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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CAROLINA BARBOSA JOVINO DE SOUZA COSTA ABORTO PROVOCADO E SUA INTERFACE COM A GRAVIDEZ NÃO PLANEJADA FORTALEZA-CE 2012 1 CAROLINA BARBOSA JOVINO DE SOUZA COSTA ABORTO PROVOCADO E SUA INTERFACE COM A GRAVIDEZ NÃO PLANEJADA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Enfermagem - Mestrado, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Enfermagem. Área de concentração: Enfermagem na Promoção da Saúde. Orientadora: Prof a . Dr a . Escolástica Rejane Ferreira Moura FORTALEZA-CE 2012 1 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo ou pesquisa, deste que citada à fonte. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências da Saúde C871a Costa, Carolina Barbosa Jovino de Souza. Aborto provocado e sua interface com a gravidez não planejada / Carolina Barbosa Jovino de Souza Costa. – 2012. 72 f.: il., enc.; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará; Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem; Departamento de Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Fortaleza, 2012. Área de Concentração: Enfermagem na Promoção da Saúde. Orientação: Profa. Dra. Escolástica Rejane Ferreira Moura. 1. Planejamento Familiar. 2. Aborto Induzido. 3. Contracepção. I. Título. CDD 613.94 2 CAROLINA BARBOSA JOVINO DE SOUZA COSTA ABORTO PROVOCADO E SUA INTERFACE COM A GRAVIDEZ NÃO PLANEJADA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - Mestrado, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Enfermagem. Aprovada em ___/___/___ BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Profª. Drª. Escolástica Rejane Ferreira Moura (Presidente) _____________________________________________ Profª. Drª. Raimunda Magalhães da Silva (1º. Membro) _____________________________________________ Prof. Dr. Paulo Cesar de Almeida (2º. Membro) _____________________________________________ Profª. Drª. Mônica Oliveira Batista Oriá (Membro Suplente) 3 Dedico este trabalho a Deus, meu Senhor e protetor. Pela Sua luz em minha vida que permitiu mais essa vitória. 4 AGRADECIMENTOS Ao Senhor Deus Todo Poderoso, Maravilhoso, Príncipe da Paz, Conselheiro Fiel, que és tudo em minha vida e que abriu as portas do Mestrado para mim. Ao meu esposo amado, presente de Deus, Marcelo de Lima Costa, companheiro compreensivo, que esteve sempre ao meu lado somando forças para o meu caminhar, motivando-me a não desanimar mediante as dificuldades. À minha mãe, Íris Andrade Barbosa, exemplo de ternura e motivação, que soube me preparar para viver em justiça, amor e respeito. Sempre presente na minha caminhada. Às minhas irmãs, Juliana Barbosa Sales e Gabriela Barbosa Jovino de Souza Moreira, que torceram pela minha vitória. À Profa. Dra. Escolástica Rejane Ferreira Moura, amiga, companheira, amorosa. Exemplo de força e de fé. Ensinando a todos ao seu redor que ao andar devemos enxergar as flores que estão no caminho. Ao Prof. Dr. Paulo César de Almeida pelo apoio no tratamento estatístico dos resultados e pela simplicidade, alegria e carinho com que nos acompanha, ensinando as lições mais complexas. Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Departamento de Enfermagem (DENF) da Universidade Federal do Ceará (UFC) meus sinceros agradecimentos pela competência, eficiência e excelência do programa assistindo todos os alunos com gentileza e qualidade. Ao Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará e ao Hospital Geral Dr. César Cals meus gratos agradecimentos pela oportunidade ímpar de ter as suas portas abertas para nossa pesquisa e a seriedade do serviço. Às Mulheres que aceitaram participar deste estudo, pois sem as mesmas, este não teria sido realizado. Ao Grupo de Estudo em Enfermagem em Saúde Sexual e Reprodutiva (GESARE) pelo incentivo, pelos conhecimentos trocados e pelo crescimento compartilhado. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) o meu sincero agradecimento pelo incentivo financeiro e credibilidade depositado em mim. 5 À Debora de Araujo Moreira, Adman Câmara Soares Lima, Maria Goretti Soares Monteiro, companheiras nesta caminhada. Amigas, meus agradecimentos pela amizade cultivada em nosso mestrado. 6 “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem.” Salmos 103:11 7 RESUMO Tratou-se de estudo com abordagem quantitativa, transversal, do tipo levantamento, que teve como objetivo geral investigar sobre a prática do aborto provocado e sua relação com a gravidez não planejada, comparativamente com o aborto espontâneo e como objetivos específicos analisar aspectos demográficos, socioeconômicos e reprodutivos comparativamente ao aborto provocado e espontâneo; verificar o conhecimento e a prática anticoncepcional prévia a gestação interrompida por aborto provocado e por aborto espontâneo e conhecer os meios utilizados na prática do aborto provocado e os motivos determinantes. Foi realizado no Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará e no Hospital Geral Dr. Cesar Cals (HGCC), de junho a dezembro de 2011. A população correspondeu às mulheres em abortamento com idade maior ou igual a 18 anos atendidas nos respectivos hospitais no período da coleta de dados. A entrevista seguiu um formulário estruturado, que foi pré-testado. Finalizou-se o estudo com 70 participantes, sendo 33 (47,1%) mulheres que tiveram aborto provocado e 37 (52,9%) aborto espontâneo. Os dados receberam tratamento estatístico descritivo e as comparações das médias dessas variáveis e o tipo de aborto foram realizados por meio do teste t de Student para dados independentes e com variância desiguais (analisadas pelo teste de Levene). Compararam-se, somente para aborto provocado, as porcentagens das variáveis dicotômicas por meio do teste z para proporções. As análises de associações entre tipo de abortamento e as variáveis nominais foram realizadas por meio do 2 e de razão de verossimilhança. Calcularam-se as razões de chances (RC) com seus respectivos IC95% entre tipo de abortamento e essas variáveis. Consideraram-se como estatisticamente significantes as analises com p<0,05. Dentre as variáveis demográficas e socioeconômicas, somente a média do número de pessoas na família apresentou associação com o tipo de aborto (p= 0,042). Com relação às variáveis reprodutivas e condição de união, houve associação entre planejamento da gravidez e tipo de aborto (p<0,001) (RC=2,4; IC95%: 1,7-3,3). Isto evidencia que a gravidez não planejada foi um fator de risco para o aborto provocado. A média do tempo de união das que tiveram aborto espontâneo foi maior do que aquelas de aborto provocado (p= 0,041). Participação masculina na decisão pelo aborto mostrou-se como fator de risco para o aborto provocado (p=0,002). Nenhuma variável relacionadaà informação e acesso ao MAC em uso prévio ao aborto foi significativa para o tipo de aborto. Houve associação entre uso de AOC e tipo de aborto, sendo o uso de AOC fator protetor ao aborto provocado (p=0,040). Pensamento mágico de acreditar que a gravidez não ocorreria consigo foi significante com o tipo de aborto (p=0,003). Chás e misoprostol foram os meios mais referidos pelas mulheres para provocar o aborto, sendo os motivos para provocá-lo a baixa condição financeira, seguida do relacionamento instável e do despreparo para cuidar da criança. Concluiu-se que promover ações efetivas de planejamento familiar, com prioridade para as populações mais carentes e com estratégias que garantam a participação masculina representam meios para reduzir o aborto provocado. Descritores: Planejamento Familiar; Aborto Induzido; Contracepção. 8 ABSTRACT This is a research study with quantitative and transversal approach aiming to investigate the induction of abortion and its relationship with an unplanned pregnancy, in comparison with natural abortion. It also aimed to analyse the demographic, socioeconomic and reproductive aspects of both methods of abortion; verify the knowledge and use of contraceptive methods prior to the interrupted pregnancy through induced and natural abortion and know which methods are used for induced abortion and it motifs. The study took place at the District Hospital Gonzaga Mota in Barra do Ceará and General Hospital Dr. Cesar Cals (HGCC), from June until December of 2011. The population consisted of women in abortion and over 18 years of age who were being assisted at the hospitals during data collection. The interview followed a structured questionnaire that was previously tested. The study consisted in the end with 70 participants, being 33 (47,1%) women who induced abortion and 37 (52,9%) with natural abortion. The data were analysed with descriptive statistics and the comparison of the means of these variables and the type of abortion were done with the Student t test for independent data and with unequal variance (analysed with Levene’s test). It was compared only for induced abortion, the percentage of dichotomous variables with the z test for proportions. The association analysis between the type of abortion and the nominal variables were conducted with 2 and likelihood ratio. It was calculated the chance ratios (CR) with its respective IC95% between the type of abortion and these variables. It was considered as statistically significant, analysis with p<0,05. Amongst the demographic and socioeconomic variables, only the average number of people in the family presented association with the type of abortion (p= 0,042). Regarding reproductive variables and marital status, there was an association between planning of a pregnancy and abortion (p<0,001) (RC=2,4; IC95%: 1,7-3,3). This shows that an unplanned pregnancy was a risk factor for induced abortion. The average time of union with their partner was higher in women with natural abortion than in those with induced abortion (p= 0,041). It was shown that the male participation in the decision of an abortion is a risk factor for induced abortion (p= 0,002). Variables regarding information and access to contraceptive methods prior to the abortion were not significant to the type of abortion. There was an association between the use of AOC and type of abortion, being the use of AOC a protective factor to induced abortion (p= 0,040). The belief that a pregnancy would not occur with themselves was significant with the type of abortion (p= 0,003). Herbal teas and misoprostol were the most frequent methods mentioned by the women to induce an abortion, being their low economical situation, followed by an unstable relationship and unpreparedness to take care of a child the main reasons to render towards these methods. It was concluded that promoting effective methods of family planning, prioritizing poorer populations, with strategies that assures male participation represent means to reduce induced abortions. KEY WORDS: Family Planning; Abortion, Induced; Contraception . 