Prévia do material em texto
Transtornos alimentares 1 Transtornos alimentares panorama geral: anorexia → peso baixo (pode ser restritiva ou purgativa) bulimia → peso normal, sobrepeso ou obesidade (sempre purgativa) transtorno de compulsão alimentar (TCAP) → paciente não vomita (sem mecanismo purgativo/restritivo) Pontos principais e comentários Conceito Os transtornos alimentares são caracterizados por uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial. Geralmente ocorre distorção da auto-imagem. Estes transtornos ficam no limite entre a psiquiatria e a clínica médica, pq são transtornos mentais com grande impacto na saúde física do paciente, quer seja pelo baixo peso ou pelo alto peso, pelo que ela come, pelas comorbidades clínicas..... São doenças mentais potencialmente graves, com morbidade psiquiátrica e mortalidade altas, independentemente do peso da pessoa acometida. Desta forma, muitas vezes quem vai fazer o diagnóstico é o clínico geral, o ginecologista, o pediatra e até o ortopedista (um caso de uma paciente com NA, com IMC 14% fazendo exercícios físicos intensos, corridas muitos longas e fez uma fratura de quadril). Além disso, a abordagem será interdisciplinar, como discutiremos adiante. Os transtornos alimentares, como a anorexia nervosa (AN) e a bulimia nervosa (BN), assumiram grande importância nas últimas três décadas, com melhor reconhecimento de sua Transtornos alimentares 2 prevalência e de suas consequências. Casos resistentes ao tratamento são frequentes, cerca de 25% dos pacientes desenvolvem quadros crônicos com consequências orgânicas importantes, e as taxas de mortalidade variam de 5 a 20%. A manifestação psicopatológica nuclear dos TAs é o medo paradoxal da obesidade. Interessante que, na anorexia nervosa (AN), esse medo tem característica dramática, pois há recusa a comer mesmo com fome (Na Anorexia não há falta de apeite). Essa busca incessante pela magreza distingue a AN de outras doenças associadas a emagrecimento. Na bulimia nervosa (BN), o medo é aplacado com o binge (ataque de comer ou comer compulsivo, isto é, comer muito com a sensação de falta de controle) e com o comportamento purgativo. No transtorno de compulsão alimentar (TCA), o medo presente fica acentuado com o binge e não há prática dos comportamentos purgativos compensatórios. É imprescindível lembrar que os TA não afetam apenas meninas de baixo peso. As mulheres buscam mais amiúde dietas restritivas, mas os homens têm adotado essa prática de forma crescente. Da mesma forma, o percentual de crianças e adolescentes que relatam preocupações com o peso e a forma corporal (aparentemente culturais) e mesmo a utilização de dietas para o peso magro vem crescendo de forma preocupante. Sendo as dietas um comportamento comum e universalmente aceito, por vezes até justificado como um investimento em saúde, pode ser difícil reconhecer indícios de um TA sem o conhecimento dos outros fatores de risco envolvidos no caso. Principais entidades nosológicas 2 principais entidades nosológicas em termos de gravidade: AN e BN. Nesta aula, abordaremos os 3 transtornos de maior relevância para o generalista: NA, BN e TCA. Os demais transtornos podem ser estudados em leituras adicionais; Transtornos Restritivo/Evitativo é um transtorno da infância. Por isso, pode ser grave pois pode levar à deficiência de crescimento. Os critérios diagnósticos para transtorno de ruminação, transtorno alimentar restritivo/evitativo, anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar resultam em um esquema de classificação que é mutuamente excludente, de maneira que, durante um único episódio, apenas um desses diagnósticos pode ser atribuído. A justificativa para tal conduta é que, apesar de uma série de aspectos psicológicos e comportamentais comuns, os transtornos diferem substancialmente em termos de curso clínico, desfecho e necessidade de tratamento. Um diagnóstico de pica, no entanto, pode ser atribuído na presença de qualquer outro transtorno alimentar. Outro transtorno alimentar especificado é usada nas situações em que o clínico opta por