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Farmacognosia: do produto natural ao medicamento [recurso
eletrônico] / Organizadores, Cláudia Maria Oliveira
Simões... [et al.]. – Porto Alegre: Artmed, 2017.
e-PUB
Saponinas ( cap19)
Propriedades gerais
As saponinas em solução aquosa formam espuma persistente e abundante. Essa atividade provém, como nos outros
detergentes, do fato de apresentarem na sua estrutura, como já referido, uma parte lipofílica, denominada aglicona ou
sapogenina, e uma parte hidrofílica, constituída por um ou mais açúcares. O número de unidades de açúcar pode
chegar a 12, o que se definiria como uma saponina oligosídica. A espuma formada é estável devido à ação de ácidos
minerais diluídos, diferenciando-a daquela dos sabões comuns. Outras propriedades físico-químicas e biológicas
encontradas, mas nem sempre presentes em todas as saponinas, são:
● Elevada solubilidade em água e em solventes polares: água com metanol ou etanol e insolúveis em
solventes de baixa polaridade como éter, clorofórmio ou éter de petróleo.
● Ação sobre membranas: muitas saponinas são capazes de causar desorganização das membranas das
células sanguíneas (ação hemolítica) ou das células das brânquias em peixes (ação ictiotóxica);
● Complexação com esteroides: ação antifúngica e hipocolesterolemiante.
Saponinas esteróides neutras
Nas saponinas esteróides, a aglicona é formada por um esqueleto de 27 carbonos dispostos em um sistema tetracíclico.
Biogeneticamente, formam-se via pirofosfato de isopentenila, originando o óxido de esqualeno, que cicliza em uma
conformação cadeira-barco-cadeira-barco formando o cicloartenol (em algas e plantas verdes) ou o lanosterol (em
fungos e organismos não fotossintéticos) após vários rearranjos do tipo 1,2. Nessa rota biogenética, o derivado
cicloarteno, depois da clivagem oxidativa de três metilas, forma, entre outros, os esteroides e os cardenolídeos
As saponinas esteroides apresentam duas estruturas básicas comuns: o espirostano (16,22:22,26-diepóxi-colestano)
e o furostano (16,22-epóxi-colestano). O espirostano é o cetal de 16,26-di-hidróxi-22-colestanona, ao passo que o
hemiacetal correspondente, furostano-22,26-diol, é estável apenas quando o grupo hidroxila em C-26 está ligado a um
açúcar. Quando este é cindido, ocorre espontaneamente a cetalização formando o derivado espirostano
As saponinas do tipo espirostano possuem núcleo espirocetal em C-22 e podem ser divididas nas séries 25 R
(metila em posição α; série normal) ou 25 S (metila em posição β; série iso). As saponinas de núcleo furostano
apresentam cadeia lateral com um açúcar ligado à hidroxila em C-26. Esse núcleo é menos frequente e, por hidrólise,
transforma-se no núcleo espirostano por meio do fechamento do anel.
Em relação à conformação espacial, a fusão dos anéis A e B pode ser cis (H-5 em posição β, como na
esmilagenina) ou trans (H-5 em posição α, como na digitogenina). Já a fusão dos anéis B/C e C/D é trans, enquanto os
anéis D/E têm junção cis (
Saponinas esteroides básicas
As saponinas de caráter básico pertencem ao grupo dos alcaloides esteroides, que são característicos do gênero
Solanum (família Solanaceae). Possuem nitrogênio no anel F e são conhecidos dois tipos de estruturas: espirossolano
(quando o nitrogênio é secundário) e solanidano (quando o nitrogênio é terciário).
Os compostos com núcleo espirossolano podem existir nas configurações 22 R,25 R (p. ex., solasodina, encontrada
na batata-inglesa) ou 22 S,25 S (p. ex., tomatidina, encontrada no tomate)
Nos compostos com núcleo solanidano, o nitrogênio pertence aos dois anéis E e F, simultaneamente, sendo
também conhecidos como indolizidinas. Os solanidanos têm a configuração 22 R,25 S, estando a metila do
carbono 25 em posição equatorial
.
Vários substituintes, em geral hidroxilas, caracterizam os diversos compostos desses dois grupos de esteroides. Os
açúcares estão geralmente ligados na hidroxila em C-3, sendo que, naquelas de tipo furostano, também encontram-se
açúcares em C-26. Às vezes, há ligação dupla entre os carbonos 5 e 6.
