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Pró-reitoria de EaD e CCDD 1 Epistemologia das Ciências Sociais Aula 5 Profa. Mariana Bettega Braunert Pró-reitoria de EaD e CCDD 2 Conversa Inicial Uma das questões mais relevantes no que diz respeito à epistemologia das ciências sociais é a possibilidade de construção de um conhecimento neutro, objetivo e imparcial. Essa problemática se coloca nas ciências humanas em geral de maneira diferente das ciências naturais, embora essas últimas não sejam mais exatas, puras ou “verdadeiras” que as primeiras. Nesta aula, aprofundaremos a reflexão sobre a possibilidade de construção de um conhecimento neutro e imparcial nas ciências sociais e identificaremos as peculiaridades da relação entre o cientista social e seus objetos de pesquisa. Para tanto, analisaremos o conceito de vigilância epistemológica utilizado por Pierre Bourdieu e Gaston Bachelard e as noções de envolvimento e alienação dos pesquisados com base nas ideias do sociólogo Norbert Elias. Contextualizando Se é verdade que em nenhuma ciência, seja ela humana, exata ou biológica, é possível falar em conhecimento objetivo puro, pleno, verdadeiro e imparcial, a discussão se coloca de modo bastante peculiar nas ciências humanas, e especialmente nas sociais, em que o sujeito pesquisador é também parte do próprio objeto de pesquisa, pois está imerso no mundo social e é parte integrante das relações nele estabelecidas. Como ensina Tremblay (2008, p. 12), isso decorre em grande parte do fato de o homem ser seu próprio observador e produzir, muitas vezes, explicações divergentes de uma mesma realidade, o que também pode ocorrer nas ciências naturais e experimentais. Apesar disso, a prática científica difere de outras formas de conhecimento sobre o real. Embora cientes da relatividade da “verdade” científica, devemos ser rigorosos e coerentes na atividade de pesquisa, eliminando o máximo que pudermos o viés da nossa análise e buscando a maior objetividade possível. Pró-reitoria de EaD e CCDD 3 Qual é, porém, essa “objetividade possível” nas ciências sociais? Como lidar de forma mais concreta com a subjetividade para produzir resultados considerados legítimos pela comunidade acadêmica? Devemos reconhecer a influência da nossa subjetividade e das nossas experiências de vida no desenvolvimento da pesquisa ou negá-la incessantemente? São questões dessa natureza e importância que procuraremos responder ao longo desta aula. Tema 1: A Relação Entre o Pesquisador e o Objeto de Pesquisa Já mencionamos em outras aulas que uma das grandes particularidades da pesquisa sociológica é o fato de o pesquisador estar imerso no mundo social que estuda, e, por isso, a relação entre pesquisador e objeto de pesquisa deve ser problematizada. Exemplificando: digamos que você decide desenvolver uma pesquisa sobre a influência da família na escolha da profissão os filhos. Quase todos os pesquisadores têm ou já tiveram uma família e passaram pelo dilema da escolha profissional; portanto, podem ter uma série de preconcepções e opiniões de senso comum sobre o assunto. Se pensarmos em outros temas de pesquisa como violência, trabalho, escola ou relações de gênero, veremos que a maioria de nós, de alguma forma, já vivenciou experiências relacionadas a eles, pois estamos imersos em uma série de relações sociais nas nossas vidas cotidianas. Para estudar cientificamente a sociedade em que estamos inseridos, precisamos assumir diante do objeto de estudo uma postura científica e crítica, embora não possamos negar e apagar todas as experiências vividas. Em primeiro lugar, precisamos ter a consciência de que fazemos parte de uma cultura, que possuímos valores e uma visão de mundo limitada pelo nosso contexto social. Retomando o exemplo da família acima mencionado, em outras sociedades e outras épocas, as relações entre os membros da família Pró-reitoria de EaD e CCDD 4 eram absolutamente distintas da sociedade moderna ocidental, mas temos a tendência de universalizar nosso modo de vida como o único possível. Por isso, antes de tudo, o sociólogo deve ter a necessária abertura diante do objeto e submeter sua prática científica a constantes questionamentos, tendo ciência de que ele próprio é produto de uma cultura particular. Acerca do assunto, Bourdieu ensina: Entre os pressupostos que o sociólogo fica devendo ao fato de ser um sujeito social, o mais fundamental é, sem dúvida, o da falta de pressupostos que define o