comunicar a razão específica pela qual a apresentação não satisfaz os critérios para qualquer transtorno alimentar específico. Isso é feito por meio do registro de “outro transtorno alimentar especificado”, seguido da razão específica (p. ex., “bulimia nervosa de baixa frequência”). Outros exemplos: 1. Anorexia nervosa atípica: Todos os critérios para anorexia nervosa são preenchidos, exceto que, apesar da perda de peso significativa, o peso do indivíduo está dentro ou acima da faixa normal. Transtornos alimentares 3 2. Bulimia nervosa (de baixa frequência e/ou duração limitada): Todos os critérios para bulimia nervosa são atendidos, exceto que a compulsão alimentar e comportamentos compensatórios indevidos ocorrem, em média, menos de uma vez por semana e/ou por menos de três meses. 3. Transtorno de compulsão alimentar (de baixa frequência e/ou duração limitada): Todos os critérios para transtorno de compulsão alimentar são preenchidos, exceto que a hiperfagia ocorre, em média, menos de uma vez por semana e/ou por menos de três meses. 4. Transtorno de purgação: Comportamento de purgação recorrente para influenciar o peso ou a forma do corpo (p. ex., vômitos autoinduzidos; uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos) na ausência de compulsão alimentar. 5. Síndrome do comer noturno: Episódios recorrentes de ingestão noturna, manifestados pela ingestão ao despertar do sono noturno ou pelo consumo excessivo de alimentos depois de uma refeição noturna. Há consciência e recordação da ingesta. A ingestão noturna não é mais bem explicada por influências externas, como mudanças no ciclo de sono-vigília do indivíduo, ou por normas sociais locais. A ingestão noturna causa sofrimento significativo e/ ou prejuízo no funcionamento. O padrão desordenado de ingestão não é mais bem explicado por transtorno de compulsão alimentar ou outro transtorno mental, incluindo uso de substâncias, e não é atribuível a outro distúrbio médico ou ao efeito de uma medicação. TANE - Esta categoria aplica-se a apresentações em que sintomas característicos de um transtorno alimentar que causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo predominam, mas não satisfazem todos os critérios para qualquer transtorno na classe diagnóstica de transtornos alimentares. A categoria transtorno alimentar não especificado é usada nas situações em que o clínico opta por não especificar a razão pela qual os critérios para um transtorno alimentar específico não são satisfeitos e inclui apresentações para as quais não há informações suficientes para que seja feito um diagnóstico mais específico (p. ex., em salas de emergência). Por fim, a obesidade não está inclusa no DSM-5 como um transtorno mental. Transtorno alimentar não especificado (TANE) ANE - Esta categoria aplica-se a apresentações em que sintomas característicos de um transtorno alimentar que causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo predominam, mas não satisfazem todos os critérios para qualquer transtorno na classe diagnóstica de transtornos alimentares. A categoria transtorno alimentar não especificado é usada nas situações em que o clínico opta por não especificar a razão pela qual os critérios para um transtorno alimentar específico não são satisfeitos e inclui apresentações para as quais não há informações suficientes para que seja feito um diagnóstico mais específico (p. ex., em salas de emergência). Por fim, a obesidade não está inclusa no DSM-5 como um transtorno mental. Principais transtornosalimentares Os sintomas nucleares dos TAs incluem alterações na percepção da imagem corporal e nos padrões alimentares, podendo haver desde uma recusa a se alimentar, como na AN, até Transtornos alimentares 4 episódios de ingestão compulsiva de alimentos, como na BN e no TCA. Esses sintomas podem ser compreendidos dentro de um continuum de gravidade, estando presentes em maior ou menor grau nos diferentes TAs. Os TAs acometem preferencialmente mulheres jovens que idealizam a corpolatria, tão valorizada na mídia. Há uma preocupação excessiva em relação à forma e ao peso