os triterpenos como os esteroides são isoprenóides, que possuem como precursor o óxido de esqualeno, composto de trinta carbonos que sofre ciclizações enzimáticas, na biossíntese que dá origem às agliconas. Nas saponinas esteroidais, a aglicona é formada por um esqueleto de 27 carbonos, enquanto as agliconas triterpênicas mantêm os 30 carbonos do seu precursor (Augustin et al., 2011). Saponinas esteroidais são encontradas nas famílias Liliaceae, Dioscoreaceae, Agavaceae. As triterpênicas são as mais abundantes na natureza e encontram-se mais difundidas nas dicotiledôneas (famílias Primulaceae, Sapotaceae, Caryophyllaceae, entre outras) (Podolak et al., 2010). Figura 3. Esqueletos representativos de saponinas triterpênicas (ácido oleanólico) e esteroidais (diosgenina). Fonte: Augustin et al, 2011. Existem, ainda, subclassificações quanto ao esqueleto da aglicona. As saponinas esteroidais podem ser do tipo espirostano, ou furostano (Figura 4) (Sparg et al, 2004 apud Ribeiro, 2012). Já as saponinas triterpênicas, podem 24 ser dos seguintes tipos: damarano, tirucalano, lupano, hopano, oleanano, taraxasterano, ursano, cicloartano, lanostano e cucurbitano. Dentre eles, as do tipo oleanano são as mais comumente encontradas no reino vegetal (Figura 5) (Vincken et al., 2007). Figura 4. Saponinas esteroidais com esqueletos do tipo furostano e espirostano (R= açúcares). Fonte: Sarker e Nahar, 2009. Figura 5. Estruturas dos 10 tipos de esqueletos triterpênicos das saponinas. Fonte: Vincken et al, 2007. Outra forma de classificação das saponinas é quanto ao número de glicosilações. Desta forma, elas podem ser classificadas como mono, di ou 25 tridesmosídicas. A glicosilação geralmente ocorre no carbono C3 (via éter) e/ou C28 (via éster), ocorrendo raramente em outras posições, no caso das tridesmosídicas. É comum que se encontrem ligados à aglicona monossacarídeos, tais como D-glicose, D-galactose, ácido D-glucurônico, ácido D-galacturônico, L-ramnose, L-arabinose, D-xilose e D-fucose (Vincken et al., 2007). 2.2.2. Fontes de Saponinas As saponinas podem ser encontradas nas raízes, caules, folhas, flores ou nos frutos de organismos vegetais. A quilaia (Quillaja saponaria), o juazeiro (Ziziphus joazeiro) e o sisal (Agave sisalana) são exemplos de plantas que contêm saponinas. A quilaia apresenta elevada concentração de saponinas, presentes no caule (5 a 20% da casca), sendo uma das principais fontes conhecidas e estudadas. Extratos de quilaia são utilizados em alimentos como emulsificantes (San Martín & Briones, 1999; Resnik, 2003). Dentre os alimentos que consumimos,existem também diversas fontes de saponinas. Alguns alimentos possuem alta concentração desses compostos, como é o caso do ginseng e do alcaçuz, cujas saponinas representam cerca de 4 - 20% do peso seco da raiz, no caso do alcaçuz, e 1,5 - 6%, no caso do ginseng. O alho-poró, o alho, a cebola, o aspargo, a erva- mate, a beterraba, a quinoa e a soja, entre outros, apresentam concentrações mais baixas de saponinas (Ribeiro, 2012). Apesar de serem largamente distribuídas no reino vegetal, as saponinas também podem ser encontradas em algumas espécies animais, como certos animais marinhos invertebrados (Podolak et al., 2010). 2.2.3. Propriedades A diversidade estrutural das saponinas é extremamente grande, porém pode-se atribuir, de uma forma geral, algumas propriedades às saponinas. O poder surfactante, por ser inerente à anfifilicidade da molécula, é a propriedade mais comum. Entretanto, certas saponinas podem apresentar propriedades mais específicas, como é o caso do poder antimicrobiano. 26 2.2.3.1. Poder Surfactante Uma das principais características das saponinas é a sua capacidade de formar espuma, o que explica a origem de seu nome (do latim sapo, que significa sabão) (Vincken et al., 2007). A espuma formada é estável à ação de ácidos minerais diluídos, diferenciando-se dos sabões comuns (Cunha & Roque, 2005 apud Castejon, 2011). A formação de espuma é uma das consequências da estrutura anfifílica das saponinas, que lhes confere poder surfactante. Saponinas têm sido estudadas e, até mesmo, disponibilizadas comercialmente como surfactantes naturais (Wang et al., 2011; Yang et al., 2013). O poder surfactante de saponinas de quilaia foi semelhante ao do tensoativo comercial Tween 80, um surfactante não-iônico muito utilizado na indústria de alimentos, concluindo-se que saponinas de quilaia têm potencial para substituir os surfactantes comerciais em formulações de alimentos e bebidas (Yang et al., 2012). 2.2.3.2. Interação com esteróis A capacidade de interação das saponinas com esteróis é uma característica bastante estudada dessa classe de compostos. A digitonina, por exemplo, uma saponina esteroidal, forma complexos com o colesterol em solução aquosa (Akiyama et al., 1980). A interação com esteróis foi uma característica elucidada a partir de estudos que indicaram que saponinas seriam responsáveis pela formação de poros em membranas de células virais, o que, por sua vez, estaria diretamente relacionado com os esteróis presentes na membrana celular (Bangham & Horne, 1962; Glauert et al., 1962). Como consequência da capacidade de interagir com os esteróis das membranas celulares, tem-se as atividades hemolítica, antifúngica, antiprotozoário, hipocolesterolêmica e até mesmo farmacológicas (Giner et al., 2000; Zhang et al., 2008) observadas para muitas saponinas (Micich et al., 1992; Hwang & Damodaran, 1994; Mitra & Dungan, 2000 apud Ribeiro, 2012). Todas essas propriedades estão, obviamente, fortemente relacionadas à estrutura de cada saponina, em termos do tipo de aglicona, quantidade de 27 glicosilações e o número e tipo de açúcares ligados à aglicona (Augustin, 2011). 