Saponinas triterpênicas
As saponinas mais frequentemente encontradas na natureza possuem 30 átomos de carbonos e núcleo triterpênico.
Esse núcleo tem a mesma origem do esqueleto esteroide até a formação do óxido de esqualeno. No entanto, este
último, ao ciclizar em uma conformação cadeira-cadeira-cadeira-barco – e de acordo com dois tipos de rearranjos –,
pode originar os triterpenos tetracíclicos e os triterpenos pentacíclicos.
Substituintes no núcleo básico, como hidroxilas, carboxilas e metoxilas, diferenciam os compostos identificados
nesse grupo. Os açúcares estão geralmente ligados na hidroxila em C-3 (como ligação éter) ou na carboxila em C-28
(como ligação éster). Quando ocorre ligação dupla, ela é, em geral, entre C-12 e C-13, nos grupos de oleananos, de
ursanos e do lupeol. Outros tipos de núcleos mais raramente encontrados incluem: friedelano, taraxastano e hopano.
Dentre as saponinas tetracíclicas incluem-se aquelas com núcleo damarano, encontradas em Panax ginseng
C.A.Mey. e de distribuição mais restrita.
Detecção, identificação e obtenção
Detecção no vegetal
O teste de ação superficial é realizado com o extrato aquoso obtido a partir do decocto do vegetal. Após agitação
enérgica do extrato filtrado em tubo de ensaio, a formação de espuma, que não desaparece com a adição de um ácido
mineral diluído, indica a presença de saponinas.
A ação hemolítica pode ser determinada tanto em tubo de ensaio contendo uma solução tamponada de células
sanguíneas quanto em placa cromatográfica, após migração dos diferentes extratos vegetais em teste. No primeiro
caso, a presença de solução avermelhada, após centrifugação, caracteriza a liberação de hemoglobina das células. N
O perfil cromatográfico das saponinas, estabelecido por CCD ou cromatografia a líquido de alta eficiência (CLAE)
e cromatografia a líquido de ultraeficiência (CLUE), pode ser utilizado como um método de identificação de drogas
ou extratos vegetais. Com o mesmo objetivo, mais recentemente, tem sido utilizado o acoplamento de técnicas, como
cromatografia a líquido e espectrometria de massas; ver, por exemplo, a análise de saponinas na erva-mate4 e a análise
de saponinas em espécies de quillaja.5
Métodos de extração e purificação
Sendo glicosídeos, portanto, substâncias polares, as saponinas são geralmente solúveis em água e pouco solúveis em
solventes apolares. O extrato aquoso apresenta como vantagem, além do custo menor, a ausência de lipídeos e
clorofila. No entanto, como desvantagens devem ser consideradas as possibilidades de contaminação microbiana
(favorecida pela presença de açúcares em meio aquoso), hidrólise (durante o processo extrativo, ou termólise, no caso
de extração a quente), bem como a baixa estabilidade desses extratos.
Por essas razões, de modo geral, são utilizados álcoois, etanol ou metanol, ou misturas hidroalcoólicas para a
extração, por meio de maceração, decocção, percolação ou extração exaustiva sob refluxo. Frequentemente, o extrato
hidroalcoólico assim obtido é submetido à purificação, após eliminação do conteúdo alcoólico, por meio da partição
com solventes de baixa polaridade (diclorometano ou clorofórmio) para a retirada de compostos apolares, seguida da
partição com n-butanol para a eliminação de açúcares livres, aminoácidos e ácidos orgânicos, entre outras substâncias
hidrofílicas que ficam na fase aquosa, obtendo-se uma fração purificada de saponinas na fase butanólica.
Tradicionalmente, também tem sido usada como técnica de purificação a precipitação fracionada pela adição do
extrato concentrado de saponinas a solventes de menor polaridade, como éter etílico ou acetona, provocando sua
precipitação por redução da solubilidade.
Outros métodos de purificação incluem a complexação com colesterol, a diálise, a cromatografia de troca iônica ou
a extração seletiva utilizando a formação de sal, quando na presença de saponinas de reação ácida, bem como os
métodos cromatográficos, utilizando resinas sintéticas (Amberlite), gel desílica ou géis de exclusão molecular, tipo
Sephadex.6
Devido à crescente demanda por saponinas, estimulada principalmente pela sua importância nas indústrias
farmacêuticas e de cosmética, algumas alternativas de extrações mais eficientes e seletivas, com menor volume de
solvente e tempo de extração, assim como processos menos agressivas ao meio ambiente, têm sido desenvolvidos. As
técnicas de extração convencionais, como a maceração, Soxhlet e refluxo, apesar de ainda serem usadas, tendem a ser
substituídas pelas técnicas auxiliadas por ultrassom, micro-ondas, extração acelerada com solvente e, também, pelo
emprego de fluidos supercríticos.
