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TRABALHO-DOCENTE-E-TRABALHO-REMOTO-NA-PANDEMIA-COVID-19-

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O TRABALHO REMOTO/HOMEOFFICE NO CONTEXTO DA PANDEMIA 
COVID-19: UM OLHAR PARA O SETOR EDUCACIONAL 
 
Fernanda Landolfi Maia1 
Kelen Aparecida da Silva Bernardo2 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O contexto da pandemia, provocada pelo COVID-19, forjou o distanciamento e o 
isolamento social que tem se caracterizado como a principal medida adotada para minimizar a 
transmissão em âmbito nacional. Nessa conjuntura, um expressivo contingente de 
trabalhadores e trabalhadoras passaram a desempenhar as suas atividades laborais de forma 
remota. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD-COVID-19, no 
Brasil, na primeira semana de agosto/2020 estavam em trabalho remoto 8,6 milhões de 
trabalhadores/as. 
Objetivando analisar as condições de trabalho em razão da mudança do trabalho 
presencial para o remoto, pesquisadores do Grupo de Estudos Trabalho e Sociedade (GETS-
UFPR) e da Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista 
(REMIR), realizaram a pesquisa intitulada “O trabalho remoto/home-office no contexto da 
COVID-19”3. Os dados gerais da pesquisa demonstram aumento de horas diárias de trabalho 
e, também, de dias trabalhados durante a semana, entre outros fatores relacionados às condições 
objetivas de trabalho na modalidade remota. 
A partir de um recorte do banco de dados da referida pesquisa, buscou-se analisar as 
condições gerais e a adaptação dos trabalhadores/as vinculados ao setor de educação. Assim, 
 
1 Doutora em Sociologia, Mestre em Educação, Cientista Social e Secretária Executiva. Professora adjunta do 
Setor de Educação Profissional e Tecnológica da Universidade Federal do Paraná, membro do Grupo de Estudos 
e Pesquisa Trabalho e Sociedade (GETS/UFPR) e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o 
Secretariado (GEPSEC/UFPR). Pesquisadora da rede de estudos e monitoramento Interdisciplinar da reforma 
trabalhista (REMIR). Pesquisadora das temáticas de intensificação e flexibilização do trabalho docente e 
configurações do trabalho secretarial. E-mail: fmaia@ufpr.br 
2 Graduada em Serviço Social e Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta 
Grossa (UEPG). Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná, membro do Grupo de Estudos e 
Pesquisa Trabalho e Sociedade (GETS/UFPR). Pesquisadora da Rede de Estudos e Monitoramento 
Interdisciplinar da Reforma Trabalhista (REMIR). Pesquisadora das temáticas flexibilização e intensificação do 
trabalho. E-mail: kelenbernardo18@gmail.com 
3 Compõem a equipe da pesquisa: Maria Aparecida Bridi, Fernanda Ribas Bohler, Alexandre Pilan Zanoni, 
Mariana Bettega Braunert, Kelen Aparecida da Silva Bernardo, Fernanda Landolfi Maia, Zélia Freiberger 
(membros do GETS/UFPR); Giovana Uehara Bezerra (UNICAMP) e a REMIR. Os dados gerais da referida 
pesquisa foram divulgados no relatório parte I e para maiores informações, acessar o relatório completo 
no site da REMIR: https://www.eco.unicamp.br/remir/ 
das 906 (novecentas e seis) respostas válidas obtidas pela pesquisa4, a partir da organização e 
categorização das informações, foram selecionadas somente aqueles que declararam 
pertencerem ao setor educacional. Contabilizou-se 262 respondentes, ou seja, 28,9% do total 
dos participantes. Com a seleção e organização do banco de dados referentes aos 
trabalhadores/as vinculados à educação, procedeu-se às análises das questões objetivas, 
demonstrando o perfil e a avaliação do grupo quanto às condições do trabalho remoto/home 
office. Entre os respondentes do setor educacional estão professores-pesquisadores, 
professores-docentes, professores e técnicos com atuação em laboratório e professores-
gestores. 
 As questões subjetivas foram organizadas e categorizadas por meio de tabelas. Assim, 
considerando os vários cruzamentos e recortes possibilitados pelo banco de dados da pesquisa, 
elaborou-se a sistematização dos dados, observando as condições objetivas de trabalho de 
professores, bem como técnicos e gestores que atuem nessa área. Considerando que foram os 
respondentes que indicaram suas funções e categorias, optou-se em tratar como setor 
educacional, tendo em vista a diversidade de funções nesse campo, conforme descrito 
anteriormente. 
 