corporal que leva a pessoa a adotar comportamentos inadequados, dirigidos à perda de peso pelo medo mórbido de engordar. O peso corporal é medido pelo índice de massa corporal (IMC) de Quetelet (IMC= peso kg/ altura m2). Via de regra, o peso é magro (abaixo de 20 kg/m2), na BN. Pode ser magro, ideal ou aumentado, e no TCA, aumentado (acima de 30 kg/m2). Quanto à presença das purgas (vômitos autoinduzidos, enema, uso abusivo de laxativos e diuréticos), encontramos preferentemente na BN e menos na AN e não no TCA – a pessoa está acometida de obesidade, mas não utiliza a prática. Todos têm o transtorno da imagem corporal (a imagem refletida no espelho não corresponde à imagem real), mais evidente na AN, depois BN e TCA. Uma situação comum é a pessoa evitar olhar-se em espelho grande. A prática da atividade física excessiva com o objetivo de emagrecimento é mais frequente na BN e na AN. Quanto ao binge, é mais presente na BN e no TCA e raro na AN. Na AN, é marcante a recusa em manter o peso corporal adequado à idade e à altura, com medo intenso de ganhar peso ou de engordar mesmo estando abaixo do normal, pois há marcada distorção da imagem corporal. Na atual classificação do DSM-5 (2012) (Quadro 245.1), a amenorreia foi retirada dos critérios diagnósticos da AN, assim como os subtipos de AN e BN. O TCA passou a ser uma categoria diagnóstica (era denominado transtorno da compulsão alimentar periódica – TCAP), e a frequência e a duração do binge da BN e do TCA será de um evento por semana por 3 meses. Na BN, ocorrem as crises bulímicas, que são ingestão de grandes quantidades de alimentos com descontrole, e os comportamentos inadequados para não engordar. No TCA, encontra-se pessoas que apresentam episódios de compulsão alimentar, em que também pode ser encontrado: comer muito mais rápido do que o normal; comer até sentir-se incomodamente repleto; comer grandes quantidades de alimentos, sem fome física e comer sozinho, por envergonhar-se da quantidade de alimentos. É presente o sentimento de repulsa por si mesmo, depressão ou demasiada culpa pelo binge, e os indivíduos não se engajam em comportamento purgativo. Anorexia nervosa (geral e critérios diagnósticos) A anorexia nervosa tem três características essenciais: restrição persistente da ingesta calórica; medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso; e perturbação na percepção do próprio peso ou da própria forma. O indivíduo mantém um peso corporal abaixo daquele minimamente normal para idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física (Critério A). O peso corporal dessas pessoas com frequência satisfaz esse critério depois de uma perda ponderal significativa, porém, entre crianças e adolescentes, pode haver insucesso em obter o ganho de peso esperado ou em manter uma trajetória de desenvolvimento normal (i.e., enquanto cresce em altura) em vez de perda de peso. vivência e a significância do peso e da forma corporal são distorcidas nesses indivíduos Transtornos alimentares 5 (Critério C). Algumas pessoas sentem-se completamente acima do peso. Outras percebem que estão magras, mas ainda assim se preocupam com determinadas partes do corpo, em particular que o abdome, os glúteos e o quadril estão “gordos demais”. Elas podem empregar uma variedade de técnicas para avaliar o tamanho ou o peso de seus corpos, incluindo pesagens frequentes, medição obsessiva de partes do corpo e uso persistente de um espelho para checar áreas percebidas de “gordura”. A estima de indivíduos com anorexia nervosa é altamente dependente de suas percepções da forma e do peso corporal. A perda de peso é, com frequência, vista como uma conquista marcante e um sinal de autodisciplina extraordinária, enquanto o ganho ponderal é percebido como falha de autocontrole inaceitável. Embora alguns indivíduos com esse transtorno talvez reconheçam que estão magros, frequentemente não assumem as graves implicações médicas de seu estado de desnutrição. Geralmente, o indivíduo é levado à atenção profissional por familiares depois de perda de peso marcante (ou insucesso em obter o