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VII COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX E ENGELS 
 
CRISE DO CAPITAL, DESEMPREGO ESTRUTURAL E AS NOVAS FORMAS DE ESTRA-
NHAMENTO DO TRABALHO 
 
 
Gustavo José Danieli Zullo1 
Pedro Henrique Evangelista Duarte2 
 
Grupo de Trabalho 6: Trabalho e produção no capitalismo contemporâneo. 
 
 
Introdução 
 
Após a II Grande Guerra, o mundo capitalista vivenciou vários anos de crescimento econômico 
elevado e estável. Aquele período, que duraria até meados dos anos 1970, foi marcado tanto pelo for-
dismo3 como pelo keynesianismo. O crescimento econômico foi baseado em tecnologias amadurecidas, 
o que, em certo sentido, contribuiu para que alguns países suplantassem, já nos anos 1970, a suprema-
cia tecnológica dos EUA em alguns setores estratégicos (TAVARES, 1985). A potência hegemônica 
passara a sofrer com taxas de lucro decrescentes4, o que impeliu os EUA a tomarem medidas drásticas 
nos campos da política monetária e estratégia produtiva, o que caracterizou a imposição de uma hege-
monia dominante e cêntrica5. Ademais, vale lembrar, devido ao tamanho da economia estadunidense e 
ao seu papel e atuação como potência hegemônica, as suas estratégias e políticas nacionais, grandemen-
te vinculados àquilo que Harvey (2003) chama de accumulation by dispossession, têm impacto forçoso 
no restante da economia, política e sociabilidade no mundo capitalista. 
De modo geral, as medidas encaminhadas para o enfrentamento da crise estrutural do capital 
que eclode ao longo dos anos 1970 se direcionaram a implementação de mecanismos que, defronte o 
desmantelamento do welfare state, permitisse uma realocação do capital para esferas onde o mesmo 
pudesse se reproduzir de maneira ampliada. É nesse sentido que o solapamento do compromisso key-
nesiano, a nova estrutura de concorrência internacional entre capitais produtivos e financeiros e o en-
fraquecimento da classe trabalhadora através da ampliação do desemprego estrutural e do estranhamen-
to do trabalho se firmaram como mecanismos que fundamentaram a reestruturação do capital e permiti-
ram o redirecionamento de sua reprodução ampliada. 
 
1
 Mestrando em Desenvolvimento Econômico – Economia Social e do Trabalho, no Instituto de Economia da Universidade 
Estadual de Campinas. Contato: gustavozullo@gmail.com 
2
 Doutorando em Desenvolvimento Econômico – Economia Social e do Trabalho, no Instituto de Economia da Universida-
de Estadual de Campinas e pesquisador do ICDD – International Center for Development and Decent Work. Contato: phe-
duarte@gmail.com 
3
 Criou um novo tipo de trabalhador, disciplinado e guiado pelo e para o trabalho. Com isso, criava-se também um modo 
específico de pensar e de sentir a vida. 
4
 Ainda que a proposta não seja a de problematizar a queda da taxa de lucro, Postone (2007, p. 17) argumenta que, para 
Marx - e ao contrário da idéia predominantemente difundida - o teorema de taxas de lucro decrescente não indicaria limites, 
mas sim expressaria a superfície de uma dinâmica histórica fundamental, que apontaria para o aumento da diferença entre a 
estrutura do trabalho e da vida social na vigência do capital e o que poderia ser estruturado em sua ausência. Esse trecho, em 
grande medida, caminha no mesmo sentido do que será apresentado ao longo deste trabalho, como apresentado nas novas 
formas de organização do trabalho e as novas formas de estranhamento e subsunção do trabalho. 
5
 A autora ainda afirma que a mudança em direção a uma hegemonia não só dominante como também cêntrica ocorre em 
meados do decênio de 1980, tendo como molas propulsoras a elevação dos juros de 1979, a imposição da política do dólar 
forte e após os EUA terem relegado aos demais países a concorrência de uma indústria tradicional, enquanto seus capitais 
eram direcionados para novos setores promissores, geralmente ligados às tecnologias da informação. 
Partindo desses aspectos, o presente trabalho irá abordar, a partir da teoria marxista do valor, 
como o processo de reestruturação produtiva dos anos 1970, dentro dos novos elementos introduzidos 
com a crise hegemônica dos EUA e a ampliação da concorrência internacional, conduziu a um processo 
de extensão não apenas do desemprego estrutural, mas também do estranhamento do trabalho, conside-
rando ambos como elementos dialéticos que, ao mesmo tempo em que se apresentam como resultado 
processo de reprodução ampliada do capital, são elementos que dão novos impulsos para que o capital 
continue a se reproduzir. Para tal discussão, a primeira parte deste trabalho contemplará aspectos fun-
damentais para a compreensão da crise estrutural do capital, a qual deve ser entendida como um pro-
cesso histórico ainda em vigência e que é próprio da natureza da relação social de produção e domina-
ção que é o capital. A segunda parte dirige-se mais especificamente ao desemprego estrutural engen-
drado pela crise estrutural do capital manifestada explicitamente desde meados dos anos 1970. Por fim, 
a terceira parte apresenta algumas das novas formas de expressão dessa crise enquanto formas de estra-
nhamento do trabalho humano vivo. Por fim, importa dizer que, ainda que existam elementos funda-
mentais da análise que se baseia nos movimentos financeiros do capital, o epicentro da presente análise 
é colocado na esfera produtiva da crise, por acreditarmos ser o processo produtivo o locus privilegiado 
da exploração do trabalho e da extração de mais-valia e de renda em suas mais variadas formas, o que 
evidenciaria a centralidade do trabalho no capitalismo. 
 
