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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 4 2 A ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA .......................................... 5 2.1 Português lusitano e português brasileiro ......................................... 9 2.2 A origem do português brasileiro ..................................................... 10 3 CONSOLIDAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO CONSEQUÊNCIA DA LITERATURA ............................................................... 11 4 OS CRONISTAS QUINHENTISTAS NO BRASIL: O PRIMEIRO DESCOBRIMENTO DO NATIVO ..................................................................... 13 5 BARROCO NO BRASIL .................................................................. 18 5.1 Concepções de Barroco segundo a crítica literária: as visões de Antonio Cândido e Haroldo de Campos ....................................................... 22 6 O BARROCO EM ANÁLISE: UM PERCURSO PELAS OBRAS DE BENTO TEIXEIRA, GREGÓRIO DE MATOS E ANTÓNIO VIEIRA ................. 23 6.1 Prosopopeia, de Bento Teixeira ...................................................... 26 6.2 Buscando a Cristo, de Gregório de Matos ....................................... 27 6.3 Sermão da Sexagésima, de António Vieira ..................................... 29 7 ARCADISMO CONTEXTO HISTÓRICO ......................................... 32 8 CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO .......................................... 33 9 PRINCIPAIS AUTORES DO ARCADISMO ..................................... 35 9.1 Manuel Maria Barbosa du Bocage .................................................. 35 9.2 José Basílio da Gama ..................................................................... 37 9.3 Cláudio Manuel da Costa ................................................................ 39 9.4 Tomás Antônio Gonzaga ................................................................. 40 9.5 Diferenças entre barroco e arcadismo ............................................. 42 3 10 ARCADISMO NO BRASIL ............................................................... 43 11 CONTEXTO HISTÓRICO DO ARCADISMO ................................... 44 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 46 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 A ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA Os estudos linguísticos representam uma das mais antigas ciências existentes na humanidade. Neves (2004) pontua que os primeiros estudos sobre a natureza da linguagem foram desenvolvidos pelos gregos por volta do século V a.C. Nas primeiras manifestações investigativas, a língua era estudada em uma perspectiva filosófica, em que representava a expressão do pensamento. Aos poucos, questionamentos sobre flexão verbal, estruturas e outros elementos foram surgindo, juntamente às transformações linguísticas. De acordo com Silva (1996), foi com o latim clássico, em Roma, no século I d.C., que ocorreram os primeiros estudos gramaticais de uma língua diferente do grego. Com os estudos atuais, sabe-se que a língua é um reflexo social e uma forma de imperialismo e unificação cultural. O Império Romano e a sua dominação foram decisórios para a formação das línguas neolatinas atuais. Os romanos, além de estudiosos, desenvolveram o conceito de civilização e deixaram várias construções como legado. A sua dominação não foi repentina; pelo contrário. Estudos alegam que os romanos chegaram à península por volta de 206 a.C. e, desde então, iniciaram um processo de dominação territorial. Com essa dominação, a língua latina foi imposta em todo o território. Assim, após séculos de plurilinguismos, diversos 6 idiomas foram deixando de ser usados pelos habitantes, e o latim passou a ser a língua predominante. Embora tenha existido uma imposição linguística, a sociedade comprovadamente se modifica, e a língua é um dos espelhos sociais; ou seja, se a sociedade não é uniforme, a língua tampouco o será. Portanto, assim como há variantes linguísticas nas línguas contemporâneas (como mostram os estudos sincrônicos atuais), o latim também possuía “subdivisões”: o latim clássico e o latim vulgar. O primeiro era usado pelas classes dominantes do Império e também por poetas, senadores, filósofos, etc. Ele se caracterizava por ser o latim correto, culto. O segundo, além de ter características de outros idiomas falados pelos povos dominados, era utilizado pelas classes consideradas mais baixas. Por muitos séculos, Portugal passou por diferentes guerras e invasões; concomitantemente, a língua portuguesa foi se transformando até configurar o idioma que você conhece atualmente. Segundo Cardeira (2006), há quatro fases primordiais para a língua portuguesa: o português antigo ou arcaico, o português médio, o português clássico e o português moderno. No século XIII, no reinado de D. Dinis, o português arcaico foi adotado como língua escrita. Esse idioma, de acordo com a autora, foi utilizado no pacto de Gomes Pais e Ramiro Pais (1173–1175) e no testamento de Afonso II (1214), entre outros documentos escritos em português antigo. No entanto, em função da diversidade linguística, ao lado do português antigo, com os trovadores, se originava a produção poética galego-portuguesa. O português médio, não sendo ainda a língua escrita por Camões, floresceu no início do século XV. Essa época é fundamental para a autonomia da língua portuguesa, pois o seu uso passou a fazer parte da cultura de Portugal. Cardeira (2006, p. 64) afirma que “[...] um processo de grande expressão do português a partir do século XV é a relatinização do português [...]”, pois mesmo que a língua portuguesa tenha atingido a sua autonomia em estudos escolares e na universidade apenas no século XVII, o primeiro passo foi dado, pelo menos, 7 200 anos antes. Além disso, essa fase se caracterizou por separar o galego do português. A expansão da língua portuguesa foi resultado da necessidade de afirmação nacional e de consolidação de uma nova monarquia, o que ocorreu juntamente às grandes navegações. Como você viu, no Império Romano, o latim se tornou a língua oficial por uma questão de imposição linguística, o que também ocorreu com o português. Somente com a queda do Império Romano, com a crise feudal e com a proclamação de independência pelo rei D. Afonso Henriques, o país renasceu para uma nova época: a época das grandes navegações e dos descobrimentos. A história se repetiu, pois, os que antes foram dominados passaram a ser os desbravadores e dominadores, e a sua dominação incluía a imposição linguística A época das grandes navegações foi essencial para a formação do português clássico. Com o avanço das conquistas, os portugueses descobriram novas terras, novaslínguas e novas realidades. A relação com o catolicismo e a necessidade de dominação cultural oficializaram não apenas a língua portuguesa, mas também a espanhola. Portugal e Espanha foram duas nações muito fortes na época do descobrimento do Brasil. O reino de Castela, que deu origem à língua espanhola, se viu diante do mesmo problema de Portugal: precisava dominar as novas nações conquistadas. Além disso, segundo Azeredo (2001), essa fase foi marcada pelo Renascimento Cultural e Urbano (séculos XV a XVIII), e nele surgiram as primeiras gramáticas das línguas vernáculas. Portanto, a primeira gramática das línguas neolatinas ou românicas foi a gramática espanhola, nomeada Gramática de la lengua castellana e escrita por Elio Antonio de Nebrija em 1492. Portugal, após chegar ao Brasil, em 1500, percebeu a mesma necessidade, então a normatização da língua foi iniciada. A primeira gramática da linguagem portuguesa, de Fernão de Oliveira, data de 1536, enquanto a gramática de João de Barros foi publicada em 1540. Ambas foram fortemente inspiradas nas gramáticas clássicas. Essa fase foi substancial para o português. Junto com a primeira gramática do português, o último auto de Gil Vicente é representado e, ainda, 8 nessa mesma época, se fundou o Santo Ofício da Inquisição. Gil Vicente estabelece a ponte linguística e cultural entre o português médio e o clássico. Além disso, a língua não é mais vista pelos portugueses somente como forma de comunicação, mas como objeto em si. Ou seja, a noção da importância linguística para a consolidação de um império é estabelecida. O interesse pela língua como objeto a ser estudado, organizado e planificado é reflexo do Humanismo. As gramáticas e os dicionários surgem de um movimento europeu que tinha o objetivo de unificar e defender as línguas nacionais. A partir disso, Cardeira (2006, p. 69) afirma que “[...] nacionalismo, ideal unificador e expansionista traduzem-se em preocupação com o ensino da língua portuguesa. Multiplicam-se as gramáticas, os vocabulários e as cartilhas [...]”