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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO CIBER ESPACIAL ENGENHARIA CARTOGRÁFICA E DE AGRIMENSURA JULIANA TAMIRES FERREIRA KIZAHY NAGEM REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: ESTUDO DE CASO DA ÁREA DE PROTEÇÃO (APA) E DA FLORESTA ESTADUAL DE RENDIMENTO SUSTENTÁVEL (FERS) DO RIO PARDO - RONDÔNIA BELÉM – PA 2021 JULIANA TAMIRES FERREIRA KIZAHY NAGEM REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: ESTUDO DE CASO DA ÁREA DE PROTEÇÃO (APA) E DA FLORESTA ESTADUAL DE RENDIMENTO SUSTENTÁVEL (FERS) DO RIO PARDO - RONDÔNIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Rural da Amazônia como parte das exigências para a conclusão do Curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura. Orientador: Prof. Msc. Robson Jose Carrera Ramos. BELÉM – PA 2021 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecas da Universidade Federal Rural da Amazônia Gerada automaticamente mediante os dados fornecidos pela autora N147r Nagem, Juliana Tamires Ferreira Kizahy Regularização Fundiária de Unidades de Conservação : Estudo de caso da Área de Proteção (APA) e da Floresta Estadual de Rendimento Sustentável (FERS) do Rio Pardo - Rondônia / Juliana Tamires Ferreira Kizahy Nagem. - 2021. 68 f. : il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura, Campus Universitário de Belém, Universidade Federal Rural Da Amazônia, Belém, 2021. Orientador: Prof. Me. Robson José Carrera Ramos 1. Regularização fundiária . 2. Unidades de conservação da natureza. 3. Direito agroambiental. 4. Imóveis Rurais. 5. APA e FERS do Rio Pardo. I. Ramos, Robson Jose Carrera, orient. II. Título CDD 342.1247 JULIANA TAMIRES FERREIRA KIZAHY NAGEM REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: ESTUDO DE CASO DA ÁREA DE PROTEÇÃO (APA) E DA FLORESTA ESTADUAL DE RENDIMENTO SUSTENTÁVEL (FERS) DO RIO PARDO- RONDÔNIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Rural da Amazônia como parte das exigências para a conclusão do Curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura. Aprovado em 13/08/2021. BANCA EXAMINADORA: ______________________________________________________________________ Prof Msc. Robson Jose Carrera Ramos Orientador Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA _______________________________________ Profª. Drª. Merilene do Socorro Silva Costa Examinadora Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Augusto José Silva Pedroso Examinador Instituto Federal do Pará – IFPA A Deus, o maestro de minha vida, por sempre me guiar e honrar, que me retirou dos maiores abismos e me encheu de toda a sua glória AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar e acima de tudo ao meu Deus, que é a minha força maior em todas as circunstâncias da minha vida. Agradeço à minha mãe Renê, que sempre foi pai e mãe para mim, por todo esforço que fez para que eu pudesse ter, desde a infância, acesso à educação e hoje chegar à educação superior, e também por todos os sacrifícios aos quais se propôs para que eu pudesse estar todos os dias na universidade. Agradeço à minha mãe-avó Maria Filomena por todo amor e por me estimular a ingressar no curso no qual hoje sou concluinte. Jamais me esquecerei de sua emoção ao receber a notícia de que eu havia passado no vestibular, seu afeto me tocou e continuará me tocando para sempre. Agradeço a todos os meus familiares que estiveram de alguma forma comigo nessa jornada, principalmente a minha tia Luenaiá e ao meu primo Henzo, além do meu irmão Júlio, em especial por trazer para nós a minha sobrinha Paula que me dá o amor mais puro do mundo, me fornecendo tranquilidade em cada um dos seus abraços. Agradeço a minha amiga amada e querida Luiza Castro que esteve presente e jamais se ausentou, sendo a pessoa responsável por eu hoje estar aqui, uma vez que enxugou minhas lágrimas diversas vezes, e não me deixou desistir mesmo quando era tudo que eu mais queria. Agradeço pelas conversas, horas de estudo, risadas, choros, festas, trabalhos e por ser a pessoa com o coração mais lindo que eu tive a sorte de encontrar nessa universidade. Agradeço ao meu namorado Júnior por todo amor, compreensão e encorajamento para que eu seguisse sempre focada e em busca da realização de cada um dos meus projetos, mesmo que para isso tivéssemos que sacrificar alguns momentos juntos. Sou grata, meu amor, por você ter segurado a minha mão e jamais soltado, por aplaudir cada uma das minhas vitórias como se fossem suas e por estar comigo nas horas boas e ruins. Ao meu orientador Robson Carrera por toda a sua dedicação, e por me aceitar como sua orientanda, saiba que é um privilégio ser ensinada por você, eu o admiro muito, em especial pelo seu empenho em nos fornecer a melhor educação. Agradeço aos meus professores Carlos Caldeira e Mayara Caldeira por serem exemplos da docência, e reflexo de amor por nós alunos, mesmo quando não merecemos. Agradeço a todos pela toda a rede de apoio que se formou no corpo do docente do curso no momento mais difícil que eu e outras alunas vivemos. Professores Carlos Caldeira, Mayara Caldeira, João Almiro, Suzana Romeiro, Emerson Morais e Robson Carrera, obrigada por terem demonstrado solidariedade e cuidado conosco, sem vocês seria impossível continuar, eu jamais esquecerei. Agradeço a minha turma, Engenharia Cartográfica 2016, pelos altos e baixos que passamos juntos, em especial à minha amiga Karen Cesário e ao Wendell Pinheiro por todos os trabalhos, festas, viagens até em casa em algum ônibus lotado, e pelo alivio que vocês me trouxeram em diversos momentos. Agradeço também ao Alexandre Filho e ao Júlio Araújo por terem me norteado e me ensinado tantas vezes, sem jamais perderem a paciência, vocês mostram que conhecimento compartilhado só se multiplica. A todos os citados, saibam que hoje compartilho a minha vitória com vocês. "Jamais se renda, jamais desista da luta.” (As sufragistas) RESUMO O Brasil tem a posse da terra como uma regalia concedida a uma minoria mais afortunada, fato que estimulou uma realidade de concentração fundiária, originada na distribuição de terras desde o período colonial. Esse fato, aliado a divergência entre as leis nas esferas