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BEATRIZ ROSA 2016.1 1 Periodontia II Controle químico do biofilme supra e sub gengival (antissépticos, antibióticos e anti inflamatórios) – Prof. Germano Quando se fala de controle químico com medicamentos, se pensa em algumas questões: 1) Quais são os fundamentos, ou seja, o que rege a utilização de um antisséptico ou um antibiótico na terapia periodontal? É necessário que existam fundamentos científicos para que os medicamentos sejam usados. 2) De que maneira ele é usado? Tópico, sistêmico, etc? 3) Qual é o utilizado dentro do armamento de medicamentos que existem atualmente? Ou seja, qual é o medicamento de primeira escolha dentro de toda a sua classe? Além disso, é preciso saber em que casos se utiliza essa primeira escolha de medicamento. 4) É necessário saber se o uso do medicamento vai ser antes, durante ou após a terapia. Por que utilizar e quais os fundamentos? A história dos medicamentos na periodontia, desde a fase científica, começa na época de ouro da microbiologia (1880). Essa questão microbiológica foi abandonada em 1920, quando se começou a estudar se a etiologia da doença periodontal era, na verdade, física è ou seja, se o cálculo dentário era o causador dos outros problemas orais. Assim, começaram a trabalhar em cima dos fatores físicos, removendo o cálculo dental e ajustando a oclusão como forma de prevenção ao desenvolvimento da doença periodontal. Teoria da placa inespecífica: qualquer tipo bactéria que colonizasse/se aderisse na região ia provocar uma gengivite que, caso não fosse tratada, poderia progredir para uma periodontite. Teoria atual é a da especificidade da placa dentária: em alguns tipos de doença, existem tipos de microbiotas diferentes, com um percentual maior de determinados microorganismos em relação à outros. • Esses microorganismos foram divididos em grupos com diferentes cores de acordo com a sua patogenicidade è laranja e vermelho estão mais relacionados com a doença. A resposta imunológica do indivíduo com a presença desses microorganismos influencia no desenvolvimento da doença e, consequentemente, no seu tratamento. O tratamento da doença periodontal é muito complexo, dependendo de uma avaliação sistêmica do paciente. DOENÇA PERIODONTAL: é considerada uma doença de origem infecciosa, porém também é uma doença inflamatória è perda óssea e perda de inserção são causadas por mediadores químicos inflamatórios, através de reações inflamatórias. • Uma doença agressiva se caracteriza por um fator muito mais do próprio hospedeiro do que microbiológico è tem uma resposta imunológica ruim à essa flora agressiva, com os microorganismos do complexo laranja e vermelho. OBS: paciente com gengivite ulcerativa necrosante: possui alguma doença imunológica, mesmo que transitória, como quadros de estresse, que afetam sistemicamente o indivíduo. O meio bucal é extremamente dinâmico. As doenças vem como um disparador microbiológico através de uma estrutura extremamente complexa, chamada de biofilme. BEATRIZ ROSA 2016.1 2 • Diferença de uma terapia bucal para uma terapia de endocardite, que também é uma doença provocada por biofilme è a terapia bucal é mais fácil de ocorrer porque pode ser tratada fisicamente, com a raspagem, diferentemente de um coração ou pulmão. Além disso pode ser associada à antimicrobianos. Tratamento feito fisicamente na boca: • Instrução de higiene oral: orientação feita ao paciente para que ele trate da placa supragengival è controle do biofilme supragengival! Muitas terapias não tem o sucesso esperado caso não seja feito o controle de biofilme anteriormente è assim, o paciente que não tem um bom controle de biofilme não deve fazer uma cirurgia periodontal, pois provocará mais perda de inserção e desestabilização da doença. 1) Controle de biofilme supra gengival é muito importante. Em alguns pacientes, apesar do esforço, ele possui limitações mecânicas de habilidade, já que a população hoje está envelhecendo, com doença de Parkinson, Alzheimer e demência è com isso, além da escovação, se indica um produto que tem capacidade complementar à esse esforço mecânico. • Após certa idade nessa população adulta, esse esforço mecânico não parece ser suficiente para a manutenção da doença periodontal. Assim, nesses pacientes é interessante ter uma substância segura, sem efeitos colaterais, e que tem eficiência para complementar a escovação. • Importância do controle de placa supragengival em relação ao controle da doença periodontal: se for realizada uma raspagem, seguida de medidas de controle de placa, ocorre uma melhora marcante das condições periodontais acompanhada de uma pronunciada redução dos seguimentos móveis da microbiota gengival. Se não tiver o controle de placa de 4 a 8 semanas, aquela microbiota patogênica se reinstala è então se o paciente tiver uma boa higiene oral, se mantém os resultados da raspagem. Se o paciente tiver um controle deficiente, ele volta em 4 a 8 semanas a ter a microbiota patogênica presente em proporções significativas, para voltar a doença. • O complexo vermelho está presente na placa supragengival. Assim, é importante que haja o controle dessa placa para se ter confiabilidade nos resultados. 