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QUESTÕES UNIOESTE II 01. (Unespar 2016) Sobre “O Rei da vela” de Oswald de Andrade, assinale A ÚNICA ALTERNATIVA CORRETA A) A família de Oswald de Andrade, tradicional em São Paulo, sofreu com a crise de 29, por isso a peça fala sobre a exploração do proletariado pelo capitalista; B) O espetáculo feito por Totó Fruta-do-Conde tem por finalidade atrair os falidos, para emprestar-lhes dinheiro a juros altíssimos; C) As rubricas da peça são curtas, principalmente as que iniciam os atos, nas quais se encontram apenas os nomes das personagens que aparecerão naquele momento; D) Na cena da morte de Abelardo II encontra-se a justificativa para o título da peça; E) “Heloísa será sempre de Abelardo. É clássico.” A fala é de Abelardo II e remete o leitor à história do filósofo francês do século XII, Pedro Abelardo, e sua amada Heloísa. 02. (Unespar 2015) Leia atentamente o trecho de O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, para marcar a única alternativa verdadeira, em relação ao trecho, ao autor e à peça como um todo. Abelardo I- Crápulas! Sujos! Um é o Totó Fruta-do-conde! O outro, este bêbado perigoso. Virou fascista agora. Minha cunhada veio sentar-se de maillot no meu colo para eu coçar-lhe as nádegas... com cheques, naturalmente. A sogra caída... A outra velha... E eu é que devo me sentir honradíssimo... por entrar numa família digna, uma família única. MAIS HELOÍSA Heloísa (Entra de maiô)- Você não vai ao banho? Estão todos prontos. Abelardo – Não vou! Estou com um pouco de dor de cabeça. Prefiro repousar. Leve esse Americano duma figa... Minha cara, eu estou vendo que peguei no duro, no batente, durante dez anos, para fazer uma porção de piratas jogarem ioiô! Heloísa- Estás arrependido? Não te trago vantagens sociais? Políticas... bancárias... (p.74) ANDRADE, O Rei da Vela.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973. A) Os personagens, em O Rei da Vela, têm caráter simbólico. Por exemplo, Abelardo I e II representam o capital nacional como preposto do capital estrangeiro, denunciando as relações de exploração que existiam na sociedade da década de 30, em São Paulo; B) O trecho selecionado revela a síntese do casamento de Abelardo com Heloísa, que assim como os personagens da história medieval se casam e vivem juntos, enfrentando os preconceitos que existiam contra essa união; C) O Rei da Vela é uma peça em que se pode constatar a presença de algumas das propostas do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, como a assimilação de outras culturas para o engrandecimento da literatura brasileira; D) A linguagem utilizada na peça, como se percebe no trecho selecionado, remete o leitor à proposta feita por Oswald de Andrade em seu Manifesto Antropófago, caracterizando-se pelo uso constante de conjunções aditivas, que dão ao texto o ritmo da poesia; E) Ao apresentar a união entre Heloísa, sua família e Abelardo, Oswald de Andrade denuncia a união entre a burguesia, representada por Heloísa, e a nobreza, representada por Abelardo, que se submete a um casamento sem amor, para salvar as aparências e seu patrimônio. 03. (Unespar 2015) Sobre O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, marque a única alternativa verdadeira. A) O Rei da Vela é uma peça marcada pela tradição, dividida em três atos, com personagens convencionais, discute questões relativas aos problemas populares, como se pode constatar no trecho selecionado; B) O Rei da Vela é o marco do teatro moderno no Brasil. Sua encenação, em 1933, antecipa elementos que seriam comuns nas obras consagradas na década de 40, fazendo de Oswald de Andrade o principal nome do teatro moderno brasileiro; C) Os nomes Abelardo e Heloísa remetem à história de amor que aconteceu na Europa, no século XII. Em sua obra, Oswald de Andrade, apesar de manter os nomes, cria personagens que se unem por interesse, o que os distancia dos protagonistas da história original; D) Abelardo I e Abelardo II representam a classe em ascensão em São Paulo do início do século, proveniente da nobreza e que detém o poder financeiro do estado; E) As referências ao teatro brasileiro são uma crítica à forma como ele se constrói e dão ao texto o caráter metafísico que se encontra nas reflexões do teatro sobre o teatro, em peças como esta e em outras, que tematizam o teatro. 