estaduais e federais, causa desorganização e ausência de informações relativas às jurisdições, além disso existem diferentes órgãos e cada um deles possui suas próprias regras e normativas. Assim, os protocolos são variáveis, e também dependem do tipo de ocupação vigente na área, incorporando dificuldade e complexidade no processo de regularização das áreas e por vezes estimula conflitos de ordem jurídica. Isto é refletido na Área de Proteção e na Floresta Estadual de Rendimento Sustentável do Rio Pardo, as duas apresentam uma série de divergências jurídicas entre o Estado de Rondônia e outros órgãos, instituições e a sociedade civil, gerando insegurança jurídica na regularização fundiária dessas unidades. O objetivo deste trabalho é realizar o estudo acerca da regularização fundiária de Unidades de Conservação da Natureza, aprofundando- se no caso da Área de Proteção e da Floresta Estadual de Rendimento Sustentável do Rio Pardo,que estão sub judice, localizadas em Rondônia, e que não atendem a três quesitos básicos para a implantação de uma unidade de conservação: demarcação, perfil dos ocupantes e atividades econômicas permitidas. A insegurança jurídica da posse estimula problemas socias, ambientais, econômicos e políticos. Após o detalhamento dos aspectos jurídicos das UCs a partir de pesquisa documental, avaliação da degradação ambiental no período de 2010 à 2020 e da analise características físicas da área de estudo, foi possível identificar os principais obstáculos na regularização das referidas unidades de conservação: a falta de demarcação entre as UCs e a divergência entre as suas categorias dentro do SNUC. Assim, com esses fatores solucionados, a regularização fundiária poderá ser concluída, e as áreas de APP e ARL recuperadas, promovendo o fortalecimento da APA da FERS do Rio Pardo. Palavras–chave: Regularização fundiária; Unidades de conservação da natureza; Direito agroambiental; Imóveis Rurais; APA e FERS do Rio Pardo. ABSTRACT Brazil has land ownership as a perk granted to a more fortunate minority, a fact that stimulated a reality of land concentration, originated in the distribution of land since the colonial period. This fact, combined with the divergence between laws at the state and federal levels, causes disorganization and lack of information related to jurisdictions, in addition there are different bodies and each of them has its own rules and regulations. Thus, the protocols are variable, and also depend on the type of occupation in force in the area, incorporating difficulty and complexity in the process of regularization of the areas and sometimes stimulates legal conflicts. This is reflected in the Protection Area and the State Forest of Sustainable Income of the Pardo River, the two present a series of legal divergences between the State of Rondônia and other organs, institutions and civil society, generating legal uncertainty in the land regularization of these units. The objective of this work is to carry out the study on the land regularization of Nature Conservation Units, deepening in the case of the Protection Area and the State Forest of Sustainable Yield of the Pardo River, which are sub judice, located in Rondônia, and that do not meet three basic requirements for the implementation of a conservation unit: demarcation, occupant profile and permitted economic activities. The legal uncertainty of ownership stimulates social, environmental, economic and political problems. After detailing the legal aspects of conservation units from documentary research, environmental degradation assessment in the period from 2010 to 2020 and analyzing the physical characteristics of the study area, it was possible to identify the main obstacles in the regularization of these conservation units: the lack of demarcation between conservation units and the divergence between their categories within the SNUC. Thus, with these factors solved, land regularization can be completed, and the areas of APP and ARL recovered, promoting the strengthening of the APA and FERS of the Pardo River. Keywords: Land regularization; Nature conservation units; Agro-environmental law; Rural properties; APA and FERS of the Pardo River. . LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Mapa das capitanias hereditárias. .................................................................. 17 Figura 2 – Organograma explicativo da definição de terras devolutas de acordo com a lei de terras de 1850. ............................................................................................................ 19 Figura 3 - Linha do tempo: Principais debates e legislação brasileira sobre o meio ambiente ......................................................................................................................... 28 Figura 4 - Linha do tempo dos instrumentos que criaram áreas de proteção. ................ 31 Figura 5 - Mapa APA do Rio Pardo e FERS do Rio Pardo. ........................................... 45 Figura 6 - Comparação da área de estudo no intervalo de 10 anos ................................ 48 Figura 7 - Cobertura Vegetal da APA e FERS do Rio Pardo ......................................... 49 Figura 8- Declividade da APA e FERS do Rio Pardo .................................................... 50 Figura 9 - Hidrografia da APA e FERS do Rio Pardo.................................................... 52 Figura 10 - Geologia da APA e FERS do Rio Pardo...................................................... 53 Figura 11 - Geomorfologia da APA e FERS do Rio Pardo ............................................ 54 Figura 12 - Pedologia da APA e FERS do Rio Pardo .................................................... 55 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Instrumentos de legislação fundiária do território brasileiro: do Pré- descobrimento ao Império .............................................................................................. 20 Tabela 2 - Alguns conceitos do Estatuto da Terra de 1964 ............................................ 24 Tabela 3 - Instrumentos de legislação fundiária do território brasileiro: da Velha à Nova República ........................................................................................................................ 