AS CONDIÇÕES DE TRABALHO REMOTO NO SETOR EDUCACIONAL: 
SEGUNDO OS DADOS DA PESQUISA 
 
Analisar o trabalho remoto na área da educação apresenta certa complexidade pois 
exige dos pesquisadores a compreensão, num primeiro momento da investigação, dos formatos 
possíveis de realização das atividades laborais. Nas instituições públicas entrou em vigor o 
ERE (Ensino Remoto Emergencial) que permitiu aulas via plataformas digitais institucionais 
ou plataformas livres por meio de aulas síncronas (“ao vivo”/on line) e assíncronas (videoaulas 
gravadas e materiais disponibilizados em ambientes virtuais de aprendizagem) e nas 
instituições privadas, o ensino remoto vem ocorrendo de acordo com as diretrizes de cada 
instituição. Ambas as instituições, públicas e privadas, foram autorizadas pelo Ministério da 
Educação, em caráter excepcional, pelas portarias nº 343 e nº 345, de 17 e 19 de março deste 
ano, a substituírem disciplinas presenciais por aulas que utilizem meios e tecnologias de 
informação e comunicação em cursos que estão em andamento. (BRASIL, 2020a; 2020b) 
 
4 A pesquisa “O trabalho remoto/ home-office no contexto da COVID-19” foi aplicada por 
meio de um questionário, cuja elaboração foi feita pela plataforma Google Forms e contou com 
37 perguntas. 
Destaca-se que o ensino remoto e suas especificidades assumido no contexto da 
pandemia não se trata de ensino à distância (EAD), pois essa modalidade pressupõe um tipo de 
contrato, uma estrutura (com templates, gravação em estúdio e materiais específicos e tutores). 
Tão pouco pode-se caracterizá-lo de ensino híbrido (parte presencial e parte à distância). O que 
há de similar em ambas as esferas pública e privada são as condições objetivas de trabalho 
como veremos nos dados a seguir, que são descritos de maneira simplificada, mas que estarão 
disponibilizados (com aprofundamento na base de dados) no relatório técnico da referida 
pesquisa. 
 Com base no cenário diversificado acima relacionado, identificou-se entre os/as 
participantes da pesquisa que o perfil é de maioria do sexo feminino (67,9%) com a faixa etária 
entre 31 a 40 (33,6%) e entre 41 a 50 (32,8%) anos, correspondendo assim a 66,4% do total. 
Quanto ao estado civil, os casados representam 45,4%. Do conjunto dos/as participantes, 60% 
possuem filhos/as e 40% não os têm. São trabalhadores/as com um grau elevado de 
qualificação, pois os que possuem mestrado (29,4%) e doutorado (42,4%) representam a maior 
parte do coletivo. Quanto a cidade em que o trabalho é realizado, a prevalência foi a capital do 
estado do Paraná, Curitiba como 43,8%. O setor educacional, contemplado pela pesquisa, é 
constituído predominantemente por professores/as com 93,3% do total, mas também observa-
se outras categorias como: pedagogos/as (2,7%), pesquisadores/as (1,5%) e também 
identificou-se a ocorrência de pertencimento em mais de uma categoria como professores/as e 
mentores/as (0,4%), professores/as e pesquisadores/as (1,5%), professores/as e redatores/as 
(0,4%) e professores/as e técnicos de laboratório (0,4%). A partir desses dados, é possível 
afirmar que há participantes que exercem mais de uma função dentro da área educacional, 
indicando a existência de polivalência desses profissionais e jornadas duplas de trabalho. As 
atividades mais citadas pelos/as participantes da pesquisa giram em torno da rotina docente 
como aulas, ensino e orientação (86,3%) seguidas por elaboração de artigos e pesquisas 
(35,5%). Trata-se de profissionais que possuem permanência longínqua nos cargos que 
ocupam, visto que 47,3% afirmam está no atualcargo entre 10 a 15 anos. 
A pesquisa revela que para 40,1% dos/as participantes, o trabalho na modalidade 
remota só contempla uma pequena parcela de suas atividades e 32,1% afirma encontrar 
dificuldades ao realizar seu trabalho de forma remota, pois este requer a sua presença física. 
Com a mudança do trabalho presencial para o remoto, no contexto da pandemia, muitos 
trabalhadores/as tiveram que adaptar-se a forma de realizar as suas atividades. Esse processo 
demanda tanto estrutura física como espaço, mobília, equipamentos tecnológicos e acesso à 
