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1 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE CARDIOPATA Profa. Esp. Ana Flávia Prévide Raymundo RESUMO As doenças cardíacas podem ser congênitas e adquiridas. As doenças adquiridas ocorrem ao longo da vida dos animais, normalmente surgem quando estes apresentam meia idade a idosos, são progressivas e apenas controladas pelo acompanhamento médico, sendo causa de mortalidade. Portanto, é de suma importância que o profissional veterinário, saiba identificar a insuficiência cardíaca (IC) entre as manifestações apresentadas pelo animal, para escolha da melhor terapêutica que lhe proporcione maior longevidade com qualidade de vida. A insuficiência cardíaca congestiva (ICC) é uma síndrome clínica caracterizada pela diminuição do débito cardíaco (DC) com aumento da pressão venosa e anormalidades moleculares que podem levar à morte celular. O tratamento convencional da IC inclui o uso de digitálicos, diuréticos, inibidores da enzima conversora da angiotensina (iECA) e betabloqueadores. Uma das causas de IC é a Degeneração Mixomatosa Valvar Mitral (DMVM) ou Endocardiose de Mitral, representando 75% do total e responsável pela taxa elevada de morbidade e mortalidade em cães. Acomete cães de pequeno porte, raça definida, machos e idosos, com menos de 20 kg e idade entre 8 e 13 anos, sendo baixa a incidência em felinos. A prevalência da doença ocorre nas seguintes raças: Cavalier King Charles Spaniel (CKCS), King Charles Spaniel, Whippet, Poodle, Yorkshire Terrier, Shih Tzu, Chihuahua, Miniature Schnauzer, Dachshund, Border Collie, Lhasa Apso e Cocker Spaniel, West Highland White Terrier e Jack Russell Terrier. Quando a valva mitral se apresenta normal, todo o volume de sangue que chega ao ventrículo esquerdo é ejetado através da artéria aorta para todo o corpo. Com a insuficiência valvar, parte do sangue reflui para o átrio esquerdo, sendo o grau de regurgitação determinado pelo diâmetro do orifício resultante da incapacidade de total fechamento da valva. Com o agravamento da regurgitação, diminui o fluxo sanguíneo para os órgãos exigindo que os mecanismos Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar 2 compensatórios (sistema renina-angiotensina-aldosterona e fator natriurético atrial) sejam ativados para proporcionar aumento de volume. Como resultado, átrio e ventrículo apresentam-se dilatados, com hipertrofia excêntrica da parede ventricular. Instala-se o quadro de ICC. O processo é degenerativo, não infeccioso ou inflamatório, de curso crônico e progressivo. O Colégio Americano de Medicina Interna Veterinário (AVCIM) propôs a classificação da doença de acordo com os estágios apresentados pelas raças com maior predisposição. São 4 estágios, sendo o 1º estágio (A) considerado de alto risco para os cães que não apresentam cardiopatia, mas com alta predisposição racial (genética) para adquiri-la. No 2º estágio (B) estão aqueles animais com doença cardíaca sem IC (assintomáticos), com a presença de sopro cardíaco em foco de mitral e sinais de degeneração valvar ao exame ecocardiográfico, sem remodelamento cardíaco (estágio B1) ou nos casos mais avançados, apresentando o remodelamento (estágio B2). O 3º estágio (C) da doença, a IC já está instalada com manifestações clínicas (sintomatologia) e respondendo às medicações usuais indicadas. E no último estágio (D), além das manifestações clínicas, a IC é refratária à terapia medicamentosa. O diagnóstico compreende a anamnese, exame físico, exame de imagem, bioquímicos e o eletrocardiograma. A associação destes exames e dos sinais clínicos permitirá o estadiamento da doença e proposição da melhor forma de tratamento. Os sinais clínicos relatados pelos tutores durante a anamnese podem ser: intolerância ao exercício físico; síncope; tosse seca, decorrente da compressão dos brônquios principais pelo átrio esquerdo ou pelo edema pulmonar; caquexia; síncope; hiporexia. O exame físico revela através da auscultação, arritmias, crepitação e edema pulmonar, ascite, efusão pleural, dispneia, abafamento de sons cardíacos na presença de derrame pericárdico ou pleural, sopro cardíaco em foco de valva mitral. O exame de imagem de escolha é a radiografia de tórax que mostra possíveis alterações no parênquima pulmonar e aumento da silhueta cardíaca (principalmente do átrio esquerdo). Entre os exames bioquímicos que merecem destaque estão os marcadores de lesão cardíaca, ou seja, os peptídeos natriuréticos (atrial e cerebral, produzidos respectivamente pelos miócitos dos átrios e dos ventrículos em condições de estiramento excessivo das câmaras citadas, para redução da volemia) e as troponinas (presentes nos 3 miócitos e liberadas quando há morte celular). O ECG vai indicar arritmias e alterações no traçado. O aumento do átrio esquerdo prolonga o tempo da Onda P, da mesma forma que a hipertrofia do ventrículo esquerdo, o aumento do complexo QRS. Em 2009, com a criação do primeiro consenso veterinário para o diagnóstico e tratamento da DMVM, ficou recomendado o uso do pimobendan a partir do estágio B2 em fase aguda, ou seja, em pacientes com DMVM e ICC aguda, pois estudos experimentais mostraram sua eficácia e segurança. Não sendo recomendados medicamentos para os pacientes nos estágios A e B1, apenas monitoramento por meio do ecocardiograma, pois estes não apresentam alterações circulatórias. O