ganho de peso esperado) ter ocorrido. Se buscam ajuda por si mesmos, costuma ser devido à angústia causada por sequelas somáticas e psicológicas da inanição. É raro uma pessoa com anorexia nervosa queixar-se da perda de peso por si só. Na verdade, indivíduos com anorexia nervosa com frequência carecem de insight ou negam o problema. É, portanto, importante obter informações de familiares ou de outras fontes para avaliar a história da perda de peso e outros aspectos da doença. Geralmente começa precocemente, entre 12-16 anos, por isso, é importante que o pediatra esteja atento. A BN geralmente começa mais tarde, depois dos 16-17, lá para os 20 e poucos e o TCA ainda mais tardiamente. A anorexia nervosa tem a maior mortalidade entre os transtornos psiquiátricos, com um risco de morte prematura nas mulheres jovens acometidas 6 a 12 vezes superior ao da população geral. A sua etiologia é complexa, multifatorial e ainda não bem compreendida. Envolve fatores biológicos, psicológicos, sociais, ambientais e culturais, sendo que sua incidência é maior em sociedades em que há a supervalorização do corpo magro como sinônimo de beleza e sucesso (corpolatria). Amenorreia não é mais um critério diagnóstico, será um fator de gravidade. Anorexia nervosa - subtipos Transtornos alimentares 6 A maioria dos indivíduos com anorexia nervosa do tipo compulsão alimentar purgativa que se envolvem em comportamentos periódicos de hiperfagia (pode ser 1 fatia de torta apenas, e ele acha que já vai engordar imediatamente) também purga por meio de vômitos autoinduzidos ou faz uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas. Alguns indivíduos com esse subtipo de anorexia nervosa não apresentam episódios de hiperfagia, mas purgam regularmente depois do consumo de pequenas quantidades de alimento. A alternância entre os subtipos ao longo do curso do transtorno não é incomum; portanto, a descrição do subtipo deverá ser usada para indicar os sintomas atuais, e não o curso longitudinal. Anorexia nervosa - gravidade O nível mínimo de gravidade baseia-se, em adultos, no índice de massa corporal (IMC) atual (ver a seguir) ou, para crianças e adolescentes, no percentil do IMC. Os intervalos abaixo são derivados das categorias da Organização Mundial da Saúde para baixo peso em adultos; para crianças e adolescentes, os percentis do IMC correspondentes devem ser usados. O nível de gravidade pode ser aumentado de maneira a refletir sintomas clínicos, o grau de incapacidade funcional e a necessidade de supervisão. Bulimia nervosa (geral e critérios diagnósticos) Transtornos alimentares 7 Um “episódio de compulsão alimentar” é definido como a ingestão, em um período de tempo determinado, de uma quantidade de alimento significativamente maior do que a maioria dos indivíduos conseguiria aguentar por um dia ou mais ou se exercitar excessivamente na tentativa de impedir o ganho de peso. O exercício pode ser considerado excessivo quando interfere de maneira significativa em atividades importantes, quando ocorre em horas inapropriadas ou em contextos inapropriados ou quando o indivíduo continua a se exercitar a despeito de uma lesão ou outras complicações médicas. Indivíduos com bulimia nervosa enfatizam de forma excessiva aforma ou o peso do corpo em sua autoavaliação, e esses fatores são extremamente importantes para determinar sua autoes-tima (Critério D). Eles podem lembrar muito os portadores de anorexia nervosa pelo medo de ganhar peso, pelo desejo de perder peso e pelo nível de insatisfação com o próprio corpo. Entre-tanto, um diagnóstico de bulimia nervosa não deve ser dado quando a perturbação só ocorrer durante episódios de anorexia nervosa (Critério E). Indivíduos com bulimia nervosa estão geralmente dentro da faixa normal de peso ou com sobrepeso (IMC > 18,5 kg/m2 e < 30 em adultos). O transtorno ocorre, mas é incomum, entre indivíduos obesos. Entre os episódios de compulsão alimentar, indivíduos com bulimia nervosa costumam restringir seu consumo calórico total e optam, de preferência, por alimentos hipocalóricos (“dietéticos”), ao mesmo