Como exemplo, a extração acelerada por solvente, usando um sistema de água quente sob pressão, resultou em um
maior rendimento de ginsenosídeos (11,2 mg/g) em comparação com o método auxiliado por ultrassom (7,2 mg/g) de
saponinas de Panax quinquefolius L. A extração com líquido pressurizado (acelerada por solvente) mostra vantagens
sobre outros métodos, com melhores rendimentos de saponinas (7,36%) de P. notoginseng (Burkill) F.H.Chen em
relação à extração com ultrassom (5,77%) e extrações convencionais mediante Soxhlet (6,99%) e por maceração
(6,00%). Uma revisão sobre as três primeiras pode ser consultada no trabalho de Cheok e colaboradores.7
O uso de tecnologias menos agressivas ao meio ambiente para a extração de saponinas também pode ser alcançado
pela extração com fluidos supercríticos, que apresenta vantagens em função de sua extração seletiva. Algumas
publicações descrevem a extração de ginsenosídeos do ginseng, saponinas de Bupleurum chinense (DC.) Franch., do
ácido glicirrético do alcaçuz, mediante o uso de CO2 em condições supercríticas, assim como o uso de cossolventes
polares como metanol, etanol e água, em diferentes condições de pressão e temperatura.8,9
Isolamento e análise
De modo geral, as saponinas ocorrem na forma de misturas complexas, com variações quanto ao número de açúcares
presentes para uma aglicona específica e/ou abrangendo variações quanto às agliconas e aos açúcares presentes, o que
torna o seu isolamento um processo bastante trabalhoso. Assim, são utilizados diversos tipos de processos
cromatográficos e, em não se obtendo substâncias suficientemente puras para a análise estrutural, são também
empregados métodos de derivatização, como acetilação, metilação e benzoilação. As saponinas isoladas são, então,
caracterizadas, após hidrólise, por análises cromatográficas e espectroscópicas.
Eventualmente, é usada a hidrólise do extrato bruto, que é realizada sem o processo moroso de isolamento dos
constituintes individuais, o que permite caracterizar as agliconas e açúcares presentes. Dependendo dos objetivos, essa
hidrólise, junto com a análise cromatográfica, pode ser suficiente para a caracterização de uma droga ou extrato
vegetal. De acordo com o tipo de saponinas presentes, a hidrólise pode ser enzimática, em meio ácido ou alcalino, ou
mesmo por hidrotermólise. Para uma abordagem mais detalhada dos processos de hidrólise e possíveis reações de
degradação, ver Hostettmann e Marston.6
Para a elucidação estrutural, é imprescindível a utilização de métodos espectroscópicos, incluindo a espectrometria
de massas, a espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) e as respectivas técnicas bidimensionais. A
presença de múltiplas unidades de açúcares aumenta a complexidade da caracterização estrutural das saponinas em um
espectro de RMN de hidrogênio, já que possuem sinais com elevada similaridade, gerando sobreposições dos mesmos
e dificultando sua correta determinação. O uso de técnicas bidimensionais é necessário, como a de correlação a longa
distância (HMBC), que permite definir os pontos de glicosilação, e com auxílio da espectroscopia de correlação total
(TOCSY), cuja vantagem é determinar com precisão os acoplamentos entre os hidrogênios de uma mesma unidade de
açúcar, o que facilita a definição correta da sua estereoquímica e de sua identidade.
