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PEDIATRIA DIARREIA conceito - perda excessiva de água e eletrólitos através das fezes, resultando em aumento do volume e frequência das evacuações e diminuição na consistência das fezes, de forma diferente do habitual; ≥3 evacuações amolecidas dentro de 24 horas; algumas referências caracterizam volume fecal acima de 10ml/kg/dia, no entanto, o padrão de evacuação normal varia com a idade: - Fisiologicamente, a diarreia resulta do desequilíbrio entre essa absorção e secreção de água e eletrólitos, ocasionados por redução da absorção, aumento da secreção ou por ambos, tendo como resultado o predomínio do fluxo de água, eletrólitos e nutrientes do meio interno em direção à luz intestinal. - Os principais íons envolvidos nesse transporte são Na+ , K+ , Cl- , HCO3 - e H+; a água segue, através dos espaços intercelulares, o fluxo desses eletrólitos, principalmente o Na+, cuja absorção é promovida pela ação da enzima Na+K+ATPase localizada na membrana basolateral da célula absortiva (enterócito); - O Na+ pode ser absorvido por meio de 3 mecanismos, ocorrendo principalmente no intestino delgado: Acoplado à glicose, galactose ou aminoácidos, com auxílio de transportadores específicos e se mantendo inalterado durante os episódios de diarreia aguda (constitui no fundamento para o emprego da terapia de reidratação oral – TRO); Através de canais de íons; Acoplado ao cloro (NaCl). Mecanismos de secreção e absorção de água e eletrólitos: Mecanismo absortivo de NaCl: - Mecanismo secretor de Cl- e H2o: - Mecanismo de secreção de HCO3-: duodeno proximal CLASSIFICAÇÃO - Critérios: topográfico e temporal. - Alta: intestino delgado, ↑volume + ↓frequência (nº de evacuações não obrigatoriamente muito elevado); Podem ocorrer desidratação e comprometimento nutricional de graus médios a graves → até 10L/dia em casos graves, podendo até mesmo ocasionar choque hipovolêmico; Normalmente cessa com o jejum; Pode apresentar restos alimentares, esteatorreia e distensão abdominal. Arthur Rodrigues | @arthurnamedicina | Problema 05 - Baixa: grosso. ↓volume + ↑frequência; Quando ocorre, a desidratação é de menor intensidade e o comprometimento nutricional não é significativo; Diminui, mas não cessa com o jejum; Pode ser acompanhada de tenesmo, fezes com grande quantidade de muco (ou apenas muco), e eventualmente sangue (disenteria). TEMPORAL: - aguda (14 dias), persistente (mais de 14 dias) e crônica (mais de 30 dias). - Aguda: súbita, infecciosa ou tóxica; dura até 14 dias. - Persistente: episódio diarreico de etiologia provavelmente infecciosa, que se inicia de forma aguda e se prolonga não usual por período maior que 14 dias” (OMS); 10% causa problema nutricional e contribui para a mortalidade na infância. - Crônica: início incidioso, difícil detecção, + de 30 dias. Etiologia definida e pode ter padrão constante ou intermitente. Pode ser: sanguinolenta (olho nu ou sangue oculto), muco ou pus, esteatorreia (flutua, pastoso, volumoro, amarelo-claro), aquosa (muito líquido ou somente líquido/explosivo/eritema perianal). MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS - Osmótico, secretor, exsudativo e motor. OSMÓTICA: - Solutos não absorvíveis na luz, que gera saída de água e íons da mucosa p/ manter o gradiente. Ex: macronutrientes (hidratos de carbono/dissacarídeos/sorbitol/lactulose), íons (sulfatos, fosfatos e citratos) - Os dissacarídeos remanescentes provocam fluxo de água e cloro da mucosa para o lúmen e, ao chegarem ao cólon, sofrem fermentação anaeróbica pela microbiota e são desdobrados em ácidos graxos de cadeia curta e vários gases (hidrogênio, CO2 e metano), gerando flatulência e aumento da osmolaridade (anion gap alto). - Clinicamente: melhora com a suspensão do alimento ou agente causador; apresenta volume fecal grande; pH ácido (menor q 5,3). SECRETORA: - Caracterizada pelo aumento da secreção em comparação à absorção, podendo ser ativa (depende de energia) ou passiva (por efeito de gradientes osmóticos, elétricos e hidrostáticos). - Causada por ↑secreção de Cle HCO - (acompanhado de transporte ativo de H2O) + ↓absorção de Na+: A secreção ocorre na cripta, por meio de 2º mensageiros como AMPc, GMPc e PKA; A inibição da absorção ocorre no enterócito apical. •Pode ser desencadeada por: - Toxinas bacterianas: as toxinas bacterianas do Vibrio cholerae, aeromonas, Salmonella e a toxina termolábil da E. coli enteroxigênica (ECET) estimula o sistema adenilato ciclase/AMPc, e as toxinas da Klebsiella e da Yersinia e a termolábil da ECET ativam o sistema guanilatociclase/GMPc; - Sais biliares: são normalmente absorvidos no íleo distal, mas em quadros de má-absorção podem ser desconjugados e hidroxilados pela microbiota, tornando-se sais biliares di-hidroxilados que apresentam maior facilidade de se inserir na face lipídica da membrana celular → liberam AA da membrana, aumentando a concentração de PGE2 → >atividade da adenilato ciclase; - Medicamentos: furosemida, tiazídicos, teofilina, cafeína, ACh e inibi dores de aceticolinesterase, ranitidina, inibidores de serotonina, entre outros também podem causar diarreia secretora; - Neurotransmissores de hormônios: VIP, serotonina, ACh, Substância P e PGE2 ligam-se a receptores da membrana basolateral promovendo secreção de Cl- (ação direta); VIP e Substância P agem indiretamente, induzindo a secreção de histamina e serotonina por mastócitos, os quais atuam sobre os enterócitos provocando a secreção de Cl- - Secretora passiva: processos inflamatórios da mucosa: a ↑congestão vascular e situações de hiperpressão na rede linfática (ou ambos) causam o aumento da pressão hidrostática na lâmina própria, induzindo a saída de líquido para o interstício (alargamento das zonas juncionais → aumento dos poros dos enterócitos). Persiste no jejum, muito volume e aquosa, é isotonica (anion gap normal), ph normal e ausência de substâncias redutoras. EXSUDATIVA: - secreção passiva de água pelos tecidos acometidos por processo inflamatórios com congestão vascular, infiltração de células inflamatórias e hiperpressão na rede linfática → saída de líquido para o lúmen: Citocinas das células inflamatórias (PGE2, IL-1, IL-8 e TNF-α) → ↑secreção de Cl- ; - Destruição da membrana basal pelas MMPs → extrusão de enterócitos + redução da altura da vilosidade → aumento da cripta → aumento do mecanismo secretor; - Surgimento de mecanismo osmótico pela não absorção de nutrientes (↓vilosidades); - No cólon, o infiltrado inflamatório interfere na condutância elétrica → ↑permeabilidade celular → perda de água e ↓absorção de Na+ e Cl- . A