. No fim do século XVII, o português era uma língua em expansão, sendo disseminado por escritores renomados até os dias atuais. O racionalismo dos séculos XVII e XVIII, na óptica de Azeredo (2001), reforçou a ligação entre a linguagem e o pensamento, considerando “abusos” ou “imperfeições” tudo o que estivesse fora dessa concepção de língua. Embora os séculos XVII e XVIII sejam momentos importantes para a consolidação da língua portuguesa, eles fazem parte de um período transitório. O século XVIII simboliza a nova fase do português: o português moderno. Em 1759, a Companhia de Jesus é expulsa de Portugal e o monopólio educacional jesuítico se acaba. Com isso, constitui-se a Escola dos Nobres e a Academia Real da Ciência e reforma-se a universidade. O ensino de língua portuguesa e línguas modernas passa a integrar o currículo escolar e pesquisas de cunho linguístico começam a fazer parte da educação portuguesa. Uma consequência desse ensino foi a fixação da norma culta, o que se reflete até os dias atuais. Todavia, embora o século XVIII tenha sido substancial para o português moderno, Portugal viveu uma história paradoxal em sua existência. Veja: Quando se inicia o português moderno, no século XVIII, Portugal encontra-se dividido entre Europa e Brasil e entre um pensamento 9 conservador e uma nova mentalidade. Na Europa, as inovações tecnológicas “iluminavam” o conhecimento; no Brasil, as riquezas agrícolas e minerais atraíam a emigração e alimentavam, em Portugal, um trono absolutista e uma aristocracia nobiliária e clerical (CARDEIRA, 2006, p. 74). Essa situação perdurou boa parte do século XVIII, mas a coroa não imaginava que o Brasil, no século XIX, seria oficialmente a sua nova casa. Em 1808, após a invasão francesa, enquanto a Inglaterra combatia os franceses em Portugal, a corte portuguesa se instalou no Brasil. A história da língua portuguesa, a partir dessa data, é demarcada por uma nova fase, da qual fez parte a expansão oficial do português culto de Portugal, mas também a identidade nacional do português brasileiro como outra língua. Conhecer a história da língua portuguesa europeia e a imposição linguística no Brasil é fundamental para a compreensão do português brasileiro falado hoje. 2.1 Português lusitano e português brasileiro A língua é um reflexo da sua comunidade falante. Para Calvet (2002, p. 12), “[...] as línguas não existem sem as pessoas que as falam, e a história de uma língua é a história de seus falantes [...]”. Embora exista uma suposta unificação da língua portuguesa, é necessário explicitar que a língua portuguesa lusitana e a língua portuguesa brasileira são duas línguas com duas histórias diferentes. Anteriormente, você conheceu a origem da língua portuguesa lusitana. Como você viu, ela se constituiu, oficialmente, há quase 900 anos, ou seja, tem praticamente o dobro da idade da língua portuguesa brasileira. Por isso, para que você compreenda as diferenças existentes entre as duas vertentes do português, é necessário que reflita sobre a história da língua portuguesa no Brasil. 10 2.2 A origem do português brasileiro A história do Brasil, após as grandes navegações e a chegada do homem branco, é marcada pelo plurilinguismo, em função de todos os contatos linguísticos que aconteceram desde o século XVI. Mello (2011, p. 175) declara que “[...] o contato inicial entre os portugueses e os povos indígenas de línguas tupis- -guaranis levou à formação da língua brasílica, que chegou a ser falada como língua materna por parte da população da área que hoje é a cidade de São Paulo [...]”. Na óptica de Battisti (2014), na época do Brasil colonial (1530–1815), o português teve contato com as línguas indígenas faladas pelos nativos brasileiros e as línguas africanas dos mais de quatro milhões de escravos. Desde 1500, mesmo que a língua oficial do Brasil tenha sido o português, o País nunca foi monolíngue. Como você viu, desde a imposição inicial do português, a comunidade já falava línguas indígenas, e o contato não se deu “apenas” com línguas africanas, mas também com outras nações europeias, por exemplo, com os espanhóis, franceses, holandeses e ingleses. E isso se refere apenas aos primeiros 300 anos desde o descobrimento. Inclusive, Mello, Altenhofen e Raso (2011, p. 13) afirmam que, “[...] ao longo dos mais de cinco séculos depois do descobrimento, no território brasileiro, conviveram, comunicaram e se misturaram populações ameríndias, europeias, africanas e asiáticas. Se a língua-teto foi o português, essa língua conviveu e ainda convive em lugares e domínios do repertório com muitas outras [...]”. Battisti (2014) afirma que foi no Brasil colonial que se consagrou a identidade nacional, sustentada pela tríade branco, índio e negro. Além disso, para a autora, foi também no plano linguístico que surgiram características definidoras do português brasileiro, como a colocação de pronomes antes do verbo em início de sentença (“Me viu” em lugar de “Viu-me”). Na visão de Mello (2011), a língua portuguesa se consolidou no Brasil após a vinda da família Real, em 1808, e a ampliação da escolarização no século XIX. Além disso, para Andreazza e Nadalin (2011), a descoberta do ouro no século XVIII atraiu a vinda espontânea de outros colonos portugueses seduzidos 11 pela possibilidade de enriquecer com a mineração, o que favoreceu a ocupação em lugares até então não colonizados, como Goiás e Mato Grosso. E, obviamente, se fez necessária uma nova leva de importação de africanos. A situação inicial de plurilinguismo foi gradualmente desaparecendo, e o português, paulatinamente, passou de língua oficial a língua efetivamente falada por uma população mestiça, na qual o branco sempre ocupou o topo da hierarquia social. Calvet(2002) afirma que existe um conjunto de atitudes e sentimentos dos falantes para com as suas línguas, para com as variedades de línguas e para com aqueles que as utilizam. Ou seja, se o homem branco, português, ocupa o topo da hierarquia social, a tendência é que a sua língua seja instaurada paulatinamente na sociedade. 3 CONSOLIDAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO CONSEQUÊNCIA DA LITERATURA Para entender a consolidação da língua portuguesa, é preciso, primeiro, conhecer o início da atividade literária em Portugal. A literatura portuguesa, conforme destaca Moisés (2006), nasceu em consequência de uma conjuntura histórico-cultural, quase simultaneamente com a Nação em que se enquadra. Dessa forma, faz-se necessário conhecer um pouco dos primórdios da história de Portugal, com seus reis, rainhas, sucessores e batalhas, a fim de compreender o início da consolidação de Portugal, ao mesmo tempo que surgem os primeiros movimentos literários na Península Ibérica. Em 1904, Afonso VI, rei de Leão, sendo este um dos reinos em que se dividia a Península Ibérica (os outros são: Castela, Aragão e Navarra), casa suas filhas — Urraca com o Conde Raimundo de Borgonha, e Teresa com Dom Henrique. Para o primeiro genro, o rei doa uma extensão de terra correspondente à Galiza; para o outro, entrega o território compreendido entre o rio Minho e o Tejo, este último denominado “Condado Portucalense” (MOISÉS, 2006). Após a morte do rei, D. Teresa assume o comando do governo e aproxima relações com os galegos, principalmente com o Conde Fernão Peres de Trava. O infante, 12 Afonso Henrique, se revolta contra a mãe e inicia uma revolução que culmina em 24 de junho de 1128, na denominada batalha de S. Mamede. Os revoltos vencem e determinam o Infante como seu soberano. Todavia, isso não era tudo, ainda faltava o reconhecimento de Leão e Castela, o que ocorreu em outubro de 1143 (MOISÉS, 2006). Afonso VII reconhece Afonso Henriques como rei, na conferência de Samora. O país, então, se tornava autônomo, porém a batalha pela consolidação levaria muito tempo ainda. A data que se utiliza como registro do início da atividade literária em Portugal é a de 1198 (ou 1189), quando o trovador Paio Soares de Taveirós compõe uma cantiga (denominada Cantiga de Guarvaia, vocábulo que designava um luxuoso vestido da corte) direcionada para Maria Pais Ribeiro, a favorita de D. Sancho I (MOISÉS, 2006). No entanto, a cantiga referida é considerada como pioneira por ser o primeiro documento literário. Ou seja, o primeiro registro, uma vez que, via de regra, os trovadores memorizavam as composições que interpretavam e, em poucos casos, as transcreviam em cadernos de notas. Por isso, toda a atividade anterior à 1198 não pode ser desconsiderada. Apenas se considera a cantiga de Paio Soares de Taveirós como marco inicial da Literatura Portuguesa por uma questão de registro, mas, de forma alguma, nega-se