etnocentrismo; com efeito, ao se ignorar como sujeito culto de uma cultura particular e ao não subordinar toda a sua prática a um questionamento contínuo em relação a esse enraizamento, o sociólogo (mais do que o etnólogo) é vulnerável à ilusão da evidência imediata ou à tentação de universalizar, inconscientemente, uma experiência singular. (Bourdieu, 2001, p. 91) Pedro Demo ressalta que a relação do sujeito com o objeto construído é dinâmica e de influência mútua: Objeto construído significa, pois, que não se entende sem o respectivo construtor. Não conseguimos imaginar a solidão pura de um sujeito objetivo diante de um objeto, travando entre os dois um relacionamento apenas formal de simples captação, descrição e reprodução. Seria isto ignorar os condicionamentos sociais e a ciência como processo histórico. A relação entre sujeito e objeto é dinâmica, dialética, no sentido da mútua influência. E isto é precisamente o fenômeno metodológico da interpretação, ou seja, depende também do intérprete e, como consequência, do seu contexto social. (Demo, 1983, p. 48) Tendo em vista a complexidade dessa relação, Minayo entende que toda produção científica nas ciências sociais carrega a marca do seu autor, sendo necessário reconhecer que o sujeito não é neutro e o objeto é também sujeito em constante interação com o investigador: Não podemos desconhecer que qualquer produção científica na área das ciências sociais é uma criação e carrega a marca de seu autor. (...) É preciso aceitar que o sujeito das ciências sociais não é neutro ou então se elimina o sujeito no processo de conhecimento. Da mesma forma, o “objeto” dentro dessas ciências é também sujeito e interage permanentemente com o investigador. (Minayo, 1992, p. 35) Sobre o assunto, Martins esclarece ainda que essa proximidade entre o sujeito e o objeto foi outrora algo que comprometia a neutralidade e objetividade do conhecimento nas ciências sociais: Pró-reitoria de EaD e CCDD 5 A proximidade (ainda que muitas vezes meramente física) entre o sujeito e objeto do conhecimento, requisito metodológico central da metodologia qualitativa, favoreceria o comprometimento subjetivo do pesquisador e conduziria a trabalhos de caráter especulativo e pouco rigorosos, arriscando, assim, a neutralidade e a objetividade do conhecimento científico. (Martins, 2004, p. 293) Outro aspecto também ressaltado pela autora é que a aproximação do objeto muitas vezes exige uma aproximação baseada na amizade, na empatia e no afeto e, para os positivistas, essa referência a sentimentos na pesquisa compromete o caráter científico do conhecimento produzido. (Martins, 2004, p. 294) Percebe-se, assim, que as reflexões epistemológicas atuais não analisam as relações entre sujeito e objeto de maneira dicotômica, colocando de um lado o sujeito pesquisador que conhece e de outro o objeto pesquisado que é descrito e analisado. Ao contrário disso, além de reconhecer a complexidade dessa relação, entende-se que uma das formas de objetivar o conhecimento é explicitando as condições sociais da pesquisa e a posição social que o pesquisador ocupa em relação ao objeto. Nesse sentido, Bourdieu denomina de objetivação participante o processo pelo qual o pesquisador descreve a relação subjetiva que mantém com seu objeto, tornando-se consciente dela e dos seusimpactos sobre a prática científica. Isso significa que o sociólogo possui uma história de vida, pertence a uma instituição, ocupa uma posição no espaço social e deve ter consciência do impacto dessas variáveis na relação que estabelece com o objeto pesquisado. Leitura Complementar: BOURDIEU, P. Objetivar o sujeito objetivante. In: Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004. Saiba Mais: Pierre Bourdieu (1930-2002) foi um dos mais importantes sociólogos da contemporaneidade e é uma referência nos estudos sobre epistemologia das Pró-reitoria de EaD e CCDD 6 ciências sociais. Para acessar entrevistas, artigos e obras completas, visite a página de consulta e difusão da obra de Bourdieu. Disponível em http://www.bourdieu.com.br/ Tema 2: Neutralidade Científica Embora o conhecimento nas ciências sociais seja sempre relativo, uma das formas de conferir objetividade a ele é explicitando as condições sociais específicas em que foi produzido. É preciso, portanto, submeter prática científica à reflexividade crítica, isto é, “um pensamento sobre as condições sociais do pensamento, que seja capaz de oferecer ao pensamento