tempo que evitam alimentos que percebem como engordantes ou com potencial para desencadear compulsão alimentar. Irregularidade menstrual ou amenorreia ocorrem com frequência em mulheres com bulimia nervosa; não está claro se tais perturbações estão relacionadas a oscilações no peso, a deficiências nutricionais ou a sofrimento emocional. Os distúrbios hidreletrolíticos decorrentes do comportamento purgativo são por vezes graves o suficiente para constituirem problemas clinicamente sérios. Complicações raras, porém fatais, incluem lacerações esofágicas, ruptura gástrica e arritmias cardíacas. Miopatias esqueléticas e cardíacas graves foram relatadas em indivíduos depois do uso repetido de xarope de ipeca para induzir o vômito. Indivíduos que abusam cronicamente de laxantes podem tornar-se dependentes do seu uso para estimular movimentos intestinais. Sintomas gastrintestinais costumam estar associados a bulimia nervosa, e prolapso retal já foi relatado entre indivíduos com esse transtorno. Bulimia nervosa - gravidade Transtornos alimentares 8 Transtorno de compulsão alimentar (geral e critérios diagnósticos) A prevalência cresce em função do IMC. Não se sabe o que vem primeiro….. Cursa com ganho de peso. Podemos ter episódios de compulsão alimentar na anorexia e na bulimia; pode haver compulsão alimentar mesmo sem ser patológico. O TCA tem uma definição propria (episódios recorrentes – é um descontrole, uma impulsividade, uma quantidade grande…..) Tb não vale no churrasco ou na feijoada, onde todos estão comendo muito…. TCAP - gravidade Transtornos alimentares - epidemiologia Prevalência: Transtornos alimentares 9 A prevalência de BN ao longo da vida em mulheres pode atingir até 4%1, contra 2% de AN. Há poucos estudos abrangendo TCA, cuja incidência está estimada em cerca de 2%. BN pode ser 4x mais frequente do que AN. Relação de prevalência sexo feminino/masculino: 10:1 (essa diferença é menor nos mais jovens). TCA: 1-2% da população geral; 5-8% dos pacientes obesos; 30%-50% entre os que procuram algum tratamento para emagrecer; até 70% daqueles que procuram cirurgia para obesidade; relação sexo feminino/masculino: 3:2. Profissões mais afetadas: Bailarinas Modelos Atletas Idade de início: Principalmente na adolescência. AN tende a se iniciar mais precocemente (12-15 anos) BN (18-20 anos). TCA: início mais tardio, geralmente > 30 anos. Sem diferenças raciais ou de classes socioeconômicas Os TAs são doenças relativamente raras na população. Estudos de incidência em nível comunitário são escassos. Com os novos critérios do DSM-5,1 os diagnósticos aumentaram, mas diminuiu consideravelmente a proporção de diagnósticos de TA não classificados em outra parte, antes o diagnóstico mais comum. A prevalência de TA parece vir aumentando nas últimas décadas. Os transtornos alimentares afetam principalmente mulheres jovens, com prevalência média da relação homem/mulher de 1:10, chegando até a 1:20. Porém essa diferença entre os sexos vem diminuindo entre os indivíduos mais novos, com adolescentes homens correspondendo a 19 a 30% dos casos de anorexia. Também observamos uma diminuição na idade de manifestação do quadro, com um aumento da prevalência em crianças. O número de hospitalizações por AN em crianças menores de 12 anos aumentou em 119% entre 1999 e 2006 nos Estados Unidos. Alguns subgrupos são mais vulneráveis, como mulheres que trabalham como bailarinas, atletas e modelos, apresentando risco maior de desenvolver quadros alimentares. Quadros que resultam em grande prejuízo social e emocional e acometem indivíduos jovens, gerando um impacto importante. Frequentemente, são pessoas isoladas, com sequelas sociais e afetivas, que apresentam maior incidência de transtornos de humor e ansiedade em paralelo ao quadro nutricional e a uma variedade de complicações metabólicas. As mulheres parecem corresponder a cerca de 90% dos casos de TA. Os TAs parecem ser mais prevalentes entre profissionais de dança, modelos e atletas, geralmente se Transtornos alimentares 10 desenvolvendo quando esses indivíduos iniciam suas carreiras.8,9 