a existência de uma intensa atividade poética anterior. Ao se dispor a estudar os fundamentos da literatura, portanto, faz-se necessário entender, resumidamente, como a literatura portuguesa se inicia. Contudo, para além desse saber, lembre-se de que não se pode deixar de perceber as relações existentes entre a crítica e a história do gosto literário, entre a história da literatura e a história geral e nacional e, sobretudo, foco deste texto, entre a literatura e a língua. Assim, questione-se: que deverá, então, entender- se por obra literária? E que obras devemos estudar para entender a história da literatura portuguesa? Conforme defendem Saraiva e Lopes (1996), a resposta mais aceitável para esses dois questionamentos é a de que uma obra pode ser considerada literária quando, além do pensamento lógico, discursivo, abstratamente 13 conceitual, adequado a problemas científicos, filosóficos e, em geral, doutrinários, estimular também os impulsos mais afetivos e menos conscientes, os gostos, as atitudes e os valores que se enraizaram por meio do aprendizado, decisivamente formativo, da língua materna e de uma dada vida social. Nesse ponto, está a relação importante entre língua e literatura e a importância desta para o reconhecimento daquela 4 OS CRONISTAS QUINHENTISTAS NO BRASIL: O PRIMEIRO DESCOBRIMENTO DO NATIVO Fonte: brasilescola.uol.com.br Como se sabe pelos registros históricos, no século XVI, havia vários viajantes europeus em nossas terras. Os documentos históricos a que se tem acesso são muitas vezes as obras desses escritores, nas quais eles registraram suas observações das novas terras, além de servirem como meio comunicação e informações à metrópole sobre as possíveis potencialidades das novas colônias. Nesse período, o caráter sagrado dos viajantes e exploradores do Novo Mundo permitiu aos portugueses exercer a graça e o heroísmo de seu ofício em uma terra de mercadorias e gente selvagem. 14 De acordo com Susani Silveira Lemos França (2009), na segunda metade do século XVI, nos caminhos de cronistas portugueses que divulgam notícias sobre a expansão – seus relatos marcados por distâncias temporais e horizontes intermediários –A história de sua construção ainda parece caracterizar o desígnio divino encontrado e, portanto, a graça dos portugueses. Em seu passado revelado, o futuro da América ainda parece raramente anunciado; até então, por causa de sua "bestialidade", consiste em mercadorias naturais e pessoas simples, sem grandes interesses comerciais ou mesmo espirituais. Isso nos leva a argumentar que a crença religiosa e o ideal de salvar os gentios impulsionaram a máquina colonial mesmo em um período em que a razão precedia a crença. Encontros com desconhecidos no Novo Mundo voltaram os motivos dos portugueses para a humanização dos nativos através da fé cristã e da obediência à família real. Entre as figuras e suas obras durante a descoberta da terra, pode-se destacar o escriba Pero Vaz de Caminha e a sua carta “A El-Rei D. D. Manuel, sobre o achamento do Brasil, Gabriel Soares de Sousa e seu “Tratado descritivo do Brasil”, o jesuíta Fernão Cardim e o “Tratados da terra e gente do Brasil”, e Pero de Magalhães Gândavo e sua “História da Província de Santa Cruz”. Observa-se nos títulos dessas obras uma qualidade amplamente documental e pouco artística, o que leva aos possíveis problemas mencionados acima. Mesmo assim, ler e estudar esses textos é muito importante para diversas áreas do conhecimento, seja história, antropologia, etnografia ou literatura. Assim, conforme PATRIOTA (2006, p. 66), os portugueses demoraram muito para fazer com que pessoas interessadas na arte de escrever viessem ao Brasil. Também para esclarecer, a colonização do território só começou em 1530, e só em 1549, com a chegada dos jesuítas, eles pressionaram os índios a convertê-los ao cristianismo. Assim, embora a carta de Pero Vaz de Caminha seja o primeiro registo da nossa terra, só foi conhecida em 1817. Destaca-se também que o primeiro relato sobre o Brasil em português foi em 1576 por Pero de Magalhães Gândavo na "História da Província de Santa Cruz, que comumente chamamos de Brasil". 15 Nos escritos de Gândavo, procura traçar o caráter da terra numa linguagem de fácil compreensão, com o objetivo explícito de atrair pessoas dispostas a se estabelecer aqui. Além disso, esses escritos são testemunhos interessantes sobre os costumes indígenas e, sobretudo, registram a mentalidade dos colonos europeus: certo êxtase diante da paisagem, a imagem ora positiva, ora negativa da população nativa, o foco no desenvolvimento econômico da colônia e seu potencial de recursos naturais. Nos textos quinhentistas, nota-se a caracterização dos indígenas que aqui viviam: eram pagãos, sem conhecimento, bárbaros e selvagens para com seu próximo, mas eram bons guardiões da terra, e gentis com os novos europeus. O mais notável,portanto, em tais escritos é a visão européia da prática da antropofagia. Essa prática deu aos índios um novo aspecto, uma nova visão, comenta-se a visão do cronista sobre o aspecto diabólico dos nativos, mais do que o aspecto idílico. Gândavo, assim como os outros autores, documenta a prática de rituais canibais entre os índios em capítulo à parte. No capítulo intitulado " Da morte que dão aos cativos e crueldades que são com eles. ”, o relato feito por ele revela a repulsa que era hábito ao ver dos europeus. Como disse, não há nada mais abominável do que a forma como tratam seus cativos, comendo-os em um ritual de crueldade e vingança. Esta descrição, visão de um índio cruel, vingativo e diabólico que aparece nos escritos de Gândavo, por oposição à sua organização, ao cuidado das suas terras e ao seu governo pacífico, é uma visão bela e idílica. No entanto, na descrição de Pero Vaz de Caminha, é possível que uma boa característica aborígene seja mais fortemente destacada. Como afirma Santos (2009, p.63), na carta "A El-Rei D. Manuel, sobre o descobrimento do Brasil", segundo o conceito desenvolvido pelos europeus, os índios eram mais idílicos do que demoníacos. No frenesi colonial, Caminha glorificou, com intenções de exclamação, a terra fértil, a natureza da mais alta ordem e seus habitantes. Como resultado desses ideais, surgiu um alardeado conjunto de textos que perdurou até meados do século XVIII, ainda motivado pela terra e pelos nativos. Todo mundo tem um propósito estabelecido, como elogio ou 16 utilidade. Um fio condutor o percorre, ora insistindo em motivos para elogios, ora com base em registros históricos reais e não em fantasias. Isso deu origem a uma maior sublimação da terra e a esse zelo colonial de buscar o Novo Mundo como um lugar convidativo para os imigrantes se destacarem na "História da Província de Santa Cruz", de Pero Gândavo. As descobertas da terra aparecem sempre nas nuances mais extremas, assim como as dos nativos, que, apesar de seus costumes selvagens e diabólicos, se converteram facilmente às crenças portuguesas, pois, como postulam os cronistas, estavam abertos a isso e o trabalho dos jesuítas tornou-se cada vez mais bem-sucedido. Destacam-se também os escritos ricos e doutrinários de José de Anchieta, um dos jesuítas mais atuantes em solo brasileiro no século XVI. Tal como o objetivo de toda a ordem jesuítica em 1549, o seu objetivo era civilizar os índios pagãos e trazer-lhes os "F, L e R" que lhes faltavam, como descreveu Gândavo: Fé, Lei e o rei, fruto do primeiro resultado. Em seu texto informativo, Anchieta descreve aspectos negativos, um dos quais será o ritual de canibalismo. Nas palavras de Anchieta, os índios gostavam muito de comer uns aos outros, muitas vezes iam à guerra, viajavam mais de cem milhas se cativam três ou quatro, e com eles faziam grandes festas, os matam usando rituais pagãos, então eles comem e bebem muitos vinhos que fazem das raízes e os pobres cativos acham que são honrados morrer e aos seus olhos é muito honroso. Relatos do que foi observado prevaleceram, e o hábito do canibalismo foi consistentemente visto como um ato do diabo. O que é interessante nessas descrições é que as opiniões da população local sobre o ritual também são registradas. Como aponta Anchieta, os cativos provam sua honra sacrificando como alimento para outra tribo, e morrer em honra "na boca" de outro índio que o derrotou não equivale a morte natural ou sepultamento. Prevalece então o relato do que é observado, tomando o hábito da antropofagia sempre como ação do demônio. O que é interessante nessas descrições é o fato de que a visão dos nativos sobre o ritual é também registrada. 