Para a espectrometria de massas, são necessários métodos especiais que abranjam o âmbito de massas elevadas, em
geral presentes nas saponinas. Atualmente, as principais fontes de ionização para análise de saponinas são a ionização
de dessorção laser auxiliada por matriz (MALDI) e a ionização por electrospray (ESI), sendo esta última a de eleição
por poder acoplar-se a sistemas de cromatografia a líquido, melhorando consideravelmente o potencial analítico de
ambos. As ligações interglicosídicas eram determinadas sobretudo via análise de RMN, porém mais recentemente
foram desenvolvidas técnicas refinadas de derivatização para a obtenção de produtos per-O-metilados e acetatos de
alditóis O-metilados, os quais, em conjunto com os derivados isopropilidênicos, permitem definir a posição
inequívoca de açúcares na estrutura de uma saponina (ver, por exemplo, Souza e colaboradores).4
Métodos de análise quantitativa
As determinações baseadas nas propriedades clássicas das saponinas (complexação com colesterol, atividade
hemolítica e atividade ictiotóxica) têm sido substituídas nas últimas décadas pela cromatografia a líquido de alta
eficiência (CLAE).10,11 Métodos espectrofotométricos são bastante sensíveis, porém não são adequados para a
quantificação de saponinas em extratos brutos, pois as reações não são específicas e outros produtos coloridos podem
se formar a partir da reação com compostos como fitosteróis e flavonoides. Entre os problemas mais frequentemente
encontrados em trabalhos analíticos envolvendo saponinas estão a extração incompleta do material vegetal e a
dificuldade de obtenção de uma fração livre de compostos interferentes para a sua quantificação.
O grande destaque dado à CLAE decorre da rapidez da análise, sensibilidade e adaptabilidade a compostos polares
não voláteis. As vantagens do uso da CLAE sobre outros métodos de quantificação existentes parecem ser bastante
apreciáveis, pois essa técnica cromatográfica possibilita a determinação individual de saponinas em mistura,
delineando a possibilidade da detecção de adulterantes.
A maior dificuldade, entretanto, quando é utilizada a detecção de saponinas por ultravioleta, é a necessidade de
realizá-la em baixos comprimentos de onda (203 a 210 nm), o que conduz a problemas de linha de base instável e
interferência dos eluentes na análise. Entretanto, a detecção na região de 203 a 210 nm é possível com o uso de
solventes adequados e com alto grau de pureza. Essas dificuldades podem, também, ser contornadas com o uso de
outros tipos de detectores, como por índice de refração (IR), por espectrometria de massas (EM) e por espalhamento
de luz evaporativo (ELSD – evaporative light scattering detection) (ver revisão de Negi e colaboradores),11 ou por
meio da derivatização das saponinas, o que permite a detecção em comprimentos de onda mais elevados (p. ex., 254
nm para os derivados 4-bromofenacila. Um grande número de trabalhos tem sido descrito na literatura cujo objetivo é
a quantificação de saponinas triterpênicas por CLAE, conforme já referido no item Detecção no vegetal. Uma variante
da CLAE, a cromatografia a líquido de ultraeficiência (CLUE) tem sido amplamente empregada na quantificação de
saponinas, devido às vantagens de um menor tempo de corrida, menor quantidade de solvente e uma melhor resolução
de análise, já que se empregam fases estacionárias com um menor tamanho de partícula.
Propriedades biológicas
O comportamento anfifílico das saponinas e a capacidade de formar complexos com esteroides, proteínas e
fosfolipídeos de membranas determinam um número variado de propriedades biológicas para essas substâncias,
destacando-se a ação sobre membranas celulares, alterando a sua permeabilidade ou causando sua destruição.
Relacionadas com essa ação sobre membranas, estão as atividades hemolítica, ictiotóxica e molusquicida,
frequentemente observadas.
A complexação com colesterol, propriedade também frequentemente observada, originou um número significativo
de trabalhos objetivando avaliar o uso de saponinasna dieta para reduzir os níveis de colesterol sérico.
O mecanismo da ação hipocolesterolemiante poderia ser explicado pelo aumento da excreção do colesterol, pela
formação de complexo com as saponinas administradas por via oral, ou, ainda, pelo aumento da eliminação fecal de
ácidos biliares, conduzindo a uma utilização maior do colesterol para a síntese dessas substâncias. Outra proposta de
mecanismo leva em consideração também as propriedades irritantes das saponinas. Com a formação de complexos
entre as saponinas e o colesterol das membranas das células da mucosa intestinal, ocorreria uma esfoliação, com perda
de função e redução da área de absorção.
A atividade anti-inflamatória dessa classe de substâncias é conhecida há muito tempo, tendo sido descrita
inicialmente para as saponinas de Aesculus hippocastanum L. (castanheira-da-índia) e de Glycyrrhiza glabra L.
(alcaçuz) . Para um grande número de plantas contendo saponinas, foram relatadas atividades antiedematogênica e
anti-inflamatória a partir de diferentes modelos que exploram a ação antiexsudativa e interferência na permeabilidade
vascular da inibição de enzimas lisossomais como a elastase e a hialuronidase (responsável pela degradação do ácido
hialurônico, principal substância do tecido conjuntivo que envolve os vasos). Outro modo de ação anti-inflamatória
das saponinas seria a estimulação da liberação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e do aumento da secreção
associada com a biossíntese de glicocorticoides no córtex adrenal, ou ainda a inibição de enzimas responsáveis pela
degradação de cortisol no fígado, como no caso do ácido glicirrético.
Hoje, existe um interesse renovado em plantas que são parte da dieta para a prevenção e o tratamento de tumores.
Por exemplo, a platycodina D, uma saponina triterpênica e um dos principais componentes das raízes de Platycodon
grandiflorus (Jacq.) A.DC., tem sido extensamente estudada, já que mostrou-se ativa no combate a diferentes tipos de
tumores por meio de indução apoptótica, detenção do ciclo celular, autofagia e inibição da angiogênese, assim como
do processo de invasão e de metástase, com múltiplos alvos de diferentes vias de sinalização que são frequentemente
desreguladas nessa patologia.13
É importante ressaltar que muitas das propriedades recém-apontadas foram detectadas em testes in vitro ou em
modelos animais, de modo que, para propiciar o desenvolvimento de aplicações terapêuticas, na maioria dos casos, é
indispensável a avaliação de aspectos farmacocinéticos relativos à absorção, metabolização e eliminação (em muitos
ensaios, a avaliação preliminar foi realizada por via i.p.), bem como ensaios pré-clínicos quanto à toxicidade e ensaios
clínicos em todas suas fases.
Emprego farmacêutico
As saponinas são componentes importantes para a ação de muitas drogas vegetais, destacando-se aquelas
tradicionalmente utilizadas como expectorantes e diuréticas. Exemplos de drogas de uso tradicional como
expectorantes são: Polygala senega L. (polígala), Primula veris L. (prímula), Grindelia robusta Nutt. (grindélia),
Glycyrrhiza glabra L. (alcaçuz); e como diuréticas, Hedera helix L. (hera), Smilax spp. (salsaparrilha), Herniaria
glabra L. (herniária), Betula pendula Roth (vidoeiro-branco) e Equisetum arvense L. (cavalinha). No entanto, os
mecanismos dessas atividades não estão completamente elucidados, e os estudos relacionados aos aspectos
farmacocinéticos são ainda insuficientes.
Nesse contexto, são poucas as saponinas utilizadas como compostos isolados, destacando-se a glicirrizina, que não
apresenta atividade hemolítica, e o seu derivado hemi-succinato sódico do ácido glicirrético, conhecido como
carbenoxolona, o asiaticosídeo, obtido de Centella asiatica (L.) Urb. e a fração de saponina obtida de Quillaja
saponaria Molina, QS-21, como adjuvante em vacinas.
Por outro lado, as saponinas encontram uso crescente na indústria de cosméticos, como tensoativos naturais (p. ex.,
em produtos de higiene para crianças, loções, xampus e alimentos). Outros empregos farmacêuticos destacados são
como adjuvantes para aumentar a absorção de outros medicamentos mediante aumento da solubilidade ou
interferência nos mecanismos de absorção e como adjuvante para aumentar a resposta imunológica (ver adiante, em
Quillaja saponaria).
Como drogas vegetais mais importantes foram selecionadas alcaçuz, centela, ginseng e quilaia, considerando a
amplitude do seu emprego farmacêutico e sua presença em farmacopeias de uso geral. Além dessas, outras plantas
poderiam ser abordadas, levando-se em conta o elevado teor de saponinas e o potencial emprego farmacêutico. É o
caso de Quillaja brasiliensis (A.St.-Hil. & Tul.) Mart., uma árvore nativa da Região Sul do Brasil (abordada no item
Quilaia), e também da erva-mate – Ilex paraguariensis A.St.-Hil. (Aquifoliaceae). A erva-mate é abordada no
Capítulo 26, Metilxantinas, em vista do elevado teor de cafeína e teobromina, mas também destaca-se pelo elevado
teor de saponinas nas suas folhas e frutos, as quais são determinantes do sabor amargo do chimarrão e de outras
bebidas derivadas. A presença de saponinas na erva-mate tem sido associada à inibição da aterosclerose e redução das
concentrações séricas de triglicerídeos e de colesterol, mostrando efeitos hipolipidêmicos.14 Também decorre da
presença de saponinas a utilização de seus extratos em produtos como sabões e xampus, alimentos e bebidas.