Estudos sugeriram maior risco para TA entre indivíduos adotados. É preciso, no entanto, cautela para não incorrermos no erro de não cogitar um TA ligado a populações outras que não a de adolescentes e mulheres brancas de classe média ou alta, uma vez que os valores ditos ocidentais que vinculam sucesso e poder de atração à magreza estão disseminados em boa parte do mundo. Imigrantes de locais com baixas prevalências de TA passam a apresentar taxas cada vez mais próximas daquelas do país para o qual migraram. AN é o transtorno psiquiátrico que mais mata! Mortalidade na AN: ½ por complicações da desnutrição; 30% por suicídio 20% por outras causas ou causas desconhecidas O suicídio por depressão é a pp causa de morte em psiquiatria. O suicídio é uma consequência da depressão, não é um transtorno. Então o transtorno que mais mata é NA. Outras causas (p.e. devido ao uso de substâncias....) AN incide principalmente em classes mais altas (???) A tendência atual é incidência em todas as classes sociais Incidência menor em povos não ocidentais Transtornos alimentares em homens Aumento da prevalência nas últimas três décadas. 5-15% do total de casos de AN-BN. 20-40% dos casos de TCA. BN é o TA mais frequente em atletas. EUA: mais homens com BN do que mulheres com AN. Fatores de risco: Problemas de relacionamento com o pai Uso de álcool e outras drogas Orientação Homossexual Atleta EUA: 20% dos homossexuais apresentam TA. Prevalência alta de obesidade pré-mórbida. Jejum e mais atividade física de modo geral, mas pode haver outros comportamentos purgativos. O homem perde peso, então ele fica mais feminino. Enquanto as mulheres quando perdem peso, ficam mais masculinizadas (pois perdem quadris, seios, glúteos). Transtornos alimentares 11 Etiologia dos transtornos alimentares Multifatorial: personalidade fatores culturais fatores familiares fatores genéticos Comentário: Cultural; Familiares; questão genética e Ambiental; famílias muito rígidas, exigentes, perfeccionistas (AN: geralmente tem traços obsessivos (pode haver TOC e rituais com a comida, corta em micro pedaços para disfarçar, ou divide as comidas por cores, ou demora muito para comer devido aos rituais; isso não é TOC propriamente, a não ser que haja outros rituais sem relação com corpo, alimentação, peso….), são rígidas, ótimas alunas, se cobram muito e a família também); famílias mais desorganizadas e disfuncionais: BN e TCA (que envolvem mais impulsividade; pode haver compulsão por compras, abuso de substâncias, TP borderline…. ). Comorbidades e TA TOC: 9,5 a 35% AN 18,5 - 40% BN Transtornos de Ansiedade: 33 - 83% AN 36 – 75% BN 44% TCA Transtorno depressivo: 50-68% AN 38-63% BN 32-35% TCA TBH: 10%: AN 2-12%: BN Abuso de substâncias: > prevalência em pacientes com descontrole alimentar Comentário: O abuso de substâncias, muitas vezes, nestes casos, pp de bulimia entra como um mecanismo compensatório, p.e. as anfetaminas, a cocaína, q são substâncias estimulantes quenão só aumentam o gasto calórico, como diminuem o appetite.Muitas vezes, até o álcool, que começam a beber mais para não sentir tanta fome e ficarem mais tempo sem comer. Transtorno de Controle de Impulsos: Pp BN (tentativas de suicídio, auto-agressão, pequenos furtos, uso de substâncias) Mulheres com BN + abuso de substâncias: prevalência aumentada de TP antisocial e borderline. Transtornos de Personalidade Transtornos alimentares 12 AN, BN e TCA Outras comorbidades clínicas aos TA DM tipo I: Omite a dose da insulina para emagrecer, como purgação (AN ou BN). Tireoideopatias (pp Tireoidite de Hashimoto): Abusam de hormônio tireoidiano Doença de Chron: Usam determinados alimentos irritativos para induzir diarreia (ex. Laticíneos, condimentos). A propria doença ou tratamento da doença podem ser mecanismos compensatórios para os TA. Pode fazer cetoacidose diabética Complicações clínicas (prof disse pra lembrar disso) Comentário: Geralmente, quem vê primeiro estes pacientes não são os psiquiatras. As complicações na NA pela desnutrição, pela purgação e na BN, pela purgação, e na TCA pelo excesso de comida