17 Como Anchieta destaca, os cativos provavam sua honra ao serem sacrificados como alimento da outra tribo, a glória de morrer “na boca” de outro índio que o derrotara não chegava à igualdade a uma morte natural ou a um enterro. Anchieta, além do aspecto material, há o projeto de desmantelar as crenças dos nativos, atribuindo-lhe o código europeu na conversão dos símbolos sagrados. Em cartas e mensagens, os índios eram comparados a feras, ridicularizados e segregados porque realizavam os chamados rituais satânicos, como o canibalismo, que não eram entendidos entre os povos como um evento natural. Ao buscar o enquadramento dos índios nos padrões europeus, seus rituais, crenças e costumes eram sempre tidos como diabólicos, jogando fora o caráter natural que os nativos tinham quando realizavam tais façanhas entre eles. A imposição de crenças cristãs fez com que as práticas indígenas e primitivas fossem vistas como abominações, juntamente com outras práticas como nudez, poligamia, etc. O que se deve considerar é que, na fase de desenvolvimento, os olhos do viajante estão repletos de eurocentrismo. Segundo Samir Amin (1989), foi um fenômeno cultural e ideológico que surgiu durante o Renascimento e se espalhou com o ímpeto das grandes navegações. A Europa tornou-se o modelo ideal para todas as outras civilizações, o que levou a uma corrida para adotar modelos comportamentais e ideais e um foco maior no capitalismo e na disseminação dos ensinamentos cristãos como a antítese do desenvolvimento não econômico e do politeísmo. 18 5 BARROCO NO BRASIL Fonte: mundoeducacao.uol.com.br O Barroco teve o seu início no final do século XVI na Itália, e logo foi difundido entre os reinos católicos da Europa e das Américas, alcançando por fim, de maneira modesta e modificada, alguns reinos protestantes e o Oriente. Derivado do Renascimento, o Barroco mantém a admiração pelas artes e pela filosofia clássica, embora política e economicamente não tenha como cerne a consolidação da modernidade, mas sim a necessidade de fortificar as monarquias absolutistas. Alicerçado sobre o catolicismo, buscava também combater a ética protestante que se alastrava pela Europa após a Reforma proposta por Lutero na Alemanha. Conforme Deleuze (1991), o Barroco é uma tentativa de reconstruir a razão clássica e, sob diferentes olhares, diz respeito não somente a um movimento estético, mas também a um período cultural e histórico. A vontade de reconstruir o ideário greco-romano pautava-se pelo desejo de constituir, a partir dele, novas maneiras de entender o homem, o mundo e Deus. Esses conhecimentos seriam aplicados com propósitos táticos específicos, como o manejo efetivo das massas e a sua doutrinação pela fé. A partir dessa 19 perspectiva, as origens do Barroco respondem a três vias principais: a histórica, a religiosa-política e a econômica. Historicamente, embora mantivesse o estatuto de centro cultural do Ocidente, a Itália estava enfraquecida pelos constantes ataques e pelas invasões de inimigos como os germânicos, liderados por Carlos V. Isso culminou, em 1527, no Saque de Roma. Abalada internamente, a Itália perdeu força, e com isso começou a desaparecer a esperança colocada sobre os tempos áureos do Renascimento. Da mesma forma, o otimismo humanista entrou em colapso frente às guerras constantes, à da igreja e à dominação do povo por uma política cruel e hipócrita. Essas fragilidades deram forma ao Maneirismo, uma corrente estética marcada pela excentricidade e pelo elogio ao bizarro, cujos questionamentos e desassossegos eram embalados pelo estilo sofisticado e experimental. No âmbito religioso, as crises estavam igualmente presentes, embora as suas motivações fossem externas: a Reforma Protestante, cujo marco é a publicação das 95 teses de Martinho Lutero, em 1517, colocava em risco a unidade da Igreja e criticava vorazmente a idolatria católica, a opulência e a corrupção do clero. Diante da ameaça protestante, a Igreja convocou o Concílio de Trento, realizado entre 1545 e 1563, voltado à orquestração da Contrarreforma, uma série de medidas voltadas ao combateà ideologia luterana e à inibição da perda de fiéis — e, consequentemente, de influência política. Algumas das medidas 2 O Barroco brasileiro tomadas foram a revisão da doutrina católica, que se voltou à busca de uma nova concepção de Deus e a como o homem se relaciona com ele, à tentativa de moralização da classe clerical e ao uso da arte sacra e da literatura como instrumentos de catequismo. As medidas da Contrarreforma afetaram diretamente a economia dos reinos católicos, uma vez que as guerras e o traçado de rotas alternativas de comércio demandavam uma reorganização. Por outro lado, devido à expansão marítima dos reinos do Oeste europeu, a Itália deixou de ser o centro comercial do continente, financiado pelas riquezas subtraídas das colônias. 20 Esses fatores, capitaneados pela Contrarreforma, modificaram substancialmente o cenário sociocultural e econômico, dando origem ao Barroco. Baseado pela ética teológica promulgada pelo Concílio de Trento, o Barroco visava refrear a excentricidade maneirista, ao passo que buscava a reafirmação da doutrina católica e a homogeneização de um estilo mais facilmente compreensível pelo povo. Para isso, criou-se a figura do censor: geralmente membros do clero, cuja função era manter a moralidade nas artes e na literatura. Nesse contexto, constituem-se três elementos fundamentais para a estética barroca: a ordem dos jesuítas, cujo papel intelectual e político moldou os estilos do Barroco; as monarquias absolutistas, que financiavam a arte para que esta representasse os seus valores; e a burguesia, classe que se consolidava enquanto influência política e econômica, passando a letrear-se e a consumir objetos artísticos e livros. Entre os grandes expoentes do Barroco na Europa, podemos citar os pintores Caravaggio, Bernini e Velázquez, os compositores e músicos Vivaldi e Monteverdi, os arquitetos Borromini e Cortona, e os escritores Góngora, Marino, Gregório de Matos, La Fontaine e Dryden. No Brasil, o Barroco iniciou por volta de 1600, final do Quinhentismo e início do Seiscentismo. Esses períodos históricos e culturais dizem respeito às manifestações artísticas e literárias produzidas no século XVI e XVII, isto é, às primeiras manifestações culturais em território colonial. Como movimento estético dominante durante boa parte do período colonial brasileiro, os seus principais artistas são o pintor Eusébio de Matos e Guerra, o arquiteto Frei Jesuíno do Monte Carmelo, o escultor Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa), o compositor, dramaturgo e músico Antônio José da Silva (o Judeu) e o poeta Gregório de Matos. Diferentemente da forma como o Barroco se desenvolveu na Europa, em terras brasileiras não havia a figura de uma monarquia própria e tampouco de uma burguesia consolidada que pudesse financiar as artes. Assim, o papel da Igreja foi fundamental para o desenvolvimento do movimento, e a figura dos jesuítas ocupa o lugar central na expansão da estética barroca. Presentes no 21 Brasil desde 1549 e liderados por Manuel da Nóbrega, os jesuítas foram responsáveis pelo processo de conquista do Sul com os Sete Povos da Missões, que fundaram a sua primeira redução em 1682, na cidade de São Borja. Em função disso, a maior parte do legado do Barroco brasileiro consiste em arte sacra e literatura de cunho catequista/religioso, contexto em que o padre Antônio Vieira soma maior vulto. Este é precedido, no âmbito do Quinhentismo, pelas contribuições da literatura de informação (ou de viagem) de Manuel da Nóbrega e de Pero Vaz de Caminha. Nelas são representadas as visões de um expedicionário e de um catequista — ambos colonizadores — sobre o Brasil e sobre os seus povos originários, constituindo as primeiras marcas da identidade nacional. Assim, o Barroco irrompeu junto aos imaginários de conquista do Brasil o deslumbramento pela paisagem e pela gentilidade do povo das capitanias, tomando forma enquanto estética que tinha como essência as antinomias. Essa visão é fundadora dos imaginários que se construíram sobre a nação brasileira, gerada pelo Barroco. Podemos ler esse imaginário, por exemplo, na Carta de Pero Vaz de Caminha a Dom Manuel, em que relata a sua expedição ao Brasil e narra, por exemplo, a celebração da primeira missa na praia da Coroa Vermelha, no Sul da Bahia: Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho. Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção. (CAMINHA, [2018?], p. 6). Essa cena foi retratada pictoricamente por Victor Meirelles em A primeira Missa no Brasil, datada na segunda metade do século XIX. 22 5.1 Concepções de Barroco segundo a crítica literária: as visões de Antonio Cândido e Haroldo de Campos Traçadas algumas considerações sobre a relevância histórica do Barroco na Europa e no Brasil e as suas inovações estéticas, faz-se interessante discutir os modos como este é compreendido pela crítica literária. Como colocado anteriormente, o Barroco, enquanto período histórico inicia na transição do Quinhentismo para o Seiscentismo brasileiro, momento em que se consolidava a visão dos expedicionários e dos catequistas sobre a colônia. Entretanto, no seio da historiografia literária, a questão de situar o Barroco enquanto origem do sistema literário nacional não é unívoca e, inclusive, é alvo de grande disparidade. Como exemplo disso, podemos citar os argumentos de Cândido (1997) e de Campos (1989) sobre Matos (2010) e o Barroco. Antonio Cândido (1997), nos dois tomos da Formação da Literatura Brasileira: Momentos Decisivos, mais especificamente nos apontamentos sobre a literatura enquanto sistema, na introdução da obra, distingue duas noções: a de manifestações literárias e de sistemas literários. Conforme o autor, as manifestações literárias dizem respeito a obras que, embora possuam valor indiscutível, não constituem parte da tradição literária de uma nação. Já os sistemas literários, pautados na perspectiva de que a literatura é um sistema formado pela articulação entre autor, obra e público leitor, tem continuidade histórica e conforma uma tradição. Visando ilustrar a diferença, Cândido (1997) menciona o Barroco — e especialmente Matos (2010) — quando defende que o movimento não representa um sistema no Brasil, uma vez que, no período inicial da literatura nacional, havia muitas dificuldades de formar grupos de produtores de literatura e um discurso próprio, além do fato de não existir um público leitor consolidado. Essa constatação leva Cândido (1997) a conjecturar que a existência de Gregório de Matos está condicionada à sua recuperação pelos escritores românticos, ficando em um hiato de esquecimento, sem influenciar qualquer outro escritor, isto é, sem contribuir para o sistema literário. Assim, o crítico situa 23 as origens do sistema literário nacional sobre as contribuições do Arcadismo e do Romantismo. Nesse sentido, concorda com críticos estrangeiros que delegam à temática indianista da geração árcade a constituiçãoda verdadeira literatura brasileira como expressão da realidade local e elemento positivo na construção nacional. Logo, dado que o Barroco é deliberadamente um sistema estético lusitano, a literatura brasileira teve o seu legítimo início com o Oitocentismo. Campos (1989) se debruça longamente sobre a argumentação de Cândido (1997) em seu livro O Seqüestro do Barroco na Formação da Literatura Brasileira: o caso Gregório de Matos. Segundo Campos (1989), o conceito de formação de um sistema literário defendido por Cândido (1997) não passa de um construto teórico que se pauta unicamente em uma lógica de exclusão e inclusão de textos. Na visão do autor, a entrada ou não de obras no sistema literário está condicionada a um paradigma pré-construído de instituição de uma identidade nacional; logo, é arbitrária. Ainda, Campos (1989) defende que esse paradigma se sustenta sobre uma visão linear, evolucionista e metafísica de história, a qual o autor sugere destituir em razão da construção de uma tradição que lhe seja anterior. Para isso, é indispensável retornar ao Barroco e considerá-lo enquanto uma das constantes da sensibilidade brasileira. Lembremos que o texto de Cândido em questão foi escrito em 1957, ao passo que o livro de Campos foi lançado em 1989 — três décadas após o primeiro. 6 O Barroco brasileiro Embora seja uma contenda famosa na história da crítica literária brasileira, não há um “vencedor” da discussão: tanto a visão de Cândido (1997) quanto a de Campos (1989) são entendidas como pontos de vista teóricos distintos sobre o mesmo movimento estético. 6 O BARROCO EM ANÁLISE: UM PERCURSO PELAS OBRAS DE BENTO TEIXEIRA, GREGÓRIO DE MATOS E ANTÓNIO VIEIRA O barroco brasileiro é uma estética da Era colonial da literatura brasileira, cujo marco é A prosopopeia de Bento Teixeira (1601). Como não havia independência política, o barroco aqui produzido faz parte da literatura brasileira 24 e lusitana. Ainda assim, é possível observar ecos da vida colonial na literatura barroca. Nas artes, e na arquitetura, também houve manifestações barrocas, sendo o principal nome Aleijadinho. Faz-se necessário dizer que o barroco brasileiro se iniciou um pouco mais tarde do que na Europa, por isso é chamado por alguns autores de barroco tardio. Na Europa o barroco se iniciou no século XVI, enquanto no Brasil teve início no final do século XVI e perdurou até o século XVIII. Foi durante o período colonial que o barroco floresceu no Brasil. A capital, Salvador, foi transferida para o Rio de Janeiro e, com isso, o número de habitantes aumentou consideravelmente no país. Aliado à exploração de ouro, que passou a ser a principal atividade econômica desenvolvida, o aumento da população propiciou um forte desenvolvimento econômico. Com a queda das exportações de açúcar nordestino no mercado consumidor mundial, tem início o chamado "ciclo do ouro". Nesse período, Minas Gerais passou a ser o grande foco, tendo em conta as jazidas encontradas no local. Foi ali que a arte barroca mineira começou a despontar com Aleijadinho na escultura e arquitetura, e o Mestre Ataíde, na pintura. No Brasil do século XVIII, a adoção do estilo barroco vincula-se certamente com o descobrimento de minas e a consequente riqueza de algumas camadas da população. O barroco brasileiro coincidiu com o nascimento da consciência nacional, ao mesmo tempo que a favoreceu. Contando com o apoio dos protetores das artes -paróquias, confrarias e associações religiosas -tornou- se a primeira possibilidade de expressão artística do país. A Bahia é considerada essencialmente barroca. O barroco brasileiro, criado pelos jesuítas da Contrarreforma no século XVI, é o espírito da conciliação e da fusão dos contrários. A Bahia também nasceu nesse século e adquiriu assim, todo o espírito barroco, fundiu brancos, negros, fez uma religião mista, a vida social, a comida, a música, uma linguagem. Com relação às características da Literatura Barroca, vamos destacar os principais aspectos. Isso torna mais fácil compreender a importância desse movimento literário no Brasil e no mundo. 25 Você verá agora uma leitura crítica de três obras do período: o épico Prosopopeia, de Bento Teixeira, Buscando a Cristo, de Gregório de Matos e o Sermão da Sexagésima, de António Vieira. Busca-se relacionar os seus estilos com a tradição Barroca. Na Literatura Barroca, ocorre a presença de uma linguagem mais dramática, que é apoiada no uso de diversos tipos de figuras de linguagem, tais como metáforas, antíteses, anacolutos, hipérboles etc. Tais figuras de linguagem eram ainda mais utilizadas para marcar a característica de conflito e contraste típicos do Barroco; Ex.: vida versus morte, corpo versus alma, fé versus razão etc.; Teor literário de um certo pessimismo e desencantamento com o mundo ao redor e com o ser humano, sendo que a Literatura Barroca manifestava uma ideia de que tudo muda o tempo todo e de que tudo é passageiro; No que se refere à estética barroca, ela reflete uma busca constante pela novidade e por surpresas, tendo um certo gosto pela dificuldade. De acordo com as principais características do Barroco, tudo precisa ser decifrado, posto que nada é estável; Na Literatura Barroca também é possível identificar o cultismo (jogo de palavras), conceptismo (jogos de retórica e raciocínio) e uma linguagem predominantemente rebuscada, constantemente elaborada com recursos estilísticos; O Barroco apresenta uma tendência ao engenho e ao artifício, demonstrando a concepção de que uma obra artística tem seu ideal supremo no que está inacabado. Dessa maneira, a Literatura Barroca valoriza tudo que é inconstante, que se mantém em movimento; O Requinte formal revela o nível linguístico altamente sofisticado dos textos barrocos. Apresentam construções sintáticas elaboradas, vocabulários de nível elevado. O barroco Literário foi uma arte da aristocracia e esse refinamento era desejado por seu público consumidor, porque lhe conferia status. 