a possibilidade de uma verdadeira liberdade em relação a tais condições” (Bourdieu, 2001, p. 144). Essa é uma tarefa, segundo Bourdieu, propriamente epistemológica que consiste em “descobrir no decorrer da própria atividade científica, incessantemente confrontada com o erro, as condições nas quais é possível tirar o verdadeiro do falso, passando de um conhecimento menos verdadeiro a um conhecimento mais verdadeiro” (Bourdieu et. al., 1999, p. 17). O partido da reflexividade crítica inspira-se – explica Bourdieu – por duas convicções, validadas pela experiência: Primeiramente, o princípio dos erros ou das ilusões mais graves do pensamento antropológico (recorrentes tanto entre especialistas das ciências sociais – historiadores, sociólogos, etnólogos – como entre filósofos), e em particular a visão do agente como indivíduo (ou “sujeito”) consciente, racional e incondicionado, reside nas condições sociais de produção do discurso antropológico, ou seja, na estrutura e no funcionamento dos campos em que se produz o discurso sobre “o homem”; em segundo lugar, é possível um pensamento sobre as condições sociais do pensamento que seja capaz de oferecer ao pensamento a possibilidade de uma verdadeira liberdade em relação a tais condições. (Bourdieu, 2001, p. 144) Bourdieu adverte que o imperativo da reflexividade não implica que o pensador pode ocupar um ponto de vista transcendente em relação aos pontos de vista empíricos de agentes comuns e ter acesso a um saber absoluto, mas http://www.bourdieu.com.br/ Pró-reitoria de EaD e CCDD 7 trabalhar para dar conta do sujeito empírico da prática científica e lograr então “uma consciência mais aguda e um domínio mais completo das constrições que podem se exercer sobre o ‘sujeito’ científico por meio de todos os liames que o vinculam ao ‘sujeito empírico’, a seus interesses, pulsões, pressupostos, e com os quais ele precisa romper para se constituir” (Bourdieu, 2001, p. 145). Ao indagar se é possível um ponto de vista soberano, totalizante, objetivo, neutro e imparcial, Bourdieu esclarece que, para ele, a verdade é um “móvel de lutas”: Se existe uma verdade, é o fato de a verdade constituir um móvel de lutas. O que ocorre, aliás, no próprio campo científico. Mas as lutas que aí de desenvolvem possuem sua lógica própria, arrancando-as do jogo de espelhos que se refletem ao infinito de um perspectivismo radical. (Bourdieu, 2001, p. 143) O esforço para intensificar a consciência dos limites e determinações do pensamento está, portanto, ligado a um conhecimento dos limites das suas condições sociais de sua produção. Para o autor: Longe de ser, como por vezes finge-se acreditar, uma denúncia polêmica com vistas a depreciar a razão, a análise das condições em que se realiza o trabalho do pensamento constitui um instrumento privilegiado da polêmica da razão. Ao esforçar-se em intensificar a consciência dos limites que o pensamento deriva de suas condições sociais de produção e em desenraizar a ilusão da ausência de limites ou da liberdade perante quaisquer determinações, deixando o pensamento indefeso contra tais determinações, essa análise trabalha no sentido de oferecer a possibilidade de uma liberdade real diante das determinações por ela desvendadas. (Bourdieu, 2001, p. 148) Dessa forma, o pesquisador estará tanto mais próximo de um conhecimento “objetivo” quando, ao contrário de negar, assumir que o pensamento científico é limitado pelas suas condições sociais de produção, o que oferece uma possibilidade de liberdade real diante dessas determinações. A produção científica pressupõe uma mudança de perspectiva do pesquisador, a qual passa de uma atitude epistemológica guiada por crenças (que organizam não só o senso comum, mas também a prática científica) para uma postura direcionada à realização de pesquisa empírica e à observação. Nesse sentido, ensina Thomas Khun que: A observação e a experiência podem e devem restringir drasticamente a extensão Pró-reitoria de EaD e CCDD 8 das crenças admissíveis, porque de outro modo não haveria ciência. Mas não podem, por si só, determinar um conjunto específico de semelhantes crenças. Um elemento aparentemente arbitrário, composto de acidentes pessoais e históricos, é sempre um ingrediente formador das crenças esposadas por uma comunidade científica específica numa determinada época. (Kuhn, 1998, p. 23) Bourdieu também reconhece que a sociologia como ciência objetiva só é possível porque existem relações