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W BA 07 29 _v 1. 0 PRINCÍPIOS LEAN W BA 07 29 _v 1. 1 PRINCÍPIOS LEAN 22 Yane Lobo Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Princípios Lean 1ª edição 33 3 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Carlos Eduardo d’Araujo Vilaça Lobo Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Lobo, Yane Ribeiro de Oliveira L799p Princípios lean/ Yane Ribeiro de Oliveira Lobo, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019. 103 p. ISBN 978-85-522-1529-5 1. Produção enxuta. 2. Desperdício (Economia). I. Lobo, Yane Ribeiro de Oliveira. Título. CDD 300 Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 44 SUMÁRIO Apresentação da disciplina 5 O Sistema Toyota de Gestão. Definição de propósitos e criação de valor 6 DNA da Toyota 23 Os 5 princípios do Lean Thinking (mentalidade enxuta) 41 Mapeamento de processos – Resolução de problemas e eliminação de desperdícios 58 Obstáculos comuns na implementação do Lean Office ou Lean Service 75 Ferramentas importantes. Fluxo e padronização do trabalho 96 Lean Six Sigma e DMAIC 117 PRINCÍPIOS LEAN 55 5 Apresentação da disciplina A disciplina Princípios Lean tem como principal objetivo apresentar o Sistema Toyota de Produção e a Mentalidade Enxuta. O primeiro tema trata de definir os propósitos do lean e seu principal ponto, o valor. O segundo tema apresenta o DNA da Toyota, suas quatro regras e os princípios utilizados para se obter uma mudança de cultura. O tema três apresenta os cinco princípios da Mentalidade Enxuta. A definição do valor, o fluxo, o fluxo contínuo, a produção puxada e a perfeição. Além disso, mostra o principal fator que se procura eliminar, o desperdício – MUDA. O tema quatro apresenta a ferramenta de mapeamento de processo. Esta ferramenta auxilia na visão do processo e do fluxo de informação. Com isso, auxilia na resolução dos problemas e na eliminação do desperdício. O tema cinco trata da aplicação do lean em serviços e processos administrativos. O tema seis apresenta a importância do fluxo para a mentalidade enxuta, bem como a padronização do trabalho. Por fim, apresenta-se a união de duas metodologias que ajudam na solução de problemas, o lean e o six sigma. 666 O Sistema Toyota de Gestão. Definição de propósitos e criação de valor Autora: Yane Lobo Objetivos • Apresentar a visão de valor para o Lean; • Apresentar o sistema de gestão do dia a dia pelo Lean; • Apresentar o Toyota Way. 77 7 1. Introdução Este tema tem como objetivo explorar o conceito de valor na metodologia Lean. Este conceito é o início, ou seja, é o ponto de partida para aplicação desta metodologia. Logo, a visão de valor para o Lean deve ser bem definida. Conhecendo-se o conceito de valor, será discutida como é realizada a gestão do processo que entrega este valor para o cliente, no dia a dia. Por fim, será apresentado o Toyota Way, ou o modo Toyota de gestão do negócio. Serão apresentados seus pilares e princípios. 2. Visão de valor para o Lean O Pensamento Enxuto ou Lean Thinking possui cinco princípios. O primeiro destes cinco é o princípio relacionado ao valor entregue para o cliente. A seguir será apresentada a base do Pensamento Enxuto – o Sistema Toyota de Gestão. 2.1 O Sistema Toyota de Gestão O Sistema Toyota de Produção ou Gestão foi desenvolvido pela Toyota entre os anos de 1947 e 1975, por Taiichi Ohno. Ohno procurou orientar a fábrica da Toyota para reduzir ao máximo o tempo entre a colocação do pedido pelo cliente e o faturamento (OHNO, 1988). Esta orientação levou Ohno ao conceito de desperdício. No Pensamento Enxuto, a busca pela eliminação ou redução do desperdício é constante. Porém, embora este sistema fosse estudado, ele só ganhou notoriedade depois do livro A máquina que mudou o mundo (WOMACK e JONES, 2004), quando foi cunhado o termo Lean Manufacturing – Produção Enxuta. Este livro apresenta um grande benchmark feito pela universidade do MIT 88 dentre diversas montadoras de automóveis ao redor do mundo. Como era o desempenho destas montadoras em seus respectivos países de origem e no exterior. Quando produziam veículos de luxo ou quando se tratava de um modelo popular. Assim, através desta comparação foi mostrado como o jeito dos japoneses ultrapassou o restante do mundo em termos de qualidade e custos. O Lean Thinking (Pensamento Enxuto) possui cinco princípios. São eles: • Valor. Esse é o ponto de partida, a definição do valor. Esta pode parecer uma tarefa simples, mas não é. • Fluxo de Valor. Após identificar o valor, precisa ser definido como este valor flui através da empresa. • Fluxo Contínuo. Conhecendo o fluxo, deverá ser criado um processo onde este valor flua de forma contínua, ou seja, sem interrupção. Isso faz com que a empresa atenda às necessidades dos seus clientes com maior rapidez e baixo estoque. • Produção Puxada. Neste ponto, a empresa já está preparada para produzir ou executar apenas o que o cliente quer e quando ele quer. • Perfeição. É a busca pela melhoria contínua dos processos, pessoas e produtos. Este ciclo se repete de maneira contínua. ASSIMILE Para asimiliar ainda mais os conceitos do Sistema Toyota de Produção, você pode assistir ao vídeo “Conheça o TPS: Sistema Toyota de Produção no Youtube, disponível no canal Toyota do Brasil. 99 9 A seguir será visto como definir o valor para um produto ou serviço. 2.2 Criação de valor O valor é o ponto de partida para o Lean Thinking. Mas o que é valor? Valor é fazer o que o cliente está disposto a pagar. Nos sistemas tradicionais de gestão, o foco é o lucro. E, algumas vezes, este lucro vem em detrimento da satisfação das necessidades dos clientes. Lembrando que lucro é faturamento menos gastos (custo e despesa), o Pensamento Enxuto busca aumentar o lucro pela redução dos custos, dos desperdícios, e assim agregar mais valor ao produto ou serviço. Então, como é possível saber quais são as atividades que agregam ou não valor para o seu cliente? As atividades que agregam valor são as que transformam materiais ou informações em produtos ou serviços que o usuário deseja. Todas as outras atividades não agregam valor. Porém, dentre estas atividades que não agregam valor existem atividades que são necessárias ao negócio. Estas atividades necessárias são chamadas de atividades requeridas. O restante das atividades são atividades que não agregam valor, ou seja, são desperdício. Na maioria das empresas, a distribuição das atividades é similar ao gráfico da figura 1. Pode-se observar que uma boa parte das atividades não agregam valor, logo, são estas que precisam ser estudadas. Isto porque com a redução dos desperdícios destas atividades é possível aumentar o lucro. 1010 Figura 1 – Distribuição das atividades Fonte:elaborada pela autora. Outro ponto importante sobre o valor é quem o define – o cliente. Para o cliente, o que tem valor é o que ele estará disposto a pagar e o restante é desperdício, logo deve ser eliminado ou pelo menos reduzido. O valor é algo dinâmico, pois as necessidades dos clientes variam conforme o tempo. Por isso, é necessário fazer estudos frequentes para eliminar ou reduzir desperdícios. 3. Gestão do dia a dia Uma coisa muito importante é a gestão da entrega deste valor. Esta gestão deve ser realizada no dia a dia. Esta rotina de gestão do dia a dia está apresentada em detalhes no livro do Mann, Creating a lean culture: tools to sustain lean conversions (MANN, 2014). Ele apresenta a importância de se operar conforme o esperado no sistema lean. Não se 1111 11 trata de aplicar somente as ferramentas, mas da excelência na operação. Ele ainda fala que a cultura é o resultado direto do sistema de gestão da empresa. Para ele, a cultura não é aprendida em treinamentos, mas sim no dia a dia. Logo, ele propõe uma rotina de reuniões de gestão do dia a dia para que as pessoas possam adquirir bons hábitos e alcançar as metas traçadas. As três figuras a seguir apresentam a gestão do dia a dia. Figura 2 – Gestão do dia a dia Fonte: Lobo, 2019. A gestão do dia a dia deve ser realizada de maneira bottom-up, ou seja, de baixo para cima. Por exemplo, primeiro uma reunião dos líderes com os operadores, depois dos gerentes com os líderes e, finalmente, dos diretores com os seus gerentes. Conforme mostra a figura 3. 1212 Figura 3 – Rotina de Reuniões de Gestão Fonte: Lobo, 2019. A figura 4 apresenta um exemplo da agenda de uma reunião de rotina. Esta reunião deve ser estruturada. Este exemplo é de uma reunião de rotina no nível da gerência. 1313 13 Figura 4 – Exemplo de agenda de reunião de rotina Fonte: Lobo, 2019. PARA SABER MAIS Para conhecer mais sobre a gestão do dia a dia, você pode consultar o site http://www.dmannlean.com, onde David Mann apresenta como criar uma cultura lean. 4. Toyota Way Toyota Way é o modelo utilizado pela Toyota para aplicar os princípios do Sistema Toyota de Produção. É a base da cultura da marca. Este modelo tem como base dois pilares, a melhoria contínua e o respeito pelas pessoas, conforme apresentado na figura 5. http://www.dmannlean.com 1414 Figura 5 – Toyota Way – Pilares Fonte: <https://www.toyota.pt/world-of-toyota/toyota-no-mundo/ the-toyota-way.json>. Acesso em: 28 abr. 2019. O pilar melhoria contínua constitui-se de alguns princípios. São eles: • Desafio. O desafio é a construção de uma visão de longo prazo. • Kaizen. Esta ferramenta é utilizada para melhorar a operação do negócio continuadamente, procurando a inovação. • Genchi Genbutsu. Esta prática é a procura dos fatos para poder tomar a decisão correta. Com fatos é mais fácil tomar uma decisão por consenso e atingir as metas no menor tempo possível. Já o pilar respeito pelas pessoas utiliza dois princípios. São eles: • Respeito. Respeitar os outros, empatia, esforço para entender a necessidade dos outros e responsabilidade por fazer o melhor. • Trabalho em equipe. Estimular o crescimento pessoal e profissional, compartilhar oportunidades e maximizar desempenho. Liker (2005) desenvolveu um modelo para ajudar a entender o Toyota Way. Ele apresentou o modelo dos 4 Ps: Philosophy (filosofia), Process (processo), People and Partners (pessoas e parceiros) e Problem Solving (solução de problemas). Ele mostra como cada princípio do Lean se encaixa em cada P, conforme figura 6. https://www.toyota.pt/world-of-toyota/toyota-no-mundo/ the-toyota-way.json https://www.toyota.pt/world-of-toyota/toyota-no-mundo/ the-toyota-way.json 1515 15 Figura 6 – Modelo dos 4 Ps Fonte: elaborada pela autora. Ele ainda cita catorze princípios do Toyota Way (LIKER, 2005). Estes princípios serão apresentados a seguir. 4.1 Primeiro princípio Tome decisões pensando sempre no longo prazo, mesmo que a curto prazo os gastos possam ser maiores. Pois é importante pensar a longo prazo. 4.2 Segundo princípio Crie fluxo para todos os processos, pois assim aparecerão os reais desperdícios a serem continuamente eliminados. A procura por fluxo contínuo traz os problemas para as vistas de todos. 4.3 Terceiro princípio Utilize sistemas puxados pela demanda, através do kanban, por exemplo, para evitar a superprodução. 1616 4.4 Quarto princípio Nivele os volumes de produção produzindo sempre próximo a uma quantidade média, para que se evitem assim os desperdícios de ociosidade e sobrecarga quando as demandas oscilaram. 4.5 Quinto princípio Construa uma cultura de parar a produção e resolver o problema raiz no exato momento da sua ocorrência, para que se tenha qualidade desde o início de cada etapa ou operação do processo produtivo. 4.6 Sexto princípio Padronize os processos e tarefas, aumentando a segurança e autonomia dos colaboradores durante o dia a dia, constituindo assim a base para sua melhoria contínua. 4.7 Sétimo princípio Pratique o 5S e utilize controles visuais que facilmente sejam visualizados e compreendidos por qualquer pessoa, sem que haja a necessidade de se fazer perguntas. 4.8 Oitavo princípio Use somente tecnologias confiáveis e eficazes em seus processos. A tecnologia deve ser puxada pela produção e não empurrada por ela. Os impactos de utilização de uma nova tecnologia devem ser analisados. A operação precisa de estabilidade. A estabilidade de processo vem do uso de tecnologias plenamente conhecidas. Já a estabilidade de programação vem do nivelamento da produção – Quarto princípio. 1717 17 4.9 Nono princípio Faça com que seus líderes conheçam, compreendam e vivam essa metodologia, ensinando e servindo de exemplo aos demais, pois só assim tais princípios se transformarão em cultura. 4.10 Décimo princípio Invista no desenvolvimento de seus colaboradores e forme pequenas equipes em todos os níveis, pois o sucesso é baseado no conjunto e não no indivíduo. 4.11 Décimo Primeiro princípio Cuide do relacionamento com seus fornecedores e parceiros como se fossem seus próprios colaboradores, oferecendo desafios e auxiliando- os no seu desenvolvimento. Ensine o Toyota Way para eles. 4.12 Décimo Segundo princípio Vá e veja você mesmo para compreender por completo como funcionam os processos, pois só assim é possível mensurar o que deve ser melhorado. Dados são bons, mas não podemos esquecer a realidade. 4.13 Décimo Terceiro princípio Tome decisões sem pressa, por consenso, considerando todas as opções possíveis e, assim feito, implemente-as rapidamente. Claramente, este não é somente o estilo de ser da Toyota. O japonês em geral busca sempre o consenso. 4.14 Décimo Quarto princípio Aprenda coisas novas todos os dias e faça reflexões sobre suas dificuldades e falhas, buscando sempre fazer melhor e melhore sempre. 1818 5. Conclusão Resumindo tudo o que foi dito, tem-se a Casa do Sistema Toyota de Produção, conforme mostrado na figura 7. Figura 7 – Casa do Sistema Toyota de Produção Fonte: elaborada pela autora. Os cinco princípios do pensamento enxuto estão contemplados nesta casa. Além destes, também está contemplado o Toyota Way. TEORIA EM PRÁTICA Considere a seguinte situação. Uma empresa de ração animal possui três fábricas, uma em Fortaleza, outra no interior do Paraná e outra no interior do Rio Grande do Sul. 1919 19 Esta empresa possui três sócios fundadores, onde cada um cuida de uma área – Operações, Desenvolvimento de Novos Produtos e Comercial. Os sócios ficam localizados na matriz da empresa em São Paulo. Dada a especialidade de cada um dos sócios, eles têm bastante dificuldade de comunicação – não só dentre eles, mas deles com a empresa em geral. E isso se reflete nas unidades como um todo. Normalmente, as ingerências dos sócios nas unidades de produção, por um motivo ou outro, acabam gerando perturbações na operação, que resulta improdutiva e provoca tensão nasequipes. Você foi contratado como consultor para ajudar os sócios. Por onde você deve começar? Quais os princípios do Toyota Way poderiam ser aplicados nesta empresa? Qual é o valor do produto desta empresa? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. O pilar melhoria contínua do Toyota Way utiliza algumas ferramentas. Analise as afirmativas a seguir. I. Desafio. O desafio é a construção de uma visão de longo prazo. II. Kaizen. Esta ferramenta é utilizada para melhorar a operação do negócio continuadamente, procurando inovação. III. Genchi Genbutsu. Esta prática é a procura dos fatos para poder tomar a decisão correta. Com os fatos é mais fácil tomar a decisão por consenso e atingir as metas no menor tempo possível. 2020 É correto o que se afirma em a. I, apenas. b. II, apenas. c. III, apenas. d. I e II, apenas. e. I, II e III. 2. O Toyota Way possui 14 princípios. Analise as afirmativas e julgue (V) para verdadeiro e (F) falso. ( ) Faça com que seus líderes conheçam, compreendam e vivam essa filosofia ensinando e servindo de exemplo aos demais, pois só assim tais princípios se transformarão em cultura. ( ) Invista no desenvolvimento de seus colaboradores e forme pequenas equipes em todos os níveis, pois o sucesso é baseado no conjunto e não no indivíduo. ( ) Cuide do relacionamento com seus fornecedores e parceiros como se fossem seus próprios colaboradores, oferecendo desafios e auxiliando os no seu desenvolvimento. Ensine o Toyota Way para eles. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA. a. F – V – F. b. V – F – V. c. F – F – F. d. V – V – V. e. V – V – F. 2121 21 3. O Pensamento Enxuto possui dois pilares. São eles: a. Just-In-Time e Jidoka. b. Kanban e Kaizen. c. Kanban e Just-In-Time. d. Jidoka e Kaizen. e. Produção Puxada e Fluxo. Referências bibliográficas LIKER, Jeffrey K. The toyota way. Cidade da editora: Esensi, 2005. LOBO, Carlos. Introdução às Metodologias Ágeis. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. MANN, David. Creating a lean culture: tools to sustain lean conversions. New York: Productivity Press, 2014. OHNO, Taiichi. Toyota production system: beyond large-scale production. Flórida: Crc Press, 1988. WOMACK, James P.; JONES, Daniel T. A máquina que mudou o mundo. Texas: Gulf Professional Publishing, 2004. Gabarito Questão 1 – Resposta E I – Desafio. O desafio é a construção de uma visão de longo prazo. CORRETO. II – Kaizen. Esta ferramenta é utilizada para melhorar a operação do negócio continuadamente, procurando inovação. CORRETO. 2222 III – Genchi Genbutsu. Esta prática é a procura dos fatos para poder tomar a decisão correta. Com os fatos é mais fácil tomar a decisão por consenso e atingir as metas no menor tempo possível. CORRETO. Questão 2 – Resposta D (V) Faça com que seus líderes conheçam, compreendam e vivam essa filosofia ensinando e servindo de exemplo aos demais, pois só assim tais princípios se transformarão em cultura. (V) Invista no desenvolvimento de seus colaboradores e forme pequenas equipes em todos os níveis, pois o sucesso é baseado no conjunto e não no indivíduo. (V) Cuide do relacionamento com seus fornecedores e parceiros como se fossem seus próprios colaboradores, oferecendo desafios e auxiliando-os no seu desenvolvimento. Ensine o Toyota Way para eles. Questão 3 – Resposta A Conforme pode ser observado na figura, os pilares do Pensamento Enxuto são o Just-In-Time e o Jidoka. O diagrama que sintetiza tal explicação pode ser visto na seção “Conclusões”. 2323 23 DNA da Toyota Autora: Yane Lobo Objetivos • Apresentar o DNA Toyota. • Apresentar as 4 Regras do DNA Toyota. • Discutir como ocorre o aprendizado no Sistema Toyota. 