e ganho de peso. Quem purga muito, vai ter muita alteração odontológica, além da falta de cálcio, podendo levar à perda dentária; problema de crescimento, perda óssea; alte de hormônios da tireoide, amenorreia, redução de testosterona; infertilidade; lentificação do TGI (digestão lentificada e constipação – além de pelo uso abusivo de laxantes; pode haver hemorragia do esôfago por vômitos.....); deficiências de vitaminas levando a alterações dos fâneros (além do sinal de Russel, embora este seja mais raro, pq há técnicas para não usar os dedos e disfarçar). Avaliaçao clinica baseia-se na avaliação do seu estado nutricional, das complicações decorrentes das práticas purgativas (anorexia e bulimia)e do excesso de peso (TCAP e bulimia). Alterações metabólicas que podem ser encontradas ao exame (clínico ou complementar) Hipercolesterolemia – AN Hipoglicemia Resistência à insulina/ DM tipo II Amenorreia AN: hipogonadismo hipogonadotrófico Aumento do nível basal de GH. Hipercortisolemia Redução de T3 e T4, elevação de T3 reverso; níveis normais ou pouco diminuídos de TSH (doença eutireoidiana). Alterações ósseas e do crescimento AN em fases precoces da puberdade: osteopenia e mesmo osteoporose. Distúrbios hidroeletrolíticos e desidratação Anemia em graus variados Leucopenia Transtornos alimentares 13 Alterações de fâneros: Pele pálida, seca, sem brilho e lanugo. Cabelos ralos, finos, em queda. Unhas quebradiças, crescimento lento, micoses. Diminuição dos caracteres sexuais secundários. Sinal de Russsel Alterações cardiovasculares: hipotensão arterial, bradicardia, taquicardia, extremidades frias, acrocianose, arritmias. Alterações ECG: prolongamento do interval QT, baixa voltage do complexo QRS. Comentário: 1- Associada a reduçao do T3, diminuiçao globulina carreadora de colesterol, perda colesterol intra-hepático devido esteatose e/ou diminuiçao da excreçao fecal de ácidosbiliares e colesterol. 2- associados a periodos de jejum prolongado, vomitos frequentes. Geralmente é assintomática. 56% pacientes com anorexia tem glicemia< 70 m/dl. 3- associadas ao excesso de peso e obesidade. 4- precede ou é comcomitante a perda de peso. Pode persistir até a recuperação de um peso mínimo saudável. Pode ocorrer na AN e na BN. AN- reduçao da pulsatibilidade do hormonio liberador do horm. Luteinizante e consequente reduçao do LH, FSH e FSH e estradiol (hipogonadismo hipogonadotrofico). Pode haver regressao dos ovários para estáios pré-puberais, regressao da mama e dos pelos pubianos. Homens-baixos niveis de testosterona, FS, LH, associados a reduçao libido, do volume testicular e azospermia. Aumento nivel basal do GH Hipercortesolemia (alteraçao ritmo circadiano e elevação cortisol livre urinário)- ausencia de supressao cortisol basal Com baixas de dexametasona indicando ativaçao anormal do eixo HHA. Funçao tireoidiana- reduçao de T3 e T4, elevaçao niveis de T3 reverso e niveis normais ou pouco diminuidos de TSH ( doença eutireoidiana) Ma nutriçao reduz turnover osseo associado as alteraçoes hormonais, a puberdade atrasada e diminuição da ingesta de calcio, vitamina D e proteinas. AN nas fases precoces da puberdade –osteopenia e ate mesmo osteoporose. Disturbios hidroeletroliticos e desidrataçao Alteraçoes hematologicas- anemia em graus variados e leucopenia (NA e BN). Pode ser por deficiencia nutricional ou uso de laxantes com sangramentos retais. É importante que todo médico esteja atento à hipótese diagnóstica de TA, pois essas pacientes passam, em algumas situações, apenas pelo médico pronto-socorrista. Transtornos alimentares 14 Características associadas a pior prognóstico AN: - baixa autoestima; humor depressivo. - perfeccionismo; auto controle. - famílias disfuncionais e preocupadas com forma física. - pais exigentes e controladores. - história abuso sexual. - frustrações e perdas afetivas. - pressões e estresse. BN: - depressão; baixa auto estima; relacionamento instáveis. - comportamentos impulsivos; tentativas de suicídio; abuso de drogas e alcoolismo. - baixo peso; restrição alimentar. Comentário: Casos resistentes ao