internet, quanto habilidades e conhecimentos para trabalhar com as tecnologias digitais como 
as plataformas que possibilitam a realização de aulas remotas. 
Na avaliação dos trabalhadores/as do setor de educação, participantes da presente 
pesquisa, as condições relativas à ergonomia são razoáveis para 53,8%, pois estes não dispõem 
de um espaço específico para realização do seu trabalho apesar de possuírem mesa e cadeira. 
Entretanto, uma parcela importante (38,2%) avaliou que sua condição ergonômica para a 
realização do trabalho é excelente, pois possuem escritório com mesa e cadeiras adequados. 
Enquanto 8,0% consideram péssimas suas condições objetivas de trabalho, pois não possuem 
mesa, cadeira ou local apropriados para o trabalho remoto, evidenciando o caráter provisório e 
emergencial de adaptação para o trabalho nessa modalidade. 
No que tange aos equipamentos e tecnologias utilizadas para a realização do trabalho 
remoto, 38,9% avaliam dispor de tecnologia e equipamentos excelentes para a realização do 
trabalho, enquanto que 56,5% consideram razoáveis e 4,6 % consideram péssimas por não 
disporem de tecnologias ou equipamentos necessários para o desempenho de suas atividades 
laborais na modalidade remota. 
Uma questão importante para investigar se houve ou não um processo de intensificação 
do trabalho durante o período de atividade remoto é com relação ao ritmo de trabalho e 
possíveis alterações durante a quarentena. Assim, na percepção de 59,9% dos/as participantes, 
o ritmo de trabalho passou a ser mais acelerado na modalidade remota. Já 30,2% apontam que 
passaram a trabalhar num ritmo mais lento, enquanto 9,9% não sentiram mudança no ritmo de 
trabalho. Na comparação da média de horas trabalhadas antes e durante a pandemia, ocorreu 
uma diminuição de 59,8% dos/as que trabalhavam 8 horas diárias na comparação antes e 
durante a pandemia, também aumentou 44,3% aqueles que trabalham mais de 8 horas diárias 
durante a pandemia. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Com base nos dados coletados, identificou-se que a maior parte dos/as respondentes 
são do sexo feminino, pertencentes à faixa etária entre 31 a 40, com filhos/as. A maioria destes 
trabalhadores e trabalhadoras integram a categoria docente e seu trabalho precisa ser realizado, 
em grande parte ou totalmente, de forma presencial. Consequentemente, quase 80% dos/as 
participantes avaliam que o trabalho realizado presencialmente possui mais qualidade que o 
remoto. O trabalho remoto/home office apresenta, paradoxalmente, aspectos positivos e 
negativos. Para a compreensão de suas especificidades, faz-se necessário aprofundamentos 
“teóricos” e metodológicos. As facetas empíricas emergidas pela presente pesquisa 
configuram-se como pontos importantes para o processo de análise teórica. 
Os aspectos positivos do trabalho remoto/home office, identificados pelo coletivo 
pertencentes ao setor da educação, estão vinculados com menos tempo de deslocamento, 
flexibilidade parcial de horário, menos preocupação com aparência física e maior tempo de 
vivência com os familiares. Por outro lado, os pontos negativos dessa modalidade de trabalho 
estão conectados com aspectos como falta de interação social com colegas de trabalho e alunos; 
apagamento das fronteiras entre vida familiar e atividade profissional, com a consequente 
invasão do tempo de trabalho para o tempo de não trabalho, processo que se concretiza por 
meio de dinâmicas como receber demandas de trabalho em qualquer horário e dia da semana, 
inclusive nos fins de semana e feriados. Soma-se a este cenário, o acúmulo das atividades 
domésticas com as atividades do trabalho, fator que merece atenção uma vez que a categoria 
docente é historicamente constituída por trabalhadoras e estas acumulam jornadas de trabalho; 
a falta de equipamento adequado ou modernos, bem como a dificuldade em atuar por meio do 
computador e aplicativos de software também despontam como características negativas que o 
trabalho remoto/home office assume no contexto de pandemia para esse coletivo de 
trabalhadores e trabalhadoras. 
 