1. A crise estrutural do capital 
 
O período compreendido entre o final dos anos 1960 e início dos 1970 evidenciou uma perda 
significativa de poder das empresas nos EUA e das empresas estadunidenses. A concorrência das em-
presas japonesas e européias, que apareciam como novos centros geográficos de acumulação de capital 
em escala mundial, foi elemento central para a queda das taxas de lucro nos EUA a partir do final dos 
anos 1960. As empresas estadunidenses não apenas tinham que competir com um número maior de 
concorrentes fortes dentro e fora de seu mercado nacional, como muitos desses concorrentes eram tec-
nologicamente superiores. A forte concorrência entre os capitais de grandes multinacionais dentro de 
um padrão financeiro e monetário (internacionais) fortemente regulado, que limitava as movimentações 
financeiras como remessa de lucros, e que era também fundamentado num padrão de concorrência ba-
seado na inserção de cadeias produtivas inteiras montadas dentro dos territórios nacionais6, impulsio-
nou a formação de um circuito intrabancário de livre movimentação de capitais, que tinha como princi-
pal base a off-shore londrina, um mercado desregulado e com a participação dos grandes bancos inter-
nacionais, inclusive bancos estadunidenses, operando em solo europeu (CHENAIS, 2005, p. 38). O eu-
romercado, portanto, criou algum espaço para a livre circulação de capitais dentro das praças financei-
ras européias, constituindo um propulsor poderoso para as posteriores desregulamentação do capital e, 
de modo indireto, para a flexibilização do mercado de trabalho em escala mundial. Além disso, eviden-
cia também a forte correlação entre capital produtivo e capital financeiro, facilitada sobremodo por um 
capitalismo fortemente caracterizado, entre outras coisas, pela acumulação flexível7. 
A hipertrofia da esfera financeira abria novas oportunidades ao grande capital, que acabou por 
intensificar os processos de fusão e aquisição como resposta à tendência da queda da taxa de lucro na-
quele contexto de grande concorrência inter-capitalista. A considerável expansão dessas práticas indica 
não apenas a aceleração da concentração e da centralizaçãode capitais como também apontam para o 
 