sociais que independem das vontades individuais e que só podem ser estudadas cientificamente por meio da observação e da experimentação. Por isso ressalta o autor a necessidade de descrever as relações singulares que os sujeitos mantêm com as condições objetivas de sua existência. (Bourdieu et. al.1999, p. 29) Se é verdade que o risco de o cientista confundir “é” com o “dever ser” existe, a observação empírica da realidade concreta parece ser uma forte aliada (mais do que as grandes abstrações teóricas) para a produção de um conhecimento verdadeiramente voltado ao questionamento das prenoções e dos juízos de valor que ameaçam a prática científica, possibilitando também ao pesquisador uma abertura a novas questões e novos olhares sobre o objeto de pesquisa, cuja emergência muitas vezes só é viabilizada a partir de um contato mais próximo com o campo e um manejo concreto do objeto. Portanto, embora tanto a pesquisa empírica quanto a leitura teórica sejam importantes para a prática científica, uma das maneiras de evitar a influência dos juízos de valor e das preconcepções nos resultados da análise é olhar para o objeto e “deixar ele falar”, observá-lo e questioná-lo incessantemente, o que nos permite captar nuances e questões em princípio não percebidas, bem como apreender a realidade com menos viés. Leitura Complementar: A profissão de sociólogo. Disponível em: https://bibliotecadafilo.files.wordpress.com/2013/10/18-bourdieu-pierre-a- profissao-de-sociologo-part-1.pdf https://bibliotecadafilo.files.wordpress.com/2013/10/18-bourdieu-pierre-a-profissao-de-sociologo-part-1.pdf https://bibliotecadafilo.files.wordpress.com/2013/10/18-bourdieu-pierre-a-profissao-de-sociologo-part-1.pdf Pró-reitoria de EaD e CCDD 9 Saiba Mais: Vamos observar a ilustração a seguir e refletir sobre como podemos relacioná- la ao conteúdo da nossa aula: Fonte: <http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/artigos/ciencia-kit-de-ferramentas-04.php>. Podemos aferir que o fato de o conhecimento científico não ser neutro e imparcial não significa que ele seja meramente especulativo. Leitura, estudo, pesquisa empírica rigorosa e observação da realidade concreta são fundamentaispara o reconhecimento da legitimidade de um estudo científico! Tema 3: Vigilância Epistemológica Um importante conceito que nos ajuda a compreender qual a objetividade possível nas ciências sociais e qual postura o pesquisador pode ter mais concretamente para ser rigoroso e científico em suas práticas de pesquisa é o de vigilância epistemológica. O termo foi cunhado por Gaston Bachelard (1989) e é utilizado por Pierre Bourdieu (1999), para quem é a vigilância no trabalho científico que permite distinguir, nas ciências humanas, a opinião de senso Pró-reitoria de EaD e CCDD 10 comum e o discurso científico. A necessidade de submeter constantemente a prática científica à polêmica da razão epistemológica está ligada a um processo de vigilância do trabalho científico, com o qual se deve ter cuidado no desenvolvimento da pesquisa. A vigilância epistemológica é uma vigilância de si próprio no desenvolvimento do trabalho científico e constitui uma arma eficaz para romper com as opiniões primeiras, impressões mais aparentes e as prenoções sobre o objeto de pesquisa, não a deixando contaminar-se pelas noções preconcebidas das quais o pesquisador dispõe sobre o objeto. De acordo com Gaston Bachelard (1989), embora o interesse seja fundamental ao conhecimento, é necessário controlar a subjetividade a fim de passar de um conhecimento imediato a um mediato, pois as primeiras impressões são enganosas, porque parciais. É necessário, nesse sentido, desenvolver um pensamento contraintuitivo, porque a intuição provavelmente será uma projeção, e o que orienta no primeiro recorte da pesquisa é certamente um ponto de vista orientado e enraizado, e não neutro. Por isso, o autor propõe que se recuse a primeira simpatia/antipatia que se tem pelo tema na pesquisa acadêmica e se questione as primeiras sensações, contrariando os pensamentos nascidos da primeira observação, pois toda objetividade, quando constatada, contraria o primeiro contato com o objeto. Como explica Bachelard: De facto, a objetividade científica só é possível se abstrairmos primeiro do objecto imediato, se recusarmos a sedução da primeira escolha, se travarmos e contrariarmos os pensamentos nascidos da primeira observação. Toda objectividade, devidamente verificada, desmente o