2.2.3.3. Atividade Antimicrobiana Saponinas de diversas fontes podem apresentar atividade antimicrobiana. Saponinas triterpênicas com esqueleto do tipo oleanano, como hederagenina e ácido oleanólico, demonstraram possuir efeito antifúngico contra Candida glabratra, C. albicans, Trichosporon beigeli, Penicillium avelaneum UC-4376, Pyriculataoryzae, Cryptococcusneoformans, Coccidioides immitis, Saccharomyces cerevisiae, Microsporum canis e Trichophyton mentagrophytes (Du et al., 2003; Lee et al., 2001 apud Tsuzuki et al., 2007). Escalante et al. (2002) também estudaram saponinas triterpênicas com esqueletos do tipo oleanano, com grupos dicarboxílicos em C-28 e C-30 e dupla ligação no C-12, concluindo que estas possuíam atividade contra alguns fungos patogênicos. Saponinas antifúngicas de banana-de-papagaio (Swartzia langsdorffii) que foram isoladas por Monti et al. (2008) também apresentavam esqueleto oleanano e uma carboxila livre no C28 (Figura 6). Santiago et al. (2005) haviam concluído que a existência de uma carboxila livre no C28 era essencial para a atividade larvicida de saponinas com esqueleto do tipo oleanano sobre Aedes aegypti, bem como observaram que essa atividade era maior para as saponinas monodesmosídicas e com um menor números de açúcares na cadeia lateral no C3. Figura 6. Estruturas das saponinas isoladas da banana-de-papagaio. Fonte: Monti et al., 2008. 28 Em relação à atividade antibacteriana, Lemos et al. (1992) observaram que a saponina acetilada 3-β-O-[α-L-rhamnopiranosil-(1→3)-β-D-glicopiranosil]- hederagenina possuía efeito contra Pseudomonas aeruginosa ATCC 15422, Bacillus subtilis ATCC 6633 e Cryptococcus neoformans. Ahmad e Beg (2001) também reportaram sua ação contra Staphylococcus aureus. Ginsenosídeos, saponinas triterpênicas de Panax ginseng, com esqueleto do tipo damarano (Park et al., 2016), apresentaram ação antimicrobiana, atuando através de disrupção da membrana celular de bactérias gram positivas e gram negativas, como Staphylococcus aureus e Salmonella typhimurium (Sung & Lee, 2008). 2.2.4. Saponinas do Juá O juazeiro (Ziziphus joazeiro Martius, Família Rhamnaceae) é uma árvore encontrada preferencialmente na caatinga, ocorrendo naturalmente na região Nordeste do Brasil, mas também em alguns estados do Norte, Centro- Oeste e Sudeste (Lima, 1985). Tem grande importância socioeconômica na região Nordeste, onde suas folhas e frutos são utilizados na alimentação animal (Barros et al., 1991); seus frutos, na alimentação humana; suas cascas, como detergente e dentifrício; seus caules, como combustível e material de construção, entre outros (Carvalho, 1994). As cascas do caule e as folhas do juá também são utilizadas para fins medicinais, como cicatrizantes e anti- inflamatório, entre outros (Matos, 1999). As seis saponinas do juá possuem agliconas triterpênicas do tipo damarano, com um quinto anel formado contendo um oxigênio como heteroátomo. As estruturas 1, 2 e 3 da Figura 7 representam as saponinas encontradas em maior quantidade no juá, chamadas jujubosídeos, cujas agliconas são chamadas jujubogeninas. São monodesmosídicas, com uma única glicosilação no carbono 3. Os açúcares encontrados nesses glicosídeos são glicose e arabinose, na forma dos anéis α-arabinopiranosil, β-glicopiranosil e α-arabinofuranosil, sulfatados ou não. (Higuchi et al., 1984; Schühly et al., 2000). 29 As saponinas 4, 5 e 6 da Figura 7 foram isoladas por Schühly et al. (2000). Os compostos 4 e 5 são denominados juazeirosídeos A e B, respectivamente. O esqueleto do composto 6 é derivado da lotogenina, sendo denominado lotosídeo A. Encontram-se ligados aos esqueletos, os anéis β- glicopiranosil, α-arabinopiranosil e β-apiofuranosil. As saponinas 1 a 6 são denominadas: (1) Jujubogenina 3-O-α-L- arabinofuranosil-(12)-[β-D-glicopiranosil (13)]-α-arabinopiranosídeo; (2) Jujubogenina 3-O-α-L-arabinofuranosil-(12)-[β-D-glicopiranosil-4-O-sulfato (13)]-α-arabinopiranosídeo; (3) Jujubogenina 3-O-α-L-arabinofuranosil- (12)-[β-D-glicopiranosil-4-O-sulfato (13)]-α-arabinopiranosídeo-3-O-sulfato; (4) Juazeirogenina 3-O-β-D-glicopiranosídeo; (5) Juazeirogenina 3-O-β-D- glicopiranosil-(12)-[β-D-apiofuranosil-(13)]-β-D-glicopiranosil-(12)-α-L- arabinopiranosídeo; e (6) Lotogenina 3-O-β-D-glicopiranosil-(12)-[β-D- apiofuranosil-(13)]- β-D- glicopiranosil-(12)-α-L-arabinopiranosídeo. Dentre as fontes de saponinas que compõem a biodiversidade brasileira, o juá apresenta-se como uma boa alternativa, levando-se em consideração o teor (2 a 10% das cascas do caule) e o poder de emulsificação das suas saponinas. As saponinas do juá