6
 Brenner, 2006. Aqui, de certa maneira, o argumento de Brenner coaduna com o de Tavares (1985), pois ambos notam o 
fato de que os altos investimentos em capital fixo no período que vai do pós-guerra até o final dos anos 1970/início dos 
1980 ergueu barreiras à diversificação do investimento em direção a outros setores, inclusive porque em um contexto mar-
cado por grande concorrência. 
7
 Antunes, 2001. 
fortalecimento das finanças sobre a esfera da produção como fonte de renda8. Dentro desse processo, os 
movimentos especulativos ganharam muita força em meio a um mercado financeiro internacional que 
ia sendo cada vez mais desregulamentado9. O entrelaçamento de atividades financeira, monetária e 
produtiva tornou-se mais intenso, instabilizando as atividades produtivas e o emprego mundialmente. 
Do ponto de vista da participação do Estado na economia e nos gastos sociais, a reação dos 
EUA foi o gradual abandono do welfare e o ataque ao salário real e ao poder sindical organizado, que 
primeiramente são apresentados como necessidade econômica no enfrentamento na crise econômica de 
1973-75, para depois serem escancarados e apresentados como “virtude econômica”10. A crise do wel-
fare state, portanto, evidenciava também que as estruturas sob as quais os benefícios sociais se apoia-
vam eram frágeis. Não apenas as fontes fiscais advindas dos lucros eram mais ou menos estáveis peran-
te crescentes gastos sociais, como também os Estados nacionais, para prolongarem o dinamismo eco-
nômico, elevavam a criação de crédito por meio de dívidas, naquilo que Chesnais (2005, p. 39) deno-
mina efeito “bola de neve”. Mais que isso, do ponto de vista ideológico, a crise do welfare ocorria num 
momento de enfraquecimento do bloco socialista11. 
As taxas de lucro também eram pressionadas pela elevação do preço da força de trabalho, e os 
movimentos acima descritos favoreceram decisivamente para que a luta de classes pendesse fortemente 
em favor do capital. “A conjugação desses fatores levou a uma redução da produtividade do capital, 
acentuando a tendência decrescente da taxa de lucro.” (ANTUNES, 2009, p. 31). A elevação do preço 
da força de trabalho, que havia sido conquistada após 1945 e pela intensificação das lutas sociais dos 
anos 1960 perdeu força. De certo modo, a resposta dada à crescente e poderosa concorrência inter-
capitalista serviu também como forma de disciplinar a classe-que-vive-do-trabalho, e essa resposta foi 
grandemente expressada pela desmobilizadora deslocalização produtiva. Do ponto de vista dos traba-
lhadores, a deslocalização produtiva levou a uma fragilização dos movimentos sindicais12; com isso, ao 
mesmo tempo em que o grande capital escapava não apenas do trabalho organizado e armado para en-
frentar a subsunção do trabalho13 dentro dos marcos do compromisso keynesiano, o grande capital bus-
cou países em que a mão-de-obra era abundante e significativamente mais barata. Ademais, como sali-
enta Harvey (2003, p. 185), o novo imperialismo iniciado em meados da década de 1970 libertou ativos 
de baixo custo que puderam prover grande monta de capital adicional (surplus capital) nas contas naci-
onais de nações imperialistas às custas de nações fracas e vulneráveis, inclusive por meio da exploração 
draconiana da força de trabalho desses países, enquanto suas elites asseguram sua riqueza nos cofres 
fortes de Wall Street e similares. 
De certo modo, dadas as taxas decrescentes de lucro pressionadas por inúmeros fatores e a crise 
dos welfare states, fica patente que as condições necessárias à consecução de uma demanda efetiva 
adequada à manutenção de crescimentos elevados e estáveis iam sendo paulatinamente solapadas. A 
deterioração do compromisso keynesiano evidenciava, portanto, a própria natureza do capital, que bus-
ca sempre a sua reprodução em escala ampliada. De modo sucinto, e valendo-se das análises de Bren-
ner (1999, apud. ANTUNES, 2009), a crise do capital tem suas raízes profundas num excesso constan-
 
8
 Brenner (2006, p. 380) mostra que os lucros retidos pelas corporações do setor manufatureiro passaram de 74,5% durante 
o período 1950-1965 para 40,5% durante o período 1990-1996, enquanto a distribuição de dividendos saltou de 24,5 para 
35,7%. 
9
 Para Antunes (2009), a hipertrofia da esfera financeira é uma expressão da crise estrutural do capital e de seu sistema de 
produção (e reprodução). De outro modo, também poderíamos dizer que o agigantamento das finanças é consequência das 
dificuldades em valorizar o capital (sobre)acumulado na esfera produtiva, que tem perspectivas de longo prazo. 
10
 Esse é um procedimento recorrente da política externa dos EUA, como soberbamente evidencia Žižek (2009). 
11
 Antunes (2001, p. 39-40). 
12
 O tema será mais adequadamente abordado nas partes posteriores deste texto. 
13
 Alguns elementos adicionais sobre a subsunção do trabalho ao capital, como sua relação com a subjetividade real no tra-
balho “apenas” dentro do processo produtivo do sistema toyotista, podem ser alentados em Alves & Antunes (2004, p. 343). 
Essas relações são semelhantes e mesmo conectadas às novas formas de estranhamento do trabalho, que serão brevemente 
destacadas ao final deste trabalho. 
te de capacidade e de produção originados das prolongadas taxas de investimento e crescimento dos 
EUA, Japão e Europa, notadamente por parte da Alemanha – o que acabara por resultar em uma sobre-
acumulação de capital. A concorrência entre esses capitais e as baixas taxas de acumulação acarretaram 
índices baixos de crescimento da produção, da produtividade e, posteriormente, à queda das taxas de 
inversão e do emprego e baixos aumentos salariais (ANTUNES, 2009; POSTONE, 2007, p. 7). 
A demanda efetiva, que até então vinha sendo garantida e negociada entre empresas e governo e 
trabalho dentro do compromisso keynesiano, passava a ser ameaçada – o seu curto período é prova ca-
bal de sua debilidade. Ademais, como já mencionado, em meio ao enfraquecimento estadunidense na 
esfera produtiva, ia se conformando o euromercado de moedas, principalmente na City, que concentra 
uma enorme massa de dólares fora do sistema financeiro internacional controlado pelos EUA. Ou seja, 
os EUA não apenas perdiam sua supremacia produtiva e tecnológica como também perdiam a supre-
macia sobre o controle sobre o sistema financeiro e monetário mundial. Essas alterações representavam 
uma grande ameaça aos EUA, e as medidas keynesianas de reajuste macroeconômico davam demons-
trações notórias de serem insuficientes para controlar o capital14. Os EUA se mostravam, portanto, im-
potentes para regular o sistema capitalista de produção de mercadorias nos moldes keynesianos. 
 Alguma resposta precisava ser dada pelo imperialismo estadunidense, e esta veio de forma arra-
sadora por meio da elevação dos juros, em 1979. A partir daquele momento, não apenas a política cam-
bial e monetária sofreria alterações como todo um conjunto de mudanças estratégicas seria levado a 
cabo. Além do direcionamento das inversões para setores novos15, e mesmo em função do desenvolvi-
mento das novas tecnologias da informação, os EUA imprimiram violentamente uma nova divisão in-
ternacional do trabalho. 
Assim, ganhavam força movimentos já relacionados neste trabalho, como a deslocalização pro-
dutiva, e a automatização das unidades produtivas. Isso tudo contribuía não apenas para a intensifica-
ção do desemprego industrial e estrutural como também para disciplinar o trabalhador, inclusive incul-
cando-lhe novas formas subjetivas de estranhamento do trabalho, complexificando-o e tornando sua 
subsunção ao capital nãoapenas formal como real. Ademais, a deslocalização acabava por reunir me-
nos trabalhadores em uma mesma unidade produtiva ao mesmo tempo em que as unidades se distanci-
avam umas das outras, dificultando a reação operária e mesmo reduzindo sua força quando mobilizada. 
 
