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48 Valvulopatias Insuficiência mitral - É um distúrbio anátomo-fisiológico da valva mitral caracterizado pela falha de coaptação dos seus folhetos - Aparecendo um fluxo sanguíneo regurgitante do ventrículo esquerdo em direção ao átrio esquerdo durante a sístole ventricular - Etiologia: - Alterações no anel: dilatação ou calcificação do anel - Anormalidades dos folhetos: - Degeneração mixomatosa - Doença reumática - Endocardite infecciosa - Doenças congênitas - Cardiomiopatia hipertrófica - Agentes anorexígenos (fenfluramina, fentermina) - Alterações nas cordoalhas: rótula primária ou secundária (degeneração mixomatosa, endocardite infecciosa, febre reumática, trauma) - Alterações nos músculos papilares: rótula associada ao IAM ou disfunção secundária (isquemia, dilatação do VE, processos infiltrativos) Classificação - Quanto ao tempo: - Aguda (quadro clínico abaixo) - Edema agudo de pulmão e/ou choque cardiogênico - Crônica - Se leve a moderada: geralmente assintomáticos - Se for grave: podem permanecer assintomático por vários anos (fase compensada) - Quando sintomático (fase descompensada): - Fadiga e astenia - Dispneia aos esforços - Ortopneia - Dispneia paroxística noturna - Tosse e hemoptise (menos frequentes) - Angina pectoris é rara (coronariopatia associada) - Quanto a gravidade: Exame físico - Pulso arterial normal ou com amplitude aumentada - Pulso venoso geralmente é normal Se HAP: onda “a” mais proeminente com onda ”v” mais alta - Ictus cordis tipo dilatação do VE - Impulsão protodiastólica palpável - Frêmito sistólico em FM - B1 está , em geral, diminuída (abafada ou inaudível) - B2 está comumente desdobrada e às vezes hiperfonética às custas de P2 se HAP - B3 é muito comum - B4 é rara (relacionada à presença de HAS ou DAC) - Sopro sistólico com regurgitação: - Mais audível em FM - Carater aspero ou ventoso - Irradiando-se para axila e dorso quando há envolvimento do folheto anterior e para o esterno ou FAO quando há envolvimento do folheto posterior - Aumenta com exercício isovolumétrico (handgrip), posição de cócoras - Diminuem com a posição ortostática - Sopro de ruflar diastólico por hiperfluxo Eletrocardiograma - Se aguda ou nos casos leves: geralmente normal - Se crônico: - Incidência maior de fibrilação atrial - Sobrecarga atrial esquerda - Sobrecarga ventricular esquerda - Raramente sobrecarga ventricular direita Radiografia de tórax - Na forma aguda e nos casos leves: área cardíaca normal ou sinais de congestão pulmonar - Na crônica: - Padrão de congestão pulmonar - Sinais de aumento do átrio esquerdo - Sinais de aumento de ventrículo esquerdo Ecocardiograma - Identifica o jato regurgitante da IM - Estima a gravidade da IM - Define a sua etiologia (maioria dos casos) - Denuncia alterações compensatórias do aparelho cardiovascular (↑AE,↑VE) - Avalia a função ventricular esquerda e quantifica a disfunção quando presente - Ajudam no acompanhamento clínico e na definição de cirurgia Tratamento clínico - Pacientes com insuficiência mitral (IM) aguda: - Internar em UTI Agnes Jennine 49 - Tratados agressivamente para compensar instabilidade hemodinâmica (Furosemida, Nitroprussiato de sódio ou Nitroglicerina, Dobutamina, Balão intra-aórtico) - Ponte para tratamento cirúrgico - Pacientes com IM crônica assintomáticos com função ventricular normal: - Não há necessidade de tratamento medicamentoso - Profilaxia para EI e FR (quando necessário) - Pacientes com IM crônica sintomáticos: - Tratamento da ICC (digital, diurético, IECA, BRAII, vasodilatadores, antiarrítmicos) Tratamento intervencionista - Plastia da válvula mitral - Mitralclip - Troca da valva mitral com