prognóstico inicialmente variável, tornando-se desfavorável com a instalação da IC. Cardiopatia Dilatada (CMD) é a segunda doença cardíaca mais comum nos cães. Apresenta alta morbidade e mortalidade nas raças predispostas. Causa alterações estruturais e funcionais do coração, como dilatação das câmaras cardíacas e disfunção ventricular, predominantemente do tipo sistólica, seguida por disfunção diastólica em menor grau. Em geral ocorre dilatação das quatro câmaras, porém, predomina o aumento do átrio esquerdo (AE) e ventrículo esquerdo (VE), sendo a disfunção ventricular sistólica devido a redução da contratilidade miocárdica, com ou sem arritmias. Quando presente, a arritmia mais comum a fibrilação atrial que leva à taquicardia, degeneração miocárdica e morte. A ativação de mecanismos compensatórios leva ao aumento da frequência cardíaca, da resistência vascular periférica e à retenção de água e sódio a nível renal. Ventrículos sobrecarregados adaptam-se aos aumentos crônicos de volume, sofrendo hipertrofia excêntrica, que se traduz num aumento das câmaras cardíacas. A manifestação clínica é dividida em três estágios, I com ausência de sinais clínicos e alterações elétricas e morfológicas. No estágio II, chamado oculto (o tutor não percebe alterações) os sinais clínicos ainda estão ausentes, porém existem alterações elétricas ou morfológicas evidentes no exame cardíaco. O estágio III é caracterizado pelos sinais clínicos e pelas alterações elétricas e morfológicas. Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar 4 Entre os sinais mais comumente observados, destacam-se edema pulmonar e dispneia, característicos da ICC esquerda (ICCE); letargia, pulso jugular positivo, quadro grave de ascite, característicos da ICC direita (ICCD). Pode ocorrer ainda, sopro sistólico, ritmo de galope, crepitações inspiratórias na ausculta devido ao edema pulmonar, regurgitação de mitral pela dilatação ventricular. Cães grandes ou gigantes de raças puras como Doberman Pinscher, Boxer, Deerhound Escocês, São Bernardo, Dogue Alemão, Terranova, Dálmata, Labrador e Golden Retriever são mais suscetíveis, tendo entre 4 e 10 anos de idade, porém, cães de qualquer idade e de outras raças podem ser acometidos, como o Cocker Spaniel e animais de raças mistas e raramente ocorre em cães com menos de 12 kg. As fêmeas desenvolvem a doença de forma mais lenta e progressiva com anormalidades elétricas, enquanto as idosasdesenvolvem alterações morfológicas. Pode ocorrer uma fase subclínica da doença, com duração de alguns anos, sendo o animal assintomático e com o desenvolvimento agudo da IC, a morte será súbita. O prognóstico varia com a raça e a gravidade da doença. Alguns animais podem viver por meses até anos com o tratamento, enquanto outros, descompensados, não sobrevivem às 48 horas iniciais da hospitalização. O prognóstico é desfavorável. Miocardiopatia hipertrófica (MCH) é a doença cardíaca mais comum nos felinos, sendo a principal causa de morbidade e mortalidade em gatos, caracterizada por anormalidades estruturais ou funcionais do músculo cardíaco. Assintomática na maioria dos animais, ICC e tromboembolismo arterial (TEA) podem ocorrer. Quanto à etiologia, pode ser primária ou idiopática, representada pelas afecções do miocárdio ou secundária, caracterizada pela doença cardíaca, metabólica ou vascular. Quanto à função cardíaca pode causar disfunção sistólica ou diastólica. Felinos machos, jovens (4 meses) ou idosos (17 anos) são mais acometidos por esta doença, principalmente com relação à predisposição racial, Meu PC Destacar Meu PC Destacar 5 gatos da raça Ragdoll e Maine Coon, têm apresentação precoce da doença, enquanto nos Persas, o diagnóstico é evidenciado em animais idosos. A disfunção diastólica é a principal alteração da MCH em felinos, onde o espessamento assimétrico das paredes do ventrículo esquerdo (VE) leva ao aumento da rigidez ventricular (devido a fibrose), à alteração no enchimento do ventrículo e aumento das pressões diastólicas. O relaxamento do ventrículo torna-se mais lento exigindo um aumento da contração atrial para o preenchimento do mesmo. O átrio aumenta de tamanho, enquanto o volume ventricular permanece normal ou diminuído. A hipertrofia ventricular (músculos papilares e septo interventricular) leva aos movimentos anormais da valva mitral (fechamento anormal) com regurgitação de sangue para o átrio esquerdo. Além disso, a via de saída do VE parcialmente obstruída predispõe à formação de trombos. O volume sanguíneo regurgitado provoca aumento pressão no átrio esquerdo e quadros de edema pulmonar. Alguns gatos podem ter taquicardia e infarto ou isquemia miocárdica, e em consequência da IC, podem desenvolver efusão pleural. Os sinais clínicos podem ser dispneia, IC, fibrilação atrial, acidente vascular cerebral e morte súbita. A identificação de sopros e arritmias na auscultação não são sinais específicos para diagnóstico. O diagnóstico de MCH é feito pela anamnese, exame físico, radiográfico, ECG e ecocardiograma. A troponina-I é marcador de lesão miocárdica e terá sua concentração aumentada na MCH em gatos. Os peptídeos natriuréticos atrial e cerebral estarão aumentados. Prognóstico variável, sendo desfavorável para aqueles animais que apresentam ICC, trombo, átrios muito grandes, arritmias e hipotensão.
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