Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Odontologia UFPE Periodontia | Urgências em periodontia �2021.1� Atualidades em medicina periodontal A medicina periodontal estuda a relação entre a periodontite e complicações sistêmicas, como agente agravante ou sendo o agente causador. “Até agora, a periodontite tem sido vista como uma doença geralmente assintomática que não é tipicamente considerada em avaliações físicas e médicas.“ A periodontite é uma doença grave e complexa, com prevalência mundial em torno de 50%. Ainda, é considerada a 6ª doença mais prevalente no mundo e, além disso, se considerarmos apenas os casos graves de periodontite, 11% da população é afetada (estágios III e IV�. Ela acarreta na perda dos tecidos de suporte (os tecidos de sustentação), perdas dentárias, comprometimento nutricional, da fala e da auto-estima — reduzindo assim, a qualidade de vida como um todo. Conceitualmente falando, a periodontite é uma doença crônica inflamatória multifatorial associada a um biofilme disbiótico. Dessa maneira, ela compromete a homeostase dos tecidos do hospedeiro e progride para a perda de inserção periodontal e perda óssea. Além disso, a periodontite é considerada um modelo de emergência polimicrobiana e exacerbação disbiótica mediada por inflamação. �Van Dyke et al, 2020� Para a instalação da periodontite, é necessária uma disbiose associada a inflamação crônica de baixo grau e disfunção imunológica. Ao passo em que a inflamação progride e o biofilme encontra-se em contato com todas as superfícies de tecido exposto, ocorre a translocação das bactérias ou mesmo da própria inflamação. Isso ocorre devido ao fato de os mediadores da inflamação (interleucinas e citocinas produzidas), assim como os periodontopatógenos poderão ganhar a circulação sanguínea e linfática e alcançar outros tecidos sistemicamente. Doenças crônicas não transmissíveis Todas as doenças crônicas não transmissíveis apresentam fatores etiológicos semelhantes (disbiose, disfunção imune e inflamação crônica de baixo grau). Hoje a periodontite pode ser considerada uma doença crônica não transmissível. Haja vista esse aspecto, faz-se necessário ter uma abordagem terapêutica que leve em conta os fatores de risco comuns a todas as DCNT. As principais DCNT hoje são câncer, diabetes, as infecções crônicas pulmonares e cardiovasculares. Aproximadamente ⅔ das mortes causadas por doenças crônicas não transmissíveis estão relacionadas à fatores como: ● Tabagismo; ● Alcoolismo; ● Maus hábitos alimentares; ● Sedentarismo. Perfil dos pacientes acometidos pela periodontia É muito comum que os pacientes tenham outras doenças além da periodontia, tais como: Hipertensão, alergias, doenças respiratórias, diabetes, desordens músculo-esqueléticas, outras doenças cardiovasculares, doenças endócrinas. Periodontite: ulceração epitelial O principal fator que liga a periodontite com o agravamento das outras condições sistêmicas é a ulceração epitelial, que provoca uma exposição do tecido conjuntivo ao contato com o biofilme. Desse modo, as substâncias inflamatórias que estão sendo produzidas na região do sulco gengival e da bolsa periodontal estão em contato com essa área de ulceração epitelial. Assim, como os tecidos periodontais são extremamente vascularizados, fica evidente a conexão desses tecidos com o restante do corpo. Portanto, essas bactérias e os mediadores da inflamação podem atingir qualquer parte do corpo humano, visto que, de acordo com Page �1998�, um paciente com periodontite generalizada, com cerca de 6mm de PS em média, possui cerca de 53cm² (tamanho da palma da mão de um adulto) de tecido epitelial ulcerado e exposto ao contato com as bactérias do biofilme. Logo, um paciente com periodontite possui uma área de epitélio ulcerado muito extensa na cavidade bucal. As principais vias de disseminação das bactérias periodontais e seus subprodutos metabólicos são a: hematogênica, linfática, orofaríngea, aspiração www.viniciusbandeira.one http://www.viniciusbandeira.one Odontologia UFPE Periodontia | Urgências em periodontia �2021.1� Periodontite e diabetes É uma relação bidirecional, na qual ambas as doenças se impactam mutuamente. “A prevalência, incidência e a progressão