Buscar

2012-dis-cbjscosta

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 74 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 74 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 74 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

0 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM 
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM 
 
 
 
 
 
 
 
CAROLINA BARBOSA JOVINO DE SOUZA COSTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABORTO PROVOCADO E SUA INTERFACE COM A GRAVIDEZ NÃO 
PLANEJADA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA-CE 
2012 
 
 
 
1 
 
CAROLINA BARBOSA JOVINO DE SOUZA COSTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABORTO PROVOCADO E SUA INTERFACE COM A GRAVIDEZ NÃO 
PLANEJADA 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem - Mestrado, da 
Universidade Federal do Ceará, como requisito 
parcial para obtenção do Título de Mestre em 
Enfermagem. 
 
Área de concentração: Enfermagem na 
Promoção da Saúde. 
 
Orientadora: 
Prof
a
. Dr
a
. Escolástica Rejane Ferreira Moura 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA-CE 
2012 
 
 
 
 
1 
 
 
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio 
convencional ou eletrônico, para fins de estudo ou pesquisa, deste que citada à fonte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação 
Universidade Federal do Ceará 
Biblioteca de Ciências da Saúde 
 
 
C871a Costa, Carolina Barbosa Jovino de Souza. 
Aborto provocado e sua interface com a gravidez não planejada / Carolina Barbosa Jovino de 
Souza Costa. – 2012. 
72 f.: il., enc.; 30 cm. 
 
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará; Faculdade de Farmácia, Odontologia 
e Enfermagem; Departamento de Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, 
Fortaleza, 2012. 
Área de Concentração: Enfermagem na Promoção da Saúde. 
Orientação: Profa. Dra. Escolástica Rejane Ferreira Moura. 
 
1. Planejamento Familiar. 2. Aborto Induzido. 3. Contracepção. I. Título. 
 
 CDD 613.94 
 
 
 
 
 
2 
 
 
CAROLINA BARBOSA JOVINO DE SOUZA COSTA 
 
 
 
 
 
 
ABORTO PROVOCADO E SUA INTERFACE COM A GRAVIDEZ NÃO 
PLANEJADA 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - Mestrado, da 
Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em 
Enfermagem. 
Aprovada em ___/___/___ 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
_____________________________________________ 
Profª. Drª. Escolástica Rejane Ferreira Moura (Presidente) 
 
 
_____________________________________________ 
Profª. Drª. Raimunda Magalhães da Silva (1º. Membro) 
 
 
_____________________________________________ 
 Prof. Dr. Paulo Cesar de Almeida (2º. Membro) 
 
 
_____________________________________________ 
Profª. Drª. Mônica Oliveira Batista Oriá (Membro Suplente) 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a Deus, meu 
Senhor e protetor. Pela Sua luz em 
minha vida que permitiu mais essa 
vitória. 
 
 
 
 
 
4 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 Ao Senhor Deus Todo Poderoso, Maravilhoso, Príncipe da Paz, Conselheiro Fiel, que és 
tudo em minha vida e que abriu as portas do Mestrado para mim. 
 Ao meu esposo amado, presente de Deus, Marcelo de Lima Costa, companheiro 
compreensivo, que esteve sempre ao meu lado somando forças para o meu caminhar, 
motivando-me a não desanimar mediante as dificuldades. 
 À minha mãe, Íris Andrade Barbosa, exemplo de ternura e motivação, que soube me 
preparar para viver em justiça, amor e respeito. Sempre presente na minha caminhada. 
 Às minhas irmãs, Juliana Barbosa Sales e Gabriela Barbosa Jovino de Souza 
Moreira, que torceram pela minha vitória. 
 À Profa. Dra. Escolástica Rejane Ferreira Moura, amiga, companheira, amorosa. 
Exemplo de força e de fé. Ensinando a todos ao seu redor que ao andar devemos enxergar 
as flores que estão no caminho. 
 Ao Prof. Dr. Paulo César de Almeida pelo apoio no tratamento estatístico dos resultados 
e pela simplicidade, alegria e carinho com que nos acompanha, ensinando as lições mais 
complexas. 
 Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Departamento de Enfermagem 
(DENF) da Universidade Federal do Ceará (UFC) meus sinceros agradecimentos pela 
competência, eficiência e excelência do programa assistindo todos os alunos com 
gentileza e qualidade. 
 Ao Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará e ao Hospital Geral Dr. 
César Cals meus gratos agradecimentos pela oportunidade ímpar de ter as suas portas 
abertas para nossa pesquisa e a seriedade do serviço. 
 Às Mulheres que aceitaram participar deste estudo, pois sem as mesmas, este não teria 
sido realizado. 
 Ao Grupo de Estudo em Enfermagem em Saúde Sexual e Reprodutiva (GESARE) 
pelo incentivo, pelos conhecimentos trocados e pelo crescimento compartilhado. 
 À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) o meu 
sincero agradecimento pelo incentivo financeiro e credibilidade depositado em mim. 
5 
 
 À Debora de Araujo Moreira, Adman Câmara Soares Lima, Maria Goretti Soares 
Monteiro, companheiras nesta caminhada. Amigas, meus agradecimentos pela amizade 
cultivada em nosso mestrado. 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Como um pai se compadece de seus filhos, 
assim o Senhor se compadece dos que o 
temem.” Salmos 103:11 
 
7 
 
 
RESUMO 
 
 
 Tratou-se de estudo com abordagem quantitativa, transversal, do tipo levantamento, 
que teve como objetivo geral investigar sobre a prática do aborto provocado e sua relação 
com a gravidez não planejada, comparativamente com o aborto espontâneo e como objetivos 
específicos analisar aspectos demográficos, socioeconômicos e reprodutivos 
comparativamente ao aborto provocado e espontâneo; verificar o conhecimento e a prática 
anticoncepcional prévia a gestação interrompida por aborto provocado e por aborto 
espontâneo e conhecer os meios utilizados na prática do aborto provocado e os motivos 
determinantes. Foi realizado no Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará e no 
Hospital Geral Dr. Cesar Cals (HGCC), de junho a dezembro de 2011. A população 
correspondeu às mulheres em abortamento com idade maior ou igual a 18 anos atendidas nos 
respectivos hospitais no período da coleta de dados. A entrevista seguiu um formulário 
estruturado, que foi pré-testado. Finalizou-se o estudo com 70 participantes, sendo 33 
(47,1%) mulheres que tiveram aborto provocado e 37 (52,9%) aborto espontâneo. Os dados 
receberam tratamento estatístico descritivo e as comparações das médias dessas variáveis e o 
tipo de aborto foram realizados por meio do teste t de Student para dados independentes e 
com variância desiguais (analisadas pelo teste de Levene). Compararam-se, somente para 
aborto provocado, as porcentagens das variáveis dicotômicas por meio do teste z para 
proporções. As análises de associações entre tipo de abortamento e as variáveis nominais 
foram realizadas por meio do 
2
 e de razão de verossimilhança. Calcularam-se as razões de 
chances (RC) com seus respectivos IC95% entre tipo de abortamento e essas variáveis. 
Consideraram-se como estatisticamente significantes as analises com p<0,05. Dentre as 
variáveis demográficas e socioeconômicas, somente a média do número de pessoas na família 
apresentou associação com o tipo de aborto (p= 0,042). Com relação às variáveis 
reprodutivas e condição de união, houve associação entre planejamento da gravidez e tipo de 
aborto (p<0,001) (RC=2,4; IC95%: 1,7-3,3). Isto evidencia que a gravidez não planejada foi 
um fator de risco para o aborto provocado. A média do tempo de união das que tiveram 
aborto espontâneo foi maior do que aquelas de aborto provocado (p= 0,041). Participação 
masculina na decisão pelo aborto mostrou-se como fator de risco para o aborto provocado 
(p=0,002). Nenhuma variável relacionadaà informação e acesso ao MAC em uso prévio ao 
aborto foi significativa para o tipo de aborto. Houve associação entre uso de AOC e tipo de 
aborto, sendo o uso de AOC fator protetor ao aborto provocado (p=0,040). Pensamento 
mágico de acreditar que a gravidez não ocorreria consigo foi significante com o tipo de 
aborto (p=0,003). Chás e misoprostol foram os meios mais referidos pelas mulheres para 
provocar o aborto, sendo os motivos para provocá-lo a baixa condição financeira, seguida do 
relacionamento instável e do despreparo para cuidar da criança. Concluiu-se que promover 
ações efetivas de planejamento familiar, com prioridade para as populações mais carentes e 
com estratégias que garantam a participação masculina representam meios para reduzir o 
aborto provocado. 
 
 
Descritores: Planejamento Familiar; Aborto Induzido; Contracepção. 
8 
 
 
ABSTRACT 
 
 
 
 This is a research study with quantitative and transversal approach aiming to 
investigate the induction of abortion and its relationship with an unplanned pregnancy, in 
comparison with natural abortion. It also aimed to analyse the demographic, 
socioeconomic and reproductive aspects of both methods of abortion; verify the 
knowledge and use of contraceptive methods prior to the interrupted pregnancy through 
induced and natural abortion and know which methods are used for induced abortion and 
it motifs. The study took place at the District Hospital Gonzaga Mota in Barra do Ceará and 
General Hospital Dr. Cesar Cals (HGCC), from June until December of 2011. The population 
consisted of women in abortion and over 18 years of age who were being assisted at the hospitals 
during data collection. The interview followed a structured questionnaire that was previously 
tested. The study consisted in the end with 70 participants, being 33 (47,1%) women who 
induced abortion and 37 (52,9%) with natural abortion. The data were analysed with descriptive 
statistics and the comparison of the means of these variables and the type of abortion were done 
with the Student t test for independent data and with unequal variance (analysed with Levene’s 
test). It was compared only for induced abortion, the percentage of dichotomous variables with 
the z test for proportions. The association analysis between the type of abortion and the nominal 
variables were conducted with 
2
 and likelihood ratio. It was calculated the chance ratios (CR) 
with its respective IC95% between the type of abortion and these variables. It was considered as 
statistically significant, analysis with p<0,05. Amongst the demographic and socioeconomic 
variables, only the average number of people in the family presented association with the type of 
abortion (p= 0,042). Regarding reproductive variables and marital status, there was an association 
between planning of a pregnancy and abortion (p<0,001) (RC=2,4; IC95%: 1,7-3,3). This shows 
that an unplanned pregnancy was a risk factor for induced abortion. The average time of union 
with their partner was higher in women with natural abortion than in those with induced abortion 
(p= 0,041). It was shown that the male participation in the decision of an abortion is a risk factor 
for induced abortion (p= 0,002). Variables regarding information and access to contraceptive 
methods prior to the abortion were not significant to the type of abortion. There was an 
association between the use of AOC and type of abortion, being the use of AOC a protective 
factor to induced abortion (p= 0,040). The belief that a pregnancy would not occur with 
themselves was significant with the type of abortion (p= 0,003). Herbal teas and misoprostol were 
the most frequent methods mentioned by the women to induce an abortion, being their low 
economical situation, followed by an unstable relationship and unpreparedness to take care of a 
child the main reasons to render towards these methods. It was concluded that promoting 
effective methods of family planning, prioritizing poorer populations, with strategies that 
assures male participation represent means to reduce induced abortions. 
KEY WORDS: Family Planning; Abortion, Induced; Contraception . 
 