04. (UNICENTRO) MAIS O INTELECTUAL PINOTE. PINOTE (Entra de chapéu de poeta na mão. Uma gravata lírica. Sorrindo. Mesuras. Traz uma faca enorme de madeira como bengala.) — Bom dia, mestre. HELOÍSA (Dá um grito lancinante) — Aí! A faca! ABELARDO I — Desarme esse homem! Ora essa! (Abelardo II atira-se sobre o Intelectual e arranca-lhe a faca simbólica) Deixar entrar gente com armas aqui! PINOTE (Escusando-se humildemente.) — É inofensiva... de pau! ABELARDO I — Confesse que o senhor planejou um atentado! Confesse! PINOTE – Absolutamente! Por quem o senhor está tomando? É uma faca profissional, inofensiva, não mata... ABELARDO II (Examinando) — Está cheia de sangue... sangue coagulado... PINOTE — Umas facadinhas... para comer... (A um gesto de Abelardo I, senta-se. Abelardo II permanece ao fundo, segurando com as duas mãos a faca em horizontal, como um servo antigo.) A crise é que obriga... Mas não sou nenhum gangster, não. Eu sou biógrafo. Vivo de minha pena. Não tenho mais idade para cultivar o romance, a poesia... O teatro nacional virou teatro de tese. E eu confesso a minha ignorância, não entendo de política. Nem quero entender... ABELARDO I — É um revoltado? PINOTE — Absolutamente não! Fui no colégio. Hoje sou quase um conservador! O que me falta é convicção. ABELARDO I — Tem veleidades sociais... quero dizer, bolchevistas?... PINOTE — Não senhor! Olhe, tenho até nojo de gente baixa... gente de trabalho... não vai comigo! ABELARDO I — Muito bem! PINOTE — Gente que cheira mal... HELOÍSA — Ninguém dá sabão a eles para se lavarem. ABELARDO II — Nem pão, quanto mais sabonete... ABELARDO I (Tranquilizando Pinote que se voltou.) — Não se incomode. Ele é socialista. Mas moderado, de faca também. (Sorriso dos dois.) Mas afinal, qual é o gênero literário que cultiva, meu amigo? PINOTE — Os grandes homens! Pretendo fazer como Ludwig. Escrever as grandes vidas! Não há mais nobre missão sobre o planeta! Os heróis da época. ABELARDO I — Pode ser também extremamente perigoso. Se nas suas biografias exaltar heróis populares e inimigos da sociedade. Imagine se o senhor escrever sobre a revolta dos marinheiros pondo em relevo o João Cândido... ou algum comunista morto num comício! PINOTE – Não há perigo. A polícia me perseguiria. ABELARDO I — É então um intelectual policiado... PINOTE — Faço questão de manter uma atitude moderada e distinta! ANDRADE, Oswald de. O Rei da Vela. São Paulo: Globo, 2003. p. 55-56. Contextualizada na obra “O Rei da Vela”, a análise das personagens em destaque no fragmento permite afirmar: a) Tanto Abelardo I quanto Abelardo II, com exceção de Pinote e de Heloisa, são inconformados com o sistema político e social da época. b) Todas as personagens presentes no fragmento compartilham de ideologias materialistas e são indiferentes aos problemas de ordem socioeconômica. c) Pinote vai ao encontro de Abelardo I com o objetivo de questionar sua atitude usurária diante dos mais humildes. d) Heloísa, filha de um fazendeiro arruinado pela crise, representa a classe dos oprimidos, que é excluída do processo social. e) Abelardo II, embora se espelhe nos valores de seu chefe, apresenta uma postura diferente e mais humilde em relação aos que o procuram para pedir empréstimos. 05. O trecho, extraído da obra Missal, revela características de repúdio a toda representação do seu contexto sócio-histórico. Esse contexto histórico é identificado pela A) caracterização da morte a partir de uma concepção empírica e subconsciente da vida. B) concepção mística da vida percebida pelo enfoque subconsciente e espiritualista. C) ênfase nas ideias materialistas, valorizando o pessimismo e o rigor científico em todas as ações. D) exaltação do individualismo, que se estenderá como característica humana até o século XXI. 06.Sobre a poesia de Cruz e Sousa é correto afirmar apenas: a) Sua poesia, dentro do movimento parnasiano, representa um momento de descontração e investigação. Nela, verificam-se três fases: a fase romântica; a fase parnasiana e a fase pré-simbolista. b) O poeta equilibrou a dimensão social com a dimensão coletiva, ilustrando, por meio desse procedimento, o comportamento característico da segunda geração romântica. c) O desejo de fugir da realidade, de transcender a matéria e integrar-se espiritualmente no cosmo, posturas verificadas em sua poesia, originam-se do sentimento de opressão produzido pelo capitalismo e também do drama racial e pessoal que o autor vivia. d) Formalmente, o poeta revela influências árcades e renascentistas, sem, contudo, cair no formalismo parnasiano. Embora preferisse o verso decassílabo, Cruz e Sousa explorou outras métricas, particularmente a redondilha maior. E) valorização da ciência como responsável por explicar racionalmente os fenômenos da vida. 07. O texto “Gaetaninho”, de Alcântara Machado, parte da obra Brás, Bexiga e Barra Funda é uma expressão contundente da poética Modernista de primeira geração. Alfredo Bosi, ao conceituar o Modernismo brasileiro, afirma que “Quanto ao termo “modernista”, veio a caracterizar, cada vez mais intensamente, um código novo [...]. “Moderno” inclui também fatores de mensagem: motivos, temas e mitos modernos.” O Modernismo: um clima estético e psicológico. In: História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 375. Acerca das características do Movimento Modernista de primeira fase é certo que: 1. teve como marco inicial a Semana de arte moderna de 1922 e um de seus principais objetivos foi o de colocar a cultura brasileira a par das Vanguardas Europeias e pregar a tomada de consciência da realidade brasileira. 2. efetivou-se somente no âmbito artístico, ou seja, desvinculado dos aspectos políticos e sociais. 3. uma de suas prerrogativas consistia na revitalização de moldes arcaicos. 4. foi caracterizado pela liberdade formal e a tentativa de constituição de uma identidade nacional. 5. neste Movimento, os gêneros literários que encamparam suas ideais foram o lírico e o narrativo, no entanto, o teatro rechaçou as novas diretrizes artísticas. 6. a poesia tratou de modo menos sistemático os temas considerados eleitos pela poética passadista, voltando-se para temas do cotidiano. 7. a aproximação da oralidade e da escrita foi largamente combatida pelos escritores da época. 8. a reflexão, a criticidade, a ironia e o bom humor foram características recorrentes das produções literárias dessa época. 9. a literatura apropriou-se da cultura popular e da cultura e língua dos imigrantes que vieram para o Brasil. 10. o projeto ideológico, em consonância com o projeto estético, visava atingir o homem comum e levar a literatura às classes menos abastadas. A alternativa que contempla a soma das sentenças corretas é: a) 22. b) 28. c) 34. d) 38. e) 44. 08. Que valor social está presente no desejo de Gaetaninho de andar de automóvel e de ser admirado pelas pessoas? 09. O final do conto é surpreendente, tanto pela rapidez com que se dá a morte de Gaetaninho quanto pela ambiguidade causada pela frase “amassou o bonde!”. Considerando o sentido do verbo amassar em português e sabendo que ammazzare, do italiano, significa “matar”, explique a ambiguidade contida nessa frase. 10. Dentre os escritores do movimento modernista, Alcântara Machado foi o que mais conseguiu integrar à literatura a figura do imigrante. De que imigrante o autor mais se ocupou em sua obra? a) Japoneses. b) Italianos. c) Alemães. d) Portugueses. e) Colombianos. 11. (ENEM) Gaetaninho Ali na Rua do Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou de carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho. [...] — Traga a bola! Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e matou. No bonde vinha o pai do Gaetaninho. A gurizada assustada espalhou a notícia na noite — Sabe o Gaetaninho? — Que é que tem? — Amassou o bonde! A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras. Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boleia de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no da frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima. Vestia a roupa marinheira, tinha as ligas, mas não levava a palhetinha.Quem na boleia de um dos carros do cortejo mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente era o Beppino. MACHADO, A. A. Brás, Bexiga e Barra Funda: notícias de São Paulo. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Vila Rica, 1994. Situada no contexto da modernização da cidade de São Paulo na década de 1920, a narrativa utiliza recursos expressivos inovadores, como a) o registro informal da linguagem e o emprego de frases curtas. b) o apelo ao modelo cinematográfico com base em imagens desconexas. c) a representação de elementos urbanos e a prevalência do discurso direto. d) a encenação crua da morte em contraponto ao tom respeitoso do discurso. e) a percepção irônica da vida assinalada pelo uso reiterado de exclamações. 12. Sobre a obra de Lima Barreto, podemos afirmar: a) Com enredos ambientados prioritariamente na região do Vale do Paraíba, denuncia a prática agrícola da queimada e a devastação da natureza. b) Pode ser considerada precursora do romance regionalista moderno, representando a sociedade rural do século XIX. c) Presa aos cânones estéticos e literários, é considerada modernista, apesar de fazer uma retomada aos assuntos abordados pela escola parnasiana. d) Não apresenta cunho social e está voltada para a experimentação e aos estudos da própria linguagem, apresentando um novo tipo de relação narrador-leitor. e) Reflete forte sentimento nacional e grande preocupação com questões históricas, culturais e sociais, denotada a partir de uma consciência crítica contumaz dos problemas brasileiros. 13. (UFTM) Considere os dados: I. Contraste entre um Brasil arcaico – representado principalmente pelo tradicionalismo agrário – e outro, com novos centros urbanos marcados pelo início da industrialização e pela emergência de novas classes socioeconômicas; II. Problematização da realidade social e cultural pela revelação das tensões da vida nacional; III. Primeira Guerra Mundial e crise da República Velha; IV. Modernidade estilística e negação do estilo da belle époque. Caracterizam o período histórico e cultural do Pré-Modernismo, em que se insere Lima Barreto, os dados contidos em: a) I, II, III e IV. b) II e III, apenas. c) I, II e III, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I e II, apenas. 14, O brasileiro Lima Barreto e a norte-americana Alice Walker fizeram de suas narrativas literárias um espaço de questionamento e de ressignificação dos estereótipos raciais, atribuídos a brancos e a negros pela literatura ocidental. Abaixo, o Excerto 1 é uma fala de Sinhô a Celie, em A cor púrpura, de Walker; já o Excerto 2 é o final do conto “Pecado”, de Lima Barreto, em que São Pedro e seu guarda-livros discutem sobre o destino de uma alma recém-chegada à portaria do céu. Excerto 1: Quem você pensa que é? ele falou. Você num pode amaldiçoar ninguém. Olhe pra você. Você é preta, é pobre, é feia. Você é mulher. Vá pro diabo, ele falou, você num é nada. WALKER, Alice. A cor púrpura. 10 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, p. 230. Excerto 2: Acompanhado de dolorosos rangidos da mesa, o guarda-livros foi folheando o enorme Registro, até encontrar a página própria, onde com certo esforço achou a linha adequada e com o dedo afinal apontou o assentamento e leu alto: – P. L. C., filho de..., neto de..., bisneto de... – Carregador. Quarenta e oito anos. Casado. Honesto. Caridoso. Leal. Pobre de espírito. Ignaro. Bom como São Francisco de Assis. Virtuoso como São Bernardo e meigo como o próprio Cristo. É um justo. Levando o dedo pela pauta horizontale nas “Observações”, deparou qualquer coisa que o fez dizer de súbito: – Esquecia-me... Houve engano. É! Foi bom você falar. Essa alma é a de um negro. Vai para o purgatório. BARRETO, Lima. O homem que sabia javanês e outros contos. Curitiba: Polo Editorial do Paraná, 1997, p. 45-46. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/downlo ad/texto/bv000153.pdf. Acesso em: 15 jun. 2021. Sobre a representação do racismo presente nos excertos, assinale a alternativa que estabelece uma comparação. a) Alice Walker busca compreender o autodesprezo racial dos negros, presente na fala de Sinhô; já Lima Barreto usa de ironia para mostrar como a inferiorização dos negros é estabelecida pelo catolicismo tradicional, ao fazer do branco a cor da pureza. b) Alice Walker foca sua crítica mais no preconceito de gênero do que no de raça, pois o negro Sinhô inferioriza Celie por ela ser mulher; já Lima Barreto subverte a lenda cristã popular ao sugerir que São Pedro, por trabalhar como porteiro do céu, deveria ser um negro. c) Alice Walker e Lima Barreto indicam como o racismo se espraia pela cultura, marcando desde o imaginário identitário até o imaginário do sagrado, convertendo-se em uma forma de maldição estruturada socialmente, que incide sobre os indivíduos e sobre a coletividade. d) Alice Walker e Lima Barreto expõem como o racismo derivou-se da estrutura escravocrata, promovida durante a colonização das Américas, o que levou sociedades pós-coloniais, como Estados Unidos e Brasil, a terem como maldição histórica a desigualdade sociorracial. 15. Sobre os principais aspectos da obra de Caio Fernando Abreu, é INCORRETO afirmar: a) Sua linguagem é considerada híbrida, pois estabelece uma relação dialógica com os diversos gêneros textuais. b) Há pontos de intersecção com a linguagem desenvolvida por Clarice Lispector, como técnicas narrativas pouco convencionais, que enfatizam o prisma intimista com que os eventos externos são percebidos. c) A literatura do autor gaúcho traz ecos de diversas manifestações artísticas, compondo um interessante mosaico de influências. d) A linguagem do escritor é permeada por elementos da cultura gaúcha, como regionalismos e temas relacionados com a vida nos pampas. 16. “Não chegaram a usar palavras como ‘especial’, ‘diferente’ ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las. Não que fossem muito jovens, incultos demais ou mesmo um pouco burros. Raul tinha um ano mais que trinta; Saul, um menos.” (ABREU, Caio Fernando. Morangos Mofados. São Paulo: Brasiliense, 1982.) Através do fragmento do conto Aqueles dois, de Caio Fernando Abreu, podemos verificar que: A) Através de uma linguagem “neutra”, o narrador faz julgamentos de valor e usa as palavras como “diferente” e “especial” para definir os personagens homossexuais. B) Os dois personagens representam pessoas conservadoras que não cedem a seus desejos a fim de “manter as aparências”. C) O autor demonstra que sua busca é pelo “normal”, pelo socialmente aceito, deixando de lado as personagens marginalizadas socialmente. D) Os dois personagens não sabem o que se passa com eles e, por isso, se autodenominam “diferentes” e “especiais”. E) O autor dá voz a dois indivíduos marginalizados sexualmente, pois são contrários a uma ideologia preestabelecida que julga e reprime aqueles que são “diferentes”. TEXTO I Depois, chegou o Natal, o Ano-Novo que passaram juntos, recusando convites dos colegas de repartição. Raul deu a Saul uma reprodução do Nascimento de Vênus, de Botticelli, que ele colocou na parede exatamente onde estivera o quadro de Van Gogh. Saul deu a Raul um disco chamado Os grandes sucessos de Dalva de Oliveira. A faixa que mais ouviram foi Nossas Vidas, prestando atenção naquele trechinho que dizia “até nossos beijos parecem beijos de quem nunca amou”. Foi na noite de trinta e um, aberta a champanhe na quitinete de Raul, que Saul ergueu a taça e brindou à nossa amizade que nunca vai terminar. Beberam até quase cair. Na hora de deitar, trocando a roupa no banheiro, muito bêbado, Saul falou que ia dormir nu. Raul olhou para ele e disse você tem um corpo bonito. Você também, disse Saul, e baixou os olhos. Deitaram ambos nus, um na cama atrás do guarda-roupa, outro no sofá. Quase a noite inteira, um conseguia ver a brasa acesa do cigarro do outro, furando o escuro feito um demônio de olhos incendiados. Pela manhã, Saul foi embora sem se despedir para que Raul não percebesse suas fundas olheiras. Quando janeiro começou, quase na época de tirarem férias — e tinham planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Seguro — ficaram surpresos naquela manhã em que o chefe de seção os chamou, perto do meio-dia. Fazia muito calor. Suarento, o chefe foi direto ao assunto. Tinha recebido algumas cartas anônimas. Recusou-se a mostrá-las. Pálidos, os dois ouviram expressões como "relação anormal e ostensiva", "desavergonhada aberração", "comportamento doentio", "psicologia deformada", sempre assinadas por Um Atento Guardião da Moral. Saul baixou os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parecia muito alto quando, com uma das mãos apoiadas no ombro do amigo e a outra erguendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavra nunca, antes que o chefe, entre coisas como a-reputaçãode-nossa-firma ou tenho-que-zelar-pela-moral-dos-meus funcionários, declarasse frio: os senhores estão despedidos. Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala deserta na hora do almoço, sem se olharem nos olhos. O sol de verão escaldava o tampo de metal das mesas. Raul guardou no grande envelope pardo um par de olhos enormes, sem íris nem pupilas, presente de Saul, que guardou no seu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a letra de Tú Me Acostumbraste, escrita à mão por Raul numa tarde qualquer de agosto e com algumas manchas de café. Desceram juntos pelo elevador, em silêncio. Mas quando saíram pela porta daquele prédio grande e antigo, parecido com uma clínica ou uma penitenciária, vistos de cima pelos colegas todos postos na janela, a camisa branca de um, a azul do outro, estavam ainda mais altos e mais altivos. Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois apanharam o mesmo táxi, Raul abrindo a porta para que Saul entrasse. Ai-ai! alguém gritou da janela. Mas eles não ouviram. O táxi já tinha dobrado a esquina. Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céu, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na repartição. Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram. ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. Rio de Janeiro: Agir, 2005. 17. O conto “Aqueles dois” narra com suspense e sutileza a relação entre Saul e Raul, dois amigos que trabalham na mesma repartição e cuja amizade supria suas carências afetivas e suas angústias diante do mundo. O texto I é a última parte do conto e também é a mais tensa porque: a) Confirma a relação homoafetiva existente entre Raul e Saul. b) Revela os valores de uma sociedade conservadora e preconceituosa que, mesmo sem provas, julga e condena Raul e Saul. c) Deixa clara a ação criminosa realizada pelas personagens, cuja culpa é evidenciada no silêncio e no comportamento cabisbaixo que assumem diante do chefe. d) Expõe a amizade como uma forma de amor capaz de combater a solidão existencial que assola a sociedade moderna. 18. A estrutura sintática é uma importante ferramenta na organização e na progressão do texto. Considerando a organização sintática do segundo parágrafo do Texto I, é INCORRETO o que se afirma em: a) “Que ia dormir nu” e “olhos” exercem a função sintática de objeto direto dos verbos “falar” e “baixar”, respectivamente. b) A oração “que nunca vai terminar” é subordinada adjetiva restritiva. c) “Para que Raul não percebesse suas olheiras” funciona como umaoração subordinada adverbial final. d) “à nossa amizade” exerce a função de adjunto adverbial ao expressar a causa do brinde. 19. Denotação e conotação são duas estratégias por meio das quais se ativam o jogo de sentidos proporcionados pelo uso das palavras no texto. O fragmento do Texto I em que se faz uso da linguagem conotativa é: a) “O sol parecia a gema de um enorme ovo frito”. b) “O táxi já tinha dobrado a esquina”. c) “Sem se olharem nos olhos”. d) “Quando janeiro começou”. 20. Partindo do Texto I e considerando, em seu conjunto, a obra Morangos Mofados de Caio Fernando Abreu, está INCORRETO o que se afirma em: a) A busca, a dor, o fracasso, o encontro, o amor e a esperança vão se delineando ao longo dos contos que compõem a obra. b) O conto “Aqueles dois”, cujo excerto constitui o Texto I, compõe a segunda parte da obra, intitulada “os morangos”, cujas narrativas são perpassadas pela dor e pelo sofrimento. c) Ora com crueza, ora com ironia, os contos, que compõem o livro, voltam-se para análises sociais, com ênfase na violência urbana, na seca e nas questões político-ideológicas da década de 1980. d) A última parte do livro é composta por um único conto que lhe dá nome: “morangos mofados” e sinaliza uma esperança frente ao desencantamento do mundo. O sonho pode ter acabado, mas não morreu. 