da periodontite, bem como a taxa de perda dentária são maiores em pacientes com diabetes e controle glicêmico deficiente.” “Em crianças e adolescentes, a gengivite também tem sido reportada. Todas essas condições podem impactar na redução da qualidade de vida dos pacientes.” �IDF, Diabete Atlas, 2019� Portanto, de acordo com as diretrizes da da Sociedade Brasileira de Diabetes, é recomendado fazer o rastreamento para diabetes nos pacientes que apresentem comorbidades relacionadas ao diabetes secundários, como endocrinopatias e doenças pancreáticas, ou com condições frequentes associadas ao DM, como infecções por HIV, doença periodontal e esteatose hepática. Nos estudos mais recentes, as evidências científicas mostram que a infecção periodontal gram-negativa provoca um aumento da resistência à insulina e consequente pior controle glicêmico. Da mesma maneira, o tratamento periodontal reduz a inflamação e provoca uma melhor sensibilidade à insulina, com consequente melhor controle sistêmico. Ou seja, o paciente diabético com periodontite diagnosticada, deve ter o tratamento periodontal realizado imediatamente. Porém, caso não seja diagnosticada a periodontite, o paciente deve passar por cuidados preventivos e um monitoramento regular (periograma). Fisiologicamente falando, nos níveis glicêmicos elevados, a glicose é ligada à hemoglobina dos glóbulos vermelhos, formando a hemoglobina glicada �HbA1c), um composto de caráter irreversível. Por isso o exame de hemoglobina glicada é mais fidedigno ao estado de glicemia dos últimos dias, em relação ao de glicemia em jejum, visto que este por sofrer variações. Conclui-se que pacientes que têm diabetes e periodontite, possuem complicações mais graves do que aqueles pacientes com diabetes que não possuem periodontite. Para mais, revisões sistemáticas demonstram redução de HbA1c e glicose plasmática em jejum em 3�4 meses após o tratamento periodontal. Periodontite e desfechos adversos da gestação Os dois principais são o parto prematuro e o baixo peso ao nascimento. É considerado parto prematuro o nascimento de bebês com menos de 37 semanas de gestação. Já o baixo peso é considerado em bebês que nascem com menos de 2500g. Eles podem acontecer isoladamente ou simultaneamente. É importante lembrar que a periodontite é considerada um reservatório de bactérias/patógenos periodontais (lipopolissacarídeos, toxinas, citocinas pró-inflamatórias). Nesse contexto, entende-se que existem uma série de citocinas que estão presentes e relacionadas em casos de parto prematuro. As principais citocinas que estão associadas com a ruptura da membrana placentária são: IL�1a, IL�1b, IL�6, IL�8, TNF�A, PGE�2. Contudo, elas também estão associadas ao parto prematuro, com a ruptura prematura das membranas “rupreme” e a liberação de citocinas que vai levar então às contrações uterinas prematuras. Essas citocinas mencionadas também estão relacionadas com a periodontite, visto que as gestantes com periodontite possuem um aumento de citocinas, tanto no local dos tecidos periodontais quanto sistemicamente. Em paralelo a isso, o baixo peso no nascimento também vem sendo estudado, visto que a citocina relacionada a esses casos é a TNF�A. O TNF�A atua prevenindo a captura e a na utilização de lipídios pelas células tumorais. Por conta disso, o tratamento periodontal deve ser sempre recomendado, idealmente, antes da concepção, no caso das gestações planejadas. �Taniguchi-Tabata et al., 2020� Periodontite e doenças cardiovasculares O conceito de ativação endotelial é um conceito central para a plausibilidade biológica da relação entre a periodontite e as doenças cardiovasculares. A partir de um estímulo inflamatório ou microbiano nas paredes do endotélio vascular, o endotélio expressa moléculas de adesão. No caso da periodontite, os agentes bacterianos e os mediadoresda inflamação estão presentes na circulação, assim, a parede dos endotélios está www.viniciusbandeira.one http://www.viniciusbandeira.one Odontologia UFPE Periodontia | Urgências em periodontia �2021.1� sempre sendo estimulada, tanto por essas bactérias quanto por esses mediadores da inflamação. A partir disso, há uma maior expressão das moléculas de adesão ao endotélio. Com