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Função social do contrato na Nova Hermenêutica Contratual

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A FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO NA NOVA HERMENÊUTICA 
 
 
Juliane dos Santos Silva 
Monike Alexsandra dos Santos Cavalcante 
 
 
RESUMO: O presente artigo visa analisar a cláusula geral da função social do contrato, a 
qual, juntamente com a da boa-fé objetiva, foi responsável pela renovação na 
interpretação/hermenêutica do direito contratual contemporâneo. A partir do nascimento do 
Estado Social, o contrato assume uma nova característica precípua: o interesse social, 
deixando de ser simplesmente um instrumento de realização individual das partes 
contratantes. 
 
PALAVRAS-CHAVE: CONTRATOS. FUNÇÃO SOCIAL. HERMENÊUTICA. 
CONSTITUCIONALIZAÇÃO. 
 
ABSTRACT: This article aims to analyze the general clause of the social contract, which 
along with the objective good faith, was responsible for renewing the 
interpretation/hermeneutics of contemporary contract law. From the birth of the welfare state, 
the contract takes head a new feature: the social interest, no longer simply a tool for 
individual contracting parties. 
 
KEYWORDS: CONTRACTS. SOCIAL FUNCTION. HERMENEUTICS. 
CONSTITUCIONALIZATION. 
 
 
SUMÁRIO: 1.Introdução. 2. A socialização da ideia de contrato. 3. Conceito de função social. 
4.O contrato como instrumento de desenvolvimento social. 4.1. Código de Defesa do 
Consumidor – Lei 8.078/90: exemplo de Lei que traduz a nova mentalidade socializante. 5. A 
função social do contrato no código civil de 1916. 6. Democratização jurídica trazida pela 
Constituição Federal de 1988. 7. A função social do contrato no código civil de 
2002.8.Conclusão. 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 A partir do momento em que o Estado passou a adotar uma postura mais 
intervencionista, deixando de lado o papel de mero expectador das relações econômicas, a 
função social do contrato passou a ter uma abrangência maior e peculiar. Assim, a propriedade 
privada submete-se aos interesses sociais. 
 O Código Civil de 2002 se anuncia como um divisor de águas para o direito privado, 
trazendo novos rumos. Não se duvida do viés patrimonializante das relações civis, mas este 
caráter não pode submergir a pessoa humana. 
 Com a promulgação da Carta Magma de 1988, houve uma reanalise de valores 
privados, tais como a família, a propriedade e o contrato. Desta feita, a patrimonialização das 
relações civis se tornou incompatível com o princípio mor da Constituição: o da dignidade da 
pessoa humana. Assim, houve um processo de (re)personalização, na busca de colocar a 
pessoa humana como núcleo do direito civil e dar ao patrimônio um papel secundário. 
 Ao longo dos tempos, o conceito de contrato mudou bastante. Hoje, tem um cunho 
mais humano com a inserção dos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva. 
Assim, agora, podemos analisar o direito civil sob um prisma mais constitucional. 
 Diferentemente do Código Civil de 1916, com sua visão patrimonialista que refletia 
bem a sociedade de então, o Código de 2002 proporcionou uma nova hermenêutica para o 
direito privado. 
 Este trabalho objetiva exatamente analisar a cláusula geral da função social do 
contrato frente aos novos princípios trazidos com a Constituição de 1998 que deram ensejo à 
nova hermenêutica. 
 
 
2. A SOCIALIZAÇÃO DA IDEIA DE CONTRATO 
 
 Na constituição de 1988 a propriedade passou a ser reconhecida como direito 
fundamental, e essa modificação refletiu no direito contratual, pois essa proteção estava 
condicionada a função social dessa propriedade. Isso não significa dizer que a propriedade 
deve transformar-se em patrimônio coletivo da humanidade, e sim que a propriedade deverá 
ser subordinada aos interesses sociais. 
 Observe que com a socialização da ideia de propriedade, consequentemente, ocorreria 
o mesmo fenômeno nos contratos. De acordo com a “Lei de socialização dos contratos” de 
Jean Carbonnier a socialização do contrato prevaleceria à autonomia da vontade. Segundo 
CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA1, a função social do contrato busca limitar a autonomia 
da vontade quando essa autonomia confrontar o interesse social e este é quem deve 
prevalecer. Logo, a liberdade para contratar está limitada ao cumprimento da função social do 
contrato. 
 