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Distribuição do número de mulheres segundo variáveis demográficas e socioeconômicas por tipo de aborto. Hospital Geral Dr. César Cals e Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará. Fortaleza-CE, jun.-dez. 2011. 40 Tabela 2. Distribuição do número de mulheres segundo variáveis reprodutivas e de união por tipo de aborto. Hospital Geral Dr. César Cals e Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará. Fortaleza, jun.-dez. 2011. 43 Tabela 3. Distribuição do número de mulheres segundo participação do parceiro na decisão do aborto provocado. Hospital Geral Dr. César Cals e Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará. Fortaleza, jun.- dez. 2011. 46 Tabela 4. Distribuição do número de mulheres segundo informação e acesso ao método anticoncepcional em uso prévio ao aborto atual. Hospital Geral Dr. César Cals e Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará. Fortaleza, jun.- dez. 2011. 48 Tabela 5. Distribuição do número de mulheres segundo método anticoncepcional em uso prévio ao aborto atual e tipo de aborto. Hospital Geral Dr. César Cals e Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará. Fortaleza, jun.- dez. 2011. 50 Tabela 6. Distribuição do número de mulheres segundo meios usados na prática do aborto, fontes de obtenção de informações sobre os meios e motivos para a prática do aborto provocado. Hospital Geral Dr. César Cals e Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará. Fortaleza, jun.- dez. 2011. 52 10 LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS AE Anticoncepcionais Orais de Emergência AIC Anticoncepcionais Injetáveis Combinados AMIU Aspiração Manual Intra-Uterina ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária AOC Anticoncepcionais Orais Combinados de baixa dose AP Anticoncepcionais só de Progestógeno AT Adesivo Transdérmico BARR Métodos de Barreira BEMFAM Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar no Brasil BVS Biblioteca Virtual de Saúde CAISM Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher CEME Central de Medicamentos CI Coito Interrompido CIPD/94 Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento-94 CNSM Coordenação Nacional de Saúde do Mercosul DIU Dispositivos Intrauterinos DST Doenças Sexualmente Transmissíveis ECA Estatuto da Criança e do Adolescente ESF Estratégia Saúde da Família FIGO Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia HGCC Hospital Geral Dr. César Cals IPPF International Planned Parenthood Federation LAM Método da Lactação com Amenorreia MAC Métodos Anticoncepcionais MBPF Métodos Baseados na Percepção da Fertilidade MERCOSUL Mercado Comum do Sul MQI Método das Questões Indiretas MS Ministério da Saúde MU Método da Urna OMS Organização Mundial de Saúde PAISM Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher 11 PF Planejamento Familiar PNA Pesquisa Nacional de Aborto PNAISM Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher RENAME Relação Nacional de Medicamentos Essenciais SER-I Secretaria Executiva Regional I SM Salário Mínimo SUS Sistema Único de Saúde UFC Universidade Federal do Ceará USAID U.S. Agency for International Development 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................14 2 OBJETIVOS.......................................................................................................................202.1 Objetivo Geral.................................................................................................................20 2.2 Objetivos Específicos......................................................................................................20 3 REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................................21 3.1 Políticas e práticas de saúde voltadas ao planejamento familiar e ao aborto no Brasil .....................................................................................................................................21 3.2 Aborto provocado e prática anticoncepcional..............................................................28 3.3 Aborto provocado: motivos para fazê-lo e meios utilizados........................................33 4 METODOLOGIA..............................................................................................................36 4.1 Tipo de Estudo................................................................................................................36 4.2 Local do estudo...............................................................................................................36 4.3 População e amostra.......................................................................................................37 4.4 Coleta de dados...............................................................................................................38 4.5 Organização dos dados para análise.............................................................................39 4.6 Aspectos Éticos ...............................................................................................................39 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................40 5.1 Características demográficas e socioeconômicas das participantes do estudo..........40 5.2 História reprodutiva e condição de união das participantes.......................................43 5.3 Informação, acesso e MAC em uso prévio ao aborto atual.........................................48 5.4 Meios usados na prática do aborto, fontes de obtenção de informações sobre os meios e motivos para a prática do aborto provocado ......................................................52 13 6 CONCLUSÕES..................................................................................................................57 REFERÊNCIAS...................................................................................................................59 APÊNDICE – A: FORMULÁRIO DE ENTREVISTA....................................................67 APÊNDICE – B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO........69 ANEXO – A: PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ...........................................................................................................................71 ANEXO – B: PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DO HOSPITAL GERAL DR. CÉSAR CALS.......................................................................................................................72 14 1 INTRODUÇÃO s eventos no campo da saúde sexual e reprodutiva marcam a trajetória de vida das pessoas, envolvem terceiros e são decididos, muitas vezes, sem o devido conhecimento de causa, podendo gerar arrependimento, comprometimento da saúde nas áreas física, psicológica e/ou social e até o óbito. Nesse contexto, destaca-se o aborto provocado. Sob o ponto de vista obstétrico, o aborto é definido como sendo a expulsão do concepto antes da 22ª. semana de gravidez ou a perda do concepto com menos de 500g de peso. Este pode se apresentar sob as formas clínicas de ameaça de abortamento, abortamento inevitável, abortamento incompleto, completo, retido, habitual e infectado e quanto ao princípio causal o mesmo é classificado como espontâneo e provocado (REZENDE FILHO ; MONTENEGRO, 2008). O aborto provocado ocorre quando o término da gestação se dá mediante a interferência deliberada, antes que o feto seja capaz de ter vida extra-uterina, e inclui aqueles previstos ou não por lei (OLINTO ; MOREIRA-FILHO, 2006). A ameaça de abortamento compreende a presença de sangramento vaginal de origem intra-uterina no transcurso da gestação, enquanto o abortamento inevitável é o sangramento vaginal que ocorre com o colo uterino dilatado, acompanhado da perda de líquido amniótico pela ruptura das membranas. O abortamento incompleto é a expulsão parcial do concepto ou da placenta, todavia a expulsão total do concepto nomeia-se como abortamento completo. O abortamento retido é a morte fetal sem a expulsão do concepto, podendo ter ou não sangramento vaginal. Já o abortamento habitual é a interrupção sucessiva de gestações. Quando ocorre infecção no processo de aborto, este é definido como aborto infectado, que em muitos casos está associado ao aborto induzido ou provocado sob más condições de