2424 1. Introdução Este tema tem como objetivo apresentar o DNA da Toyota, descrito por Steven Spear no artigo “Decodificando o DNA da Toyota”, ou seja, como o Sistema Toyota de Produção permeia a cultura da empresa. Em seguida serão apresentadas as quatro regras que a Toyota utiliza para projetar atividades e fluxos rigidamente padronizados e ao mesmo tempo ter operações altamente flexíveis e adaptáveis. Além disso, na Toyota, todos os colaboradores, de todos os níveis da organização, aprendem e fazem melhorias de acordo com o método científico para estabelecer as operações como experimentos. 2. DNA Toyota O modelo da Toyota as vezes não consegue ser aplicado em qualquer empresa. Por que isso acontece? Suas práticas ou ferrramentas diferenciadas não foram amplamente aplicadas em toda parte? Sim, foram. As empresas foram cobradas, pelo mercado ou seus acionistas, para terem um alto desempenho e procuraram desenvolver sistemas semelhantes ao da Toyota. Porém, poucas conseguiram. A partir daí, muitas empresas passaram a assumir que o segredo da Toyota era suas raízes culturais, e por isso não conseguiam aplicar este sistema em culturas diferentes. Entretanto, isso não é verdade. Existem empresas japonesas que também não conseguem atingir os padrões da Toyota. E há empresas ocidentais que conseguiram. E acima de tudo existiu a NUMMI. A NUMMI foi joint-venture entre Toyota e GM, que existiu entre 1990 e 2008. Na época, a GM queria aprender mais sobre o modelo de produção da Toyota e, por sua vez, esta queria um parceiro para poder aprender 2525 25 a operar nos US. A GM forneceu a fábrica e os operadores. A Toyota entrou com a gestão – pessoal e método. A fábrica – que ficava na Califórnia, era a pior de todo o grupo GM. Na verdade, havia sido fechada algum tempo antes devido ao mau desempenho. O resultado foi um recorde de produtividade e qualidade que, mesmo dentro do grupo Toyota fora do Japão, demorou para ser batido! (SHOOK, 2010). Então, por que será tão difícil replicar o Sistema Toyota de Produção? Talvez seja porque as empresas aplicam ferramentas e práticas e não o sistema como um todo. Na Toyota, as atividades, as conexões e os fluxos de produção são rigidamente padronizados, ao mesmo tempo em que as operações são altamente flexíveis e adaptáveis (BOWEN & SPEARS, 1999). Para entender melhor o sucesso da Toyota, deve-se desvendar este paradoxo – atividades padronizadas, com especificações rígidas e flexibilidade nas operações para desenvolver melhorias. Para fazer qualquer mudança, a Toyota aplica um rigoroso processo de resolução de problemas. Isto implica em um mapeamento meticuloso do estado atual e um plano ou mapeamento das melhorias ou do estado futuro. Além disso, esse plano é testado em um piloto antes de ser assumido como novo padrão. Além disso, é importante reforçar que apesar do método científico estar enraizado na Toyota, a especificação e estruturação não tira a vontade das pessoas de se engajarem na experimentação continuada. Isto é o que distingue a Toyota das outras empresas. O artigo do Bowen & Spears (1999) apresenta quatro princípios ou regras para projetar operações como experimentos, como desenvolver melhoria e ainda ensinar o método científico para os colaboradores de todos os níveis da organização. 2626 ASSIMILE Para se aprofundar neste tema, consulte o artigo Decodificando o DNA do Sistema Toyota de Produção da Harvard Business Review. SPEAR, Steven; BOWEN, H. Kent. Decodificando o DNA do Sistema Toyota de Produção. Harvard Business Review, p. 97-106, 1999. 3. As quatro regras da excelência As quatro regras da Excelência aplicadas no Sistema Toyota de Produção estão apresentadas na figura 1. Figura 1 – Quatro Regras da Excelência Fonte: elaborada pela autora. 3.1 Regra 1 A Regra número 1 diz que todo o trabalho – todas as tarefas - deve ser altamente especificado em relação ao conteúdo, sequência, tempo e resultado desejado. 2727 27 Para isso, a pessoa que irá realizar aquela tarefa deve estar capacitada para tal. Sendo esperado que ela seja capaz de diagnosticar se o resultado do trabalho está de acordo com os padrões pré-estabelecidos. Assim, todo trabalho deve ser testado imediatamente após a suaconclusão. Isso ajuda a pessoa que está realizando a tarefa a detectar qualquer problema. Atender à Regra 1 implica em responder às seguintes perguntas: • Como se faz esta atividade? • Como saber se está fazendo corretamente a tarefa? • Como saber se o resultado é o esperado? • Se o resultado não for o esperado, como encontrar o problema? O fluxo ideal de realização das tarefas está apresentado na figura 2. Figura 2 – Fluxo ideal das tarefas Fonte: elaborada pela autora. Os colaboradores da Toyota sabem que os males estão nos detalhes. Logo, eles sabem que precisam garantir que todas as tarefas aconteçam conforme o especificado em termos de conteúdo, sequência, tempo e resultado. Esta padronização, na Toyota, acontece tanto na produção como em todas as atividades da empresa. A exigência de padronização é feita para todas as atividades. Na Toyota, os procedimentos estão especificados nos detalhes, pois qualquer variação pode se traduzir em qualidade inadequada, em 2828 produtividade baixa e, consequentemente, custos altos. As variações atrapalham o aprendizado e a melhoria contínua, pois elas mascaram a ligação entre a forma como a tarefa é executada e os resultados. Mesmo atividades mais complexas, como, por exemplo, um treinamento ou o desenvolvimento de um novo produto, são projetadas em conformidade com a regra número 1. Na Toyota, mais do que treinar seus funcionários a realizar seu trabalho de forma a obedecerem uma sequência minuciosa de etapas, esta regra reforça que é preciso testar as hipóteses através da ação. A realização de atividade testa duas hipóteses. 1. O colaborador executa a atividade e é capaz de executar corretamente. 2. A execução da atividade gera o resultado esperado. 3.2 Regra 2 A Regra 2 fala que toda a relação cliente-fornecedor deve ser direta, inequívoca no envio de solicitação e recebimento da resposta. Ou seja, deve ser do tipo binária - sim ou não. Esta regra trata da solicitação ou pedido do cliente. E o importante é esta solicitação sempre partir do cliente. E partindo do cliente, ela deve ter uma conexão direta com o fornecedor. E para facilitar a comunicação e evitar erros, esta deve ser binária e inequívoca. Como todas as atividades e tarefas são padronizadas, todo o restante fica bem definido. Por exemplo, quando se dá uma solicitação do cliente, as quantidades requeridas e o tempo de resposta já estão definidos. E caso aconteça algum problema, ele é detectado imediatamente e um sinal de ajuda já é emitido. 2929 29 Nesta regra também se tem algumas perguntas básicas. São elas: • Quem fornece o quê? • Em que quantidade? • Para quem? • Como? • Quando? • Onde? A figura 3 apresenta um exemplo de atendimento de uma solicitação do cliente. Figura 3 – Atendimento a solicitação do cliente Fonte: elaborada pela autora. A primeira regra diz como as pessoas devem realizar suas atividades. Já a segunda regra diz como estas pessoas se conectam e se comunicam. Na Toyota, o que estabelece conexão direta com fornecedores e clientes são os cartões kanban e alguns dispositivos, como os quadros andon. Estas conexões são bem sincronizadas porque são preparadas e executadas com todo o cuidado. Os cartõs kanban são o meio de comunicação com os fornecedores. Os quadros andon são uma maneira de se realizar a gestão à vista para problemas que podem ocorrer no processo. Geralmente, são alertas sonoros ou apenas luminosos. O Andon é um sistema utilizado pelos funcionáiors para sinalizar qualquer falha no processo e, com isso, pedir 3030 ajuda da manutenção, do pessoal da qualidade, de engenheiros, entre outros. As falhas podem ser de problemas com a matéria-prima, falta de material, problema com máquinas e equipamentos, setup, etc. Lógico que outras empresas também se atentam para conexão das pessoas. Porém, em geral, esta conexão não é direta e inequívoca. Geralmente, o caminho entre a solicitação de material até a resposta do pedido é tortuoso. Outro ponto que auxilia a conexão direta é a exigência da resposta à solicitação do cliente em um tempo específico e pré-definido. Isto diminui a chance de variação. E para que isso aconteça, caso ocorra algum problema, é necessário pedir ajuda imediatamente. Com este pedido de ajuda, o problema passa a ficar visível. Isto está em oposição à tentativa de resolver o problema sozinho, pois este comportamento tende a deixar o problema oculto. Logo, a melhor maneira de resolver é pedir ajuda. Esta posição de resolver o problema sozinho ainda pode ficar pior quando os problemas se acumulam. Além de se deixar de compartilhar informações valiosas das causas reais do problema. 3.3 Regra 3 A regra 3 diz que o caminho percorrido por cada produto ou serviço deve ser único e direto. Isto quer dizer que o fluxo de materiais, de processo e de informação devem ser pré-estabelecidos. Um fluxo direto e único não deve conter loops, pois isto torna o fluxo complexo. Além disso, deve-se evitar desmembramento e ramificações no fluxo e garantir que todos os elementos daquele fluxo sejam absolutamente necessários. Na Toyota, todas as linhas de produção são construídas para que os produtos sigam uma rota de fluxo único e direto. Estas rotas não podem ser alteradas, a não ser se forem reprojetadas. 3131 31 Esta regra não significa que a rota pertença a um único produto. Muito pelo contrário, as linhas de produção nas fábricas da Toyota geralmente servem para muitos tipos de produtos. Assim, os produtos que compartilham o mesmo fluxo são chamados de família de produtos. É importante lembrar que estas regras, e a terceira também, não se aplicam apenas para produtos, elas são aplicadas também para os serviços. Com a exigência de rotas específicas, esta regra garante que toda vez que uma rota é utilizada, aconteça um experimento. 3.4 Regra 4 A Regra 4 diz que toda melhoria deve ser realizada pelos envolvidos na atividade que está sendo melhorada, de acordo com a metodologia científica e com a orientação de um especialista no método. Toda melhoria deve ter como referência o chamado estado ideal – como mostrado na figura 4. Alguns pontos devem ser considerados. O primeiro é a demanda, o processo deve ser capaz de atender à demanda – e somente ela. Além disso, a melhoria deve buscar estabelecer um fluxo constante e unitário de peças, sem defeitos ou desperdícios. Como todos trabalham com uma metodologia padrão e estruturada, a solução dos problemas é mais segura. As contramedidas são implementadas pelos envolvidos na atividade que está sendo melhorada e somente são efetivadas após o teste de hipóteses. A efetividade da melhoria precisa ser testada. Nesta última regra, a pergunta básica é: • A contramedida irá melhorar a situação atual, aproximando-a do estado ideal? 3232 Figura 4 – Regra 4 Fonte: <https://slideplayer.com.br/slide/10532498/>. Acesso em: 07 mai. 2019. Entretanto, como efetuar estas melhorias? O primeiro passo é identificar os problemas. O segundo passo para tornar a melhoria em uma mudança eficaz, é ensinar as pessoas como mudar e quem é o responsável efetivo pela mudança. Na Toyota, as pessoas são ensinadas em como melhorar. Não se espera que as experiências pessoais sejam suficientes para se saber como mudar. Esta é a regra 4. Toda mudança ou melhoria deve ser feita conforme um método específico, sob a orienteção de um especialista, e em todos os níveis da empresa. Então, quem faz a melhoria são os colaboradores daquele processo. Quando as mudanças são em escala maior, deve-se montar uma equipe de melhoria que inclua as pessoas que serão diretamente afetadas e pessoas responsáveis pelo processo. 3.5 Aprendizado das regras Estas quatro regras não são explícitas no Sistema Toyota de Produção. Então, como elas são transmitidas? https://slideplayer.com.br/slide/10532498/ 3333 33 Os gerentes da Toyota utilizam um método de ensino e aprendizagem que permite que os colaboradores descubram as regras resolvendoos problemas no dia a dia. Esse é o método socrático de aprendizado. Por isso, são tão importantes as perguntas já citadas: • Como se faz esta atividade? • Como saber se está fazendo corretamente a tarefa? • Como saber se o resultado é o esperado? • Se o resultado não for o esperado, como encontrar o problema? O processo de questionamento e resolução de problemas ajuda no entendimento das tarefas e faz com que as pessoas aprendam gradativamente o processo. As pessoas aprendem fazendo. Como já dito, a Toyota utiliza o método socrático de aprendizado. As perguntas e respostas promovem uma profunda reflexão e aprendizado. As perguntas devem ser simples, com o objetivo de revelar as contradições presentes na atual forma de pensar. É por isso, também, que se fala que o Sistema Toyota de Produção é mais que um sistema, ele precisa estar no DNA da empresa. Nas organizações que são gerenciadas conforme as quatro regras, as pessoas estão constantemente realizando experimentos, testando na prática as hipóteses, conectando clientes e fornecedores, criando fluxo e promovendo esforços de melhoria contínua. Nas organizações que utilizam o Sistema Toyota de Produção, sabe- se que as pessoas são o patrimônio da empresa, logo o investimento em seus conhecimentos e habilidades é necessário para garantir a competitividade da empresa. Logo, o compromisso com o aprendizado é sempre estabelecido. Todos os colaboradores são capazes de realizar seu trabalho e todos também sabem como resolver problemas, segundo um método científico. 3434 Com o uso do método científico em todos os níveis, a Toyota garante que seus colaboradores definam claramente as expectativas e que irão testá-las quando implementarem as mudanças. Com isso, todos também compartilham uma meta comum. A meta é o sistema ideal, que os motiva a fazer melhorias e atender às necessidades de seus clientes. Este conceito permeia toda a organização. Este sistema não é uma ideia abstrata. Os colaboradores esperam deste sistema ideal os seguintes resultados em seus processos: • Produtos livre de defeitos, ou seja, com o desempenho esperado pelo cliente. • Atender a um pedido por vez, ou seja, lote unitário. • Atender à demanda. • Atender imediatamente o cliente. • Produza-se sem desperdiçar materiais, mão de obra, energia ou qualquer outro recurso. • Pode ser produzido em um ambiente de trabalho que seja seguro física, emocial e profissionalmente para todos. Estas regras transformam as empresas que as adotam. Elas tornam as pessoas capazes e responsáveis por executar e melhorar seu trabalho. Elas padronizam as conexões entre clientes e fornecedores. Elas trazem a solução dos problemas de conexão e fluxo para o nível mais operacional da organização e criam uma estrutura modular aninhada. A grande vantagem deste tipo de estrutura é possibilitar que as pessoas implementem as mudanças em uma parte sem afetar as demais. Com isso, os gerentes podem delegar responsabilidade sem criar o caos. Logo, as empresas que se dedicam a dominar as quatro regras, terão uma chance maior de reproduzir o DNA da Toyota, bem como seu desempenho. 3535 35 PARA SABER MAIS Para conhecer um pouco mais sobre as quatro regras, consulte a apresentação de Eduardo Cartaxo – As 4 Regras de Excelência do TPS. Disponível em: https://slideplayer. com.br/slide/10532498/. Acesso em: 20 mai. 2019. 4. Conclusão As quatro regras do DNA da Toyota fazem com que as empresas mudem sua cultura. As regras são: • Regra 1 – Como as atividades são feitas • Regra 2 – Como os processos e pessoas se conectam • Regra 3 – Fluxo único e pré-definido • Regra 4 – Como melhorar A figura 5 apresenta um resumo das quatro regras da Toyota. Figura 5 – Resumo das 4 Regras da Toyota Regra Hipóteses Sinais de problema Respostas 1 A pessoa ou máquina pode executar a atividade como especificado. Quando a atividade é executada como especificado, o produto ou serviço está livre de defeitos. A atividade não é executada como especificado. O resultado é o defeito. Determinar o verdadeiro nível das habilidades da pessoa ou a verdadeira capacidade da máquina, e treinar ou modificar de acordo. Modificar o projeto da atividade. https://slideplayer.com.br/slide/10532498/ https://slideplayer.com.br/slide/10532498/ 3636 2 As solicitações dos clientes de produtos ou serviços devem seguir um mix e volume específico. O fornecedor pode atender às solicitaçãoes dos clientes. As respostas não cumprem o mix e o volume específico. O fornecedor está ocioso esperando solicitações Determinar o mix e o volume reais da demanda e a capacidade real do fornecedor, retreinar, modificar as atividades ou reformular as duplas de cliente e fornecedor. 3 Todo o fornecedor que está conectado ao fluxo é necessário. Qualquer fornecedor não conectado ao fluxo não é necessário. A pessoa ou máquina não é realmente necessária. Um fornecedor não especificado fornece um produto ou serviço intermediário. Determinar por que o fornecedor era desnecessário e redefinir o fluxo. Descobrir por que o fornecedor não especificado era realmente necessário e reformular o fluxo. 4 Uma mudança específica em uma atividade, conexão ou fluxo gera melhorias em custo, qualidade, lead time, tamanho de lote e segurança, em uma proporção específca. O resultado real é diferente do resultado esperado. Descobrir como a atividade foi efetivamente realizada, ou como a conexão ou o fluxo foram efetivamente operados. Determinar os efeitos reais da mudança. Reprojetar a mudança. Fonte: elaborada pela autora. TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação. O grande Hospital Geral da cidade do interior de São Paulo é uma referência na região. Todos os residentes da região se internam lá para tratarem-se. A outra opção é ir para a capital do estado, a 6 horas de distância. Então, o volume de pacientes costuma ser alto. São 81 leitos e 11 enfermeiras por turno para atender os pacientes internados. Além disso o hospital tem, entre fixos e esporádicos, 200 médicos que costumam internar no Hospital Geral seus pacientes. 