2. As novas formas de organização do trabalho: deslocalização e toyotismo 
 
 O esgotamento dos padrões de acumulação fordista e de negociação dentro dos marcos do com-
promisso keynesiano levou a introdução de profundas alterações na forma de organizar o trabalho e a 
atividade produtiva. O fordismo/taylorismo necessitava ser substituído por outra forma de organização 
do trabalho em que a escala não fosse uma das estruturas da produção e da organização do trabalho. O 
sistema toyotista foi a expressão das novas necessidades colocadas pelo sistema capitalista16, a partir de 
uma produção flexível, com elevada interconexão entre instrumentos e máquinas, que permitisse uma 
rápida adaptação às modificações na demanda. Dentro desse novo esquema produtivo, a organização 
toyotista impunha a necessidade de um operário polivalente e do trabalho em equipe, elementos que se 
contrapunham à atividade mecânica e individual do fordismo. 
 
14
 Harvey (1992), afirma que o keynesianismo mostrou-se incapaz de superar as rigidezes do mercado de trabalho, que a 
cada redução dos salários reagia com greves e outras manifestações, e dos compromissos sociais assumidos, como os pro-
gramas de assistência, que pressionavam tanto a legitimidade de um compromisso (keynesiano) quanto as taxas de lucro e a 
receita fiscal do Estado. De outra maneira, os compromissos assumidos pareciam solapar a acumulação de capital. 
15
 Como bem salienta Tavares (1985), esses novos investimentos não foram impedidos pela elevação das taxas de juros por-
que foram financiados por crédito de curto prazo. 
16
 O fordismo foi apenas parcialmente substituído pelo toyotismo, uma vez que muitas plantas produtivas continuaram a 
funcionar sob a lógica taylorista. 
Dado seu conteúdo flexível e, em consequência, sua capacidade de adaptação à demanda - es-
pecialmente em momentos no qual o crescimento do produto é lento, como na década de 1970 -, o sis-
tema toyotista logo passou a ser implementado por empresas transnacionais, difundindo o novo método 
de produção pelo mundo. Num momento de crescimento e acirramento da concorrência internacional, o 
modelo de produção toyotista acabou por se firmar como mecanismo para redução de custos e aumento 
da competitividade. Assim, como colocado por Gounet (1992), as empresas que passaram a adotar o 
toyotismo, ao expandir suas fatias do mercado - dado seus ganhos de escala e redução de custos -, fixa-
vam as normas da acumulação, criando pressões para que suas concorrentes também adotassem méto-
dos para expandir o processo de acumulação e não serem condenadas à morte. É assim que, na esteira 
do acirramento da concorrência internacional, o toyotismo se difunde pelo mundo. No mesmo sentido, 
também difundia uma nova forma de organização do trabalho, fundamentava no aumento da intensifi-
cação do trabalho. 
Dentro desse contexto, e inserido numa nova divisão internacional do trabalho, o sistema de 
produção toyotista permitiu a ampliação da reprodução do capital através do aumento do mais-valor, ao 
mesmo tempo em que reduziu a fatia de capital investido – mecanismo que acelerou a rotação do capi-
tal e, em conseqüência, levou à redução dos ciclos do capital e à recuperação mais rápida dos investi-
mentos. 
Nesses termos, o sistema toyotista se adequava à nova fase de acumulação flexível e com pre-
domínio das finanças do sistema capitalista. O toyotismo não apenas apresentava uma nova forma de 
organização do trabalho que racionalizou e flexibilizou a produção, permitindo maiores condições de 
adaptação às modificações na demanda, como também promoveu a redução dos custos e uma maior 
exploração dos trabalhadores. Para isso, o antigo operário especializado e mecanizado do taylorismo 
foi substituído pelo operário multifuncional, que, em grande medida, representa uma mudança imposta 
pelas constantes ameaças de desemprego. É assim, portanto, que a crise do capital favorece a transfor-
mação do trabalhador em um “colaborar” e indica mais uma faceta de uma totalidade complexa, conec-
tando as mudanças no processo de acumulação e as relações e os modos de organização do trabalho. 
 
