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BEATRIZ ROSA 2016.1 1 Aula 11/05: Cistos não odontogênicos (cap. 1) Os cistos odontogênicos possuem origem nos remanescentes epiteliais, produto final da odontogênese. E os cistos não odontogênicos vão se formar da mesma forma que os outros cistos: se tem um remanescente epitelial que sofre um estímulo gênico ou inflamatório, e começa a se proliferar. • Ocorre um acúmulo de líquido dentro. Dependendo do tipo de epitélio que reveste o cisto, pode se ter um componente líquido, pastoso ou até sólido. Os cistos não odontogênicos não se originam de remanescentes epiteliais odontogênicos. Mas sim de remanescentes do processo de formação da face, ou seja, de seus restos embrionários. Esses remanescentes não possuem um nome específico. CISTO: cavidade patológica fechada, internamente revestida por epitélio e preenchida por material líquido ou semi-sólido. • Os cistos estão dentro de uma mucosa, pele ou osso. Em volta dele, o que se tem é uma cápsula composta por tecido conjuntivo. Com isso, o epitélio está no interior, revestindo o conteúdo do cisto, a luz desse cisto. O epitélio está sempre por dentro. Na maior parte dos casos, é esse epitélio que permite chegar ao diagnóstico do cisto. Os remanescentes da embriogênese da face vão dar origem aos cistos não odontogênicos. É a partir das linhas de fusão dos processos faciais que se formam esses remanescentes epiteliais. EMBRIOGÊNESE: o processo de formação da face começa a partir da quarta semana de vida do embrião, ocorrendo até a décima semana de vida intra-uterina. 1) CISTOS PALATINOS DO RECÉM NASCIDO É um cisto que ocorre no palato de bebês. São pequenas pápulas que podem variar de coloração branca a branco-amarelada. Possuem resolução espontânea. São cistos de inclusão: remanescentes epiteliais resultantes do processo de fusão dos processos palatinos è ocorrem principalmente ao longo da linha média do palato, sendo chamados de pérolas de Epstein. Quando ocorrem em lugares esporádicos do palato, são chamados de nódulos de Bohn. • As pérolas de Epstein são os achados mais comuns, localizados ao longo da rafe palatina mediana. • Os nódulos de Bohn se apresentam espalhados pelo palato. São muito comuns, ocorrendo em 85% dos recém-nascidos. Não é um motivo de preocupação, pois são solucionados por processos espontâneos. São cistos bem pequenos, apresentando de 1 a 3 mm. Não atrapalham na amamentação, são assintomáticos. 2) CISTO DO DUCTO NASOPALATINO É o cisto não odontogênico que ocorre com mais frequência è apesar de ser um cisto não odontogênico, é muito comum na cavidade oral, e acomete 1% da população. É originado a partir dos remanescentes da fusão dos processos palatinos que formam o ducto nasopalatino, e ficam presentes dentro do canal incisivo. Esses remanescentes começam a se proliferar e ocorre a formação de uma lesão cística exatamente na região do canal incisivo, que fica entre os incisivos centrais superiores. BEATRIZ ROSA 2016.1 2 Se apresenta como uma lesão radiolúcida entre os incisivos centrais superiores. Para diferenciar a lesão de um cisto periapical, tem que fazer o teste de vitalidade pulpar. Como é um cisto de desenvolvimento, não ocorre processo inflamatório e necrose pulpar. Os dentes associados são vitais, não apresentando alteração. • É extremamente importante fazer o teste de vitalidade pulpar dos dentes associados à lesão è Normalmente essas lesões são tão grandes que podem se estender de canino a canino, por exemplo. Com o teste de vitalidade pulpar, se consegue perceber se a lesão possui origem inflamatória, gerando necrose pulpar e precisando de um tratamento endodôntico. Caso a lesão seja de origem odontogênica ou não odontogênica, deve se fazer a excisão cirúrgica da lesão com enucleação como tratamento. CARACTERÍSTICAS: Ø Geralmente é diagnosticado entre a quarta e sexta décadas de vida. Ocorre mais em homens. Ø Se apresenta como um aumento na região anterior do palato, do canal incisivo. É assintomático, porém em raros casos pode apresentar dor. Ø Lesão bem delimitada localizada entre a raízes dos incisivos centrais superiores. Ø Pode apresentar pequenos abaulamentos normocrômicos na região anterior