21. Os acontecimentos da realidade sociopolítica brasileira são aludidos constantemente no conto “Seminário dos ratos”, de Lygia Fagundes Telles. Pode-se destacar como uma das críticas existentes na narrativa: A) solidariedade dos policiais diante da invasão dos ratos. B) crueldade dos ratos que devoram o casarão, sede do seminário. C) egoísmo dos políticos que negligenciam as necessidades populares. D) fantasia dos ratos personificados como humanos. 22. Leia o trecho de “Seminário dos ratos”, de Lygia Fagundes Telles: “– O povo, o povo – disse o Secretário do Bem-Estar Público, entrelaçando as mãos. A voz ficou um brando queixume. – Só se fala em povo e no entanto o povo não passa de uma abstração.” Acerca do excerto extraído de “Seminário dos ratos”, é CORRETO afirmar que os burocratas presentes no conto A) tomam medidas enérgicas para conter a invasão dos ratos. B) ignoram as necessidades populares e a contenção dos ratos. C) suspeitam que os ratos pretendem tomar a presidência. D) ignoram completamente que esteja havendo uma peste de ratos. 23. São elementos relevantes ao desfecho do conto “Seminário dos ratos”, de Lygia Fagundes Telles, EXCETO: A) fome popular. B) reunião burocrática de poderosos. C) atuação da esquerda política. D) ineficiência da RATESP. 24. De acordo com a proposta temática de “Seminário dos ratos”, a ambiguidade existente no título refere-se à A) inexistência de roedores na narrativa. B) indeterminação sobre quem são considerados ratos. C) ausência de uma reunião governamental. D) indefinição sobre a invasão dos roedores. 25. Sobre a personagem Chefe de Relações Públicas, de “Seminário dos ratos”, conto de Lygia Fagundes Telles, é CORRETO afirmar que ele A) desrespeita a autoridade dos seus superiores. B) despreza a delegação norte-americana no seminário. C) critica o autoritarismo governamental. D) faz piadas cínicas sobre a situação precária do povo. 26. Em relação à atuação e à visão de mundo do Secretário do Bem-Estar Público e Privado, personagem de “Seminário dos ratos”, de Lygia Fagundes Telles, é INCORRETO afirmar que ele A) goza de boa saúde e representa a força do poder autoritário. B) sente dores na perna e representa a decadência do poder autoritário. C) desrespeita os subordinados e representa a insensatez do poder autoritário. D) desconfia de perseguição e representa o medo do poder autoritário. 27. Sobre a reunião burocrática que se desenrola no conto “Seminário dos ratos”, de Lygia Fagundes Telles, pode-se afirmar que A) produz efeitos positivos contra a peste dos ratos. B) congrega especialistas com propostas concretas para exterminar roedores. C) instaura um estado democrático contando com a participação popular. D) representa mais um gasto governamental desnecessário para erradicar os ratos. 28. Sobre as ironias presentes no contexto do conto “Seminário dos ratos”, conclui-se que se prestam a aludir ao seguinte momento histórico nacional: A) ditadura civil-militar dos anos 1970. B) redemocratização após a Ditadura Militar. C) Proclamação da República após o Período Imperial. D) Estado Novo da Era Vargas. 29. Sobre a presença do elemento fantástico em “Seminário dos ratos”, de Lygia Fagundes Telles, pode-se afirmar que A) cria inverossimilhança que impede a interpretação do desfecho. B) alegoriza a situação política do autoritarismo político nacional. C) impede a criação de vínculos históricos com a sociedade brasileira. D) suspende a crença do leitor na veracidade dos fatos narrados. 