 
REFERÊNCIAS 
BANCO DE DADOS SETOR EDUCACIONAL: “Trabalho remoto/home-office no contexto 
da pandemia COVID-19”. Curitiba: GETS/UFPR; REMIR, 2020. 
 
BRIDI, Maria Aparecida; BOHLER Fernanda R.; ZANONI, Alexandre P. Relatório técnico 
da pesquisa: Trabalho remoto/home-office no contexto da pandemia COVID-19. 
Curitiba: GETS/UFPR; REMIR, 2020. 
 
BRASIL. Ministério da Educação. Perguntas e respostas: Conselho Nacional de Educação 
esclarece principais dúvidas sobre o ensino no país durante pandemia do coronavírus. 
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/busca-geral/12-noticias/acoes-programas-e-projetos-
637152388/87161-conselho-nacional-de-educacao-esclarece-principais-duvidas-sobre-o-
ensino-no-pais-durante-pandemia-do-coronavirus. Acesso em: 08 set. 2020a. 
 
BRASIL, Portaria nº 343, de 17 de Março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas 
presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo 
Coronavírus - COVID-19. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-343-
de-17-de-marco-de-2020-248564376. Acesso em: 08 set. 2020b. 
 
http://portal.mec.gov.br/busca-geral/12-noticias/acoes-programas-e-projetos-637152388/87161-conselho-nacional-de-educacao-esclarece-principais-duvidas-sobre-o-ensino-no-pais-durante-pandemia-do-coronavirus
http://portal.mec.gov.br/busca-geral/12-noticias/acoes-programas-e-projetos-637152388/87161-conselho-nacional-de-educacao-esclarece-principais-duvidas-sobre-o-ensino-no-pais-durante-pandemia-do-coronavirus
http://portal.mec.gov.br/busca-geral/12-noticias/acoes-programas-e-projetos-637152388/87161-conselho-nacional-de-educacao-esclarece-principais-duvidas-sobre-o-ensino-no-pais-durante-pandemia-do-coronavirus
https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020-248564376
https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020-248564376
BRASIL, Portaria nº 345, de 19 de Março de 2020. Altera a Portaria MEC nº 343, de 17 de 
março de 2020c. Disponível em: 
https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=603&pagina=1&data=19/0
3/2020&totalArquivos=1. Acesso em: 08 set. 2020. 
 
https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=603&pagina=1&data=19/03/2020&totalArquivos=1
https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=603&pagina=1&data=19/03/2020&totalArquivos=1

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