9 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
 
 
Tabela 1. Distribuição do número de mulheres segundo variáveis demográficas e 
socioeconômicas por tipo de aborto. Hospital Geral Dr. César Cals e 
Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará. Fortaleza-CE, 
jun.-dez. 2011. 40 
 
 
Tabela 2. Distribuição do número de mulheres segundo variáveis reprodutivas e 
de união por tipo de aborto. Hospital Geral Dr. César Cals e Hospital 
Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará. Fortaleza, jun.-dez. 2011. 
 43 
 
 
Tabela 3. Distribuição do número de mulheres segundo participação do parceiro 
na decisão do aborto provocado. Hospital Geral Dr. César Cals e 
Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará. Fortaleza, jun.-
dez. 2011. 46 
 
 
Tabela 4. Distribuição do número de mulheres segundo informação e acesso ao 
método anticoncepcional em uso prévio ao aborto atual. Hospital 
Geral Dr. César Cals e Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do 
Ceará. Fortaleza, jun.- dez. 2011. 48 
 
 
Tabela 5. Distribuição do número de mulheres segundo método 
anticoncepcional em uso prévio ao aborto atual e tipo de aborto. 
Hospital Geral Dr. César Cals e Hospital Distrital Gonzaga Mota da 
Barra do Ceará. Fortaleza, jun.- dez. 2011. 50 
 
 
Tabela 6. Distribuição do número de mulheres segundo meios usados na prática 
do aborto, fontes de obtenção de informações sobre os meios e 
motivos para a prática do aborto provocado. Hospital Geral Dr. César 
Cals e Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará. Fortaleza, 
jun.- dez. 2011. 52 
 
10 
 
 
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS 
 
 
 
 
AE Anticoncepcionais Orais de Emergência 
AIC Anticoncepcionais Injetáveis Combinados 
AMIU Aspiração Manual Intra-Uterina 
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
AOC Anticoncepcionais Orais Combinados de baixa dose 
 AP Anticoncepcionais só de Progestógeno 
AT Adesivo Transdérmico 
BARR Métodos de Barreira 
BEMFAM Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar no Brasil 
BVS Biblioteca Virtual de Saúde 
CAISM Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher 
CEME Central de Medicamentos 
CI Coito Interrompido 
CIPD/94 Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento-94 
CNSM Coordenação Nacional de Saúde do Mercosul 
DIU Dispositivos Intrauterinos 
DST Doenças Sexualmente Transmissíveis 
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente 
ESF Estratégia Saúde da Família 
FIGO Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia 
HGCC Hospital Geral Dr. César Cals 
IPPF International Planned Parenthood Federation 
LAM Método da Lactação com Amenorreia 
MAC Métodos Anticoncepcionais 
MBPF Métodos Baseados na Percepção da Fertilidade 
MERCOSUL Mercado Comum do Sul 
MQI Método das Questões Indiretas 
MS Ministério da Saúde 
MU Método da Urna 
OMS Organização Mundial de Saúde 
PAISM Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher 
11 
 
PF Planejamento Familiar 
PNA Pesquisa Nacional de Aborto 
PNAISM Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher 
RENAME Relação Nacional de Medicamentos Essenciais 
SER-I Secretaria Executiva Regional I 
SM Salário Mínimo 
SUS Sistema Único de Saúde 
UFC Universidade Federal do Ceará 
USAID U.S. Agency for International Development 
 
12 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................14 
2 OBJETIVOS.......................................................................................................................202.1 Objetivo Geral.................................................................................................................20 
2.2 Objetivos Específicos......................................................................................................20 
3 REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................................21 
3.1 Políticas e práticas de saúde voltadas ao planejamento familiar e ao aborto no 
Brasil .....................................................................................................................................21 
3.2 Aborto provocado e prática anticoncepcional..............................................................28 
3.3 Aborto provocado: motivos para fazê-lo e meios utilizados........................................33 
4 METODOLOGIA..............................................................................................................36 
4.1 Tipo de Estudo................................................................................................................36 
4.2 Local do estudo...............................................................................................................36 
4.3 População e amostra.......................................................................................................37 
4.4 Coleta de dados...............................................................................................................38 
4.5 Organização dos dados para análise.............................................................................39 
4.6 Aspectos Éticos ...............................................................................................................39 
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................40 
5.1 Características demográficas e socioeconômicas das participantes do estudo..........40 
5.2 História reprodutiva e condição de união das participantes.......................................43 
5.3 Informação, acesso e MAC em uso prévio ao aborto atual.........................................48 
5.4 Meios usados na prática do aborto, fontes de obtenção de informações sobre os 
meios e motivos para a prática do aborto provocado ......................................................52 
13 
 
 
6 CONCLUSÕES..................................................................................................................57 
 REFERÊNCIAS...................................................................................................................59 
APÊNDICE – A: FORMULÁRIO DE ENTREVISTA....................................................67 
APÊNDICE – B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO........69 
ANEXO – A: PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL 
DO CEARÁ...........................................................................................................................71 
ANEXO – B: PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DO HOSPITAL GERAL DR. 
CÉSAR CALS.......................................................................................................................72 
 
14 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
s eventos no campo da saúde sexual e reprodutiva marcam a trajetória de 
vida das pessoas, envolvem terceiros e são decididos, muitas vezes, sem o 
devido conhecimento de causa, podendo gerar arrependimento, 
comprometimento da saúde nas áreas física, psicológica e/ou social e até o óbito. Nesse 
contexto, destaca-se o aborto provocado. 
Sob o ponto de vista obstétrico, o aborto é definido como sendo a expulsão do 
concepto antes da 22ª. semana de gravidez ou a perda do concepto com menos de 500g de 
peso. Este pode se apresentar sob as formas clínicas de ameaça de abortamento, abortamento 
inevitável, abortamento incompleto, completo, retido, habitual e infectado e quanto ao 
princípio causal o mesmo é classificado como espontâneo e provocado (REZENDE FILHO ; 
MONTENEGRO, 2008). O aborto provocado ocorre quando o término da gestação se dá 
mediante a interferência deliberada, antes que o feto seja capaz de ter vida extra-uterina, e 
inclui aqueles previstos ou não por lei (OLINTO ; MOREIRA-FILHO, 2006). 
A ameaça de abortamento compreende a presença de sangramento vaginal de origem 
intra-uterina no transcurso da gestação, enquanto o abortamento inevitável é o sangramento 
vaginal que ocorre com o colo uterino dilatado, acompanhado da perda de líquido amniótico 
pela ruptura das membranas. O abortamento incompleto é a expulsão parcial do concepto ou 
da placenta, todavia a expulsão total do concepto nomeia-se como abortamento completo. O 
abortamento retido é a morte fetal sem a expulsão do concepto, podendo ter ou não 
sangramento vaginal. Já o abortamento habitual é a interrupção sucessiva de gestações. 
Quando ocorre infecção no processo de aborto, este é definido como aborto infectado, que em 
muitos casos está associado ao aborto induzido ou provocado sob más condições de higiene e 
assepsia (REZENDE FILHO ; MONTENEGRO, 2008). 
O aborto pode ser classificado como seguro ou como aborto de risco. Como categorias 
já reconhecidas internacionalmente são assim descritas: aborto seguro é o que representa risco 
mínimo para a parturiente, como o aborto médico ou cirúrgico realizado em condições 
técnicas adequadas e com os recursos e meios necessários. Já o aborto de risco é um 
procedimento para interrupção de uma gestação indesejada, realizada em ambientes sem 
padrões médicos mínimos e/ou realizados por pessoas não habilitadas (FAÚNDES ; 
BARZELATTO, 2004). 
O 
15 
 