higiene e assepsia (REZENDE FILHO ; MONTENEGRO, 2008). O aborto pode ser classificado como seguro ou como aborto de risco. Como categorias já reconhecidas internacionalmente são assim descritas: aborto seguro é o que representa risco mínimo para a parturiente, como o aborto médico ou cirúrgico realizado em condições técnicas adequadas e com os recursos e meios necessários. Já o aborto de risco é um procedimento para interrupção de uma gestação indesejada, realizada em ambientes sem padrões médicos mínimos e/ou realizados por pessoas não habilitadas (FAÚNDES ; BARZELATTO, 2004). O 15 O aborto provocado constitui uma prática antiga, evidenciada em relatos históricos. Na antiga Grécia, por exemplo, o aborto era preconizado por Aristóteles (384 - 322 a.C.) como método eficaz para limitar os nascimentos e manter estáveis as populações das cidades gregas. Por sua vez, Platão (427 – 347 a.C.) opinava que o aborto deveria ser obrigatório, por motivos eugênicos, para as mulheres com mais de 40 anos e para preservar a pureza da raça dos guerreiros. Sócrates (470 – 399 a.C.) aconselhava às parteiras, por sinal profissão de sua mãe, que facilitassem o aborto às mulheres que assim o desejassem (FRENTE DE MULHERES FEMINISTAS, 1980 apud SCHOR ; ALVARENGA, 1994). Aristóteles como filho de médico teve inclinação para estudar a natureza humana e, Platão, ateniense, envolvido com a política desde muito jovem se colocava em favor da pureza da raça grega, como já citado. Sócrates como filósofo, a viver em praças e ruas estudava a sociedade ouvindo a população e apoiando a liberdade de escolha desta sociedade. Como o aborto perpassa pela saúde, política e pelo social, estes pensadores que marcaram suas épocas não se omitiram em falar sobre este assunto, pertinente até os dias atuais. Este tema guarda estreita relação com o enfermeiro e demais membros da equipe de enfermagem (técnico e auxiliar de enfermagem), que tanto atuam na promoção da saúde sexual e reprodutiva, desenvolvendo atividades voltadas ao conhecimento do corpo, da prática do sexo seguro, da gravidez planejada (aspectos que reduzem a prática do aborto provocado) quanto atuam na assistência direta às mulheres no abortamento em curso ou em pós-aborto. Neste contexto, inclui os cuidados de enfermagem em hospitalização, na resolução do aborto, prevenção de infecções e de acolhimento às necessidades emocionais da cliente. A Enfermagem mantém sua atuação nessa área da saúde desde a antiguidade, como parteiras empíricas, institucionalizando-se e culminando, nos dias atuais, com a formação em nível de Especialização em Enfermagem Obstétrica. Atualmente, vários países têm a prática do aborto legalizada, como a maior parte dos países mulçumanos da Ásia, metade dos países africanos, Bélgica, Irlanda do Norte, Malta e China, antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e Cuba (HALBE, 1993; FUSCO; ANDREONI; SILVA, 2008). Os EUA permitem o aborto até o quinto mês de gestação; na França, a legalização ocorreu em 1975, sendo atualizada em 2001, quando o aborto passou a ser permitido até o terceiro mês de gravidez; no Reino Unido o aborto foi legalizado em 1967, estando autorizado até a 24ª semana de gravidez; Portugal legalizou o aborto recentemente até a 10ª semana de gravidez (SEGATTO, 2007). No entanto, em países como Brasil, Uruguai e Argentina o aborto é considerado crime de acordo em seus respectivos códigos penais (ROCHA; ROSTAGNOL ; GUTIERREZ, 2009). Por outro lado, o Chile não 16 prevê o aborto nem quando a vida da mãe está em risco e os casos são julgados individualmente, enquanto na China o aborto funciona como medida de controle populacional (SEGATTO, 2007). No Código Penal Brasileiro, o artigo 128º estabelece o aborto como um crime contra a vida, exceto quando põe a vida da mãe em risco e em casos de estupro (ANGHER, 2007). O artigo 2º da lei n o . 10.406 do Código Civil Brasileiro estabelece desde a concepção, a proteção jurídica aos direitos do nascituro, e o artigo 7º da lei n o . 8.069 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) dispõe que a criança tem direito à vida, mediante a efetivação de políticas públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso (ANGHER, 2OO7). Do exposto, percebem-se posições extremamente diversificadas dos países com relação à legalização do aborto, passando por sua não previsão mesmo quando a vida materna está em risco, legalização em idades gestacionais variáveis (10ª., 20ª. e 24ª. semanas de gestação) até funcionando como medida de controle populacional. Com o Sistema Único de Saúde (SUS) instituído no Brasil, em 1986, que tem como princípios norteadores a universalidade, a integralidade e a equidade, a população ganhou a garantia de acesso livre e de qualidade aos serviços de saúde nos níveis primário, secundário e terciário. Entre os vários níveis destaca-se o primário, cuja atenção voltada ao Planejamento Familiar (PF) constitui área prioritária, devendo ser ofertada em todo território nacional pelas equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), introduzida no país em 1994. Destaca-se seu pioneirismo no município de Quixadá, no Ceará, levando os serviços de saúde para próximos de onde as pessoas viviam ou trabalhavam de modo oportuno, humanizado e resolutivo (SOUZA, 2000). A ESF tem melhorado o acesso da população aos serviços de PF em âmbito nacional, porém lacunas se mantêm no que diz respeito à acessibilidade à informação e aos meios e técnicas de anticoncepção, o que eleva o número de mulheres com gravidez não planejada, evento que, por sua vez, aumenta o número de casos de aborto provocado e ilegal. Não obstante, muitas mulheres permanecem fora desses serviços por desconhecimento; pelas grandes distâncias que as separam das unidades de saúde, particularmente nas áreas rurais; pela escassez de atendimento fora do horário de trabalho; obstáculos impostos pelos profissionais, parceiros, bem como por tabus e mitos que permeiam a saúde sexual e reprodutiva. Em se tratando de adolescentes, fato específico afasta este público-alvo dos serviços de PF, uma vez que a busca pelos Métodos Anticoncepcionais (MAC) se consolida como a declaração de vida sexual ativa, algo que preferem manter sob sigilo. 17 Os serviços de PF devem oferecer acompanhamento às mulheres, homens e/ou casais, a incluir orientações sobre eficácia, mecanismo de ação, uso adequado, possíveis efeitos colaterais e complicações dos MAC, bem como os próprios meios e técnicas para o alcance da anticoncepção, de modo que a gravidez possa ser planejada e, consequentemente, ter menor chance de ser finalizada pelo abortamento provocado. Estudo realizado com 800 nativivos em maternidade pública de Salvador-BA corrobora esta assertiva ao verificar que 418 (52,3%) mulheres não haviam planejado a gravidez e 128 (16%) destas realizaram tentativas de abortamento no primeiro trimestre de gestação (MOREIRA et al., 2001). Em estudo realizado com 375 mulheres na Zona Norte da cidade de São Paulo, na Favela Inajar de Souza, as mulheres referiram o não uso de MAC em 70,7% dos casos das gestações terminadas em aborto. Entre o grupo de mulheres com histórico de aborto, teve-se uma média de 4,15 gestações por mulher, com apenas 2,5 nascidos vivos; e no grupo de mulheres sem histórico de aborto, a média foi de 2,38 gestações por mulher (FUSCO, ANDREONI e SILVA, 2008). Portanto, a gravidez não planejada pela falta de uso de MAC contribui para a prática do aborto provocado, cujas complicações como as hemorragias representam a segunda causa de morte materna no país (BRASIL, 2009a). É inaceitável que inúmeras mulheres tenham suas vidas ceifadas ou se tornem vítimas de violência física e psicológica na busca ou no processo de resolução do abortamento, quando práticas anticonceptivas embasadas em informações apropriadas poderiam evitar essas gestações. O enfermeiro, enquanto profissional de saúde da ESF tem como uma de suas competências a promoção da saúde e a prevenção de agravos junto à comunidade adstrita, o que se alcança, em parte, por meio da realização de atividades educativas planejadas e contínuas. No que diz respeito ao planejamento da gestação ou a prática anticoncepcional, as referidas ações educativas são fundamentais a tomada de decisão da mulher, homem e/ou casal. Contudo, Moura e Silva (2004) em estudo realizado com 29 enfermeiros do Ceará verificaram dificuldades para a realização dessas ações, como equipes da ESF incompletas, sobrecarregando o enfermeiro; elevado número de pessoas ou famílias para cada equipe da ESF; escassez de materiais educativos de apoio; e falta de um espaço físico apropriado para reunir à clientela na maioria das unidades de saúde. No Brasil, a educação em saúde se desenvolve com base em dois pressupostos principais: um voltado às medidas preventivas e curativas, visando à obtenção da saúde e o enfrentamento das doenças; o outro, correspondente às estratégias da promoção da saúde como construção social da saúde e do bem-estar (GUEDES; SILVA ; FREITAS, 2004). Assim, a promoção da saúde é entendida como o processo participativo da população no 18 contexto de sua vida cotidiana e não apenas das pessoas sob risco de adoecer, pois almeja a obtenção de melhores condições de vida da população. Abrange, entre outros propósitos, excluir ou minimizar a ocorrência de doenças decorrentes da ausência destas condições, atingindo as causas e não apenas a manifestação de tais agravos (LEFRÈVE, 2003). Somada a gravidez não planejada pela baixa resposta dos serviços de PF do SUS, parte das gestantes também vivencia falta de apoio por parte