3737 37 Ultimamente, os clientes têm reclamado da dificuldade no atendimento e da rotatividade dentre as enfermeiras que os atendem. Além disso, é comum ver enfermeiras estressadas e médicos acusando-as de algumas falhas e demoras em ministrar os medicamentos. Por último, cabe lembrar que o custo tem sido uma preocupação crescente no Hospital Geral. A receitas do SUS são insuficientes. Já os planos de saúde exigem reduções de custos ano após e ano. Além disso, a regulamentação na área hospitalar é cada vez maior. Por exemplo, a quantidade de enfermeiras por leito é fixada por resolução federal. Pode-se ter uma equipe maior, mas nunca menor. Será que as 4 regras podem ser aplicadas neste hospital? Qual será a regra mais importante ou que deve ser aplicada primeiro? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. O modelo Toyota, às vezes, não consegue ser aplicado em qualquer empresa. Isto acontece porque: a. As empresas aplicam apenas as ferramentas, sem alterar a sua cultura. b. Este modelo só funciona em culturas orientais. c. As empresas não aplicam todas as ferramentas utilizadas na Toyota. d. A gerência não sabe ensinar o modelo e método de trabalho. e. Este modelo não pode ser replicado. 3838 2. A Regra número 1 diz que todo o trabalho deve ser altamente especificado em relação ao conteúdo, sequência, tempo e resultado desejado. Analise as afirmativas a seguir e julgue (V) para verdadeiro e (F) para falso. ( ) Todas as tarefas devem ser pré-definidas em relação ao conteúdo, à sequência, à duração e ao controle final. ( ) A pessoa que irá realizar a tarefa deve estar capacitada para isso. Ou seja, deve ser capaz de diagnosticar se o trabalho está de acordo com os padrões estabelecidos. ( ) Todo o trabalho deve ser testado imediatamente após a sua conclusão. Isso ajuda a pessoa queestá realizando a tarefa a detectar qualquer problema. A sequência correta é a. V – V – V. b. F – F – F. c. F – V – F. d. V – F – V. e. V – V – F. 3. Analise as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I – Na Toyota, os procedimentos estão especificados nos detalhes. PORQUE 3939 39 II – Qualquer variação pode se traduzir em qualidade inadequada, em produtividade baixa e custos altos. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira e II é falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa e II é verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. Referências bibliográficas LOBO, Carlos. Fórum de operações. Melhoria Contínua nos Processos de Fábrica. Disponível em: https://pt.slideshare.net/SequoiaConsultoria/melhoria-contnua- conjuntura-atual-e-possibilidades. Acesso em: 08 maio 2019. Shook J. How to change a culture: Lessons from NUMMI. MIT Sloan Management Review. 51(2):63-8, 2010. SPEAR, Steven; BOWEN, H. Kent. Decodificando o DNA do Sistema Toyota de Produção. Harvard Business Review, p. 97-106, 1999. Gabarito Questão 1 – Resposta A Às vezes, o modelo Toyota não consegue ser aplicado em qualquer empresa. Isto acontece porque as empresas aplicam apenas as ferramentas, sem alterar a sua cultura. https://pt.slideshare.net/SequoiaConsultoria/melhoria-contnua-conjuntura-atual-e-possibilidades https://pt.slideshare.net/SequoiaConsultoria/melhoria-contnua-conjuntura-atual-e-possibilidades 4040 Questão 2 – Resposta A (V) Todas as tarefas devem ser pré-definidas em relação ao conteúdo, à sequência, À duração e ao resultado desejado. Correto, pois é necessário saber se o objetivo foi atingido. (V) A pessoa que irá realizar aquela tarefa deve estar capacitada para isso. Ou seja, deve ser capaz de diagnosticar se o trabalho está de acordo com os padrões estabelecidos. Correto, pois é importante fazer um diagnóstico se os padrões estabelecidos foram cumpridos. (V) Todo o trabalho deve ser testado imediatamente após a sua conclusão. Isso ajuda a pessoa que está realizando a tarefa a detectar qualquer problema. Correto, pois se demora para detectar o problema, ele vai se propagando por todo o processo. Questão 3 – Resposta A As duas asserções são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. Na Toyota, os procedimentos estão especificados nos detalhes, isto é importante pois qualquer variação pode se traduzir em qualidade inadequada, em produtividade baixa e custos altos. 4141 41 Os 5 princípios do Lean Thinking (mentalidade enxuta) Autora: Yane Lobo Objetivos • Apresentar a Mentalidade Enxuta; • Apresentar os cinco princípios da Mentalidade Enxuta; • Apresentar os principais desperdícios das organizações. 4242 1. Introdução A Mentalidade Enxuta foi desenvolvida pela Toyota na década de 1950. A empresa precisava passar por uma transformação para sobreviver e começou a desenvolver novas ferramentas e principalmente uma nova mentalidade, que ficou conhecida como Mentalidade Enxuta. No início, a mentalidade enxuta não era um sistema. Muito menos as ferramentas. Era somente um modo diferente de pensar. O termo “enxuto” passou a ser utilizado, pois o que a Toyota procurou fazer foi eliminar todas as atividades que não agregavam valor ao produto, ou seja, os desperdícios. O foco era aumentar a produtividade e a qualidade de seus produtos. Reduzir o tempo entre pedido do cliente e faturamento. Este tema tem como objetivos apresentar os cinco princípios da Mentalidade Enxuta e também os principais desperdícios, apontados por Ohno, que são vistos na maioria das organizações. 2. Cinco princípios Segundo Womack e Jones (1997), o pensamento enxuto pode ser implementado seguindo-se cinco princípios para que cada vez mais as empresas façam mais com menos. Ou seja, menos esforço humano, menos máquinas, menos tempo, menos espaço – em resumo, menos recursos. Outro ponto do pensamento enxuto é cada vez mais atender às necessidades dos clientes. Estes princípios estão focados em cinco pilares – Valor, Fluxo de Valor, Fluxo, Puxar e Perfeição. Em um sistema enxuto, estes cinco princípios devem ser trabalhados em conjunto e sequencialmente. Com isso, consegue-se maximizar os resultados e minimizar as perdas. Quando se fala em Mentalidade Enxuta, está se falando em melhoria do desempenho. Toda a melhoria começa com o entendimento do valor para o cliente. Este é o primeiro princípio da mentalidade enxuta. 4343 43 A seguir serão apresentados os cinco princípios. 2.1 Primeiro princípio – Valor A definição de valor para o cliente é o ponto de partida da mentalidade enxuta. É importante especificar o que é valor para o cliente, ou seja, o que o cliente espera do produto ou serviço. Então, o que é valor? Valor é tudo aquilo que os clientes consideram importante em um produto ou serviço, é o que motiva o consumidor a adquirir este produto de uma empresa e não outra. Se a empresa estiver fazendo um produto ou oferecendo um serviço que não supre as necessidades do cliente, então estará produzindo desperdício. Na sequência, será definido o que é desperdício. Para saber o que é valor para o cliente, deve-se conhecer: • As características dos clientes; • A finalidade do cliente ao adquirir este produto ou serviço; • Fatores que influenciam a decisão dos clientes; • O momento em que o cliente quer o produto; • O ritmo com que o cliente quer o produto; • O local em que o cliente quer o produto. Em suma, pode-se perceber que quem define o valor é o cliente. Como entregar mais valor? Este princípio tem sua força nesta questão. Podemos aumentar o valor entregue ao cliente? Uma possível resposta é aumentar o valor, entregando mais qualidade, mais rápido e com menor custo. 4444 2.2 Segundo princípio – Fluxo de valor O segundo princípio da mentalidade enxuta é sobre o fluxo de valor. O fluxo de valor é a composição de todas as atividades que são necessárias para produzir um produto ou para executar um serviço. Estas atividades podem agregar valor ou não a este produto ou serviço. As atividades que agregam valor são aquelas que efetivamente transformam a matéria-prima em produto ou que transformam tarefas no serviço esperado pelo consumidor. As atividades que agregam valor são as atividades que o cliente está disposto a pagar por elas. As atividades que não agregam valor – aquelas que o cliente não está disposto a pagar por elas, dividem-se em duas. Algumas atividades, embora necessárias para o negócio, não agregam valor. Além destas, necessárias para o negócio, existem as atividades que não agregam valor mesmo, são desperdícios. Quando se analisa a cadeia de valor desta perspectiva, pode-se identificar os desperdícios existentes na cadeia e assim pode-se reduzi- los ou, melhor ainda, eliminá-los. Para se enxergar a cadeia de valor, deve-se mapeá-la. A ferramenta utilizada para isso é o Mapa do Fluxo de Valor. Ela possibilita: • Ter uma visão simples dos processos. • Identificar as causas dos desperdícios no fluxo de valor. • Deixar todas as pessoas envolvidas no processo com as mesmas informações. • Utilizar as ferramentas da mentalidade enxuta de forma mais integrada e não de forma isolada. • Mostrar o fluxo de material e o fluxo de informação. 4545 45 O fluxo de material é o que acontece desde da matéria-prima, passando pela transformação do produto e terminando no consumidor. O fluxo de informação ocorre no sentido oposto, pois vai desde o pedido do cliente até o pedido para o fornecedor, passando por todos os processos de transformação. De modo similar a estes dois fluxos, outro que precisa ser observado é o fluxo do projeto do produto ou serviço que vai desde a concepção até o lançamento. 2.3 Terceiro princípio – Fluxo contínuoO terceiro princípio é o fluxo contínuo de produção. Depois de conhecer o fluxo de valor, a cadeia de valor, é necessário deixar que o valor flua continuamente, sem interrupções e sem estoques intermediários. Quando se fala em fluxo contínuo, se está falando na produção de uma peça por vez. O livro Aprendendo a enxergar (ROTHER e SHOOK, 1999) define fluxo como as atividades que não agregam valor ao produto ou serviço para que elas possam ser eliminadas ou pelo menos reduzidas, mais as atividades que agregam valor ao produto ou serviço. Esta é uma etapa importante na mentalidade enxuta, pois procura fazer com que as atividades realmente geram valor e fluam em um fluxo contínuo. O fluxo ideal na Mentalidade Enxuta é o fluxo de uma só peçaou lote unitário, onde se recebe um, processa um, entrega um, no ritmo solicitado pelo cliente e com qualidade desde o início do processo. Na Toyota, este regime de trabalho é chamado de linha CHAKU-CHAKU. Este princípio mostra o quanto é importante analisar todos os fluxos: pessoas, materiais, informação e capital. 4646 Figura 1 – Fluxo contínuo versus fluxo por lotes Fonte: Rother e Shook (1999). 2.4 Quarto princípio – Produção puxada O quarto princípio é o da produção puxada. Este princípio, apesar de falar de produção, serve tanto para produto quanto para serviço. Ele significa que não se deve produzir um produto ou um serviço antes que o cliente solicite. Logo, deve-se produzir somente o necessário, quando o cliente pede. A melhor forma de enxergar esta puxada é visualizar o processo, partindo do cliente, e percorrê-lo no sentido inverso, passando por todas as etapas. Para este princípio são aplicadas algumas ferramentas, como o Just-In- Time e o kanban. 2.5 Quinto princípio – Perfeição O quinto princípio tem como objetivo a melhoria contínua, ou seja, a busca pela perfeição. Aqui se busca a integração dos outros quatro princípios, buscando a eliminação dos desperdícios. Para isto, deve-se procurar uma produtividade alta, com custos reduzidos, com menores tempos de resposta e atendendo às necessidades dos clientes. 4747 47 Figura 2 – Melhoria contínua Fonte: <cra-ma.org.br/ead/.../Mat%2005%20-%20Just%20In%20Time%20e%20Kanban.ppt>. Acesso em: 12 maio 2019. ASSIMILE Para assimilar este tema, consulte o artigo Princípios para a concepção de processos lean do Flávio Augusto Picchi, que apresenta os cinco princípios do Lean Thinking. Disponível em: https://www.lean.org.br/colunas/499/principios-para-a- concepcao-de-processos-lean.aspx. Acesso em: 28 maio 2019. 3. Os desperdícios Womack e Jones (1997) identificaram três tipos de desperdícios. São eles: • Muda – Desperdício. • Mura – Falta de regularidade. • Muri – Sobrecarga. http://cra-ma.org.br/ead/.../Mat%2005%20-%20Just%20In%20Time%20e%20Kanban.ppt https://www.lean.org.br/colunas/499/principios-para-a-concepcao-de-processos-lean.aspx https://www.lean.org.br/colunas/499/principios-para-a-concepcao-de-processos-lean.aspx 4848 Para ele, estes três tipos compõem a lógica da melhoria contínua na Mentalidade Enxuta. Isto porque, como já dito, desperdício é tudo que é realizado dentro da organização que não agrega valor para nenhum cliente, apenas adiciona custo ao produto ou serviço, sem qualidade. O Muda ou desperdício foi muito estudado por Taiichi Ohno na Toyota. Ele preparou uma lista de sete desperdícios, que são um guia de ação para a melhoria contínua. Os setes desperdícios são: • Superprodução. Este desperdício é estar a frente do que próximo cliente necessita. Este desperdício é o maior de todos os setes, pois ele é, também, o gerador dos outros. O nome já é autoexplicativo, quer dizer produzir além ou antes do que o necessário. Isto gera compra antecipada de matéria-prima, uso antecipado de mão de obra e geração de estoque, dentre outros. Figura 3 – Superprodução Fonte: Rother e Shook (1999). • Processos Desnecessários. São os processos que não são necessários para o bom funcionamento do produto ou serviços. Por exemplo, um processo de injeção de peças plásticas, onde após a injeção é necessário rebarbar as peças. Este segundo processo é desnecessário, mas acontece por problemas no molde. Isto poderia ser eliminado com a solução destes problemas. 4949 49 • Espera. O tempo de espera é representado, por exemplo, por funcionários ou máquinas aguardando para finalizar uma atividade. Pode também ser o tempo de espera por matéria-prima ou subconjuntos para montagem. Pode ser também a espera por uma aprovação. Ou seja, é um tempo ocioso. Esta espera é resultado de desbalanceamento dos postos de trabalho, problemas de manutenção de máquinas e falta de matéria-prima, dentre outros. Para reduzir este tempo, a ferramenta Kanban é a mais utilizada. Figura 4 – Espera Fonte: neyro2008/iStock.com. • Defeitos. São os problemas de qualidade ou as falhas no processo. • Movimentação. Este desperdício está ligado à movimentação das pessoas. É o excesso de movimento para realizar uma operação. Este defeito é geralmente ocasionado por problemas no layout, obstáculos no caminho ou ergonomia deficiente. Para reduzir este desperdício, deve-se fazer um estudo de tempos e métodos. 5050 Figura 5 – Movimentação Fonte: <https://caetreinamentos.com.br/blog/lean-manufacturing/8-desperdicios-lean- manufacturing/>. Acesso em: 12 maio 2019. • Transporte. Este desperdício está ligado à movimentação de materiais. Pode acontecer duas situações: movimentação de materiais por longas distâncias, bem como a utilização de meios de transporte ineficientes. Estes problemas são causados por problemas no layout ou por escolha errada de meio de transporte. Figura 6 – Transporte Fonte: darkovujic/iStock.com. https://caetreinamentos.com.br/blog/lean-manufacturing/8-desperdicios-lean-manufacturing/ https://caetreinamentos.com.br/blog/lean-manufacturing/8-desperdicios-lean-manufacturing/ 5151 51 • Estoque. Este desperdício está ligado ao excesso de matéria-prima ou trabalho aguardando para ser processado. Isto atinge o fluxo de caixa da empresa, pois é dinheiro parado. Womack (2006) fala que a progressiva eliminação de MUDA (desperdícios) leva a um plano de ação de eliminação do MURA E MURI. Em muitas empresas ainda se vê o MURA (falta de regularidade) quando se deseja atingir à meta de venda, por exemplo. No final do mês se disparam muitas ordens de produção para atender aos pedidos de venda. Com isso, deixam-se de fazer as atividades fundamentais para sustentar o desempenho a longo prazo. Esta onda de ordens de produção também leva ao MURI (Sobrecarga), pois faz com que os equipamentos e funcionários trabalhem muito mais quando está chegando o fim do período. O MURA e o MURI causam queda na produtividade. Pode-se observar que MURA cria MURI, e isso prejudica a eliminação de MUDA. Logo, observa-se que MURA e MURI podem ser a raiz do MUDA nas empresas. PARA SABER MAIS Para conhecer um pouco mais sobre os desperdícios da Mentalidade Enxuta, consulte o artigo de James Womack – Mura, Muri, Muda?. Disponível em: https://www.lean. org.br/artigos/350/mura,-muri,-muda-.aspx. Acesso em: 13 maio 2019. 4. Conclusão Como pode ser visto, o ponto de partida para se aplicar a Mentalidade Enxuta é a definição de valor pelos clientes dos produtos ou serviços. Sabendo-se qual é o valor para o cliente, precisa-se conhecer o fluxo https://www.lean.org.br/artigos/350/mura,-muri,-muda-.aspx https://www.lean.org.br/artigos/350/mura,-muri,-muda-.aspx 5252 deste valor. Conhecendo o fluxo de valor, é necessário fazer este valor fluir pela cadeia, e acionado por um sistema puxado, onde só se realizam as atividades se o cliente solicitar. Para que tudo isto aconteça, busca-se a perfeição, ou seja, a melhoria contínua, através da eliminação ou pelo menos a redução do desperdício. A ideia da busca pela perfeição é repassar os cinco princípios frequentemente – duas ou três vezes por ano. Assim se prova um ciclo contínuo demelhoria. TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação. Considere que você foi contratado por uma multinacional da área de consumo, como produtos comercializados via grandes supermercados, farmácias e atacadistas em geral. São centenas de produtos. E a quantidade de produtos novos é crescente. O problema desta empresa está no processo de introdução de novos produtos. Mais especificamente no desenvolvimento das embalagens. Pode parecer simples, mas não é. São várias áreas distintas envolvidas no processo e uma empresa contratada para fazer o projeto da mesma. Alguns detalhes sobre o processo de desenvolvimento das embalagens: • A área de Marketing considera a embalagem um fator importante para conquistar um cliente. Ela precisa atrair a atenção deste e apresentar as principais vantagens do produto. 