26 Tabela 4 – Grupos e categorias de unidades de conservação, com as siglas utilizadas, regime de posse, domínio, uso e ocupação do solo. ....................................................... 33 Tabela 5 - Unidades de Conservação Federais em Rondônia - RO................................ 37 Tabela 6 - Unidades de Conservação Estaduais em Rondônia ....................................... 38 Tabela 7 - Classificação das Declividades ..................................................................... 51 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12 1.1. Justificativa ..................................................................................................... 13 1.2. Objetivos ......................................................................................................... 15 1.2.1. Geral ......................................................................................................... 15 1.2.2. Específicos ................................................................................................ 15 2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 16 2.1. A estrutura fundiária no Brasil .................................................................... 16 2.1.1. O Brasil Colônia ....................................................................................... 16 2.1.2. O Brasil Império ....................................................................................... 17 2.1.3. O Brasil República ................................................................................... 21 2.2. A estrutura ambiental no Brasil ................................................................... 27 2.2.1. A regularização fundiária nas unidades de conservação da natureza ....... 30 2.3. As unidades de conservação no estado de Rondônia .................................. 36 2.3.1. As unidades de conservação de gestão federal ......................................... 37 2.3.2. As unidades de conservação de gestão estadual ....................................... 38 2.4. Desafetação, rebaixamento, redução do tamanho e desclassificação de unidades de conservação .......................................................................................... 41 3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 44 3.1. Coleta e preparação de dados .......................................................................44 3.2. Área de estudo ................................................................................................ 44 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 46 5. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 58 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 60 1. INTRODUÇÃO Historicamente o Brasil apresenta a propriedade e a posse da terra como uma regalia concedida a uma minoria mais afortunada, fato que origina uma realidade de concentração fundiária, tendo em vista não apenas os conflitos fundiários entre grupos diversos de ocupantes do território, sobretudo a fraca coordenação entre as instituições de gestão fundiária (REYDON et al, 2017). Tais instituições que possuem um diálogo precário entre si, que se agrava pela divergência entre as leis nas esferas estaduais e mesmo entre os entes federais, causando por vezes relativa desorganização e ausência de informações relativas às jurisdições. Estes conflitos se mantêm presentes, pois há persistência tanto na concentração fundiária, originada na distribuição de terras desde o período colonial, como na exploração do trabalho e de severos impactos ambientais (REYDON et al., 2017). Nesse âmbito, a regularização fundiária é definida pelo artigo 46 da Lei nº 11.977/2009 como sendo um conjunto de medidas com objetivo de regularizar áreas ocupadas irregularmente e titular seus ocupantes, afim de garantir direitos como à moradia e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, dessa forma, carregando grande importância neste cenário uma vez que assegura o direito sobre a terra, além de agregar muitos benefícios de ordem social, econômica, política e ambiental (BRASIL, 2009). Além disso, a regularização fundiária é realizada respeitando as particularidades das esferas jurídicas, ambientais e sociais. Entretanto, pode ser realizada por diferentes órgãos e cada um deles possui suas próprias regras e normativas para executá-lo. Nesse cenário, os protocolos são variáveis, dependendo do tipo de ocupação vigente na área, como: terras indígenas, unidades de conservação, assentamentos, territórios quilombolas, dentre outros. Tais fatos incorporam dificuldade e complexidade no processo de regularização das áreas e por vezes estimula conflitos de ordem jurídica, notadamente entre as estruturas criadas para regularização e fiscalização referente ao uso e ocupação da terra. Este efeito é refletido na Área de Proteção Ambiental – APA do Rio Pardo (Sub judice1) e na Floresta Estadual de Rendimento Sustentável – FERS, ambas no estado de Rondônia, uma vez que as duas apresentam uma série de divergências jurídicas entre o Estado de Rondônia e outros órgãos, instituições e a sociedade civil, o que resulta em 1 Expressão que indica que aguarda decisão de um Juiz, Tribunal ou que está aguardando decisão judicial. 