O aborto provocado constitui uma prática antiga, evidenciada em relatos históricos. Na 
antiga Grécia, por exemplo, o aborto era preconizado por Aristóteles (384 - 322 a.C.) como 
método eficaz para limitar os nascimentos e manter estáveis as populações das cidades gregas. 
Por sua vez, Platão (427 – 347 a.C.) opinava que o aborto deveria ser obrigatório, por motivos 
eugênicos, para as mulheres com mais de 40 anos e para preservar a pureza da raça dos 
guerreiros. Sócrates (470 – 399 a.C.) aconselhava às parteiras, por sinal profissão de sua mãe, 
que facilitassem o aborto às mulheres que assim o desejassem (FRENTE DE MULHERES 
FEMINISTAS, 1980 apud SCHOR ; ALVARENGA, 1994). Aristóteles como filho de 
médico teve inclinação para estudar a natureza humana e, Platão, ateniense, envolvido com a 
política desde muito jovem se colocava em favor da pureza da raça grega, como já citado. 
Sócrates como filósofo, a viver em praças e ruas estudava a sociedade ouvindo a população e 
apoiando a liberdade de escolha desta sociedade. Como o aborto perpassa pela saúde, política 
e pelo social, estes pensadores que marcaram suas épocas não se omitiram em falar sobre este 
assunto, pertinente até os dias atuais. 
Este tema guarda estreita relação com o enfermeiro e demais membros da equipe de 
enfermagem (técnico e auxiliar de enfermagem), que tanto atuam na promoção da saúde 
sexual e reprodutiva, desenvolvendo atividades voltadas ao conhecimento do corpo, da prática 
do sexo seguro, da gravidez planejada (aspectos que reduzem a prática do aborto provocado) 
quanto atuam na assistência direta às mulheres no abortamento em curso ou em pós-aborto. 
Neste contexto, inclui os cuidados de enfermagem em hospitalização, na resolução do aborto, 
prevenção de infecções e de acolhimento às necessidades emocionais da cliente. A 
Enfermagem mantém sua atuação nessa área da saúde desde a antiguidade, como parteiras 
empíricas, institucionalizando-se e culminando, nos dias atuais, com a formação em nível de 
Especialização em Enfermagem Obstétrica. 
Atualmente, vários países têm a prática do aborto legalizada, como a maior parte dos 
países mulçumanos da Ásia, metade dos países africanos, Bélgica, Irlanda do Norte, Malta e 
China, antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e Cuba (HALBE, 1993; 
FUSCO; ANDREONI; SILVA, 2008). Os EUA permitem o aborto até o quinto mês de 
gestação; na França, a legalização ocorreu em 1975, sendo atualizada em 2001, quando o 
aborto passou a ser permitido até o terceiro mês de gravidez; no Reino Unido o aborto foi 
legalizado em 1967, estando autorizado até a 24ª semana de gravidez; Portugal legalizou o 
aborto recentemente até a 10ª semana de gravidez (SEGATTO, 2007). No entanto, em países 
como Brasil, Uruguai e Argentina o aborto é considerado crime de acordo em seus respectivos 
códigos penais (ROCHA; ROSTAGNOL ; GUTIERREZ, 2009). Por outro lado, o Chile não 
16 
 
prevê o aborto nem quando a vida da mãe está em risco e os casos são julgados 
individualmente, enquanto na China o aborto funciona como medida de controle populacional 
(SEGATTO, 2007). 
No Código Penal Brasileiro, o artigo 128º estabelece o aborto como um crime contra a 
vida, exceto quando põe a vida da mãe em risco e em casos de estupro (ANGHER, 2007). O 
artigo 2º da lei n
o
. 10.406 do Código Civil Brasileiro estabelece desde a concepção, a 
proteção jurídica aos direitos do nascituro, e o artigo 7º da lei n
o
. 8.069 do Estatuto da Criança 
e do Adolescente (ECA) dispõe que a criança tem direito à vida, mediante a efetivação de 
políticas públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso 
(ANGHER, 2OO7). 
Do exposto, percebem-se posições extremamente diversificadas dos países com 
relação à legalização do aborto, passando por sua não previsão mesmo quando a vida materna 
está em risco, legalização em idades gestacionais variáveis (10ª., 20ª. e 24ª. semanas de 
gestação) até funcionando como medida de controle populacional. 
Com o Sistema Único de Saúde (SUS) instituído no Brasil, em 1986, que tem como 
princípios norteadores a universalidade, a integralidade e a equidade, a população ganhou a 
garantia de acesso livre e de qualidade aos serviços de saúde nos níveis primário, secundário e 
terciário. Entre os vários níveis destaca-se o primário, cuja atenção voltada ao Planejamento 
Familiar (PF) constitui área prioritária, devendo ser ofertada em todo território nacional pelas 
equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), introduzida no país em 1994. Destaca-se seu 
pioneirismo no município de Quixadá, no Ceará, levando os serviços de saúde para próximos 
de onde as pessoas viviam ou trabalhavam de modo oportuno, humanizado e resolutivo 
(SOUZA, 2000). 
A ESF tem melhorado o acesso da população aos serviços de PF em âmbito nacional, 
porém lacunas se mantêm no que diz respeito à acessibilidade à informação e aos meios e 
técnicas de anticoncepção, o que eleva o número de mulheres com gravidez não planejada, 
evento que, por sua vez, aumenta o número de casos de aborto provocado e ilegal. Não 
obstante, muitas mulheres permanecem fora desses serviços por desconhecimento; pelas 
grandes distâncias que as separam das unidades de saúde, particularmente nas áreas rurais; 
pela escassez de atendimento fora do horário de trabalho; obstáculos impostos pelos 
profissionais, parceiros, bem como por tabus e mitos que permeiam a saúde sexual e 
reprodutiva. Em se tratando de adolescentes, fato específico afasta este público-alvo dos 
serviços de PF, uma vez que a busca pelos Métodos Anticoncepcionais (MAC) se consolida 
como a declaração de vida sexual ativa, algo que preferem manter sob sigilo. 
17 
 
Os serviços de PF devem oferecer acompanhamento às mulheres, homens e/ou casais, 
a incluir orientações sobre eficácia, mecanismo de ação, uso adequado, possíveis efeitos 
colaterais e complicações dos MAC, bem como os próprios meios e técnicas para o alcance da 
anticoncepção, de modo que a gravidez possa ser planejada e, consequentemente, ter menor 
chance de ser finalizada pelo abortamento provocado. Estudo realizado com 800 nativivos em 
maternidade pública de Salvador-BA corrobora esta assertiva ao verificar que 418 (52,3%) 
mulheres não haviam planejado a gravidez e 128 (16%) destas realizaram tentativas de 
abortamento no primeiro trimestre de gestação (MOREIRA et al., 2001). 
Em estudo realizado com 375 mulheres na Zona Norte da cidade de São Paulo, na 
Favela Inajar de Souza, as mulheres referiram o não uso de MAC em 70,7% dos casos das 
gestações terminadas em aborto. Entre o grupo de mulheres com histórico de aborto, teve-se 
uma média de 4,15 gestações por mulher, com apenas 2,5 nascidos vivos; e no grupo de 
mulheres sem histórico de aborto, a média foi de 2,38 gestações por mulher (FUSCO, 
ANDREONI e SILVA, 2008). Portanto, a gravidez não planejada pela falta de uso de MAC 
contribui para a prática do aborto provocado, cujas complicações como as hemorragias 
representam a segunda causa de morte materna no país (BRASIL, 2009a). É inaceitável que 
inúmeras mulheres tenham suas vidas ceifadas ou se tornem vítimas de violência física e 
psicológica na busca ou no processo de resolução do abortamento, quando práticas 
anticonceptivas embasadas em informações apropriadas poderiam evitar essas gestações. 
O enfermeiro, enquanto profissional de saúde da ESF tem como uma de suas 
competências a promoção da saúde e a prevenção de agravos junto à comunidade adstrita, o 
que se alcança, em parte, por meio da realização de atividades educativas planejadas e 
contínuas. No que diz respeito ao planejamento da gestação ou a prática anticoncepcional, as 
referidas ações educativas são fundamentais a tomada de decisão da mulher, homem e/ou 
casal. Contudo, Moura e Silva (2004) em estudo realizado com 29 enfermeiros do Ceará 
verificaram dificuldades para a realização dessas ações, como equipes da ESF incompletas, 
sobrecarregando o enfermeiro; elevado número de pessoas ou famílias para cada equipe da 
ESF; escassez de materiais educativos de apoio; e falta de um espaço físico apropriado para 
reunir à clientela na maioria das unidades de saúde. 
No Brasil, a educação em saúde se desenvolve com base em dois pressupostos 
principais: um voltado às medidas preventivas e curativas, visando à obtenção da saúde e o 
enfrentamento das doenças; o outro, correspondente às estratégias da promoção da saúde 
como construção social da saúde e do bem-estar (GUEDES; SILVA ; FREITAS, 2004). 
Assim, a promoção da saúde é entendida como o processo participativo da população no 
18 
 
contexto de sua vida cotidiana e não apenas das pessoas sob risco de adoecer, pois almeja a 
obtenção de melhores condições de vida da população. Abrange, entre outros propósitos, 
excluir ou minimizar a ocorrência de doenças decorrentes da ausência destas condições, 
atingindo as causas e não apenas a manifestação de tais agravos (LEFRÈVE, 2003). 
Somada a gravidez não planejada pela baixa resposta dos serviços de PF do SUS, parte 
das gestantes também vivencia falta de apoio por parte da família e/ou do parceiro para 
exercer a maternidade, a falta de condição financeira para manter o filho é posta como 
obstáculo e os conflitos sociais advindos da necessidade de investir na carreira profissional ou 
até mesmo de manter a estética corporal feminina preservada são motivações para o aborto. 
Estudo de caso-controle realizado com 21 casos de mulheres admitidas em maternidade 
pública do Município da Serra-ES e 83 controles verificou que as mulheres que trabalhavam 
fora de casa, estudavam ou tinham como objetivo conseguir um emprego, apresentaram 7,5 
vezes mais aborto do que aquelas cuja ocupação era de dona de casa (NADER et al., 2008). 
Na população adolescente, a decisão pela prática do aborto é vivenciada, muitas vezes, sobre 
pressão do parceiro ou familiares, a qual acaba sendo concretizada por imposição e de forma 
clandestina (SOUZA et al., 2010). 
Pesquisa sobre a magnitude do aborto no Brasil estimou que 1.054.242 abortos foram 
provocados em 2005. A fonte de dados para o cálculo da estimativa foi as internações por 
abortamento registradas no Serviço de Informações Hospitalares (SIH) do Sistema Único deSaúde. No número total de internações foi aplicado um multiplicador baseado na hipótese de 
que 20% das mulheres que induzem aborto foram hospitalizadas. A maioria dos abortos 
provocados ocorreu no Nordeste e Sudeste do País, com uma estimativa de taxa anual de 
aborto provocado de 2,07 por 100 mulheres entre 15 e 49 anos (BRASIL, 2009b). 
O conhecimento do número de mortes de mulheres por aborto é um subsídio à 
elaboração de políticas públicas que previnam este agravo, todavia a subnotificação e o 
subregistro fazem com que a verdadeira realidade brasileira sobre o aborto não seja retratada 
(BRASIL, 2004). Mesmo assim, dados do DATASUS de junho de 2010 com relação a 
internações por gravidez, parto e puerpério revelaram 7.441 internações por gestações que 
terminaram em aborto, no país, sendo 627 internações na região Norte, 3.181 internações na 
região Sudeste, 616 internações na região Centro-Oeste, 1.018 internações na região Sul e 
1.999 internações na região Nordeste, destacando-se a ocorrência de 301 internações no Ceará 
(DATASUS, 2010). 
Em face ao exposto, observa-se que o aborto provocado constitui um problema 
relevante de Saúde Pública e que os dados sobre a gravidez não planejada são elevados. Nesse 
19 
 