2) Terapia mecânica subgengival: mostra que apesar da teoria ser específica, todo tratamento periodontal feito, a não ser com a utilização de antibióticos, visa um tratamento/teoria inespecífica. Isso porque não se sabe qual tipo de microbiota está presente ao ser feita a raspagem è a raspagem se mostrou um tratamento extremamente confiável nos resultados, sendo às vezes associada à antimicrobianos. Porém não é interessante administrar esses medicamentos para todos os pacientes, principalmente devido a resistência microbiana. • Essa terapia mecânica subgengival tem algumas limitações: Ø Como a capacidade de microorganismos patogênicos de penetrarem nos tecidos periodontais dos túbulos dentinários, faz com que a raspagem não consiga controlar alguns tipos de doença mais agressivas. Ø Em áreas de furca ou em áreas de concavidade da raíz, é difícil se ter um resultado com a raspagem. BEATRIZ ROSA 2016.1 3 Ø Existe a colonização de outras áreas do ecossistema bucal, como o assoalho de boca e papilas linguais, em que há dificuldade de eliminar alguns patógenos específicos. • Assim, essa terapia mecânica subgengival possui as suas limitações, em que alguns casos demandam cirurgias periodontais e outros de antibióticos como complementação dessa terapia. Por que se usa um antisséptico ou antibiótico? A natureza infecciosa da doença; especificidade bacteriana; limitação da eficácia da terapia mecânica (PROVA) qual é a razão que leva o dentista a utilizar um medicamento em periodontia? Qual é a via de administração utilizada? Existem duas vias de administração de medicamentos em periodontia. Via tópica, colocando o medicamento diretamente na região; e a sistêmica, que é a via que vem através do sistema circulatório até a região. Uso de antimicrobianos tópicos para o controle do biofilme supragengival (antissépticos bucais por exemplo). Antimicrobianos tópicos e sistêmicos para o controle de biofilme subgengival. Antimicrobianos tópicos para o controle de biofilme supra gengival O mais comum é a clorexidina. Existem óleos essenciais, como o listerine. Cepacol. Fluoreto estanhoso e triclozam (mais comuns em pastas do que em bochechos, por uma razão de estabilidade). Peróxido de hidrogênio (bochecho com água oxigenada). Quais são os critérios utilizados na escolha de um antisséptico bucal? a. Especificidade: tem que ser o mais específico possível nos periodonto patógenos b. Eficácia antimicrobiana c. Segurança: em relação à efeitos colaterais danógenos. Mesmo antes da era de ouro da microbiologia, vários tipos de bochechos foram utilizados, mas não se tinhanenhum tipo de controle científico dessas substâncias. Assim, não havia controle dos efeitos colaterais. d. Estabilidade: não adianta se criar um medicamento que perca a sua ação em 24 horas, quando guardado. A validade dele precisa ser longa para ser comercializado e utilizado por períodos maiores. e. Substantividade: é o critério que diferencia os diferentes tipos de antissépticos bucais. É o tempo de contato que une uma substância ou um substrato em um dado meio na usa forma ativa. Ou seja, é o tempo em que esse medicamento, ao ser colocado na boca, tenha tempo de atuação e que consegue ficar na boca sem ser eliminado, e assim atinge o seu objetivo. O que depende em uma substância para que ela tenha mais ou menos substantividade? O que depende para ela ter uma ação de mais ou menos tempo? Primeiro, quando ela é bochechada/utilizada, deve se ter uma retenção prolongada, em que deve ser absorvida pelas superfícies orais, para que fique retida na região. Além disso, ela deve manter a sua atividade antimicrobiana uma vez retida na mucosa oral, nos dentes ou em qualquer lugar que ela vá se aderir. Além disso precisa ter uma neutralização mínima pelo meio, para que esse meio não influencie e tente neutralizar a ação dessa substância. 