3. Reestruturação produtiva e desemprego estrutural 
 
 Como apontado na seção anterior, a crise do sistema capitalista que ganhou forma na década de 
1970 e as saídas encontradas para a mesma, dentro do processo de reestruturação produtiva que culmi-
nou na difusão do sistema toyotista de produção, engendraram diversos impactos sobre a forma de or-
ganização do trabalho. A racionalização produtiva empreendida dentro desse processo, voltada à adap-
tação do ciclo produtivo a um momento de recessão e crise econômica, sem criar grandes entraves à 
valorização do capital, encontrou não só na ampliação das tecnologias e na modernização dos métodos 
produtivos as chaves para reverter a tendência de queda da taxa de lucro, mas também no aumento da 
pressão sobre o mercado de trabalho. 
 Marx, em O Capital, já havia apontado a tendência à formação e extensão de um exército indus-
trial de reserva, à medida que o sistema capitalista recriasse as bases de produção e reprodução do capi-
tal. Entendendo o sistema capitalista enquanto sistema dialético que gera, dentro de seu próprio proces-
so reprodutivo, os elementos que conduzem à situação de crise, bem como os mecanismos que permi-
tem à reversão das mesmas, a origem de um exército industrial de reserva, ou de uma superpopulação 
relativa, seria o resultado desse processo cíclico de ascensão e crise sistêmica. 
 Ao explicar a composição do capital no interior do processo produtivo, Marx fundamenta tal 
compreensão a partir de um duplo sentido, expressa nos conceitos de composição técnica do capital e 
composição orgânica do capital: o primeiro, do ponto de vista da matéria, expressa a repartição do ca-
pital em meios de produção e força de trabalho viva; o segundo, da perspectiva do valor, expressa a 
proporção em que o capital se reparte em valor dos meios de produção – capital constante – e valor da 
força de trabalho – capital variável. Tais composições, que nos estágios iniciais do modo de produção 
capitalista se mantinham constantes – de modo que qualquer novo investimento em capital se revertia 
em contração de mão-de-obra na mesma proporção, criando uma tendência de ampliação dos postos de 
trabalho e, em conseqüência, de elevação do valor do salário – tendem a se modificar na esteira da pró-
pria reprodução do capital. 
 A idéia introduzida por Marx se fundamenta na lógica de que, à medida que o sistema capitalis-
ta se desenvolve e se torna mais moderno, utilizando tecnologias e métodos produtivos mais avançados, 
modifica-se a composição orgânica do capital, conduzindo a um processo de decréscimo relativo da 
parte variável do capital em relação ao capital total. Em outras palavras, com o progresso da acumula-
ção e da concentração de capital que o acompanha, e que conduz à ampliação da produtividade social 
do trabalho – que se expressa no volume relativo dos meios de produção que um trabalhador, durante 
um determinado tempo e com o mesmo dispêndio de força de trabalho, transforma em produto -, uma 
proporção cada vez menor de trabalhadores é agregada ao processo produtivo, em relação a proporções 
cada vez mais crescentes de capital constante. Levando em conta a manutenção da taxa de crescimento 
da população que resulta, em cada período, na inclusão de contingentes populacionais no mercadode 
trabalho, a tendência de elevação da produtividade no sistema capitalista, à medida que o próprio sis-
tema se desenvolve, traz em si uma outra tendência, de redução relativa da massa de trabalhadores in-
cluídos dentro do processo produtivo – e, portanto, de redução do capital variável em relação ao capital 
constante – e, em conseqüência, ao surgimento de um exército industrial de reserva. Assim, a superpo-
pulação relativa, entendida enquanto parte da mão-de-obra não empregada que está permanentemente 
à disposição do capital e que, por isso, se submete a formas de trabalho extremamente precárias e vive 
sob condições espúrias e degradantes, é resultado do movimento cíclico e contraditório do capital: cí-
clico porque se estende à cada etapa do desenvolvimento das forças capitalistas, e contraditório porque 
é somente através da exploração do trabalho que o capital pode se reproduzir– ou, dito em outras pala-
vras, é apenas o trabalho vivo que pode produzir mais-valia. Assim, para além de resultado do avanço 
do sistema capitalista, a existência de uma superpopulação relativa é condição relevante para as próxi-
mas etapas de reprodução do capital, dado que a existência de um contingente populacional cada vez 
mais extenso não só cria uma permanente disponibilidade de mão-de-obra a ser explorada pelo capital 
cada vez que há ampliação dos investimentos, mas também pressiona os salários para baixo, modifi-
cando a composição orgânica em favor da valorização do capital. 