presença de erosão e ulceração resulta em perda de grande quantidade de muco, proteína e algumas vezes, sangue; - Clinicamente: ↓volume, ↑frequência evacuações, costuma ser acompanhada de hipoalbuminemia e pode conter sangue disenteria; Exemplo clássico: amebíase e diarreias bacterianas invasivas; MOTORA - Aumento da motilidade (menos tempo em contato com a superfície > fezes com resíduos identificáveis. Síndrome do intestino irritável, hipertireoidismo. - Diminuição da motilidade: aumento do tempo de contato. Supercrescimento bacteriano, diminui absorção e transporte de eletrólitos > diarreia. P.ex.: dano à musculatura lisa (dermatomiosite, amiloidose, esclerodermia, distrofia muscular ou lesão actínica), estenoses, desnutrição, fístulas, e neuropatia autnômica como no DM PRINCIPAIS CAUSAS DA DIARREIA - BACTÉRIAS VIBRIO CHOLERAE: gram-negativa em forma de bastonete curvo móvel com flagelo locomotor terminal único que tem o homem como único hospedeiro; - Contaminação: água/alimento, peixes e frutos do mar (reservatórios) ingeridos crus ou mal cozidos (sobrevivem em águas doces e salgadas); - PATOGÊNESE: Multiplicam-se nointestino delgado, mas não invadem a mucosa, permanecendo na luz ao penetrarem na camada de muco, ficando aderidos ao epitélio intestinal; Liberam uma exotoxina termolábil que ativa de modo irreversível a adenilciclase, provocando aumento de AMPc e secreção de Cl e água + não absorção de Na+ (mas NÃO bloqueia a absorção de Na+ junto à glicose). - Exudativa - QUADRO CLÍNICO: Inicialmente náuseas, vômitos, dores abdominaistipo cólica e distensão abdominal, seguidos de diarreia aquosa, profusa com inúmeras evacuações muito fluidas de coloração esbranquiçada com aspecto de “água de arroz”; pode levar à anúria, hipotensão e choque hipovolêmico (principal causa de morte); Inclui desde casos leves até quadros de diarreia severa que resulta em desidratação grave → 15- 20L/dia, podendo levar à morte em poucas horas (mortalidade em casos não tratados pode chegarà 50%); Caso o paciente receba hidratação adequada, a resolução da diarreia ocorre em 4-6 dias. ESTERICHIA COLI: GRAM-, não patogênico da microbiota, mas existem cepas patogênicas – 5 grupos a) E. Coli enteropatogênica (ECEP): menores de 1 ano diarreia aguda. Patogênese: aderem-se à mucosa e produzem lesão histopatológica características com alterações ultraestruturais conhecidas como attaching-effacing (A/E): 1) Aderem-se inicialmente às células hospedeiras por meio de pelos formadores de feixescodificados por genes bfp (bundle forming pili) associados a plasmídeos, incluindo o denominado EPEC Adherence Factor (EAF); 2) Segue-se adesão mais firme à superfície celular mediada pela proteína intimina (codificada pelo gene eae), resultando em dissolução das microvilosidades; 3) Em seguida, há indução de processos de sinalização celular na célula hospedeira, com ativação da fosfolipase C e efluxo de IP3, liberando Ca2+ do citosol e reorganizando componentes do citoesqueleto (p.ex.: actina) para formar o pedestal que acolhe o corpo bacteriano. - Varia de leve a intenso, em lactentes pode gerar febre e vomito. b) Escherichia coli enterotoxigênica (ECET) com os rotavírus, constituem a principal causa de diarreia; - Contaminação: infectam indivíduos de todas as idades e é a principal causa de diarreia do viajante; água e alimentos; - PATOGÊNESE: 1) Coloniza o delgado superior; 2) Atuam sem invadir ou lesar a mucosa intestinal, produzindo 2 tipos de enterotoxinas: LT (termolábel) e ST (termoestável), que aumentam a perda hídrica por estímulo de AMPc e de GMPc intracelulares, respectivamente. QUADRO CLÍNICO: A diarreia é abundante e aquosa, variando de moderada a grave, muitas vezes assemelhando-seà observada na cólera; o curso é autolimitado, emmédia com duração de 5 dias, podendo, em algumas situações, prolongar- se até 3 semanas. c) Escherichia coli enteroinvasiva (ECEI) doença diarreica tanto em crianças quanto em adultos; localiza- se basicamente no intestino grosso; - Contaminação: pode se difundir pela água, alimentos (p.ex.: carne de aves, leite e queijo) e por contato pessoal; - Patogênese: possuem capacidade inflamatória determinada por um plasmídeo, colonizando e invadindo as células colônicas, provocando lesões e ulcerações. - QUADRO CLÍNICO: inicialmente aquosa que passa a ser mucossanguinolenta, associada a tenesmo, cólica, febre, anorexia e astenia; A desidratação não é tão intensa (de tratobaixo!); entretanto, os pacientes podem apresentar sinais de hiponatremia; d) Escherichia coli enteroemorrágica (ECEH) - 2 potentes citotoxinas dos tipos shiga-like toxina I (SLT I) e shiga-like toxina II (SLT II), que se ligam a receptores intestinais e renais; entre 5 e 9 anos e em adultos; - Contaminação: carne bovina mal cozida e leite não pasteurizado; - Patogênese: não são invasoras, mas produzem diarreia com características inflamatórias: Aderem-se à mucosa por meio de adesina fimbrial codificado por plasmídeo; Secretam as toxinas shiga-like responsáveis pelo dano à mucosa. - Diarreia sanguinolenta, dor abdominal em cólica, vômitos; a diarreia tem duração de 1 a 24 dias, com média de 4 dias. A febre ausente ou baixa é um diferencial para as diarreias com sangue. A infecção pode simular um quadro de abdome agudo; Podem desencadear a diarreia sanguinolenta e/ou a síndrome hemolítico-urêmica (SHU): • A SHU está associada a um quadro grave,com anemia hemolítica, trombocitopeniae insuficiência renal, podendo levar aoóbito; • O sorotipo mais comumente associado à SHU é o O157:H7, que não é pesquisado rotineiramente em laboratórios clínicos. e) Escherichia coli autoaderente e.1) Escherichia coli enteroagregativa (ECEA) delgado E grosso; diarreia infantil, encontrado em maior frequência em episódios de diarreia persistente; PATOGÊNESE: 1) Atuam por mecanismo de adesão à célula epitelial tipo Hep-2 por meio de fímbrias agregativas distintas codificadas por plasmídeo,não produzindo toxinas; 2) Algumas cepas também são enterotoxigênicas e produzem as toxinas termolábil (EALT) e termoestável (EAST) associadas ao plasmídeo; a produção dessas toxinas pode estar relacionada à liberação de mediadores inflamatórios e consequente lesão da mucosa; 3) São responsáveis por estimular o aumento da produção de muco pela mucosa intestinal. - Quadro clínico: estão frequentemente associadas à diarreia persistente, que desencadeia ou agrava quadros de desnutrição e retarda o crescimento de crianças nos países em desenvolvimento: A diarreia é aquosa, secretora e com muco, associada a febre baixa e raros vômitos. e.2) Escherichia coli enteroaderente