5353 53 • A área de Operações prefere embalagens que sejam similares as já utilizadas. Eles não se preocupam com as cores ou texto impresso, mas com as dimensões. Pois são estas que determinam a máquina de embalar. • Já a área Jurídica faz uma avaliação do texto impresso para avaliar se não se está infringindo alguma norma legal. • É esperado que a empresa contratada faça seu projeto usando da máxima inovação possível. Mas as restrições são muitas. • A própria área de Engenharia de Embalagens tem seus requisitos: Resistência ao empilhamento, facilidade para abrir e fechar, condições necessárias para o descarte da embalagem, impacto ambiental da mesma, etc. • E, por último, temos o futuro fornecedor da embalagem e o custo da mesma. O que traz a área de compras dentro do processo também. O processo de desenvolvimento da embalagem deveria ser um fluxo único e contínuo. O projeto deveria começar na área de Marketing, seguir para a Engenharia de Embalagens e de lá para a empresa contratada para desenvolver o projeto da embalagem. Após isso, o projeto deve passar pelas diversas áreas para ser aprovada: Marketing, Jurídico, Operações, etc. Os problemas começam quando uma das áreas envolvidas solicita uma modificação. Esta solicitação é enviada para a Engenharia de Embalagens e de lá para a empresa de projetos. E então o processo se reinicia. Isso torna o processo moroso. Além disso, as solicitações são conflitantes em muitos casos. 5454 Todo o processo ocorre em uma plataforma específica para garantir o fluxo das informações e gestão das informações. Entretanto, quando os prazos começam a se extinguir, telefonemas e e-mails ajudam o fluxo se mover. Todas as vezes que se tentou melhorar este processo no passado, buscou-se treinar os envolvidos no processo e no uso da plataforma. A maior queixa dos usuários tem a ver com a frequência no desenvolvimento de embalagens. Quando se termina uma, já se tem outras na fila esperando por aprovação. E naturalmente, com exceção da Engenharia de Embalagens, todas as outras áreas têm outras responsabilidades e participam de outros processos. Todos estes problemas resultam em processo cujo tempo total – do começo ao fim, pode levar meses. Mas quando se avaliam os tempos das atividades dos envolvidos, constata- se que as atividades não consumiram mais que minutos – excetuando a Engenharia de Embalagens e a empresa contratada para desenvolver o projeto. Qual é o valor do produto? Qual é o fluxo de valor? É possível eliminar algum desperdício? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A Mentalidade Enxuta foi desenvolvida pela Toyota na década de 1950. Este termo “enxuta” foi utilizado porque: a. A Toyota procurou reduzir custos. b. A Toyota procurou reduzir mão de obra. c. A Toyota procurou eliminar os desperdícios. 5555 55 d. A Toyota procurou eliminar a manutenção dos equipamentos. e. A Toyota procurou eliminar os defeitos. 2. O segundo princípio da mentalidade enxuta é sobre o fluxo de valor. Analise as afirmativas a seguir e assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso. ( ) O fluxo de valor é a composição de todas as atividades que são necessárias para produzir um produto ou para executar um serviço. ( ) As atividades de um fluxo de valor podem agregar valor ou não a este produto ou serviço. ( ) Deve-se procurar melhorar as atividades que agregam valor e não eliminar as que não agregam valor. Assinale a sequência correta. a. V – V – V. b. F – F – F. c. F – V – F. d. V – F – V. e. V – V – F. 3. Womack (1997) identificou três tipos de desperdícios. Analise as afirmativas a seguir. 5656 I. Muda são os sete desperdícios definidos por Taiichi Ohno. II. Mura é a falta de regularidade. III. Muri é a sobrecarga. É correto o que se afirma em a. I, apenas. b. II, apenas. c. III, apenas. d. I e II, apenas. e. I, II e III. Referências bibliográficas SHOOK, John; ROTHER, Mike. Aprendendo a enxergar. São Paulo-SP: Lean Institute Brasil, 1999. WOMACK, James. Mura, Muri, Muda?, 2006. Disponível em: https://www.lean.org.br/ artigos/350/mura,-muri,-muda-.aspx. Acesso em: 13 maio 2019. WOMACK, James P. e JONES, Daniel T. A Mentalidade Enxuta. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1997. Gabarito Questão 1 – Resposta C O termo “enxuto” passou a ser utilizado, pois o que a Toyota procurou fazer foi eliminar todas as atividades que não agregavam valor ao produto, ou seja, os desperdícios. https://www.lean.org.br/artigos/350/mura,-muri,-muda-.aspx https://www.lean.org.br/artigos/350/mura,-muri,-muda-.aspx 5757 57 Questão 2 – Resposta E (V) O fluxo de valor é a composição de todas as atividades que são necessárias para produzir um produto ou para executar um serviço. (V) As atividades de um fluxo de valor podem agregar valor ou não a este produto ou serviço. (F) Deve-se procurar melhorar as atividades que agregam valor e não eliminar as que não agregam valor. FALSO, pois o ganho é maior quando se elimina ou pelo menos reduz as atividades que não agregam valor. Questão 3 – Resposta E I. Muda são os sete desperdícios definidos por Taiichi Ohno. CORRETO. II. Mura é a falta de regularidade. CORRETO. III. Muri é a sobrecarga. CORRETO. 585858 Mapeamento de processos – Resolução de problemas e eliminação de desperdícios Autora: Yane Lobo Objetivos • Apresentar o mapeamento de processos; • Apresentar o processo de aplicação da ferramenta do Mapeamento de Fluxo de Valor (Value Stream Mapping - VSM); • Apresentar exemplos de resolução de problemas e eliminação de desperdícios. 5959 59 1. Introdução Este tema tem como objetivo apresentar a ferramenta de Mapeamento de Fluxo de Valor (Value Stream Mapping – VSM). Esta é uma ferramenta muito utilizada por empresas em busca da Mentalidade Enxuta, buscando resolver seus problemas através da eliminação dos desperdícios. Esta ferramenta mostra graficamente a cadeia de valor – todas as tarefas para produzir um produto ou serviço. 2. Mapeamento de processos O princípio inicial da Mentalidade Enxuta é a definição do valor. Depois que se conhece o valor, é necessário saber como este valor flui. Uma das ferramentas utilizadas para conhecer o fluxo ou cadeia é o Mapeamento do Fluxo de Valor (Value Stream Map – VSM). O fluxo de valor é a sequencia de todas as tarefas realizadas para produzir um produto ou serviço. Alguns fluxos podem ser observados para cada produto ou serviço. São eles: • Fluxo de material. Este fluxo vai desde a matéria-prima até o produto ou serviço no consumidor. • Fluxo de informação. Este é um fluxo inverso, que vai desde o pedido do cliente até o pedido de matéria-prima. • Fluxo de projeto. Este fluxo vai desde a concepção do produto ou serviço até o lançamento do mesmo. Tradicionalmente o mapeamento de fluxo de valor trata dos fluxos de material e de informação, o que se chama de fluxo de produção de “porta a porta”. 6060 Figura 1 – Mapeamento de porta-a-porta Fonte: Rother e Shook (1999). Para fazer este mapeamento, basta seguir a trilha de produção do produto ou da execução do serviço, indo de preferência, no sentido inverso, ou seja, do consumidor até ofornecedor. É importante ter um responsável pelo VSM – na Toyota, ele é chamado de gerente de fluxo. Ele é responsável por: • Acompanhar o fluxo de valor diariamente ou semanalmente. • Difundir as mudanças sugeridas pelo VSM. • Atualizar os mapas de estado atual e futuro. • Reportar os problemas e progressos na implementação do VSM. As vantagens desta ferramenta são: • Ajuda na visualização dos processos, onde se enxerga o fluxo. • Ajuda a identificar os desperdícios. • Obtem-se uma linguagem comum para tratar os processos. • Torna as decisões visíveis no fluxo. • Integra os conceitos enxutos, não apenas uma técnica isolada. • Relaciona o fluxo de material com o fluxo de informação. 6161 61 • Foca na redução de custos, através do aumento da produtividade e melhoria na qualidade. • Facilita o trabalho em equipe, com menos stress e mais autonomia. A seguir, serão apresentadas todas as fases do Mapeamento de Fluxo de Valor. 2.1 Preparação Esta é a primeira etapa de aplicação da ferramenta de Mapeamento de Fluxo de Valor. O objetivo final de um Mapeamento de Fluxo de Valor é ter um processo com atividades que agregam valor apenas. Para isso, é importante “enxegar” como o fluxo está atualmente. Outro ponto é enxergar os dois tipos de fluxos: material e informação. Figura 2 – Fluxos Fonte: adaptada de Rother e Shook (1999). O cuidado que se deve tomar é focar somente no fluxo de material. Porém, o fluxo de informação é o que indica o que deve ser feito, afetando diretamente a produção de um produto ou serviço. A ferramenta de mapeamento é também uma ferramenta de comunicação. 6262 2.2 Mapa de estado atual Para começar uma mudança, ou fazer melhorias, é necessário conhecer bem o processo atual. O início de qualquer melhoria é a análise da situação atual. Uma ferramenta que ajuda nesta análise da situação atual é o Mapa de Estado Atual. Como já dito, o mapeamento deve ser feito de “porta a porta”. A primeira porta que deve ser mapeada é a do cliente. Logo, o mapeamento deve ser realizado no sentido inverso do material. Para se fazer o mapeamento devem ser usados alguns símbolos, conforme mostrado na figura 3. Figura 3 – Símbolos do mapeamento de fluxo de valor Fonte: Rother e Shook (1999). 6363 63 Para se desenhar o mapa do estado atual, deve-se percorrer fisicamente a trilha do produto ou serviço, e como já dito no sentido inverso, do cliente para o fornecedor. Neste momento, é importante tomar os tempos das operações, das esperas, das movimentações, etc. Além disso, para começar a trilha de produção é necessário que tenha sido escolhido o produto ou a família de produtos a ser mapeada. Este produto ou família deve seguir a mesma trilha de produção, não sendo necessário passar por todas as operações. Depois de percorrer, é hora de desenhar o mapa com os símbolos da figura 3. Para desenhar, a melhor maneira é utilizando lápis, papel e borracha. O desenho à mão pode ser realizado durante o percurso e também ajuda no entendimento do processo. Não dá para fazer um mapa só com as informações formais do processo, é necessário ver o que acontece nas operações para poder enxergar o processo. Com todos estes dados, pode-se começar o desenho com o ícone do cliente. Embaixo deste ícone, coloca-se uma caixa de dados, onde serão colocados os dados da necessidade do cliente. O próximo passo é desenhar as atividades ou operações da produção do produto ou do serviço. Para cada processo, utilizar o ícone de processo e, embaixo, a caixa de dados do processo. Na caixa de dados, deve- se ter o tempo de ciclo, os tempos de parada, o número de pessoas necessárias para executar o processo, a disponibilidade, entre outros dados do processo que sejam relevantes. O tempo de ciclo é o intervalo de tempo entre as sucessivas tarefas do processo, ou seja, o tempo entre o início e o fim da operação. A disponibilidade é a relação entre o tempo da operação realizada e o tempo previsto para se realizar a operação. Um processo para quando o fluxo de material para. Por exemplo, uma linha de montagem onde não há estoque, onde o fluxo é contínuo, pode ser desenhada como um único processo, ou seja, um único símbolo. 6464 Este fluxo de material é desenhado na parte de baixo do mapa. Este fluxo não segue o layout físico, os processos veem um do lado do outro, na sequência de execução. Um ponto importante a ser observado no percurso é a quantidade de material parado na planta, ou seja, o estoque. Ele precisa ser desenhado no mapa, com seu símbolo específico. Deve-se colocar este símbolo entre os processos e com suas quantidades. A última coisa que se coloca no mapa é o fornecedor, com seus dados na caixa de dados. Além do fluxo de material, deve-se desenhar o fluxo de informação. Este é desenhado na parte de cima do mapa. Com o mapa completo, é possível enxegar como o material e a informação fluem neste processo. Um dado que ainda falta é o lead- time. O lead-time é o tempo decorrido do momento que se inicia a primeira atividade, que é o pedido até o momento de conclusão da última atividade, que é o produto entregue para o cliente (ROTHER e SHOOK, 1999). Para isso, coloca-se em baixo do fluxo de material a linha do tempo. Esta linha mostrará o tempo total do percurso do material na planta, desde a chegada da matéria-prima até a entrega para o cliente. Serão computados os tempos de operação e o tempo dos estoques. PARA SABER MAIS Para conhecer um pouco mais sobre o Mapeamento de fluxo de valor, leia o artigo do Lean Institute Mapeamento do fluxo de valor (VSM) – Estado Atual e Futuro, sobre dicas de como construir um mapa de valor. Disponível em: https://www.lean.org.br/. Acesso em: 19 mai. 2019. 6565 65 2.3 Como criar fluxo para o valor que o cliente quer Existem algumas metodologias e ferramentas que ajudam a criar o fluxo do valor que o cliente deseja. O que se espera é que se tenha um fluxo enxuto. Aqui serão apresentadas algumas técnicas de resolução dos problemas no fluxo e como eliminar os desperdícios. Um dos principais problemas que se encontra quando se faz um mapa de estado atual são os estoques – quando se trata de uma fábrica, e filas e esperas na área de serviços. Já se sabe que a principal causa de ser ter estoque é o excesso de produção ou a falta de scincronismo nos serviços. Isto também faz com que cada atividade seja realizada de forma isolada, produzindo e empurrando o produto de acordo com a programação recebida ou na sequência de chegada – tipicamente em serviços. O resultado é um lead time alto e muitas atividades que não agregam valor. Para reduzir o lead time e reduzir as atividades que não agregam valor, não basta eliminar os desperdícios mais visíveis, é necessário procurar as causas básicas que estão causando os desperdícios. Com certeza, a maior fonte ou causa de desperdício é o excesso de produção. E o que é o excesso de produção? É produzir antes do pedido do cliente ou mais rápido que o cliente seguinte. Esta fonte gera estoque, filas ou esperas. Quando se produz mais que o necessário, gera-se estoque e também se impacta o fluxo de caixa da empresa. O estoque também precisa de mais espaço para ser armazenado. Ele também necessita ser transportado e manuseado, ou seja, mais desperdício. Além disso, o estoque diminui a flexibilidade da produção, pode gerar mais defeitos caso algum processo tenha um problema, já que só este pode ser percebido somente na próxima operação. Para se saber a hora correta de fazer um produto ou executar um serviço, precisa-se conhecer o conceito do Takt time. O Takt time é o ritmo de produção para atender à demanda, ou seja, é a quantidade de tempo necessário por produto. 6666 Por exemplo, um cliente necessita de 500 peças por turno. A empresa trabalha 5 dias por semana, 1 turno, 8 horas por dia. O Takt time será de: Alguns passos podem ser seguidos para eliminar os desperdícios. O primeiro passo é exatamente determinar o ritmo da demandae com isso produzir de acordo com o Takt Time. Para este passo é necessário um esforço para dar respostas rápidas para os problemas, pois elas precisam ser dadas dentro do Takt. E precisa eliminar as causas das paradas. Outro passo é estabelecer um fluxo contínuo onde for possível. Fluxo contínuo significa produzir uma peça por vez e passar esta peça imediatamente para próxima etapa sem gerar estoque e espera. Para isso, não pode haver parada. Figura 4 – Fluxo contínuo versus fluxo por lotes Fonte: Rother e Shook (1999). 6767 67 O terceiro passo é o uso do supermercado para controlar a produção onde não se tem fluxo contínuo. Para isso, utiliza-se o cartão kanban. A figura 6 mostra um esquema do mapa da produção com uso de supermercado. Figura 5 – Sistema puxado Fonte: adaptada de Rother e Shook (1999). Deve-se estabelecer o sistema puxado entre dois processos que não se consegue estabeleber um fluxo contínuo. Porém, só fazê-lo quando não há a mínima possibilidade de se ter um fluxo contínuo. O quarto passo é programar apenas um processo de produção. O restante será em fluxo ou por cartão kanban. Este processo será o processo puxador de toda a produção. Ele que irá definir o ritmo da produção. Figura 6 – Processo puxador Fonte: Rother e Shook (1999). 6868 Por fim, é necessário nivelar a produção, ou seja, distribuir a produção dos diversos produtos de forma uniforme no decorrer do tempo no processo puxador – nivelando a demanda. Quanto mais nivelada estiver a produção, mais apta a empresa estará para responder às diversas solicitações dos clientes com lead time reduzido. O ideal é conseguir fazer toda peça todo dia. Para isso, é necessário reduzir os tempos de troca e produzir lotes cada vez menores. 