sentido, foram elaboradas as questões: Qual a prática anticoncepcional de mulheres, prévio a 
gestação que acabou em aborto provocado comparada as que tiveram aborto espontâneo? O 
aborto provocado estaria associado à gravidez não planejada? Quais os motivos que levaram 
essas mulheres à prática do aborto provocado e como o realizaram? Para responder a esses 
questionamentos foram elaborados os objetivos de pesquisa. 
O aborto provocado e sua interface com variáveis demográficas, socioeconômicas e 
reprodutivas, comparativamente com o aborto espontâneo constituiu o objeto desta pesquisa, 
associações que se não enfrentadas particularmente com ações de promoção da saúde em 
anticoncepção culmina em elevada morbidade e mortalidade materna, tendo relação direta 
com a atenção dispensada pelos gestores e profissionais de saúde, particularmente, o 
enfermeiro, que está à frente dos serviços de anticoncepção desenvolvendo atividades 
educativas, preventivas e assistenciais. 
A relevância do estudo está na possibilidade de propor melhorias na assistência a 
anticoncepção, no sentido de reduzir o aborto provocado, bem como perceber as motivações e 
os meios associados ao referido evento. 
 
 
 
20 
 
2 OBJETIVOS 
 
 
2.1 Objetivo Geral 
 
 Investigar sobre a prática do aborto provocado e sua relação com a gravidez não 
planejada, comparativamente com o aborto espontâneo. 
 
 
2.2 Objetivos Específicos 
 
 Analisar aspectos demográficos, socioeconômicos e reprodutivos comparativamente ao 
aborto provocado e espontâneo. 
 Verificar o conhecimento e a prática anticoncepcional prévia a gestação interrompida por 
aborto provocado e por aborto espontâneo; 
 Conhecer os meios utilizados na prática do aborto provocado e os motivos determinantes; 
 
 
 
21 
 
3 REVISÃO DE LITERATURA 
 
 
3.1 Políticas e práticas de saúde voltadas ao planejamento familiar e ao aborto no Brasil. 
 
o início dos anos 60, com a descoberta da pílula anticoncepcional, o tema 
da sexualidade e anticoncepção ganhou força em todo o mundo, uma vez 
que um método anticoncepcional de fácil uso, sob controle da própria 
usuária, e de elevada eficácia estava disponível, representando possibilidade de a mulher 
decidir sobre sua meta reprodutiva. Esta mesma época também foi marcada pela ampla 
inserção feminina no mercado de trabalho, que trouxe conflitos ao exercício da maternidade. 
Portanto, o campo era favorável a disseminação da pílula (BRASIL, 2010a). 
Os países tiveram que responder às demandas geradas no campo da saúde sexual e 
reprodutiva e como era interesse dos países ricos, especialmente dos Estados Unidos, em 
impor à America Latina a adoção de políticas de controle da natalidade, impulsionados pelo 
discurso Malthusiano de que a pobreza seria reduzida pela diminuição do número de 
nascimentos, recursos financeiros foram introduzidos por agências internacionais que tinham 
o interesse em reduzir o crescimento populacional, como a U.S. Agency for International 
Development (USAID) e a International Planned Parenthood Federation (IPPF). Esta última 
tornou a Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar no Brasil (BEMFAM), primeira organização 
não-governamental de Planejamento Familiar (PF), sua afiliada oficial no país, em 1967 
(USAID, 2000). 
A enfermeira Margaret Sanger, marcou sua época com a criação do IPPF, em 1952, 
com sede em Londres. Integrou um grupo de enfermeiras que trabalhou no sentido de 
estruturar organizações fortes para reivindicar reformas sociais e políticas com vistas a 
restabelecer o controle da prática de Enfermagem. Desenvolveu conhecimento sobre 
reprodução e PF, disseminando informações sobre medidas de contracepção. Portanto, a 
Enfermagem teve sua participação na introdução do PF no Brasil (COSTA, 2002). 
A BEMFAM é uma organização não-governamental, de ação social e sem fins 
lucrativos com 45 anos de atuação no país. Certificada pelo Ministério do Desenvolvimento 
Social como uma entidade beneficente de assistência social está sediada no Rio de Janeiro 
com oito escritórios regionais onde funcionam as Unidades de Promoção Social e sete 
Centros de Jovens. Permanece até os dias atuais desenvolvendo ações direcionadas a grupos 
N 
22 
 
socialmente vulneráveis por meio de atenção individual e familiar, tendo como metas a defesa 
das políticas de desenvolvimento e ação social que visem à atenção integral à família, 
igualdade de gênero e ao direito das mulheres à saúde sexual e reprodutiva; a obtenção de 
avanços no direito humano básico de mulheres, homens e jovens decidirem de maneira livre e 
informada a respeito da própria saúde sexual e reprodutiva (BEMFAM, 2011). 
O pensamento do Ministro da Igreja Anglicana Thomas Robert Malthus publicado na 
Inglaterra, em 1798, tornou-se uma referência para o estudo da demografia no século XIX. Na 
segunda metade do século XIX ganhou corpo e legitimidade, materializando-se em 
proposições e ações voltadas para o controle coercitivo da fecundidade (ALVES e CORRÊA, 
2003). Nessa mesma época, as políticas internacionais mantiveram a ênfase no controle da 
natalidade com vistas a conter o crescimento populacional (GALVÃO, 1999). O reflexo na 
fecundidade brasileira foi visível. Em 1970, a mulher brasileira tinha, em média, 5,8 filhos. 
Trinta anos depois, esta média era de 2,3 filhos. Em 2000, com exceção da região Norte, as 
demais regiões apresentaram taxas de fecundidade próximas à taxa média nacional (2,3 filhos 
por mulher). A região Sudeste apresentou a menor taxa de fecundidade: 2,2 filhos por mulher 
(IBGE, 2011). 
Contudo, no final da década de 70, o PF passou a ser um tema amplamente discutido 
pelas mulheres, que por meio dos movimentos feministas defendiam a autonomia de decisão 
das pessoas na escolha dos Métodos Anticoncepcionais (MAC) e das metas reprodutivas 
(BRASIL, 2010a). 
Na década de 80, precisamente em 1984, o Ministério da Saúde lançou o Programa de 
Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), com a colaboração de representantes de 
grupos feministas, gestores federais e estaduais e pesquisadores de universidades. O PAISM 
constituiu-se em um marco histórico das políticas públicas voltadas à saúde da mulher, 
centrado na integralidade das ações, propondo abordagem global à saúde em todas as fases do 
seu ciclo vital e não apenas no ciclo gravídico-puerperal (BRASIL, 2005). Enquanto diretriz 
filosófica e política incorporou princípios norteadores da reforma sanitária, com a ideia de 
descentralização, hierarquização, regionalização, equidade e participação social, voltando-se à 
atenção ao pré-natal, parto e puerpério, climatério, planejamento familiar, prevenção e 
controle das DoençasSexualmente Transmissíveis (DST) e do câncer de colo de útero e a 
detecção precoce do câncer de mama. O conceito de assistência reconhece o cuidado de toda a 
equipe de saúde com alto valor às práticas educativas, no sentido de promover o 
conhecimento da clientela sobre as questões relativas à saúde e, assim, exercerem a cidadania 
nesse campo (BRASIL, 2011a). 
23 
 
No intuito de que ações educativas voltadas ao controle da fecundidade e a prevenção 
de DST/aids sejam ofertadas prévia e concomitantemente ao início da vida sexual, permitindo 
que os jovens vivam plenamente sua vida sexual e reprodutiva mediante escolhas próprias 
responsáveis e sem riscos, considerando as diversidades do perfil reprodutivo das 
adolescentes, políticas públicas têm investido na promoção da saúde deste grupo (BORGES ; 
SCHOR, 2005). Mesmo assim, estudos revelam que o conhecimento de adolescentes e de 
pessoas nas demais idades reprodutivas é escasso, revelando que sabem citar a maioria dos 
MAC, mas desconhece a eficácia, forma de uso, efeitos colaterais e como lidar com os 
mesmos (MOURA ; SILVA, 2005; MARTINS et al., 2006; ROMERO et al., 2007 ; ROCHA, 
DIAS ; GAMA, 2010 ). O abortamento provocado, praticado muitas vezes porque a gravidez 
não foi planejada, também reforça o desconhecimento das mulheres quanto à prática 
anticonceptiva e aos riscos relacionados à interrupção voluntária da gestação. 
Na década de 90, a realização da Conferência Internacional sobre População e 
Desenvolvimento (CIPD/94) no Cairo e da IV Conferência Mundial sobre a Mulher (ONU, 
2012) foram determinantes para os direitos sexuais e reprodutivos, considerados importantes 
para os direitos humanos. Na Conferência do Cairo/1994, Capítulo VIII, § 825, descreve que 
o aborto não deve ser promovido como método de anticoncepção, em que o governo deverá 
assumir compromisso com a saúde da mulher. Assim, as ações de prevenção à gravidez 
indesejada deverão ter prioridade. Nos casos de aborto garantido por lei, este deverá ser 
realizado de forma segura, garantindo também às mulheres em quadro de aborto, espontâneo 
ou não, serviço de qualidade para o tratamento de possíveis complicações pós-aborto. Além 
disso, ratifica que o trabalho de orientação, educação e PF pós-aborto devem ser oferecidos às 
mulheres visando evitar abortos repetidos (CIPD-94, 1994). 
Tomando por base este artigo da Conferência do Cairo, a IV Conferência Mundial 
sobre a Mulher propôs a revisão das leis que caracterizam o aborto como ato criminoso. 
Assim, o aborto inseguro passou a ser reconhecido como um problema de Saúde Pública, 
indicando que os governos deveriam reformular as leis a fim de descriminalizar as mulheres 
que realizam aborto e garantir pleno atendimento de saúde às mesmas. 
Apesar da conquista importante do direito ao PF na Constituição de 1988 no Título 
VII da Ordem Social, Capítulo VII, art. 226, § 7, em que determina a livre decisão do casal 
sobre o número de filhos, quando tê-lo, quando parar de tê-los e quais MAC usar, ainda não 
constitui direito na prática (BRASIL, 2005). Regulamentado pela Lei Nº 9.263, de 12 de 
janeiro de 1996, Art. 2º, entende-se o PF como sendo o conjunto de ações de regulação da 
24 
 
fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela 
mulher, pelo homem ou pelo casal (BRASIL, 2011b). 
Em 2003, iniciou-se a elaboração da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da 
Mulher (PNAISM)-Princípios e Diretrizes, quando a equipe técnica de saúde da mulher do 
Ministério da Saúde avaliou os avanços e retrocessos alcançados na gestão anterior. Em maio 
de 2004, o Ministério da Saúde lançou a PNAISM, elaborada a partir da proposição do SUS e 
respeitando as características da nova política nacional de saúde (BRASIL, 2009c). 
Como estratégias da PNAISM podem-se enumerar: ampliação e qualificação da 
atenção clínico-ginecológica, implantação e implementação da assistência ao PF, para homens 
e mulheres, adultos e adolescentes, no âmbito da atenção integral à saúde; atenção obstétrica e 
neonatal, qualificada e humanizada, incluindo a assistência ao abortamento em condições 
inseguras, para mulheres e adolescentes; atenção às mulheres e adolescentes em situação de 
violência doméstica e sexual (BRASIL, 2009c). 
Retomando a atenção ao PF destaca-se a atenção voltada à concepção e anticoncepção. 
Quanto à anticoncepção, suprimento suficiente e contínuo dos MAC constitui condição 
indispensável à qualidade das ações. A esse respeito, a distribuição dos MAC aconteceu no 
País, inicialmente, pela doação de agências internacionais e, em 1990, o anticoncepcional 
hormonal oral passou a ser adquirido pela Central de Medicamentos (CEME) como 
responsabilidade do Governo Federal. Em 1997, a aquisição do MAC pelo Ministério da 
Saúde foi interrompida, havendo a descentralização dos recursos federais para os estados e 
municípios. Porém, em 2000, o Ministério da Saúde retomou a distribuição dos MAC, 
visando à ampliação da oferta e a estratégia de compra voltou para o nível Federal, com 
distribuição para as secretarias estaduais e municipais de saúde, propondo-se a atender, 
respectivamente, 30% da demanda potencial de métodos no SUS no 1º ano (2000), 60% no 2º 
ano (2001) e 100% no 3º ano (2002) (BRASIL, 2005). 
Realidade diferente foi desencadeada na aquisição dos MAC no Estado do Ceará, em 
que a Secretaria Estadual de Saúde introduziu na relação dos medicamentos adquiridos pelo 
Estado, o anticoncepcional oral combinado de baixa dose e o anticoncepcional só de 
progestágeno (CEARÁ, 2003). 
Com relação à aquisição e à distribuição de preservativos, desde 2001, vem sendo 
implementada a Política de Preservativos Masculinos e Femininos do Ministério da Saúde e 
tem sido responsabilidade do Programa Nacional de DST/aids a implementação desta Política 
(BRASIL, 2005). 
25 
 
A lista atual de MAC ofertados pelo Governo Federal abrange: Anticoncepcionais 
Orais Combinados de baixa dose (AOC), Anticoncepcionais Injetáveis Combinados (AIC), 
Anticoncepcionais só de Progestógeno (AP), Anticoncepcionais Orais de Emergência (AE), 
Dispositivos Intrauterinos (DIU) e os Métodos de Barreira (BARR) como o diafragma e 
preservativo masculino (BRASIL, 2011c). Acrescentam-se a estes os Métodos Baseados na 
Percepção da Fertilidade (MBPF) como o método Ogino-Knaus, Temperatura Basal Corporal, 
Billings e o sintotérmico. Soma-se, ainda, o Coito Interrompido (CI) e o método da Lactação 
com Amenorreia (LAM), complementando a variedade dos MAC que deve ser ofertada a 
clientela com necessidade de anticoncepção. 
A maior diversidade de MAC fornecida aos usuários do serviço de PF garante a livre 
escolha, como também a adequação do método e a adesão e a continuidade de uso do mesmo, 
evitando a gravidez indesejada e, por conseguinte o aborto provocado. Portanto, as políticas e 
ações de saúde voltadas ao PF estão intimamente relacionadas às políticas e ações voltadas a 
prevenção do abortamento provocado. 
No Brasil, em 2006, o número de óbitos maternos foi de 77 por 100.000 nascidos 
vivos, correspondendo a 1.623 óbitos maternos. As mortes maternas por causas obstétricas 
diretas que são aquelas relacionadas ao parto, ao aborto e ao puerpério vêm respondendo por 
cerca de dois terços desses óbitos, denotando baixa qualidade da atenção obstétrica e ao PF 
prestada às mulheres brasileiras (BRASIL, 2009e). 
 Em 2005, foi lançada a Política Nacional de Direitos Sexuais e Reprodutivos, 
objetivando a melhoria de serviços de saúde sexual e reprodutiva enfocando, principalmente, 
o PF. Como principais eixos de estratégias, destacam-se: a ampliação da oferta de MAC 
reversíveis; o aumento do acesso à esterilização cirúrgica voluntária; e a introdução da 
reprodução humana assistida no Sistema Único de Saúde (SUS). Também trata da inclusão do 
medicamento misoprostol na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais(RENAME), 
regulamentada pela Portaria nº 1.044/2010; e a participação na elaboração do Acordo 
MERCOSUL/RMS Nº 14/08 para a redução da mortalidade materna e neonatal (BRASIL, 
2011d). 
De acordo com o Relatório da Coordenação Nacional de Saúde do Mercosul (CNSM) 
em que foram pactuados diversos acordos, o do MERCOSUL/RMS Nº 14/08, estabelece 
como estratégia a prevenção e promoção da saúde sexual e reprodutiva, a prevenção da 
gravidez não planejada e DST e o acesso e qualificação da atenção humanizada à interrupção 
da gravidez e aconselhamento. Em reunião da Comissão Internacional sobre Saúde Sexual e 
Reprodutiva, que ocorreu no dias 10 e 11 de setembro de 2009, com participação do Brasil, 
26 
 
Paraguai, Uruguai e Chile, foram discutidos dentre outras questões a incidência de mortes 
maternas por aborto provocado (BRASIL, 2009d). 
No que se refere à assistência ao abortamento, a Normatização da Atenção 
Humanizada ao Abortamento lançada em 2005, pelo Ministério da Saúde, como guia 
norteador de aspectos éticos e jurídicos, esclarece que de acordo com o Código Penal 
Brasileiro é legal o aborto em caso de risco à vida da mãe e em caso de estupro; e permite 
jurisprudência para a interrupção de gravidez nos casos de malformação fetal com 
inviabilidade de vida extra-uterina, com o consentimento da mulher. Diante de abortamento 
espontâneo ou provocado, o (a) médico (a) ou qualquer profissional de saúde não pode 
comunicar o fato à autoridade policial, judicial, nem ao Ministério Público, pois o sigilo na 
prática profissional da assistência à saúde é dever legal e ético, salvo para proteção da usuária 
e com o seu consentimento. O não cumprimento da norma legal pode ensejar procedimento 
criminal, civil e ético profissional contra quem revelou a informação, respondendo por todos 
os danos causados à mulher (BRASIL, 2010b). 
Nas situações de violência sexual o Código Penal não exige qualquer documento para 
a prática do abortamento e a mulher violentada sexualmente não tem o dever legal de noticiar 
o fato à polícia. Deve orientá-la a tomar as providências policiais e judiciais cabíveis, mas, 
caso ela não o faça, não lhe pode ser negado o abortamento. O profissional de saúde ao se 
deparar com esta situação acima citada, não deve negar atendimento à mulher violentada que 
não apresente documento policial ou judicial. Se posteriormente, o profissional tomar 
conhecimento de que a gravidez não foi resultado de violência sexual, deve tranquilizar-se, 
pois o Código Penal, artigo 20, § 1º garante a isenção de pena a quem, por erro plenamente 
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação 
legítima (BRASIL, 2010b ; ANGHER, 2OO7). 
Propondo uma atenção humanizada na área de assistência ao abortamento, o 
Ministério da Saúde enfatiza a importância do acolhimento, em que se deve realizar a escuta 
ativa, livre de preconceito, julgamento e comentários desrespeitosos, colocando a tarefa de 
acolher para toda equipe de saúde. Estabelece que se deva orientar a mulher, informando-a 
dos procedimentos, das condições clínicas e dos cuidados para que sejam evitadas as 
complicações posteriores. Nos casos de abortamento provocado, a adoção imediata de 
contracepção pós-abortamento mostra-se como medida eficaz para reduzir o risco de novos 
abortamentos provocados (BRASIL, 2010b). A oferta do serviço de PF às mulheres em pós-
abortamento envolve a participação do enfermeiro, dando a oportunidade de conhecimento 
27 
 