13 crise e insegurança jurídica na regularização fundiária dessas unidades. Por conseguinte, neste estudo busca-se nortear a regularização fundiária das Unidades de Conservação estaduais APA e FERS do Rio Pardo, tendo em vista amenizar as grandes dificuldades e contraposições no âmbito jurídico, buscando uma solução que garanta a segurança jurídica dessas áreas, imprescindivelmente a fim de gerar a titulação de posse aos moradores da área e atender ao artigo 46 da lei nº 11.977/2009 que visa garantir o direito social à moradia, o pleno desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 1.1. Justificativa No Brasil, a aquisão legítima à terra é conseguida por meio do direito de posse ou propriedade, no entanto uma vez que historicamente o acesso e ocupação da terra foi dada de forma a originar um contexto fundiário muito conflituoso e complexa (CHEADE, 2015). Ou seja, este contexto demostra que regularização fundiária foi limitada desde mesmo a função colônia em que se atendia os interesses da Europa e de pequenos grupos privilegiados que vieram a se tornar grandes proprietários de terras, assim moldando uma distribuição fundiária desigual e desorganizada, fato que gera fraudes tanto em propriedades particulares quanto nas áreas públicas pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios (REYDON et al., 2017). Este contexto de complexidade e confusão fundiária contribui para a degradação da biodiversidade e obstrui uma gestão eficiente das unidades de conservação, resultando no atraso do bom andamento da regularização fundiária nessas áreas (CHEADE, 2015). Nolte et al. (2013), aponta que as unidades de conservação são principalmente afetadas pela presença de conflitos fundiários, pois os embates em relação a posse de suas terras é fator central que vai determinar o sucesso ou não da conservação. Portanto, a boa gestão fundiária das unidades de conservação é imprescindível para êxito da preservação de recursos e paisagens e também, garantir a provisão de serviços ambientais. Vale destacar que a criação das unidades de conservação é de responsabilidade da Administração Pública visando proteger a biodiversidade baseando-se no artigo 225, § 1º, inciso III, da Constituição Brasileira, a qual dispõe sobre o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de 14 vida, o dever do Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações, além de instruir sobre a definição de áreas protegidas em todos os estados (Brasil, 1988). Entretanto, anteriormente a consolidação dessas regiões, faz-se necessária a aprovação e encaixe em protocolos e metodologias respeitando as particularidades legislativas e jurídicas de acordo com o tipo de ocupação. Se tratando de UCs tem-se a Lei Federal n. 9.985/00, regulamentada pelo Decreto Federal n. 4.340/02 que regula o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, no qual pode se destacar que como pré- requisito para a criação de UCs devem ser avaliados três aspectos: as atividades econômicas, população ocupante e características do imóvel, como limites, área e seus objetivos (Brasil, 2002). Com esse ponto discorrido, pode-se avaliar que as unidades de conservação APA Rio Pardo e FERS do Rio Pardo apresentam algumas inconsistências com o proposto pela lei do SNUC, tendo em vista não apenas que não existem os limites individuais exigidos entre as duas, como também existem falhas quanto perfil da famílias que as acessam, fato que pode ser verificado pela existência de processos realizados pelo Ministério Público do Estado que apontam empresários, agentes políticos e madeireiros que realizam a ocupação da área para atividades de especulação fundiária ou conceber áreas para exploração pecuária. Essas divergências expõem o não cumprimento dos três quesitos básicos para a implantação de uma unidade de conservação estabelecidos pelo SNUC: demarcação de limites, perfil dos ocupantes e atividades econômicas exercidas na área. Por conseguinte, sendo necessário proceder com a regulação das Unidades de Conservação APA Rio Pardo e FERS do Rio Pardo, de forma a estabelecer os limites e demarcações afim de conceder os títulos de posse à população tradicional residente na área. Segundo Reydon et al. (2017), a insegurança jurídica da posse ao longo dos anos contribui para o surgimento de outros problemas de cunho social, econômico, político e ambiental, sendo apenas possível sua solução através da regularização das posses. Assim, a regularização destas UCs teoricamente levará a uma maior taxa de sucesso na preservação ambiental, pois irá gerir as atividades econômicas desenvolvidas na região além de assegurar o direito à terra. Também vale comentar que háduas situações que valem ser ressaltadas: já transitou em julgado o veredicto de 06/06/2015 em que o Estado de Rondônia deveria ter 15 definido os limites da APA Rio Pardo e da FERS do Rio Pardo, além de suas demais obrigações ao qual foi condenada, e também que os estudos que foram determinados pelo Decreto n. 23.2010/2018 para serem realizados pelo Grupo Técnico de Trabalho não foram concretizados até o presente momento. 1.2. Objetivos 1.2.1. Geral Realizar o estudo acerca da regularização fundiária de Unidades de Conservação da Natureza (UC), aprofundando- se no caso de duas UCs de gestão estadual que se encontram sub judice: a Área de Proteção e da Floresta Estadual de Rendimento Sustentável do Rio Pardo, localizadas em Rondônia. 1.2.2. Específicos • Descrever os aspectos jurídicos das UCs, a partir de pesquisa documental; • Avaliar a degradação ambiental no período de 2010 à 2020; • Analisar a cobertura vegetal, geologia, geomorfologia, hidrologia e pedologia da área de estudo; • Identificar obstáculos na regularização das referidas unidades de conservação; 16 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. A estrutura fundiária no Brasil 2.1.1. O Brasil Colônia A atual situação fundiária do Brasil foi pautada em diversos dispositivos legais que foram instaurados em fases históricas distintas, antes mesmo até do momento histórico do descobrimento, passando pelo Império, República, até o presente. O Tratado das Tordesilhas de 07 de junho de 1494, assinado entre o Rei Dom João II de Portugal e os reis católicos da Espanha Dona Isabel de Castela e o Rei Dom Fernando II de Aragão, foi o primeiro instrumento a tratar de delimitação territorial onde encontrava-se o Brasil. Neste tratado, definiu-se que o chamado novo mundo seria dividido por um meridiano a 370 léguas a ocidente de Cabo Verde, sendo o lado leste pertencente a Portugal e o lado oeste a Castela (MOREIRA, 1994). Posteriormente, com a chegada de Pedro Álvares Cabral e a incorporação das terras brasileiras às posses da coroa Portuguesa, ignorando possíveis regimes territoriais já efetivados pela população indígena nativa, foi adotado, em 1534, o sistema das capitanias hereditárias (RIBEIRO, 2018). Neste sistema, o Brasil foi divido em 15 partes (Figura 1), sendo doadas para o donatário de forma inalienável, porém transmissíveis por herança. O estatuto das capitanias era formado pela carta de doação e pela carta foral, nos quais eram especificados foros, direitos, atributos, privilégios e deveres donatário, que atuaria como governador administrando coisa pública, devendo ortogar sesmarias (DI PIETRO, 2006). A Lei das Sesmarias em Portugal, aprovada em 1575, tinha como objetivo distribuir a quantidade de terras em que o favorecido conseguisse produzir (JAHNEL, 2017), porém no Brasil, implantada juntamente ao sistemas das capitanias hereditárias em 1532, visava a doação de terras com fins de povoar e evitar a colonização do território brasileiro por outros países, principalmente evitar o domínio da Espanha (NABARRO E TSUKAMOTO, 2017), sendo as terras distribuídas de forma gratuita, porém com o dever de pagar o dízimo a Ordem de Cristo (JAHNEL, 2017). 