2.4 Mapa de estado futuro Com o conhecimento dos passos que devem ser dados para eliminação de desperdício, para se ter uma Mentalidade Enxuta é a hora de construir o mapa de estado futuro. O objetivo é construir uma cadeia de produção onde os processos sigam os passos descritos no item anterior, procurando o fluxo contínuo, a produção puxada e nivelada. Para começar a desenhar, precisa-se saber qual é o Takt Time. Depois procurar onde pode ser utilizado o fluxo contínuo. Onde não for possível deve ser implementado o sistema puxado ou supermercado com cartão kanban. Também é necessário saber qual é o processo puxador. E quais são as melhorias necessárias para fazer tudo isso acontecer. Precisa-se verificar todas as melhorias necessárias nos equipamentos, nos procedimentos, nos tempos de troca e na disponibilidade das máquinas. Assim que o Mapa de Estado Futuro estiver pronto, deve-se começar a implementação das melhorias sugeridas. Para isso, deve-se ter um plano de implementação, do que fazer e quando fazer. Existem várias ferramentas que ajudam uma empresa a ter a Mentalidade Enxuta. São elas: 6969 69 • 5S. Esta é uma ferramenta utilizada para organizar a empresa. Cada S tem um significado. Primeiro o Seiri, ou utilização, que procura separar o que é necessário do que é desnecessário. Este S ajuda a ganhar espaço, já que muita coisa é eliminada. O segundo é o Seiton, ou organização, que coloca cada coisa no seu lugar e deixa o local de trabalho organizado, onde se trabalha de forma mais eficaz. O terceiro é o Seiso, ou limpeza, que limpa e cuida do lugar de trabalho. O quarto é o Seiketsu, ou higiene, que cria normas e padrões. E o quinto e último é o Shitshke, ou disciplina, onde todos os funcionários ajudam a manter a ordem e incentivam a melhoria contínua. • Andom. Esta é uma ferramenta de gestão visual que indica como está a operação, gerando alertas quando acontece algum problema. É uma ferramenta de comunicação em tempo real de problemas, facilitando que a solução venha de forma rápida. • Análise de gargalos. Os gargalos são os limitadores da operação. Identificando os gargalos é possível fazer um estudo de melhoria nesta operação ou atividade, bem como ter este como o processo puxador, já que ele é o que determina o ritmo da produção. • Kaizen. Esta é uma ferramenta de melhoria contínua. É uma estratégia na qual se monta um grupo de trabalho para trabalhar ativamente na resolução de um problema. • KPIs (Key Performance Indicators). Estes são indicadores de desempenho que definem o objetivo que deve ser acompanhado. Com isso, alinham-se os objetivos estratégicos de alto nível com os objetivos operacionais. Um bom exemplo de indicador é o OEE – Overall Eficiency Equipment (Eficiência Geral do Equipamento). • Ciclo PDCA. É uma metodologia de implementação de melhorias. Primeiro se planeja (P – Plan) ou desenvolve uma hipótese, depois se faz ou executa um plano de melhoria (D – Do), em seguida se 7070 verifica (C – Check) se o resultado esperado foi alcançado e por fim age (A – Act), ou seja, refina o experimento e começa novamente. • Trabalho padronizado. Uma maneira de reduzir o desperdício é trazer uma estabilidade para o processo. Quando se padroniza o trabalho, ele dá uma estabilidade para o processo. ASSIMILE Para assimilar este tema, consulte o artigo Mapeamento do Fluxo de Valor: Um estudo de caso em uma indústria de gesso. Este artigo mostra a aplicação na prática de um mapeamento. ELIAS, Sérgio José Barbosa; OLIVEIRA, M. M.; TUBINO, Dálvio Ferrari. Mapeamento do Fluxo de Valor: um estudo de caso em uma industria de gesso. Revista ADMpg Gestão Estratégica, v. 4, n. 1, 2011. 3. Conclusão Como pode-se observar, o mapeamento de fluxo de valor mostra graficamente como o valor recebido pelo cliente flui. Este valor é visto tanto da pespectiva do material fluindo pelos processos, desde a chegada de matéria-prima até a expedição, quanto a pespectiva da informação, desde o pedido do cliente até o pedido de matéria-prima para o fornecedor, passando por toda programação da produção. Quando se enxerga o fluxo é possível ver onde se tem estoque, problemas de qualidade, de quantidade de funcionários, entre outros. Com isso, é possível sugerir soluções para resolver estes problemas. 7171 71 TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação. Uma empresa que produz conteúdo para youtube não está conseguindo colocar os vídeos no ar três vezes por semana. Este ritmo é o ritmo esperado pelos seus consumidores, segundo uma pesquisa realizada. Você foi chamado pelo diretor para fazer um estudo sobre este problema. Quando você viu esta situação, já se imaginou como um gestor do fluxo de valor e começou a levantar os dados e desenhar o Mapa de Estado Atual. O que você pôde observar foi um excesso de produção de ideias para conteúdo que ficavam paradas esperando para serem gravadas. Depois que eram gravadas, também existia uma longa espera para edição dos vídeos. Todos os problemas de um sistema de produção em massa estavam aparecendo no fluxo desenhado. Você decidiu colocar em prática algumas ferramentas utilizadas na Mentalidade Enxuta. Por onde você deve começar? Qual será o primeiro passo? O fluxo de informação é que está gerando este excesso de produção? Quais ferramentas deveriam ser aplicadas? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. O Mapeamento de Fluxo de Valor mostra graficamente a cadeia de valor. A cadeia de valor... a. São as atividades de entrega de matéria- prima, armazenamento até a entrega para a primeira operação. 7272 b. É o processo de expedição e entrega ao consumidor. c. São todas as atividades para produzir um produto ou serviço, desde o pedido da matéria-prima até a entrega ao consumidor. d. É todo o fluxo de informação. e. São todas as atividades de transformação. 2. Quando se procura uma melhoria no processo, procura- se reduzir o lead time. Analise as afirmativas a seguir e assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso. ( ) O lead time é o tempo entre o pedido do cliente até a entrega do produto ou serviço. ( ) Para se reduzir o lead time é preciso eliminar ou reduzir o desperdício. ( ) O excesso de produção não aumenta o leadtime. Assinale a sequência correta. a. V – V – V. b. F – F – F. c. F – V – F. d. V – F – V. e. V – V – F. 7373 73 3. Uma empresa possui um cliente que necessita 120.000 peças por mês. A empresa trabalha 5 dias por semana, 1 turno, 8 horas por dia. O Takt time será de: a. 38 segundos/peça. b. 48 segundos/peça. c. 4,8 segundos/peça. d. 5,2 segundos/peça. e. 52 segundos/peça. Referências bibliográficas SHOOK, John; ROTHER, Mike. Aprendendo a enxergar. São Paulo-SP: Lean Institute Brasil, 1999. Womack, James P. e Daniel T. Jones. A Mentalidade Enxuta. São Paulo:Editora Campus, 1997. Gabarito Questão 1 – Resposta C A cadeia de valor é a soma de todas as atividades para produzir um produto ou serviço, desde da compra de matéria-prima até a entrega ao consumidor. Questão 2 – Resposta E (V) O lead time é o tempo entre o pedido do cliente até a entrega do produto ou serviço. 7474 (V) Para se reduzir o lead time é preciso eliminar ou reduzir o desperdício. (F) O excesso de produção não aumenta o lead time. FALSO, pois o excesso de produção é o desperdício que gera todos os outros seis desperdícios e com isso aumenta o lead time. Questão 3 – Resposta C 7575 75 Obstáculos comuns na implementação do Lean Office ou Lean Service Autora: Yane Lobo Objetivos • Discutir o uso do lean no setor de serviços. • Revisar os obstáculos mais comuns. • Apontar as principais lições aprendidas. • Apresentar um exemplo de aplicação. 7676 1. Introdução O setor de serviços é um dos mais importantes atualmente. No mundo todo, e também no Brasil, parte importante da atividade econômica está migrando da indústria para o setor de serviços. Assim, é cada vez mais importante pensar em um sistema de gestão que traga melhorias de desempenho para este setor também. O sistema de gestão lean pode ajudar na melhoria do seu desempenho. Neste tema se tratará do Lean Office ou Lean Service e suas aplicações. Serão discutidos os obstáculos que surgem durante a implementação e as lições aprendidas pelas empresas que já estão utilizando os conceitos lean em serviços. Merece uma nota sobre a nomenclatura usual. Em inglês e em artigos científicos é usual refir-se ao Lean Service, entretanto é frequente no Brasil referir-se a ele com Lean Office. Neste tema será utilizado o Lean Service. 2. Aplicações do lean Quando se fala em lean, logo se pensa no sistema de produção. E isso é natural, pois esta abordagem desenvolveu-se e começou sendo aplicada na Toyota, no chão de fábrica – nas suas operações. Porém, cada vez mais o lean vem sendo aplicado nas áreas de serviços e nos processos administrativos. Apenas com o objetivo de ilustrar, cabe uma nota sobre serviços e processos administrativos. Considerar-se-á processo administrativo as sequências de atividades desenvolvidas em ambientes administrativos, e onde este processo não entregue o produto para o cliente externo. São exemplos destes processos: emissão de documentação para exportação ou importação, contratação de pessoal ou a análise de crédito em um processo de venda, dentre outros. 7777 77 Já serviço consideraremos quando a atividade fim da área é um serviço prestado ao cliente final. O cliente compra um serviço. Pode ser um serviço de manutenção, a instalação de um equipamento ou o trabalho de uma agência de marketing, dentre outros. Mas o que é Lean Service? É a aplicação dos conceitos lean nos processos administrativos ou em serviços. O sucesso do lean está na mentalidade enxuta – lean thinking, e esta mentalidade deve estar presente em todos os processos – produção, serviço, ou administrativo – ou seja, em todas as áreas de negócio. E o foco da mentalidade enxuta é a eliminação dos desperdícios. Independentemente do meio, operações ou serviço, sempre se pode identificar desperdícios. PARA SABER MAIS O artigo “Praticando conceitos lean em um ambiente de escritório”, de Drew Locher (2017), ajudará você a conhecer mais sobre aplicação dos conceitos lean nos setores administrativos e de serviço. Ele enumera e discorre sobre os principais elementos do lean usados nos escritórios: • Estabilizar. • Padronizar. • Visualizar. • Melhorar. Busque o artigo em https://www.lean.org.br/. Publicado em: 06 mar. 2017. 7878 3. Obstáculos Pode parecer que os desafios na aplicação do Lean Service não são os mesmos dos enfrentados no setor industrial. As dificuldades técnicas podem até ser mais complexas, mas podem ser superadas com o propósito da mudança, melhoria e busca pela eliminação dos desperdícios. Um obstáculo no setor de serviços, mas que também pode ser encarado como uma oportunidade é usual falta de processos pré-definidos. É comum que o trabalho de algum indivíduo – normalmente o especialista, torne-se o processo. Pode parecer boa ideia, mas não é. O processo deve ser projetado como tal. Além disso, poucas vezes se investe em eficiência e desenvolvimento de processos melhores na área de serviços, como é feito nas operações. A seguir serão apresentados os obstáculos enfretados nos setores administrativos e de serviços, especificamente. 3.1 O produto não é físico Os “produtos” transformados nas áreas administrativas geralmente não são físicos. Em algumas áreas de suporte, por exemplo, pode até ser difícil identificar o valor entregue ao cliente final. O processamento dá-se em cima de informações. No tema “Ouvindo a voz do cliente” são discutidas algumas ferramentas de como fazer a identificação do valor para o cliente. E dada a dificuldade de se identificar o valor agregado, também pode ser difícil saber quais atividades não agregam valor e, portanto, são desperdícios. Especialmente nos processos administrativos, não é usual medir-se a eficiência ou a eficácia das atividades, não existe a cultura de medir-se o tempo – os tempos de ciclo das atividades, a produtividade, ou mesmo a qualidade do trabalho realizado – indicadores como o First Time Through ainda é pouco usado. Esta cultura, equivocada, que considera a medição meramente um controle ou vigilância por falta de confiança, não ajuda na aplicação dos conceitos lean. 7979 79 Outro obstáculo é nem sempre se saber quem é o cliente, principalmente quando se tratam dos clientes internos. Como não se enxerga a transformação do “produto” ao longo do processo, pode-se achar que existe apenas o cliente final da empresa, não havendo clientes internos. Ou mesmo não os reconhecendo como tal. Nunca é demais reforçar que um processo administrativo normalmente existe porque este é necessário para que a empresa siga operando adequadamente. Mesmo que este não esteja conectado diretamente ao cliente final. Nas áreas de serviço é usual que o “produto” é uma informação ou uma transação. Então, como observar os estoques? Como identificar os defeitos? Segundo Lareau (2002), os desperdícios nos processos administrativos e de serviço são: • Falta de alinhamento dos objetivos. Gasta-se muita energia quando os objetivos são mal-entendidos e como consequência se necessita grande energia para corrigir o problema. Corre-se ainda o risco de não se chegar ao resultado esperado. • Falta de atribuição da responsabilidade. Muitas vezes não está claro quem é o responsável por executar as tarefas. Além disso, as tarefas que não agregam valor, entretanto necessárias, ficam esquecidas. E geram atraso na entrega final do serviço. • Espera. É a espera por informação, tempo de reuniões, prazos, etc. Embora muitos processos ocorram de forma digital, as esperas não são eliminadas com isso. • Movimento das pessoas. Movimentações desnecessárias a procura de informação, documentos, etc. Esses deslocamentos não agregam valor, são desperdício. • Processamento. Todas as atividades realizadas, que desnecessárias, são um desperdício de processamento. Atividades de controle ou revisão são exemplos destas. • Controle. Como não há padronização na execução do serviço, os controles passam a ser necessários. Embora continuemsendo um desperdício. 8080 • Defeitos. Como não há padrão é necessário um esforço para inspecionar os resultados e algumas vezes são necessários retrabalhos. Pode-se dizer que existem três classes de desperdícios no setor de serviço, conforme apresentado na figua 1 (WARD e SOBEK, 2014). Figura 1 – As 3 classes de desperdícios nos setores de serviço Fonte: baseado em WARD e SOBEK, 2014. 3.2 Processos invisíveis Como os produtos não são físicos, os processos podem se tornar invisíveis dentro do sistema ou do fluxo de processamento – ou seja os processos ocorrem no meio digital. Assim, um dos obstáculos na aplicação dos conceitos lean é enxergar o fluxo de valor, ou seja, como o sistema funciona como um todo. Só enxergando o fluxo de valor é possível melhorar o desempenho do sistema. Para resolver este obstáculo, a solução é lógica, é necessário tornar os processos visíveis. É preciso tornar o processo visual, dando visibilidade às operações. Quando se faz isso, outro obstáculo pode surgir, pois além de dar visibilidade ao processo, dá-se visibilidade ao desempenho. 8181 81 Ainda existe uma cultura que que resiste à mundaça no setor de serviço. As pessoas acreditam que o trabalho no setor de serviço não está vinculado a uma rotina diária como está no setor produtivo. As atividades não acontecem da forma cíclica como na fábrica. Com isso, considera-se não ser possível a aplicação dos conceitos do lean, como, por exemplo, a padronização das atividades. 4. Lições aprendidas Conhecendo os obstáculos, serão apresentadas algumas lições aprendidas para aplicar os conceitos de lean, utilizando os obstáculos como oportunidades. A primeira lição é sobre como identificar o valor para o cliente. No lean, quando se pensa em serviço, fala-se da experiência do cliente, pois é isso que define se ele está satisfeito ou não com o serviço recebido. Para isso, é importante entender a jornada do cliente. Entendendo a jornada do cliente, sabe-se com detalhes o que acontece desde quando o cliente tem o primeiro contato com a empresa até o momento em que o serviço é entregue. Esta jornada deve ser analisada pela visão do fluxo e não através dos departamentos. Quando o cliente faz um pedido, ele não o faz ao departamento de vendas, mas à organização como um todo. O fluxo é transversal aos departamentos e áreas da empresa. A melhor ferramenta, o entendimento da jornada do cliente, é o mapeamento de fluxo de valor. Este mostrará em detalhe cada atividade executada para se entregar o serviço, bem como quais são os gargalos, retrabalhos, ou seja, quais são os desperdícios. Esta ferramenta ajuda a “enxergar” o todo e com isso se estimula o pensamento em melhorias. Note que o mapa de fluxo de valor aplicado na fábrica sugere que este seja feito a partir da expedição e caminhando pelo processo até o recebimento de matéria-prima e componentes. No caso da jornada do cliente, isso é feito simulando a própria experiência deste ao longo do processo de atendimento, do começo ao fim. 8282 Idenpendente da empresa, na ampla maioria dos segmentos, o mapeamento do Fluxo de Valor é um excelente passo inicial na aplicação dos conceitos lean. Isto ajuda em um outro obstáculo encontrado no setor de serviço já comentado. Os processos são invisíveis. O fluxo de valor não apresenta o típico fluxo de material, em seu lugar se observa o fluxo de informação. Depois de mapear o fluxo de valor é necessário avaliar se cada uma das atividades identificadas faz sentido – agrega valor para o cliente. Se faz, ela pode ser simplificada? Se não, ela pode ser eliminada? Não? Pode ser minimizada ou automatizada? Outra ferramenta de melhoria que pode ser utilizada é o Kaizen. O Kaizen ajuda no desafio de se conseguir objetivos específicos ou pontuais de melhoria. Além disso, o Kaizen consolida os conceitos lean. Por exemplo, em uma fábrica de parafusos fica claro o processo de transformação das barras de aço em parafusos. Porém, nesta mesma empresa existem processos administrativos que não são tão evidentes na área de vendas ou análise de crédito, por exemplo. Uma vez mapeados os processos, é preciso começar a implementação das melhorias. O Kaizen é muito útil na implementação das mudanças. Outros conceitos lean podem e devem ser utilizados no setor de serviço. O controle visual é um deles. Outro é a gestão do dia a dia. Estas duas ferramentas mostram como estão ocorrendo as entregas e se tudo está acontecendo como o planejado. 5. Exemplo de lean service Suponha um serviço de atendimento médico. O processo de uma consulta médica pode seguir o fluxo apresentado na figura 2. 8383 83 Figura 2 – Exemplo de um fluxo de uma consulta médica Fonte: elaborada pela autora. Quando se observa o processo, é difícil enxergar como as informações são processadas, logo também é difícil enxergar os desperdícios e identificar o que é valor para o paciente. Para isso é necessário um método. Pode-se seguir os seguintes passos: 1. Identificar o processo, atividades e valor. Identificar o que agrega valor para o cliente. Isto é necessário, pois apenas quem sabe qual é o valor para o cliente, pode saber quais são os desperdícios. 2. Desenhar o estado atual. Isto é feito para entender como é o processo, para identificar os desperdícios e alinhar toda a equipe no entendimento do estado atual. O que nos processos administrativos ou de serviços é ainda mais relevante. Normalmente, as pessoas destas áreas têm uma dificuldade maior em entender como estão inseridas em um processo. E mais ainda, quando se trata da necessidade de melhoria. Para entender o estado atual, pode-se fazer uma pesquisa para entender as atividades desempenhadas na área, mas também é importante coletar informações do processo, tempos de ciclo, dentre outros. A partir da análise destes dados, o mapa de estado atual é desenhado. 