26 6.1 Prosopopeia, de Bento Teixeira O escritor luso-brasileiro Bento Teixeira, nascido na cidade do Porto, em 1561, e provavelmente falecido em Lisboa ou em Pernambuco, em 1600, teve como única obra o poema épico Prosopopeia, publicado em 1601. De origem cripto-judaica (judeus convertidos ao cristianismo) chegada no Brasil em 1567 (aproximadamente), Teixeira estudou e trabalhou no Brasil, tendo estudado no Colégio da Bahia e cursado seminário na mesma capitania. Ao desvelar que era judeu, precisou fugir para Pernambuco, onde passou a exercer o papel de professor de aritmética. Na cidade de Ilhéus, desposou a senhorita Filipa Raposa, a quem assassinou sob alegação de adultério. Devido ao homicídio cometido, foi obrigado a fugir novamente, escondendo-se no Mosteiro de São Bento, em Olinda, quando escreveu a sua obra. Outras versões da história dizem que ele foi acusado de ser judeu pela própria esposa, sendo julgado e inocentado pela inquisição. A denúncia da esposa teria motivado o crime. Ao ser descoberto no Mosteiro de São Bento, foi levado preso para Lisboa, onde teria morrido em 1600. Como podemos depreender da biografia do autor, são incertos os dados sobre a sua vida. Ao longo do tempo, foram-lhe atribuídas as obras Relações do naufrágio e Diálogos das grandezas do Brasil, que mais tarde foram reconhecidas como escritas por Afonso Luís e Ambrósio Fernandes Brandão, respectivamente. Assim, a sua única obra confirmada é Prosopopeia. O épico segue a estrutura camoniana empregada em Os Lusíadas, tanto no que se refere à organização estrutural da narrativa quanto à métrica empregada. Assim, o texto é construído em rimas oitavas de versos decassílabos, em sua maioria distribuídas entre proposição, invocação, dedicatória e narração. As seis primeiras rimas são cruzadas (A..B..A..B..A..B), e asduas últimas são emparelhadas (C..C). Diferentemente de Camões, que pede inspiração às Tágides e dedica a sua obra ao rei, Teixeira pede inspiração ao Deus cristão e dedica a obra a Jorge d'Albuquerque, que também é ficcionalizado como herói da epopeia. Composta 27 por 94 estrofes, a narrativa canta os feitos dos irmãos d’Albuquerque nas terras da Nova Lusitânia (Brasil) durante a batalha de Alcácer-Quibir, em que estes teriam se destacado. Também é contado o naufrágio dos irmãos a bordo da Nau Santo Antônio. No que se refere ao nível estético, a obra de Teixeira é desprestigiada, uma vez que, segundo críticos, não possui originalidade e tampouco demonstra grande habilidade poética. Entretanto, é relevante enquanto obra que marca o início do Barroco no Brasil. Para a crítica, é reiterado o interesse pela estrofe LX, tida como um prenúncio da temática indianista, base dos movimentos estéticos vindouros: o Arcadismo e o Romantismo. Leia a estrofe a seguir e veja a sua análise estrutural, em que são apresentadas algumas falhas na metrificação (na estrofe, há apenas três versos decassílabos) e há preponderância de rimas pobres entre substantivos: 6.2 Buscando a Cristo, de Gregório de Matos Gregório de Matos Guerra, também conhecido como Boca do Inferno (ou Boca de Brasa, em sua juventude), foi um poeta e advogado luso-brasileiro tido como um dos maiores expoentes da poesia barroca e satírica no Brasil e em Portugal. Descendente de família lusitana burguesa, Gregório estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia, em 1642, e continuou os seus estudos em Lisboa, formando-se em “cânones” na Universidade de Coimbra, em 1652. Ao terminar os seus estudos, foi nomeado Juiz de Alcácer do Sal (no Alentejo) e 28 acabou por regressar à Bahia em 1679 como desembargador, sendo nomeado, em 1692, tesoureiro-mor da Sé por Dom Pedro II. Foi destituído de ambos os cargos por não usar batina e por não aceitar ordens de seus superiores pelo arcebispo Frei João da Madre de Deus. Em função disso, dedicou-se à escrita de poemas satíricos, em que criticava os costumes da época. Devido à sua má fama e aos inimigos que arranjou (entre eles o próprio governador), Gregório de Matos foi deportado para Angola. Todavia, em função dos seus préstimos a D. João de Lencastre, governador da Bahia, após auxiliar no combate a uma conspirata militar, Gregório foi autorizado a retornar ao Brasil, sem, no entanto, voltar à Bahia. O poeta acabou por morrer em Recife, em 1696, devido a uma febre adquirida em Angola. Gregório é conhecido como um poeta maldito, dadas as críticas que fazia à Igreja e aos poemas pornográficos que escreveu, o que lhe garantiu o apelido de Boca do Inferno. Entretanto, os seus biógrafos apontam para a expressão de culpa e de arrependimento em seus últimos sonetos, escritos no leito de morte, em especial no A Cristo N. S. crucificado. Leia o poema: 29 O soneto guarda vários traços estéticos do Barroco. Primeiramente, tem- se a dimensão religiosa, que sustenta a visão da dependência do homem frente a Deus e a crença no perdão divino. Ainda, tem-se a presença de anomias como vida/morte, pecado/perdão, humano/divino e finito/infinito, assim como o jogo retórico criado pelo sujeito lírico (um malabarismo verbal): o amor do cristo é infinito, o seu pecado, por maior que seja, é finito e menor que o amor do Pai; logo, dada a finitude dos seus pecados e a infinitude do amor de Deus, o eu-lírico acredita em sua salvação. 6.3 Sermão da Sexagésima, de António Vieira António Vieira (ou Antônio Vieira, na grafia portuguesa ou brasileira) é o maior expoente da oratória barroca brasileira e portuguesa. Nascido em Lisboa, no ano de 1608, e falecido em Salvador, em 1697, Vieira foi um religioso, filósofo, 30 orador, escritor e gramático jesuíta. A sua obra é marcada pela catequização dos indígenas brasileiros e pelas suas atitudes de proteção aos povos originários, ao combater a sua escravização e extermínio. De igual modo, defendeu os judeus e a extinção da diferenciação entre os cristãos velhos (católicos tradicionais) e novos cristãos (aqueles convertidos à fé católica). Defendeu ainda a abolição da escravatura dos povos negros e foi crítico severo da Inquisição, do clero corrupto e da sociedade burguesa do Brasil. Na literatura colonial, os sermões de António Vieira conformam as principais contribuições luso-brasileiras ao Barroco. Entre seus textos, são mais comentados o Sermão da Sexagésima, o Sermão de Santo Antônio aos peixes e o Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda. Respectivamente, os sermões possuem como temática a arte retórica da pregação, a crítica à escravização dos indígenas e à burguesia maranhense e, por fim, a invasão holandesa no nordeste brasileiro em 1640, em que Vieira toma partido a favor de Portugal e contra os holandeses protestantes. Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que «saiu o pregador evangélico a semear» a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus. Não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. O Mundo, aos que lavrais com ele, nem vos satisfaz o que dispendeis, nem vos paga o que andais. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus até o sair é semear, porque também das passadas colhe fruto. Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiit seminare. (VIEIRA, [2018?], p. 1). Esse sermão, proferido na Capela Real de Lisboa em 1655, baseia-se na passagem bíblica do calendário litúrgico, que era Semen est verbum Dei (S. Lucas, VIII, 2), ou, em tradução livre, A semente é a palavra de Deus. No parágrafo que você acabou de ler (o segundo da obra), Vieira emprega a estética barroca ao fazer da parábola do semeador uma metáfora para as missões 31 catequistas e ao comparar os missionários aos trabalhadores que semeavam a palavra de Deus. Assim, é desvelada a estética barroca entre a prosa sacra, em que a preocupação do locutor se centra no conteúdo (conceptismo) e na persuasão do ouvinte. Outra característica barroca presente no parágrafo é o malabarismo verbal de refletir sobre o poder e o impacto da pregação da palavra de Deus ao realizar um sermão. Seguindo a temática bíblica, Vieira (2018) inverteu em pergunta: “Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus? ”. Em resposta a essa pergunta, o jesuíta faz uso de duas alegorias. Primeiro, para que uma alma se converta, é necessário que o pregador apresente a doutrina e persuada o ouvinte, que o ouvinte compreenda a mensagem e que Deus permita o entendimento. Segundo, para que o homem se veja, é necessário que tenha olhos para enxergar, que tenha um espelho para refletir a sua própria imagem, e luz para iluminar o ambiente de forma que ele se veja. O orador faz um paralelo entre os olhos e o ouvinte que deve compreender a doutrina, tendo para isso o pregador como espelho de virtudes e de aplicação prática da palavra de Deus, ao passo que Deus é a luz que ilumina o homem e permite que ele veja a si mesmo a partir do espelho, que é o pregador. Centrando-se sobre a prática proselitista da catequese e refletindo sobre a culpa de haver poucos frutos, Vieira (2018) afirma que a culpa não é de Deus, pautando-se na “[...] proposição[...] de fé, definida no Concílio Tridentino [...]”, que deu início à Contrarreforma. Sendo Deus inocentado, a culpa cabe ou ao pregador, ou ao ouvinte. Usando a parábola evangélica do semeador que semeia trigo, Vieira (2018) compara uma vez mais o pregador à figura daquele que semeia, ao passo que os lugares em que este semeia, entre os espinhos e as pedras, são os ouvintes: os maus ouvintes que anseiam somente por elogios e aqueles ouvintes que têm o coração endurecido para receber a palavra de Deus. Vieira (2018?), encaminhando-se para a conclusão de seu raciocínio, diz que o semeador poderia livrar-se dos espinhos e das pedras para dar espaço às sementes que germinariam no bom solo. Porém, isso não é necessário, uma vez que “virá tempo em que as mesmas pedras o aclamem [ao Cristo] e esses 32 mesmos espinhos o coroem”. Os ouvintes também são livrados de toda a culpa. A culpa, então, segundo Vieira (2018), é “culpa nossa”, dos pregadores, que fazem discursos vazios e hipócritas, cuja lógica é a do “Fazei o que eu digo, mas não o que eu faço”. Assim, o Sermão da Sexagésima é, em termos de metalinguagem, a materialização da retórica barroca buscada pela Contrarreforma, que se centra na necessidade de rever a forma como os sacerdotes da Igreja doutrinam os fiéis e na urgência de moralizar o clero. 