difusa (ECED) menores de 6, adultos e paciente infectados pelo vírus HIV; - Patogênese: colonizam e aderem às células da mucosa intestinal por meio de adesina fimbrial codificada por genes cromossômicos e plasmídeos. - Quadro clínico: mais frequentemente isolada em casos de diarreia prolongada; o quadro semelhante ECET. SHIGELLA SPP. Gram-negativos, anaeróbicos facultativos e móveis subdivididos em 4 grupos principais: ShigellaDysenteriaes (sintomas graves), Shigella sonnei menos graves, Shigella boyddi e Shiguella Flexineri (maisfrequentes em países tropicais; 6 meses aos 10 anos, em desnutridos e em pacientes com Aids; o homem é o principal reservatório, havendo casos de Shigella descritos em macacos e chimpanzés; - Contaminação: precárias condições de higiene, sendo responsável por cerca de 7% dos casos de intoxicação por alimento contaminado: leite, vegetais, atum, carne de peru e sorvetes, e ocasionalmente água contaminada por fezes; moscas; - Patogênese: possui alta taxa de transmissão devido a suag rande capacidade de sobrevivência (resiste à acidez gástrica e são necessárias apenas 200 bactérias viáveis para produzir a doença): • Acomete o íleo terminal e, sobretudo o cólon, invadindo as células epiteliais pela membrana basolateral (virulência mediada por plasmídeo) e se multiplicando no citoplasma; • Ocorre passagem para as células adjacentes; Causa inflamação da lâmina própria, levando a formação de edema, úlceras e microabscessos e, consequentemente, disenteria; Também produz citotoxina, a toxina-shiga: inibea absorção de Na+ e Cl- + destrói as células (inibição de síntese proteica). - Quadro clínico: incubação de 12 a 48 horas: Caracteriza-se por febre, náuseas, vômito, dor abdominal e diarreia secretora; Posteriormente, há evacuações sanguinolentas,tenesmo e dor localizada no abdome inferior (disenteria ocorre em ~50% dos casos); O quadro clínico em geral apresenta gravidade moderada, podendo ser mais grave em crianças desnutridas e imunodeprimidas; Podem ocorrer manifestações extraintestinais: cefaleia, mialgia e convulsões de etiologia febril em crianças pequenas. SALMONELLA - Gram-, aeróbios invasivos e móveis; são divididos em sorotipos com base na composiçãoantigênicacom relação aos antígenos O (somático), H (flagelar) e Vi (capsular); As infecções por Salmonella que apresentam maior interesse clínico: febre tifoide (Salmonella typhi) e salmonelose ou enterocolite aguda (causado por vários subtipos de Salmonella). a) Febre tifoide – Salmonella typhi doença sistêmica associada ao saneamento básico precário + hábitos de higiene pessoal inadequados; endêmica na Índia, sudeste Asiático, África e América Central e do Sul → Brasil: Norte e Nordeste (90-95% dos casos registrados); indivíduo entre 25 e 45; - Contaminação: água ou alimentos contaminados por fezes e/ou urina; ostras, outros moluscos, leite e derivados são os principais alimentos, podendo também ser transmitida por contato direto com fezes, urina, vômito e secreções de indivíduocontaminado. Também pode ocorrer transmissãocongênita (mão infecta o feto pela placenta); - Patogênese: resistem à acidez gástrica, instalando-se no intestino delgado: 1) Penetram na mucosa e alcançam a lâmina própria, havendo pouquíssimos achados inflamatórios (não há sintomas iniciais); 2) Proliferam nos gânglios linfáticos mesentéricos e alcançam a circulação geral, iniciando uma septicemia; 3) Ocorre disseminação hematogênica para medula, baço e fígado, e colonização da vesícula biliar; 4) Os patógenos voltam para o intestino por via biliar e são eliminados pelas fezes (término da 1ª semana); 5) Resulta em: fígado com micronódulos de necrose + processo inflamatório da vesícula + enterocolite difusa (principalmente na região ileocecal) que pode levar à ulceração + hiperplasia do sistema reticuloendotelial (nódulos linfáticos, fígado ebaço). • Quadro clínico: a incubação varia de 7-14 dias: Febre prolongada, cefaleia, tosse, constipação e diarreia (50% dos casos); Hepatoesplenomegalia, bradicardia e erupções maculopapilares de cor rósea. A febre tifoide não complicada evolui para cura em 4-5 semanas; Em crianças a doença costuma ser mais benigna, embora menores de 1 ano tenham prognóstico menor; • Complicações incluem: hemorragia digestiva e infecções localizadas (colecistite, hepatite, abscessos hepático e esplênico, endocardite, pneumonia e nefrite). b) Salmonelose – Salmonella não tifoide “intoxicação alimentar”, é causada por vários sorotipos de Salmonella que colonizam animais domésticos e silvestres; principalmente em crianças menores que 4 anos; - Contaminação: alimentos ou água: ovos e carnes malcozidos, carnes suínas e bovinas e produtos lácteos; também por contato com animais domésticos, contato pessoal, via fecal-oral ou fômites contaminados; - Patogênese: íleo terminal e no cólon (menos intensamente): 1) Atravessam as barreiras epiteliais e atingem a lâmina própria (limitadas à lâmina), causando processo inflamatório; 2) São fagocitadas por macrófagos; 3) Estimulam a secreção de água e eletrólitos pelo aumento da produção de AMPc causado pela liberação de PGE2; 4) Alguns sorotipos também elaboram enterotoxina,que também induz à diarreia pelo estímulo dasecreção pelas células epiteliais intestinais; 5) A Salmonella pode atingir a circulação sistêmica eoutros órgãos (septicemia, meningite, osteomielite etc.); 6) Análise histológica: edema de mucosa, encurtamento das criptas e infiltrado inflamatóriona lâmina própria. - Quadro clínico: inicia após período de incubação de 6-48 horas: Cólicas abdominais, náuseas, vômitos, mal- estar, febre e diarreia (podem ser líquidas ou tornarem- se disentéricas); Autolimitada, com duração de 1 semana. CAMPYLOBACTER SPP. - Espiraladas, moveis, infectam epitelio da mucosa. – Jejuni e fetus são as principais. - Contaminação: transmitida ao homem por animais(contato com gatos, cachorros, pássaros e hamsters), água e alimentos contaminados de origem animal; - Patogênese: algumas cepas possuem enteroxina semelhante à cólera; pode ocorrer invasão da mucosa do íleo terminal e cólon + multiplicação na lâmina própria e linfonodos mesentéricos; - Quadro clínico: incubação de 2-4 dias: Febre, cefaleia, dores musculares, e dorabdominal em cólica; Inicialmente diarreia aquosa, evoluindo parafezes com muco e sangue; Autolimitada a 3-4 dias. Em menores de 2 anos o quadro clínico tende a ser mais grave e de curso prolongado; Pode haver infecções extraintestinais: meninges (complicação na infecção pelo C. fetus em recémnascidos), pâncreas, coração, articulações e vesícula biliar. CLOSTRIDIUM DIFFICILE - GRAM-, microbiota. Produz enterotoxina (a) e citotoxina (b) – doença diarreica associada a antimicrobianos e quimioterápicos, em especial, a colite pseudomembranosa. 