8484 Alguns pontos devem ser observados no mapeamento dos processos em serviços. São eles: • As interações com o cliente devem ser representadas no mapa. • Os dados que precisam aparecer nas caixas de informação são, ao menos: número de pessoas envolvidas na atividade, o tempo de realização da atividade (tempo efetivo realizando a atividade), o tempo de permanência (tempo que a informação ou documento permanence naquela etapa do processo, dado que a maioria dos indivíduos não se dedica a um único processo ou atividade). Com isso é possível identificar os desperdícios. Estes só adicionam custo e tempo. Mas estes são sintomas do problema e não suas causas. Como dito anteriormente, os três tipos de desperdícios nestes setores são os desperdícios de fronteira, de conhecimento e de planejamento. Os desperdícios de fronteira são as informações inúteis, que são informações coletadas que não são usadas. As esperas, como no caso exemplificando a consulta médica – etapas 2 (aguardar a consulta) e 7 (esperar ser chamado). Os desperdícios de conhecimento são as reinvenções, quando se quer ou não se tem as informações necessárias, sendo preciso reinventar ou recriar um conhecimento, e os problemas de falta qualidade, relacionados também à falta de conhecimento. Os desperdícios de planejamento são a falta de nivelamento de carga, onde ocorrem períodos de ociosidade e períodos de sobrecarga de trabalho. Ambos provocam queda da produtividade. Além destes, a falta de planejamento também provoca interrupções e falta de sincronismo entre as tarefas. A figura 3 apresenta como exemplo um mapa do estado atual de um call center. 8585 85 Figura 3 – Mapa de estado atual de um call center Fonte: elaborada pela autora. 3. Analisar os desperdícios, encontrando a causa raiz Agora que já se conhece os desperdícios, é importante encontrar as causas que geram estes desperdícios. Algumas ferramentas ajudam nesta tarefa. São elas: Ciclo PDCA, brainstorming, gráfico de Pareto, Diagrama de Ishikawa, 5 porquês, etc. 4. Desenhar o estado futuro Encontradas as causas, é preciso resolvero problema, e agora se aplicam os conceitos lean. Primeiro, sempre se avalia o fluxo. É possível implementar um fluxo contínuo de trabalho? Com o fluxo, o processo fica balanceado, eliminamse as interrupções. Outra ferramenta a ser considerada é a padronização. Toda atividade deve ser especificada nos seguintes pontos: conteúdo, sequência, tempo e resultado. Além disso, deve-se especificar como é realizada a transferência de informação, fazendo com que a relação entre cliente e empresa seja clara e direta. U RA - U N ID AD E D E RE SP O ST A AU TO M ÁT IC A AT EN D EN TE D A LI N H A D E FR EN TE ES PE CI AL IS TA ÁR EA RE SO LV ED O RA CL IE N TE Nova coleta de dados e descrição do problema Documentação do problema e solução poserior Nova coleta de dados e descrição do problema Entrada de dados e auto- atendimento Necessidade Não e continua para a linha de frente Resolvido? Não e desistiu Sim Fim da ligação Resolvido? Não e desistiu Sim Fim da ligação Não e continua para o especialista Resolvido? Não e desistiu Sim Fim da ligação Não e continua para a área resolvedora 8686 E o terceiro é a gestão visual. Esta melhora o controle do processo como um todo e promove um melhor desempenho. A figura 4 apresenta um exemplo de um mapa de estado futuro do mesmo call center da figura 3. Figura 4 – Mapa de estado futuro de um call center Fonte: elaborada pela autora. 5. Implementar as ações e gerenciar a melhoria contínua dos processos A ferramenta de mapeamento de fluxo de valor é muito boa para fazer um diagnóstico. Sem “enxergar” o fluxo de valor, fica difícil fazer um plano de ação. Mas é necessário implementar estas ações. E, para isso, nenhuma ferramenta é mais eficaz que o A3. Necessidade Nova coleta de dados e descrição do problema Nova coleta de dados e descrição do problema Documentação do problema e solução poserior U RA - U N ID AD E D E RE SP O ST A AU TO M ÁT IC A CL IE N TE AT EN D EN TE D A LI N H A D E FR EN TE ES PE CI AL IS TA ÁR EA RE SO LV ED O RA Entrada de dados e auto- atendimento Resolvido? Não e desistiu Sim Fim da ligação Não e continua para a linha de frente Não e continua para a área resolvedora 8787 87 O A3 é uma ferramenta que a Toyota utiliza para obter soluções para os problemas, de forma padronizada. (SHOOK, 2008) O A3 é apresenta um formato visual para o Ciclo PDCA. Esta ferramenta coloca em uma folha de papel tamanho A3 o problema, as análises, as ações corretivas e os planos de ação. Quando se apresenta uma melhoria específica de um fluxo de valor utilizando esta metodologia se economiza tempo. A ferramenta A3 auxilia no atingimento da meta que foi definida no desenho do estado futuro. Este relatório deve ser escrito de cima para baixo e da esquerda para direita. O relatório começa pelo tema ou título. Este tema deve indicar o problema a ser resolvido e deve ser adequadamente detalhado. O foco deve ser o problema e não a solução. Depois, o relatório deve apresentar uma breve descrição do problema que seja essencial para o entendimento da extensão e importância do problema. Em seguida, deve-se escrever a situação atual. Pode-se desenhar um diagrama que mostre o problema. Além disso, deve-se quantificar o problema, por exemplo percentagem de defeitos, horas paradas, etc. Se possível, apresentar gráficos da condição atual. Depois, passa-se para a análise da causa raiz. Após entender a situação atual, passa ficar mais claro qual é a causa raiz do problema. Um método utilizado para encontrar a causa raiz é os 5 porquês. Este método consiste em perguntar cinco vezes seguidas o porquê para aquele problema. É importante que os três princípios do projeto sejam considerados. • O trabalho foi especificado de acordo com o conteúdo, sequência, tempo e resultado? 8888 • As conexões entre as áreas são claras, diretas e imediatamente compreendidas? • As rotas realizadas pelos produtos ou serviços são simples, diretas e initerruptas? Em seguida, vem o plano de ação. Depois de identificar a causa raiz, deve-se considerar como o sistema deve ser melhorado. Aqui se estabelece um plano de ação para se chegar na implementação do estado futuro. A última parte são os indicadores e o monitoramento destes. Os indicadores devem mostrar como medir as melhorias e depois como acompanhar estas melhorias – monitoramento. A figura 5 apresenta um modelo de A3. Figura 5 – Exemplo A3 Fonte: elaborada pela autora. Com a utilização do A3, as pessoas podem conhecer melhor o trabalho e ajudar os líderes a desenvolverem suas habilidades de liderança na análise e solução dos problemas, suportando seu time nesta atividade. 8989 89 Esta ferramenta ajuda a fazer perguntas exploratórias e buscar o problema real. Além disso, o sucesso da aplicação desta ferramenta vem do foco no trabalho que realmente é executado. Também permite que as pessoas que estão envolvidas no problema contribuam para a solução. 6. Conclusão Como foi visto, os conceitos lean são aplicados tanto para o setor produtivo quanto para o administrativo e de serviço. Porém, quando aplicado no setor administrativo ou de serviço, os obstáculos encontrados são diferentes. Os maiores obstáculos são descobrir qual o valor para o cliente e qual é o fluxo do processo. Para isso, deve-se utilizar o mapeamento de fluxo de valor e algumas ferramentas aplicadas no sistema enxuto de produção. ASSIMILE Leia o artigo Escritório Enxuto (Lean Office), de Oliveira (2007). O artigo traz uma revisão das formas de desperdício no escritório e apresenta os métodos que melhor podem ser usados para eleminação dos problemas. O autor também faz um paralelo entre a fábrica e o mundo dos escritórios. Busque o título em: https://www.lean.org.br/. Publicado em: 28 set. 2007. TEORIA EM PRÁTICA O setor elétrico brasileiro possui um modelo de operação diferenciado em relação ao restante do mundo. As empresas responsáveis pela produção e transmissão de 9090 energia compõem o Sistema Interligado Nacional (SIN), que atualmente abrange as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte do Brasil. De grande porte, o SIN é interligado por linhas de alta tensão. Neste sistema ocorrem as negociações de compra e venda de energia. Isso significa que, uma vez que um agente de mercado (distribuidor, gerador, comercializador, consumidor livre ou especial) se torne membro do SIN, pode negociar energia com qualquer outro agente, independentemente das restrições físicas de geração e transmissão. As relações comerciais no atual modelo se estabelecem em duas esferas: no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e no Ambiente de Contratação Livre (ACL). A compra e venda de energia no ambiente regulado é formalizada por meio de contratos celebrados entre os geradores e os distribuidores, que participam dos leilões de compra e venda de energia. A Lumière é uma empresa de origem francesa que atua no Brasil com distribuidor de energia elétrica em alguns estados brasileiros. Seu modelo básico de negócio consiste em comprar energia elétrica a um custo reduzido – pois compra energia a ser fornecida no futuro (10 anos) e vende aos consumidores finais. Assim, quando uma usina hidroelétrica é construída, a energia que será gerada por ela pode ser vendida antecipadamente, embora a um preço menor. Essa é forma de financiar a construção da hidrelétrica. A Lumière, então, compra antecipadamente energia elétrica com desconto e revende no varejo para os consumidores finais por um preço maior. Mas ainda existe uma segunda fonte de rendimentos para a Lumière. A rede elétrica das cidades é administrada pela ANEEL. A distribuidoras de energia, como a Lumière, 9191 91 fazem a manutenção, expansão e atualização da mesma. E recebem da ANEEL por este serviço. Como a rede elétrica é muito extensa, a Lumière contrataempreiteiras para fazer o serviço de expansão da rede. Assim, ela tem 5 empreiteiras que operam 10 bases de operação cada uma, dedicadas para atender à Lumière. Em cada base trabalham entre 100 e 250 operadores em regime de dois turnos, 7 dias por semana. Uma descrição deste processo é apresentada a seguir: Um cliente – normalmente uma construtora, pede a instalação de um ramal novo de eletricidade. Isso acontece quando nasce um novo bairro ou rua, por exemplo. O cliente paga por esse serviço. Assim, o cliente entra em contato com a Lumière e faz a solicitação. A Lumière tem uma equipe central de projetos que faz a análise do pedido e desenvolve o projeto e o orçamento do mesmo. Uma vez aprovado o orçamento, o projeto segue para um planejador das obras. Este planejador gera uma lista de itens (poste, transformador, cabos, ...) e a envia para um operador logístico – a Logistique, encarregado de entregar os itens na base de operação da empreiteira responsável pelas obras naquela região. 9292 Na sequência, o projeto de expansão entra na fila de projetos aguardando execução. Até 20 dias antes da obra, um engenheiro da empreiteira e outro da Lumière vão até o local da obra e conferem a lista técnica de itens separados para ela. Assim, eles tentam ter certeza que será possível fazer a obra. Além disso, o prazo de 20 dias é necessário, pois normalmente a execução da obra implica em desligamento da energia elétrica da região. E por norma, para ANEEL é necessário comunicar os clientes com alguma antecedência. Nesta etapa, a empreiteira agenda a execução da obra e a realiza na data marcada. Depois disso, representantes da Lumière e da empreiteira visitam a obra para declará- la encerrada e, assim, disparar o processo de cobrança do cliente que a solicitou e registro da mesma junto à ANEEL, que remunera a Lumière pelo serviço. Alguns problemas recorrentes que são observados comumente: • A fila de espera para receber um orçamento de uma obra pode chegar a 3 semanas. • O prazo para execução de uma obra pode chegar a 3 meses. • Em tese, esta é uma fonte de receita para a Lumière. Quanto mais obras forem realizadas, melhor. Mas o processo tem algum gargalo e assim limita-se a receita. A direção da empresa está inconformada com isso. • A lista técnica contém 100% dos itens necessários para executar uma obra. Embora pareça complicado fazer isso, é uma garantia de que todos os itens comprados serão alocados – e pagos, para alguma obra. 9393 93 • Os erros na lista técnica são comuns. Faltam itens. Detalhes que são observados na visita ao local da obra passam desapercebidos no orçamento e projeto. Isso não só gera custo adicional que não será pago pelo cliente, como atrasa a execução da obra. • Algumas vezes, descobre-se a falta de itens para a obra no momento que ela se inicia ou que determinado item faltante se faz necessário. • Algumas vezes o tempo de execução da obra extrapola o prazo previsto e gera reclamações na ANEEL devido ao corte de energia. Isso pode gerar perdas de faturamento para a Lumière. • Algumas vezes o fechamento da obra não é corretamente feito e a ANEEL glosa itens da obra e isso também provoca perda de receita. Você é o consultor contratado para fazer uma recomendação para a Lumière de como resolver este problema. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A mentalidade enxuta procura eliminar um aspecto, tanto no processo produtivo quanto no de serviço. O que a mentalidade enxuta procura eliminar é a. Estoque. b. Defeitos. c. Desperdícios. 9494 d. Movimentação. e. Transporte. 2. O produto do setor de serviço ou administrativos geralmente é: a. Informação ou transação. b. Produto físico e informação. c. Transação, apenas. d. Transação e produto físico. e. Não tem produto. 3. O desperdício de planejamento se refere à falta de nivelamento. Isto significa que: a. Todos os serviços são oferecidos ao mesmo tempo. b. Que, às vezes, acontecem períodos de ociosidade e, às vezes, períodos de sobrecarga de trabalho. c. Que nunca acontecem interrupções. d. Que todas as tarefas estão em sincronia. e. Que há gargalo. Referências bibliográficas HINES, P.; TAYLOR, D. Going Lean. A guide to implementation. Lean Enterprise Research Center: Cardiff, UK, 2000. LAREAU, W. Office Kaizen: transforming office operations into a strategic competitive advantage. USA: ASQ Quality Press, 2002. 9595 95 LOCHER, Drew. Praticando conceitos lean em um ambiente de escritório. 2017. Disponível em: https://www.lean.org.br/artigos/503/praticando-conceitos-lean-em- um-ambiente-de-escritorio.aspx. Acesso em: 06 mar. 2017. OLIVEIRA, Jeferson Duarte. Escritório Enxuto (Lean Office). 2007. Disponível em: https://www.lean.org.br/artigos/57/escritorio-enxuto-(lean-office).aspx. Acesso em: 22 jun. 2019. PICCHI, F.A. Lean na Administração. In: LEAN SUMMIT 2002, Gramado, RS, 17-19 nov. Apresentações. Gramado: Lean Institute Brasil, 2002. SOBEK, D. Relatório A3: ferramenta para melhorias de processos. 2006. Disponível em: https://www.lean.org.br/artigos/90/relatorio-a3-ferramenta-para-melhorias-de- processos.aspx,. Acesso em: 28 maio 2019. SHOOK, John. Managing to learn: using the A3 management process to solve problems, gain agreement, mentor and lead. Lean Enterprise Institute, 2008. WARD, Allen C.; SOBEK II, Durward K. Lean product and process development. Lean Enterprise Institute, 2014. Gabarito Questão 1 – Resposta C Tanto nos processos produtivos quanto nos processos administrativos e de serviço, precisa-se eliminiar os desperdícios. E este é o foco da mentalidade enxuta. Questão 2 – Resposta A Na área administrativa ou de serviço, geralmente o “produto” é uma informação ou transação. Questão 3 – Resposta B Os desperdícios de planejamento são a falta de nivelamento de carga, onde acontecem períodos de ociosidades e períodos de sobrecargas de trabalho. São também as interrupções e a falta de sincronismo entre as tarefas. https://www.lean.org.br/artigos/503/praticando-conceitos-lean-em-um-ambiente-de-escritorio.aspx https://www.lean.org.br/artigos/503/praticando-conceitos-lean-em-um-ambiente-de-escritorio.aspx https://www.lean.org.br/artigos/57/escritorio-enxuto-(lean-office).aspx https://www.lean.org.br/artigos/90/relatorio-a3-ferramenta-para-melhorias-de-processos.aspx https://www.lean.org.br/artigos/90/relatorio-a3-ferramenta-para-melhorias-de-processos.aspx 969696 Ferramentas importantes. Fluxo e padronização do trabalho Autora: Yane Lobo Objetivos • Discutir o conceito de fluxo; • Como apresentar o Just-In-Time em serviços; • Apresentar a padronização do trabalho e suas vantagens – mesmo para processos administrativos. 9797 97 1. Introdução Com o mapeamento de fluxo de valor é possível “enxergar” como o fluxo flui pelo processo. E normalmente este fluxo sofre de interrupções, ou paradas, e contra-fluxos, normalmente ligados a não qualidade. Para melhorar o fluxo, tem-se duas ferramentas: Just-In-Time e a Padronização do Trabalho. A seguir serão apresentadas estas duas ferramentas que estão ligadas à Mentalidade Enxuta. Para exemplificar o uso destas ferramentas se buscará usar exemplos de serviços. 2. Fluxo e JIT Fluxo é o segundo princípio da Mentalidade Enxuta. Já dizia HIRANO e FURUYA (2006), “JIT is Flow”. A importância deste aspecto é seu impacto no tempo de resposta ao cliente, ou seja, ele impacta diretamente o lead time. O que normalmente está ligado à satisfação do cliente – nenhum cliente gosta de esperar pelo serviço. As linhas de montagem da Ford, nada mais eram que montagem em fluxo, conforme figura 1. A melhor maneira de executar uma produção de um produto ou serviço é em fluxo contínuo. Porém, as empresas acabam por produzir em lotes. As empresas acham que a produção em lotes aumenta a eficiência do processo e da logística. Porém, isso é feito assim para resolver os problemas de ineficiência, por exemplo, setups ou tempos de preparação demorados. Se estas ineficiênciasfossem solucionadas, não seria necessário produzir em lotes. 