preservação do aparelho subvalvar Estenose mitral - É o estreitamento do orifício valvar mitral que determina uma resistência ao esvaziamento do conteúdo da cavidade atrial esquerda no ventrículo esquerdo durante a diástole ventricular - Etiologia: - Febre reumática (99%) - Causas raras: - Congênitas - Lúpus eritematoso sistêmico - Amiloidose - Mucopolissacaridoses - Mixoma atrial Classificação - Quanto a gravidade: - Leve: AV entre 1,5 e 2cm2 / GM < 5mmHg - Moderada: AV entre 1,0 e 1,5cm2 / GM entre 5 e 10mmHg - Severa: AV< 1,0cm2 / GM >10mmHg Quadro clínico - *Fadiga e intolerância ao esforço - *Dispnéia aos esforços - Tosse com hemoptise - Dor torácica de caráter anginoso - Palpitações - Fenômenos embólicos - Rouquidão (Síndrome de Ortner) - Disfagia para sólidos Exame físico - Facies mitral é rara hoje em dia - Pulso arterial normal ou reduzido (casos graves) - Pulso venoso geralmente é normal Se HAP: onda “a” aumentada com onda ”v” gigante - Ictus cordis tipo normal ou tipo VD (HAP grave) - *B1 palpável - *Hiperfonese de B1 - B2 palpável no 2° EIE se HAP - Hiperfonese de B2 se HAP - Ausência de desdobramento de B2 (HAP severa) - B4 de ventrículo direito (HAP severa) - *Estalido de abertura - Frêmito diastólico em ápice cardíaco (DLE) - *Sopro diastólico de enchimento - Tipo ruflar - Bem localizado em área mitral - Pode irradiar para axila e área tricúspide (+ intenso) - Duração variável (proporcional a gravidade) - Reforço pré sistólico - Diminui com a inspiração e manobra de valsava - Aumenta com o exercício físico - Sopro de Graham Steel (IP) Eletrocardiograma - Ritmo sinusal ou Fibrilação atrial - Sobrecarga do átrio esquerdo “p mitrale” - Sobrecarga de VD e AD se HAP - Só haverá sinais de sobrecarga de VE se houver outras lesões associadas Radiografia de tórax - Edema intersticial pulmonar (Linhas B de Kerley) - Área cardíaca normal ou aumentada as custas VD - Retificação de segundo arco - Sinais de aumento de átrio esquerdo - Duplo contorno - Retificação de brônquio fonte esquerdo - Quarto arco - Atelectasia na base pulmonar direita Ecocardiograma - Espessamento dos folhetos valvares - Restrição da abertura - Abertura em cúpula (dome) da valva - Calcula a área valvar mitral e gradiente médio - Avalia o escore de Block (ou Wilkins) - Mede o tamanho do átrio esquerdo - Estima a Pressão sistólica da artéria pulmonar - Função do ventrículo esquerdo e direito Agnes Jennine 50 Tratamento clínico - Evitar esforços extenuantes - Restrição de sal e água - Métodos contraceptivos: - Usar medicamentos com menor rico tromboembólicos (Progesterona isolada) - Evitar uso de dispositivos uterinos (DIU) - Profilaxia para febre reumática - Profilaxia para endocardite infecciosa - Não há droga para redução da estenose mitral - Betabloqueadores para controle da frequência cardíaca (metoprolol 25mg a 100mg/dia) - Diuréticos para controle dos sintomas de congestão (furosemida 40 a 160mg/dia) - Digital para controle da FC em pacientes com FA/IC (digoxina 0,125mg a 0,5mg/dia) - Anticoagulação com Wafarina se fibrilação atrial, eventos embólicos prévios ou trombo em AE (wafarina 5mg/dia (Manter INR 2-3); AAS 100mg/ dia (Evento embólico prévio ou trombo em AE apesar da Wafarina) Tratamento intervencionista - Valvoplastia mitral - Cirurgia (troca valvar, comissurotomia) - Implante valvar transcateter (perspectiva) Insuficiência aórtica - É um distúrbio anátomo-fisiológico da valva aórtica que se caracteriza por refluxo de sangue da aorta para o ventrículo esquerdo durante a diástole ventricular - Etiologia: - Doenças que acometem a raiz da aorta: - Dilatação degenerativa da raiz da aorta - Síndrome de Marfan - Dissecção aórtica - Osteogênese imperfeita - Aortite sifilitica - Espondilite anquilosante - Síndrome de Ehlers-Danlos - Hipertensão arterial sistêmica - Doenças que acometem a valva propriamente dita: - Febre reumática (80% dos casos) - Endocardite infecciosa - Trauma cardíaco - Valva aórtica bicúspide - CIV ampla - Degeneração mixomatosa da válvula - Deteriorização de uma prótesevalvular - L.E.S, Artrite reumatóide, espondilite anquilosante Classificação - Quanto ao tempo: - Aguda (quadro clínico abaixo) - Edema agudo de pulmão e/ou choque cardiogênico - Crônica - Se leve ou moderada: geralmente assintomáticos - Se grave: podem permanecer assintomáticos por vários anos (fase compensada) - Quando sintomático (fase descompensada): - Astenia - Dispnéia aos esforços - Ortopnéia - Dispnéia paroxística noturna - Angina noturna - Quanto a gravidade da lesão: - Mínima: FR < 20% - Leve: 20% < FR < 40% - Moderada: 40% < FR < 60% - Grave: FR > 60% Exame físico - Pulso capilar de Quincke (visualização de pulsação em certos locais, como no leito ungueal, devido à transmissão do pulso arterial nos pequenos vasos capilares) - Pulso de Corrigan ou em martelo d’agua (aumento da amplitude de pulso, percebido como um pulso forte e rápido) - Aumento da pressão diferencial - Dança das artérias - Sinal de Musset (cabeça) --> movimentos involuntários da cabeça provocados pela batida cardíaca em situações de grave insuficiência aórtica - Sinal de Muller (úvula) - Sinal de Minervine (base da língua) - Sinal de traube (canhão femoral) - Sopro de Duroziez (duplo sopro femoral) - “Pistol shot” em certas artérias como a pediosas - Precórdio hiperativo - Ictus tipo dilatação do VE - Frêmito sistólico em base (hiperfluxo) Agnes Jennine 51 - Frêmito diastólico em base é infrequente - B1 normo ou hipofonética - B2 variável às vezes de difícil análise - B3 correlaciona-se com a gravidade da IAO - B4 pode estar presente - Sopro protodiastólico de refluxo - Caráter aspirativo e decrescente - Mais audível em FAO acessório - Melhor audível com o paciente sentado com o tórax inclinado para frente - Pode irradiar-se para a ponta do coração - Aumenta com o exercício isométrico (handgrip) e posição de cócoras - Diminui com a manobra de valsava e vasodilatadores - Sopro proto-sistólico de ejeção por estenose funcional - Sopro de Austin Flint Eletrocardiograma - Se aguda: geralmente normal - Na crônica: - Desvio do eixo para a esquerda - Sobrecarga do ventrículo esquerdo - Sobrecarga do átrio esquerdo em casos avançado Radiografia de tórax - Se aguda e nos casos leves: área cardíaca normal ou sinais de congestão pulmonar - Se crônica: - Área cardíaca aumentada as custas de VE - Dilatação de aorta ascendente --> sugere aortopatia - Átrio esquerdo habitualmente normal quando aumentado indica lesão mitral associada Ecocardiograma - Identifica o refluxo de sangue da IAO - Estima o grau e a severidade da IAO - Define a sua etiologia (maioria dos casos) - Denuncia alterações compensatórias do aparelho cardiovascular - Avalia a função ventricular esquerda e quantifica a disfunção quando presente - Ajuda no acompanhamento clínico e na indicação de cirurgia Tratamento clínico - Em pacientes com IAO aguda: - Internar em UTI - Tratados agressivamente para compensar instabilidade hemodinâmica (Furosemida, Nitroprussiato de sódio) - Balão intra-aórtico é contraindicado - Ponte para tratamento cirúrgico - Em pacientes com IAO crônica leve a moderada Assintomáticos com Função ventricular esquerda preservada - Não há necessidade de medicação - Acompanhamento clínico e ecocardiográfico anual - Profilaxia para endocardite infecciosa se anormalidades estruturais da valva - Profilaxia para febre reumática se etiologia reumática - Em