1) CLOREXIDINA: foi sintetizada nos anos 40 para se utilizar como antisséptico na pele. Tem um amplo espectro, para bactérias gram + e -, incluindo a candidíase inicial. • Se adere a todas as superfícies da boca, inclusive em implantes. Possui uma alta substantividade, pois é uma substância dicatiônica, se unindo a bactérias e BEATRIZ ROSA 2016.1 4 polissacarídeos extracelulares. Essa união faz com que haja uma alteração na membrana celular e extravasamento de componentes bacteriano de baixo peso molecular. Consequentemente, provoca a morte celular por uma alteração osmótica. • A sua alta substantividade gera uma ação de 12 horas na boca após o bochecho. Assim, é suficiente indicar dois bochechos ao dia de clorexidina 0,12% ao paciente. Caso aumente a quantidade de bochechos ao dia, pode se gerar mais manchas nos dentes. • Diferença da 0,12% e 0,2%: os estudos mostram que a 0,2% possui, ligeiramente, um melhor nível de controle de placa e de sangramento. A clorexidina possui efeitos colaterais, como quando ocorre uma intensa pigmentação em áreas dentárias e de restauração, que pode ser acentuado com a clorexidina 0,2% e diminui com a 0,12%. Além disso, esses efeitos podem ser acentuados com alguns alimentos, como café, vinho tinto, coca cola, etc, que possuem pigmentos na sua composição que são aderidos ao dente (ou a língua) pelo componente catiônico da clorexidina. • Pode gerar mudança do paladar durante seu uso. 2) CLORETO DE CETILPIRIDÍNIO: é o Cepacol. tem uma atividade antimicrobiana de amplo espectro contra bactérias orais. É um agente monocatiônico, diferente da clorexidina que é dicatiônica. Isso faz com que essa substância possua uma ação e uma substantividade bem inferiores à da clorexidina, precisando ser administrado mais vezes durante o dia para ter o mesmo efeito da primeira substancia citada. Porém, também causa pigmentação nos dentes. • Essa substância é mais indicada em caso de mau hálito, para realizar higiene da língua, por exemplo. Porém, para doença periodontal o seu resultado é bem ruim. 3) ÓLEOS ESSENCIAIS: é o Listerine. Foi criado em 1879 e foi considerado um “roubo de mercado” por terem dado o nome de uma marca à uma substância. O grande questionamento desse medicamento é que em sua composição há o álcool. A ardência provocada durante o bochecho é devido ao timol. • Os óleos essenciais são bactericidas, impedindo a agregação bacteriana de bactérias gram positivas pioneiras. Além disso, a multiplicação bacteriana é retardada, tendo uma menor massa de patogenicidade do biofilme. • Os trabalhos in vitro demonstram a redução de níveis bacterianos salivares, o que permite a utilização do listerine em casos pré operatórios em cirurgias periodontais, extração, em casos que se quer diminuir a carga bacteriana oral do paciente, etc. • Questionamento do Listerine: concentração de álcool nos produtos. O consumo de álcool e fumo corresponde a mais de 70% na população citada no trabalho (EUA), sendo fatores etiológicos importantes para o câncer de boca. Porém, é importante ressaltar que esse álcool consumido em bebidas é diferente do que está na composição do listerine. Ainda não há uma relação direta, comprovada cientificamente, entre o álcool de bochechos e o desenvolvimento de câncer bucal. • Álcool que se bebe e álcool que se bochecha: o uretano, que é um componente cancerígeno, está presente apenas no álcool que se bebe. • O listerine é contra-indicado para crianças por ser patotóxico; em alcoolatras, pois a concentração de álcool no listerine é próxima a concentração do álcool na bebida; pacientes com lesões na mucosa oral devido à ardência provocada. Em relação aos bochechos, a clorexidina é considerada o padrão ouro. Se refere à diminuição do índice de sangramento gengival e redução do índice de placa. (PROVA) a clorexidina é utilizada sempre que o paciente não pode escovar os dentes. O bochecho entra em casos de cirurgia periodontal, trauma, extração dentária, até que se torne ao seu processo normal. Em pacientes com doença de Alzheimer, Parkinson, BEATRIZ ROSA 2016.1 5 limitação física permanente, etc, a clorexidina pode ser administrada por mais tempo, correndo o risco de manchar os dentes. Resumindo: o controle de placa supragengival é feito além da escovação com o fio dental. Pode se utilizar os antissépticos bucais nos casos em que o paciente não pode escovar o local, tendo a clorexidina como primeira escolha. O bochecho ao ser realizado possui uma penetração média na bolsa periodontal de 0,2mm. Na escovação, dependendo da técnica que é utilizada, as cerdas