tratamento são frequentes, cerca de 25% dos pacientes desenvolvem quadros crônicos com consequências orgânicas importantes, e as taxas de mortalidade variam de 5 a 20% Tratamento dos TAs (visão geral) AN não procura tratamento BN e TCA procuram tratamento Comentário: Ela tem uma distorção da imagem corporal, quanto mais magra, mais satisfeita ela fica. Não há insight de doença. E por isso mata. Quanto mais baixo o IMC, maior a distorção da imagem corporal. O ganho de peso no Tto tem q ser lento para não fazer uma síndrome de realimentação, igual acontece com desnutridos, mas também para ir acompanhando o trabalho psicoterapêutico e nutricional que é feito com a autoimagem e relação coma alimentação. Senão eu daria um remédio desses que aumenta o apetite e leva a ganho de peso e resolveria. Mas a paciente vai ficar completamente desequilibrada com a imagem corporal que não acompanhou e eu pioro ainda mais este quadro. Só uso estratégias extremas quando há risco de morte iminente, aí eu interno, passo sonda.... Sempre muito difícil!!! Muito difícil encontrar lugares de tratamento intensivo. Tratamento multidisciplinar (sempre precisa de nutricionista especialista em TA - semanal; psicoterapia experiente – 1-2x/semana; clínico geral ou endócrino - mensal; psiquiatra- mensal). Grande número de internações longas Alto consumo de recursos Comentário: O papel do psiquiatra. Há padrão ouro para BN (ISRS, como fluoxetine – diminui impulsividade) e TCA (ISRS, como fluoxetine e sertraline, sibutramine, topiramato, lisdexanfetamina – o único aprovado pelo FDA; bupropiona off label). Mas não há nada para AN (o TTO é nutricional e psicológico; o tto entra para as comorbidades). Transtornos alimentares 15 Opções de tratamento dos TAs Psicofarmacológico Endocrinológico/Clínico Psicoterapêutico (TCC para BN e TCA; para AN não há padrão ouro. Importância da experiência do profissional) Nutricional: Recuperação do peso (IMC de pelo menos 18-18,5) Combate às compulsões 5/6 refeições/dia Proporção dos grupos alimentares Reeducação Alimentar Indicações para hospitalização em pacientes com AN IMC≤13,5% ou < 75% do peso ideal Risco de suicídio; Pouca motivação para o tratamento; Problemas familiares e relacionados ao meio ambiente; Comorbidades associadas graves: diabetes descompensado, depressão, abuso de álcool ou drogas, ansiedade generalizada e transtorno obsessivo compulsivo. Necessidade de supervisão nas refeições ou alimentação por sonda nasogátrica ou parenteral. Comportamentos purgativos importantes(laxantes, diuréticos e vômitos). Complicações clínicas: pulso< 40 bpm, PA< 90/60 mmHg, glicemia< 60 mg/dl, K+ < 3 mEq/L, desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos,comprometimento de órgãos vitais. Comentário: Internações 1,2 até 3 meses. 1o interna clinicamente e depois internação psiquiátrica, se for o caso. Conclusão Todos os casos de perda ponderal abrupta, mesmo em pessoas saudáveis, devem ser investigados, inclusive pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. Da mesma forma, ganhos ou oscilações grandes de peso podem indicar TA. Pessoas com peso normal podem estar engajadas em práticas inadequadas para controle de peso e maus hábitos alimentares, e o mesmo pode ocorrer com pessoas acima do peso. Crianças e adolescentes com atrasos ou perdas pônderoestaturais e/ou do desenvolvimento puberal devem ser avaliadas para excluir TA. Amy: NA purgativa, abuso de substâncias... Crack, heroína, metanfetamina..... (desnutrição + overdose após sair da rehab) Transtornos alimentares 16 Os TA afetam, portanto, pessoas de todas as etnias, classes sociais e com os mais variados pesos e tipos físicos. Logo, o peso alterado não é marcador clínico único nem imprescindível, pois pessoas com peso adequado podem apresentar TA. Pessoas aparentemente saudáveis podem estar muito doentes. Os casos podem, portanto, passar despercebidos até por clínicos experientes,2 levando a sérias complicações clínicas acometendo todos os órgãos e sistemas, demandando avaliação abrangente e acompanhamento clínico minucioso. Nathália Farias