60% das diarreias causadas por ATB, 90-100% de colite. • Patogênese: na colite pseudomembranosa: Bactérias atuam na mucosa colônica, provocando focos de inflamação aguda e formação de microabscessos; Segue-se a destruição focal da mucosa e aumento do exsudato inflamatório → erupção na superfície da mucosa (lesões semelhantes a um vulcão), com expulsão de exsudato necrofibrinosoe purulento; Forma- se uma pseudomembrana que consiste em muco, restos celulares, leucócitos e fibrina. • Quadro clínico: as manifestações da doença dependem do estado imunológico, variando desde quadro assintomático até diarreia moderada e controlável, podendo evoluir para colite pseudomembranosa (muito grave e de difícil controle): • Diarreia leve e moderada; Alguns casos melhoram com a suspensão do antibiótico, mas pequeno subgrupo evolui com piora da diarreia: mucossanguinolenta + febre alta + cólica abdominal + desidratação que pode chegar ao choque → megacólon tóxico → óbito PRINCIPAIS CAUSAS DA DIARREIA - VÍRUS ROTAVÍRUS • VP4, 6 e 7 atuam como antígenos de indução de anticorpos, provocando resposta imune protetora; também são a base da classificação dos rotavírus em grupos (A, B, C, D, E, F, G, e H) e em genótipos/sorotipos P e G → rotavírus do grupo A são mais prevalentes na infecção humana, e os subtipos G1 e G4 são os mais comuns; • É o mais importante agente etiológico da diarreia aguda infecciosa, principalmente em crianças, sendo a faixa etária mais afetada entre 6 meses a 2 anos; • É altamente contagioso. 13-40% dos casos de diarreia aguda em pacientes hospitalares; Contaminação: via fecal-oral, contato pessoa, água e objetos contaminados e vias respiratórias (possivelmente); • Patogênese: é resistente ao pH ácido do estômago, preferindo a porção proximal do intestino delgado: Penetram e multiplicam-se nos enterócitos apicais das vilosidades → levando a alterações estruturais e funcionais do epitélio; Codificam uma proteína (NSP4) que atua como enterotoxina; Há diminuição da altura das vilosidades + infiltrado linfoplasmocitário na lâmina própria; As células lesadas são eliminadas para o lúmen, liberando vírus nas fezes; As células são substituídas por células imaturas da cripta, levando à redução da atividade das dissacaridases, principalmente da lactase; essascélulas também são bastante ativas na secreção de água e eletrólitos (mecanismo secretor dessa doença diarreica); A resultante má-absorção de carboidratos determina mecanismo de diarreia osmótica. - Quadro clínico: período de incubação curto (2-3 dias): • Início abrupto com vômitos (+ de 50% dos casos), seguidos de diarreia aquosa e febre; • A perda de fluidos e eletrólitos muito frequentemente leva à desidratação; • A primeira infecção é sempre mais grave, mas as subsequentes são praticamente assintomáticas (mecanismo imunológico); • casos de encefalite - LCR CITOMEGALOVÍRUS • Vírus DNA da família Herpesvidae; • prevalência entre adolescentes. - Contaminação: por contato com secreções contaminadas (saliva, urina, sêmen e secreções cervicais); - PATOGÊNESE: Infectam células endoteliais, fibroblastos,macrófagos e células musculares lisas, apresentando latência ao longo da vida → a imunossupressão favorece a reativação do vírus; Ao atingirem o sistema gastrointestinal: causa inflamação → ulcerações aftoides com fundo seroso e bordas pouco elevadas → sangramento; Acarreta vasculite, trombose e indução de quadros isquêmicos (mais relatados em paciente após transplante); - Quadro clínico: varia de leve à grave de acordo com a idade e estado imunológico: • Dor abdominal, náuseas, vômitos, perda de pesoe diarreia sanguinolenta; • Em crianças imunocompetentes, raramente causainfecção gastrointestinal. Patogênese: a replicação viral ocorre em células epiteliaisintestinais; epitélio e macrófagos da lâmina própria apresentam partículas virais; Quadro clínico: incubação de 24-36 horas: 1) Diarreia aquosa, vômitos, dor abdominal e febre de duração de 1-4 dias ADENOVÍRUS ENTÉRICO - DNA, dupla fita e pertence à família Adenoviridae; Responsável por 3-10% dos casos de diarreia aguda emcrianças, principalmente menores de 2 anos; Contaminação: via fecal-oral; Quadro clínico: incubação de 3-10 dias: Vômitos, febre e diarreia (precedida pelo vômito,e indistinguível da causada por rotavírus). PRINCIPAIS CAUSAS DA DIARREIA - PROTOZOÁRIOS GIARDIA LAMBLIA: - trofozoíto flagelado; apresenta forma infectante, cisto e forma vegetativa (trofozoíto); • Ciclo biológico: ingestão de cistos, sendo o duodeno o seu habitat preferencial: Os trofozoítos ficam livres ou aderidos à mucosa duodenal e do jejuno proximal por mecanismo desucção; Tanto cistos quanto trofozoítos podem ser eliminados nas fezes; Podem permanecer no meio externo por até 2meses. • Patogênese: a Giardia lamblia não é invasiva: 1) Induzem redução das microvilosidades +aumento dos linfócitos intraepiteliais → atapetamento da mucosa → impede a absorção de nutrientes; 2) Ativam mastócitos, resultando na liberação de PDE2 → ativação da adenilatociclase → saída de Cl-pelo fundodas criptas; 3) Há ainda, a desconjugação de sais biliares → ↑sais biliares livres → dificulta a solubilidade de gorduras. OBS.: a proliferação da Giardia lamblia aumenta com o uso de antiácidos: omeprazol, ranitidina ou cimetidina, por diminuir a acidez gástrica. • Quadro clínico: incubação de 1-2 semanas: Desde pacientes assintomáticos, com quadro de diarreia aguda e autolimitada até diarreia persistente com fezes liquefeitas sem muco ou sangue; Pacientes podem apresentar dor abdominal, sendo na criança geralmente periumbilical; Em infestações maciças, pode ocorrer diarreia crônica, com fezes esteatorreicas, flatulência eperdade peso (pode simular doença celíaca); Pode ocorrer má-absorção de vitaminas lipossolúveis e intolerância aos dissacarídeos. AMEBÍASE - Entamoeba histolytica: - Ciclo biológico: inicia-se com a ingestão de alimentos ou água contaminados com cistos maduros (baratas e moscas também são vetores): Os cistos são resistentes ao meio ácido do estômago chegando ao intestino grosso, onde sofre sucessivas divisões, podendo chegar a 8 trofozoítos (forma infectante); Os trofozoítos agridem a mucosa colônica ou permanecem na luz intestinal (como comensais), multiplicando-se por divisão binária; Tanto comensais quanto a forma infectante transformam-se em pré-cistos e sofrem várias transformações, sendo eliminados na forma decistos tetranucleados nas fezes: a. Habitualmente os cistos são encontrados nas fezes formadas, e os trofozoítos nas fezes líquidas. - Patogênese: 1) Os trofozoítos invadem a mucosa intestinal (ceco e cólon são os mais comprometidos) por mecanismo desconhecido, que pode estar relacionado à baixa imunidade local ou presença de lesões prévias; • Trofozoítos invasores: liberam enzimas proteolíticas, e se alimentam de célulase hemácias da mucosa local; • Trofozoítos comensais: realizam fagocitose do material fecal; 2) As lesões da mucosa possuem características conhecidas como “botão de camisa” ou “colo ou gargalo de garrafa”, sendo constituídas por microulcerações superficiais que podem alcançar a submucosa, resultando em ulcerações e perfuração do intestino; 3) Ocasionalmente, podem induzir resposta proliferativa na formação de granuloma denominado ameboma. - Quadro clínico: incubação pode variar de 7-4 meses, podendo ser desde assintomática até disentérica grave (80-90% dos pacientes são assintomáticos): - Forma sintomática: início agudo, evacuações diarreicas mucossanguinolentas (8-10X por dia), cólicas abdominais, tenesmo e, as vezes, tremoresde frio; - Ameboma: forma tumoral rara de amebíase, determinada por reação inflamatória com edema e tecido de granulação, geralmente no ceco, retoe sigmoide (pode ser confundido com câncer de cólon); - Apendicite amebiana: processo inflamatório do apêndice, caracterizando um quadro de apendicite aguda; - Complicações: perfuração intestina, peritonite, hemoperitôneo, invaginações, estenoses e colite; Trofozoíto podem migrar até a VMI e chegar ao fígado (formando abscessos), ou seguir uma via hematogênica, atingindo pulmões, pele, pericárdio, aparelho genitourinário, baço e rins IMPORTANTE! Já os fármacos do tratamento terapêutico das protozooses, Giardíase e da Amebíase principalmente, vem sendo compostos com os derivados 26 nitroimidazólicos, dentre eles: Tinidazol, metronidazol ou secnidazol. PRINCIPAIS CAUSAS DA DIARREIA - HELMINTOS - Necator americanus, Ancylostoma duodenales, Strongiloydes stercoralis, Ascaris. CICLO BIOLÓGICO: • Condições favoráveis impulsionam a maturação da larva no interior do ovo, que se completa em até 3 semanas; • Ocorre transmissão por ingestão de água e alimento contaminados com ovos infectantes; • No delgado, as larvas rompem os ovos penetrando na mucosa → canais linfáticos e circulação venosa → alvéolos → deglutição; • As formas adultas alimentam-se do bolo alimentar e não são invasivas, vivendo no lúmen por mais de 6 meses. PATOGÊNESE E QUADRO CLÍNICO: - Na passagem pelos pulmões: Síndrome de Loeffer, induzida por infiltrado pulmonar, ocasionando tosse seca ou produtiva, sibilos, dispneia e febre; - Sintomas gastrointestinais: epigastralgia, náuseas,vômitos, flatulência e dor abdominal; - Fase crônica: anemia acompanhada de palidez, astenia, tontura e sonolência; Complicações não são frequentes, mas pode haver suboclusão intestinal por “bolo de árcaris”,causando dor, distensão abdominal, vômitos repetitivos, anorexia e sinais de desidratação; Pode haver migração de parasitas para os ductos biliares, resultando em colangite, colecistite, “abscesso” hepático, pancreatite ou apendicite. - Na fase de fixação: sangramento, diarreia leve com muco, dor abdominal, náuseas, vômitos eanemia; A diarreia pode ser disentérica, com muco e pus; em casos graves pode ocorrer melena; Pode-se observar polifagia e geofagia (pela carência de ferro) e anemia crônica (hipocrômica microcítica). RESUMO As causas de diarreia na criança são inúmeras. Para facilitar, apresentamos as principais, divididas em grupos: 1) Infecciosa bacterianas: Salmonella, Shigella, Campylobacter, Yersinia, Escherichia coli; 2) Infecciosas virais: Rotavírus, Norovírus, Adenovírus; 3) Infecciosas por protozoários: ameba, Giárdia lamblia, Cryptosporidium; 4) Dietéticas: sorbitol, glutamato monossódico, frutose, intolerâncias alimentares (à lactose, sacarose, feijão, frutas, pimenta, etc.; 5) Medicações: antibióticos, laxativos; 6) Alérgicas: alergia à proteína do leite de vaca, da soja ou de outros alimentos; 7) Funcionais: diarreia funcional do lactente e pré- escolar, síndrome do intestino irritável: 8) Inflamatórias autoimunes: doença de Crohn, colite ulcerativa: 8) Outras: doença celíaca, fibrose cística (mucoviscidose), enteropatiaambiental, intoxicação por metais pesados, doenças genéticas raras. DISENTERIA A disenteria é um quadro clínico caracterizado por inflamação do intestino, o que causa dor abdominal e diarreia com sangue, muco ou pus. A inflamação pode ter várias causas, geralmente infecções por bactérias e vírus ou verminoses. DIETA E PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES • Aleitamento materno deve ser mantido e estimulado; crianças com aleitamento misto ou artificial devem continuarrecebendo a dieta habitual após reidratadas; •Alimentos, inclusive leite de vaca, não devem ser diluídos para não diminuir o aporte energético; • Importante o acréscimo de 1 ou + refeições por dia a fim de compensar as perdas causadas pela diarreia (deve ser mantidaaté a recuperação do estado nutricional); • Não há qualquer restrição à gordura (óleo vegetal, manteiga etc.), não devendo ser retirado da dieta devido ao seu açtoteor calórico e porque não piora a evolução da diarreia. PROBIÓTICOS: • Lactobacillus, Bifidobacterium; Leveduras – Saccharomyces boulardii: geralmente usados sob a forma de sachês/capsulas ou alimentos (leite fermentado, queijo, iogurte); contribuem para a microbiota digestiva por 3 mecanismos: Resistência à colonização por micro-organismos patogênicos: competem por nutrientes e sítios de adesão, e produzem substâncias antimicrobianas (ácidos orgânicos inibidores da proliferação); - Imunomodulação: modulam ou inibem a produção de toxinas e de dano celular (p.ex.: vibrião da cólera, E.coli e C.difficile); também aumentam a produção de TNF, IFN, capacidade fagocítica, IgA secretora; Contribuição nutricional: melhora da digestão da lactose. •Podem ser utilizados com a finalidade de: Tratamento de diarreia aguda em associação com TRO, reduzindo a gravidade e o tempo da doença (nãoestabelecido pelo MS, mas aceito pela SBP); Prevenção da diarreia associada ao uso de antibióticos; Prevenção da dermatite atópica. USO DE MEDICAMENTOS PARA O TRATAMENTO Os medicamentos normalmente utilizados para diarreia aguda, além dedesnecessários, são contraindicados. ANTIBIÓTICOS: • Reservado para os casos em que a diarreia apresenta sangue nas fezes(disenteria) E com comprometimento do estado geral: Crianças com desnutrição: iniciar a antibioticoterapia imediata + hidratação até a