foram capazes dereduzir a tensão superficial em aproximadamente 35 mN/m, além de apresentarem Índice de Emulsificação em torno de 50%, o que representa um dos melhores desempenhos, quando se compararam saponinas de diversas fontes vegetais (Ribeiro, 2012). Apesar das saponinas do juá terem demonstrado possuir maior poder tensoativo que a maioria das saponinas investigadas, seu desempenho ainda pode ser melhorado, especialmente em relação à estabilização de emulsões. Além do poder surfactante, as saponinas do juá apresentaram atividade contra a levedura Candida albicans a uma concentração de 156 µg/mL e contra o fungo Aspergillus niger a 312,5 µg/mL, mas não apresentaram atividade antibacteriana. Cruz et al. (2007) observaram atividade antifúngica de extrato aquoso de juá em concentrações entre 6,25 a 400 μg/mL. Alviano et al. (2008) observaram atividade antibacteriana do mesmo tipo de extrato em concentrações entre 1,0 e 16,0 mg/mL. Porém, nesses casos, por se tratar de extratos aquosos, outros componentes do juá poderiam estar contribuindo para tais atividades, como os 30 compostos fenólicos, alcaloides e triterpenos (Cushnie & Lamb, 2005 apud Ribeiro, 2012). Figura 7. Saponinas encontradas no juá. Fonte: Higuchi et al., 1984; Schühly et al., 2000. 31 2.2.5. Modificação Estrutural das Saponinas Diversos trabalhos investigaram a quebra ou aumento da cadeia lateral de açúcares e os consequentes efeitos na bioatividade e demais propriedades das saponinas. As cadeias laterais de açúcar nas posições C3 e C28 da aglicona, bem como a presença de grupos funcionais nessas posições, desempenham papel fundamental na biotividade da molécula (Wie et al., 2007; Zhu et al., 2011). As modificações podem ser efetuadas via processamento químico ou por bioconversão microbiana ou enzimática. Monti et al. (2005) utilizaram glicosidases, glicosiltransferases, lipases e lacases para modificar a parte glicosídica de saponinas de Centella asiática. Wie et al. (2007) estudaram o efeito da quebra parcial da cadeia de açúcares de saponinas de Platycodon grandiflorum por enzimas produzidas por A. niger, obtendo saponinas modificadas com maior poder antioxidante, melhores características sensoriais e menor toxicidade. Outras abordagens, porém, vão além da modificação da parte glicosídica da molécula. Modificações estruturais no esqueleto lipofílico, como inserção de grupos funcionais e esterificação, por exemplo, também podem ter impacto significativo na bioatividade. Zhu et al. (2011) estudaram a biotransformação de derivados do ácido oleanólico e suas saponinas pela ação dos micro- organismos Streptomyces griseus ATCC 13273 e Aspergillus ochraceus CICC 40330, caracterizando os novos compostos produzidos. Feng et al. (2015) sintetizaram saponinas modificadas através de esterificação da aglicona das saponinas do chá, obtendo um produto com melhor atividade tensoativa. 2.2.5.1. Enzimas como Bioconversores Enzimas são proteínas que atuam como catalisadores naturais, ou biocatalisadores, sendo largamente utilizadas na biotransformação de compostos naturais. Através de seu centro-ativo, as enzimas se ligam ao substrato, formando um complexo enzima-substrato, que, após a reação, dará origem aos produtos mais a enzima livre. As enzimas aceleram as reações pelo decréscimo da energia livre de ativação necessária, através da formação de um complexo intermediário de menor energia (Stryer, 2008). 32 As reações enzimáticas trazem uma série de vantagens em relação às reações com catalisadores químicos, dentre elas o fato das enzimas serem obtidas a partir de organismos vivos, por simples extração ou fermentação a partir de matérias primas renováveis, trabalharem em condições reacionais mais brandas e terem altíssima especificidade. Entretanto, são extremamente sensíveis às condições ambientais, como temperatura, pH e força iônica do meio, fatores que podem causar alterações na sua estrutura terciária e/ou secundária, o que levará à sua desnaturação e consequente perda de atividade enzimática (Illanes, 1994). As enzimas são classificadas de acordo com o tipo de reação que catalisam em seis classes: oxidorredutases, transferases, hidrolases, liases, isomerases e ligases. O grupo das hidrolases engloba a maioria das enzimas com aplicação industrial, como as carboidrolases, proteases etc (Illanes, 1994). Podem-se obter saponinas com cadeias laterais parcialmente hidrolisadas ou até mesmo agliconas livres a partir de reações enzimáticas (Monti et al., 2005; Wie et al., 2007). No caso da modificação enzimática de saponinas via quebra da cadeia de açúcares, as carboidrolases apresentam-se como possíveis biocatalisadores da reação. Pertencem ao grupo das carboidrolases, as amilases, glicoamilases, pectinases, celulases, hemicelulases, lactases, galactosidases e invertases (Illanes, 1994). Celulases são enzimas que atuam na quebra da celulose e derivados, gerando glicose. Os três tipos de celulase envolvidos nessa reação são a exocelulase, a endocelulase e a celobiase. A exocelulase (1,4-β-D-glucano celobiohidrolase) atua na extremidade da cadeia de celulose, produzindo celobiose; a endocelulase (1,4-β-D-glucano-4-glucanohidrolase) atua na quebra de ligações no meio da cadeia, gerando celodextrinas; e a celobiase (β- glicosidase) hidrolisa a celobiose e celodextrinas de baixo peso molecular, gerando glicose (Gerhartz, 1990). As hemicelulases são enzimas que atuam nas ligações encontradas nas hemiceluloses, que são polissacarídeos heterogêneos compostos predominantemente de pentoses (xilose, arabinose) e hexoses (manose, glicose, galactose) (Gerhartz, 1990; Saha, 2003). Dentre as hemicelulases, encontram-se as xilanases, que hidrolisam ligações do tipo β-1,3 e β-1,4 entre 33 moléculas de xilose; as arabanases, que quebram ligações α-1,5 e α-1,3 entre arabinases; as dextranases, que atuam na ligação α-1,6 de dextranas; as inulinases, que quebram as ligações β-1,2 entre as moléculas de frutose da inulina; as pentosanases; as β-glucanases (ligações β-1,3, β-1,4 e β-1,6 de β- glucanos), entre outras (Gerhartz, 1990; Uhlig, 1998; Koblitz, 2008). As pectinases são um conjunto de enzimas capazes de hidrolisar as ligações glicosídicas da pectina. São muito utilizadas na indústria de bebidas, como na clarificação de sucos e no aumento de rendimento de suco na produção de vinho. Pectinases comerciais utilizadas em tais aplicações são capazes de degradar a parede celular de vegetais, sendo compostas, muitas vezes, além das enzimas pectinolíticas, por celulases e hemicelulases. Levando em consideração a estrutura das saponinas, em especial os tipos de açúcares presentes na cadeia lateral e das ligações existentes entre eles, nota-se que preparados enzimáticos comerciais com atividade em diversos tipos de ligações glicosídicas, compostos por celulases, hemicelulases e/ou pectinases, são capazes de modificar a estrutura original da molécula. Os preparados contendo hemicelulases são os mais promissores quando se trata das ligações do tipo α-1,2, α-1,3, β-1,2 e β-1,3 presentes nas saponinas do juá. Kim et al. (2006) modificaram enzimaticamente ginsenosídeos, obtendo novos compostos quando utilizaram-se as enzimas comerciais Pectinex (pectinase e arabanase) e Viscozyme (hemicelulases, celulases). As condições ótimas de reação para esses tipos de enzimas, segundo a literatura, são temperaturas em torno de 50°C, pH entre 4 e 5 e concentração de enzima de 5%. O tempo de incubação pode variar de acordo com o grau de reação que se deseja, podendo chegar a dois ou três dias (Kim et al., 2006). 34 3. OBJETIVOS O objetivo do trabalho é investigar como se comportam as atividades emulsificante e antimicrobiana das saponinas do juá frente a alterações em sua estrutura molecular, efetuadas a partir de reações enzimáticas,tendo como estratégia o encurtamento da cadeia lateral de açúcares. 3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Obter um extrato purificado de saponinas a partir das cascas do juá; Avaliar as propriedades surfactantes e o poder antimicrobiano das saponinas extraídas do juá; Realizar reações de hidrólise enzimática utilizando enzimas comerciais com diferentes atividades: Viscozyme L, Ultrazym AFPL e Celluclast 1.5L; Caracterizar os produtos formados pelas reações através de HPLC-MS; Determinar as propriedades (CMC, IE24 e MIC) das saponinas do juá após as modificações enzimáticas; Avaliar como se comportam as propriedades surfactante e atimicrobiana frente às modificações estruturais provocadas pelas reações de hidrólise enzimática. 35 4. MATERIAIS E MÉTODOS Extratos liofilizados ricos em saponinas do juá foram submetidos a reações enzimáticas, e os produtos dessas reações, bem como o próprio extrato original, foram analisados quanto ao poder surfactante e antimicrobiano. 4.1. MATERIAIS O juá foi obtido no mercado local na forma de pedaços da casca e do tronco. As enzimas utilizadas foram Viscozyme L (lote KTN02215), Ultrazym AFPL (lote KJN07024) e Celluclast 1.5 L (lote CCN03138), todas da Novozymes®. Demais solventes e reagentes utilizados: ácido sulfúrico, metanol, hidróxido de sódio e butanol (Vetec); óleo de soja (Leve). 4.2. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS 4.2.1. Extração e Hidrólise Total das Saponinas 4.2.1.1. Obtenção do Extrato Rico em Saponinas As cascas do caule do juá foram trituradas e peneiradas (Mesh Tyler 32). Em um Erlenmeyer, 100 gramas desse material foram, então, extraídos com solução metanol/água 1:1 (150mL de metanol + 150 mL de água) por 24 horas, sob agitação constante à temperatura ambiente. Após esse tempo, o meio extrativo foi filtrado em funil de Büchner à vácuo. O filtrado foi reservado e o resíduo sólido passou por nova extração por mais duas vezes. Ao final das três extrações, o resíduo sólido foi descartado, e o filtrado foi rotoevaporado em Evaporador Rotativo TE-210 acoplado a bomba de vácuo TE-0581. O metanol foi, assim, recuperado e a solução aquosa resultante seguiu para a etapa de partição com butanol. Na partição, ocorre transferência de massa das saponinas da fase aquosa para a fase butanólica. Essa etapa foi feita em funil de decantação, repetindo-se o processo até que a fase butanólica adicionada à solução aquosa ficasse quase incolor. Todo volume de butanol contendo as saponinas, oriundo da partição, foi, então, lavado duas vezes em funil de decantação com solução 36 de NaOH 1%. Essa lavagem tem como objetivo remover os flavonóides presentes no extrato butanólico. Após a lavagem com NaOH, foi feita uma lavagem com água destilada. A solução butanólica purificada foi, então, rotoevaporada até todo butanol ser recuperado e restar apenas as saponinas cristalizadas no balão de evaporação. As saponinas foram ressuspensas em uma quantidade mínima de água e, em seguida, liofilizadas por 24 horas em Liofilizador Terroni Enterprise I, de forma a obter-se um extrato liofilizado rico em saponinas. A Figura 8 mostra o fluxograma do procedimento de extração. Fonte: Elaboração própria. 