do palato. RADIOGRAFICAMENTE: lesão unilocular bem delimitada com bordos escleróticos, que pode fazer uma reentrância na parte superior, adquirindo um formato de coração. Também pode ser descrita como formato de bolha ou pêra invertida, sem a reentrância superior. Os dentes associados à lesão estão hígidos e vitais, sem tratamento endodôntico. Raramente faz afastamento dentário. • Lesões maiores podem causar, por compressão, reabsorção radicular. • É uma lesão bem delimitada de fácil remoção, porém provoca um defeito ósseo no seu desenvolvimento: durante o crescimento da lesão há reabsorção óssea. É importante diferenciar o cisto de uma variação anatômica, como um aumento do forame/canal incisivo. Forame incisivo que possui até 6mm em seu maior diâmetro é considerado de tamanho normal. Acima de 6mm é considerado uma lesão cística propriamente dita. MICROSCOPICAMENTE: se observa algumas variações no epitélio, tanto em espessura quanto em apresentação. Como o forame incisivo se localiza perto da fossa nasal, se observa uma mistura de epitélio simples, epitélio da mucosa e epitélio respiratório. Com isso, apresente epitélio fino cúbico simples, epitélio com células caliciformes e células ciliadas, e epitélio pseudoestratificado ciliado. Dentro da cápsula da lesão é possível observar feixes vasculo-nervosos, com vasos de grande calibre e feixes nervosos. Isso porque passa nervo dentro do forame incisivo. • Ocasionalmente, em lesões maiores que se estendem para a parte posterior do palato, se pode observar glândulas salivares. • Os nervos podem ser identificados também pela imunohistoquímica. TRATAMENTO: remoção cirúrgica da lesão, geralmente sem recidivas. Esse cisto do ducto nasopalatino pode ocorrer somente na mucosa palatina do paciente, sendo extra-ósseo. Assim, é chamado de CISTO DA PAPILA INCISIVA è Se apresenta como um aumento de volume bem delimitado que pode ter coloração normocrômica ou avermelhada, localizada na região da papila incisiva. Ao fazer a radiografia, não há comprometimento ósseo. 3) CISTO PALATINO MEDIANO É resultante da fusão entre os processos palatinos, ocorrendo na linha média. Diferenciar de um cisto do ducto nasopalatino: localização, já que ocorre na linha média e é mais posterior à papila incisiva. É simétrico. Na radiografia se apresenta mais ovoide ou circular. Não existe comunicação com o canal incisivo. Não está associado à dentes. Microscopicamente não há a presença de feixes vasculo-nervosos na cápsula. BEATRIZ ROSA 2016.1 3 CARACTERÍSTICAS: Se apresenta como um aumento de volume na linha média e na região mais posterior do palato. Não está associado à dentes e é uma lesão simétrica, radiolúcida, bem delimitada, uniloculada. Em casos de dúvida, pode se pedir uma tomografia computadorizada para avaliar a localização exata da lesão. MICROSCOPICAMENTE: áreas de epitélio escamoso estratificado com poucas camadas de células. As células tendem a ser cúbicas. Em algumas áreas pode se observar epitélio pseudoestratificado. Não há a presença de nervos ou vasos sanguíneos de grande calibre na capsula. É importante falar vasos de grande calibre, pois existem vasos sanguíneos na cápsula dos cistos. Porém esses vasos de grande calibre são normalmente encontrados somente no cisto do ducto nasopalatino. 4) CISTO NASOLABIAL Também é chamado de cisto nasoalveolar ou cisto de Klestadt. É originado a partir dos remanescentes da fusão da fenda nasolacrimal, que vai dar origem ao sulco nasogeniano è a patogênese está relacionada à fusão do processo nasal e maxilar. Se tem os remanescentes ectópicos do ducto nasolacrimal também. CARACTERÍSTICAS:Ø É um cisto raro. Ø Acomete mais adultos entre a quarta a quinta décadas de vida. Ø Ocorre mais em mulheres. Ø Se observa uma lesão totalmente extra-óssea exatamente na região do sulco geniano. O paciente geralmente apresenta um abaulamento acima do lábio superior, podendo se observar uma elevação da asa do nariz do lado comprometido. Ø Lesões muito grandes podem ocasionar o apagamento do fundo de vestíbulo do paciente, porém não há comprometimento ósseo è por compressão, a lesão pode ocasionar reabsorção óssea. Assim, se tem um aumento de volume acima do lábio superior com elevação da asa do nariz, apagamento do fundo de vestíbulo e apagamento do sulco nasolabial. TRATAMENTO: remoção cirúrgica da lesão. Normalmente o acesso é intra-oral por motivos de cicatrização. A lesão é bem delimitada e facilmente removida por excisão cirúrgica. MICROSCOPICAMENTE: apresenta uma mistura de epitélio respiratório e epitélio da mucosa oral. Não se pode observar nenhuma estrutura na cápsula de nervos ou vasos de grande calibre. Epitélio pseudoestratificado com células caliciformes e ciliadas, áreas de epitélio cúbico e fino. Microscopicamente é muito parecido com o cisto do ducto nasopalatino. 