17 Figura 1 - Mapa das capitanias hereditárias. Fonte: Cintra (2013) Porém, em 17 de julho de 1822 foi publicada a Resolução n° 76 que suspendeu a concessão de sesmarias e não houve a implementação imediata de outro sistema de regularização das terras, contexto que favoreceu a ampliação dos latifúndios, finalizando, assim a governança fundiária no Brasil Colônia. 2.1.2. O Brasil Império Após a declaração da independência, a Constituição Imperial de 1824 tratou no inciso XXII do Artigo 179, a garantia do direito de propriedade em toda a sua plenitude (BRASIL, 1824). Ademais, o mesmo inciso faz referência a desapropriação e a sua indenização: Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é 18 garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte. [...] XXII. E'garantido o Direito de Propriedade em toda a sua plenitude. Se o bem publico legalmente verificado exigir o uso, e emprego da Propriedade do Cidadão, será elle préviamente indemnisado do valor della. A Lei marcará os casos, em que terá logar esta unica excepção, e dará as regras para se determinar a indemnisação. [...] (Brasil, 1824). Posteriormente em 09 de setembro de 1826, a Lei Infraconstitucional n°422, determinou que a necessidade pública e a utilidade pública seriam os critérios para a desapropriação de propriedades privadas. [...] Art. 1.° A unica excepção feita á plenitude do direito de propriedade conforme a Constituição do Imperio, Tit. 8.° art. 179, § 22, terá logar quando o bem publico exigir uso, ou emprego da propriedade do cidadão por necessidade nos casos seguintes: 1.° Defesa do Estado. 2.° Segurança Publica. 3.° Socorro publico em tempo de fome, ou outra extraordinaria calamidade. 4.° Salubridade publica. [...] (BRASIL, 1826). No entanto, apesar de haver fortes dispositivos que garantissem o direito pleno a propriedade, nos primeiros trinta anos do regime imperial não havia uma legislação vasta o suficiente para moldar e direcionar a situação fundiária, levando ao crescimento dos latifúndios e a reivindicação da posse através do poder e da violência, sendo maiores até mesmo que no Brasil Colônia (ROCHA, 2002). Em 1843, surgiu, impulsionado pela pressão da Inglaterra para a abolição da escravatura, o Projeto nº 94 sobre Terras e Colonização que foi o delineamento para a Lei de Terras de 1850. Segundo Gadelha (1989), este projeto visava a substituição da mão de obra escrava, uma vez que os imigrantes apenas podiam adquirir pequenas propriedades após 3 anos de trabalho, incentivando a vinda de colonos e desprezando a mão de obra nativa como força de trabalho assalariada. O projeto 94 tramitou por sete anos na Câmara e no Senado, passando por diversos ajustes, logo, no ano de em 18 de setembro de 1850 a Lei de Terras nº 601 foi implementada no Brasil, apenas 14 dias após a Lei que aboliu o tráfico (04 de setembro de 1850), sendo aplicada a partir de 1854 após sua regulamentação através do Decreto 1.318. 19 O decreto que regulamentou a Lei de Terras instruiu sobre os dispositivos para realizar a legitimação da propriedade, indicou as terras de domínio público e a propriedade privada, além de definir terras devolutas (Figura 2), indicar que sua compra deve-se dar pelo título de compra, entre outras atribuições. A Lei de Terras de 1850 instituiu ferramentas e normas para a validação de doações anteriores, e para a regularização de posses mansas e pacíficas, além disso colocou a terra como propriedade do Estado, passando a ser uma mercadoria para ser adquirida de acordo com o poder econômico do comprador, e não mais identificada como do patrimônio pessoal do imperador e distribuída proporcionalmente ao prestigio social do favorecido (NOZOE,2006). Figura 2 – Organograma explicativo da definição de terras devolutas de acordo com a lei de terras de 1850. Fonte: Brasil (1850) – Adaptado À vista disso, a Lei de Terras foi fundamental para a renovação do sistema fundiário do Brasil, e em 1854 o Decreto nº 1.318 determinou a obrigatoriedade de realizar o cadastro das terras tidas, as quais eram registradas, conferidas e armazenadas pelo Vigário, além de também disseminar as obrigações e prazos das freguesias do Império. Esta ordenação ficou conhecida como Registro Paroquial ou Registro do Vigário (TRECANI, 2009). Os vigários, no entanto, apenas deveriam transcrever as informações Definição de Terras Devolutas (Lei de Terras de 1850) Sem uso público nacional, provincial ou municipal Sem domínioparticular legítimo Não forem dadas por concessões do Governo Ocupadas por posses não legitimadas 20 relatadas, despreocupando-se com a qualidade e veracidade das mesmas, fato que criou um cenário favorável a fraudes, com casos até mesmo de terras que foram declaradas com extensão superior à da província em que era localizada (RODRIGUES, 2008). Embora a Lei de Terras de 1850 tivesse como objetivo regularizar as propriedades, distinguir as terras públicas e privadas e estabelecer confiança nos títulos de propriedade, e o Registro Paroquial visasse o cadastro com fins estatísticos e hipotecários, não foi possível alcançar as metas propostas por ambas devido a forma que foram aplicadas (RODRIGUES, 2008), estabelecendo instrumentos diversos do Pré- descobrimento ao Império (Tabela 1). Tabela 1 - Instrumentos de legislação fundiária do território brasileiro: do Pré-descobrimento ao Império Período Ano Dispositivo Tipo Pré- Descobrimento 1494 Tratado das Tordesilhas Dividiu o 'Novo Mundo' entre Espanha e Portugal Colonial 