4.2.1.2. Hidrólise Total das Saponinas A hidrólise da saponina resulta na quebra das ligações glicosídicas, gerando agliconas e açúcares livres. Estes foram quantificados pelo método do ácido 3,5-dinitrosalicílico (DNS) para açúcares redutores totais adaptado de Miller (1959). Adicionaram-se 150µL da amostra, 200µL do reagente DNS e Figura 8. Fluxograma do método de extração das saponinas. 37 200µL de água destilada em frasco do tipo eppendorf; a solução reagiu por 10 minutos a 90ºC e, em seguida, adicionou-se 1,5mL de água destilada. A absorbância da solução final foi lida a 540nm em espectrofotômetro Shimadzu modelo UV-1800, frente a uma curva-padrão de glicose (0 a 10µmol/mL). Os ensaios foram feitos em triplicata. A hidrólise total, realizada com o intuito de fornecer um valor máximo de concentração final de açúcares redutores, foi realizada pelo método adaptado de Rothrock et al. (1957). Efetuou-se a reação da solução de saponina 1% com HCl 4N, por 48 horas à temperatura ambiente. O meio hidrolisado foi, então, centrifugado, e o sobrenadante foi neutralizado com NaOH 4N. A amostra neutralizada foi submetida ao ensaio de determinação de açúcares redutores, conforme descrito anteriormente. 4.2.2. Modificação Enzimática das Saponinas As reações enzimáticas teoricamente produzirão saponinas parcialmente hidrolisadas, ou seja, com uma cadeia menor de açúcares, mas ainda na forma glicosídica. Como biocatalisadores dessas reações, foram utilizadas três enzimas comerciais: Viscozyme L (celulases e hemicelulases), Ultrazym AFPL (pectinases) e Celluclast 1.5L (celulase). A reação foi conduzida em shaker, com rotação de 200 rpm, à 50ºC e pH 5, a partir de solução de saponina 1% com adição de enzima 5% v/v, por um tempo mínimo de 24 horas. O ponto final de reação foi determinado através da determinação, por DNS, dos açúcares formados. Após o tempo de reação, filtrou-se o meio reacional para remoção de agliconas e, então, realizou-se a partição das saponinas modificadas com butanol, parando a reação. Em seguida, o extrato butanólico foi lavado com água para remoção de açúcares residuais e, então, partiu-se para a rotoevaporação e liofilização do extrato rico em saponinas modificadas. O pH utilizado nas reações enzimáticas foi escolhido após a determinação das concentrações finais de açúcar (em equivalentes de glicose) para tratamentos com as três em enzimas, nos pH´s 4, 5, 6 e 7. Utilizou-se análise de variância (ANOVA) seguida de teste de Tukey para analisar a a 38 existência de diferença estatística entre as médias, com auxílio do software Statistica 13.0. 4.2.3. Caracterização das Saponinas A caracterização das saponinas e dos produtos obtidos na hidrólise enzimática foi feita por HPLC-MS. A análise foi realizada pelo Laboratório de Cromatografia do CENPES/ Petrobras, coordenado pelo químico Íris Medeiros Junior. As amostras de saponinas (não-modificadas e modificadas) foram solubilizadas em metanol e transferidas para o frasco de amostrador automático, sendo diretamente injetadas no HPLC-MS (módulos positivo e negativo). O sistema de HPLC utilizado (Agilent Technologies, modelo 1200) é constituído por amostrador automático, degaseificador de solventes, bomba quaternária e detector de ultravioleta (UV) por arranjo de diodos. Os principais parâmetros da análise encontram-se descritos no Quadro 1. Quadro 1: Parâmetros e condições analíticas da identificação das saponinas por HPLC-MS. Parâmetro Condição Pré-Coluna + Coluna: Vydac Guard Column C-18 + Zorbax XDB-C18 3,5 µm, 4,6 x 150 mm. Temperatura da coluna: Ambiente Volume de injeção: 10 µL Composição da fase móvel: Solvente A: Acetonitrila + Ácido acético 0,1% Solvente B: Água + Ácido acético 0,1% Gradiente de composição: 0 min 3 min 35 min 37 min 45 min 47 min 55 min 25% A / 75% B 25% A / 75% B 50% A / 50% B 100% A / 0% B 100% A / 0% B 25% A / 75% B 25% A / 75% B Fluxo de fase móvel: 1,0 mL/min Detector de UV: Comprimento de onda 203 nm Intervalo do espectro 190-400 nm 39 4.2.4. Concentração Micelar Crítica (CMC) Mediu-se a transmitância a 450nm de soluções aquosas com concentrações variando de 10 a 0,001g/L de saponinas (original e modificadas) em espectrofotômetro Shimadzu modelo UV-1800. O ensaio foi feito em duplicata, e a variação da transmitância com a concentração foi avaliada, para se determinar a concentração micelar crítica. 