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Periodontite como fator de risco para doenças sistêmicas Bruna Menezes 15.2 A periodontite clássica, periodontite crônica é uma condição não só afeta tecido gengival, mas também tecido ósseo, ocorrendo reabsorção óssea, com formação de bolsas, perda de inserção do epitélio juncional. Ela é a mais associada às doenças sistêmicas e a mais estudada. Por que não se estuda gengivite? Porque gengivite é um quadro incipiente da doença, que facilmente pode ser revertido. Já a periodontite, não, ela precisa de um tratamento mais especializado, mais avançado, em termos de redução da profundidade de bolsa e melhora dos tecidos. O conceito de que o que ocorria na cavidade oral estava associado à doença sistêmica já era estudada desde o século passado. Mas o que é um fator de risco? Um fator de risco pode ser ambiental, comportamental ou biológico, tem uma sequência temporal, geralmente em estudos longitudinais e que aumenta a probabilidade de ter uma doença. E se for removido, diminui essa probabilidade. Uma vez tendo um fator de risco, existe toda uma plausibilidade biológica que tem que ser determinada. Por exemplo, qual a plausibilidade pra DP causar doença cardiovascular? Tem que ter uma hipótese. Uma delas é que a gente sabe que o biofilme da DP possui bactérias altamente patogênicas e existe possibilidade, se tiver uma bolsa profunda, um contato íntimo com a rede capilar, de as bactérias do biofilme ganharem a circulação e irem se alojar no vaso sanguíneo do coração, por exemplo. Essa é uma plausibilidade. Isso é possível? Aí é outra história. Existem várias outras plausibilidades pra doença cardiovascular. Esses estudos tem que ter um poder de associação forte e consistente. Como saber se a periodontite é realmente um fator de risco pra doença cardiovascular?Experimentos básicos, ensaios em laboratório em vitro pra determinar essa correlação. Já se percorreu todos esses caminhos no caso das doenças cardiovasculares, tem vários trabalhos mostrando isso, a invasão das bactérias periodontopatogênicas (Porphyiromona gingivalis) invadindo células endoteliais. A doença periodontal tem sido associada à diversas condições, algumas delas são bastante conhecidas, por exemplo a endocardite bacteriana, diabetes Mellitus, parto prematuro com bebê de baixo peso, pneumonia nosocomial, artrite reumatóide, doença pulmonar obstrutiva, acidente vascular cerebral e doença vascular periférica. Quais são as formas que a DP pode afetar outras regiões do organismo? Uma é a extensão direta da DP com os tecidos adjacentes, sabemos que tem o contato muito íntimo com o biofilme subgengival com o tecido conjuntivo inflamado, a gente vai ter a bactéria ganhando a circulação. Uma outra maneira é a passagem de mediadores inflamatórios, como citocinas produzidas por células do próprio sistema imune e acabam provocando exacerbação de algum processo. Penetração da bactéria oral na circulação sistêmica causando infecções em sítios distantes. Exemplo disso é a endocardite bacteriana, trombose, aterosclerose (presença da bactéria na área do vaso sanguíneo produzindo um processo inflamatório que vai levar a eliminação do trombo e o indivíduo pode desenvolver infarto). Propagação das bactérias orais, seus produtos ou produtos do hospedeiro para sítios distantes, um exemplo são as infecções pulmonares. A alteração na microbiota, durante o estudo da gengivite experimental, foi vista invariavelmente a partir do 7º ao 20º dia, que todos os indivíduos desenvolviam gengivite. Quando reiniciava as medidas de higiene oral, a saúde voltava. Posteriormente, se observou que a resposta imunoinflamatória é muito responsável por essas alterações desse tecido inflamado. Essa resposta imunoinflamatória causa uma destruição do colágeno e produz citocinas e mediadores inflamatórios que não só destroem o tecido conjuntivo, mas também o tecido ósseo. Isso também é influenciado por fatores de riscos ambientais de risco, por exemplo, o tabagismo; e fatores de risco genéticos, por exemplo, se pai ou mãe apresenta doença periodontal, há grandes chances do filho desenvolver, desde que tenha condições favoráveis, principalmente a periodontite agressiva que acomete mais indivíduos jovens. - Resposta inflamatória na periodontite: temos um antígeno da parede celular de uma bactéria, que é combinado com uma proteína e englobado por um macrófago. Esse macrófago, uma vez encapsulado, produz várias citocinas, por exemplo, a mais comum é a IL-1β e TNF-α, que estimula fibroblasto a produzir proteinases que destrói a matriz extracelular ou prostaglandina E2, que é responsável pela reabsorção do osso alveolar. Uma outra via é quando a IL- 1β, TNF-α e prostaglandina são diretamente produzidas pelo macrófago e afetam diretamente a reabsorção do osso alveolar; e também o macrófago pode produzir essas proteinases que destroem de uma forma direta, a matriz extracelular. → Doenças cardiovasculares São as doenças com maior causa de morte no mundo, só perde para doenças infecciosas-parasitárias. Pode ter como fator de risco importante a periodontite. Quatro vias específicas foram propostas para explicar a plausibilidade biológica. Essas vias afetam independentemente e coletivamente. • Efeito bacteriano direto nas plaquetas, uma vez que as bactérias periodontopatogênicas, como Porphyromonas gingivalis cause um dos possíveis efeitos que é diretamente nas plaquetas; • Resposta autoimune, causar esse tipo de associação. • Invasão ou entrada de bactérias em células endoteliais e macrófagos. A Porphyromonas gingivalis tem um alto poder de invasão nas célulass endoteliais, se ela invadir esse espaço, ela pode ganhar a área intima do vaso sanguíneo; • Efeitos endócrinos e mediadores pró inflamatórios. → Endocardite bacteriana Condição severa que é causada, geralmente por Streptococcus sanguinis e Streptococcus viridans, que são bactérias presentes na placa supragengival. E outras bactérias podem também estar associadas, por exemplo bactérias gram -, como Porphyromonas gingivalis. Atinge as válvulas cardíacas, é uma infecção que uma vez instalada, é bastante difícil de ser tratada. O paciente deve ser internado e tomar antibiótico endovenoso. E quando formos tratar algum paciente que já teve esse quadro, devemos fazer profilaxia antibiótica, porque a principal bactéria está no biofilme supragengival e com um simples polimento coronário, pode haver a inoculação da bactéria. → Paciente com risco de doença coronariana, deve ter bolsas periodontais profundas, ter depósitos de placas visíveis sobre a superfície dos elementos dentários, deverá ser fumante ou ex fumante, diabético, ter histórico familiar coletivo de doença coronariana, elevados níveis de proteína C reativa, que é um marcador inflamatório presente, fibrinogênio e citocinas inflamatórias elevadas. A periodontite moderada ou avançada pode aumentar o nível de inflamação sistêmica que pode ser medida pela proteína C reativa, é um método que se usa como marcador de risco pra um possível problema cardiovascular; uma coisa que se sabe hoje em dia é que o tratamento periodontal reduz o risco de PCR (proteína C reativa). Um indivíduo com periodontite grave ou moderada, se medir o PCR e fizer o tratamento, tem uma diminuição significativa do PCR.
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