da família e/ou do parceiro para exercer a maternidade, a falta de condição financeira para manter o filho é posta como obstáculo e os conflitos sociais advindos da necessidade de investir na carreira profissional ou até mesmo de manter a estética corporal feminina preservada são motivações para o aborto. Estudo de caso-controle realizado com 21 casos de mulheres admitidas em maternidade pública do Município da Serra-ES e 83 controles verificou que as mulheres que trabalhavam fora de casa, estudavam ou tinham como objetivo conseguir um emprego, apresentaram 7,5 vezes mais aborto do que aquelas cuja ocupação era de dona de casa (NADER et al., 2008). Na população adolescente, a decisão pela prática do aborto é vivenciada, muitas vezes, sobre pressão do parceiro ou familiares, a qual acaba sendo concretizada por imposição e de forma clandestina (SOUZA et al., 2010). Pesquisa sobre a magnitude do aborto no Brasil estimou que 1.054.242 abortos foram provocados em 2005. A fonte de dados para o cálculo da estimativa foi as internações por abortamento registradas no Serviço de Informações Hospitalares (SIH) do Sistema Único deSaúde. No número total de internações foi aplicado um multiplicador baseado na hipótese de que 20% das mulheres que induzem aborto foram hospitalizadas. A maioria dos abortos provocados ocorreu no Nordeste e Sudeste do País, com uma estimativa de taxa anual de aborto provocado de 2,07 por 100 mulheres entre 15 e 49 anos (BRASIL, 2009b). O conhecimento do número de mortes de mulheres por aborto é um subsídio à elaboração de políticas públicas que previnam este agravo, todavia a subnotificação e o subregistro fazem com que a verdadeira realidade brasileira sobre o aborto não seja retratada (BRASIL, 2004). Mesmo assim, dados do DATASUS de junho de 2010 com relação a internações por gravidez, parto e puerpério revelaram 7.441 internações por gestações que terminaram em aborto, no país, sendo 627 internações na região Norte, 3.181 internações na região Sudeste, 616 internações na região Centro-Oeste, 1.018 internações na região Sul e 1.999 internações na região Nordeste, destacando-se a ocorrência de 301 internações no Ceará (DATASUS, 2010). Em face ao exposto, observa-se que o aborto provocado constitui um problema relevante de Saúde Pública e que os dados sobre a gravidez não planejada são elevados. Nesse 19 sentido, foram elaboradas as questões: Qual a prática anticoncepcional de mulheres, prévio a gestação que acabou em aborto provocado comparada as que tiveram aborto espontâneo? O aborto provocado estaria associado à gravidez não planejada? Quais os motivos que levaram essas mulheres à prática do aborto provocado e como o realizaram? Para responder a esses questionamentos foram elaborados os objetivos de pesquisa. O aborto provocado e sua interface com variáveis demográficas, socioeconômicas e reprodutivas, comparativamente com o aborto espontâneo constituiu o objeto desta pesquisa, associações que se não enfrentadas particularmente com ações de promoção da saúde em anticoncepção culmina em elevada morbidade e mortalidade materna, tendo relação direta com a atenção dispensada pelos gestores e profissionais de saúde, particularmente, o enfermeiro, que está à frente dos serviços de anticoncepção desenvolvendo atividades educativas, preventivas e assistenciais. A relevância do estudo está na possibilidade de propor melhorias na assistência a anticoncepção, no sentido de reduzir o aborto provocado, bem como perceber as motivações e os meios associados ao referido evento. 20 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Investigar sobre a prática do aborto provocado e sua relação com a gravidez não planejada, comparativamente com o aborto espontâneo. 2.2 Objetivos Específicos Analisar aspectos demográficos, socioeconômicos e reprodutivos comparativamente ao aborto provocado e espontâneo. Verificar o conhecimento e a prática anticoncepcional prévia a gestação interrompida por aborto provocado e por aborto espontâneo; Conhecer os meios utilizados na prática do aborto provocado e os motivos determinantes; 21 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Políticas e práticas de saúde voltadas ao planejamento familiar e ao aborto no Brasil. o início dos anos 60, com a descoberta da pílula anticoncepcional, o tema da sexualidade e anticoncepção ganhou força em todo o mundo, uma vez que um método anticoncepcional de fácil uso, sob controle da própria usuária, e de elevada eficácia estava disponível, representando possibilidade de a mulher decidir sobre sua meta reprodutiva. Esta mesma época também foi marcada pela ampla inserção feminina no mercado de trabalho, que trouxe conflitos ao exercício da maternidade. Portanto, o campo era favorável a disseminação da pílula (BRASIL, 2010a). Os países tiveram que responder às demandas geradas no campo da saúde sexual e reprodutiva e como era interesse dos países ricos, especialmente dos Estados Unidos, em impor à America Latina a adoção de políticas de controle da natalidade, impulsionados pelo discurso Malthusiano de que a pobreza seria reduzida pela diminuição do número de nascimentos, recursos financeiros foram introduzidos por agências internacionais que tinham o interesse em reduzir o crescimento populacional, como a U.S. Agency for International Development (USAID) e a International Planned Parenthood Federation (IPPF). Esta última tornou a Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar no Brasil (BEMFAM), primeira organização não-governamental de Planejamento Familiar (PF), sua afiliada oficial no país, em 1967 (USAID, 2000). A enfermeira Margaret Sanger, marcou sua época com a criação do IPPF, em 1952, com sede em Londres. Integrou um grupo de enfermeiras que trabalhou no sentido de estruturar organizações fortes para reivindicar reformas sociais e políticas com vistas a restabelecer o controle da prática de Enfermagem. Desenvolveu conhecimento sobre reprodução e PF, disseminando informações sobre medidas de contracepção. Portanto, a Enfermagem teve sua participação na introdução do PF no Brasil (COSTA, 2002). A BEMFAM é uma organização não-governamental, de ação social e sem fins lucrativos com 45 anos de atuação no país. Certificada pelo Ministério do Desenvolvimento Social como uma entidade beneficente de assistência social está sediada no Rio de Janeiro com oito escritórios regionais onde funcionam as Unidades de Promoção Social e sete Centros de Jovens. Permanece até os dias atuais desenvolvendo ações direcionadas a grupos N 22 socialmente vulneráveis por meio de atenção individual e familiar, tendo como metas a defesa das políticas de desenvolvimento e ação social que visem à atenção integral à família, igualdade de gênero e ao direito das mulheres à saúde sexual e reprodutiva; a obtenção de avanços no direito humano básico de mulheres, homens e jovens decidirem de maneira livre e informada a respeito da própria saúde sexual e reprodutiva (BEMFAM, 2011). O pensamento do Ministro da Igreja Anglicana Thomas Robert Malthus publicado na Inglaterra, em 1798, tornou-se uma referência para o estudo da demografia no século XIX. Na segunda metade do século XIX ganhou corpo e legitimidade, materializando-se em proposições e ações voltadas para o controle coercitivo da fecundidade (ALVES e CORRÊA, 2003). Nessa mesma época, as políticas internacionais mantiveram a ênfase no controle da natalidade com vistas a conter o crescimento populacional (GALVÃO, 1999). O reflexo na fecundidade brasileira foi visível. Em 1970, a mulher brasileira tinha, em média, 5,8 filhos. Trinta anos depois, esta média era de 2,3 filhos. Em 2000, com exceção da região Norte, as demais regiões apresentaram taxas de fecundidade próximas à taxa média nacional (2,3 filhos por mulher). A região Sudeste apresentou a menor taxa de fecundidade: 2,2 filhos por mulher (IBGE, 2011). Contudo, no final da década de 70, o PF passou a ser um tema amplamente discutido pelas mulheres, que por meio dos movimentos feministas defendiam a autonomia de decisão das pessoas na escolha dos Métodos Anticoncepcionais (MAC) e das metas reprodutivas (BRASIL, 2010a). Na década de 80, precisamente em 1984, o Ministério da Saúde lançou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), com a colaboração de representantes de grupos feministas, gestores federais e estaduais e pesquisadores de universidades. O PAISM constituiu-se em um marco histórico das políticas públicas voltadas à saúde da mulher, centrado na integralidade das ações, propondo abordagem global à saúde em todas as fases do seu ciclo vital e não apenas no ciclo gravídico-puerperal (BRASIL, 2005). Enquanto diretriz filosófica e política incorporou princípios norteadores da reforma sanitária, com a ideia de descentralização, hierarquização, regionalização, equidade e participação social, voltando-se à atenção ao pré-natal, parto e puerpério, climatério, planejamento familiar, prevenção e controle das DoençasSexualmente Transmissíveis (DST) e do câncer de colo de útero e a detecção precoce do câncer de mama. O conceito de assistência reconhece o cuidado de toda a equipe de saúde com alto valor às práticas educativas, no sentido de promover o conhecimento da clientela sobre as questões relativas à saúde e, assim, exercerem a cidadania nesse campo (BRASIL, 2011a). 