4.2.5. Índice de Emulsificação (IE24) Os índices de emulsificação da saponina original e das modificadas enzimaticamente foram determinados segundo Cooper & Goldenberg(1987) e Sarubbo et al. (2006). Adicionaram-se 4mL de solução aquosa de saponinas (0,1 e 1g/L) a 4mL de óleo de soja, agitando-se em vórtex por dois minutos a 2500 rpm, formando uma emulsão. O IE24 é calculado como a razão entre a altura em emulsão após 24 horas e a altura total de mistura. Os ensaios foram feitos em duplicata. Utilizou-se análise de variância (ANOVA) seguida de teste de Tukey para analisar a a existência de diferença estatística entre as médias, com auxílio do software Statistica 13.0. 4.2.6. Atividade Antimicrobiana das Saponinas do Juá A atividade antimicrobiana das saponinas do juá foi determinada pelo método padrão internacional de microdiluição, de acordo com as normas M27- A2 (NCCLS, 2002a) e M7-A6 (NCCLS, 2003), do CLSI/NCCLS (Clinical and Laboratory Standards Institute). Este método baseia-se na inoculação de uma suspensão de micro-organismos (bactérias, fungos ou leveduras) em placas de 96 poços tipo ELISA, contendo meio de cultura específico para bactérias (Müller-Hinton), fungos ou leveduras (RPMI-1640). Antes da inoculação, adicionou-se a solução de saponina de juá ao meio de cultura, fazendo-se diluições sucessivas que resultaram em uma faixa de concentração de saponina no meio que variou de 40 a 0,02 mg/mL para bactérias e de 20 a 0,01 mg/mL para leveduras. A Figura 9 mostra o esquema do método de microdiluição. 40 Figura 9. Esquema ilustrativo do método de microdluição para determinação da MIC. Fonte: SANTOS, 2013. A atividade antimicrobiana da saponina do juá foi testada para os micro- organismos listados no Quadro 2, gentilmente cedidos pela Coleção de Microrganismos de Referência em Vigilância Sanitária-CMRVS, FIOCRUZ- INCQS, Rio de Janeiro, RJ. Através do método descrito, é possível determinar a concentração inibitória mínima (CIM), ou seja, a menor concentração de saponina capaz de inibir o crescimento microbiano. A CIM é determinada visualmente, 24 horas após a incubação da placa de 96 poços, pela turvação e/ou adição de corante resazurina (0,005% em tampão fosfato-salino pH 7.2). Quadro 2: Micro-organismos utilizados na determinação de atividade antimicrobiana. Bactérias Gram negativas Salmonella choleraesuis (ATCC 10708) Escherichia coli (ATCC 8739) Pseudomonas aeruginosa (ATCC 9027) Gram positivas Staphylococcus aureus (ATCC 6538) Bacillus subtilis (ATCC 6633) Levedura Candida albicans (ATCC 10231) 4.2.6.1. Cultivo e Preparo do Inóculo Existem diferenças no método para cada tipo de micro-organismo, não só em razão dos diferentes tempos e temperaturas ótimos de crescimento, mas 41 também em relação ao preparo do inóculo a ser utilizado. Esta etapa apresenta singularidades quando se trata de bactérias, leveduras ou fungos, no que concerne à determinação da turbidez padrão da suspensão e à seguinte diluição da mesma. No caso de bactérias, o inóculo é preparado a partir de uma subcultura (repique) de 24 horas, incubada à 35 ± 2 ºC em ágar BHI. Com auxílio de uma alça microbiológica esterilizada, suspende-se uma quantidade de células em água destilada estéril. A densidade celular dessa suspensão deve ser ajustada por espectrofotômetro, a fim de obter-se turbidez equivalente a de uma solução-padrão da escala de McFarland igual a 0,5. A absorbância dessa solução deve variar entre 0,08 e 0,10, à 625nm. Essa suspensão padronizada apresenta concentração de células bacterianas de aproximadamente 1x108 UFC/mL. A fim de se obter uma concentração final, no poço, de 5x105 UFC/mL, a suspensão padronizada é diluída 1:20 em meio Müller-Hinton e, finalmente, adiciona-se10µL dessa suspensão diluída a cada poço que contém 100µL de meio já com o agente antimicrobiano. No caso da levedura (C. albicans), o inóculo foi preprarado a partir de subcultura de 24h incubada à 35ºC em ágar Sabouraud-dextrose. Foi feita a suspensão de células em água, da mesma forma descrita aneriormente, porém a leitura da turbidez para fungos e leveduras é feita a 530nm. Dilui-se a suspensão-padrão 1000 vezes (para leveduras) e, finalmente, adicionam-se 100µL de inóculo a cada poço (contendo 100µL de meio já com a substância teste), de forma que a concentrção final de células seja de aproximadamente 5x102 a 2,5x103 UFC/mL. 42 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. EXTRAÇÃO E HIDRÓLISE TOTAL DAS SAPONINAS 5.1.1. Obtenção do Extrato Rico em Saponinas A extração, realizada a partir do caule do juá, produziu um extrato liofilizado rico em saponinas: um sólido de cor amarela-clara, com rendimento próximo ao descrito na literatura, em torno de 2% em massa. Esse foi o produto de partida para o estudo descrito neste trabalho. 