podem penetrar no sulco em até 0,9mm com algum tipo de substância è porém, como o sulco normal tem de 1 a 3mm, essas técnicas não se mostram eficientes no controle de placa subgengival. • Antigamente, se usava soluções irrigadoras que o paciente aplicava dentro da bolsa periodontal. Porém, acabou sendo abandonado do mercado porque os paciente se machucavam mais realizando a técnica do que limpando propriamente a bolsa periodontal. • No consultório de hoje, se pode fazer uma irrigação através de seringas ou agulhas rombas nessa bolsa periodontal. Outra possibilidade são os sistemas de liberação lento, que são dispositivos colocados dentro da bolsa periodontal e que liberam lentamente a substância dentro da bolsa. Substância colocada dentro da bolsa precisa ter: a) Adequada liberação da droga na área b) Tempo suficiente de permanência da droga em contato com o microorganismo alvo c) Alcançar concentrações adequadas no meio: ter substantividade nesse meio subgengival, atuando por um bom tempo O que acontece com o meio subgengival? Teoricamente, se precisa de uma droga que, ao ser colocada dentro da bolsa periodontal, atuasse em 5 minutos, porém não existe nenhum medicamento assim até hoje. A irrigação da bolsa periodontal atua mais como uma limpeza mecânica, que ajuda o fluido a limpar essa área subgengival após a raspagem; do que uma atuação química, como um medicamento. Dispositivo de liberação lenta: criado na década de 70. São fibras de antissépticos e antibióticos colocadas dentro da bolsa periodontal, que podiam ser reabsorvíveis ou retirados após algum tempo. Esses dispositivos iam liberando pouco a pouco o antisséptico/antibiótico dentro dessa bolsa. • Vantagens: concentração 100 vezes maior da droga diretamente na região desejada, tendo mais efeito do que sendo administrada sistemicamente. Reduz os efeitos colaterais e problemas sistêmicos. Reduz o risco de desenvolvimento de microorganismos resistentes aos medicamentos • Desvantagens: colocação local. Irrigaçãofeita sem a liberação lenta é limitada. O tempo de atuação é curto, não funcionando bem quimicamente. Antibióticos: entram no custo benefício. São um leque de opções muito grande: penicilinas, tetraciclinas, entre outros. Existem dois tipos de terapia: utilizando a droga isoladamente (terapia isolada) ou associando à outras drogas (terapia combinada) 1) PENICILINAS: bactericidas. Inibem a síntese da parede celular da bactéria. Gera hipersensibilidade, com reações alérgicas à essa substância. Por ter sido muto utilizada e da maneira errada, as bactérias adquiriram certa resistência à essa substancia, podendo inibir o seu efeito com as beta-lactamases. Por isso, a indústria farmacêutica juntou a amoxicilina com o ácido clavulônico como forma de inibir essa resistência bacteriana. BEATRIZ ROSA 2016.1 6 2) TETRACICLINAS: bacteriostático. Inibem a síntese proteica e tradução de RNA. 3) MINOCICLINA E DOXICICLINA: são os antibióticos mais usados em periodontia. Tem efeito anticolagenase, que inibe a enzima que degrada o colágeno. 4) METRONIDAZOL: bactericida. Primeira escolha para infecções agudas. Primeira escolha para antibioticoterapia em relação à doença periodontal: hoje em dia essa terapia é feita de forma combinada, se utilizando dois antibióticos combinados com a mesma forma de ação (bactericida ou bacteriostático). Se utiliza metronidazol com amoxicilina e clavulin. Porém pode ocorrer um aumento dos efeitos colaterais e aumento do custo do tratamento ao paciente. Essa terapia combinada é a mais indicada para pacientes com doença agressiva. • Vantagens da antibioticoterapia: maior alcance desses medicamentos na bolsa periodontal e região de furca; erradicação de outros patógenos além dos subgengivais. • Desvantagens: resistência; toxicidade, hipersensibilidade; interações medicamentosas; incerteza da colaboração do paciente Na doença periodontal crônica não se utiliza antibioticoterapia, e sim somente a terapia mecânica. Em doenças agressivas, que precisam reestabelecer o equilíbrio ecológico da boca, se utiliza os antimicrobianos. Nesse caso, se o resultado for ruim, é feita uma antibioticoterapia combinada. Doenças periodontais agudas, associada à HIV entre outras doenças, se faz uso de antibióticos. Em pré operatórios, só é administrado um antibiótico caso o paciente tenha prótese cardíaca ou possui histórico de endocardite, e em casos de protocolos de implante. Pós operatório em casos com levantamento do seio maxilar e enxertos grandes.
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