23 No intuito de que ações educativas voltadas ao controle da fecundidade e a prevenção de DST/aids sejam ofertadas prévia e concomitantemente ao início da vida sexual, permitindo que os jovens vivam plenamente sua vida sexual e reprodutiva mediante escolhas próprias responsáveis e sem riscos, considerando as diversidades do perfil reprodutivo das adolescentes, políticas públicas têm investido na promoção da saúde deste grupo (BORGES ; SCHOR, 2005). Mesmo assim, estudos revelam que o conhecimento de adolescentes e de pessoas nas demais idades reprodutivas é escasso, revelando que sabem citar a maioria dos MAC, mas desconhece a eficácia, forma de uso, efeitos colaterais e como lidar com os mesmos (MOURA ; SILVA, 2005; MARTINS et al., 2006; ROMERO et al., 2007 ; ROCHA, DIAS ; GAMA, 2010 ). O abortamento provocado, praticado muitas vezes porque a gravidez não foi planejada, também reforça o desconhecimento das mulheres quanto à prática anticonceptiva e aos riscos relacionados à interrupção voluntária da gestação. Na década de 90, a realização da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD/94) no Cairo e da IV Conferência Mundial sobre a Mulher (ONU, 2012) foram determinantes para os direitos sexuais e reprodutivos, considerados importantes para os direitos humanos. Na Conferência do Cairo/1994, Capítulo VIII, § 825, descreve que o aborto não deve ser promovido como método de anticoncepção, em que o governo deverá assumir compromisso com a saúde da mulher. Assim, as ações de prevenção à gravidez indesejada deverão ter prioridade. Nos casos de aborto garantido por lei, este deverá ser realizado de forma segura, garantindo também às mulheres em quadro de aborto, espontâneo ou não, serviço de qualidade para o tratamento de possíveis complicações pós-aborto. Além disso, ratifica que o trabalho de orientação, educação e PF pós-aborto devem ser oferecidos às mulheres visando evitar abortos repetidos (CIPD-94, 1994). Tomando por base este artigo da Conferência do Cairo, a IV Conferência Mundial sobre a Mulher propôs a revisão das leis que caracterizam o aborto como ato criminoso. Assim, o aborto inseguro passou a ser reconhecido como um problema de Saúde Pública, indicando que os governos deveriam reformular as leis a fim de descriminalizar as mulheres que realizam aborto e garantir pleno atendimento de saúde às mesmas. Apesar da conquista importante do direito ao PF na Constituição de 1988 no Título VII da Ordem Social, Capítulo VII, art. 226, § 7, em que determina a livre decisão do casal sobre o número de filhos, quando tê-lo, quando parar de tê-los e quais MAC usar, ainda não constitui direito na prática (BRASIL, 2005). Regulamentado pela Lei Nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996, Art. 2º, entende-se o PF como sendo o conjunto de ações de regulação da 24 fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal (BRASIL, 2011b). Em 2003, iniciou-se a elaboração da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM)-Princípios e Diretrizes, quando a equipe técnica de saúde da mulher do Ministério da Saúde avaliou os avanços e retrocessos alcançados na gestão anterior. Em maio de 2004, o Ministério da Saúde lançou a PNAISM, elaborada a partir da proposição do SUS e respeitando as características da nova política nacional de saúde (BRASIL, 2009c). Como estratégias da PNAISM podem-se enumerar: ampliação e qualificação da atenção clínico-ginecológica, implantação e implementação da assistência ao PF, para homens e mulheres, adultos e adolescentes, no âmbito da atenção integral à saúde; atenção obstétrica e neonatal, qualificada e humanizada, incluindo a assistência ao abortamento em condições inseguras, para mulheres e adolescentes; atenção às mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e sexual (BRASIL, 2009c). Retomando a atenção ao PF destaca-se a atenção voltada à concepção e anticoncepção. Quanto à anticoncepção, suprimento suficiente e contínuo dos MAC constitui condição indispensável à qualidade das ações. A esse respeito, a distribuição dos MAC aconteceu no País, inicialmente, pela doação de agências internacionais e, em 1990, o anticoncepcional hormonal oral passou a ser adquirido pela Central de Medicamentos (CEME) como responsabilidade do Governo Federal. Em 1997, a aquisição do MAC pelo Ministério da Saúde foi interrompida, havendo a descentralização dos recursos federais para os estados e municípios. Porém, em 2000, o Ministério da Saúde retomou a distribuição dos MAC, visando à ampliação da oferta e a estratégia de compra voltou para o nível Federal, com distribuição para as secretarias estaduais e municipais de saúde, propondo-se a atender, respectivamente, 30% da demanda potencial de métodos no SUS no 1º ano (2000), 60% no 2º ano (2001) e 100% no 3º ano (2002) (BRASIL, 2005). Realidade diferente foi desencadeada na aquisição dos MAC no Estado do Ceará, em que a Secretaria Estadual de Saúde introduziu na relação dos medicamentos adquiridos pelo Estado, o anticoncepcional oral combinado de baixa dose e o anticoncepcional só de progestágeno (CEARÁ, 2003). Com relação à aquisição e à distribuição de preservativos, desde 2001, vem sendo implementada a Política de Preservativos Masculinos e Femininos do Ministério da Saúde e tem sido responsabilidade do Programa Nacional de DST/aids a implementação desta Política (BRASIL, 2005). 25 A lista atual de MAC ofertados pelo Governo Federal abrange: Anticoncepcionais Orais Combinados de baixa dose (AOC), Anticoncepcionais Injetáveis Combinados (AIC), Anticoncepcionais só de Progestógeno (AP), Anticoncepcionais Orais de Emergência (AE), Dispositivos Intrauterinos (DIU) e os Métodos de Barreira (BARR) como o diafragma e preservativo masculino (BRASIL, 2011c). Acrescentam-se a estes os Métodos Baseados na Percepção da Fertilidade (MBPF) como o método Ogino-Knaus, Temperatura Basal Corporal, Billings e o sintotérmico. Soma-se, ainda, o Coito Interrompido (CI) e o método da Lactação com Amenorreia (LAM), complementando a variedade dos MAC que deve ser ofertada a clientela com necessidade de anticoncepção. A maior diversidade de MAC fornecida aos usuários do serviço de PF garante a livre escolha, como também a adequação do método e a adesão e a continuidade de uso do mesmo, evitando a gravidez indesejada e, por conseguinte o aborto provocado. Portanto, as políticas e ações de saúde voltadas ao PF estão intimamente relacionadas às políticas e ações voltadas a prevenção do abortamento provocado. No Brasil, em 2006, o número de óbitos maternos foi de 77 por 100.000 nascidos vivos, correspondendo a 1.623 óbitos maternos. As mortes maternas por causas obstétricas diretas que são aquelas relacionadas ao parto, ao aborto e ao puerpério vêm respondendo por cerca de dois terços desses óbitos, denotando baixa qualidade da atenção obstétrica e ao PF prestada às mulheres brasileiras (BRASIL, 2009e). Em 2005, foi lançada a Política Nacional de Direitos Sexuais e Reprodutivos, objetivando a melhoria de serviços de saúde sexual e reprodutiva enfocando, principalmente, o PF. Como principais eixos de estratégias, destacam-se: a ampliação da oferta de MAC reversíveis; o aumento do acesso à esterilização cirúrgica voluntária; e a introdução da reprodução humana assistida no Sistema Único de Saúde (SUS). Também trata da inclusão do medicamento misoprostol na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais(RENAME), regulamentada pela Portaria nº 1.044/2010; e a participação na elaboração do Acordo MERCOSUL/RMS Nº 14/08 para a redução da mortalidade materna e neonatal (BRASIL, 2011d). De acordo com o Relatório da Coordenação Nacional de Saúde do Mercosul (CNSM) em que foram pactuados diversos acordos, o do MERCOSUL/RMS Nº 14/08, estabelece como estratégia a prevenção e promoção da saúde sexual e reprodutiva, a prevenção da gravidez não planejada e DST e o acesso e qualificação da atenção humanizada à interrupção da gravidez e aconselhamento. Em reunião da Comissão Internacional sobre Saúde Sexual e Reprodutiva, que ocorreu no dias 10 e 11 de setembro de 2009, com participação do Brasil, 26 Paraguai, Uruguai e Chile, foram discutidos dentre outras questões a incidência de mortes maternas por aborto provocado (BRASIL, 2009d). No que se refere à assistência ao abortamento, a Normatização da Atenção Humanizada ao Abortamento lançada em 2005, pelo Ministério da Saúde, como guia norteador de aspectos éticos e jurídicos, esclarece que de acordo com o Código Penal Brasileiro é legal o aborto em caso de risco à vida da mãe e em caso de estupro; e permite jurisprudência para a interrupção de gravidez nos casos de malformação fetal com inviabilidade de vida extra-uterina, com o consentimento da mulher. Diante de abortamento espontâneo ou provocado, o (a) médico (a) ou qualquer profissional de saúde não pode comunicar o fato à autoridade policial, judicial, nem ao Ministério Público, pois o sigilo na prática profissional da assistência à saúde é dever legal e ético, salvo para proteção da usuária e com o seu consentimento. O não cumprimento da norma legal pode ensejar procedimento criminal, civil e ético profissional contra quem revelou a informação, respondendo por todos os danos causados à mulher (BRASIL, 2010b). Nas situações de violência sexual o Código Penal não exige qualquer documento para a prática do abortamento e a mulher violentada sexualmente não tem o dever legal de noticiar o fato à polícia. Deve orientá-la a tomar as providências policiais e judiciais cabíveis, mas, caso ela não o faça, não lhe pode ser negado o abortamento. O profissional de saúde ao se deparar com esta situação acima citada, não deve negar atendimento à mulher violentada que não apresente documento policial ou judicial. Se posteriormente, o profissional tomar conhecimento de que a gravidez não foi resultado de violência sexual, deve tranquilizar-se, pois o