5.1.2. Hidrólise Total das Saponinas A Figura 10 mostra a curva-padrão de glicose (0 a 10µmol/mL) para o método DNS, utilizada na determinação da concentração de açúcares redutores das amostras. A absorbância foi lida à 540nm em espectrofotômetro Shimadzu modelo UV-1800. Figura 10. Curva-padrão de calibração do método DNS. Fonte: Elaboração própria. Através da curva-padrão foi possível determinar a concentração total de açúcares redutores, em equivalentes de glicose, no meio reacional, após y = 0,1354x - 0,0586 R² = 0,9938 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 A b s Concentração de glicose (µmol/mL) Curva-padrão DNS 43 hidrólise com ácido clorídrico 4N, por 48 horas à temperatura ambiente. A hidrólise ácida deveria ser capaz de quebrar todas as ligações glicosídicas, liberando a aglicona e os monossacarídeos presentes na molécula. Quando hidrolizou-se a solução de saponina na concentração de 0,1% (1g/1000mL), obteve-se, ao final da reação, uma concentração de açúcares redutores igual a 2,55 µmol/mL em equivalentes de glicose. Quando a solução de saponina na concentração de 1% (10g/1000mL) foi hidrolizada, obteve-se uma concentração final de 14,08 µmol/mL, ou seja, 1,41 µmol/mL. g. Esperava-se que a concentração final de açúcares redutores, partindo- se da solução de saponina 1%, fosse aproximadamente 10 vezes maior que aquela obtida para a saponina 0,1%. Entretanto, pela estequiometria da reação e levando-se em consideração as diversas estruturas de saponinas possivelmente presentes no juá, conclui-se que os dois valores de concentração obtidos encontram-se na faixa esperada. Se considerarmos a estrutura da saponina 3, um jujubogosídeo com duas sulfatações, de massa igual a 1055 g/mol e que possui 3 moléculas de açúcar por esqueleto, tem-se que a hidrólise dessa saponina geraria 2,84 µmol/mL.g de açúcares redutores (3 vezes a concentração de saponina, em µmols). Já a saponina 4, o joazeirosídeo A, que possui massa igual a 666 g/mol e apenas uma glicose ligada ao esqueleto, produziria uma concentração final de açúcares redutores igual a 1,5 µmol/mL.g. Apesar dos valores obtidos na prática estarem bem próximos a esses valores teóricos, não se pode afirmar se a hidrólise foi total, devido à diversidade estrutural das saponinas no juá e à falta de conhecimento das proporções de cada tipo de estrutura. Entretanto, os valores obtidos foram utilizados apenas como uma forma de comparação, a fim de balizarem os resultados das hidrólises enzimáticas, os quais não devem ultrapassar, em termos de concentração final de açúcares, o resultado da hidrólise ácida. 5.2. MODIFICAÇÃO ENZIMÁTICA DAS SAPONINAS As reações enzimáticas foram realizadas nas condições pré-definidas: temperatura igual a 50˚C, rotação de 200 rpm, concentração de saponina igual a 1% e enzima a 5% (v/v). O pH=5 foi selecionado como ótimo para a atividade 44 das enzimas, após as reações serem testadas em quatro diferentes pHs, mantendo-se constantes as demais variáveis, como mostra a Tabela 1. Tabela 1: Concentração final (em µmols equivalentes em glicose/mL) de açúcares redutores no meioapós hidrólise enzimática (*). Enzima pH=3 pH=4 pH=5 pH=6 Celluclast 1.5L 3,18 d ± 0,30 4,84 a,b,c ± 0,51 6,10 a ± 0,63 5,04 a,b ± 0,43 Ultrazym AFPL 4,37 b,c ± 0,28 4,37 b,c ± 0,22 4,74 b,c ± 0,27 3,69 c,d ± 0,21 Viscozyme L 4,56 b,c ± 0,02 4,72 b,c ± 0,17 5,25 a,b ± 0,15 4,77 b,c ± 0,15 *Valores representam a média da triplicata, acrescida do desvio-padrão. Letras iguais representam ausência de diferença estatística, a um nível de 5% de significância, segundo o teste de Tukey. Os resultados da Tabela 1 mostram que, para a enzima Celluclast, o pH igual a 3 foi o que menos favoreceu a reação. O pH não influenciou significativamente as reações catalisadas pelas enzimas Ultrazym e Viscozyme, mas o pH=5 foi considerado como ótimo para a Celluclast. Desta forma, selecionou-se o pH igual a 5 para todas as reações enzimáticas para obtenção de saponinas modificadas. Observa-se, também, que a enzima Celluclast (pH=5) obteve a maior concentração final em açúcares redutores dentre as enzimas utilizadas. Em relação à hidrólise ácida da saponina na concentração de 1%, as enzimas Celluclast 1.5L, Ultrazym AFPL e Viscozyme L apresentaram percentuais de hidrólise iguais a 43, 34 e 37%, respecivamente, em um tempo de reação igual a 24 horas. Esse intervalo de tempo foi adotado como tempo mínimo de reação para a produção propriamente dita das saponinas modificadas. O ponto final de reação foi determinado, observando-se a variação da concentração de açúcares no meio reacional, por DNS. 5.3. CARACTERIZAÇÃO DAS SAPONINAS A cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) é uma das técnicas mais indicadas na determinação de saponinas, entretanto a detecção por UV se limita aos comprimentos de onda entre 200 e 210 nm e necessita da utilização de padrões (Oleszek, 2002). A espectrometria de massas, acoplada 45 a HPLC, apresenta-se como mais uma ferramenta na elucidação de estruturas dos compostos analisados. Na espectrometria de massas, ocorre a ionização dos compostos, e os íons gerados são agrupados de acordo com sua razão massa/carga (m/z), na forma de um espectro que indica a abundância de cada íon formado, de acordo com essa razão. Durante a ionização por electrospray (ESI), pode ocorrer a formação de íons moleculares (pela perda ou ganho de elétrons), pseudo- moleculares (pela protonação ou desprotonação da molécula) ou moléculas cationizadas/anionizadas através de coordenação com íons metálicos (Na+, K+) ou cloreto (Crotti et al., 2006). O espectro UV das amostras no comprimento selecionado (203 nm) é mostrado na Figura 11. Foram