 Nesse entendimento pode-se observar que a função social do contrato apresenta dois 
aspectos: O primeiro deles se refere aos contratantes, que buscam no contrato a satisfação de 
seus interesses individuais, o segundo diz respeito ao interesse da coletividade nos contratos. 
É importante destacar que os contratos devem cumprir sua função social, mas não se pode 
 
1
 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 
13-14. 
esquecer a função econômica desses contratos, que objetivam promover a circulação de 
riquezas. 
 
3. O CONCEITO DE “FUNÇÃO SOCIAL” 
 
 Conceituar, delimitar um tema, não é uma tarefa de pouca complexidade. Em se 
tratando de matéria jurídica, tampouco. No Direito, temos muitas e diferentes opiniões acerca 
dos mais diversos assuntos e em relação à função social do contrato não é diferente. Nessa 
empreitada em busca de um corte metodológico, encontramos a demarcação de HUBERTO 
THEODORO JÚNIOR sobre função social do contrato: “[...] consiste em abordar a 
liberdade contratual em seus reflexos sobre a sociedade (terceiros) e não apenas no campo 
das relações entre as partes que o estipulam (contratantes)”. 2 
 Como falado anteriormente, temos um gama de doutrinadores competentes no cenário 
nacional que falam sobre a função social do contrato. Em busca de um maior 
aprofundamento, deparamo-nos com a concepção de PAULO NALIN, citado por 
HUMBERTO THEODORO JR.3, que defende que a função social revela-se em dois níveis, a 
saber: intrínseco e extrínseco. No primeiro, o contrato é visto como relação jurídica entre as 
partes negociais, buscando-se uma equivalência material entre os contratantes. No segundo 
nível, o contrato é visto sob o prisma da coletividade, ou seja, sob o aspecto de seu impacto 
eficacial na sociedade em que fora celebrado. 
 Por fim, vale advertir usando as palavras de STOLZE e GAGLIANO: “[...] a função 
social do contrato traduz conceito sobremaneira aberto e indeterminado, impossível de se 
limitar aprioristicamente”.4 
 
4. O CONTRATO COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL 
 
 A sociedade vive em constante mudança e o Direito não é estático, ele precisa 
acompanhar o desenvolvimento social para que possa refletir a realidade da sociedade. Dentre 
os institutos jurídicos, o contrato é um dos mais importantes da sociedade capitalista, e é 
preciso compreender sua evolução para perceber como ele serve de instrumento de 
desenvolvimento social. 
 
2
 THEODORO JR., Humberto. O contrato e sua função social. 3ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 31. 
3
 NALIN, Paulo. A função social do contrato no futuro Código Civil Brasileiro. Revista de Direito Privado, 
São Paulo, RT, vol. 12, p. 54, out.dez./2002, apud THEODORO JÚNIOR, Humberto. A função social do 
contrato. Rio de Janeiro: 2008. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 44. 
4
 GAGLIANO, Pablo Stolze/ PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de Direito civil. Vol. IV – Tomo I. 
Saraiva: São Paulo, 2009. p. 53 
 Os romanos já tratavam da ideia de contrato, porém era uma ideia cheia de 
formalismo, observe o que diz LUIZ GUILHERME LOUREIRO5 : 
 
No direito romano existia uma distinção entre contrato, pacto e convenção, para eles 
o contractus, era a relação constituída com base numa combinação, porém não 
qualquer tipo de combinação, tão somente aquela que criava obrigações entre os 
indivíduos contratantes. 
 
 Com a decadência do império romano teve origem o feudalismo e, com a queda do 
feudalismo, os burgueses passaram a realizar comércio e surge a necessidade de circular as 
mercadorias com segurança, daí podemos constatar o surgimento do contrato moderno. No 
século XVIII nascem os contratos com suas própriasleis cujo cumprimento era obrigatório, 
não importando se havia onerosidade excessiva para uma das partes. 
 No nosso ordenamento jurídico o contrato é instrumento regulador das relações 
sociais, pois tem força de lei e gera muitos direitos e obrigações. A autonomia de vontade é o 
seu maior princípio e qualquer individuo é capaz de contratar independente de classe social, 
padrão econômico ou grau de instrução. Observe o que diz PEREIRA6: 
Com o passar do tempo, entretanto, e com o desenvolvimento das atividades sociais 
a função do contrato ampliou-se. Generalizou-se. Qualquer individuo- sem distinção 
de classe, de padrão econômico, de grau de instrução- contrata. O mundo moderno é 
o mundo do contrato. 
 