Código Penal, artigo 20, § 1º garante a isenção de pena a quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima (BRASIL, 2010b ; ANGHER, 2OO7). Propondo uma atenção humanizada na área de assistência ao abortamento, o Ministério da Saúde enfatiza a importância do acolhimento, em que se deve realizar a escuta ativa, livre de preconceito, julgamento e comentários desrespeitosos, colocando a tarefa de acolher para toda equipe de saúde. Estabelece que se deva orientar a mulher, informando-a dos procedimentos, das condições clínicas e dos cuidados para que sejam evitadas as complicações posteriores. Nos casos de abortamento provocado, a adoção imediata de contracepção pós-abortamento mostra-se como medida eficaz para reduzir o risco de novos abortamentos provocados (BRASIL, 2010b). A oferta do serviço de PF às mulheres em pós- abortamento envolve a participação do enfermeiro, dando a oportunidade de conhecimento 27 sobre os MAC, eficácia, mecanismo de ação, efeitos adversos e a prática da decisão de escolha do MAC com autonomia pela mulher. O atendimento para o esvaziamento uterino oferecido no abortamento provocado inclui o uso do misoprostol em qualquer tempo gestacional, a técnica de Aspiração Manual Intra-Uterina (AMIU) até a 12 a semana gestacional e a curetagem uterina após a 12 a semana gestacional (BRASIL, 2010b). O aborto provocado pode ser deflagrado por meio de sucção ou aspiração, curetagem, drogas, plantas e soluções salinas (REZENDE FILHO ; MONTENEGRO, 2008). Quando praticado clandestinamente pode ter complicações imediatas, como a perfuração uterina com lesão de vísceras abdominais, hemorragias intensas, laceração da cérvice, coagulopatia sistêmica, complicações anestésicas, evoluindo muitas vezes para o aborto séptico (FREITAS et al., 2006). Apesar da ilegalidade da comercialização do misoprostol no Brasil, estabelecida na Portaria nº 344 de 12 de maio de 1998, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o mercado negro o comercializa de forma deliberada. Por exemplo, a internet, oferece o medicamento para quem tiver interesse pelo produto, independente das consequências e contra-indicações do mesmo (ALVES, 2008). Conforme a citada Portaria somente é permitida a compra e uso do misoprostol em estabelecimentos hospitalares devidamente cadastrados junto a Autoridade Sanitária (BRASIL, 1998). O misoprostol é indicado para ser usado por via vaginal, cujos comprimidos são umedecidos com água e aplicados no fundo de saco lateral da vagina. A dose dependerá da idade gestacional, ou seja, no primeiro trimestre de gestação, a dose será de 800mcg por dia, via vaginal durante dois dias e no segundo trimestre de gestação, a dose recomendada será de 200mcg de 12 em 12 horas, via vaginal, e propõe-se repetir o tratamento em ciclos de 48 horas, com três a cinco dias de intervalo (BRASIL, 2010b). A técnica AMIU tem se constituído em um método eficaz, seguro e conveniente para esvaziamento uterino em casos de aborto incompleto no primeiro trimestre de gestação. Consiste em uma seringa de válvula única ou dupla, de 60 ml, adaptadores e uma série de cânulas de Karman de 4 a 12mm de diâmetro para útero do tamanho menor de 12 semanas de gestação, pois há necessidade de o colo uterino ser justo à cânula para que o vácuo seja transferido da seringa para a cavidade uterina. Este é o procedimento de escolha para resolução do abortamento, sendo recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). Nos casos em que o abortamento está infectado, a AMIU é a técnica de eleição, embora cuidados redobrados 28 devam ser adotados, pelo risco de perfuração uterina (REZENDE FILHO ; MONTENEGRO, 2008; BRASIL, 2010b). Nestes casos, a antibioticoterapia entra como coadjuvante, na prevenção ou controle da infecção iniciada ou não, após a exposição do útero ao início do abortamento, principalmente, quando utilizado técnica séptica. Geralmente, a cobertura do antibiótico de escolha é ampla, para atingir os microorganismos aeróbicos e anaeróbicos. A curetagem uterina é realizada nos casos de abortamento em curso com a apreensão da massa ovular ou de fragmento ovular. Para realização deste procedimento é necessário anestesia. No procedimento, são utilizados dilatadores de Denistonn ou velas de Hegar e uma pinça tipo Pozzi. Introduz-se a cureta e promove-se a raspagem da cavidade uterina, extraindo-se o material desprendido pelo instrumental. Por ter diâmetro variável e ser de material rígido (aço), pode provocar acidentes, tal como a perfuração do útero. Este procedimento é difundido em todo o país (REZENDE FILHO ; MONTENEGRO, 2008; BRASIL, 2010b). 3.2 Aborto provocado e prática anticoncepcional ealizou-se busca no banco de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) pela utilização dos descritores aborto induzido (abortion, induced) e anticoncepção (contraception) em associação, de 1996 a 06 de março de 2011. O início do interstício para a busca (1996) foi definido pelo ano da Lei Nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996, que trata do planejamento familiar, evento que deu novos rumos à pesquisa sobre esta temática. Foram adotados como critérios de inclusão: artigos nos idiomas inglês e português disponíveis com resumo e/ou texto completo; ecomo critérios de exclusão: o resumo não abordar o objeto de investigação da busca, artigos repetidos e artigos com acesso indisponível. A busca foi finalizada com 16 artigos, em que 13 tiveram seus textos completos disponibilizados e apenas três artigos apresentaram somente resumo. Para encadeamento da apresentação dos artigos levantados com as políticas vigentes no Brasil, foram trazidos para este capítulo as publicações sobre Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos: uma prioridade do governo (BRASIL, 2005), Atenção Humanizada ao Abortamento: norma técnica (BRASIL, 2010b) e Critérios Médicos de Elegibilidade para uso de Métodos Anticoncepcionais (WHO, 2004). R 29 A prevenção da gravidez não planejada e do aborto provocado e de suas consequências deve ter alta prioridade nas ações de saúde. Às mulheres deve ser garantido o acesso à informação, ao abortamento previsto em lei, à atenção de qualidade em complicações derivadas de abortos e ao PF pós-abortamento para, inclusive, evitar abortamentos repetidos, aumentando os riscos de complicações (BRASIL, 2010b). Estudo realizado em São Paulo, em 1999, com 952 acadêmicas de 11 cursos de graduação, os principais MAC utilizados foi o preservativo masculino, por 265 (44,4%) estudantes e o Anticoncepcional Oral Combinado (AOC) por 98 (16,4%). Quanto à prática de indução do aborto, 52,2% das universitárias que haviam engravidado buscaram tal prática (PIROTTA ; SCHOR, 2004). Realidade semelhante foi encontrada entre 120 estudantes de Medicina do México, em que 19 (16%) que tinham história anterior de gravidez, 10 (52%) destas tinham provocado aborto. A taxa de aborto relatado entre essas estudantes representa apenas 2% em relação à população geral mexicana, taxa de 11% para mulheres de idades similares (ORTIZ-ORTEGA et al., 2003). Estudo de caso-controle realizado no Município da Serra-ES, com grupo-caso constituído por 21 mulheres com complicações do abortamento e que declararam tê-lo provocado e com grupo-controle constituído por 83 mulheres que tiveram gestação a termo, encontrou que as mulheres que provocaram o abortamento foram as que, proporcionalmente, referiram maior desconhecimento sobre as ações de PF – 18 (85,7%); p=0,06. Quando perguntadas sobre o recebimento de algum tipo de orientação sobre PF no decorrer da vida, 9 (42,9%) do grupo-caso e 37 (44,6%) do grupo-controle declararam ter recebido orientação sobre a temática (p=0,88). Quanto ao uso do MAC anterior à gravidez, 10 (47,6%) do grupo- caso e 51(61,4%) do grupo-controle informaram que não utilizavam nenhum método (NADER et al., 2008). Em João Pessoa-PB, estudo realizado com 1.068 participantes identificou que a falta de informação é um dos motivos de gravidez não planejada, destacando, ainda, os baixos fatores sociais, início cada vez mais precoce de experiências sexuais, insegurança do adolescente em utilizar os MAC e a falta de acesso a serviços específicos para atender a esta faixa etária (SALDANHA et al., 2008). Em Moscou, em 1997, obteve-se que 87,8% dos participantes de um estudo desejariam ter mais literatura sobre a contracepção durante sua vida na escola, pois 93,5% a obtiveram antes da união, 93,2% após inserir-se no mercado de trabalho e 95,5% após um aborto (KULAKOV; VIKHLYAEVA ; NIKOLAEVA, 1997). Estudo realizado em Fortaleza-CE com 40 jovens gestantes verificou que 7 (17,5%) haviam abortado e 24 (60%) não utilizavam nenhum MAC. Apesar das orientações e palestras 30 em colégios, das distribuições gratuitas de MAC nas unidades básicas de saúde, muitas continuam sem usar qualquer método. Dezesseis (40%) gestantes relataram ter utilizado algum método, prevalecendo a pílula e o preservativo masculino (ARCANJO; OLIVEIRA ; BEZERRA, 2007). A Pesquisa Nacional de Aborto (PNA), realizada em todo o Brasil, nas capitais das Federações e regiões metropolitanas, em 2010, com amostra de 2.002 entrevistadas, faixa etária entre18 a 39 anos, utilizando a técnica da urna, mostrou que a proporção de mulheres que provocou aborto cresceu com o aumento da idade. Essa proporção varia de 120 (6,0%) para mulheres com idades entre 18 e 19 anos a 440 (22,0%) entre mulheres de 35 a 39 anos, predominando a faixa etária adulta. (DINIZ ; MEDEIROS, 2010). Ainda de acordo com a PNA, no final da vida reprodutiva, mais de um quinto das mulheres, no Brasil urbano, fez