9898 Figura 1 – Linha de montagem da Ford Fonte: <https://motor1.uol.com.br/news/115900/ford-comemora-100-anos-da-primeira- linha-de-montagem-em-serie/>. Acesso em: 22 jun. 2019. Um exemplo da área de serviços é a cobrança da energia elétrica. Antes, alguém fazia a leitura e depois alguém digitava. Uma gráfica fazia impressão e os Correios entregavam. Agora o funcionário como, o da Figura 2, faz a leitura, digita o valor, imprime a conta e entrega. Numa única visita e alguns minutos. Figura 2 – Novo sistema de cobrança de energia Fonte: <https://radiograndeserra.com.br/bandeira-tarifaria-continua-sem-cobranca-extra- na-conta-de-luz/>. Acesso em: 22 jun. 2019. https://motor1.uol.com.br/news/115900/ford-comemora-100-anos-da-primeira-linha-de-montagem-em-serie/ https://motor1.uol.com.br/news/115900/ford-comemora-100-anos-da-primeira-linha-de-montagem-em-serie/ https://radiograndeserra.com.br/bandeira-tarifaria-continua-sem-cobranca-extra-na-conta-de-luz/ https://radiograndeserra.com.br/bandeira-tarifaria-continua-sem-cobranca-extra-na-conta-de-luz/ 9999 99 Então como se faz para produzir um produto ou serviço utilizando o fluxo contínuo? O primeiro passo é estabilizar o processo. O segundo passo é reduzir ao máximo o lote de execução do serviço, se possível utilizar lote unitário. Este passo, além de reduzir o lead time, melhora a qualidade do produto ou serviço. As etapas para se ter um fluxo contínuo são (SWANK, 2003): • Alinhar as etapas de processos consecutivas para que fiquem próximas umas das outras. • Padronizar os procedimentos e atividade. • Eliminar contra-fluxos ou loops. • Estalecer um tempo takt ou pitch para a célula. • Estabilizar e nivelar a capacidade do processo, eliminando os estoques intermediários. • Separe a complexidade. Não a coloque na célula. Veja o exemplo de mesas desenhadas para para o trabalho em célula na Figura 2. Figura 2 – Células de produção no escritório. Fonte: <https://smithsystem.com/collaborative-desks/>. Acesso em: 24 jun. 2019. https://smithsystem.com/collaborative-desks/ 100100 Indo além, pode-se considerar um JIT como uma extensão do fluxo. Sendo este último seu elemento fundamental. Segundo Schonberger (1984), responsável pleo termo JIT, este veio da ideia de “apenas a tempo”. Ou seja, apenas a tempo de entregar ao cliente no prazo – por exemplo. Veja a Figura 3. Nela se apresenta o modelo do Toyota Way, desenhado por Liker (2016). O JIT é um pilar do modelo, e o fluxo contínuo, um elemento deste pilar. Figura 3 – Casa do sistema Toyota de produção Fonte: adaptada de LIKER, 2016. JIT significa produzir ou executar um serviço que é necessário, quando necessário, na quantidade necessária. Isto resulta em um lead time bem mais curto, normalmente com redução de custo. Além disso, melhora a qualidade,pois o feedback dos problemas ocorre muito mais rápido. O JIT baseia-se em três ideias: 101101 101 • Takt Time (Tempo Takt). Conhecer o ritmo da demanda do cliente e produzir neste ritmo. • Produção Puxada. Fluxo unitário e contínuo de trabalho. • Produção em fluxo. Fluxo de uma peça por vez. O Takt e o fluxo contínuo reduzem o lead time e garantem a sincronia em todos os processos. Já a produção puxada controlada com cartões kanbans controlam o excesso de produção e garantem que a informação chegue rapidamente ao processo. Um exemplo de utilização de cartão kanban é no restaurante. O garçom anota na comanda o pedido e leva a comanda para a cozinha, colocando em uma ordem de chegada. Isto nada mais é que um kanban. O cozinheiro vai pegando as comandas da fila na ordem de chegada. O que está no “cartão kanban” comanda é o que o chefe deve produzir. Outro exemplo é apresentado na Figura 4 a seguir. Figura 4 – Modelo Benihana de serviço Fonte: elaborada pela autora. O caso apresentado na figura 4 mostra como o restaurante Benihana, que tem dezenas de unidades ao redor do mundo, inovou ao criar um sistema de atendimento em fluxo. E como é esperado, ao estabelecer um fluxo contínuo de operação, fez crescer a satisfação do cliente, reduziu manuseio e mão de obra e criou um sistema único de atendimento. A figura 5 mostra uma mesa de jantar típica do Benihana. 102102 Figura 5 – Mesa de serviço no Benihana Fonte: <www.flickr.com>. Acesso em: 24 jun. 2019. O tempo Takt é fundamental na Mentalidade Enxuta, já que este tempo sintetiza e caracteriza o pensamento lean. O takt é o ritmo da demanda, ou seja, é o ritmo que o cliente demanda o produto ou serviço. Todo o restante é consequência deste ritmo. Até a parte financeira da empresa deve ser fundamentada e estruturada com base no Takt Time. Por fim, o Takt Time impacta a relação com os fornecedores da empresa. É preciso uma visão sistêmica do negócio e esta visão deverá ir do fornecedor ao cliente, ou seja, abranger toda a cadeia de valor. Logo, os fornecedores devem operar no mesmo ritmo do seu cliente e aplicar conceitos de JIT na logística, para evitar a formação de estoques. No Benihana, exemplificado na Figura 4, o cozinheiro consegue ditar o ritmo do serviço, adequando-se ao tempo takt, sem impactar a satisfação do cliente. Quando as mesas de serviço estão vazias e a área de espera também, o cozinheiro toma mais tempo durante o preparo das refeições. Ele faz alguns malabarismos e truques com fogo. E assim http://www.flickr.com 103103 103 a refeição se extende um pouco mais. Já quando as mesas estão cheias e a área de espera também, o cozinheiro corta os malabarismos e truques, e assim a refeição demora menos. Ele consegue assim aumentar ou reduzir os tempos de ciclo das refeições, adequando-as ao takt. O mapeamento de fluxo de valor, como exemplificado no caso Benihana, é uma boa ferramenta para a análise do lead time, e consequentemente da jornada do cliente. E como se observa na Figura 4, embora simplificado, as diferenças no mapa de fluxo de valor para a área de serviço comparado ao mapa de uma indústria são grandes. A principal delas é a simplificação do fluxo de informação, que inexiste ou é muito simplificado. PARA SABER MAIS Leia o artigo “Lean philosophy and its applications in the service industry: a review of the current knowledge”, escrito por Higor Leite e Guilherme Vieira (2015). Neste artigo, os autores fazem uma revisão dos melhores artigos escritos sobre a aplicação do lean na área de serviços. Foram mais de 70 artigos focados na aplicação do Lean Thinking no setor de serviços. Os autores argumentam que a aplicação do lean em serviços não faz uso de um modelo único capaz de ser replicado em diferentes ambientes. Ao contrário, eles sugerem um conjunto de ferramentas a serem usadas de acordo com a necessidade. LEITE, Higor dos Reis; VIEIRA, Guilherme Ernani. Lean philosophy and its applications in the service industry: a review of the current knowledge. Production, v. 25, n. 3, p. 529-541, jul./set. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/0103- 6513.079012. http://dx.doi.org/10.1590/0103-6513.079012 http://dx.doi.org/10.1590/0103-6513.079012 104104 3. Padronização do trabalho A padronização do trabalho é outra ferramenta importante para aplicação da Mentalidade Enxuta, ou seja, para utilização dos princípios lean. Mas o que é trabalho padronizado? É o estabelecimento de procedimentos precisos e detalhados para o trabalho de cada atividade do processo. Esta padronização deve estar baseada em três elementos: • Takt Time. Este é o ritmo do cliente, logo cada atividade do processo deve acontecer neste ritmo. • Sequência exata de trabalho em cada atividade. • Estoque padrão exigido para manter o processo operando suavemente. • E não menos importante, a padronização deve permitir a quem desempenha a atividade, auferir a qualidade do trabaho executado. Está correto ou não? A regra 1 do DNA da Toyota reforça isso – vide Figura 6. Figura 6 – Regra #1 do DNA da Toyota Fonte: adaptada de Spear e Bowen (1999). Asvantagens da aplicação do trabalho padronizado incluem, dentre outras: • Baixo investimento. • Redução do estoque. • Diminuição da carga de trabalho. 105105 105 • Ganho de produtividade. • Satisfação dos indivíduos. • Diminuição do risco de acidentes. O documento do trabalho padrão é composto de três documentos básicos: • Quadro de capacidade de processo. Este quadro é usado para calcular a capacidade de cada etapa do processo. Isto é importante para identificar os gargalos. • Quadro de balanceamento da capacidade das etapas do processo. Esta tabela mostra a interação entre indívuos permite o balanceamento dos tempos de ciclo de acordo com o Takt Time. • Diagrama de Trabalho Padronizado. Além disso, existe a folha de instrução do trabalho. Esta define todas as etapas do processo com os requisitos que este produto ou serviço deve seguir para garantir a qualidade. Ela detalha a atividade, lista todas as etapas do processo, detalhando as habilidades especiais exigidas para realização do trabalho com segurança, qualidade e eficiência. A adaptação desta documentação, que nasceu na fábrica, para o serviço não é simples. Alguns problemas comuns são: • Os tempos de ciclo das atividades podem variar muito em atividades mais complexas e longas, • As atividades costumam envover análise e decisão. Assim a instrução de trabalho merece maior atenção que os demais documentos. • Pode ser difícil auferir a qualidade do resultado da atividade imediatamente ao final desta. 106106 A seguir serão mostrados alguns exemplos – Figuras 7, 8 e 9 - desta documentação aplicados ao setor de serviços. Pode-se observar as simplificações realizadas nestes documentos quando comparados com suas versões para fábricas. Figura 7 – Análise de capacidade Fonte: elaborada pela autora. Figura 8 – Análise de capacidade Fonte: elaborada pela autora. 107107 107 Figura 9 – FIT Mestre – Folha de instrução do trabalho Fonte: elaborada pela autora. 108108 Figura 10 – FIT Elemento – Folha de instrução do trabalho Fonte: elaborada pela autora. 109109 109 Figura 11– Exemplo de FIT – Checklist Fonte: elaborada pela autora. O trabalho padrão deve ser preparado por cada indivíduo que desempenha a atividade. E depois padronizado para toda a equipe, garantindo que todos realizem as atividades do mesmo modo. Evidentemente existem requisitos técnicos envolvidos nas atividades que não devem ser alterados ao se preparar o trabalho padrão. A área de qualidade deve garantir isso. Tudo mais é passível de mudança. 110110 Além disso, a gestão da empresa deve tentar eliminar progressivamente todo trabalho não padronizado. Deve-se buscar um plano visual para cada funcionário, onde ele possa enxergar quando e o que fazer. Outro documento que pode ajudar na padronização do trabalho na prática são os checklists exemplificados na Figura 11. Como exemplificado nas Figuras 8 e 9, a padronização do trabalho deve estar pautada no ritmo da demanda. Por isso, aqui também o Tempo Takt é essencial. Esse ritmo protege o processo de sobrecarga, que é um desperdício – MURI, e também da variação da cadência, MURA. Com isso se evita a superprodução – MUDA. Assim, o trabalho padronizado auxilia no dimensionamento da mão de obra ou gráfico de balanceamento de operação. ASSIMLE O trabalho padrão e as FITs – Folhas de Instrução do Trabalho não foram feitas para a área de serviços. Por isso, é importante adptá-las para este ambiente. A simples aplicação direta pode levar ao detalhamento de pontos desnecessários. Por outro lado, as atividades em serviços são, normalmente, muito pouco estudadas e projetadas. Assim, o ganho que se pode obter ao se aplicar o trabalho padronizado é grande. 4. Conclusão As ferramentas de fluxo – JIT e a padronização do trabalho trazem estabilidade para as operações e colaboram para atingir o objetivo da Mentalidade Enxuta. Este objetivo é a redução de custo pela eliminação de desperdício, gerando mais valor para o cliente. 111111 111 TEORIA EM PRÁTICA O Deep Dive é um bar temático. E hoje conta com 4 lojas – a matriz e três franquias. Foi fundado por 3 sócios há 10 anos. Eles se inspiraram em alguns bares temáticos existentes no Estados Unidos. Basicamente, o bar oferece um ambiente agradável, música ambiente. Desde o início, os sócios sempre focaram na área comercial. Trazer clientes é crítico. Então eles deixaram um tanto em segundo plano as operações. Em compensação, o bar está sempre cheio. Eles usam o conceito de máquina de vendas para contatar empresas e o público em geral para oferecer promoções e atrair convidados. A seguir são apresentados alguns dados operacionais sobre a matriz do Deep Dive. Fonte: elaborada pela autora. Note que a frequência de clientes no Deep Dive vinha aproximadamente constante, salvo alguns meses no passado. E neste ano ela tem oscilado bastante, além da média estar ligeiramente mais baixa. Este comportamento também se observa no faturamento. Além disso, pode-se observar no gráfico de disperção com as margens anuais que as mesas foram aumentadas. 112112 A percepção é de que mais aumentos podem diminiur o público frequentador. Fonte: elaborada pela autora. Do ponto de vista financeiro, a preocupação tem sido a pressão em cima da margem de lucro. Os custos com matérias-primas são elevados e eles têm pouco a fazer nessa área. Eles pensam que deveriam olhar melhor para as operações. Acreditam que os custos de mão de obra estão comparativamente alto frente aos principais concorrentes. Veja o gráfico de pareto dos custos a seguir. Fonte: elaborada pela autora. 113113 113 Além disso, algumas pesquisas qualitativas que a empresa fez para avaliar a qualidade do serviço oferecido constatou que o tamanho das porções e chamado “colarinho” do chope varia de colaborador para colaborador. E por último, a movimentação no balcão de serviços parece exagerada e eles acabam necessitando de mais gente do que faz sentido. Veja a ilustração abaixo. Fonte: elaborada pela autora. Como sócio do bar, e prestes a assumir as operações do mesmo, qual é a sua recomendação? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. As vantagens da aplicação do trabalho padronizado incluem alguns pontos importantes. Analise as afirmações a seguir e julgue (V) para verdadeiro e (F) para falso. ( ) O investimento para aplicação da ferramenta trabalho padronizado é alto. ( ) O trabalho padronizado reduz o estoque. ( ) Com o trabalho padronizado diminui os riscos de acidente de trabalho. 114114 Assinale a sequência correta. a. V – V – V. b. F – F – F. c. F – V – V. d. V – F – V. e. V – V – F. 2. I – O Takt é o ritmo de puxado da demanda, ou seja, é o ritmo que o cliente demanda o produto ou serviço. PORQUE II – Influencia todo o restante da operação. Até a parte financeira da empresa deve ser fundamentada e estruturada com base no Takt Time. É correto o que se afirma em a. As asserções I e II são verdadeiras, e a II justifica a I. b. As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não justifica a I. c. A asserção I é verdadeira e a II é falsa. d. A asserção I é falsa e a II é verdadeira. e. As asserções I e II são falsas. 3. Para produzir um produto ou serviço utilizando o fluxo contínuo, o primeiro passo é a estabilização do processo. O segundo passo é: 115115 115 a. Flexibilizar o processo. b. Utilizar os cartões kanbans. c. Eliminar os defeitos. d. Melhorar a qualidade do produto ou serviço. e. Reduzir o lote de produção de um produto ou execução de um serviço. Referências bibliográficas HIRANO, Hiroyuki; FURUYA, Makoto. JIT is flow: Practice and principles of lean manufacturing. QCI International, 2006. LEITE, Higor dos Reis; VIEIRA, Guilherme Ernani. Lean philosophy and its applications in the service industry: a review of the current knowledge. Production, v. 25, n. 3, p. 529-541, 2015. LIKER, Jeffrey K. O modelo Toyota: 14 princípios de gestão do maior fabricante do mundo. PortoAlegre: Bookman Editora, 2016. SPEAR, Steven; BOWEN, H. Kent. Decodificando o DNA do Sistema Toyota de Produção. Harvard Business Review, p. 97-106, 1999. SWANK, Cynthia Karen. The lean service machine. Harvard business review, v. 81, n. 10, p. 123-130, 2003. Gabarito Questão 1 – Resposta C (F) O investimento para aplicação da ferramenta trabalho padronizado é alto. INCORRETO, pois o investimento é baixo. (V) O trabalho padronizado reduz o estoque. (V) Com o trabalho padronizado diminui os riscos de acidente de trabalho. 116116 Questão 2 – Resposta A As duas asserções são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. Questão 3 – Resposta E Então, como se faz para produzir um produto ou serviço utilizando o fluxo contínuo? O primeiro passo é a estabilização do processo. O segundo passo é reduzir ao máximo o lote de produção ou execução do serviço, se possível utilizar lote unitário. Este passo, além de reduzir o lead time, melhora a qualidade do produto ou serviço. 117117 117 Lean Six Sigma e DMAIC Autora: Yane Lobo Objetivos • Apresentar o Six Sigma. • Apresentar a combinação do Lean – Six Sigma. • Apresentar a ferramenta DMAIC. • Fazer uma comparação entre o PDCA e DMAIC. 118118 1. Introdução Atualmente não basta procurar entregar produtos e serviços com qualidade. Além disso, é preciso entregar o produto que o cliente quer, quando ele quer, na quantidade que ele quer. A combinação do Lean com o Six Sigma tem sido efetiva para se atingir estes objetivos. Esta combinação foca na redução da variação de processo de qualquer produto ou serviço, identifica e elimina os defeitos, erros e desperdícios, melhorando o custo mínimo. Esta combinação se encaixa perfeitamente no uso do DMAIC (Define-Measure-Analize-Improve-Check), método que utiliza ferramentas de qualidade e estatísticas para redução da variabilidade dos processos e solução de problemas. O Lean Six Sigma é uma excelente metodologia para levantar as causas raízes dos problemas, identificando as oportunidades para redução dos custos, e redução ou eliminação das perdas, trazendo maximização das receitas. 2. Lean Six Sigma O Lean Six Sigma é uma junção dos conceitos utilizados nas duas metodologias. O Six Sigma foi criado na Motorola na década de 1980 junto com empresas de consultoria. Esta metodologia era focada na redução de defeitos, o que reduz também o custo da operação. Esta metodologia veio para quebrar o paradigma de que 99% de qualidade é sinômimo de excelência. (PYZDEK, 2003). Efetivamente, a Motorola abraçou o Six Sigma como um esforço para melhorar seu desempenho em qualidade. Entretanto, não se deve considerar o Six Sigma somente em termos da qualidade no sentido mais tradicional. Qualidade, em termos convencionais é definida como 119119 119 atender aos requisitos funcionais definidos pelo cliente, tem pouco há ver com o Six Sigma. Six Sigma efetivamente ajuda as empresas a melhorarem seus resultados financeiros. (PYZDEK, 2003). Entre os anos 1990 e 2000 houve uma expansão, principalmente pela implantação na GE (General Eletric), liderada pelo CEO Jack Welch. Suas principais características são: • Redução da variabilidade, ou seja, os produtos produzidos ficam mais próximos do valor desejado. • Aplicável a serviços e procedimentos técnicos-administrativos. É possível basear-se em dados qualitativos. O nome Six Sigma, como usado na Motorola, vem dos seis desvios padrões da curva normal como mostra a figura 1. Figura 1 – Six Sigma Fonte: elaborada pela autora. 