 O contrato é um fenômeno econômico, é um meio de circulação de riquezas, logo, o 
desenvolvimento do contrato está vinculado ao desenvolvimento econômico da sociedade. O 
contrato é instrumento de desenvolvimento social, pois sem ele a sociedade se estagnaria por 
completo e acarretaria a regressão do homo economicus às eras primárias. 
 Por fim, arremata THEODORO:7 
O contrato é antes de tudo um fenômeno econômico. Não é uma criação do direito. 
Este apenas, conhecendo o fato inevitável na vida em sociedade, procura, ora mais, 
ora menos, impor certos condicionamentos e limites à atividade negocial. Seria 
contra a natureza qualquer norma que impedisse o contrato e que o afastasse do 
campo das operações de mercado, onde a iniciativa pessoal e a liberdade individual 
são, acima de tudo, a razão de ser do fenômeno denominado contrato. 
 
a. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – LEI 8.078/90: Exemplo de Lei 
que traduz a nova mentalidade socializante 
 
 A Lei nº 8.078/90, que instituiu o Código de Defesa do Consumidor, constitui norma 
 
5
 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Teoria geral e contratos em espécie. 3º Edição. Método, p. 31. 
6
 PEREIRA Caio Mário Da Silva. Instituições do direito civil: contratos, Rio de Janeiro, Forense, 2012, p.10. 
7
 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. Cit., p. 113. 
de ordem pública e interesse social, pois nos trouxe a regra que mesmo uma pequena 
onerosidade poderá determinar uma revisão contratual ou até mesmo o afastamento da 
cláusula onerosa, e que a interpretação do contrato deverá ocorrer sempre em beneficio do 
consumidor. 
 Observe que um contrato oneroso não cumpre o seu papel social. Conforme o 
entendimento de NELSON NERY JÚNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, em 
comentários ao art. 6º, inciso V, da Lei 8.078/90:8 
 
Para que o consumidor tenha direito à revisão do contrato, basta que haja 
onerosidade excessiva para ele, em decorrência de fato superveniente. Não há 
necessidade de que esses fatos sejam extraordinários nem que sejam imprevisíveis. 
As soluções da teoria da imprevisão, com o perfil que a ela é dado pelo CC italiano 
1467 e pelo CC 478, não são suficientes para as soluções reclamadas nas relações de 
consumo. Pela teoria da imprevisão, somente os fatos extraordinários e 
imprevisíveis pelas partes por ocasião da formação do contrato é que autorizariam, 
não sua revisão, mas sua resolução. A norma sob comentário não exige nem a 
extraodinariedade nem a imprevisibilidade dos fatos supervenientes para conferir, ao 
consumidor, o direito de revisão efetiva do contrato; não sua resolução. 
 
 
5. A FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO NO CÓDIGO CIVIL DE 1916 
 
 Importa, aqui, ressaltar o contexto histórico da época: sociedade de economia 
rudimentar, pós-escravocrata, e recém-ingressa na República. Todos esses fatores apontavam 
no sentido oposto ao da socialização da prosperidade e, por consequência, do contrato. Como 
afirma STOLZE9, “O codificador de 1916 absorveu, demasiadamente, os valores 
individualistas, patriarcais e conservadores da sociedade de então.” 
 O código civil de 1916 era tido como perfeito e acabado, logo, não era admitido 
lacunas na lei, o juiz era considerado um mero aplicador do direito, no dizer de GUSTAVO 
TEPEDINO10: "[...] o código é para o Juiz um prontuário que lhe deve servir infalivelmente e 
do qual não pode se afastar." 
 O Direito contatual tinha a autonomia da vontade como característica mais marcante, isso 
significa uma plena liberdade contratual, mas com a transição para um estado mais focado nos 
direitos sociais o principio de autonomia de vontade sofreu uma considerável redução na sua 
importância. Após a Constituição de 1988, o Código Civil de 1916, com sua vocação 
 
8
 NERY, Nelson Jr, NERY / Rosa Maria Andrade, Código Civil Comentado. 10º Edição. Revista dos Tribunais, 
p. 912. 
9
 GAGLIANO, Pablo Stolze / PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Op. Cit., p. 57 
10
 TEPEDINO, Gustavo. Normas Constitucionais e Relações de Direito Civil na Experiência Brasileira. In: 
Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra, v. 48. Coimbra: Coimbra, 2000, p. 325. 
materialista, já não atendia aos anseios sociais. Como ensina com maestria PAULO LÔBO11: 
 
A função exclusivamente individual do contrato é incompatível com o Estado social, 
caracterizado, sob o ponto de vista do direito, como já vimos, pela tutela explícita da 
ordem econômica e social na Constituição. O art. 170 da Constituição brasileira es-
tabelece que toda a atividade econômica – e o contrato é o instrumento dela – está 
submetida à primazia da justiça social. Não basta a justiça comutativa que o libera-
lismo jurídico entendia como exclusivamente aplicável ao contrato [5]. Enquanto 
houver ordem econômica e social haverá Estado social; enquanto houver Estado so-
cial haverá função social do contrato. 
 
6. DEMOCRATIZAÇÃO JURÍDICA TRAZIDA PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988 
 
 A CF de 1988 representa um estado preocupado com o bem estar social. Nesse 
sentido, PAULO LOBO12 diz: 
(...) o Estado Liberal assegurou os direitos do homem de primeira geração, 
especialmente a liberdade, a vida e a propriedade individual. O Estado Social foi 
impulsionado pelos movimentos populares que postulam muito mais que a liberdade 
e a igualdade formais, passando a assegurar os direitos do homem de segunda 
geração, ou seja, os direitos sociais. 
 
 Os princípios trazidos pela supracitada Constituição e absorvidos pelo Código Civil de 
2002 proporcionaram uma maior humanização das relações privadas. Isso é fato. Nas palavras 
de PAULO LÔBO13: 
Antes havia a disjunção; hoje, a unidade hermenêutica, tendo a Constituição como 
ápice conformador da elaboração e aplicação da legislação civil. A mudança de ati-
tude é substancial: deve o jurista interpretar o Código Civil segundo a Constituição e 
não a Constituição, segundo o Código, como ocorria com frequência (e ainda ocor-
re). 
 
O processo de constitucionalização do direito privado é, segundo o supracitado autor, 
uma elevação ao plano constitucional dos princípios fundamentais do direito civil, que, agora, 
condicionam a aplicação pelos tribunais da legislação infraconstitucional. 
Muitas, de fato, foram as conquistas sociais decorrentes da Carta Magma de 1988, e, 
por estarem interligados ao princípio da dignidade humana, tais conquistas – respeito à função 
social do contrato, ao direito do consumidor, à proteção do meio ambiente, às leis trabalhistas, 
à proteção da ordem econômica e da liberdade de concorrência etc – sob nenhuma hipótese 
 
11
 LÔBO, Paulo Luiz Neto. Princípios sociais dos contratos no CDC e no novo Código Civil. Jus Navigandi, 
Teresina, ano 7, n. 55, 1 mar. 2002. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/2796>. Acesso em 29 de abril 
de 2013. 
12
 LÔBO, Paulo Luiz Neto. Contrato e mudança social. Revista Forense, n° 722. Rio de Janeiro: Forense, 2002. 
p. 42. 
13
 LÔBO, Paulo Luiz Neto. Princípios sociais dos contratos no CDC e no novo Código Civil. Jus Navigandi, 
Teresina, ano 7, n. 55, 1 mar. 2002. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/2796>. Acesso em 29 de abril 
de 2013. 
poderão, posteriormente, virema ser minimizados, graças ao princípio do não retrocesso soci-
al. 
 Aos que duvidam do avanço da nossa legislação infraconstitucional após a 
promulgação da nossa Constituição, basta observar quantas leis foram editadas após a mesma: 
o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) e o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(Lei 8.069/90), em um exemplo econômico. 
 Podemos localizar o princípio da função social do contrato no Art.170 da Constituição 
ao determinar a livre iniciativa à justiça social. Logo, podemos notar uma 
constitucionalização do direito civil, de forma que a dignidade da pessoa humana passou a ser 
o centro do ordenamento jurídico, perdendo, assim, seu caráter essencialmente 
patrimonialista. Em um Estado Social, o contrato não é mais um direito absoluto, e sim 
relativo, pois se limita ao bem estar social. 
 
7. A FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO NO CÓDIGO CIVIL DE 2002: análise 
do art. 421. 
 
 A priori, com o Código Civil de 2002, podemos observar um avanço em favor da 
dignidade da pessoa humana. PAULO LÔBO14 brilhantemente afirma: 
 
O princípio da função social é a mais importante inovação do direito contratual co-
mum brasileiro e, talvez, a de todo o novo Código Civil. Os contratos que não são 
protegidos pelo direito do consumidor devem ser interpretados no sentido que me-
lhor contemple o interesse social, que inclui a tutela da parte mais fraca no contrato, 
ainda que não configure contrato de adesão. Segundo o modelo do direito constitu-
cional, o contrato deve ser interpretado em conformidade com o princípio da função 
social. 
 
 Os enunciados 21, 22 e 23 da I Jornada de Direito Privado, promovida em 02 de 
setembro de 2002 pelo Conselho da Justiça Federal, ratificam as ideias expressas no recente 
Código Civil.15 
 Vejamos as palavras de MARCOS EHRHARDT JR.16 acerca do citado Código: 
O desafio do presente é repor a pessoa humana como centro do direito civil, 
concebendo as linhas de um direito contratual que além de disciplinar e conferir 
segurança às operações econômicas, seja primordialmente voltado à promoção da 
dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III, CF/88). Ingressamos então no tempo 
da (re)personalização do direito civil, implicando necessário reconhecimento do 
novo ramo dos direitos da personalidade. 
 
 
14
 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Constitucionalização do Direito Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 
33, 1 jul. 1999. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/507>. Acesso em 29 de abril de 2013. 
15
 Jornadas de Direito Civil I, III, IV e V. Brasília-DF. Março – 2012. 
16
 EHRHARDT, Marcos. A conquista do valor dignidade nas relações privadas. Disponível em: 
<http://marcosehrhardt.com.br/index.php/artigo/2010/06/06/a-conquista-do-valor-dignidade-nas-relacoes-
privadas>. Acesso em: 29 de abril de 2013. 
Ao delimitarmos o conceito de função social, logo no início do presente trabalho, 
vimos que se manifesta em dois níveis – intrínseco e extrínseco. Ao analisarmos o art. 421, 
constatamos que a expressão “função social” está se referindo aos seus efeitos externos – 
nível extrínseco, ou seja, àqueles que podem interferir na esfera de terceiros. Fazemos uso das 
palavras de EHRHARDT JR.:17 
 
A inserção constitucional dos fundamentos de validade jurídica das relações civis 
tem contribuído para a renovação dos estudos do direito civil, pois, mais do que um 
critério hermenêutico formal, constitui a etapa mais importante do processo de 
transformação por que passou o direito civil no trânsito do modelo liberal para o 
Estado social. 
 
 A tarefa de detectar e definir a função social da propriedade é bem mais simples do 
que o moderno conceito de função social do contrato. Assim explica THEODORO:18 “[...] se 
revela intuitivo o efeito do exercício de um direito real sobre o meio social, enquanto muito 
precisa ser pensado e elaborado para transplantar o efeito de um negócio puramente pessoal 
para o campo dos interesses sociais”. 
 Hoje, reconhece-se que a liberdade de contratar deve se comportar dentro do molde da 
função social do contrato. Todavia, não se pode perder a essência e razão de ser do contrato: 
circulação da propriedade. Pois, contrato sem função econômica não é contrato. 
 A função social do contrato é entendida, por posição majoritária da doutrina, como 
uma cláusula geral, isto nos sugere não uma obrigação, mas uma representação de valores. 
Daí a importância no tocante à hermenêutica. Sobre o tema, conclui THEODORO JR.:19 
Mesmo na atividade de interpretação da lei, que se reconhece não se fazer de forma 
mecânica e literal, a criatividade desempenhada pelo juiz para atualizar e 
compatibilizar a norma com o caso concreto e o momento de sua aplicação não lhe 
dá uma liberdade que possa significar a abertura para o arbítrio e a aventura, pois a 
interpretação também é uma atividade vinculada, controlada e responsável. Portanto, 
o juiz, na sua nobre missão de complementador da regra legislada, não é um 
intérprete livre de vínculos, embora inevitavelmente criador do direito. 
 
 A utilização exacerbada das cláusulas gerais como remédio jurídico para todos os 
problemas sociais tem sido alvo de duras críticas. THEODORO JR., citando o civilista JOSÉ 
DE OLIVEIRA ASCENSÃO20, adverte: 
Em todo o mundo, a certeza do direito tende a esboroar-se quando se pratica um 
jogo impreciso de cláusulas gerais. Antes de mais no plano constitucional, se se 
 
17
 EHRHARDT, Marcos. Op. Cit. 
18
 THEODORO JR., Humberto. O contrato e sua função social. 3ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 
97. 
19
 THEODORO JR., Humberto. Op. Cit., p. 133. 
20
 ASCENSÃO, José de Oliveira. Cláusulas gerais e segurança jurídica no Código Civil de 2002, Revista 
Trimestral de Direito Civil, nº 28, p. 83, out.-dez./2006, apud THEODORO JR., Humberto. Op. Cit., p. 
142-143. 
recorrer indiscriminadamente a cláusulas como dignidade humana, 
proporcionalidade, justiça, due process od law, solidariedade, operacionalidade [...] 
o exercício de cláusulas gerais não se pode transformar numa esgrima de conceitos 
indefinidos ou num apelo a emoções. Deve ser aprofundado e racionalizado, porque 
só assim permite atingir a justiça sem pôr em causa a segurança. 
 
 O Estado Democrático de Direito tem por base o princípio da segurança jurídica, de 
forma que seus atos tenham certa precisão, clareza. Por isso, a cautela que se deve ter para 
não utilizar as cláusulas gerais de forma abusiva. Os valores preconizados na Constituição de 
1988 precisam ser lidos e interpretados em harmonia e não sob a ótica de apenas um deles em 
detrimento dos demais. 
 Por fim, importa transcrever a ponderação de ARNOLD WALD21, por THEODORO 
JR.: 
Se o direito tem a dupla finalidade de garantir tanto a justiça quanto a segurança, é 
preciso encontrar o justo equilíbrio entre as duas aspirações, sob pena de criar um 
mundo justo, mas inviável, ou uma sociedade eficiente, mas injusta, quando é 
preciso conciliar a justiça e a eficiência. Não devem prevalecer nem o excesso de 
conservadorismo, que impede o desenvolvimento da sociedade, nem o radicalismo 
destruidor, que não assegura a continuidade das instituições. O momento é de 
reflexão e construção para o jurista, que, abandonando absolutismo passado, deve 
relativizar as soluções, tendo em conta tanto os valores éticos, quanto as realidades 
econômicas e sociais. 
 
8. CONCLUSÃO 
 
 Não resta dúvida que o direito civil atual é diferente daquele que estava em vigor no 
período oitocentista e que após a Constituição Federal de 1988 houve a (re)personalização do 
direito privado. Assim, a ideia do contrato e sua função social é um dos pilares da teoria 
contratual contemporânea. 
 Ao longo do presente trabalho, procuramos apresentar um breve esboço histórico de 
como, em linhas gerais, o Código Civil de 1916 tratou, ou melhor, omitiu-se em relação à 
função social do contrato, pois ainda predominada o estadoliberal, com suas nuances 
patriarcais e patrimonialistas. 
 O contrato também foi observado como um importante instrumento de 
desenvolvimento social, atuando na economia. Por isso mesmo, o intérprete da lei não pode se 
aventurar na criação do direito a ponto do contrato perder a razão de ser. 
 Com o advento de valores sociais relevantes trazidos com a Carta Magna de 1988, 
temos a função social da propriedade e, consequentemente, a função social do contrato como 
cláusulas gerais relevantes para o bem estar social. Assim, se o contrato não cumpre sua 
 
21
 WALD, Arnold. A evolução do contrato no terceiro milênio e o novo Código Civil. Apud THEODORO JR., 
Humberto. O contrato e sua função social. 3ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 160. 
função social, isto é, se revela ofensivo a direitos de terceiros ou viola interesses de ordem 
pública, ao juiz compete aplicar-lhe a sanção da nulidade ou da ineficácia, conforme o caso.22 
 Enfim, chegamos ao Código Civil de 2002. Este, como representante do estado social, 
não poderia, como outrora, ser exclusivamente individualista e só se preocupar com as partes 
contratantes. Portanto, tutela e corrobora a ideia constitucional no sentido de relativizar as 
atividades privadas ao bem estar da sociedade, sem com isso, obviamente, desvirtuar a 
autonomia privada. 
 Ao aplicador do direito resta a responsabilidade de interpretar as relações privadas à 
luz da cláusula geral da função social do contrato. Cabe conciliar a justiça à eficiência, de 
forma que os valores civis constitucionais sejam analisados e aplicados com a devida 
coerência e harmonia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22
 THEODORO JR., Humberto. Op. Cit., p. 167. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
BARROSO, Lucas Abreu. Propriedade privada, justiça social e cidadania material. 
Disponível em: <http://marcosehrhardt.com.br/index.php/artigo/2011/03/14/propriedade-
privada-justica-social-e-cidadania-material>. Acesso em 29 de abril de 2013. 
 
BARROSO, Luis Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. São Paulo: 
Saraiva, 2009. 
 
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