primeiro contato com o objecto. Deve em primeiro lugar criticar tudo: a sensação, o senso comum, até a prática mais vulgar, a etimologia, enfim, pois o verbo, que é feito para cantar e encantar, raras vezes corresponde ao pensamento. Em lugar de se extasiar, o pensamento objectivo deve ironizar. Sem esta vigilância hostil, nunca atingiremos uma atitude verdadeiramente objectiva. (Bachelard, 1989, p. 8) Em relação ao conhecimento científico, para Bachelard (1989, p. 9), as Pró-reitoria de EaD e CCDD 11 impressões primitivas, as adesões simpáticas, os devaneios, seduções e as divagações ociosas são perigosos e, “quando, num conhecimento, a soma das convicções pessoais ultrapassa a soma dos conhecimentos que se podem explicar, ensinar, provar, torna-se indispensável uma psicanálise”. (Bachelard, 1898, p. 83) Para fazer uma “psicanálise do conhecimento objetivo”, é necessário descortinar a influência dos valores inconscientes que estão na base do conhecimento empírico: Trata-se, com efeito, de descortinar a influência dos valores inconscientes na própria base do conhecimento empírico e científico. Precisamos, pois, de mostrar a luz recíproca que passa constantemente dos conhecimentos objectivos e sociais para os conhecimentos subjectivos e pessoais, e vice-versa. (Bachelard, 1989, p. 16). Mais que isso, faz-se necessário elucidar a relação entre os conhecimentos subjetivos e pessoais e os conhecimentos objetivos e sociais, já que os primeiros estão na base de um conhecimento “menos verdadeiro”. Leitura Complementar: A psicanálise do fogo. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/130947832/BACHELARD-Gaston-A-Psicanalise-do- Fogo#scribd A profissão de sociólogo: preliminares epistemológicas. Disponível em https://bibliotecadafilo.files.wordpress.com/2013/10/18-bourdieu-pierre-a- profissao-de-sociologo-part-1.pdf Saiba Mais: O artigo a seguir publicado na Revista de Ciências Humanas de Florianópolis analisa a epistemologia de Bachelard e aborda, entre outros conceitos, o de vigilância epistemológica. http://pt.scribd.com/doc/130947832/BACHELARD-Gaston-A-Psicanalise-do-Fogo#scribd http://pt.scribd.com/doc/130947832/BACHELARD-Gaston-A-Psicanalise-do-Fogo#scribd https://bibliotecadafilo.files.wordpress.com/2013/10/18-bourdieu-pierre-a-profissao-de-sociologo-part-1.pdf https://bibliotecadafilo.files.wordpress.com/2013/10/18-bourdieu-pierre-a-profissao-de-sociologo-part-1.pdf Pró-reitoria de EaD e CCDD 12 A epistemologia de Gaston Bachelard: uma ruptura com as filosofias do imobilismo. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/2178- 4582.2011v45n2p393 Tema 4: Envolvimento e Alienação Norbert Elias (1998) utiliza-se das categorias “envolvimento” e “alienação” (no sentido de distanciamento) para pensar a relação estabelecida entre o pesquisador e o conhecimento por ele produzido. Para o autor, todos nós vivemos em um continuum entre envolvimento e alienação, sendo que ninguém é totalmente alienado nem totalmente envolvido com o objeto que pesquisa: “Não se pode dizer sobre a perspectiva de alguém, em qualquer sentido absoluto, que seja alienada ou envolvida (…). Normalmente o comportamento adulto repousa numa escala, em algum ponto localizado entre esses dois extremos” (ELIAS, 1998, p. 107-108). O autor lembra que nas ciências sociais, ao contrário das naturais, os “objetos” são também “sujeitos” do conhecimento e, por isso, a questão da objetividade se coloca nas ciências sociais diferente das naturais. Os cientistas sociais, enquanto membros de grupos, são afetados por paixões e visões partidárias e dogmáticas, suposições a priori e ideias preconcebidas (ELIAS, 1998, p. 124). É necessário, para fazer ciência, ter alienação e autonomia de pensamento. Para Elias: A questão que desafia aqueles que estudam alguns aspectos dos grupos humanos é a de como manter seus dois papéis, de participantes e de pesquisadores, clara e consistentemente separados e, enquanto grupo profissional, estabelecer em seu trabalho a incontestável predominância do último. (Elias, 1998, p. 126) O autor reconhece que “essa tarefa é tão difícil, que muitos representantes das ciências sociais, atualmente, parecem considerar inevitável a determinação de suas pesquisas por ideais sociais e políticos preconcebidos e aceitos religiosamente” (Elias, 1998, p. 126). https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/2178-4582.2011v45n2p393 https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/2178-4582.2011v45n2p393 