analisadas amostras liofilizadas da saponina do juá não-modificada (curva azul), saponina modificada pelas enzimas Celluclast (curva vermelha), Ultrazym (curva verde) e Viscozyme (curvas rosa e bege). Figura 11. Cromatograma das amostras de saponinas a 203 nm. Através do cromatrograma da Figura 11, nota-se que as saponinas não- modificadas e as modificadas pelas enzimas Celluclast e Ultrazym apresentam cromatogramas muito semelhantes, enquanto as amostras modificadas pela enzima Viscozyme praticamente não apresentaram picos no comprimento de onda selecionado. min0 10 20 30 40 50 mAU 0 20 40 60 80 *DAD1 A, Sig=203,2 Ref=300,100 (SAPONINAS_1609\SAPONINAS 080916 2016-09-08 10-33-54\091-0103.D - SAPONINAS_1609\SAPONIN *DAD1 A, Sig=203,2 Ref=300,100 (SAPONINAS_1609\SAPONINAS 080916 2016-09-08 10-33-54\092-0202.D - SAPONINAS_1609\SAPONIN *DAD1 A, Sig=203,2 Ref=300,100 (SAPONINAS_1609\SAPONINAS 080916 2016-09-08 10-33-54\093-0302.D - SAPONINAS_1609\SAPONIN *DAD1 A, Sig=203,2 Ref=300,100 (SAPONINAS_1609\SAPONINAS 080916 2016-09-08 10-33-54\094-0402.D - SAPONINAS_1609\SAPONIN *DAD1 A, Sig=203,2 Ref=300,100 (SAPONINAS_1609\SAPONINAS 080916 2016-09-08 10-33-54\096-0602.D - SAPONINAS_1609\SAPONIN 46 Apesar de não ter havido diferença em termos dos tempos de retenção, é possível perceber que alguns picos sofreram mudança de intensidade após a reação enzimática. A saponina modificada por Celluclast apresentou picos ligeiramente mais intensos nos tempos 28-29 e 33 minutos. Já no tempo de retenção igual a 39 minutos, a saponina não-modificada apresenta um pico ligeiramente mais intenso, indicando a possibilidade da reação ter modificado a substância em questão. Entre 40 e 44 minutos, a saponina modificada com a enzima Celluclast apresenta picos de maior intensidade que as demais, como se observa na Figura 12. Figura 12. Cromatograma em escala aumentada, do tempo 30 a 48 minutos. Analisaram-se, então, nos modos positivo e negativo, os espectros de massas dos picos que apresentaram tais variações de intensidade, bem como daqueles que, apesar de não apresentarem mudança de intensidade entre as três amostras, foram os mais significativos para todas elas (picos com tempos de retenção 17, 20 e 24,5 minutos). Os dados das razões m/z das saponinas da literatura e das suas respectivas agliconas encontram-se no Quadro 3. min30 32 34 36 38 40 42 44 46 mAU -5 0 5 10 15 20 25 30 35 *DAD1 A, Sig=203,2 Ref=300,100 (SAPONINAS_1609\SAPONINAS 080916 2016-09-08 10-33-54\091-0103.D - SAPONINAS_1609\SAPONIN *DAD1 A, Sig=203,2 Ref=300,100 (SAPONINAS_1609\SAPONINAS 080916 2016-09-08 10-33-54\092-0202.D - SAPONINAS_1609\SAPONIN *DAD1 A, Sig=203,2 Ref=300,100 (SAPONINAS_1609\SAPONINAS 080916 2016-09-08 10-33-54\093-0302.D - SAPONINAS_1609\SAPONIN *DAD1 A, Sig=203,2 Ref=300,100 (SAPONINAS_1609\SAPONINAS 080916 2016-09-08 10-33-54\094-0402.D - SAPONINAS_1609\SAPONIN *DAD1 A, Sig=203,2 Ref=300,100 (SAPONINAS_1609\SAPONINAS 080916 2016-09-08 10-33-54\096-0602.D - SAPONINAS_1609\SAPONIN 47 Quadro 3. Dados de m/z de saponinas de jua Saponina Denominação m/z (saponina) m/z (aglicona) Referência 1 Jujubogenina 3-O-α-L-arabinofuranosil- (12)-[β-D-glicopiranosil (13)]-α- arabinopiranosídeo 897 472 Higuchi et al., 1984; Schühly et al., 2000 2 Jujubogenina 3-O-α-L-arabinofuranosil- (12)-[β-D-glicopiranosil-4-O-sulfato (13)]-α-arabinopiranosídeo 977 472 Higuchi et al., 1984 3 Jujubogenina 3-O-α-L-arabinofuranosil- (12)-[β-D-glicopiranosil-4-O-sulfato (13)]-α-arabinopiranosídeo-3-O-sulfato 1055 472 Higuchi et al., 1984 4 Joazeirozídeo A 666 504 Schühly et al., 2000 5 Joazeirozídeo B 1092 504 Schühly et al., 2000 6 Lotosídeo A 1078 487 Schühly et al., 2000 Os picos de tempos de retenção 17 e 20 minutos possuem intensidades bem próximas para as três amostras. O espectro de massas (Figuras 13) mostra a presença de um pico de razão m/z 1078, que pode representar a saponina 6 (Schühly et al., 2000), no tempo de retenção de 17 minutos. Os íons de m/z maiores podem indicar a presença de outra saponina (desconhecida) com mesmo tempo de retenção. Figura 13. Espectro de massa do pico de tr=17,117 no modo negativo. m/z200 400 600 800 1000 1200 1400 0 20 40 60 80 100 *MSD2 SPC, time=17.175 of C:\CHEM32\1\DATA\SAPONINAS_1609\SAPONINAS 080916 2016-09-08 10-33-54\091-0103.D ES-API, Ne Max: 568299 1 08 0. 4 1 14 0. 4 1 19 1. 4 1 11 3. 4 1 07 8. 4 1 07 7. 4 48 N tr igual a 20 minutos (Figura 14), o pico de m/z 1092 pode representar a saponina 5 (Schühly et al., 2000), enquanto os demais podem representar saponinas maiores até então desconhecidas. Nota-se que, tanto no pico de tr igual a 17 minutos como no de 20 minutos, a diferença entre o íon de maior m/z e o pico de massa correspondente à da saponina da literatura (1078 e 1092, respectivamente) é igual a 113. Daí pode surgir a hipótese de que estes picos poderiam conter também saponinas com estruturas semelhantes às das saponinas 5 e 6, com um grupamento a mais. Figura 14. Espectro de massas do pico de tr=20,496 no modo negativo. Para o tempo de retenção de 24,5 minutos, no modo negativo (Figura 15), o pico m/z 977,2 pode representar
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