120120 Um bom projeto Six Sigma tem um problema claramente definido com uma medida de desempenho associada a ele. Assim, garante-se que o resultado do projeto será adequadamente medido. Este projeto tem um impacto grande na organização, com um escopo bem definido e que dure de 5 a 6 meses. O projeto precisa focar em um problema de processo com potencial de melhoria do lucro, redução do custo e aumento da eficiência. É necessário ser um processo onde seja possível realizar uma coleta de dados. Para implementar um projeto Six Sigma, deve-se estruturar uma equipe que atuará como agente de mudança. Esta equipe deve ser formada por pessoas treinadas na metodologia. Cada pessoa da equipe tem seu papel e responsabilidade conforme figura 2. Figura 2 – Equipe Six Sigma Sponsor do Projeto Master Black Belt • Gerenciamento dos recursos do Projeto • Garantir alinhamento estratégico • Responsável executivo dos resultados • Eliminar as barreiras • Patrocinar a utilização da metodologia • Promover a cultura da qualidade • Liderança corporativa • Responsável pelo treinamento dos Black Belts e Green Belts Black Belt • Especialista na metodologia • Líder do projeto Black Belt Green Belt • Líder do projeto Green Belt Fonte: elaborada pela autora. O Lean traz o conceito de velocidade para o Six Sigma, que trabalha com o conceito de variabilidade. Com a união destas duas metodologias é possível satisfazer as necessidades dos clientes e melhorar os processos internos de negócio, pois enquanto uma foca na qualidade, a outra foca na remoção das atividades que não agregam valor. 121121 121 O escopo do Lean é criar um fluxo contínuo de trabalho e eliminar os desperdícios, já o Six Sigma tem como escopo identificar, quantificar e remover os problemas relacionados à variação de processos. Estes dois escopos combinados resultam em uma maior capacidade de resolução de problemas, desde o nível operacional até o nível estratégico. ASSIMILE Leia o artigo Desafios e Resultados com a implementação do Lean Six Sigma em empresas de diferentes ramos: uma revisão integrativa de estudos de casos publicados em três artigos relevantes que ressaltam a aplicação desta metodologia. Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica de três artigos que abordam a implementação do Lean Six Sigma. SANTOS, M.; SILVA, J.; LIMA, G.; PIRES, A. D Desafios e Resultados com a implementação do Lean Six Sigma em empresas de diferentes ramos: uma revisão integrativa de estudos de casos publicados em três artigos relevantes que ressaltam a aplicação desta metodologia. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 3. DMAIC O DMAIC é uma metodologia para aplicação das técnicas e ferramentas do Six Sigma de maneira estruturada. DMAIC significa – Define (Definir), Measure (Medir), Analyze (Analisar), Improve (Melhorar) e Check (Controlar). Cada uma das etapas do DMAIC tem suas ferramentas e técnicas típicas. Evidentemente estas ferramentas são utilizadas de acordo com a necessidade e sem qualquer obrigatoriedade. 122122 O DMAIC tem como objetivo a melhoria de um processo já existente. Existem frameworks simlares para a o desenvolvimento de produtos – DFSS ou o DMAVD – este focado no desenvolvimento de novos serviços. Aqui nos restringiremos ao DMAIC por ser mais geral e comumente usado. Esta melhoria deve estar direcionada a atender as necessidades dos clientes. A Figura 3 apresenta o que é realizado em cada fase. Figura 3 – DMAIC Definir o problema Definir formalmente os objetivos de melhoria do processo que sejam consistentes com as demandas do cliente e a estratégia da empresa. Medir o processo Medir o processo em questão e coletar os dados necessários do processo. Analisar a causa do problema Analisar para verificar o relacionamento e causalidade dos fatores. Incrementar o desempenho do projeto Incrementar e aperfeiçoar o processo em base à análise usando técnicas como desenho de experimentos. Controlar o processo e seu futuro desempenho Controlar o processo com testes pilotos e medir continuamente o processo para garantir que as variações são corrigidas antes de se transformarem em defeitos. Fonte: adaptada de PYZDEK (2003). O DMAIC é um roteiro ou estrutura que guia os projetos de Lean Six Sigma. Este roteiro é importante, pois quando se fala de melhoria deprocesso ou produto ou serviço, deve-se falar da forma que de realizar as mudanças. Sem mudanças não há melhorias. Para realizar estas mudanças é necessário um método, ou um roterio. Isto é que fará que o projeto siga no rumo certo durante este projeto de mudança. O DMAIC traz este formalismo e estrutura para os projetos. 3.1 Fase 1 – Definir Esta é a fase de conhecer o problema a partir de dados. Com isso, é possível especificar uma meta a ser atingida. Como se está tratando do Lean Six Sigma, o foco deve ser a eliminação dos desperdícios e defeitos. 123123 123 Nesta etapa, deve-se identificar os processos críticos. O escopo do projeto deve ficar claramente definido, a equipe deve ser escolhida e o cronograma definido. Se o problema não for bem definido, as oportunidades de melhoria serão menores, bem como os resultados. É importante definir o problema de forma quantitativa. As ferramentas utilizadas nesta fase são a Carta de Projeto, o Brainstorming e a Análise Financeira. Outra ferramenta utilizada é um mapa SIPOC. Este mapa relaciona o fornecedor (Supplier), as entradas (Input), o processo (Process), as saídas (Outuput) e o cliente (Customer). O SIPOC busca melhorar o entendimento dos processos com a definição dos principais elementos. Note que o SIPOC não é um VSM. Ele provê uma visão macro do processo estudado, focando especialmente nas interações. Para entender melhor, vejamos o exemplo a seguir. Uma pessoa precisa fazer um jantar para receber os amigos. Se ela quiser utilizar esta ferramenta, ela deve seguir os seguintes passos: • Definir a ferramenta que irá utilizar par o planejamento: planilha de excel, por exemplo. • Definir o fornecedor: escolha do supermercado. • Definir a entrada: escolher as matérias-primas, ou seja, os ingredientes do jantar. • Definir o processo: preparar o cardápio, fazer as compras, cozinhar e arrumar a casa. • Definir a saída: escolher quais pratos serão servidos. • Definir os clientes: quais pessoas serão convidadas. 124124 3.2 Fase 2 – Medir Esta é a etapa onde se realizam as medições do processo. É necessário fazer um refinamento do problema, fazendo um levantamento de dados do processo. Estas medidas devem ser avaliadas. Nesta fase, deve-se elaborar um mapa do processo, um diagrama de causa e efeito. Deve-se ter um plano de coleta de dados. Geralmente, há uma grande quantidade de dados a ser coletada, por isso é importante identificar as fontes de entradas, o processo e as saídas. Alguns exemplos de dados que podem ser coletados: tempo de processo, taxa de defeito, custos, entre outros. Os dados precisam ser confiáveis, pois impactarão em todas as fases. As ferramentas utilizadas nesta fase são a estratificação, a folha de verificação, o histograma e o diagrama de Pareto. Outra ferramenta utilizada é a análise de falhas – FMEA (Failure Modes, Effects Analysis). Esta ferramenta analisa as potenciais falhas que um produto ou serviço poderá apresentar e associa um risco a estas falhas. Com isso, pode-se classificar e priorizar as ações que devem ser tomadas para reduzir este risco. Como se trata do Lean Six Sigma, nesta etapa é importante usar o mapa de fluxo de valor para entender o processo. Na visão do Lean Six Sigma, o VSM é uma ferramenta muito forte dentro do Medir. 3.3 Fase 3 – Analisar Esta é a fase de avaliar e analisar as possíveis causas dos defeitos, problemas e desperdícios. Aqui se identificam as variáveis que afetam o processo. Depois da coleta de dados e da determinação das causas raízes dos defeitos, também é importante identificar as diferenças entre o planejado e o realizado. 125125 125 Naturalmente, o VSM feito na etapa anterior subsidia fortemente esta análise. É através do VSM que se buscará implementar o fluxo contínuo de trabalho no processo em foco. Esta fase está dividida em análise da causa raiz, análise do processo, análise de dados, análise de recursos e análise da comunicação. A análise da causa raiz identifica a origem dos defeitos. A ferramenta utilizada pode ser o Brainstorm. A análise do processo, como já citado, pode ser realizada através de um mapeamento detalhado do processo. Este mapa irá mostrar a eficiência do processo, bem como as oportunidades de melhoria. A análise dos dados valida e verifica os padrões. Esta verificação dos padrões é realizada com um estudo estatístico do processo. A análise dos recursos é importante para definir desde a matéria-prima até as embalagens e o sistema de transporte que serão utilizados. Por fim, a análise de comunicação que tem como objetivo levantar as falhas do processo do ponto de vista da comunicação, seja a comunicação com o cliente, seja com o fornecedor ou com os seus pares internos. As ferramentas utilizadas nesta fase são diagrama de causa-efeito e os 5 porquês. Não se pode esquecer também que é necessário documentar todas as análises realizadas. 3.4 Fase 4 – Melhorar ou incrementar Esta é a fase de determinar formas de reduzir a variabilidade e eliminar os desperdícios. Nesta fase devem ser realizados pilotos para estabelecer o novo processo. Assim se testa a solução em pequena escala, antes de desenvolvê-la no sistema inteiro. 126126 Nesta fase, a equipe estabelece um plano de ação. Este plano deve conter: • Ação a ser tomada; Responsável por cada ação. • Data prevista para implementação. • Indicador de desempenho. Como já citado anteriormente, para fazer-se este plano – já que se trata do Lean Six Sigma, é recomendado o uso do A3 como padrão. As ferramentas utilizadas nesta fase são DOE, FMEA, 5 porquês, entre outras. Além, é claro, do mapa de fluxo do estado futuro, que deve ser usado aqui como ferramenta de planejamento em nível sistêmico. 3.5 Fase 5 – Controlar Esta é a fase de estabelecer controles e verificar a nova capacidade do processo. É necessário sustentar a nova capacidade do sistema e para isso é preciso fazer o controle contínuo para garantir que a meta seja mantida e atingida com o tempo. As ferramentas utilizadas nesta etapa são CEP (Controle Estatístico do Processo), histograma, gráfico de tendência e a coleta de dados. 4. Comparação da metodologia DMAIC e PDCA O ciclo PDCA tem muita relação com a metodologia DMAIC. Suas semelhanças são os métodos de resolução de problemas. As duas metodologias buscam a melhoria contínua e utilizam ferramentas quantitativas e qualitativas. Suas diferenças estão no fato de que o ciclo PDCA utiliza ferramentas estatísticas mais simples, enquanto o DMAIC utiliza recursos estatísticos mais avançados. A figura 4 faz uma relação entre as fases do ciclo PDCA e a metodologia DMAIC. 127127 127 Figura 4 – Relação entre PDCA e DMAIC Fonte: elaborada pela autora. Como processo, o PDCA busca a melhor solução. Entretanto, ele é exageradamente amplo. O DMAIC torna o processo de melhoria mais estruturado e formal. PARA SABER MAIS Leia o artigo Utilização da metodologia DMAIC em um hospital da rede pública federal, com foco em melhoria da previsão de demanda por consultas. Este artigo mostra a aplicação da metodologia DMAIC no processo de compras de um hospital e apresenta os ganhos obtidos nesta aplicação. FERNANDES, Renan Maia; DA CUNHA REIS, Augusto; SENNA, Pedro. Utilização da metodologia DMAIC em um hospital da rede pública federal com foco em melhoria da previsão de demanda por consultas. Revista Brasileira de Gestão e Inovação (Brazilian Journal of Management & Innovation), v. 5, n. 2, p. 59-83, 2017. 128128 5. Conclusão As metodologias Lean e Six Sigma são utilizadas para resolução de problemas. Uma complementa a outra. Pode-se notar que estas duas metodologias utilizam as mesmas ferramentas, sendo que Lean é mais focado no tempo de resposta e Six Sigma na eliminação de defeitos. A aplicação do DMAIC para desenvolver projetos Lean Six Sigma é bastante utilizada, pois vai de encontro ao ciclo PDCA, que é uma ferramenta de qualidade bastante utilizada. TEORIA EM PRÁTICA Considerea seguinte situação. Você é um consultor Lean Six Sigma e é chamado por uma empresa de vendas on line para resolver o problema de entrega dos produtos. A empresa está com problema de prazo de entrega e também de entrega de produtos errados. A empresa já detectou que o atraso pode ser por falta de produto em estoque ou por problemas com a transportadora, que é terceirizada. Você, como consultor, deve começar entendendo o problema. Para isso é necessário fazer uma coleta de dados para análise deste. Quais são os dados importantes a serem coletados? Que tipo de análise você deve fazer? Quais são as melhores ferramentas a serem utilizadas? Que sugestão de melhoria você pode propor? 129129 129 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A combinação das metodologias Lean e Six Sigma são utilizadas para... a. Encontrar a causa raiz do problema. b. Atingir as necessidades do cliente. c. Atingir a meta de aumento de lucro, principalmente. d. Para melhorar as características do produto. e. Para reduzir os custos. 2. A equipe que realiza o projeto de Lean Six Sigma tem papéis e responsabilidades bem definidos. Analise as afirmativas a seguir. I. O Sponsor do projeto é o gestor dos recursos deste projeto. II. O Master Black Belt é o responsável pelos treinamentos da equipe. III. O Black Belt é o especialista na metodologia. É correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. II, apenas. c. III, apenas. d. I e II, apenas. e. I, II e III. 130130 3. A metodologia DMAIC possui cinco fases. Analise as afirmativas a seguir, e julgue (V) para verdadeiro e (F) para falso. ( ) O D é definir o problema com objetivo de definir o problema e as metas. ( ) O A é para avaliar a causa raiz do problema. ( ) O C é o compromisso ou objetivo do projeto. A sequência correta é a. V – F – V. b. F – V – F. c. V – V – F. d. F – F – F. e. V – V – V. Referências bibliográficas DE SORDI, J.O. Gestão por processos: uma abordagem da moderna administração. São Paulo: Saraiva, 2005. FERNANDES, Renan Maia; DA CUNHA REIS, Augusto; SENNA, Pedro. Utilização da metodologia DMAIC em um hospital da rede pública federal com foco em melhoria da previsão de demanda por consultas. Revista Brasileira de Gestão e Inovação (Brazilian Journal of Management & Innovation), v. 5, n. 2, p. 59-83, 2017. GEORGE, Michael L. Lean Seis Sigma para serviços. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004. MCCARTY, Thomas et al. The Six Sigma black belt handbook. Motorola University, 2004. PYZDEK, Thomas. The six sigma. McGrow-Hill, New York, 2003. 131131 131 SANTOS, M.; SILVA, J.; LIMA, G.; PIRES, A. D Desafios e Resultados com a implementação do Lean Six Sigma em empresas de diferentes ramos: uma revisão integrativa de estudos de casos publicados em três artigos relevantes que ressaltam a aplicação desta metodologia. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Gabarito Questão 1 – Resposta A O Lean Six Sigma é uma excelente metodologia para levantar as causas raízes dos problemas, identificando as oportunidades para redução de custos, e redução ou eliminação das perdas, trazendo maximização das receitas. Questão 2 – Resposta E I – O Sponsor do projeto é o gestor dos recursos deste projeto. CORRETO. II – O Master Black Belt é o responsável pelos treinamentos da equipe. CORRETO. III – O Black Belt é o especialista na metodologia. CORRETO. Questão 3 – Resposta C As etapas do DMAIC são: Definir formalmente os objetivos de melhoria do processo que sejam consistentes com as demandas do cliente e a estratégia da empresa. Medir o processo em questão e coletar os dados necessários do processo. Analisar para verificar o relacionamento e causalidade dos fatores. Incrementar e aperfeiçoar o processo em base à análise usando técnicas como desenho de experimentos. Controlar o processo com testes pilotos e medir continuamente o processo para garantir que as variações são corrigidas antes de se transformarem em defeitos. 132132 Apresentação da disciplina O Sistema Toyota de Gestão. Definição de propósitos e criação de valor Objetivos 1. Introdução 2. Visão de valor para o Lean 3. Gestão do dia a dia 4. Toyota Way 5. Conclusão Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito DNA da Toyota Objetivos 1. Introdução 2. DNA Toyota 3. As quatro regras da excelência 4. Conclusão Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Os 5 princípios do Lean Thinking (mentalidade enxuta) Objetivos 1. Introdução 2. Cinco princípios 3. Os desperdícios 4. Conclusão Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Mapeamento de processos - Resolução de problemas e eliminação de desperdícios Objetivos 1. Introdução 2. Mapeamento de processos 3. Conclusão Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Obstáculos comuns na implementação do Lean Office ou Lean Service Objetivos 1. Introdução 2. Aplicações do lean 3. Obstáculos 4. Lições aprendidas 5. Exemplo de lean service 6. Conclusão Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Ferramentas importantes. Fluxo e padronização do trabalho Objetivos 1. Introdução 2. Fluxo e JIT 3. Padronização do trabalho 4. Conclusão Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Gabarito Lean Six Sigma e DMAIC Objetivos 1. Introdução 2. Lean Six Sigma 3. DMAIC 4. Comparação da metodologia DMAIC e PDCA 5. Conclusão Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito