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Farmacognosia: do produto natural ao medicamento [recurso eletrônico] / Organizadores, Cláudia Maria Oliveira Simões... [et al.]. – Porto Alegre: Artmed, 2017. e-PUB Saponinas ( cap19) Propriedades gerais As saponinas em solução aquosa formam espuma persistente e abundante. Essa atividade provém, como nos outros detergentes, do fato de apresentarem na sua estrutura, como já referido, uma parte lipofílica, denominada aglicona ou sapogenina, e uma parte hidrofílica, constituída por um ou mais açúcares. O número de unidades de açúcar pode chegar a 12, o que se definiria como uma saponina oligosídica. A espuma formada é estável devido à ação de ácidos minerais diluídos, diferenciando-a daquela dos sabões comuns. Outras propriedades físico-químicas e biológicas encontradas, mas nem sempre presentes em todas as saponinas, são: ● Elevada solubilidade em água e em solventes polares: água com metanol ou etanol e insolúveis em solventes de baixa polaridade como éter, clorofórmio ou éter de petróleo. ● Ação sobre membranas: muitas saponinas são capazes de causar desorganização das membranas das células sanguíneas (ação hemolítica) ou das células das brânquias em peixes (ação ictiotóxica); ● Complexação com esteroides: ação antifúngica e hipocolesterolemiante. Saponinas esteróides neutras Nas saponinas esteróides, a aglicona é formada por um esqueleto de 27 carbonos dispostos em um sistema tetracíclico. Biogeneticamente, formam-se via pirofosfato de isopentenila, originando o óxido de esqualeno, que cicliza em uma conformação cadeira-barco-cadeira-barco formando o cicloartenol (em algas e plantas verdes) ou o lanosterol (em fungos e organismos não fotossintéticos) após vários rearranjos do tipo 1,2. Nessa rota biogenética, o derivado cicloarteno, depois da clivagem oxidativa de três metilas, forma, entre outros, os esteroides e os cardenolídeos As saponinas esteroides apresentam duas estruturas básicas comuns: o espirostano (16,22:22,26-diepóxi-colestano) e o furostano (16,22-epóxi-colestano). O espirostano é o cetal de 16,26-di-hidróxi-22-colestanona, ao passo que o hemiacetal correspondente, furostano-22,26-diol, é estável apenas quando o grupo hidroxila em C-26 está ligado a um açúcar. Quando este é cindido, ocorre espontaneamente a cetalização formando o derivado espirostano As saponinas do tipo espirostano possuem núcleo espirocetal em C-22 e podem ser divididas nas séries 25 R (metila em posição α; série normal) ou 25 S (metila em posição β; série iso). As saponinas de núcleo furostano apresentam cadeia lateral com um açúcar ligado à hidroxila em C-26. Esse núcleo é menos frequente e, por hidrólise, transforma-se no núcleo espirostano por meio do fechamento do anel. Em relação à conformação espacial, a fusão dos anéis A e B pode ser cis (H-5 em posição β, como na esmilagenina) ou trans (H-5 em posição α, como na digitogenina). Já a fusão dos anéis B/C e C/D é trans, enquanto os anéis D/E têm junção cis ( Saponinas esteroides básicas As saponinas de caráter básico pertencem ao grupo dos alcaloides esteroides, que são característicos do gênero Solanum (família Solanaceae). Possuem nitrogênio no anel F e são conhecidos dois tipos de estruturas: espirossolano (quando o nitrogênio é secundário) e solanidano (quando o nitrogênio é terciário). Os compostos com núcleo espirossolano podem existir nas configurações 22 R,25 R (p. ex., solasodina, encontrada na batata-inglesa) ou 22 S,25 S (p. ex., tomatidina, encontrada no tomate) Nos compostos com núcleo solanidano, o nitrogênio pertence aos dois anéis E e F, simultaneamente, sendo também conhecidos como indolizidinas. Os solanidanos têm a configuração 22 R,25 S, estando a metila do carbono 25 em posição equatorial . Vários substituintes, em geral hidroxilas, caracterizam os diversos compostos desses dois grupos de esteroides. Os açúcares estão geralmente ligados na hidroxila em C-3, sendo que, naquelas de tipo furostano, também encontram-se açúcares em C-26. Às vezes, há ligação dupla entre os carbonos 5 e 6. Saponinas triterpênicas As saponinas mais frequentemente encontradas na natureza possuem 30 átomos de carbonos e núcleo triterpênico. Esse núcleo tem a mesma origem do esqueleto esteroide até a formação do óxido de esqualeno. No entanto, este último, ao ciclizar em uma conformação cadeira-cadeira-cadeira-barco – e de acordo com dois tipos de rearranjos –, pode originar os triterpenos tetracíclicos e os triterpenos pentacíclicos. Substituintes no núcleo básico, como hidroxilas, carboxilas e metoxilas, diferenciam os compostos identificados nesse grupo. Os açúcares estão geralmente ligados na hidroxila em C-3 (como ligação éter) ou na carboxila em C-28 (como ligação éster). Quando ocorre ligação dupla, ela é, em geral, entre C-12 e C-13, nos grupos de oleananos, de ursanos e do lupeol. Outros tipos de núcleos mais raramente encontrados incluem: friedelano, taraxastano e hopano. Dentre as saponinas tetracíclicas incluem-se aquelas com núcleo damarano, encontradas em Panax ginseng C.A.Mey. e de distribuição mais restrita. Detecção, identificação e obtenção Detecção no vegetal O teste de ação superficial é realizado com o extrato aquoso obtido a partir do decocto do vegetal. Após agitação enérgica do extrato filtrado em tubo de ensaio, a formação de espuma, que não desaparece com a adição de um ácido mineral diluído, indica a presença de saponinas. A ação hemolítica pode ser determinada tanto em tubo de ensaio contendo uma solução tamponada de células sanguíneas quanto em placa cromatográfica, após migração dos diferentes extratos vegetais em teste. No primeiro caso, a presença de solução avermelhada, após centrifugação, caracteriza a liberação de hemoglobina das células. N O perfil cromatográfico das saponinas, estabelecido por CCD ou cromatografia a líquido de alta eficiência (CLAE) e cromatografia a líquido de ultraeficiência (CLUE), pode ser utilizado como um método de identificação de drogas ou extratos vegetais. Com o mesmo objetivo, mais recentemente, tem sido utilizado o acoplamento de técnicas, como cromatografia a líquido e espectrometria de massas; ver, por exemplo, a análise de saponinas na erva-mate4 e a análise de saponinas em espécies de quillaja.5 Métodos de extração e purificação Sendo glicosídeos, portanto, substâncias polares, as saponinas são geralmente solúveis em água e pouco solúveis em solventes apolares. O extrato aquoso apresenta como vantagem, além do custo menor, a ausência de lipídeos e clorofila. No entanto, como desvantagens devem ser consideradas as possibilidades de contaminação microbiana (favorecida pela presença de açúcares em meio aquoso), hidrólise (durante o processo extrativo, ou termólise, no caso de extração a quente), bem como a baixa estabilidade desses extratos. Por essas razões, de modo geral, são utilizados álcoois, etanol ou metanol, ou misturas hidroalcoólicas para a extração, por meio de maceração, decocção, percolação ou extração exaustiva sob refluxo. Frequentemente, o extrato hidroalcoólico assim obtido é submetido à purificação, após eliminação do conteúdo alcoólico, por meio da partição com solventes de baixa polaridade (diclorometano ou clorofórmio) para a retirada de compostos apolares, seguida da partição com n-butanol para a eliminação de açúcares livres, aminoácidos e ácidos orgânicos, entre outras substâncias hidrofílicas que ficam na fase aquosa, obtendo-se uma fração purificada de saponinas na fase butanólica. Tradicionalmente, também tem sido usada como técnica de purificação a precipitação fracionada pela adição do extrato concentrado de saponinas a solventes de menor polaridade, como éter etílico ou acetona, provocando sua precipitação por redução da solubilidade. Outros métodos de purificação incluem a complexação com colesterol, a diálise, a cromatografia de troca iônica ou a extração seletiva utilizando a formação de sal, quando na presença de saponinas de reação ácida, bem como os métodos cromatográficos, utilizando resinas sintéticas (Amberlite), gel desílica ou géis de exclusão molecular, tipo Sephadex.6 Devido à crescente demanda por saponinas, estimulada principalmente pela sua importância nas indústrias farmacêuticas e de cosmética, algumas alternativas de extrações mais eficientes e seletivas, com menor volume de solvente e tempo de extração, assim como processos menos agressivas ao meio ambiente, têm sido desenvolvidos. As técnicas de extração convencionais, como a maceração, Soxhlet e refluxo, apesar de ainda serem usadas, tendem a ser substituídas pelas técnicas auxiliadas por ultrassom, micro-ondas, extração acelerada com solvente e, também, pelo emprego de fluidos supercríticos. Como exemplo, a extração acelerada por solvente, usando um sistema de água quente sob pressão, resultou em um maior rendimento de ginsenosídeos (11,2 mg/g) em comparação com o método auxiliado por ultrassom (7,2 mg/g) de saponinas de Panax quinquefolius L. A extração com líquido pressurizado (acelerada por solvente) mostra vantagens sobre outros métodos, com melhores rendimentos de saponinas (7,36%) de P. notoginseng (Burkill) F.H.Chen em relação à extração com ultrassom (5,77%) e extrações convencionais mediante Soxhlet (6,99%) e por maceração (6,00%). Uma revisão sobre as três primeiras pode ser consultada no trabalho de Cheok e colaboradores.7 O uso de tecnologias menos agressivas ao meio ambiente para a extração de saponinas também pode ser alcançado pela extração com fluidos supercríticos, que apresenta vantagens em função de sua extração seletiva. Algumas publicações descrevem a extração de ginsenosídeos do ginseng, saponinas de Bupleurum chinense (DC.) Franch., do ácido glicirrético do alcaçuz, mediante o uso de CO2 em condições supercríticas, assim como o uso de cossolventes polares como metanol, etanol e água, em diferentes condições de pressão e temperatura.8,9 Isolamento e análise De modo geral, as saponinas ocorrem na forma de misturas complexas, com variações quanto ao número de açúcares presentes para uma aglicona específica e/ou abrangendo variações quanto às agliconas e aos açúcares presentes, o que torna o seu isolamento um processo bastante trabalhoso. Assim, são utilizados diversos tipos de processos cromatográficos e, em não se obtendo substâncias suficientemente puras para a análise estrutural, são também empregados métodos de derivatização, como acetilação, metilação e benzoilação. As saponinas isoladas são, então, caracterizadas, após hidrólise, por análises cromatográficas e espectroscópicas. Eventualmente, é usada a hidrólise do extrato bruto, que é realizada sem o processo moroso de isolamento dos constituintes individuais, o que permite caracterizar as agliconas e açúcares presentes. Dependendo dos objetivos, essa hidrólise, junto com a análise cromatográfica, pode ser suficiente para a caracterização de uma droga ou extrato vegetal. De acordo com o tipo de saponinas presentes, a hidrólise pode ser enzimática, em meio ácido ou alcalino, ou mesmo por hidrotermólise. Para uma abordagem mais detalhada dos processos de hidrólise e possíveis reações de degradação, ver Hostettmann e Marston.6 Para a elucidação estrutural, é imprescindível a utilização de métodos espectroscópicos, incluindo a espectrometria de massas, a espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) e as respectivas técnicas bidimensionais. A presença de múltiplas unidades de açúcares aumenta a complexidade da caracterização estrutural das saponinas em um espectro de RMN de hidrogênio, já que possuem sinais com elevada similaridade, gerando sobreposições dos mesmos e dificultando sua correta determinação. O uso de técnicas bidimensionais é necessário, como a de correlação a longa distância (HMBC), que permite definir os pontos de glicosilação, e com auxílio da espectroscopia de correlação total (TOCSY), cuja vantagem é determinar com precisão os acoplamentos entre os hidrogênios de uma mesma unidade de açúcar, o que facilita a definição correta da sua estereoquímica e de sua identidade. Para a espectrometria de massas, são necessários métodos especiais que abranjam o âmbito de massas elevadas, em geral presentes nas saponinas. Atualmente, as principais fontes de ionização para análise de saponinas são a ionização de dessorção laser auxiliada por matriz (MALDI) e a ionização por electrospray (ESI), sendo esta última a de eleição por poder acoplar-se a sistemas de cromatografia a líquido, melhorando consideravelmente o potencial analítico de ambos. As ligações interglicosídicas eram determinadas sobretudo via análise de RMN, porém mais recentemente foram desenvolvidas técnicas refinadas de derivatização para a obtenção de produtos per-O-metilados e acetatos de alditóis O-metilados, os quais, em conjunto com os derivados isopropilidênicos, permitem definir a posição inequívoca de açúcares na estrutura de uma saponina (ver, por exemplo, Souza e colaboradores).4 Métodos de análise quantitativa As determinações baseadas nas propriedades clássicas das saponinas (complexação com colesterol, atividade hemolítica e atividade ictiotóxica) têm sido substituídas nas últimas décadas pela cromatografia a líquido de alta eficiência (CLAE).10,11 Métodos espectrofotométricos são bastante sensíveis, porém não são adequados para a quantificação de saponinas em extratos brutos, pois as reações não são específicas e outros produtos coloridos podem se formar a partir da reação com compostos como fitosteróis e flavonoides. Entre os problemas mais frequentemente encontrados em trabalhos analíticos envolvendo saponinas estão a extração incompleta do material vegetal e a dificuldade de obtenção de uma fração livre de compostos interferentes para a sua quantificação. O grande destaque dado à CLAE decorre da rapidez da análise, sensibilidade e adaptabilidade a compostos polares não voláteis. As vantagens do uso da CLAE sobre outros métodos de quantificação existentes parecem ser bastante apreciáveis, pois essa técnica cromatográfica possibilita a determinação individual de saponinas em mistura, delineando a possibilidade da detecção de adulterantes. A maior dificuldade, entretanto, quando é utilizada a detecção de saponinas por ultravioleta, é a necessidade de realizá-la em baixos comprimentos de onda (203 a 210 nm), o que conduz a problemas de linha de base instável e interferência dos eluentes na análise. Entretanto, a detecção na região de 203 a 210 nm é possível com o uso de solventes adequados e com alto grau de pureza. Essas dificuldades podem, também, ser contornadas com o uso de outros tipos de detectores, como por índice de refração (IR), por espectrometria de massas (EM) e por espalhamento de luz evaporativo (ELSD – evaporative light scattering detection) (ver revisão de Negi e colaboradores),11 ou por meio da derivatização das saponinas, o que permite a detecção em comprimentos de onda mais elevados (p. ex., 254 nm para os derivados 4-bromofenacila. Um grande número de trabalhos tem sido descrito na literatura cujo objetivo é a quantificação de saponinas triterpênicas por CLAE, conforme já referido no item Detecção no vegetal. Uma variante da CLAE, a cromatografia a líquido de ultraeficiência (CLUE) tem sido amplamente empregada na quantificação de saponinas, devido às vantagens de um menor tempo de corrida, menor quantidade de solvente e uma melhor resolução de análise, já que se empregam fases estacionárias com um menor tamanho de partícula. Propriedades biológicas O comportamento anfifílico das saponinas e a capacidade de formar complexos com esteroides, proteínas e fosfolipídeos de membranas determinam um número variado de propriedades biológicas para essas substâncias, destacando-se a ação sobre membranas celulares, alterando a sua permeabilidade ou causando sua destruição. Relacionadas com essa ação sobre membranas, estão as atividades hemolítica, ictiotóxica e molusquicida, frequentemente observadas. A complexação com colesterol, propriedade também frequentemente observada, originou um número significativo de trabalhos objetivando avaliar o uso de saponinasna dieta para reduzir os níveis de colesterol sérico. O mecanismo da ação hipocolesterolemiante poderia ser explicado pelo aumento da excreção do colesterol, pela formação de complexo com as saponinas administradas por via oral, ou, ainda, pelo aumento da eliminação fecal de ácidos biliares, conduzindo a uma utilização maior do colesterol para a síntese dessas substâncias. Outra proposta de mecanismo leva em consideração também as propriedades irritantes das saponinas. Com a formação de complexos entre as saponinas e o colesterol das membranas das células da mucosa intestinal, ocorreria uma esfoliação, com perda de função e redução da área de absorção. A atividade anti-inflamatória dessa classe de substâncias é conhecida há muito tempo, tendo sido descrita inicialmente para as saponinas de Aesculus hippocastanum L. (castanheira-da-índia) e de Glycyrrhiza glabra L. (alcaçuz) . Para um grande número de plantas contendo saponinas, foram relatadas atividades antiedematogênica e anti-inflamatória a partir de diferentes modelos que exploram a ação antiexsudativa e interferência na permeabilidade vascular da inibição de enzimas lisossomais como a elastase e a hialuronidase (responsável pela degradação do ácido hialurônico, principal substância do tecido conjuntivo que envolve os vasos). Outro modo de ação anti-inflamatória das saponinas seria a estimulação da liberação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e do aumento da secreção associada com a biossíntese de glicocorticoides no córtex adrenal, ou ainda a inibição de enzimas responsáveis pela degradação de cortisol no fígado, como no caso do ácido glicirrético. Hoje, existe um interesse renovado em plantas que são parte da dieta para a prevenção e o tratamento de tumores. Por exemplo, a platycodina D, uma saponina triterpênica e um dos principais componentes das raízes de Platycodon grandiflorus (Jacq.) A.DC., tem sido extensamente estudada, já que mostrou-se ativa no combate a diferentes tipos de tumores por meio de indução apoptótica, detenção do ciclo celular, autofagia e inibição da angiogênese, assim como do processo de invasão e de metástase, com múltiplos alvos de diferentes vias de sinalização que são frequentemente desreguladas nessa patologia.13 É importante ressaltar que muitas das propriedades recém-apontadas foram detectadas em testes in vitro ou em modelos animais, de modo que, para propiciar o desenvolvimento de aplicações terapêuticas, na maioria dos casos, é indispensável a avaliação de aspectos farmacocinéticos relativos à absorção, metabolização e eliminação (em muitos ensaios, a avaliação preliminar foi realizada por via i.p.), bem como ensaios pré-clínicos quanto à toxicidade e ensaios clínicos em todas suas fases. Emprego farmacêutico As saponinas são componentes importantes para a ação de muitas drogas vegetais, destacando-se aquelas tradicionalmente utilizadas como expectorantes e diuréticas. Exemplos de drogas de uso tradicional como expectorantes são: Polygala senega L. (polígala), Primula veris L. (prímula), Grindelia robusta Nutt. (grindélia), Glycyrrhiza glabra L. (alcaçuz); e como diuréticas, Hedera helix L. (hera), Smilax spp. (salsaparrilha), Herniaria glabra L. (herniária), Betula pendula Roth (vidoeiro-branco) e Equisetum arvense L. (cavalinha). No entanto, os mecanismos dessas atividades não estão completamente elucidados, e os estudos relacionados aos aspectos farmacocinéticos são ainda insuficientes. Nesse contexto, são poucas as saponinas utilizadas como compostos isolados, destacando-se a glicirrizina, que não apresenta atividade hemolítica, e o seu derivado hemi-succinato sódico do ácido glicirrético, conhecido como carbenoxolona, o asiaticosídeo, obtido de Centella asiatica (L.) Urb. e a fração de saponina obtida de Quillaja saponaria Molina, QS-21, como adjuvante em vacinas. Por outro lado, as saponinas encontram uso crescente na indústria de cosméticos, como tensoativos naturais (p. ex., em produtos de higiene para crianças, loções, xampus e alimentos). Outros empregos farmacêuticos destacados são como adjuvantes para aumentar a absorção de outros medicamentos mediante aumento da solubilidade ou interferência nos mecanismos de absorção e como adjuvante para aumentar a resposta imunológica (ver adiante, em Quillaja saponaria). Como drogas vegetais mais importantes foram selecionadas alcaçuz, centela, ginseng e quilaia, considerando a amplitude do seu emprego farmacêutico e sua presença em farmacopeias de uso geral. Além dessas, outras plantas poderiam ser abordadas, levando-se em conta o elevado teor de saponinas e o potencial emprego farmacêutico. É o caso de Quillaja brasiliensis (A.St.-Hil. & Tul.) Mart., uma árvore nativa da Região Sul do Brasil (abordada no item Quilaia), e também da erva-mate – Ilex paraguariensis A.St.-Hil. (Aquifoliaceae). A erva-mate é abordada no Capítulo 26, Metilxantinas, em vista do elevado teor de cafeína e teobromina, mas também destaca-se pelo elevado teor de saponinas nas suas folhas e frutos, as quais são determinantes do sabor amargo do chimarrão e de outras bebidas derivadas. A presença de saponinas na erva-mate tem sido associada à inibição da aterosclerose e redução das concentrações séricas de triglicerídeos e de colesterol, mostrando efeitos hipolipidêmicos.14 Também decorre da presença de saponinas a utilização de seus extratos em produtos como sabões e xampus, alimentos e bebidas. Drogas vegetais mais importantes Alcaçuz tratamento de doenças alérgicas, distúrbios inflamatórios e úlceras gástricas. O termo glicirriza tem origem grega e significa raiz doce. O alcaçuz já era usado pelos gregos como edulcorante em bebidas, como expectorante e para o tratamento de úlceras. Tem emprego na atualidade como modificador de sabor em produtos alimentícios. O sabor doce deve-se à presença de saponinas com essa característica organoléptica. É importante destacar a comercialização no Brasil da espécie Periandra mediterranea (Vell.) Taub. (= P. dulcis Benth.), da mesma família, denominada alcaçuz-brasileiro, que de fato nada tem a ver com o alcaçuz em termos de composição química e atividades comprovadas. No entanto, as utilizações preconizadas na medicina popular são semelhantes, e as suas raízes também apresentam sabor doce e teor elevado de saponinas.16 Centela A centela é uma planta cosmopolita que tem uso tradicional, principalmente em países da Ásia, no tratamento de feridas e lesões cutâneas diversas; na medicina Ayurveda, é usada para tratar disenteria, cólica, diarreia, dor abdominal e indigestão. No Brasil, ocorre nas Regiões Sul e Sudeste, sendo popularmente conhecida também como centelha, centela-da-ásia, pata-de-burro, entre outros nomes. Ginseng O ginseng, planta estimulante, reconstituinte, geradora de vitalidade, conhecido como elixir da longa vida. A palavra panax significa panaceia. As raízes secas, das quais a periderme é retirada, são chamadas de ginseng-branco, enquanto o ginseng-vermelho é obtido pela exposição das raízes ao vapor de água, com posterior secagem, sem retirada da periderme. Esse procedimento altera a cor do produto para marrom-avermelhado. . No mercado brasileiro estão presentes dezenas de especialidades farmacêuticas com indicação para aumentar a resistência natural do organismo ao estresse e a infecções, bem como para reduzir a fadiga, muitas das quais contendo extratos de ginseng.em especial a atividade sobre o sistema imunológico, o sistema nervoso central e o metabolismo, como a síntese proteica e de RNA e DNA. Quilaia O nome é derivado da palavra chilena quillean, que significa para lavar, pois suas cascas produzem espuma abundante quando agitadas na água. As saponinas atualmente industrializadas provêm das raízes de diferentes espécies europeias do gênero Gypsophylla ou das cascas do tronco de Q. saponaria. A droga quilaia é constituída por cascas dos ramos, destituídas de periderme, dessecadas e fragmentadas. A Ph.Eur. 8.0 estabelece de 9 a 10% como o teor aceitável de saponinas. Na FB 5 não é preconizado um doseamento,mas a determinação do Índice de Espuma e de substâncias extraíveis por álcool. A droga vegetal é usada principalmente para a obtenção da fração de saponinas, a qual encontra extensa aplicação como alternativa aos tensoativos sintéticos em cosméticos, como estabilizante de suspensões na indústria farmacêutica e como emulsionante em preparações que contêm corantes. Além disso, as saponinas da quilaia têm sido estudadas e utilizadas intensivamente quanto ao seu uso como um potente adjuvante de vacinas. Nesse sentido, a procura de novas fontes de saponinas na flora brasileira conduziu ao estudo de Quillaja brasiliensis (A.St.-Hil. & Tul.) Mart., uma árvore nativa da Região Sul do Brasil e do Uruguai, popularmente conhecida como árvore-sabão, que hoje representa uma alternativa promissora.25 Os principais estudos derivam da potencial aplicação como adjuvantes em vacinas, principalmente da saponina purificada por cromatografia de fase reversa, QS-21, que atua como adjuvante em vacinas contra vírus e bactérias, entre outros, contra herpes simples-2, HIV-1, sarampo e tuberculose,26,27 destacando-se a aplicação em vacinas na área veterinária. ● A análise de saponinas em drogas vegetais é baseada na cromatografia em camada delgada (CCD), bem como na cromatografia a líquido de alta eficiência (CLAE) e na cromatografia a líquido de ultraeficiência (CLUE), para a análise quantitativa. ● A utilização de espectrometria de massas acoplada ou não à CLAE é uma ferramenta importante para a identificação das saponinas.