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ENXAQUECAS CONCEITOS A enxaqueca é uma cefaléia primária, que não apresenta uma causa aparente que leve ao processo doloroso dessa doença, apesar de inúmeras teorias serem elaboradas e discutidas ao longo da história, sendo portanto doença de caráter idiopático. Segundo pesquisas recentes, é a terceira doença mundial em prevalência e a sétima doença mais incapacitante no contexto global. Tanto a sua natureza comum, como ainda a incapacitação dos portadores são características que faz com que a enxaqueca seja uma doença de destaque dentro da medicina e principalmente das cefaleias primarias, em que apesar de não ser a mais prevalente, é incapacitante e a principal cefaleia que leva as pessoas aos médicos. Habitualmente essas crises dolorosas que são episódicas e ocorrem em episódios isolados por conta de algum tipo de gatilho. Predominantemente ocorre no sexo feminino, em pacientes jovens, tendo uma relação intima com valores hormonais, em especial o estrógeno, sendo por esse tipo de motivo que muitas das vezes a anticoncepção hormonal é contraindicada nos casos de enxaquecas com áureas. A duração da enxaqueca é de 4 a 72 horas, obviamente que um indivíduo não possui uma dor durante 72 horas direto sem interrupções, mas que permanece mesmo com uso de auto medicações. Em crianças abaixo dos 15 anos essa dor pode variar de 2 a 48 horas. Sendo uma dor que ocorre em uma frequência de 4 a 6 vezes ao mês, com um aspecto de moderado a severo, não sendo dores leves, por esse fato que são consideradas incapacitantes. CARACTERÍSTICAS COMUNS 1. DOR UNILATERAL E PULSÁTIL: é uma dor que na maioria das vezes se apresenta em um lado da cabeça apenas, com característica pulsátil ou latejante como se tivesse coração naquela região da cabeça. 2. PIORA COM O ESFORÇO FÍSICO: é uma característica que difere a enxaqueca das outras dores que podem confundir o diagnóstico, a piora com exercícios físicos é comum. 3. DOR NA REGIÃO ORBITAL OU FRONTO TEMPORAL: outra característica muito comum da enxaqueca é a presença de uma dor próxima da região orbital ou mais anterior como na porção frontal ou temporal da cabeça. Geralmente esse paciente leva a mão nessas regiões com fáceis de dor que são muito características. 4. OUTROS SINTOMAS: existem outros sintomas que pode vir a aparecer nos quadros de enxaqueca como náuseas e vômitos, presença de áurea antes das crises iniciarem, um quadro de fotofobia, fonofobia, palidez e sudorese. Ainda mais raramente podem aparecer sintomas autonômicos do parassimpático como lacrimejamento, hiperemia, além de rinorreia e obstrução nasal, mas que não são evidentes como em casos de cefaléia em salvas por exemplo. “Aura consiste em sintomas neurológicos inequívocos com origem no córtex e/ou tronco encefálico que geralmente precede a cefaleia, as náuseas e os vômitos, assim como a fotofobia e a fonofobia, sem intervalo livre ou que ainda geralmente não ultrapassam 01 hora do início da crise.” Os sintomas de rinorreia, lacrimejamento, congestão nasal hiperemia conjuntival e pressão sinusal nas região frontal da face como uma espécie de sinusite ocorre por conta da ativação cruzada ou inervação cruzada do nervo trigêmeo com outros centros controladores de estruturas glândulas lacrimais e glândulas parótidas e estimulação também do nervo facial que podem levar a paralisação facial e ainda a dores. Sendo por esse motivo que frequentemente casos de enxaqueca são diagnosticados como cefaleia sinusal. Um dos sinais mais característicos de inervação cruzada é quando o paciente ao realizar a mastigação, por conta das raízes motoras do trigêmeo, começa a chorar por conta da inervação cruzada do nervo lacrimal. É o quando chamado de lagrimas de crocodilo em que o paciente mesmo tempo que mastiga, também escorrem lagrimas dos olhos. CRITÉRIOS DIAGNÓTICOS DE ENXAQUECA 1. Para diagnóstico de enxaqueca é necessário que se tem ao menos mais de uma crise de cefaleia, já que apenas uma crise de enxaqueca é praticamente impossível de distinguir de cefaleias secundarias causadas por algum motivo. Com duração de 4 a 72 horas. Sendo que nos quadros sem aura é necessário cinco crises de enxaqueca, enquanto casos de enxaqueca com aura é necessário duas crises. 2. A característica da dor de ser unilateral com alternância dos lados de ocorrência é um forte argumento para que se diagnostique a enxaqueca. Lembrando que a dor maioria das vezes é pulsátil ou latejante de intensidade moderada a severa e agravada pela atividade física. 3. Os sintomas geralmente estão associados como náuseas e vômitos, além de fotofobia e fonofobia. A presença de um desses sintomas já é um forte argumento para que se diagnostique um quadro de enxaqueca. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da enxaqueca é multifatorial por conta da presença de susceptibilidade genética de alguns indivíduos que provocam uma hiperexcitabilidade neuronal no SNC em especial do núcleo caudal do nervo trigêmeo (V) com raízes motoras e principalmente raízes sensitivas que são as responsáveis por inervar toda a face. A hiperexcitabilidade do nervo trigêmeo faz com que tem uma hiper ativação também do sistema trigeminovascular que consiste na inervação pelos ramos do trigêmeo, sendo o ramo oftálmico o mais atuante, de vasos e artérias que se localizam na porção intracraniana, liberando maiores quantidade de nociceptores que provocarão vasodilatação e sensibilização dos nociceptores arteriais e de meníngeos, resultando em dor de cabeça. Essa fisiopatologia descrita até então é da enxaqueca sem aura, que se não tratada corretamente, ou tentar de forma alguma ser suportada pode-se progredir para a enxaqueca com aura. A enxaqueca com aura ocorre quando se tem a hiperexcitabilidade de regiões além do nervo trigêmeo, em que se afeta principalmente regiões corticais localizadas fora do tronco encefálico. Esse fenômeno é denominado de Depressão Alastrante de Leão em que a hiperexcitabilidade progride para além do tronco encefálico, atingindo regiões corticais e causando o fenômeno de aura. Por exemplo, se esse fenômeno ocorre nas regiões corticais occipitais, podem conferir sintomas visuais antes da enxaqueca ocorre realmente. Em outras palavras, resumidamente, algum gatilho causa um aumento do disparo neuronal levando ao fenômeno de hiperexcitabilidade inicialmente do nervo trigêmeo, e que pode se alastrar para outras regiões, assim como provoca a liberação de maiores quantidades de neurotransmissor e ativação de mais receptores nociceptivos da dor, além de provocar ativação do sistema trigeminovascular fazendo a vasodilatação e sensibilização intracraniana. Por meio da excitação anormal, o nervo trigêmeo envia sinais para as regiões localizadas no tálamo e córtex cerebral causando sinais de dores mais evidentes, assim como estimulação de outras áreas provocando náuseas, vômitos, fotofobias e a fonofobia. E a intensidade continua do núcleo trigeminal faz com que se tenha sensibilização das regiões centrais de uma forma muito acentuada, provocando o sintoma de alodinia que consiste em uma sensibilização muito grande e causando dores em estímulos que geralmente não causariam dores como um simples pentear ou prender os cabelos. ENXAQUECA SEM AURA A enxaqueca sem aura é aquela justamente em que não se tem nenhum tipo de sintoma avisando antes da ocorrência das crises agudas. Como já definida é necessário ao menos cinco episódios de ocorrência, com pelo menos dois sinais como dor latejante, unilateral, moderada ou severa com a piora com exercícios + um sintoma associado. “A enxaqueca menstrual é uma dor de cabeça que ocorre durante o período menstrual, geralmente entre 2 dias antes até 3 dias após o início da menstruação, e que tem relação com as alterações hormonais desteperíodo, podendo ser acompanhada de sintomas comuns de enxaqueca, como náusea, vômitos e sensibilidade à luz. O principal fator que contribui com o seu surgimento é a redução dos níveis de estrogênio durante o período menstrual, que também é responsável pelos sintomas da TPM, como irritabilidade e cólicas. Por isso, além de medicamentos para enxaqueca como anti-inflamatórios e triptanos, os contraceptivos hormonais também podem ser indicados.” ENXAQUECA COM AURA A enxaqueca com aura é definida da mesma forma que os casos de enxaqueca sem aura, no entanto, basta possuir apenas dois episódios para que se confirme diagnóstico de enxaqueca com aura. Lembrando que a aura antecede as crises de enxaqueca seja logo anteriormente ou até cerca de 01 hora antes, não tendo uma duração prolongada, mas que indica alastramento da excitação neural para as zonas corticais. No entanto, diferentemente do que ocorre na enxaqueca sem aura, é necessário também definir critérios que levam a identificar a existência de aura propriamente dita como mostrado na tabela a seguir. Lembrando que a aura é uma consequência do acometimento de porções do córtex pelo fenômeno de hiperexcitabilidade, podendo afetar locais como áreas visuais, auditivas e sensitivas. Curiosamente existe casos mais raros em que ocorre aura mas não ocorrem cefaleia típica da enxaqueca que segue os conceitos já estabelecidos anteriormente ou até mesmo não ocorre cefaleia no período de aura ou nos 60 minutos subsequentes. Esses casos são denominados de casos de aura típica com cefaleia atípica ou aura típica sem cefaleia respectivamente. Não são comuns, mas ocorrem e podem ser importantes para o seguimento do caso. ENXAQUECA DO TIPO BASILAR A enxaqueca do tipo basilar é denominada dessa forma por afetar a artéria basilar, uma das principais artérias, se não a principal artéria posterior do cérebro. Responsável por suprir regiões posteriores do córtex cerebral, assim como regiões do tronco encefálico incluindo bulbo, ponte, além do cerebelo e mesencéfalo. A dor da enxaqueca nesse caso é localizada mais posteriormente, nas regiões occipitais. Pensando na anatomia, esse tipo de enxaqueca com aura vem seguido de sintomas não característicos como a perda de equilíbrio, deficiência de audição, diplopia, ataxia, além de confusão, disartria, tinido, vertigem e tontura. Nesses casos, o diagnóstico é bastante complicado, ainda mais por conta da dos diagnósticos diferenciais como caso ataque isquêmico transitório, epilepsia e convulsões. ENXAQUECA HEMIPLÉGICA (FAMILAR OU ESPORÁDICA) Como o próprio nome já diz, consiste em um quadro claro de enxaqueca com aura, seguindo todos os critérios que já foram citados anteriormente para definição de enxaqueca e também de aura. No entanto, apresenta uma diferença dos casos de enxaqueca com aura comum que é durante a ocorrência da aura, a paciente apresenta sintoma motor ou melhor, a perda deles, com paresia ou hemiparesia de um dos membros ou de um lado do corpo. É por isso nome de hemiplégica. Nesses casos, podem ser divididas em duas ocorrência que auxiliam no diagnóstico diferencial: a hemiplégica familiar geralmente o paciente apresenta algum histórico família de outras pessoas com sintomas bem característicos e com semelhança ao seu. Já nos casos da hemiplegia esporádica o caso é isolado daquele paciente na família, sendo um dos diagnósticos diferenciais para jovens. ENXAQUECA RETINIANA Como o próprio nome já diz, é uma enxaqueca que pode a ter aura, mas que se destaca os sintomas visuais daquela paciente. São alterações monoculares completamente do reversível de caráter positivo como cintilações ou também de caráter negativo como escotomas ou amaurose que são identificadas durante ou após a crise pelo examinador ou pelo relato do paciente. Vale salientar ainda em que fora dos períodos de crise, os exames oftalmológicos se encontram normais na paciente e as alterações visuais não são atribuíveis a outros tipos de alterações tais como neuropatia óptica isquêmica ou ainda dissecção carotídea. ENXAQUECA CRÔNICA A enxaqueca crônica é definida logicamente por condição crônica de ocorrência em que se tem cefaleia por 15 dias ou mais durante o mês, durante cerca de 03 meses mais ou menos, sendo que em pelo menos 08 dias a enxaqueca é incapacitante. Lembrando que a enxaqueca por si só já é uma condição incapacitante na maioria dos pacientes que sofrem com essa doença, sendo o principal motivo de se procurar um médico. Nesses casos de enxaqueca crônica, pode ser sem aura ou com aura, independentemente, a definição relaciona-se mais com o tempo de crises e a frequência com que ocorre essas crises. Estudos recentes indicam que principal causa da ocorrência de enxaqueca crônica é o abuso no uso dos medicamentos, principalmente analgésicos. TRATAMENTO AGUDO DAS CRISES Os objetivos principais do tratamento das crises agudas da enxaqueca são além de realizar um tratamento rápido que alivie a dor do paciente de maneira consistente, deve-se ter em mente que nem sempre é possível aliviar a dor por completo, mas é preciso melhorar capacidade funcional do paciente para que possa retornar suas atividades. Outros objetivos como evitar uso de medicamentos como último recurso ou em excesso, promover uma boa relação do custo da terapêutica em relação ao benefício, além de minimizar os efeitos adversos e promover educação saúde e impedir ocorrência de novas crises, assim como diminuir a intensidade e duração de ocorrência. Merecem destaque no atendimento ambulatorial em que o paciente segue o tratamento em casa o uso de AINES em que se tem o Naproxeno Sódico 250 a 500 mg de 12/12 por 3 dias. E também os triptanos como o Sumatriptanos que pode ser administrado em comprimidos, IM ou spray nasal em alguns casos. ENXAQUECA NO PRONTO-SOCORRO Em todos os casos tentar manter o paciente em repouso sob penumbra em ambiente tranquilo e silencioso (leitos de observação). Nos casos em que a dor tem duração inferior a 72 horas: I. I. Administrar antiemético parenteral se vômitos ou uso prévio das medicações: dimenidrato 30mg por via intravenosa (IV) diluído em 100ml de soro fisiológico a 0,9% ou dimenidrato 50 mg por via intramuscular (IM); II. II. Recomenda-se jejum, com reposição de fluidos (soro fisiológico 0,9%) por via intravenosa (IV) se houver indícios de desidratação; III. III. Dipirona 1 grama (2 ml) IV diluído em água destilada (8ml); IV. Cetoprofeno 100mg IV diluído em soro fisiológico 0,9% (100ml) ou 100mg IM. V. Reavaliar paciente em 1 hora; se não houver melhora, prescrever Sumatriptano 6mg subcutâneo (1 seringa com 0,5ml), repetindo a dose, se necessário, em 2 horas. OU repetir dose do AINE. Nos casos em que paciente chega à urgência com dor há mais de 72 horas (estado migranoso): I. Jejum e acesso venoso para reposição de fluidos se necessário. Infundir soro fisiológico a 0,9% 500ml em pinça aberta; II. Tratamento da crise como citado anteriormente associado ao uso dexametasona 10mg (ampola 10mg/2,5ml) IV lento. III. Se não melhorar com uso de dexametasona >>> clorpromazina 0,1-0,25mg/kg IM (ampola 25 mg/5 ml); manter infusão de soro fisiológico a 0,9%; IV. Se em 1 hora o paciente mantiver a dor, repetir clorpromazina por até três vezes, no máximo. Caso feita todas medicações e o paciente ainda não ter a melhora desejada da enxaqueca, podendo vir apresentar complicações como mal enxaquecoso, piora da aura ou até mesmo persistência da dor incapacitante, podendo ser encaminhado para internação e cuidado continuo. E lembrando que não deve ser administrado opioides em casos de dores da enxaqueca por conta dos efeitos e da enorme dependência ao uso. TRATAMENTO NA PROFILAXIA “Melhorara qualidade de vida, diminuindo assim o grau de incapacidade relacionado às crises, como reduzindo a frequência e intensidade, bem como facilitando resposta ao tratamento abortivo” São utilizadas inúmeras técnicas não medicamentosas que auxiliam na prevenção da enxaqueca a fim de evitar o desencadeamento dos gatilhos: técnica relaxamento, acupuntura, homeopatia, exercícios físicos que venham a melhorar, técnicas que evitam o estresse. O tratamento medicamentoso é adotado quando se tem a presença de alguns critérios importantes: crises enxaqueca por mais de três vezes ou mais de três episódios, quando a medicação abortiva já não faz mais efeito, quando a dor e a crise se tornam incapacitante, prejudicando a vida diária do paciente, quando se tem alguns subtipos como a basilar hemiplégica, retiniana e enxaqueca crônica e quando as medidas terapêuticas não medicamentosas já não possui mais os efeitos desejados na profilaxia. São inúmeros os medicamentos que podem ser utilizados no tratamento profilático, sendo que muitas das vezes as crises não deixam de existir por completa e turbulências são comuns de ocorrerem: I. Beta Bloqueadores: Propranolol e Timolol II. Antagonistas Canais de Cálcio: Flunarizina III. Antidepressivos: Amitriptilina IV. Anticonvulsivantes: Valproato de Sódio e Topiramato TRATAMENTO DE ENXAQUECA CRÔNICA Existem apenas 3 opções medicamentosas para realizar o tratamento de enxaqueca crônica no Brasil: I. TOPIRAMATO II. TOXINA BOTULÍNICA (PREEMPT 1 E 2) III. ANTICORPOS MONOCLONAIS A. ERENUMABE B. GALCANEZUMABE C. FREMANEZUMABE SÍNDROMES EPISÓDICAS NA INFÂNCIA
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