7 ARCADISMO CONTEXTO HISTÓRICO Fonte: www.gestaoeducacional.com.br O Arcadismo foi um movimento literário europeu do século XVIII. Caracteriza-se pela retomada de temas antigos greco-latinos e uma ênfase nas descrições pastorais da natureza. O nome desta escola estética refere-se à Arcádia, que é uma área rural na Grécia antiga, habitada por pastores e poetas. O século XVIII também é considerado como o século das luzes ou da filosofia. Foi nesse período que ocorreu o Iluminismo, movimento de ideias que deu origem a ideias de revolução, liberalismo, cidadania, direitos humanos etc., e promoveu a busca de conhecimento em diferentes campos. Os pensadores iluministas foram fundados no princípio da razão: a razão humana deve guiar o 33 desenvolvimento da ciência, da política e da vida cotidiana das pessoas, iluminando-as do obscurantismo ignorante. A motivação do pensamento iluminista atingiu o pico na Revolução Americana de 1776 e na Revolução Francesa de 1789, correspondendo à ruptura final com o absolutismo e a emergência do governo constitucional, com o envolvimento da população. Aqueles que outrora eram apenas vassalos, tornaram-se cidadãos de direitos. O Iluminismo foi o principal motor da revolução burguesa, que por sua vez trouxe um novo paradigma ao modo de vida europeu. Com o aparecimento dessa nova classe social deu-se então, origem às Arcádias, uma sociedade literária dedicada a inserir obras escritas nessa nova ordem social, determinando assim padrões estéticos ideais. 8 CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO Fonte: slideplayer.com.br Ainda que tenha surgido durante um momento de divisão e muito alvoroço político e intelectual, os autores escreveram textos moderados com uma linguagem clara e simples, com o intuito de equilibrar e restaurar a obscuridade causada pelo Barroco, o Arcadismo empregou a pastorícia, temas pastoris e 34 componentes da natureza. Era comum os poetas da Arcádia assinarem seus versos com nomes de pastores gregos e romanos sob pseudônimos. De fato, temas e estilos greco-latinos, são comuns, seja pelo uso de formas poéticas helenísticas (odes, epopeias, canções, etc.), ou, por elementos que que formam o imaginário da Grécia Antiga, por esta razão que o arcadismo também é conhecido como Neoclassicismo, ou seja, a recuperação de elementos do Clássicos. Como se pode ver os principais temas árcades são sintetizados em expressões latinas universais na época: Carpe Diem: Segundo esse preceito, é necessário aproveitar o presente para contemplar a realidade, sem se preocupar com o futuro. Fugere urbem, ou seja, “fuga da cidade”. A ordem natural dos ciclos da terra e do fluxo das águas devolve o equilíbrio do espírito humano. Locus amoenus, “local ameno”, para onde o poeta deve dirigir-se. Aurea mediocritas, “o meio-termo é de ouro”: em oposição aos excessos do barroco, o arcadismo procura o equilíbrio. Inutilia truncat, “eliminar o supérfluo”: a linguagem deve ser simples, objetiva, clara e racional, sem adornos. 35 9 PRINCIPAIS AUTORES DO ARCADISMO Fonte: todoestudo.com.br 9.1 Manuel Maria Barbosa du Bocage Nascido em Setúbal, Portugal, em 1765, Bocage é tido como um dos mais consideráveis autores do arcadismo português. Além de autor era marinheiro, aos 21 após ser promovido a tenente, ele renunciou ao cargo. Viveu em Macau até 1790 quando regressou a Portugal para integrar a Segunda Arcádia Portuguesa, sob o pseudónimo de Elmano Sadino. Em 1797, ele foi preso pela Inquisição por produzir conteúdo antiabsolutista e por profanar os versos “Pavorosa Ilusão da Eternidade”. Durante sua prisão, traduziu obras de poetas latinos e franceses. Ele foi absolvido somente quando se mostrou conformado com os costumes morais e religiosas da época. Ele continuou seu trabalho de tradução e escrita até sua morte em Lisboa em 1805. O trabalho de Bocage é dividido em duas etapas. Sendo a primeira formada por temas satíricos, repletos de humor erótico e profano. A segunda se dá ao período lírico, quando adotou o procedimento literário do arcadismo, equivalente ao principal nome da poesia portuguesa. 36 Bocage, tinha uma preferência por poesias com temas de amor e desilusões amorosas, repleta de drama existencial, cenas noturnas, uma apreciação pelo místico e um certo sentimentalismo que transcende as convenções árcades. Portanto, ele também é considerado um escritor pré- romântico. Exemplo de poema de Bocage Olha Marília, as flautas dos pastores, Que bem que soam, como são cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes Os Zéfiros* brincar por entre as flores? Vê como ali, beijando-se, os Amores Incitam nossos ósculos ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes As vagas borboletas de mil cores! Naquele arbusto o rouxinol suspira; Ora nas folhas a abelhinha pára. Ora nos ares sussurrando, gira. Que alegre campo! Que manhã tão clara! Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira, Mais tristeza que a morte me causara. (Zéfiro é um deus grego que personifica o vento oeste.) 37 9.2 José Basílio da Gama Basílio da Gama nasceu em São José do Rio das Mortes, atual Tiradentes (MG), em 1741. Estudou no Colégio dos Jesuítas, no Rio de Janeiro, até que Marquês de Pombal, expulsou os padres jesuítas do Brasil. Tempos depois, foi para a Itália e ingressou à Arcádia Romana, assinando sob o pseudônimo de Termindo Sipílio. Quando estava em Portugal, foi preso e acusado de ser apoiador da Companhia de Jesus. Até que mudou de opinião na prisão e tornou-se pombalino. Chegando a ser membro da Academia das Ciências de Lisboa e faleceu em 1795. A obra mais contemplada de Basílio da Gama é a epopeia O Uraguai, em que se refere não às cenas bucólicas comuns do arcadismo, mas trata-se de uma batalha. Os Sete Povos das Missões, indígenas comandados por padres jesuítas contra o Tratado de Madrid assinado em 1750. Foram então massacrados pelas tropas portuguesas e espanholas. A obra prevê a imagem dos índios heroicos, elemento que apareceria na fase indianista do romantismo brasileiro. No entanto, o tom do poema é contra os jesuítas: dedicado ao irmão do Marquês de Pombal, os versos iniciais já mostram que os verdadeiros heróis da epopeia de Basílio da Gama são os europeus: Trechos de O Uraguai 38 Fumam ainda nas desertas praias Lagos de sangue tépidos e impuros Em que ondeiam cadáveres despidos, Pasto de corvos. Dura inda nos vales O roucosom da irada artilheria. MUSA, honremos o Herói que o povo rude Subjugou do Uraguai, e no seu sangue Dos decretos reais lavou a afronta. [...] No canto terceiro, Cacambo, um dos guerreiros indígenas, conversa com o fantasma de Sepé e ateia fogo na mata para atrasar o avanço das tropas portuguesas e espanholas: Canto III [...] Só na outra margem não podia entanto O inquieto Cacambo achar sossego. No perturbado interrompido sono (Talvez fosse ilusão) se lhe apresenta A triste imagem de Sepé despido, Pintado o rosto do temor da morte, Banhado em negro sangue, que corria Do peito aberto, e nos pisados braços Inda os sinais da mísera caída. 39 9.3 Cláudio Manuel da Costa Claudio Manuel da Costa nasceu em 1729 em Mariana (MG), que antes, se chamava Ribeirão do Carmo, estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro e depois se formou em Direito pela Universidade de Coimbra. De volta ao Brasil, trabalhou como advogado em Vila Rica (atual Ouro Preto (MG)). Mais tarde, tomou posse do cargo público de Secretário de Governo da Capitania. Motivado pelas ideologias do Iluminismo, participou do movimento da Inconfidência Mineira e foi preso no auge do levante. Em 4 de julho de 1789, ele foi achado morto por enforcamento em sua cela. Claudio Manuel da Costa assinava seus versos sob o pseudônimo de Glauceste Satúrnio. Ainda que se diga que há resquícios do Barroco em suas obras, os preceitos de Arcádia estão claramente em suas poesias. Exemplo de poema de Cláudio Manuel da Costa: XCVIII Destes penhascos fez a natureza O berço em que nasci: oh! quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza! Amor, que vence os tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra o meu coração guerra tão rara, Que não me foi bastante a fortaleza. Por mais que eu mesmo conhecesse o dano, A que dava ocasião minha brandura, Nunca pude fugir ao cego engano: Vós, que ostentais a condição mais dura, Temei, penhas, temeis, que Amor tirano, Onde há mais resistência, mais se apura. 