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Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. VALVULOPATIAS ADQUIRIDAS (degeneração mixomatosa da válvula mitral – endocardiose de mitral) Doença mais comum em cães (75% a 80% dos casos de ICC), é crônica e degenerativa, de progressão lenta. Acomete em 62% dos casos a valva mitral, em 32,5% mitral e tricúspede e em 1,3% somente a tricúspede. Predisposições: pequeno porte, adultos maiores que 7 anos, cavalier king charles terrier (2-3 anos); médio porte também (poodle e maltês – progressão mais lenta, daschund – teckel – progressão mais rápida, shihtzu, yorkshire, pinscher, etc). O cão com mais de 13 anos possui 90% de chance de ter degeneração valvar, enquanto 30% progridem para ICC. Prevalência maior em machos (2:1). • PODE TER CAUSA GENÉTICA, e a gravidade da doença é trasmitida geneticamente. Ocorre por problemas no metabolismo de glicosaminoglicanas e metaloproteinases. • Descompensação do quadro: EDEMA PULMONAR secundário à valvulopatia mitral, muito difícil de estabilizar. FISIOPATOLOGIA: ✓ Aparato valvar mitral: folheto e cordoalhas tendíneas, que se inserem no músculo papilar. O principal componente afetado são os folhetos. É incomum afetas as cordoalhas tendíneas, mas é mais grave. Nas setas: cordoalhas tendíneas, que inserem o folheto no músculo papilar. Fonte: material apresentado na aula. Diástole normal: a válvula mitral se abre para o sangue passar do AE para o VE. ✓ Prolapso valvar mitral: Parte do folheto invade o átrio esquerdo (prolapso valvar mitral), indicando que a válvula tem uma fragilidade, devido a uma falha principalmente no metabolismo de glicosaminoglicanas e metiloproteinase. O sangue batendo na válvula, vai criando lesões, que são cicatrizadas com a deposição de tecido mixomatoso, substituindo o tecido fibroso afetado. O tecido mixomatoso faz com que as válvulas se enruguem e fiquem ainda mais fracas. A maior parte desse tecido mixomatoso se deposita no folheto valvar, mas também pode se depositar nas cordoalhas tendíneas (causando sua ruptura), se for uma cordoalha muito grossa, a doença se agrava. Devido a isso, o sangue passa em alta velocidade pelo orifício regurgitante, promovendo o sopro na auscultação. Regurgitação mitral (pode ser que ainda não reduziu o DC, mas já ausculta o sopro) → reduz DC → ativa mecanismos compensatórios neuro-hormonais (SNS e SRAA) → vasoconstrição, taquicardia e fibrose miocárdica → remodelamento cardíaco → ICC (ciclo vicioso) AE com regurgitação → sobrecarga de volume → aumento de tamanho do AE 1º sinal clínico: TOSSE (o AE aumentado de tamanho entra em contato com o brônquio principal esquerdo e carina da traquéia, que possuem receptores de tosse) Tosse noturna (teoria): animal deita, comprime o esterno e aumenta o retorno venoso Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. Tosse no frio (teoria): aumenta RVP (vasoconstrição periférica), pode aumentar edema; agitação também DIAGNÓSTICO: • Assintomáticos: com sopro sistólico em foco mitral ou tricúspede, ou ambos, mesmo sem sinais clínicos. Normalmente graus I e II, sopros sistólicos de baixa intensidade. • Sintomáticos: tosse (por aumento do AE), cansaço fácil (no início após exercícios e mais crônico mesmo em repouso, por conta de redução do DC e hipóxia), e dispneia (devido ao edema pulmonar, mesmo em repouso, normalmente expiratória) ✓ Depois da tosse: podem expectorar uma substancia esbranquiçada, fazer mimica de vomito ou pode até vomitar (pois o centro da tosse está perto do centro do vomito), tutor pode relatar que o animal pode estar engasgado. • RX: pode ser normal, sem remodelamento cardíaco, ou pode ter aumento de AE. Pode haver aumento de AE e aumento de radiopacidade em região perilar (lobos dorso caudais do pulmão), onde existem as veias pulmonares → edema pulmonar cardiogênico. Lembrar de fazer diferencial para outras