aborto. Os níveis de internação pós-aborto são elevados e os colocam como um problema de saúde pública no Brasil. Cerca de metade das mulheres que provocaram aborto recorreram ao SUS e foram internadas por complicações, correspondendo a 161 (8,0%) das mulheres entrevistadas. Os autores afirmam que essas internações poderiam ter sido evitadas se o aborto não fosse tratado como atividade clandestina e o acesso aos medicamentos seguros para aborto fossem garantidos (DINIZ ; MEDEIROS, 2010). Os dados referentes à hospitalização por abortamento no país confirmam a magnitude desse problema. A curetagem pós-abortamento representa o segundo procedimento obstétrico mais realizado nas unidades de internação do SUS, superada apenas pelos partos normais (BRASIL, 2010b). Estudo realizado com 160 mulheres hospitalizadas, em maternidade de Recife-PE, com diagnóstico de abortamento, no período de novembro de 2005 a julho 2006, representaram 3,1% dos internamentos obstétricos. Considerando cada MAC, individualmente, 100% das entrevistadas afirmaram conhecer a pílula e o preservativo masculino, e como métodos abortivos apontaram o misoprostol e chás. Quanto ao tipo do abortamento, 23 (14,3%) foram classificados como provocados e 90 (56,3%) foram classificados como possivelmente provocados. Não houve associação entre a classificação do aborto e a idade gestacional em que o mesmo ocorreu (p=0,223); a maior ocorrência de abortamento se deu na faixa etária de 20 a 29 anos, correspondendo a 78 (48,9%) do total de casos (RAMOS; FERREIRA ; SOUZA, 2010). Também em Recife-PE, na investigação de 203 casos de abortos, 49 (24%) corresponderam a aborto provocado, dos quais 33 (67%) utilizaram o misoprostol e 148 (73%) dos casos de aborto foram resultantes de gestação não planejada (LUCENA, 2000). 31 Na Romênia, em 2004, foi retratada a difícil situação do acesso do MAC na região rural pela falta de serviço de PF, levando a população a se deslocar para região urbana onde o serviço de PF é oferecido. Nesse contexto, a autora ressalta a necessidade de promoção de saúde sexual e reprodutiva no país, pois os índices de aborto são elevados (HORGA, 2004). As mulheres no pós-aborto devem receber informações sobre todos os MAC aceitos no Brasil, inclusive sobre a eficácia, modo de uso, efeitos colaterais, complicações e como lidar com os mesmos. A orientação e oferta dos métodos devem acontecer já no local de atendimento, pois o risco de uma nova gravidez é quase imediato após o esvaziamento uterino. Nesse sentido, o Dispositivo Intrauterino (DIU) e os Anticoncepcionais Injetáveis Combinados (AIC) trimestrais ou mensais têm-se demonstrado mais eficiente por haver menor risco de esquecimento. Nos casos de inviabilidade de utilização destes métodos, o Anticoncepcional Oral Combinado de Baixa Dose (AOC) e os Métodos de Barreira (BARR) ganham destaque (BRASIL, 2010b). É provável que mulheres que sofreram aborto tenham função ovariana suficiente para produzir mudanças hormonais e/ou sinais de fertilidade detectáveis, probabilidade que aumenta com o passar do tempo após o aborto. Assim, as mulheres podem começar a utilizar os MBPF depois que tenham tido pelo menos um ciclo menstrual depois do aborto. A utilização de AOC, AIC, AP, BARR e DIU pode ser imediata e está fortemente indicada, mas no caso do DIU deve atentar para a utilização segura do método que ocorre quando não há sinais de sepse (WHO, 2004). Outro método a ser promovido é a Anticoncepção Oral de Emergência(AE), considerando que sempre haverá mulheres convictas de que não voltarão a ter relações sexuais em curto espaço de tempo e, por este motivo, não usam métodos. Essas mulheres poderão estar expostas a relações sexuais inesperadas e não protegidas do risco de gravidez e de abortamento (BRASIL, 2010b). Estudo realizado em Utah, de 2000 a 2006, sobre o uso de AE e o número de indução de abortos, os coeficientes de correlação de Pearson apresentaram- se estatisticamente significantes (p= 0.001), ou seja, quanto maior o uso de AE menor número de casos de abortos provocados (TUROK; SIMONSEN ; MARSHALL, 2009). A taxa de falha do MAC nos EUA apresentava-se em 3% para AOC, 12% para preservativos, 18% para diafragma e 2% para o DIU, Anticoncepcionais Injetáveis Combinados (AIC) e Adesivo Transdérmico (AT) e apenas 2% das mulheres usavam o DIU no país (SEGAL, 1996). Estudo atual nos EUA aponta o uso AIC e AOC como os métodos reversíveis mais eficazes usados pelas mulheres no país, com probabilidades da falha durante os primeiros 12 meses de uso ser de 7% e 9%, respectivamente. As probabilidades da falha para o Coito Interrompido (18%) e o preservativo masculino (17%) foram similares (KOST et 32 al., 2008). Esses resultados de eficácia dos MAC são importantes para dar a real noção dos riscos gestacionais que as mulheres correm mesmo praticando a contracepção. Estudo realizado na China, onde o aborto é legalizado, 97,4% das contracepções são realizadas pelo uso do DIU ou do preservativo (HE; OSTBYE ; DALTVEIT, 2009). O uso da contracepção na Dinamarca, Alemanha, Polônia, Itália, e Espanha foi descrito em estudo de seção transversal, conduzido por meio de entrevistas realizadas com 6.630 mulheres entre 25 e 44 anos. As residentes de países europeus do Norte tenderam a usar métodos mais eficazes da contracepção do que residentes de países europeus do Sul. Ter filhos e história pregressa de aborto provocado foram, igualmente, as causas determinantes principais do uso de métodos mais eficazes (SPINELLI; TALAMANCA ; LAURIA, 2000). Deve-se destacar a oferta do preservativo masculino ou feminino juntamente com outro método de escolha da mulher para conferir à dupla proteção oferecida pelo método, ou seja, a anticoncepção e prevenção das DST/HIV/aids. Para o alcance desta meta, a organização dos serviços de saúde no país precisa passar por transformação, desde a estrutura das unidades de saúde, as atitudes profissionais, de modo que a atenção integral seja oferecida. A assistência em contracepção na Suécia é facilmente disponível em clínicas de planejamento familiar e de saúde da juventude. Os preservativos e a contracepção oral estão disponíveis a baixo custo e a gravidez entre adolescentes é baixa. O tratamento para a Clamídia genital é executado nestas clínicas. Nos anos 90, a educação sexual foi ensinada com menor frequência nas escolas e as taxas de aborto entre adolescentes foram acima de 17/1000 em 1995 a 22.5/1000 em 2001. As infecções por Clamídia genital aumentaram de 14.000 casos em 1994 para 22.263 casos em 2001, sendo 60% entre jovens (EDGARDH, 2002). 33 3.3 Aborto provocado: motivos para fazê-lo e meios utilizados usca realizada em banco de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) utilizando os descritores aborto induzido (abortion, induced) e misoprostol em associação, no período de 1998 a 06 de março de 2011. O início do interstício da busca (1998) foi definido por corresponder ao lançamento da Portaria nº 344 de 12 de maio de 1998, que regulamenta o uso do misoprostol pela ANVISA. Como critérios de inclusão dos artigos foram estabelecidos: estudos nos idiomas inglês e português com resumo e/ou texto completo disponíveis e como critérios de exclusão foram adotados: o resumo não abordar o objeto da investigação e artigo repetido. A busca foi finalizada com 12 artigos, todos com o texto completo disponível. O abortamento induzido é cercado de questões ainda não reveladas, pois é uma trajetória sigilosa e muitas vezes solitária percorrida pela mulher que o pratica. Os motivos pela busca de realizá-lo nem sempre são conhecidos, porém os meios para praticá-lo passam pelo conhecimento popular. Conforme a Pesquisa Nacional de Aborto (PNA) realizada, em 2010, com 2.002 mulheres na faixa etária entre 18 e 39 anos, 296 (15,0%) afirmaram ter provocado o aborto e 141 (48,0%) destas utilizaram algum tipo de medicamento para induzí-lo, porém não foi identificado quais os medicamentos usados, mas é possível que entre os mesmos o misoprostol ocupe uma posição importante. Os abortos ilegais realizados com medicamentos tendem a ser mais seguros do que quando são utilizados outros meios, em particular quando o medicamento usado é o misoprostol, popularizado no Brasil na década de 90 (DINIZ ; MEDEIROS, 2010). Estudo realizado nos Estados Unidos sobre a eficácia do misoprostol como abortivo, envolveu 300 pacientes, sendo que 273 (91%) terminaram a gestação em abortamento. Quanto ao tempo de uso não foi encontrado associação entre ser utilizado durante 3, 4 ou 5 dias (CARBONELL et al., 1998). Em estudo randomizado realizado com 140 mulheres no segundo trimestre de gestação, o misoprostol foi eficaz como abortivo em 80%, sendo usado por via vaginal 400mcg de 3em 3 horas durante 24 horas (WONG et al. , 1998). Porém estudo realizado com 120 mulheres com gestação de 64 a 84 dias que receberam 800 microgramas do misoprostol vaginal por 24 horas e três doses no máximo, sem realizar a curetagem pós- expulsão, teve como resultado o abortamento bem sucedido e como efeitos secundários a diminuição da hemorragia (p = 0.0001) (CARBONELL et al., 1998a). B 34 Estudo realizado em maternidade do Espírito Santo com 83 mulheres em abortamento encontrou como motivos à indução do abortamento que: 10 (29,4%) mulheres referiram falta de condições financeiras, 7 (20,6%) falta de apoio do pai do concepto, 6 (17,7%) indicaram o fato de ter uma relação conjugal instável, 4 (11,8%) relacionaram a limitação da prole, considerando o número de filhos suficiente, 4 (11,8%) tiveram medo de perder o emprego e/ou ter que parar de estudar, 