30. (ITA) Leia atentamente o trecho destacado do conto “Seminário dos ratos”, no qual o Chefe das Relações Públicas dirige-se ao Secretário do Bem-Estar Público e Privado. Em seguida, assinale a alternativa correta. – Bueno, ontem à noite ele sofreu um pequeno acidente, Vossa Excelência sabe como anda o nosso trânsito! Teve que engessar um braço. Só pode chegar amanhã, já providenciei o jatinho acrescentou o jovem com energia. – Na retaguarda fica toda uma equipe armada para a cobertura. Nosso Assessor vai pingando o noticiário por telefone, criando suspense até o encerramento, quando virão todos num jato especial, fotógrafos, canais de televisão, correspondentes estrangeiros, uma apoteose. Finis coronat opus, o fim coroa a obra! a) a passagem exprime a moral da história, qual seja: a política é impossível sem jatinhos. b) a preocupação das personagens com as aparências e a comunicação com o público representa os seus ideais republicanos e democráticos. c) A preocupação principal das personagens era promover uma comunicação transparente e honesta com o público. d) a linguagem do Chefe das Relações Públicas evidencia que ele não se preocupa apenas com os objetivos, mas também com a dignidade dos meios para atingi-los. e) a tradução do adágio latino, na última frase, indica a mentalidade utilitarista e a falta de princípios superiores das personagens em questão. 31. O conto “Seminário dos Ratos”, de Lygia Fagundes Telles, publicado no livro homônimo em 1977, a) vale-se da narração em primeira pessoa, reveladora de subjetividade, a fim de denunciar a relação conflituosa entre governo e governados. b) constrói-se predominantemente por monólogo interior, evidenciando, por meio desse recurso, os interesses ocultos dos que exercem o poder ditatorial. c) alude à canção “Gota d’água”, de Chico Buarque de Holanda, para, num diálogo intertextual, enaltecer a censura que incidia sobre os movimentos artísticos dos anos 70. d) utiliza elementos insólitos, a fim de criticar, de forma metafórica, um momento histórico de repressão política do país, evidenciando tensão ao estilo e mentalidade dominantes. 32. No conto “Seminário dos Ratos”, de Lygia Fagundes Telles, publicado no livro homônimo em 1977, a) o local do evento é um casarão do governo próximo da periferia, perto dos temidos roedores. b) os membros do seminário mostram competência em resolver as crises por que passava a nação. c) a frase “a situação está sob controle”, dita por uma personagem, antecipa o extermínio final da praga dos ratos. d) uma personagem argumenta a favor da manipulação estratégica de informações, nos âmbitos nacional e internacional. 33. Conforme afirmam os autores do artigo intitulado “Violência simbólica e estrutura de dominação em A moça tecelã, de Marina Colasanti”, “a moça tecelã é uma mulher jovem, muito dedicada ao seu ofício de tecer. Humildemente, ela tecia o dia e a noite e tudo aquilo que precisava, sem muitos exageros. Tudo para não perder o encantamento que lhe proporcionava o tear. O marido, embora tenha surgido do desejo da moça tecelã, constitui um sujeito por natureza dominante. Foi tecido conforme a ideia que a jovempossuía de um companheiro, no entanto, o aspecto cultural lhe era inato e, sem muito contato com o mundo, o marido conheceu os prazeres da riqueza. Então, exigente e ávido, fazia a esposa trabalhar o tempo todo em função de seus interesses.” Considerando a citação e o trecho apresentados, pode-se concluir que o ato de tecer é empregado na narrativa através da seguinte figura de linguagem: a) Personificação b) Metonímia c) Comparação d) Antítese e) Metáfora 34. É possível dizer que o trecho que segue, retirado do conto “A Moça Tecelã”, de Marina Colasanti, faz intertextualidade com: “Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.” A) Ilíada de Homero. B) Julieta de Shakespeare. C) Penélope de Homero. D) Nenhuma das alternativas. GABARITO 01) E 02) A 03) C 04) B 05) A 06) C 07) D 08) O desejo de ascender socialmente. Como imigrante italiano marginalizado, Gaetaninho queria ser aceito, afirmar-se na sociedade brasileira. 09) Entre outras interpretações, pode-se considerar Gaetaninho como sujeito da ação (o menino foi atropelado/amassou o bonde, precipitando-se sob as rodas do veículo) e ao mesmo tempo paciente da ação (o menino foi atropelado/amassado/morto pelo bonde). A ambiguidade da expressão “Amassou o bonde” suaviza a crueza do espetáculo; a ironia suaviza a piedade. 10) B 11) A 12) E 13) A 14) C 15) D 16) D 17) B 18) D 19) A 20) C 21) C 22) B 23) C 24) B 25) D 26) B 27) B 28) A 29) B 30) E 31) D 32) D 33) E 34) C
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