 O que pretendemos chamar a atenção aqui é para o fato de que, da perspectiva da estrutura pro-
dutiva, os acontecimentos que se desdobraram a partir da crise da década de 1970 e seus impactos so-
bre o mundo do trabalho convergem com a análise apresentada por Marx a respeito das tendências ge-
rais do modo de produção capitalista. Nesse sentido, a passagem do fordismo-taylorismo para o toyo-
tismo, com seu composto de racionalização produtiva, produção flexível e trabalho multifuncional, 
dentro da lógica de uma nova divisão internacional do trabalho, ampliou as bases do desemprego estru-
tural – entendendo aqui desemprego estrutural como expressão da superpopulação relativa. Com uma 
produção mais enxuta e internacionalizada, e com cada trabalhador exercendo um conjunto mais amplo 
de funções, a composição orgânica do capital se modifica em favor do aumento do capital constante em 
relação ao capital variável, de modo que uma massa relativa de trabalhadores cada vez menor é neces-
sária dentro do processo produtivo. Assim, a produtividade do trabalho é ampliada com base no aumen-
to da exploração do trabalho – tanto em termos intensivos quanto em termos extensivos – ao passo que 
uma massa cada vez ampla de trabalhadores engrossa as filas do desemprego ou se enquadram dentro 
de formas de trabalho informais e extremamente precárias. O sistema capitalista, então, se reestrutura 
para se tornar mais moderno e mais produtivo dentro de uma lógica da concorrência internacional, pro-
dutividade esta que se assenta nas bases do desemprego estrutural. É dessa forma que o desemprego 
estrutural se firma como característica própria ao sistema capitalista, e como resultado do processo de 
reestruturação produtiva da década de 1970. 
 Para além da ampliação do desemprego estrutural, é preciso apontar também para precarização 
do trabalho como resultado desse processo. Como mostra Antunes & Alves (2004), a passagem do mo-
delo fordista-taylorista ao modelo toyotista abriu espaço para a redução do proletariado tradicional, ca-
racterizado por ser fabril, manual, estável e especializado, em favor de formas desregulamentadas de 
trabalho, como o novo proletariado fabril e de serviços, os quais são terceirizados, subcontratados, 
part-time, e com restrito acesso à seguridade social e aos serviços públicos – resultado do solapamento 
do estado de bem-estar social pela desregulação neoliberal -, dentre os quais é também preciso conside-
rar os trabalhadores das regiões agroindustriais. Nesse sentido, “desregulamentação, flexibilização [e] 
terceirização (...) são expressões de uma lógica societal onde o capital vale e a força humana do traba-
lho só conta enquanto parcela imprescindível para a reprodução deste mesmo capital (...) [O capital] 
pode diminuir o trabalho vivo, mas não eliminá-lo” (ANTUNES, 2001, p. 38). O trabalho é cada vez 
mais reduzido a um mero apêndice da reprodução do capital, a partir da implementação de formas ex-
tremamente precárias e desreguladas de trabalho, as quais permitem a ampliação, por sua vez, de sua 
exploração17. 
A partir desses aspectos, é lícito assumir a perversividade do movimento de reestruturação do 
capital na década de 1970 sobre o mundo do trabalho. De um lado, ao ampliar a produtividade do traba-
lho através da modernização e racionalização do processo produtivo, o capital reduz sua componente 
variável a partir da intensificação da exploração do trabalho, engrossando as fileiras do exército indus-
trial de reserva. De outro lado, essa população desempregada, mediante a impossibilidade de se enqua-
drar dentro dessa nova lógica, se direciona às formas precárias de trabalho, dentro do setor informal e 
sem acesso à regulamentação trabalhista. Nesses termos, o processo de reestruturação produtiva condu-
ziu à extensão do desemprego estrutural, não apenas por ampliar o contingente populacional sem em-
prego, mas também por criar uma massa de trabalhadores constantemente à disposição do capital e que, 
ao mesmo tempo, cria pressões para uma maior precarização do trabalho, seja em termos da intensifi-
cação do mesmo, seja em termos da compressão salarial. O que quer dizer que o capital, no seu proces-
so dialético de superação de suas crises sistêmicas, cria as condições para se reestruturar a partir da 
maior exploração e precarização do elemento impulsionador de sua reprodução: o trabalho vivo. 
 No interior desse processo de aumento do desemprego e da exploração, o trabalhador se reco-
nhece cada vez menos como produtor da mercadoria ou, em outros termos, vê cada vez menos a mer-
cadoria como resultado de seu trabalho. E, assim como a demarcação do desemprego estrutural como 
tendência da reprodução do modo de produção capitalista, também ganha novas formas e contornos o 
estranhamento do trabalhador em relação ao fruto do seu trabalho. 
 