Pró-reitoria de EaD e CCDD 13 Para fazer ciência, é preciso alienar-se do papel de participante e da visão limitada desse papel. Como afirma o autor: A tarefa dos cientistas sociais é pesquisar e fazer as pessoas entenderem os padrões que formam quando juntas, a natureza e a configuração mutante de tudo que as liga. Os próprios pesquisadores fazem parte desses padrões. Não podem evitar vivenciá-los, diretamente ou por identificação, porque deles participam; e quanto maiores as solicitações e as tensões a que eles e seus grupos estão submetidos, mais difícil lhes é realizar a operação mental que fundamenta todas as buscas científicas: alienar-se do papel de participante imediato e da perspectiva limitada que isso oferece. (Elias, 1998, p. 120-121) Se há uma escala entre um total envolvimento e alienação, deve-se progredir em relação a uma maior alienação, pois, quanto maior a alienação, maior a tendência para avaliações autônomas. (Elias, 1998, p. 153) É evidente que, para conhecer, um envolvimento mínimoinicial com o objeto é inevitável (esse envolvimento pode ser denominado de processo empático). Contudo, em um momento posterior, é necessário observar sem julgar, o que significa ter consciência dos juízos de valor e tencioná-los, isto é, questioná-los, o que implica um processo de distanciamento ou alienação necessário para a produção do conhecimento científico. Leitura Complementar: Resenha do livro, disponível em: https://www.scribd.com/fullscreen/27581814?access_key=key- 2ggq58ufetvrud5k3ziy Saiba Mais: Sobre o autor: Norbert Elias é um importante sociólogo alemão, nascido em 1897 e falecido em 1990. De família judaica, exilou-se na França em 1933 e passou grande parte da vida na Inglaterra. Escreveu importantes obras como O processo civilizador (1939) e Estabelecidos e outsiders (1965). O livro Envolvimento e alienação está disponível gratuitamente: http://monoskop.org/images/2/22/Elias_Norbert_Envolvimento_e_aliena%C3% A7ao_1998.pdf https://www.scribd.com/fullscreen/27581814?access_key=key-2ggq58ufetvrud5k3ziy https://www.scribd.com/fullscreen/27581814?access_key=key-2ggq58ufetvrud5k3ziy http://monoskop.org/images/2/22/Elias_Norbert_Envolvimento_e_aliena%C3%A7ao_1998.pdf http://monoskop.org/images/2/22/Elias_Norbert_Envolvimento_e_aliena%C3%A7ao_1998.pdf Pró-reitoria de EaD e CCDD 14 Síntese Uma das principais questões que perpassa a discussão sobre a produção científica, em qualquer área, é a da possibilidade de produção de um conhecimento objetivo, problema este que se coloca de maneira bastante peculiar nas ciências sociais, por ser o pesquisador ao mesmo tempo sujeito e objeto da realidade pesquisada. Vimos que, embora não se possa produzir um conhecimento absolutamente neutro, soberano e imparcial, há de se buscar separar sempre os juízos de valor da atividade científica e afastar as prenoções e as ideias preconcebidas sobre o objeto de estudo, colocando em xeque as primeiras impressões iniciais das quais dispomos e deslocando-se do terreno da crença para o da dúvida. Trazer à tona as condições e determinações sociais do processo de construção do conhecimento, ao contrário do que possa parecer, aproxima o pesquisador de um maior “objetivismo”, na medida em que o torna consciente das próprias limitações a que está submetido e da posição que ocupa do campo científico. Apenas a partir dessa consciência é possível avançar rumo ao desenvolvimento de uma sociologia crítica, que submete constantemente a prática científica à polêmica da razão epistemológica, levando a uma vigilância de si próprio e um controle maior da interferência da subjetividade no processo de produção do conhecimento. Trata-se de um processo de distanciamento/alienação que permite uma maior autonomia de pensamento e um tencionamento dos inevitáveis processos empáticos e dos juízos de valor com os dados revelados pela realidade concreta, acessada a partir da experiência empírica e da observação incessante. Pró-reitoria de EaD e CCDD 15 Referências BACHELARD, G. A psicanálise do fogo. Lisboa: Litoral Edições, 1989. BOURDIEU, P. Meditações pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. ______. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004. BOURDIEU, P.; CHAMBOREDON, J. C. C; PASSERON, J. C. A profissão de sociólogo: preliminares epistemológicas. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. DEMO, P. 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