1534 Capitanias Hereditárias América Portuguesa dividida em 15 partes, doadas de forma inalienável 1575 Lei das Sesmarias Doação gratuita de terras que se conseguisse produzir, afim de evitar a colonização por outros países 1822 Resolução nº76 Suspensão do o Sistema de Sesmarias Império 1824 Constituição Imperial, Art. 179 Garantia do direito de propriedade em toda sua plenitude e primeira referência a desapropriação e indenização 1826 Lei Infraconstitucional Definiu a utilidade e necessidade pública como critério para a desapropriação de propriedades privadas 1843 Projeto Nº 43 Anteprojeto da Lei de Terras 1850 Lei de Terras Definiu as terras devolutas e instruiu sobre os dispositivos para realizar a legitimação da propriedade, indicou as terras de domínio público e a propriedade privada, entre outros 1854 Registro do Vigário ou Registro Paroquial Realizou o registro de terras possuídas 1864 Lei Hipotecária Implantou o Registro Geral Fonte: A Autora (2021) 21 Neste sentido, em 1864, a Lei Hipotecária (nº 1.237), regulamentada pelo Decreto nº 3.353, foi publicada, tendo como principais feições implementar o Registro Geral onde seriam copiados, sendo função do Tabelião realizar estes registros, todos os títulos de transmissão da propriedade entre vivos e os seus ônus (RODRIGUES, 2008). No entanto, apesar dos diversos avanços trazidos pela Lei Hipotecária, como a constituição de ônus reais e a obrigatoriedade da escritura pública para os contratos, haviam diversos debates no que dizia respeito de a transcrição ser útil como prova dominial (RODRIGUES, 2014). No entanto, essa legislação, no § 4o do artigo 8º, determinou que a transcrição não tinha a capacidade de comprovar a propriedade de quem a adquiria: [...] Art. 8º A ansmissão entrevivos por titulo oneroso ou gratuito dos bens susceptiveis de hypothecas (art. 2º § 1º) assim como a instituição dos onus reaes (art. 6º) não operão seus effeitos a respeito de terceiro, senão pela transcripção e desde a data della. § 4º A trancripção não induz a prova do dominio que fica salvo a quem fôr. [...] (BRASIL, 1864). Essa percepção traz bastante contrariedade uma vez que a transcrição era uma formalidade a ser realizada como matrícula no Registro Geral de Imóveis com a finalidade conhecer a propriedade (com seus limites e titulação) e servir para os futuros compradores terem informações sobre a situação das terras que lhe interessavam (caso das escrituras de compra e venda) (ROGRIGUES, 2014). Entretanto, mesmo que a Lei de Terras tenha sofrido com a falta de sintonia entre seus instrumentos e a realidade que proporcionou e que não tenha alcançado os objetivos para qual foi criada, a mesma é de suma importância e influência para a atual situação fundiária no Brasil, tendo em vista não apenas que serviu como para parâmetro para regularização da terra e orientou ações governamentais na questão fundiária, como também por ampliar o acesso à terra e auxiliar na instituição do espaço rural (NASCIMENTO, 2008). 2.1.3. O Brasil República Seguindo para o ano de 1989, houve a queda do Regime Imperial e a posse do primeiro presidente republicano do Brasil Marechal Deodoro da Fonseca, iniciando o 22 período da velha república ou república oligárquica. Esse momento da história foi regido pela Constituição Republicana de 1891 que reforçou o direito pleno de propriedade, exceto por desapropriações justificadas pela necessidade pública com indenização prevista (BRASIL, 1891), conforme a Constituição Imperial também determinava. Além disso, a Constituição Republicana também deu autonomia aos estados recém criados, transferindo aos estados o domínio das minas e das terras devolutas, deixando a cargo da união apenas as áreas necessárias para a defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro federais (BRASIL, 1891). Além disso, os estados novos puderam legislar livremente, devendo respeitar aos princípios constitucionais da União, o que lhes permitiu determinar e cobrar impostos, elaborar sistema eleitoral e judiciário próprios, entre outros (TRINDADE,2003). Dessa forma, atribuiu-se administradores dos estados uma grande autoridade que muitas vezes eram afetados pela interferência dos coronéis, que são definidos abaixo: [...] a Guarda Nacional nasceu a 18 de agôsto de 1831, tendo tido o Padre Diogo Antônio Feijó por pai espiritual ... durante quase um século, em cada um dos nossos municípios existia um regimento da Guarda Nacional. O pôsto de coronel era geralmento concedido ao chefe político da comuna ... Eram, de ordinário, os mais opulentos fazendeiros ou os comerciantes e industriais mais abastados, os que exerciam, em cada município, o comando - em - chefe da Guarda Nacional [...] (MAGALHÃES, 1964). Segundo Leal (2012), o coronelismo foi concebido em meio a uma estrutura social e econômica desigual, com trocas de proveito com o poder público e a grande influência dos senhores de terra. Resultando em uma realidade de dominação rural com conflitos agrários violentos e posses indevidas de terras indígenas e de pequenos proprietários. Em seguida foram promulgados dispositivos afim de fazer mudanças nas formas de aquisição da terra: em 1900 a execução do Orçamento da União permitiu adquirir a terra por outros meios que não a compra. Em 1906 o Serviço de Povoamento do Solo Nacional buscava promover a colonização em áreas não ocupadas e em 1913 o Decreto 10.105 instituiu o prazo de três anos para os posseiros declararem suas possessões, porém teve seus efeitos suspensos em 1915 (KURY, 2009). Apenas um ano depois, em 1916, o Código Civil foi lançado com objetivo de regular os direitos e obrigações de ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e às suas relações (BRASIL, 1916), predominando uma do mundo e do direito e com o ideal 23 de justiça afastado da realidade do interior do Brasil (AMARAL, 2009). No que diz respeito a normas fundiárias, pode-se destacar os seguintes trechos: [...] Art. 485. Considera-se possuidor todo aquele, que tem de fato o exercício, pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes ao domínio, ou propriedade. [...] Art. 550. Aquele que, por vinte anos sem interrupção, nem oposição, possuir como seu, um imóvel, adquirir-lhe-á o domínio independentemente de título de boa-fé que, em tal caso, se presume, podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual lhe servirá de título para a transcrição no registro de imóveis. (Redação dada pela Lei nº 2.437, de 1955) Art. 551. Adquire também o domínio do imóvel aquele que, por dez anos entre presentes, ou quinze entre ausentes, o possuir como seu, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé. (Redação dada pela Lei nº 2.437, de1955) Parágrafo único. Reputam-se presentes os moradores do mesmo município e ausentes os que habitem município diverso. (Redação dada pela Lei nº 2.437, de 1955) Art. 552. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a do seu antecessor, art. 496.contanto que ambas sejam contínuas e pacíficas. Art. 553. As causas que obstam, suspendem, ou interrompem a prescrição, também se aplicam ao usucapião (art. 619, parágrafo único), assim como ao possuidor se estende o disposto quanto ao devedor. [...] (BRASIL, 1916) O Código Civil Brasileiro de 1916 define e posse e assegura o direito propriedade, portanto não há garantia de modo absoluto. O direito pleno a propriedade apresenta brechas quando emerge a usucapião e suas normas e indica a desapropriação em caso de utilidade pública e direitos de vizinhança. Além disso, o Registro de Imóveis ganhou a função de transmitir domínio, sendo uma das formas para adquirir a posse. No entanto, mesmo com as manobras legislativas para assegurar o direito de propriedade descentralizado, os latifundiários ainda tinham em mãos um grande poder político e se prevaleciam disso (LEAL, 2012). Contudo, alguns anos depois a República Oligárquica chega ao fim, devido ao enfraquecimento da economia do café, e então o governo passou a Getúlio Vargas (MAIA e SARAIVA, 2012). Surgiu então a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934, na qual se fala pela primeira vez sobre o interesse social da propriedade, inclusive condicionada o direito a posse da propriedade ao interesse social ou coletivo. Ademais em 1937, o primeiro Código Florestal (Decreto nº 23.797) e o Código das Águas (Decreto nº24.643). Em 1946 emerge uma nova Constituição Republicana que reforça a garantia do 24 direito da propriedade e apresenta como novidade a desapropriação que pode ser motivada pelo interesse social e define que o uso da propriedade deve estra alinhado com o bem estar social, conforme citado no § 16 do Artigo 141 e no Artigo 147: [...] Art. 141 [...] § 16 - É garantido o direito de propriedade, salvo o caso de desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante prévia e justa indenização em dinheiro. Em caso de perigo iminente, como guerra ou comoção intestina, as autoridades competentes poderão usar da propriedade particular, se assim o exigir o bem público, ficando, todavia, assegurado o direito a indenização ulterior [...] 147 - O uso da propriedade será condicionado ao bem-estar social. A lei poderá, com observância do disposto no art. 141, § 16, promover a justa distribuição da propriedade, com igual oportunidade para todos. [...] (BRASIL, 1946). Ainda prevê a justa distribuição da propriedade com igual oportunidade a todos, porém essa constituição foi anulada em 1964 em decorrência do golpe militar e seu princípio antidemocrático. Nesse período foi expedido a Lei nº 4.504/1964, conhecida como Estatuto da Terra. O Estatuto da Terra é um importantíssimo instrumento de gestão fundiária e pioneiro no que diz respeito a políticas agrárias, sendo responsável por regular os imóveis rurais com a finalidade de promover a reforma agrária e a política agrícola. Esse estatuto visa garantir o direito à terra e promover sua melhor distribuição, além disso apresenta conceitos importantes conforme Tabela 2. Tabela 2 - Alguns conceitos do Estatuto da Terra de 1964 Nome Definição Imóvel Rural Prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agroindustrial Módulo Rural Estabelecido pelas dimensões da propriedade familiar Minifúndio O imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da propriedade familiar; Latifúndio Dos limites máximos permitidos de áreas dos imóveis rurais, os quais não excederão a seiscentas vezes o módulo médio da propriedade rural nem a seiscentas vezes a área média dos imóveis rurais, na respectiva zona; Fonte: Brasil, 1964 (2021) - Adaptado 25 Este instrumento introduz o módulo fiscal que de acordo com Lendau et al. (2012) é uma unidade de medida agrária que determina uma área mínima para a propriedade ser considerada economicamente viável e varia conforme o município. Além disso, cita a desapropriação de latifúndio muito extenso (Brasil, 1964). Em 1967 foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil na qual o termo função social da propriedade foi utilizado como um dos princípios para realizar justiça social (BRASIL, 1967). No entanto, a crise econômica em consonância com a crise política e as insatisfações e protestos públicos da sociedade levaram ao fim do regime militar (NOLASCO, 2017), e com a chegada do período de redemocratização havia a incontestável necessidade de se redigir uma nova constituição, originando com muito anseio a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. A Constituição Cidadã, como também ficou conhecida, cita que é garantido o direito de propriedade e que a mesma deverá atender sua função social (expressa no plano diretor do seu município, no caso de imóvel urbano), que a propriedade privada é um princípio da existência digna e da justiça social e que as desapropriações devem ser feitas de forma prévia e com indenização justa. Além disso, encarrega a União de realizar desapropriações por interesse social para promover a reforma agrária, salientando a indenização de suas benfeitorias (BRASIL, 1988). A função social de imóveis urbanos quando atende aos seguintes critérios: aproveitamento racional e adequado, utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, observância das disposições que regulam as relações de trabalho e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores (BRASIL, 1988). Vale ressaltar que a Constituição de 1988 preza pela preservação ambiental, e, portanto, foram criados dispositivos variados para garantir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, como a Lei da Política Agrícola (Lei n°. 