4. O estranhamento e suas novas formas 
 
O capitalismo, sistema social de produção que tende à concentração de renda, poder e riqueza, 
tem na produção de mercadorias baseada no trabalho assalariado uma de suas principais características. 
O trabalho assume, portanto, papel central para que se exerça a acumulação, a concentração e a domi-
nação. Dentro desse sistema, existe uma condição específica na qual todas essas relações ocorrem, que 
é a propriedade privada dos meios de produção. É a partir dela, então, que o trabalho estranha o homem 
em relação ao produto de seu trabalho, à sua atividade vital, ao homem como ser genérico e ao estra-
nhamento do homem pelo próprio homem. 
Em suma, assim como assinalado e analisado por Karl Marx em seu Manuscritos econômico-
filosóficos, verifica-se ao menos quatro formas de estranhamento da atividade humana prática, o traba-
lho, engendradas pela propriedade privada. As formas de trabalho estranhado ocorreriam, grosso modo, 
na relação do trabalhador com o produto do trabalho como objeto estranho e poderoso sobre ele, ao 
 
17
 Antunes e Alves (2004) apresentam dados, tanto para países capitalistas centrais quanto para periféricos, da redução das 
formas tradicionais de trabalho, típicas dos modelos fordista e taylorista, em favor da extensão de formas precárias de traba-
lho, após a crise e reestruturação produtiva da décadade 1970. Para uma consulta mais detalhada, ver “As mutações do 
mundo do trabalho na era da mundialização do capital” (2004). 
mesmo tempo em que é a relação do mundo exterior sensível (natureza) como objeto alheio a ele de-
frontado hostilmente; na relação do trabalho com o ato da produção no interior do trabalho, que seria 
uma atividade estranha ao trabalhador; por conseguinte, o trabalho estranhado faz do ser genérico do 
homem um ser estranho a ele, o estranha de seu corpo e da natureza fora dele, assim como estranha sua 
essência espiritual, sua essência humana; e, por fim, uma consequência de o homem estar estranhado de 
seu próprio trabalho e de seu ser genérico é o estranhamento do homem pelo próprio homem. 
Em sua essência, o estranhamento do trabalho encontra-se preservado, ainda que, em alguns ca-
sos, fenomenicamente reduzido em função de uma menor separação entre elaboração e execução – ou, 
de outra maneira, em uma menor separação entre trabalho intectual e trabalho manual (ALVES & AN-
TUNES, 2004, p. 346). Por outro lado, é possível também dizer que o estranhamento passou por um 
processo de intensificação, causado por um grande número de acontecimentos, como a perda de direi-
tos e a insegurança no trabalho, as novas formas de organização e novas formas de concorrência inter-
capitalista, assim como o avanço tecnológico. Essas características favoreceram o surgimento de novas 
formas de estranhamento do trabalho. Emerge do desemprego estrutural e nas esferas produtivas con-
temporâneas uma subjetividade que é expressão de uma existência inautêntica e estranhada (ANTU-
NES, 2009), que se configura por uma maior participação nos projetos que nascem de discussões do 
controle de qualidade. Tenta-se fazer com que o trabalhador se veja como colaborador da empresa, en-
volvendo a relação de exploração e dominação sob um falso véu de participação igualitária e comunhão 
do próprio trabalho estranhado em suas diferentes formas e apropriado pelo capital. Assim, cria-se uma 
subjetividade estranhada em relação ao que e a quem se produz. 
 Essa forma de subjetividade mascara a relação de exploração existente entre o trabalhador e o 
proprietário dos meios de produção, pois a necessidade dos trabalhadores de pensar, agir e propor se 
condiciona aos objetivos do capital, e não os do trabalho. E essa relação é travestida pela necessidade 
de um melhor atendimento ao consumidor. Ou seja, o trabalhador assume a posição de defender os in-
teresses do capital, que é aquilo que o explora, que o objetifica e que estranha a ele o seu próprio traba-
lho e o faz estranhar a ele mesmo enquanto gênero humano, entre outros aspectos problemáticos. As-
sim, surgiu uma nova forma de subjetividade estranhada que serve à manutenção e intensificação do 
“velho” estranhamento do trabalho, uma vez que, sob essas condições subjetivas, a tomada de consci-
ência de sua exploração e alienação fica ainda mais obliterada. 
Essa subjetividade estranhada faz com que o trabalhador pense que ajuda a si mesmo ao mesmo 
tempo em que esse agir tem apenas a aparência de maior liberdade. Caso o trabalhador não atue como 
um colaborador – o nome é, em si, uma perversão da relação conflituosa e antagônica entre capital e 
trabalho – será substituído, sobretudo porque o capitalismo atual é caracterizado por desemprego estru-
tural e precarização do trabalho e, em escala global, com relações de trabalho flexibilizadas. O medo do 
desemprego, reforçado pelo discurso liberal de inimpregabilidade ou do fim do trabalho (DEDECCA, 
2009, p. 130-135) faz com que milhares de pessoas tenham a necessidade de estarem constantemente 
melhorando suas qualificações para o trabalho, o que não apenas contribui para a subjetividade estra-
nhada ganhar força dentro da atividade produtiva como também é uma evidência de como o capital 
domina a vida dos trabalhadores. Assim, pode-se afirmar que o trabalho torna-se um fardo, uma obri-
gação e estranha o homem de si mesmo enquanto ser genérico. 
Outro aspecto do estranhamento diz respeito à transferência do saber intelectual humano às má-
quinas informatizadas – com a ressalva, porém, de que a informatização, ainda que seja tornada em re-
produtora de atividade produtiva, não suprimi o trabalho humano. Essa interação que é desenvolvida 
entre máquina e homem estranha ainda mais a atividade humana prática, “distanciando ainda mais a 
subjetividade do exercício de uma cotidianidade autêntica e autodeterminada.” (ANTUNES, 2009, p. 
131). Assim, é aprofundada a objetificação do homem, ao mesmo tempo e no mesmo ritmo em que o 
capital é tornado/se torna sujeito. Ou seja, o capital toma o papel de agente, que usa o sujeito tornado 
objeto, o homem, para a sua reprodução, o que intensifica o estranhamento do homem pelo homem as-
sim como intensifica outras máscaras típicas do capitalismo, como o fetichismo da mercadoria. 
 