doenças respiratórias, como bronquite, colapso de traqueia, etc. • ELETROCARDIOGRAMA: distúrbios no ritmo cardíaco (arritmia atrial), por conta de lesões no AE e deposição de tecido fibroso (focos arritmogênicos), fazendo com que o impulso elétrico passe mais lento nessas zonas de fibrose. • Pode ser gerado um complexo atrial prematuro (mudança na onda P, onda P aparece antes da hora); fibrilação atrial; pode ter arritmia ventricular tbm (complexo QRS anômalo, prematuro, por conta das lesões fibrosas). Complexo atriais prematuros e fibrilação atrial Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. Complexos ventriculares prematuros ou QRS anômalo • ECOCARDIOGRAMA: degeneração das cúspides (aspecto de “cotonete”), aumento de AE e/ou VE, regurgitação mitral. Há perda de coaptação da válvula. Realizar a mensuração da relação AE/Ao, ou seja, a divisão do tamanho do AE pelo tamanho da artéria aorta, que tem que ser < que 1,6. Se for maior que isso, é considerado aumento atrial esquerdo, e é recomendado tratar o paciente. • Quanto maior o tamanho do AE > maior será o sopro > maior volume vai estar sendo regurgitado > menor vai ser o DC. TRATAMENTO: De acordo com a sintomatologia, e o estágio da doença. No caso da doença valvar crônica de mitral, o tratamento é indicado a partir do estágio B2. ➢ Estadiamento A: predisposição para DVCM – cães de pequeno porte B1: sinais de DVCM sem remodelamento cardíaco B2: sinais de DVCM + remodelamento cardíaco C1: paciente com ICC descompensado hospitalizado C2: paciente com ICC crônica D1: paciente com ICC refratária hospitalizado D2: paciente com ICC refratária manejo residencial ✓ A Pacientes que apresentam predisposição a desenvolverem alguma cardiopatia. Não se faz necessário acompanhamento e nem tratamento ✓ B1 Paciente assintomático para ICC: sopro sistólico em foco mitral, não apresentam evidências de remodelamento cardíaco em resposta à valvopatia mixomatosa mitral (VMM), bem como aqueles em que as alterações do remodelamento estão presentes, mas não são graves o suficiente para atender aos critérios atuais dos ensaios clínicos utilizados para determinar o início do tratamento. Exames de imagem: sem remodelamento cardíaco. DIVEd (tamanho interno do ventrículo esquerdo em diástole) normalizado < 1,7; Relação AE/Ao < 1,60. Manejo terapêutico: terapia medicamentosa não recomendada. Reavaliação a cada 6-12 meses. Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. Fonte: material apresentado na aula. Parece uma baleia (AE – em amarelo): pra ver se tem aumento da câmara divide diâmetro do AE/pelo dímetro da aorta (em vermelho), essa relação no cão valvopata tem que ser maior que 1.6. Não tem remodelamento importante, mas tem a cardiopatia. ✓ B2 Paciente assintomático para ICC (pode apresentar taquicardia e tosse): sopro sistólico foco mitral grau maior ou igual 3/6. Exames de imagem: com remodelamento cardíaco; Ae/Ao maior ou igual a 1,6; DIVEdN (tamanho interno do ventrículo esquerdo em diástole) igual ou maior que 1,7; VHS (método vertebral heart size – avaliação do tamanho cardíaco) maior ou igual a 10,5. Tratamento terapêutico para retardar a progressão da doença. o Pimobendam 0,25 – 0,3 mg/kg/BID: é um inodilatador, dilata vasos e aumenta força de contração, aumentando DC, diminuindo a resistência e retardando compensação de mecanismo compensatório e as consequências como edema pulmonar. Medicamento de alto custo. Retarda a progressão da doença. o iECA: para doença valvar mitral não funciona, progride mesmo com o uso do medicamento (dar somente pimobendam). Já em cães assintomáticos com cardiomiopatia dilatada, pode retardar a progressão da doença. Na cardiomiopatia dilatada, o cão já tem ativação do SRAA. o Dieta para cardiopata: pois possui menor quantidade de sódio e possui nutrientes com facilmente absorvidos,prevenindo a caquexia cardiogênica. Em gatos, ambos medicamentos falharam mostrar benefício para retardar a progressão. O indicado é o uso de um anti agregador plaquetario, para evitar aparecimento de trombos. Nesse estádio, não é indicado uso de diurético, pois facilita a ativação dos mecanismos compensatórios, piorando o quadro do animal. Fonte: material apresentado na aula. ✓ C1 Paciente sintomático: insuficiência cardíaca congestiva aguda > manejo hospitalar. Tem congestão/edema pulmonar. Diagnóstico: Exame radiográfico, exame ecocardiográfico, ultrassonografia torácica. Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. Manejo terapêutico: perfil clínico hemodinâmico o Oxigênioterapia: butorfanol 0,1 – 0,3 mg/kg/IM o Furosemida: 2 mg/kg/IV – máximo 8 mg/kg a cada 4 horas; infusão contínua 0,6 – 1mg/kg/hora – máximo de 12 mg/kg dia o Pimobendam: 0,25 mg/kg/VO o Vasodilatadores: nitroprussiato de sódio 1 -10 µg/kg/min o Inotrópicos positivos: dobutamina (ação rápida, aumenta a força de contração, em caso de disfunção sistólica) ✓ C2 Paciente sintomático: insuficiência cardíaca congestiva crônica > manejo domiciliar. Analisar FR, pois em se tiver acima de 42 em repouso, é indicativo de edema pulmonar. Diagnóstico: exame radiográfico, exame ecocardiográfico e ultrassonográfica torácica Manejo terapêutico: Pimobendam, Inibidor da ECA, espironolactona (2mg/kg/SID?), furosemida (na menor dose eficaz, pode ser 2 mg/kg/BID, e ir aumentando, pode trocar por torasemida também). A aldosterona diminui a ação do SRRA, ela se liga em receptores da célula cardíaca, induzindo fibrose (apoptose celular). A espironolactona é antagonista da aldosterona, ela é usada para reduzir a indução de fibrose miocárdica (efeito cardioprotetor). Existe síntese de angiotensinogênio II por vias de quinases. Quando se tem um tratamento crônico, essa síntese começa acontecer, por isso a importância de associar a espironolactona, já que ela é antagonista da aldosterona e vai diminuir taxa de fibrose cardíaca. Estudos mostram que a espironolactona junto com o inibidor de ECA retardam a progressão da doença nos estágios C. Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. Exame ecocardiográfico: Fonte: material apresentado na aula. O sangue do AE passa pro ventrículo esquerdo por velocidade. A velocidade da onda E mostra isso, quanto mais rápida for a onda E, maior é a pressão de preenchimento do ventrículo, consequentemente maior volume de sangue no AE. Uma onda E muito alta, indica grandes riscos de desenvolver o edema pulmonar. Onda E alta, mesmo sem edema, já é indicado dar inibidor da ECA associado a furosemida (diurético), como manejo para evitar aparecimento de edema pulmonar. SRAA: iECA impede aldosterona de atuar → iECA + espironolactona = redução angiotensina II → reduz liberação de aldosterona → reduz taxa de fibrose miocárdica → retarda progressão da doença (utiliza a partir do estágio C, pois em B2 não muda nada). ✓ D1 Paciente refratário ao tratamento: insuficiência cardíaca congestiva aguda > manejo hospitalar Diagnóstico: Exame radiográfico, exame ecocardiográfico, ultrassonografia torácica Manejo terapêutico: Idem C1 > otimização das doses ✓ D2 Paciente refratário ao tratamento: insuficiência cardíaca congestiva crônica > manejo domiciliar Diagnóstico: exame radiográfico, exame ecocardiográfico, ultrassonografia torácica Manejo terapêutico: Idem C2 o Diuréticos: furosemida – substituir uma das doses para via subcutânea; torsemida: 0,1 - 0,2 mg/kg/VO a cada 12 ou 24 horas. o Associação de vasodilatadores: anlodipina, hidralazina o Associação de diuréticos: hidroclorotiazina o Controle ritmo ventricular: digoxina o Controle pressão arterial pulmonar: sildenafil Monitorar função renal e pressão arterial. ➢ Complicações: Hipertensão Arterial pulmonar. Arritmias: taquicardia supraventricular, fibrilação atrial, ruptura atrial esquerda.
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