chegada à unidade hospitalar; Reavaliar o paciente 48 horas depois do início do antibiótico; caso mantenha sangue nas fezes, encaminhar para a internação; ANTIEMÉTICOS • Atuam como antagonistas dos receptores dopamominérgicos sobre os quimiorreceptores bulbares (ação central); • Podem provocar manifestação extrapiramidal (Síndrome extrapiramidal) e depressão do SNC, resultando em distensão abdominal e dificuldade da criança deingerir o soro; •P.ex.: metoclopramida (plazil). DESIDRATAÇÃO - Perda de água e eletrólitos (Na, Cl, K e HCO). TIPOS - Diferenciam-se principalmente pelos valores de Na+ sérico e pelos sinais clínicos. DESIDRATAÇÃO ISOTÔNICA (70-80%) MAIS COMUM EM KIDS • Caracteriza-se pela perda de água e eletrólitos em proporções quase iguais (perda de líquido isosmótico); - Fisiopatologia: LEC diminui, mas como não há diferença de osmolaridadenão ocorre deslocamento de água entre as membranas celulares; O volume sanguíneo é reduzido, produzindo: ↓PA e > concentração dehematócritos e proteínas plasmáticas; - Quadro clínico: varia com a intensidade da perda hídrica. Causas: diarreia e queimaduras. - pode ser classificada em 3 graus: Primeiro Grau ou Leve: sinaisdiscretos de espoliação do líquido intersticial: 3 a 5% de perda de peso; Segundo Grau ou Moderada: sinais mais evidentes: 6 a 9% de perda de peso; Terceiro Grau ou Grave: sinais muito evidentes de espoliação (intersticial e vascular), sinais de choque: maior ou igual a 10% da perda de peso DESIDRATAÇÃO HIPERNATRÊMICA (10-20%) •Resulta da perda de líquido hiposmótico (mais água do que eletrólitos); • A maioria das crianças consegue evitá-la através da ingesta de água ou outros fluidos hipotônicos, mas pode ocorrer em acometer recém-nascidos ou lactentes jovens (2-3 anos); - Fisiopatologia: Com a diminuição do volume do LEC, ocorre aumento da osmolaridade, resultando em deslocamento de água do LIC para o LEC e consequente desidratação intracelular; Ocorre aumento da concentração de proteínas, mas não de hematócritos, pois há um aumento da concentração das hemácias + diminuição do seu volume (perda de água pelo LIC). - Quadro clínico: são menos evidentes; havendo poucos sinais clássicos (↓espoliação intersticial e vascular); Manifesta-se com febre alta, sede intensa, ↑ADH (pode levar à anúria), irritabilidade, convulsões e coma; Grave consequência é a hemorragia intracraniana: desidratação celular → ↓volume cerebral → estiramento das artérias e veias cerebrais → hemorragia (parenquimatosa, subaracnoide e subdural). - Causas: reposição com soluções hipertônicas, diabetes insipidus, sudorese excessiva ou uso de diuréticos osmóticos. DESIDRATAÇÃO HIPONATRÊMICA (10-15%) - É a forma mais grave de desidratação, caracterizando- se pela perda de líquido hiperosmótico (perda de eletrólitos > água) ou reposição de perdas isotônicas com líquidos hipotônicos (água, chás etc.); - Fisiopatologia: A perda de eletrólitos leva à queda da osmolaridade, resultando em deslocamento de água do LEC para o LIC; Ocorre aumento da concentração de proteínas e hematócritos plasmáticos pela diminuição do LEC Consequentemente, o LEC é perdido em 2 direções, para o meio externo (devido à diarreia) e para o meio intracelular → mesmo em estágios mais leves de desidratação, pacientes apresentam sinais precoces de choque hipovolêmico!!! Verificado em crianças que recebem grandes quantidades de água livre ou fórmula diluída. - Quadro clínico: Ocorre edema das células do sistema nervoso central, manifestando-se com: agitação, cefaleia, anorexia, câimbras, hiporreflexia, convulsão e coma; Em casos mais graves de edema cerebral há respirações irregulares (Cheyne-Stokes), apneia e até herniação cerebral (se a hiponatremia for grave e aguda); A criança apresenta sinais nítidos de espoliação do líquido vascular (choque e anúria), associado a sinais intensosde espoliação intersticial. - Causas: diarreia e vômitos em crianças com desnutrição grave, reposições com soluções hipotônicas e perdas excessivas desuco gástrico, insuficiência supra- renal (↓aldosterona dificulta a reabsorção de NaCl) Refrigerantes tem muito açucar e aumenta a osmolaridade, possuem pouco Na (aumenta hiponatremia). Sucos naturais – indicação em casos leves. Bebidas isotonicas – não recomendado em casos graves. Agua de coco (alta osmolaridade), não adequada. CONDUTA TERAPEUTICA NO TRATAMENTO DE DESIDRATAÇÃO • visa evitar a desidratação, devendo-se inicialmente reconhecer a gravidade da desidratação paraeleger o plano terapêutico mais adequado: Deve-se utilizar a classificação do grau de desidratação segundo o Ministério da Saúde/OMS ou segundo o CDC (Centers for Diasease Control); - Dado essencial: peso da criança; O sinal da prega é de difícil avaliação em crianças desnutridas. 1) AVALIAR O GRAU: SRO •Foi desenvolvido na década de 1970, baseando-se no conhecimento fisiológico da absorção da glicose: Transportada pelo cotransportador Na+ -glicose (SGLT- 1), que carrega uma molécula de glicose acoplada a 2 de Na+, e não sofre interferência do processo infeccioso; Torna o SRO eficaz no tratamento da desidratação por diarreia de qualquer etiologia, em qualquer grupo etário. • Desde 1971, a OMS/UNICEF recomenda a utilização de uma fórmula única para a preparação do SRO: - Em 1984, trocou-se o bicarbonato de sódio pelo citrato trisódico para melhor estabilidade do SRO; Por mais de 20 anosrecomendou-se a formulação com 90mEq/l de sódio e osmolaridade total de 311mOsm/l. • Fórmula atualmente recomendada: tem menor osmolaridade (245mOsm/l), devido à menor concentração de Na+ (75mEq/l) e de glicose (75mMol/l), apresentando a mesma eficácia que a anterior OMS PLANO A: criança sem desidratação •Utilizado para prevenir um quadro; • Após o exame clínico, deve-se orientar os familiares sobre a evolução natural da doença, risco de complicações e conduta aser adotada em domicílio: 1) Aumento da ingestão de líquidos: soro caseiro, chás, cozimento de cereais (arroz, milho), sopas e sucos; b. Manter a hidratação habitual: c. Em especial o aleitamento materno, aumentando a frequência de mamadas; d. Não modificar o tipo e quantidade de alimentos, corrigindo os erros dietéticos e aumentado a frequênciacom que são oferecidos (na falta de apetite, a ingestão fica próxima do normal); 1) Ensinar a família a reconhecer os sinais de desidratação (olhos fundos, boca seca, pouca urina, muita sede) e recomendar que, caso a diarreia piore ou a criança apresente os sintomas acima, inicie a administração de SRO e procure o serviço de saúde; a) Administrar ZINCO 1x/dia durante 10-14 dias: Até 6 meses: 10mg/dia; Maiores de 6 meses: 