essa maior expressão, os monócitos vão migrar pela parede do vaso, os quais passarão a ser chamados de macrófagos, cuja principal função é realizar a fagocitose. Esses macrófagos irão começar a fagocitar a LDL oxidada presente na parede do vaso. A partir desse momento, eles começam a ser chamados de células espumosas. Essas células vão acumulando os lipídios até o momento em que sofrem apoptose e se transformam na placa de ateroma. À medida que essa placa aumenta de volume, ela vai empurrando a parede do vaso em direção a luz do vaso, a qual diminui de tamanho, no processo conhecido como aterogênese. Atualmente sabe-se que a periodontite, tanto pelas bactérias quanto pelos mediadores da inflamação estimulam a formação aterogênica nas paredes dos vasos. Além disso, os patógenos periodontais estimulam a proliferação das células do músculo liso, o que aumenta o volume da região da parede do vaso e diminui a sua luz. Posteriormente, sabe-se também que a placa de ateroma pode romper a parede do vaso, iniciando um processo de coagulação, formação de trombos que podem se soltar e “navegar” pela circulação sanguínea e chegar em outras partes do corpo, provocando obstrução dos vasos em outras regiões. Os desfechos agudos da aterogênese são infarto agudo do miocárdio quanto o AVC. Epidemiologicamente falando, a incidência de doença aterosclerótica é maior em indivíduos com periodontite. A terapia periodontal pode impactar eventos cardiovasculares pela redução dos múltiplos fatores de risco. Ela reduz a inflamação pela redução da PCR, melhora a dilatação fluxo mediada, reduz a pressão arterial, reduz a espessura da carótida, reduz o LDL e com isso, reduz os eventos cardiovasculares. �Orlandi, Graziani & D’Aiuto, 2020� Medicina periodontal na prática clínica Portanto, conclui-se que o papel do cirurgião dentista é, antes de tudo, informar aos pacientes que a periodontite é um fator de risco para outras doenças, assim como os pacientes portadores de DCNT precisam de acompanhamento periodontal. A prática preventiva moderna precisa ser baseada na identificação do risco dos indivíduos, entender todo o contexto de saúde, educacional, econômico daquele paciente, além da importância da avaliação nutricional, do aconselhamento sobre uma dieta saudável e da redução do consumo de açúcar. �Chapple et al., 2017� Pacientes com alterações cardiovasculares escleróticas �Sans et al., 2013� Atualmente, a orientação para terapia periodontal não-cirúrgica para pacientes com alterações cardiovasculares escleróticas é que ela seja realizada em sessões de 30�45min de duração, para minimizar o risco de alterações sistêmicas agudas nestes pacientes. Pacientes diagnosticados com diabetes �Newman & Carranza, 2020� Para pacientes com diagnosticados com diabetes, deve-se realizar uma conversa com o médico que acompanha esse paciente, e caso ele não possua esse acompanhamento, deve-se encaminhar o paciente para uma consulta médica, bem como realizar análises dos exames laboratoriais e excluir infecções agudas (tratamento de urgência), estabelecer a melhor saúde bucal possível �OHB, debridamento não cirúrgico do biofilme e cálculo), limitar cuidados avançados até o diagnóstico e bom controle glicêmico. Mulheres em idade fértil e/ou gestantes As mulheres em idade fértil e/ou gestantes devem estar submetidas a higiene bucal, exame periodontal/gráficos, a revisão dos efeitos dos hormônios femininos no periodonto, dos possíveis efeitos da inflamação periodontal sobre o feto, a manutenção periodontal. Para uma paciente grávida que esteja com uma condição periodontal estável, o tratamento periodontal é mais segundo durante o segundo trimestre, evitando também medicamentos das categorias C e D. www.viniciusbandeira.one http://www.viniciusbandeira.one Odontologia UFPE Periodontia | Urgências em periodontia �2021.1� Para uma paciente grávida com inflamação, deve-se realizar uma consulta com obstetra/ginecologista, e realizar preferivelmente o desbridamento no segundo trimestre, mas em casos de moderado a grave, o tratamento é recomendado independentemente da fase da gravidez, também evitando medicamentos das categorias C e D. www.viniciusbandeira.one http://www.viniciusbandeira.one
Compartilhar