40 9.4 Tomás Antônio Gonzaga Nasceu em Portugal na cidade do Porto, em 1744, sendo filho de pai brasileiro. Veio para o Brasil aos sete anos, teve como mestre os jesuítas na Bahia. Regressou a Portugal para estudar Direito na Universidade de Coimbra. Retornando ao Brasil em 1782, tornando-se Ouvidor de Vila Rica (atual Ouro Preto – MG) e se apaixonou por Maria Doroteia de Seixas (pseudônimo Marília), de 17 anos, a quem dedicou a maior parte de sua obra. No entanto, ele nunca se casou com a jovem. Ele foi acusado de envolvimento na Inconfidência Mineira, preso e levado para a Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Foi deportado para Moçambique em 1792, onde residiu até à sua morte em 1810. Tomás Antônio Gonzaga é mais conhecido pelos versos dedicados a Marília, e ele teve como pseudônimo Dirceu. Os poemas são de caráter pré- romântico, com um tom pessoal livre de traços neoclássicos. Exemplo de poema de Tomás Antônio Gonzaga. 41 Lira I Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Eu vi o meu semblante numa fonte, Dos anos inda não está cortado: Os pastores, que habitam este monte, Respeitam o poder do meu cajado. Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja até me tem o próprio Alceste: Ao som dela concerto a voz celeste; Nem canto letra, que não seja minha, Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Mas tendo tantos dotes da ventura, Só apreço lhes dou, gentil Pastora, Depois que teu afeto me segura, Que queres do que tenho ser senhora. É bom, minha Marília, é bom ser dono De um rebanho, que cubra monte, e prado; Porém, gentil Pastora, o teu agrado Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! [...] 42 9.5 Diferenças entre barroco e arcadismo O Arcadismo surgiu como uma escola estética oposta ao Barroco. Embora a poesia barroca tenha sido concebida no conflito da existência dual (carne e espírito-céu e terra-teocentrismo e antropocentrismo), na contradição da existência humana, o Arcadismo tentou reconstruir, à luz da razão, o equilíbrio da razão natural. Se os temas transversais do barroco eram o medo do efêmero, a ansiedade do fato de que tudo se transforma e se dissipa, o Arcadismo, por sua vez, abraça o eterno dever: pois tudo é instável e efêmero, por isso deve-se passar cada momento com calma e leveza. O barroco está associado ao misticismo cristão, com foco no pecado, inferno e redenção. O Arcadismo traz imagens do período clássico: deuses, ninfas, musas. Há também diferenças no uso da linguagem: a poesia barroca é hiperbólica, cheia de metáforas, exageros e refinamentos, enquanto os poetas árcades propõem finais simples, linguagem clara em seus versos. A palavra latina inutilia truncat significa "cortar o inútil", expressando o desejo dos acadianos de descartar o exagero (que consideravam inútil) para manter o equilíbrio do trabalho. A literatura árcade busca a beleza na simplicidade. Os autores usam vocabulário simples em seu trabalho, as palavras que as pessoas usam todos os dias. Além disso, as frases são escritas em ordem direta (sujeito e predicado. A literatura árcade geralmente não usam as palavras no sentido figurado, ou seja, usa o significado real das palavras para tornar o texto mais fácil de entender. Vale ressaltar que esses autores estão acostumados a usar pseudônimos, ou seja, usavam um nome falso em vez de seu próprio nome, por isso, eram chamados de “poetas fingidores”. 43 10 ARCADISMO NO BRASIL Fonte: gestaoeducacional.com.br De acordo com os estudos, o Arcadismo, foi efetivamente instaurado no Brasil por Cláudio Manuel da Costa, desenvolvendo-se em especial nas regiões auríferas que hoje correspondem ao estado de Minas Gerais. A maioria dos poetas da Arcádia moravam em Villa Rica, hoje Ouro Preto. Assim os preceitos estéticos do bucolismo Europeu e do Neoclassicismo começaram no Brasil. O arcadismo surgiu quando os brasileiros expressaram seu desejo de serem livres. Seus dois principais autores, Claudio Manuel da Costa e Tomas Antônio Gonzaga, estiveram entre os líderes Inconfidência Mineira que visava trazer o estado de Minas Gerais à independência de Portugal. Assim, o Arcadismo foi a última escola literária brasileira da época colonial. As escolas coloniais são Quinhentismo, Barroco e Arcadismo. Com o fim da era colonial, iniciou-se a era nacional, e seu primeiro gênero literário foi o Romantismo, surgido quatorze anos após a independência do nosso país. Poetas como Claudio Manuel da Costa e Thomas Antonio Gonzaga foram presos por envolvimento no movimento da Inconfidência Mineira, graças às ideias do Iluminismo que influenciaram diretamente o arcadismo no Brasil 44 Arcadismo no Brasil foi o movimento literário posterior ao Barroco e anterior ao Romantismo. Esse movimento também é conhecido como Neoclassicismo – devido à retomada dos valores gregos e romanos – ou Setecentismo, já que o estilo ocorreu no século XVII. Alguns autores árcades, inclusive, participaram da Inconfidência Mineira. Filosoficamente, o movimento aproxima-se das ideias do Iluminismo. Em termos de análise literária, é possível dizer que o Arcadismo brasileiro tem três manifestações diferentes: as obras líricas, as satíricas e as épicas. A vida no campo é um tema recorrente na obra do Arcadismo. Os personagens e o próprio ambiente servemde pano de fundo para o texto, em que a natureza é valorizada. Foi assim que os escritores árcades descobriram a forma para fugir da vida agitada da cidade. 11 CONTEXTO HISTÓRICO DO ARCADISMO Fonte: gestaoeducacional.com.br No período do Arcadismo, século XVIII, as ideias do Iluminismo se tornaram populares. O Iluminismo foi um movimento intelectual que retomou as ideias do século XVII do movimento cultural, econômico e político chamado 45 Renascimento. Tanto o Iluminismo como o Renascimento defendiam o uso da razão em detrimento do uso da fé. Assim, a escola literária recebeu, por exemplo, as influências de um momento em que a visão religiosa dava lugar à visão racional do conhecimento. É dessa época, a Revolução Francesa - que teve início no dia 17 de junho de 1789 - e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, assinada no dia 26 de agosto de 1789. Em Portugal, ocorria a reforma pombalina, que propunha uma série de transformações na sociedade portuguesa. Foi nesse momento da história que os jesuítas foram expulsos de Portugal e de suas colônias, e o ensino religioso foi abandonado. No Brasil, as ideias iluministas que apregoavam a liberdade influenciaram a Inconfidência Mineira e a Independência do Brasil. Os autores árcades, em geral, viveram na cidade de Vila Rica, onde hoje fica Ouro Preto (MG). Alguns desses escritores, inclusive, participaram da Inconfidência Mineira, movimento separatista que buscava desvincular a região brasileira da Coroa portuguesa. Assim como Tiradentes (o único dos envolvidos na Inconfidência Mineira a ser condenado à morte, tornando-se mártir posteriormente), os escritores foram presos após Joaquim Silvério dos Reis delatá-los. Como punição, Tomás Antônio Gonzaga foi exilado em Moçambique, e Cláudio Manuel da Costa, supostamente, suicidara-se na prisão. O suicídio é questionado por alguns críticos que sugerem que o autor foi, na verdade, assassinado. Assim, o Arcadismo é anterior ao Romantismo, sendo a última escola literária da era colonial. As escolas da era colonial são: Quinhentismo, Barroco e Arcadismo. O Romantismo, por sua vez, surge no nosso país quatorze anos depois da Independência do País, dando início às escolas literárias da era nacional. As escolas da era nacional são: Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-modernismo, Modernismo e Pós-modernismo. 46 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGNOLIN, Adone. Antropofagia ritual e identidade cultural entre os Tupinambá. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v. 45, n. 1, p. 131-185. 2002. ALMEIDA, Maria Cândida Ferreira de. Tornar-se o outro: o topos canibal na literatura brasileira. São Paulo: Annablume. 2002. AMIN, Samir. El eurocentrismo: crítica de uma ideologia. Cidade do México: Siglo Veintiuno, 1989. ANDRADE, Oswald de. 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