sobre os MAC, eficácia, mecanismo de ação, efeitos adversos e a prática da decisão de 
escolha do MAC com autonomia pela mulher. 
O atendimento para o esvaziamento uterino oferecido no abortamento provocado 
inclui o uso do misoprostol em qualquer tempo gestacional, a técnica de Aspiração Manual 
Intra-Uterina (AMIU) até a 12
a
 semana gestacional e a curetagem uterina após a 12
a
 semana 
gestacional (BRASIL, 2010b). 
O aborto provocado pode ser deflagrado por meio de sucção ou aspiração, curetagem, 
drogas, plantas e soluções salinas (REZENDE FILHO ; MONTENEGRO, 2008). Quando 
praticado clandestinamente pode ter complicações imediatas, como a perfuração uterina com 
lesão de vísceras abdominais, hemorragias intensas, laceração da cérvice, coagulopatia 
sistêmica, complicações anestésicas, evoluindo muitas vezes para o aborto séptico (FREITAS 
et al., 2006). 
Apesar da ilegalidade da comercialização do misoprostol no Brasil, estabelecida na 
Portaria nº 344 de 12 de maio de 1998, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), 
o mercado negro o comercializa de forma deliberada. Por exemplo, a internet, oferece o 
medicamento para quem tiver interesse pelo produto, independente das consequências e 
contra-indicações do mesmo (ALVES, 2008). Conforme a citada Portaria somente é permitida 
a compra e uso do misoprostol em estabelecimentos hospitalares devidamente cadastrados 
junto a Autoridade Sanitária (BRASIL, 1998). 
O misoprostol é indicado para ser usado por via vaginal, cujos comprimidos são 
umedecidos com água e aplicados no fundo de saco lateral da vagina. A dose dependerá da 
idade gestacional, ou seja, no primeiro trimestre de gestação, a dose será de 800mcg por dia, 
via vaginal durante dois dias e no segundo trimestre de gestação, a dose recomendada será de 
200mcg de 12 em 12 horas, via vaginal, e propõe-se repetir o tratamento em ciclos de 48 
horas, com três a cinco dias de intervalo (BRASIL, 2010b). 
A técnica AMIU tem se constituído em um método eficaz, seguro e conveniente para 
esvaziamento uterino em casos de aborto incompleto no primeiro trimestre de gestação. 
Consiste em uma seringa de válvula única ou dupla, de 60 ml, adaptadores e uma série de 
cânulas de Karman de 4 a 12mm de diâmetro para útero do tamanho menor de 12 semanas de 
gestação, pois há necessidade de o colo uterino ser justo à cânula para que o vácuo seja 
transferido da seringa para a cavidade uterina. Este é o procedimento de escolha para 
resolução do abortamento, sendo recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e 
pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). Nos casos em que o 
abortamento está infectado, a AMIU é a técnica de eleição, embora cuidados redobrados 
28 
 
devam ser adotados, pelo risco de perfuração uterina (REZENDE FILHO ; MONTENEGRO, 
2008; BRASIL, 2010b). Nestes casos, a antibioticoterapia entra como coadjuvante, na 
prevenção ou controle da infecção iniciada ou não, após a exposição do útero ao início do 
abortamento, principalmente, quando utilizado técnica séptica. Geralmente, a cobertura do 
antibiótico de escolha é ampla, para atingir os microorganismos aeróbicos e anaeróbicos. 
A curetagem uterina é realizada nos casos de abortamento em curso com a apreensão 
da massa ovular ou de fragmento ovular. Para realização deste procedimento é necessário 
anestesia. No procedimento, são utilizados dilatadores de Denistonn ou velas de Hegar e uma 
pinça tipo Pozzi. Introduz-se a cureta e promove-se a raspagem da cavidade uterina, 
extraindo-se o material desprendido pelo instrumental. Por ter diâmetro variável e ser de 
material rígido (aço), pode provocar acidentes, tal como a perfuração do útero. Este 
procedimento é difundido em todo o país (REZENDE FILHO ; MONTENEGRO, 2008; 
BRASIL, 2010b). 
 
 
3.2 Aborto provocado e prática anticoncepcional 
 
ealizou-se busca no banco de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) 
pela utilização dos descritores aborto induzido (abortion, induced) e 
anticoncepção (contraception) em associação, de 1996 a 06 de março de 
2011. O início do interstício para a busca (1996) foi definido pelo ano da Lei Nº 9.263, de 12 
de janeiro de 1996, que trata do planejamento familiar, evento que deu novos rumos à 
pesquisa sobre esta temática. 
Foram adotados como critérios de inclusão: artigos nos idiomas inglês e português 
disponíveis com resumo e/ou texto completo; ecomo critérios de exclusão: o resumo não 
abordar o objeto de investigação da busca, artigos repetidos e artigos com acesso indisponível. 
A busca foi finalizada com 16 artigos, em que 13 tiveram seus textos completos 
disponibilizados e apenas três artigos apresentaram somente resumo. 
Para encadeamento da apresentação dos artigos levantados com as políticas vigentes 
no Brasil, foram trazidos para este capítulo as publicações sobre Direitos Sexuais e Direitos 
Reprodutivos: uma prioridade do governo (BRASIL, 2005), Atenção Humanizada ao 
Abortamento: norma técnica (BRASIL, 2010b) e Critérios Médicos de Elegibilidade para uso 
de Métodos Anticoncepcionais (WHO, 2004). 
R 
29 
 
A prevenção da gravidez não planejada e do aborto provocado e de suas 
consequências deve ter alta prioridade nas ações de saúde. Às mulheres deve ser garantido o 
acesso à informação, ao abortamento previsto em lei, à atenção de qualidade em complicações 
derivadas de abortos e ao PF pós-abortamento para, inclusive, evitar abortamentos repetidos, 
aumentando os riscos de complicações (BRASIL, 2010b). 
Estudo realizado em São Paulo, em 1999, com 952 acadêmicas de 11 cursos de 
graduação, os principais MAC utilizados foi o preservativo masculino, por 265 (44,4%) 
estudantes e o Anticoncepcional Oral Combinado (AOC) por 98 (16,4%). Quanto à prática de 
indução do aborto, 52,2% das universitárias que haviam engravidado buscaram tal prática 
(PIROTTA ; SCHOR, 2004). Realidade semelhante foi encontrada entre 120 estudantes de 
Medicina do México, em que 19 (16%) que tinham história anterior de gravidez, 10 (52%) 
destas tinham provocado aborto. A taxa de aborto relatado entre essas estudantes representa 
apenas 2% em relação à população geral mexicana, taxa de 11% para mulheres de idades 
similares (ORTIZ-ORTEGA et al., 2003). 
Estudo de caso-controle realizado no Município da Serra-ES, com grupo-caso 
constituído por 21 mulheres com complicações do abortamento e que declararam tê-lo 
provocado e com grupo-controle constituído por 83 mulheres que tiveram gestação a termo, 
encontrou que as mulheres que provocaram o abortamento foram as que, proporcionalmente, 
referiram maior desconhecimento sobre as ações de PF – 18 (85,7%); p=0,06. Quando 
perguntadas sobre o recebimento de algum tipo de orientação sobre PF no decorrer da vida, 9 
(42,9%) do grupo-caso e 37 (44,6%) do grupo-controle declararam ter recebido orientação 
sobre a temática (p=0,88). Quanto ao uso do MAC anterior à gravidez, 10 (47,6%) do grupo-
caso e 51(61,4%) do grupo-controle informaram que não utilizavam nenhum método 
(NADER et al., 2008). Em João Pessoa-PB, estudo realizado com 1.068 participantes 
identificou que a falta de informação é um dos motivos de gravidez não planejada, 
destacando, ainda, os baixos fatores sociais, início cada vez mais precoce de experiências 
sexuais, insegurança do adolescente em utilizar os MAC e a falta de acesso a serviços 
específicos para atender a esta faixa etária (SALDANHA et al., 2008). Em Moscou, em 1997, 
obteve-se que 87,8% dos participantes de um estudo desejariam ter mais literatura sobre a 
contracepção durante sua vida na escola, pois 93,5% a obtiveram antes da união, 93,2% após 
inserir-se no mercado de trabalho e 95,5% após um aborto (KULAKOV; VIKHLYAEVA ; 
NIKOLAEVA, 1997). 
Estudo realizado em Fortaleza-CE com 40 jovens gestantes verificou que 7 (17,5%) 
haviam abortado e 24 (60%) não utilizavam nenhum MAC. Apesar das orientações e palestras 
30 
 
em colégios, das distribuições gratuitas de MAC nas unidades básicas de saúde, muitas 
continuam sem usar qualquer método. Dezesseis (40%) gestantes relataram ter utilizado 
algum método, prevalecendo a pílula e o preservativo masculino (ARCANJO; OLIVEIRA ; 
BEZERRA, 2007). 
A Pesquisa Nacional de Aborto (PNA), realizada em todo o Brasil, nas capitais das 
Federações e regiões metropolitanas, em 2010, com amostra de 2.002 entrevistadas, faixa 
etária entre18 a 39 anos, utilizando a técnica da urna, mostrou que a proporção de mulheres 
que provocou aborto cresceu com o aumento da idade. Essa proporção varia de 120 (6,0%) 
para mulheres com idades entre 18 e 19 anos a 440 (22,0%) entre mulheres de 35 a 39 anos, 
predominando a faixa etária adulta. (DINIZ ; MEDEIROS, 2010). 
 Ainda de acordo com a PNA, no final da vida reprodutiva, mais de um quinto das 
mulheres, no Brasil urbano, fez aborto. Os níveis de internação pós-aborto são elevados e os 
colocam como um problema de saúde pública no Brasil. Cerca de metade das mulheres que 
provocaram aborto recorreram ao SUS e foram internadas por complicações, correspondendo 
a 161 (8,0%) das mulheres entrevistadas. Os autores afirmam que essas internações poderiam 
ter sido evitadas se o aborto não fosse tratado como atividade clandestina e o acesso aos 
medicamentos seguros para aborto fossem garantidos (DINIZ ; MEDEIROS, 2010). 
Os dados referentes à hospitalização por abortamento no país confirmam a magnitude 
desse problema. A curetagem pós-abortamento representa o segundo procedimento obstétrico 
mais realizado nas unidades de internação do SUS, superada apenas pelos partos normais 
(BRASIL, 2010b). 
Estudo realizado com 160 mulheres hospitalizadas, em maternidade de Recife-PE, 
com diagnóstico de abortamento, no período de novembro de 2005 a julho 2006, 
representaram 3,1% dos internamentos obstétricos. Considerando cada MAC, 
individualmente, 100% das entrevistadas afirmaram conhecer a pílula e o preservativo 
masculino, e como métodos abortivos apontaram o misoprostol e chás. Quanto ao tipo do 
abortamento, 23 (14,3%) foram classificados como provocados e 90 (56,3%) foram 
classificados como possivelmente provocados. Não houve associação entre a classificação do 
aborto e a idade gestacional em que o mesmo ocorreu (p=0,223); a maior ocorrência de 
abortamento se deu na faixa etária de 20 a 29 anos, correspondendo a 78 (48,9%) do total de 
casos (RAMOS; FERREIRA ; SOUZA, 2010). Também em Recife-PE, na investigação de 
203 casos de abortos, 49 (24%) corresponderam a aborto provocado, dos quais 33 (67%) 
utilizaram o misoprostol e 148 (73%) dos casos de aborto foram resultantes de gestação não 
planejada (LUCENA, 2000). 
31 
 