20mg/dia. OBS.: SORO CASEIRO: permite manter a criança com diarreia aguda hidratada, mas não é capaz de reidratar uma criançadesidratada!!! • Concentração de Na+ : 40-50mEq/l; podem ser utilizados os soros com sabor, com concentração de 45mEql; • A mãe deve oferecer após cada evacuação: o Até 12 meses: 50-100ml (1/4 – meio copo); o Acima de 12 meses: 100-200ml (1/2 a 1 copo); o Adolescentes (>10 anos): quantidade que desejar PLANO B: CRIANÇA COM DESIDRATAÇÃO • reidratação oral por via oral na unidade de saúde, sendo o SRO o tratamento de escolha para pacientes comdesidratação em razão de diarreia e vômitos; - Orientação inicial: 50-100ml/kg de SRO (com 75 mEq/l de Na+ ) no período de 4-6 horas; A quantidade ingerida dependerá da criança, devendo ser oferecida em quantidades pequenas, várias vezes, usando copo, colher ou conforme os hábitos da criança; Cálculo da quantidade oferecida nas 4 horas: multiplica-se peso da criança X 75. • Lactentes amamentados devem continuar recebendo o leite materno junto com o SRO; - demais pacientes devem suspender a alimentação, recebendo somente o SRO: 1) Se o paciente vomitar: diminuir o volume administrado + aumentar a frequência; 2) Pacientes devem ser reavaliados com frequência, anotando-se o peso e a diurese (os sinais de desidratação desaparecem paulatinamente durante a reidratação). No caso de paciente já haver ingerido o volume inicial calculado e os sintomas clínicos ainda estiverem presentes, prescreve-se um volume adicional correspondente (poucas crianças precisam da prescrição adicional); 3) Evitar o uso de antitérmicos nessa fase: a febre geralmente cede à medida que a criança é reidratada; 4) Deve-se permanecer na unidade de saúde até a reidratação completa; 5) A reidratação termina quando desaparecem os sintomas: deve-se interromper a ingestão do volume inicial se necessário → alimentar a criança → liberação + orientação para administração do SRO após cada evacuação; 6) A utilização de uma sonda nasogástrica (gastróclise) permite administração de SRO de modo gradual e contínuo, sendo indicada em caso de: a. Perda de peso após as primeiras 2 horas de tratamento com SRO (perda fecal maior que a quantidade de líquido oferecido); b. Vômitos m (4 ou mais vezes em 1 hora) depois de iniciada a TRO; c. Distensão abdominal acentuada + ruídos hidroaéreos que não desaparecem após intervalo maior entre as tomadas; d. Dificuldade de ingestão de SRO (p.ex.: estomatite grave). 7) Manutenção do estado de hidratação: após a alta, familiares devem ser informados de que a diarreia pode durar ainda alguns dias, fornecendo-se 2 envelopes de SRO cuja preparação deve ser ensinada; após cada evacuação oferecer SRO nas próximas 48h; 8) Aleitamento materno deve ser mantido e estimulado; 9) Crianças que recebem outros alimentos: manter a alimentação habitual, corrigindo os erros dietéticos (a criançadeve comer quanto e quanto quiser), e adicionar uma refeição diária até a recuperação nutricional; 10) Recomenda-se a utilização de colheres (ou outros utensílios) no lugar de mamadeiras (mais fáceis de seremmantidos limpos); 11) A criança deve retornar ao serviço de saúde para reavaliação após 24 a 48 horas; 12) Orientar sobre outros sinais de piora: sede intensa, vômitos frequentes, piora da diarreia, irritabilidade ou prostração; indicar que, caso isso ocorra, deve ser administrado SRO e a criança deve voltar imediatamente ao serviço de saúde. OBS: SONDA NASOGÁSTRICA: iniciar administração na velocidade de 20- 30ml/kg/hora atéa reidratação. Em caso de náuseas ou vômitos, reduzir a velocidade para 15ml/kg/hora, retornando a 30 logo que desapareçam os sintomas (não havendo disponibilidade para administração gota a gota, fracionar o volume utilizando seringa). Em casos de desidratação grave na impossibilidade de hidratação venosa imediata, iniciar a hidratação nasogástrica até que a venosa seja possível. PLANO C: criança com desidratação grave • É o tratamento de escolha para pacientes com desidratação grave, com ou sem choque (palidez acentuada, pulsosperiféricos filiformes ou ausentes, hipotensão e depressão do sensório); •Nesse caso, utiliza-se a hidratação intravenosa, sendo indicado em caso de: Desidratação grave; Quando a criança não ganha ou perde peso após as primeiras 2 horas de hidratação por sonda; Paciente com alteração do estado de consciência (criança deprimida, comatosa e incapaz de ingerir alimentos oucom crise convulsiva); Vômitos persistentes após o uso da sonda (4 ou mais vezes, no mínimo, em 4 horas); Íleo paralítico (distensão abdominal e ausência de ruídos hidroaéreos). • Deve-se administrar SRO por via nasogástrica, conta- gotas ou seringas enquanto se aguarda a instalação da hidratação venosa ODONTOGÊNESE - É um processo contínuo que pode ser dividido em diversas fases: 1) Fase de botão ou de broto dentário: é observado no feto de seis semanas, reconhecido pela formação de uma expansão da camada basal da cavidade oral; 2) Fase de capuz: multiplicação das células, resultando na formação do germe dentário, constituído por três partes: órgão do esmalte, papila dentária e saco dentário; 3) Fase de campânula: especialização das células do germe dentário com diferenças histológicas → diferenciação de ameloblastos e odontoblastos; 4) Fase de coroa: ou fase avançada da campânula, inicia a amelogênese e a dentinogênese → secreção de matriz de esmalte e dentina; 5) Fase de raiz: ocorre diferenciação dos cementoblastos (formarão o cemento), fibroblastos (formarão o ligamento periodontal) e dos osteoblastos (formarão o osso alveolar) → ocorre enquanto o dente erupciona. ERUPÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DOS DENTES - A dentição humana divide-se em dois tipos: temporária ou decídua e permanente; em determinada fase do desenvolvimento dentário, encontra-se a dentição mista (presença de dentes decíduos e permanentes): - A dentição decídua é constituída por 20 dentes: 8 incisivos, 4 caninos e 8 molares temporários cujo rompimento ocorre de forma progressiva, com uma sequência cronológica bastante definida; - A dentição permanente é constituída por 32 dentes: 8 incisivos, 4 caninos, 8 pré-molares e 12 molares. A erupção dental é um processo fisiológico no qual um dente em formação migra de uma posição intraóssea dentro dos maxilares e atinge uma posição funcional na cavidade bucal, e pode ser dividido em 3 fases: 1) Pré-eruptiva: intraóssea e sem movimentação dogerme dental; 2) Eruptiva ou pré funcional: envolve o movimento intraósseo criando uma trajetória de erupção; 3) Pós-eruptiva ou funcional: fase totalmente extraóssea e