5. Conclusões 
 
 A crise estrutural do capital forçou a introdução de novas maneiras de organizar a produção, 
notadamente por meio da emergência do toyotismo, como também uma nova divisão internacional do 
trabalho, intensificada pelo desemprego estrutural. Ademais, tendo a crise levado a uma série de ques-
tionamentos sobre a capacidade de os EUA atuarem como a potência hegemônica, medidas drásticas 
foram tomadas para que sua força fosse sentida e se fizesse efetiva. Dentre essas medidas, estiveram a 
elevação das taxas de juros dos títulos públicos, que engendrou toda uma mudança no padrão monetá-
rio e financeiro mundial, e os investimentos passaram a ser destinados aos setores de mais alta tecnolo-
gia, notadamente os setores da informação, o que favoreceu grande impulso a automação e moderniza-
ção das plantas produtivas. 
Essas mudanças levam a alterações importantes do metabolismo societal do capitalismo e do 
capital, conduzindo a um amplo processo de modificação nas relações de trabalho. Modificações essas 
que, inseridas numa lógica estrutural de reafirmação da hegemonia do capital, tornaram o trabalho – 
elemento central para a reprodução ampliada do capital – mais precário e subordinado, as quais ganham 
forma na extensão do desemprego estrutural e no surgimento de novas formas de estranhamento do tra-
balho. 
 Assim, mais que a intensificação do desemprego estrutural e o surgimento de novas formas de 
estranhamento do trabalho, as novas formas de organizar o trabalho e seus desdobramentos represen-
tam a ascensão de um poder imperial que destrói tentativas autênticas de organização de movimentos 
operários e movimentos sociais em geral. O desemprego estrutural, ao ampliar o exército de trabalha-
dores em permanente disposição para o capital, mas sem criar possibilidades aos mesmos de encontrar 
postos de trabalho com garantias sociais mínimas, engendra uma série de mecanismos para a precariza-
ção mais intensa do trabalho, seja através da repressão dos salários, seja através da flexibilização das 
relações de trabalho. Nesses termos, a extensão do desemprego estrutural representa uma enorme pres-
são à classe-que-vive-do-trabalho, dada as suas consequências devastadoras sobre as relações de traba-
lho. No mesmo sentido, foram constituídas novas formas de uma subjetividade estranhada, que pressi-
ona o trabalhador a usar seu tempo livre para atividades de qualificação e para a produtividade do tra-
balho estranhado, além de ter que passar a atuar como um colaborador dentro da fábrica. Tais aspectos, 
próprios ao sistema capitalista de produção, não só ganharam novos contornos a partir da reestrutura-
ção produtiva da década de 1970, como foram intensificados com as políticas neoliberais nos anos 
1990, em especial a partir de desregulamentação e flexibilização das relações de trabalho. 
 Nesses termos, os fenômenos do desemprego estruturale do estranhamento servem para evi-
denciar como o avanço capitalista, por meio e em meio a uma crise estrutural, afeta sobremaneira a 
subjetividade do homem, solapando as forças da humanidade que lutam por uma subjetividade mais 
livre e autônoma, ao mesmo tempo em que gera novas formas e novos mecanismos para que o capital, 
às custas de uma pressão constante e cada vez mais crescente do trabalho, se reproduza em escala am-
pliada. O trabalho, assim, se reafirma como força motriz da produção de mais-valia – e, na esteira desse 
processo, se consolida como elemento cada vez mais explorado e deteriorado em favor do capital. 
 
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