Na Romênia, em 2004, foi retratada a difícil situação do acesso do MAC na região 
rural pela falta de serviço de PF, levando a população a se deslocar para região urbana onde o 
serviço de PF é oferecido. Nesse contexto, a autora ressalta a necessidade de promoção de 
saúde sexual e reprodutiva no país, pois os índices de aborto são elevados (HORGA, 2004). 
 As mulheres no pós-aborto devem receber informações sobre todos os MAC aceitos 
no Brasil, inclusive sobre a eficácia, modo de uso, efeitos colaterais, complicações e como 
lidar com os mesmos. A orientação e oferta dos métodos devem acontecer já no local de 
atendimento, pois o risco de uma nova gravidez é quase imediato após o esvaziamento 
uterino. Nesse sentido, o Dispositivo Intrauterino (DIU) e os Anticoncepcionais Injetáveis 
Combinados (AIC) trimestrais ou mensais têm-se demonstrado mais eficiente por haver 
menor risco de esquecimento. Nos casos de inviabilidade de utilização destes métodos, o 
Anticoncepcional Oral Combinado de Baixa Dose (AOC) e os Métodos de Barreira (BARR) 
ganham destaque (BRASIL, 2010b). É provável que mulheres que sofreram aborto tenham 
função ovariana suficiente para produzir mudanças hormonais e/ou sinais de fertilidade 
detectáveis, probabilidade que aumenta com o passar do tempo após o aborto. Assim, as 
mulheres podem começar a utilizar os MBPF depois que tenham tido pelo menos um ciclo 
menstrual depois do aborto. A utilização de AOC, AIC, AP, BARR e DIU pode ser imediata e 
está fortemente indicada, mas no caso do DIU deve atentar para a utilização segura do método 
que ocorre quando não há sinais de sepse (WHO, 2004). 
Outro método a ser promovido é a Anticoncepção Oral de Emergência(AE), 
considerando que sempre haverá mulheres convictas de que não voltarão a ter relações 
sexuais em curto espaço de tempo e, por este motivo, não usam métodos. Essas mulheres 
poderão estar expostas a relações sexuais inesperadas e não protegidas do risco de gravidez e 
de abortamento (BRASIL, 2010b). Estudo realizado em Utah, de 2000 a 2006, sobre o uso de 
AE e o número de indução de abortos, os coeficientes de correlação de Pearson apresentaram- 
se estatisticamente significantes (p= 0.001), ou seja, quanto maior o uso de AE menor número 
de casos de abortos provocados (TUROK; SIMONSEN ; MARSHALL, 2009). 
A taxa de falha do MAC nos EUA apresentava-se em 3% para AOC, 12% para 
preservativos, 18% para diafragma e 2% para o DIU, Anticoncepcionais Injetáveis 
Combinados (AIC) e Adesivo Transdérmico (AT) e apenas 2% das mulheres usavam o DIU 
no país (SEGAL, 1996). Estudo atual nos EUA aponta o uso AIC e AOC como os métodos 
reversíveis mais eficazes usados pelas mulheres no país, com probabilidades da falha durante 
os primeiros 12 meses de uso ser de 7% e 9%, respectivamente. As probabilidades da falha 
para o Coito Interrompido (18%) e o preservativo masculino (17%) foram similares (KOST et 
32 
 
al., 2008). Esses resultados de eficácia dos MAC são importantes para dar a real noção dos 
riscos gestacionais que as mulheres correm mesmo praticando a contracepção. 
Estudo realizado na China, onde o aborto é legalizado, 97,4% das contracepções são 
realizadas pelo uso do DIU ou do preservativo (HE; OSTBYE ; DALTVEIT, 2009). O uso da 
contracepção na Dinamarca, Alemanha, Polônia, Itália, e Espanha foi descrito em estudo de 
seção transversal, conduzido por meio de entrevistas realizadas com 6.630 mulheres entre 25 
e 44 anos. As residentes de países europeus do Norte tenderam a usar métodos mais eficazes 
da contracepção do que residentes de países europeus do Sul. Ter filhos e história pregressa 
de aborto provocado foram, igualmente, as causas determinantes principais do uso de métodos 
mais eficazes (SPINELLI; TALAMANCA ; LAURIA, 2000). 
Deve-se destacar a oferta do preservativo masculino ou feminino juntamente com 
outro método de escolha da mulher para conferir à dupla proteção oferecida pelo método, ou 
seja, a anticoncepção e prevenção das DST/HIV/aids. Para o alcance desta meta, a 
organização dos serviços de saúde no país precisa passar por transformação, desde a estrutura 
das unidades de saúde, as atitudes profissionais, de modo que a atenção integral seja 
oferecida. 
A assistência em contracepção na Suécia é facilmente disponível em clínicas de 
planejamento familiar e de saúde da juventude. Os preservativos e a contracepção oral estão 
disponíveis a baixo custo e a gravidez entre adolescentes é baixa. O tratamento para a 
Clamídia genital é executado nestas clínicas. Nos anos 90, a educação sexual foi ensinada 
com menor frequência nas escolas e as taxas de aborto entre adolescentes foram acima de 
17/1000 em 1995 a 22.5/1000 em 2001. As infecções por Clamídia genital aumentaram de 
14.000 casos em 1994 para 22.263 casos em 2001, sendo 60% entre jovens (EDGARDH, 
2002). 
 
33 
 
3.3 Aborto provocado: motivos para fazê-lo e meios utilizados 
 
usca realizada em banco de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) 
utilizando os descritores aborto induzido (abortion, induced) e misoprostol 
em associação, no período de 1998 a 06 de março de 2011. O início do 
interstício da busca (1998) foi definido por corresponder ao lançamento da Portaria nº 344 de 
12 de maio de 1998, que regulamenta o uso do misoprostol pela ANVISA. 
Como critérios de inclusão dos artigos foram estabelecidos: estudos nos idiomas inglês 
e português com resumo e/ou texto completo disponíveis e como critérios de exclusão foram 
adotados: o resumo não abordar o objeto da investigação e artigo repetido. A busca foi 
finalizada com 12 artigos, todos com o texto completo disponível. 
O abortamento induzido é cercado de questões ainda não reveladas, pois é uma 
trajetória sigilosa e muitas vezes solitária percorrida pela mulher que o pratica. Os motivos 
pela busca de realizá-lo nem sempre são conhecidos, porém os meios para praticá-lo passam 
pelo conhecimento popular. 
Conforme a Pesquisa Nacional de Aborto (PNA) realizada, em 2010, com 2.002 
mulheres na faixa etária entre 18 e 39 anos, 296 (15,0%) afirmaram ter provocado o aborto e 
141 (48,0%) destas utilizaram algum tipo de medicamento para induzí-lo, porém não foi 
identificado quais os medicamentos usados, mas é possível que entre os mesmos o 
misoprostol ocupe uma posição importante. Os abortos ilegais realizados com medicamentos 
tendem a ser mais seguros do que quando são utilizados outros meios, em particular quando o 
medicamento usado é o misoprostol, popularizado no Brasil na década de 90 (DINIZ ; 
MEDEIROS, 2010). 
Estudo realizado nos Estados Unidos sobre a eficácia do misoprostol como abortivo, 
envolveu 300 pacientes, sendo que 273 (91%) terminaram a gestação em abortamento. 
Quanto ao tempo de uso não foi encontrado associação entre ser utilizado durante 3, 4 ou 5 
dias (CARBONELL et al., 1998). Em estudo randomizado realizado com 140 mulheres no 
segundo trimestre de gestação, o misoprostol foi eficaz como abortivo em 80%, sendo usado 
por via vaginal 400mcg de 3em 3 horas durante 24 horas (WONG et al. , 1998). Porém estudo 
realizado com 120 mulheres com gestação de 64 a 84 dias que receberam 800 microgramas do 
misoprostol vaginal por 24 horas e três doses no máximo, sem realizar a curetagem pós-
expulsão, teve como resultado o abortamento bem sucedido e como efeitos secundários a 
diminuição da hemorragia (p = 0.0001) (CARBONELL et al., 1998a). 
B 
34 
 