5) CISTO EPIDERMÓIDE Sua origem tem sido associada à inflamação de um folículo piloso, mas ela não é totalmente certa. Pode ocorrer em qualquer região do corpo, principalmente na cabeça. Normalmente é encontrada em regiões que possuem pelos, como o couro cabeludo, na barba de homens, na sobrancelha, etc. SÍNDROME DE GARDNER: condição rara em que o paciente tem algumas alterações, dentre elas a presença de múltiplos cistos epidermóides na pele. Além disso, pode apresentar múltiplos osteomas nos ossos da face. Pólipos intestinais que podem virar carcinoma, entre outras características. CARACTERÍSTICAS: Ø Aumento de volume bem delimitado de consistência amolecida. Ø Pode apresentar coloração avermelhada. Ø Pode ter pontos de drenagem e normalmente é encontrada em áreas com pelos. Ø Raramente acomete pacientes jovens. BEATRIZ ROSA 2016.1 4 TRATAMENTO: remoção cirúrgica, com excisão simples. Geralmente não recorre. MACROSCOPIA: possui aspecto de epiderme. Não possui conteúdo líquido, mas sim semi sólido ou pastoso. Isso porque o epitélio da epiderme produz queratina, que fica confinada dentro da cavidade cística. Se apresenta como um material pastoso amarelado com aspecto de vela derretida. • A punção exploratória da lesão contém esse conteúdo de queratina. Na cavidade oral: lesão acomete assoalho de boca podendo se estender para ventre de língua. Lesão amarelada devido à produção de queratina, e é facilmente removida sem recidivas. MICROSCOPIA: cavidade cística com lâmina de queratina em seu interior, na luz do cisto. É revestida por um epitélio escamoso estratificado ortoqueratinizado. Possui cápsula de tecido conjuntivo fibroso denso. Se observa grânulos no citoplasma das células próximas à camada de queratina. • Recebe o nome epidermóide por sua semelhança com a pele. A pele possui uma camada granulosa, que não é observada em geral na mucosa oral. TRATAMENTO: excisão cirúrgica sem recidivas. 6) CISTO DERMÓIDE Lesão que acomete a pele mas pode ser observada no assoalho de boca. Assim como o cisto epidermóide, é chamado de cisto de inclusão. São muito comuns na pele. É mais comum de se observar na cavidade oral do que o cisto epidermóide, que é raro. Possui características do epitélio de revestimento semelhantes ao epitélio da pele, porém sua cápsula vai lembrar a derme. Nesse cisto, na cápsula, é possível observar a presença de anexos cutâneos (glândula sebácia, glândula sudorípara, pelos, etc). • Há a presença de remanescentes de folhetos embrionários, especialmente do ectoderma. Por isso há a formação de anexos cutâneos. Alguns autores consideram o cisto dermóide como um teratoma porque tem a formação de estruturas de anexos cutâneos em sua cápsula. Mas isso não é muito aceito, já que teratoma, por definição, possui o envolvimento de estruturas das 3 camadas germinativas. E, nesse cisto dermóide, só há a presença de estruturas de uma camada. CARACTERÍSTICAS: Ø Se apresenta como uma lesão de crescimento lento, com aumento de volume bem delimitado, consistência amolecida. Pode acontecer em qualquer local da face. Quando acometem a cavidade oral, são observadas no assoalho de boca, na linha média e na região submandibular. Normalmente fica abaixo do musculo gênio-hioide, dando aparência de queixo duplo. Ø Pode gerar dificuldade de fala, deglutição e mastigação. Gera dificuldade funcional. Ø Normalmente os pacientes possuem de 15 a 35 anos no diagnóstico. TRATAMENTO: enucleação cirúrgica. MICROSCOPICAMENTE: apresenta pelos, glândulas sebáceas associadas. Dentro da derme se tem a formação de uma cavidade patológica revestida por epitélio