pacientes com IAO crônica severa Assintomáticos com Função ventricular esquerda preservada - Não há consenso sobre utilizar vasodilatadores orais (Nifedipina, IECA, hidralazina) - Acompanhamento clínico e ecocardiográfico a cada 6 meses - Profilaxia para endocardite infecciosa se anormalidades estruturais da valva - Profilaxia para febre reumática se etiologia reumática - Em pacientes com IAO crônica severa Assintomáticos com Função ventricular esquerda comprometida - Utilizar vasodilatadores orais (IECA, hidralazina) - Acompanhamento clínico e ecocardiográfico a cada 6 meses - Profilaxia para endocardite infecciosa se anormalidades estruturais da valva - Profilaxia para febre reumática se etiologia reumática - Em pacientes com IAO crônica severa Sintomáticos com Função ventricular esquerda comprometida - Utilizar digital e diurético - Utilizar vasodilatadores orais (IECA, hidralazina) - Profilaxia para endocardite infecciosa se anormalidades estruturais da valva - Profilaxia para febre reumática se etiologia reumática - Indicação cirúrgica Tratamento intervencionista - Cirurgia de troca valvar - Implante transcateter de valva aórtica (TAVI) Agnes Jennine 52 Estenose aórtica - É o estreitamento na via de saída do ventrículo esquerdo por comprometimento da dinâmica sistólica do aparelho valvar aórtico - Pode ter 3 etiologias: - Congênita - Reumática - Degenerativa (pela idade, o próprio processo de envelhecimento em si) Classificação - Quanto a gravidade: - Leve: AV entre 1,5 e 2,5cm2 / GM < 25mmHg - Moderada: AV entre 1,0 e 1,5cm2 / GM entre 25 e 40mmHg - Grave: AV ≤ 1,0cm2 / GM ≥ 40mmHg Quadro clínico - Paciente permanece assintomático por muitos anos (fase compensada) - Quando sintomáticos (fase descompensada) - Dispnéia aos esforços - Angina pectoris - Síncope - Morte súbita Exame físico - Pulso arterial parvus e tardus - Pulso venoso é usualmente normal - Ictus tipo HVE (hipertrofia ventricular esquerda) - Frêmito sistólico em foco aórtico e em carótidas - Vibração carotídea - B1 é normal - B2 pode ser hipofonética e única ou com desdobramento paradoxal (disfunção de VE) - B4 acentuada - Estalido de ejeção aórtico - Sopro sistólico de ejeção - Mais audível em FAO - Irradiação para carótidas às vezes para ápice - Caráter áspero - Aumenta com a posição de cócoras, exercício físico - Diminui com manobra de valsava, posição ortostática, exercício isovolumétrico (handgrip) Eletrocardiograma - Sobrecarga Ventricular Esquerda (85% em casos graves) - SAE (sobrecarga atrial esquerda) é comum - Menos frequentemente BRE (bloqueio de ramo esquerdo), BDASE (bloqueio divisional ântero-superior esquerdo) Radiografia de tórax - Área cardíaca geralmente é normal - Calcificação da valva aórtica - Dilatação pós estenótica da aorta ascendente Ecocardiograma - Confirma presença de estenose - Avalia a morfologia valvar - Define sua etiologia na maioria dos casos - Estima a gravidade da lesão (AV e GM) - Mede o grau de hipertrofia - Avalia a função ventricular esquerda Tratamento clínico - Não há tratamento medicamentoso específico para pacientes assintomáticos - O acompanhamento clínico e ecocardiográfico deve ser rigoroso - Profilaxia para EI e FR quando necessário - O tratamento medicamentoso nos pacientes sintomáticos é pouco efetivo e não altera mortalidade - Diuréticos (Furosemida) para alívio dos sintomas - Vasodilatadores (IECA) com cuidado - Evitar betabloqueadores - É utilizado em não candidato ou como ponte para tratamento intervensionista Tratamento intervensionista - Cirurgia de troca valvar - Implante transcateter de valva aórtica (TAVI) - Valvoplastia por cateter balão Agnes Jennine
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