Estudo realizado em maternidade do Espírito Santo com 83 mulheres em abortamento 
encontrou como motivos à indução do abortamento que: 10 (29,4%) mulheres referiram falta 
de condições financeiras, 7 (20,6%) falta de apoio do pai do concepto, 6 (17,7%) indicaram o 
fato de ter uma relação conjugal instável, 4 (11,8%) relacionaram a limitação da prole, 
considerando o número de filhos suficiente, 4 (11,8%) tiveram medo de perder o emprego 
e/ou ter que parar de estudar, 2 (5,8%) informaram medo da família e 1 (2,9%) referiu não 
querer a criança. Ao indagar sobre os meios utilizados, 15 (71,4%) referiram usar somente o 
misoprostol, enquanto 1 (4,8%) informou o uso do misoprostol associado a outro meio e 5 
(23,8%) utilizaram outros meios como chás, drogas e sondas (NADER; BLANDINO ; 
MACIEL, 2007). 
Pesquisa utilizando duas metodologias com uma amostra de 3.098 mulheres, 50% da 
amostra com técnica de coleta Método da Urna (MU) e a outra metade através do Método das 
Questões Indiretas (MQI), realizado na zona urbana de Pelotas encontrou que: de acordo com 
o MQI, 58 (3,8%) mulheres relataram aborto induzido e entre os motivos mais frequentes para 
indução do aborto, 18 (31,0%) ressaltaram as questões econômicas e 14 (24,0%) ser muito 
jovem ou solteira. Dentre as 107 mulheres que relataram aborto induzido pelo MU o 
misoprostol foi empregado em 14 (13,0%) dos abortos (OLINTO ; MOREIRA FILHO, 
2004). Resultado semelhante encontrado por Nader, Blandino e Maciel (2007) em pesquisa 
em uma maternidade no Espírito Santo, apontou a condição financeira e a instabilidade 
conjugal como principais motivos para a prática do aborto induzido. 
Em relação aos métodos para abortar, estudo realizado com 160 mulheres em Recife-
PE, encontrou por ordem decrescente de frequência que entre as 23 mulheres que realizaram 
aborto induzido, 20 (86,9%) usaram misoprostol; 17 (73,9%) tomaram chás abortivos e 3 
(13,0%) tiveram sonda inserida (RAMOS; FERREIRA ; SOUZA et. al., 2010) . 
Estudo com 9.394 mulheres que buscaram o serviço de abortamento nos Estados 
Unidos verificou que 112 (1,2%) nunca tinham usado o misoprostol como abortivo e 131 
(1,4%) relataram utilizar outras substâncias, como a vitaminaC ou ervas (JONES, 2011). 
Em maternidade da rede pública de Salvador-BA, pesquisa qualitativa realizada com a 
metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo, 17 participantes informaram que trajetória para 
a realização do aborto induzido em meio à clandestinidade, inicia-se com o uso de chás, 
seguidos de medicamentos adquiridos de forma ilegal e utilização de sondas inseridas por 
pessoas leigas, que as orientam a procurar a maternidade quando ocorrer hemorragia. A 
mulher assume os custos do aborto, pois os serviços de saúde nem sempre respondem aos 
procedimentos de diagnósticos, como exames, nem valorizam no atendimento a 
35 
 
vulnerabilidade emocional feminina. O aborto clandestino favorece o lucro do “comércio e 
práticas médicas informais”, mas a penalização social é voltada às mulheres, tanto física 
quanto legalmente. Na verdade, estas mulheres necessitam de espaço de escuta e resolução de 
suas demandas pelos serviços de saúde, no que se refere aos aspectos subjetivos e biológicos 
de uma gestação não planejada (SOUZA et al., 2010). 
Estudo com 28 jovens realizado nos Estados Unidos sobre aceitabilidade emocional 
para indução do aborto, durante a visita de continuação da assistência que ocorre entre quatro 
a oito dias após abortamento, 21(75%) consideraram a realização do aborto satisfatória, 
porcentagem esta que durante visita com quatro semanas foi para 27 (96%). Embora 12 (43%) 
relatassem o sentimento de medo no início do pós-aborto, na visita realizada na 4ª semana 
pós-abortamento somente 2 (8%) ainda experimentavam o sentimento de medo (PHELPS; 
SCHAFF ; FIELDING, 2001). 
Quanto aos meios usados para provocar o aborto, o misoprostol permanece na 
liderança, descumprindo, em geral, o processo de aquisição farmacêutica adequada e uso 
seguro conforme determinado pela ANVISA. 
 A prática de indução do aborto através de chás e infusões pertencentes ao 
conhecimento popular é apontada como segundo meio de indução, enfatizando-se que o 
aborto induzido inicia-se e completa-se na comunidade, percentual desconhecido pelas 
instituições de saúde. A utilização de sonda no colo uterino, prática agressiva e com elevado 
potencial de complicações, é difundida por terceiros sem o menor conhecimento sobre o risco 
que as mulheres se expõem ao se submeter a tal prática. 
Contudo, também há quem promova ou estimule o uso de sonda como abortivo 
mesmo conhecendo os riscos à mulher, motivos por interesses comerciários em parceria com 
quem realiza o procedimento. Outros estimulam ou favorecem tal prática até mesmo pelo 
desejo de ajudar a quem quer induzir o aborto a ter seu problema solucionado, por envolver-se 
emocionalmente com este dilema da gravidez não planejada. 
Estudo realizado com 800 nativivos em maternidade pública de Salvador-BA verificou 
que 78 (60,9%) mulheres usaram chás ou infusões para abortar e 38 (29,7%) usaram o 
misoprostol na dose de quatro comprimidos, sendo dois administrados por via oral e dois por 
via vaginal (MOREIRA et al., 2001). Murta et al. (2001) em estudo realizado com 224 
pacientes com diagnóstico de abortamento séptico, em enfermaria do hospital Escola da 
Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro verificaram que 85 (37,9%) das mesmas 
relataram ter feito algum tipo de procedimento para provocar o aborto, percentual, portanto, 
2,36 vezes menor do que o encontrado por Moreira et al. (2001) em Salvador-BA. 
36 
 
4 METODOLOGIA 
 
 
4.1 Tipo de Estudo 
 
Tratou-se de estudo com abordagem quantitativa, transversal, do tipo levantamento, 
cujas definições foram tomadas com base nas ideias de Polit e Beck (2011). 
A principal preocupação dos estudos quantitativos é proporcionar as respostas mais 
exatas, imparciais e interpretáveis possíveis para a questão de pesquisa e propiciar resultados 
replicáveis. Portanto, estuda os fenômenos que se prestam à mensuração precisa. 
O delineamento transversal envolve a coleta de dados em um ponto do tempo, sendo 
especialmente apropriado para descrever a situação, o status do fenômeno ou a relação entre 
fenômenos. 
O levantamento se caracteriza pela interrogação ao sujeito da pesquisa cujo 
comportamento se deseja conhecer, obtendo informações relativas à prevalência, distribuição 
e inter-relacionamento de variáveis em uma população. Os levantamentos coletam 
informações sobre as ações, o conhecimento, as intenções e as opiniões dos indivíduos. Seus 
dados se baseiam em auto-relatos, ou seja, as pessoas respondem às perguntas feitas pelo 
pesquisador. 
 
 
 
4.2 Local do estudo 
 
O estudo foi realizado no Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará, 
conhecido como Gonzaguinha da Barra e no Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC). Esses 
hospitais foram escolhidos na perspectiva de reunir uma unidade do sistema municipal de 
saúde e uma unidade de referência do sistema estadual de saúde no cenário do estudo. 
No Gonzaguinha da Barra é oferecido atendimento de Urgência e Emergência, Clínica 
Geral, Obstetrícia e Pediatria. Trata-se de uma unidade de nível secundário, cuja área de 
abrangência corresponde a Secretaria Executiva Regional I (SER-I) (FORTALEZA, 2011). 
O HGCC pertence a rede pública estadual e constitui referência para atendimento nas 
áreas de Clínica Médica, Cirurgia, Ginecologia, Obstetrícia e Neonatologia, no nível terciário. 
37 
 
É um hospital de alta complexidade, de ensino, reconhecido pelos Ministérios da Educação e 
da Saúde. Corresponde ao hospital mais antigo da rede estadual de saúde, dedicando-se ao 
ensino e a assistência à saúde há 80 anos (CEARÁ, 2010). 
O serviço de atenção ao aborto no Gonzaguinha da Barra começa na emergência, 
especificamente na sala de parto. Nesta é realizado o primeiro atendimento a paciente. Após 
avaliação, esta é dirigida à realização dos procedimentos cabíveis, permanecendo internada na 
enfermaria durante 24 horas, sendo todas as altas médicas realizadas no período da manhã, 
por volta das nove horas, rotina que levou a estabelecer o respectivo turno para a realização 
das entrevistas. Para evitar qualquer desinteresse por parte das mulheres com relação à 
entrevista, uma vez que as mesmas estariam de alta, esta era realizada nas primeiras horas da 
manhã. 
No HGCC, de modo semelhante, o serviço de atenção ao aborto começa na 
emergência, especificamente na sala de parto onde é realizado o primeiro atendimento a 
paciente. A mulher em processo de abortamento é encaminhada para uma sala privativa na 
qual recebe avaliação obstétrica. Após avaliação, esta é dirigida à realização dos 
procedimentos cabíveis, permanecendo sob observação até seis horas e em casos de aborto 
infectado são internadas. Nesse contexto, as altas médicas eram dadas em horários irregulares, 
pois o tempo de seis horas de pós-aborto era o fator determinante. Assim, as entrevistas foram 
realizadas no turno da tarde, pois tínhamos maior facilidade para abordar tanto as mulheres 
admitidas no turno da manhã que estavam prestes a terem alta, quanto aquelas admitidas no 
turno da tarde. 
 
 
4.3 População e amostra 
 
A população correspondeu às mulheres que buscaram os hospitais selecionados para o 
atendimento da resolução do abortamento, no período da coleta de dados: Junho a Dezembro 
de 2011. A amostra ficou constituída de 70 mulheres. 
Adotou-se como critérios de inclusão: mulheres em abortamento provocado ou 
espontâneo atendidas nos serviços de pós-aborto e com idade maior ou igual a 18 anos. O 
critérios de exclusão foi de não estarem em condições clínicas e emocionais para participar da 
pesquisa. 
 
 
38 
 
4.4 Coleta de dados 
 
Antes de dar início a coleta de dados, visitaram-se os dois hospitais com a finalidade 
de reconhecer o ambiente de pesquisa e as respectivas equipes de trabalho. Nessa ocasião, 
procurou-se informá-las quanto à realização da pesquisa, seus objetivos e da necessidade em 
obter o apoio destas. Foi possível observar os

Outros materiais