Drogas vegetais mais importantes
Alcaçuz
tratamento de doenças alérgicas, distúrbios inflamatórios e úlceras gástricas. O termo glicirriza tem origem grega e
significa raiz doce. O alcaçuz já era usado pelos gregos como edulcorante em bebidas, como expectorante e para o
tratamento de úlceras. Tem emprego na atualidade como modificador de sabor em produtos alimentícios. O sabor doce
deve-se à presença de saponinas com essa característica organoléptica. É importante destacar a comercialização no
Brasil da espécie Periandra mediterranea (Vell.) Taub. (= P. dulcis Benth.), da mesma família, denominada
alcaçuz-brasileiro, que de fato nada tem a ver com o alcaçuz em termos de composição química e atividades
comprovadas. No entanto, as utilizações preconizadas na medicina popular são semelhantes, e as suas raízes também
apresentam sabor doce e teor elevado de saponinas.16
Centela
A centela é uma planta cosmopolita que tem uso tradicional, principalmente em países da Ásia, no tratamento de
feridas e lesões cutâneas diversas; na medicina Ayurveda, é usada para tratar disenteria, cólica, diarreia, dor abdominal
e indigestão. No Brasil, ocorre nas Regiões Sul e Sudeste, sendo popularmente conhecida também como centelha,
centela-da-ásia, pata-de-burro, entre outros nomes.
Ginseng
O ginseng, planta estimulante, reconstituinte, geradora de vitalidade, conhecido como elixir da longa vida. A palavra
panax significa panaceia. As raízes secas, das quais a periderme é retirada, são chamadas de ginseng-branco, enquanto
o ginseng-vermelho é obtido pela exposição das raízes ao vapor de água, com posterior secagem, sem retirada da
periderme. Esse procedimento altera a cor do produto para marrom-avermelhado.
.
No mercado brasileiro estão presentes dezenas de especialidades farmacêuticas com indicação para aumentar a
resistência natural do organismo ao estresse e a infecções, bem como para reduzir a fadiga, muitas das quais contendo
extratos de ginseng.em especial a atividade sobre o sistema imunológico, o sistema nervoso central e o metabolismo,
como a síntese proteica e de RNA e DNA.
Quilaia
O nome é derivado da palavra chilena quillean, que significa para lavar, pois suas cascas produzem espuma abundante
quando agitadas na água. As saponinas atualmente industrializadas provêm das raízes de diferentes espécies europeias
do gênero Gypsophylla ou das cascas do tronco de Q. saponaria. A droga quilaia é constituída por cascas dos ramos,
destituídas de periderme, dessecadas e fragmentadas. A Ph.Eur. 8.0 estabelece de 9 a 10% como o teor aceitável de
saponinas. Na FB 5 não é preconizado um doseamento,mas a determinação do Índice de Espuma e de substâncias
extraíveis por álcool.
A droga vegetal é usada principalmente para a obtenção da fração de saponinas, a qual encontra extensa aplicação
como alternativa aos tensoativos sintéticos em cosméticos, como estabilizante de suspensões na indústria farmacêutica
e como emulsionante em preparações que contêm corantes. Além disso, as saponinas da quilaia têm sido estudadas e
utilizadas intensivamente quanto ao seu uso como um potente adjuvante de vacinas. Nesse sentido, a procura de novas
fontes de saponinas na flora brasileira conduziu ao estudo de Quillaja brasiliensis (A.St.-Hil. & Tul.) Mart., uma
árvore nativa da Região Sul do Brasil e do Uruguai, popularmente conhecida como árvore-sabão, que hoje representa
uma alternativa promissora.25
Os principais estudos derivam da potencial aplicação como adjuvantes em vacinas, principalmente da saponina
purificada por cromatografia de fase reversa, QS-21, que atua como adjuvante em vacinas contra vírus e bactérias,
entre outros, contra herpes simples-2, HIV-1, sarampo e tuberculose,26,27 destacando-se a aplicação em vacinas na área
veterinária.
● A análise de saponinas em drogas vegetais é baseada na cromatografia em camada delgada (CCD), bem
como na cromatografia a líquido de alta eficiência (CLAE) e na cromatografia a líquido de
ultraeficiência (CLUE), para a análise quantitativa.
● A utilização de espectrometria de massas acoplada ou não à CLAE é uma ferramenta importante para a
identificação das saponinas.

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