inicia-se quando o dente entra em oclusão. Cronologia e sequência de erupção dos dentes decíduos: - A erupção inicia entre os 6-7 meses de idade (pode ocorrer entre os 4-10 meses); Nesta fase, os roletes gengivais são mais salientes e proeminentes na região anterior, tocando-se na região posterior; A lactação natural nos primeiros 6 meses de vida atua como potente matriz funcional por meio dos músculos e articulações em desenvolvimento, estimulando o crescimento mandibular para a frente. - A dentição decídua encontra-se completa por volta do 30º mês de vida; Sequência: 1) Incisivo central inferior; 2) Incisivo lateral inferior; 3) Incisivo central superior; 4) Incisivo lateral superior 5) Primeiros molares inferiores; 6) Primeiros molares superiores; 7) Caninos inferiores; 8) Caninos superiores; 9) Segundos molares inferiores; 10) Segundos molares superiores. - Casos de grande discrepância em relação aos períodos considerados normais: para a erupção estão geralmente relacionados ao hipertireoidismo, hipopituitarismo, síndrome de Down, entre outras doenças que podem levar ao retardo ou falha na erupção; - Condições que aceleram a cronologia: artrite reumatoide juvenil e a DM; Os dentes devem erupcionar homologamente, com diferença máxima de máxima de 3 meses entre o direito e o esquerdo. - Fatores hormonais que influenciam PTH: tem alta importância no processo de calcificação dos dentes: Paratireoidectomia: causa uma descalcificação intensa ao nível dos incisivos e menos intensa nos outros dentes; Hipoparatireoidismo: ocorre uma hipocalcificação das matrizes dentárias determinando o raquitismo dental; Hiperparatireoidismo: ao contrário do que se poderia pensar, há uma baixa da taxa de cálcio nas matrizes dentárias; - isto porque o PTH remove cálcio das estruturas duras, determinando na dentina o efeito cálciotraumático, que consiste em regiões de dentina calcificadas alternando-se com regiões não calcificadas. - Hormônio hipofisários: GH: é muito importante no desenvolvimento do órgão do esmalte; Hipofisectomia (retirada da hipófise): em ratos retarda, ou impede, a erupção dos dentes incisivos, pois órgão do esmalte atrofia e degenera, podendo o esmalte faltar completamente; - A hiperfunção da hipófise: durante a formação do dente, determina o gigantismo do dente; Hipofunção da hipófise: determina o nanismo do dente. - Hormônios tireoidianos: Tireoidectomia: (em ratos e macacos) determina, invariavelmente, atraso da erupção dentaria, assim como deficiente desenvolvimento da dentina e das raízes; Hipotireoidismo: a erupção dos dentes decíduos é permanente é retardada → os dentes são malformados, mal calcificados, feios, com anomalias de posição, e são muitos sujeitos à cárie dental; Hipertireoidismo: os dentes decíduos e permanentes erupcionam precocemente → os dentes são bonitos, bem formados e pouco sujeitos à cárie dental. Apesar de o bebê, quando nasce, não evidenciar qualquer dente, a maioria dos dentes já está presente no interior dos ossos maxilares; - O desenvolvimento dentário continua após o nascimento durante vários anos, pelo que os dentes são o conjunto de órgãos com maior período de desenvolvimento do corpo; Dentes natais são aqueles que estão presentes ao nascimento e os neonatais são os que nascem no primeiro mês de vida da criança: Os dentes que nascem antes do tempo normal podem ser chamados de dentes congênitos, dentes fetais, dentes pré-decíduos, dentes precoces, dentes natais e neonatais e a sua frequência de aparecimento é de 1/2000 nascimentos. cárie - A cárie é essencialmente um fenômeno de superfície; etiologicamente, a palavra cárie significa “material pode”; - Na produção da cárie, exige-se o contato entre os micro-organismos envolvidos (bactérias) e o substrato glicídico (restos alimentares ou açúcares na superfície do dente), resultando na formação da placa dental e, na intimidade dela, a fermentação do material glicídico e proteico, resultando em ácidos que iniciam a descalcificação do esmalte dentário; - Quando a desintegração mineral é superior à formação mineral a partir de fontes como a saliva, forma-se uma cárie: A suscetibilidade dos cristais do esmalte à dissolução em pH ácido é a base da cárie dental; Alguns cristais do esmalte são menos suscetíveis que a hidroxiapatita, como a fluorapatita. - A cárie pode alcançar a dentina e a polpa, resultando em complicações que incluem inflamação dos tecidos à volta do dente, perda do dente e infecção ou formação de um abscesso dentário; A xerostomia (boca seca) pode propiciar o desenvolvimento de cáries por meio da diminuição do fluxo e do pH salivar. - Quando iniciar a higienização bucal? A limpeza da cavidade bucal é normalmente iniciada antes mesmo da erupção dental: - Antes da erupção: usar um tecido limpo ou gaze embebida em água filtrada ou soro para esfregar a gengiva; - A partir do 1º dente decíduo: a escovação está indicada, não sendo necessário uso de dentifrício devido à possibilidade de ingestão pelo bebê; A partir da erupção dos primeiros molares decíduos: pode-se usar o mínimo possível de dentifrício (quantidade equivalente a um grão de arroz cru). Um cuidado particularmente importante é a frequência do uso do creme dental, pois acontece ingestão do mesmo nessa idade, podendo causar fluorose dental: A fluorose é uma complicação que ocorre pela ingestão excessiva ou prolongada de flúor durante o período de formação dos primeiros dentes, isso quer dizer, desde o nascimento da criança até os cinco anos de idade; Resulta em manchas que variam de esbranquiçadas (normalmente) a amarronzadas dependendo do grau de severidade, ocorrendo geralmente de forma simétrica na dentição; - O flúor é absorvido pelo SGI, transportado pelo plasma, distribuído e parcialmente (50%) excretado pela urina durante as primeiras 24 horas; a maioria do remanescente se tornará 'associado' aos tecidos calcificados sendo liberado durante o processo normal de remodelamento ósseo → resulta no acometimento dos dentes permanentes em desenvolvimento, fazendo com que as manchas não desapareçam com o tempo. Recomendações: Como a maioria das crianças ainda não sabe cuspir quando terminam a higiene, a escovação deve ser realizada pelos pais no mínimo até os cinco anos de idade; Quando a criança começar a pegar na escova, devem ser supervisionados pelos pais até completarem seis anos de idade e conseguirem cuspir completamente. - Bactéria: Streptococcus mutan e sobrinus - Principais teratógenos que causam malformação dentária: flúor, amelogênese imperfeita, rubéola e sífilis (agenesia).
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