2 (5,8%) informaram medo da família e 1 (2,9%) referiu não querer a criança. Ao indagar sobre os meios utilizados, 15 (71,4%) referiram usar somente o misoprostol, enquanto 1 (4,8%) informou o uso do misoprostol associado a outro meio e 5 (23,8%) utilizaram outros meios como chás, drogas e sondas (NADER; BLANDINO ; MACIEL, 2007). Pesquisa utilizando duas metodologias com uma amostra de 3.098 mulheres, 50% da amostra com técnica de coleta Método da Urna (MU) e a outra metade através do Método das Questões Indiretas (MQI), realizado na zona urbana de Pelotas encontrou que: de acordo com o MQI, 58 (3,8%) mulheres relataram aborto induzido e entre os motivos mais frequentes para indução do aborto, 18 (31,0%) ressaltaram as questões econômicas e 14 (24,0%) ser muito jovem ou solteira. Dentre as 107 mulheres que relataram aborto induzido pelo MU o misoprostol foi empregado em 14 (13,0%) dos abortos (OLINTO ; MOREIRA FILHO, 2004). Resultado semelhante encontrado por Nader, Blandino e Maciel (2007) em pesquisa em uma maternidade no Espírito Santo, apontou a condição financeira e a instabilidade conjugal como principais motivos para a prática do aborto induzido. Em relação aos métodos para abortar, estudo realizado com 160 mulheres em Recife- PE, encontrou por ordem decrescente de frequência que entre as 23 mulheres que realizaram aborto induzido, 20 (86,9%) usaram misoprostol; 17 (73,9%) tomaram chás abortivos e 3 (13,0%) tiveram sonda inserida (RAMOS; FERREIRA ; SOUZA et. al., 2010) . Estudo com 9.394 mulheres que buscaram o serviço de abortamento nos Estados Unidos verificou que 112 (1,2%) nunca tinham usado o misoprostol como abortivo e 131 (1,4%) relataram utilizar outras substâncias, como a vitaminaC ou ervas (JONES, 2011). Em maternidade da rede pública de Salvador-BA, pesquisa qualitativa realizada com a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo, 17 participantes informaram que trajetória para a realização do aborto induzido em meio à clandestinidade, inicia-se com o uso de chás, seguidos de medicamentos adquiridos de forma ilegal e utilização de sondas inseridas por pessoas leigas, que as orientam a procurar a maternidade quando ocorrer hemorragia. A mulher assume os custos do aborto, pois os serviços de saúde nem sempre respondem aos procedimentos de diagnósticos, como exames, nem valorizam no atendimento a 35 vulnerabilidade emocional feminina. O aborto clandestino favorece o lucro do “comércio e práticas médicas informais”, mas a penalização social é voltada às mulheres, tanto física quanto legalmente. Na verdade, estas mulheres necessitam de espaço de escuta e resolução de suas demandas pelos serviços de saúde, no que se refere aos aspectos subjetivos e biológicos de uma gestação não planejada (SOUZA et al., 2010). Estudo com 28 jovens realizado nos Estados Unidos sobre aceitabilidade emocional para indução do aborto, durante a visita de continuação da assistência que ocorre entre quatro a oito dias após abortamento, 21(75%) consideraram a realização do aborto satisfatória, porcentagem esta que durante visita com quatro semanas foi para 27 (96%). Embora 12 (43%) relatassem o sentimento de medo no início do pós-aborto, na visita realizada na 4ª semana pós-abortamento somente 2 (8%) ainda experimentavam o sentimento de medo (PHELPS; SCHAFF ; FIELDING, 2001). Quanto aos meios usados para provocar o aborto, o misoprostol permanece na liderança, descumprindo, em geral, o processo de aquisição farmacêutica adequada e uso seguro conforme determinado pela ANVISA. A prática de indução do aborto através de chás e infusões pertencentes ao conhecimento popular é apontada como segundo meio de indução, enfatizando-se que o aborto induzido inicia-se e completa-se na comunidade, percentual desconhecido pelas instituições de saúde. A utilização de sonda no colo uterino, prática agressiva e com elevado potencial de complicações, é difundida por terceiros sem o menor conhecimento sobre o risco que as mulheres se expõem ao se submeter a tal prática. Contudo, também há quem promova ou estimule o uso de sonda como abortivo mesmo conhecendo os riscos à mulher, motivos por interesses comerciários em parceria com quem realiza o procedimento. Outros estimulam ou favorecem tal prática até mesmo pelo desejo de ajudar a quem quer induzir o aborto a ter seu problema solucionado, por envolver-se emocionalmente com este dilema da gravidez não planejada. Estudo realizado com 800 nativivos em maternidade pública de Salvador-BA verificou que 78 (60,9%) mulheres usaram chás ou infusões para abortar e 38 (29,7%) usaram o misoprostol na dose de quatro comprimidos, sendo dois administrados por via oral e dois por via vaginal (MOREIRA et al., 2001). Murta et al. (2001) em estudo realizado com 224 pacientes com diagnóstico de abortamento séptico, em enfermaria do hospital Escola da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro verificaram que 85 (37,9%) das mesmas relataram ter feito algum tipo de procedimento para provocar o aborto, percentual, portanto, 2,36 vezes menor do que o encontrado por Moreira et al. (2001) em Salvador-BA. 36 4 METODOLOGIA 4.1 Tipo de Estudo Tratou-se de estudo com abordagem quantitativa, transversal, do tipo levantamento, cujas definições foram tomadas com base nas ideias de Polit e Beck (2011). A principal preocupação dos estudos quantitativos é proporcionar as respostas mais exatas, imparciais e interpretáveis possíveis para a questão de pesquisa e propiciar resultados replicáveis. Portanto, estuda os fenômenos que se prestam à mensuração precisa. O delineamento transversal envolve a coleta de dados em um ponto do tempo, sendo especialmente apropriado para descrever a situação, o status do fenômeno ou a relação entre fenômenos. O levantamento se caracteriza pela interrogação ao sujeito da pesquisa cujo comportamento se deseja conhecer, obtendo informações relativas à prevalência, distribuição e inter-relacionamento de variáveis em uma população. Os levantamentos coletam informações sobre as ações, o conhecimento, as intenções e as opiniões dos indivíduos. Seus dados se baseiam em auto-relatos, ou seja, as pessoas respondem às perguntas feitas pelo pesquisador. 4.2 Local do estudo O estudo foi realizado no Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará, conhecido como Gonzaguinha da Barra e no Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC). Esses hospitais foram escolhidos na perspectiva de reunir uma unidade do sistema municipal de saúde e uma unidade de referência do sistema estadual de saúde no cenário do estudo. No Gonzaguinha da Barra é oferecido atendimento de Urgência e Emergência, Clínica Geral, Obstetrícia e Pediatria. Trata-se de uma unidade de nível secundário, cuja área de abrangência corresponde a Secretaria Executiva Regional I (SER-I) (FORTALEZA, 2011). O HGCC pertence a rede pública estadual e constitui referência para atendimento nas áreas de Clínica Médica, Cirurgia, Ginecologia, Obstetrícia e Neonatologia, no nível terciário. 37 É um hospital de alta complexidade, de ensino, reconhecido pelos Ministérios da Educação e da Saúde. Corresponde ao hospital mais antigo da rede estadual de saúde, dedicando-se ao ensino e a assistência à saúde há 80 anos (CEARÁ, 2010). O serviço de atenção ao aborto no Gonzaguinha da Barra começa na emergência, especificamente na sala de parto. Nesta é realizado o primeiro atendimento a paciente. Após avaliação, esta é dirigida à realização dos procedimentos cabíveis, permanecendo internada na enfermaria durante 24 horas, sendo todas as altas médicas realizadas no período da manhã, por volta das nove horas, rotina que levou a estabelecer o respectivo turno para a realização das entrevistas. Para evitar qualquer desinteresse por parte das mulheres com relação à entrevista, uma vez que as mesmas estariam de alta, esta era realizada nas primeiras horas da manhã. No HGCC, de modo semelhante, o serviço de atenção ao aborto começa na emergência, especificamente na sala de parto onde é realizado o primeiro atendimento a paciente. A mulher em processo de abortamento é encaminhada para uma sala privativa na qual recebe avaliação obstétrica. Após avaliação, esta é dirigida à realização dos procedimentos cabíveis, permanecendo sob observação até seis horas e em casos de aborto infectado são internadas. Nesse contexto, as altas médicas eram dadas em horários irregulares, pois o tempo de seis horas de pós-aborto era o fator determinante. Assim, as entrevistas foram realizadas no turno da tarde, pois tínhamos maior facilidade para abordar tanto as mulheres admitidas no turno da manhã que estavam prestes a terem alta, quanto aquelas admitidas no turno da tarde. 4.3 População e amostra A população correspondeu às mulheres que buscaram os hospitais selecionados para o atendimento da resolução do abortamento, no período da coleta de dados: Junho a Dezembro de 2011. A amostra ficou constituída de 70 mulheres. Adotou-se como critérios de inclusão: mulheres em abortamento provocado ou espontâneo atendidas nos serviços de pós-aborto e com idade maior ou igual a 18 anos. O critérios de exclusão foi de não estarem em condições clínicas e emocionais para participar da pesquisa. 38 4.4 Coleta de dados Antes de dar início a coleta de dados, visitaram-se os dois hospitais com a finalidade de reconhecer o ambiente de pesquisa e as respectivas equipes de trabalho. Nessa ocasião, procurou-se informá-las quanto à realização da pesquisa, seus objetivos e da necessidade em obter o apoio destas. Foi possível observar os
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