da pele, epitélio escamoso estratificado ortoqueratinizado com camada granulosa evidente, produção de lâmina de queratina no interior da cavidade. Associado à esse epitélio de revestimento do cisto, se tem a presença de glândulas sebáceas e anexos cutâneos. Lesão de tecido mole com revestimento de epitélio semelhante ao epitélio da pele e epitélio escamoso estratificado ortoqueratinizado, camada granulosa e muita produção de queratina. Dois possíveis diagnósticos: cisto dermóide e epidermóide. O que diferencia é a presença de anexos BEATRIZ ROSA 2016.1 5 cutâneos na capsula próximo ao epitélio. No dermóide tem a presença desses anexos, que é mais comum na boca. Epidermóide não tem esses anexos. 7) CISTO DO DUCTO TIREOGLOSSO Não é uma lesão muito comum, mas entra no diagnóstico diferencial das lesões com aumento de volume na região de linha média do pescoço, abaixo da mandíbula. Possui origem nos remanescentes epiteliais do ducto tireoglosso. Essa é a região posterior da língua, em que esse ducto é formado a partir do forame cego, e conduz a tireóide da região posterior da língua até a sua região anatômica no pescoço. Depois de conduzir à tireóide ao sua posição anatômica correta, esse ducto se degenera. Com isso, os remanescentes podem dar origem à um cisto, que vai acontecer na região do trajeto desse ducto. CARACTERÍSTICAS: Lesão se apresenta como um aumento de volume na linha média do pescoço, geralmente abaixo do osso hióide. Raramente se apresenta como uma lesão intra-oral. É uma lesão bem delimitada e de consistência amolecida. Ø Acomete região cervical de pacientes jovens, geralmente antes dos 20 anos de idade. Ø Faz diagnóstico diferencial com rânula e cisto dermóide. TRATAMENTO: remoção cirúrgica. MICROSCOPICAMENTE: se observa um cisto revestido por epitélio escamoso estratificado, mas também pode apresentar epitélio ciliado e respiratório. Apresenta na cápsula estruturas arredondadas com material eosinofílico (colóide) em seu interior. São estruturas delimitadas por epitélio e semelhantes aos folículos tireoidianos. 8) CISTO LINFOEPITELIAL CERVICAL Acontece no pescoço. Sua patogênese é incerta, acredita-se que venha dos remanescentes do segundo arco braquial. CARACTERÍSTICAS: Ø Acomete pacientes jovens entre 20 e 40 anos de idade. Ø Apresenta-se como um aumento de volume na região lateral do pescoço. Ø É bem delimitado, de consistência amolecida. Ø Diagnóstico diferencial de rânula, tumor de glândula salivar, abcesso, etc. TRATAMENTO: remoção cirúrgica, com baixo índice de recidivas. MICROSCOPICAMENTE: igual ao cisto linfoepitelial oral. 9) CISTO LINFOEPITELIAL ORAL Acontece dentro da boca. É um cisto que se desenvolve dentro do tecido linfoide da cavidade oral. • A cavidade oral possui um tecido linfoide que se localiza na região posterior da língua, que se estende das amígdalas linguais até a região de amígdalas palatinas e adenoide. Nessas áreas se encontram os folículoslinfoides, que produzem células de defesa da cavidade oral e da porção superior da faringe. • Nessa região pode ocorrer a formação de um cisto derivado de um remanescente epitelial, de coloração extremamente amarelada è Essa coloração é devido ao seu revestimento interno por epitélio escamoso estratificado queratinizado. Ou seja, dentro desse cisto ocorre a produção de queratina. BEATRIZ ROSA 2016.1 6 Localização preferencial: assoalho de boca, região posterior em palato mole e ventre de língua. CARACTERÍSTICAS: Apresenta-se como um nódulo amarelado, quase na base da língua, entre o assoalho bucal e o ventre da língua, ou no palato mole. É bem delimitada, de consistência amolecida, assintomático. TRATAMENTO: remoção cirúrgica. MICROSCOPICAMENTE: epitélio pavimentoso estratificado queratinizado revestindo a lesão. Abaixo dele tecido conjuntivo. No interior a cavidade cística revestida por epitélio escamoso estratificado ortoqueratinizado, em alguns casos possui queratina. Na cápsula pode se observar centro germinativo, tecido linfoide. Ou seja, folículos linfoides na cápsula. Queratina na luz do cisto. Cistos epidermóide, dermóide, linfoepitelial cervical e linfoepitelial oral è produzem queratina!
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