8.171/1991) que visa assegurar as atividades agrícolas em consonância com a preservação da natureza, e a Lei da Reforma Agrária (Lei n°. 8.629/1993) com objetivo regulamentar e instruir sobre a distribuição mais justa da terra, assim diminuindo os latifúndios. Além disso, a Constituição Cidadã determina que todos os estados devem criar espaços que serão especialmente protegidos, estas áreas especiais são regulamentadas pela lei nº 9.985 de 2000 conhecida como Lei do Sistema Nacional de Unidades de 26 Conservação (SNUC). Tabela 3 - Instrumentos de legislação fundiária do território brasileiro: da Velha à Nova República Período Ano Dispositivo Tipo Velha República 1891 Constituição Republicana Reforçou o artigo 179 da Constituição Imperial, trazendo o direito pleno de propriedade, exceto por desapropriações justificadas pela necessidade pública com indenização prevista 1916 Código Civil Brasileiro Tornou o Registro de Imóveis um meio de aquisição de propriedade, além de determinar o usucapião e suas normas Estado Novo 1937 Constituição Republicana Institui pela primeira vez o interesse social como condição ao direito de propriedade Quarta República 1946 Constituição Republicana Apresenta a desapropriação por interesse social e define que propriedade deve ser consonante com o bem estar social Ditadura Militar 1964 Estatuto da Terra Regula os imóveis rurais com a finalidade de promover a reforma agrária e a política agrícola 1967 Constituição Federativa Função social da propriedade foi utilizada como um dos princípios para realizar justiça social Nova República 1988 Constituição Cidadã Traz o direito a propriedade dependente do cumprimento de sua função social, a propriedadeprivada, reforma agrária a encargo da União e preservação do meio ambiente 1993 Lei da Reforma Agrária Regulamenta e instrui sobre a distribuição mais justa da terra, assim diminuindo os latifúndios 2002 Novo Código Civil Reitera a relação de dependência entre o direito de propriedade e a preservação do meio ambiente, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico Fonte: A Autora (2021) 27 No ano de 2002, foi expedido o novo Código Civil brasileiro que reitera a relação de dependência entre o direito de propriedade e a preservação do meio ambiente, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico. Muitos foram os instrumentos de regularização fundiária na República, a Tabela 3 descreve os instrumentos fundiários de forma sucinta do território brasileiro. Conforme observado na Tabela 1 e na Tabela 3, o território brasileiro passou por diversos dispositivos que visavam regulamentar suas terras. Dessa forma, num país que tem bases na exploração do período colonial, caminhando por diversas etapas até chegar a uma legislação que se interesse pela preservação ambiental e uma distribuição ecológica do solo, se torna imprescindível considerar toda a bagagem histórica para o entendimento da atual situação fundiária do Brasil. 2.2. A estrutura ambiental no Brasil A sobrevivência humana foi atrelada à exploração dos recursos naturais desde a sua fixação na terra, antes mesmo de ser definido o conceito de propriedade. No entanto, no século XX que houve o aumento degradação ambiental causada pelo uso das reservas ambientais, demonstrada pelo grande desmatamento das florestas, poluição do ar e do solo, além do esgotamento dos solos, e esse processo ocorreu em virtude do crescimento da industrialização e também da população mundial (LEAL et al., 2008). Tal fato gerou grande debate, tornando este tema prioritário no cenário político internacional, o que levou uma legislação ambiental com caráter mais eficiente na sua regularização, fiscalização e preservação. Esses debates reuniram inclusive conferências internacionais sobre o meio ambiente, tal como a Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, originou o conceito de eco desenvolvimento e discutiu sobre a preservação dos recursos ambientais, sendo precursora da formação de regimes ambientais internacionais (BERCHIN e CARVALHO, 2016). Nesse sentido, foi desencadeada uma série de ações, políticas, encontros e muitas outras formas de gerir o meio ambiente, sendo algumas representadas na Figura 3. 28 Figura 3 - Linha do tempo: Principais debates e legislação brasileira sobre o meio ambiente Fonte: A Autora (2021) A Lei Federal n. 6.938 de 31 de agosto de 1981, conhecida como Lei da Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA, no seu artigo 2º demonstra o objetivo e o interesse do Brasil em defender os valores ambientais, através de alguns princípios, como ação do governo na manutenção do equilíbrio ecológico, recuperação de áreas degradas e disposição de educação ambiental a todos os níveis de ensino, entre outras (Brasil, 1981). Em 1985, foi realizada a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio, ocasionada pela descoberta que algumas substâncias conseguiam destruir a referida camada, fato que representa um grande risco ao meio ambiente e à saúde humana. Essa descoberta foi efetuada na década de 1970, na qual se utilizavam amplamente esses compostos nas indústrias e no setor agrícola (REI e CARVALHO, 2002). A Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio foi de suma importância, pois gerou a cooperação de diversos países para a redução da emissão dos compostos prejudicais a camada de ozônio e Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) como instrumento de prevenção e regularização dos projetos com potencial maléfico ao meio ambiente (REI e CARVALHO, 2002). 29 No ano de 1988 a Constituição Federal Brasileira também mostrou compromisso com a preservação ambiental e a proteção dos recursos naturais, apresentada nas diretrizes do art. 225 do Capítulo VI, ao declarar o meio ambiente como direito de todos sendo dever de defendê-lo da coletividade e do poder público, visando garanti-lo para as gerações futuras (Brasil, 1988). Três anos depois, a Política Agrícola (Lei nº 17 de janeiro de 1991) foi sancionada no Brasil, indicando diretrizes para a planejamento e todo o processo agrícola no país, fixando a proteção, conservação e recuperação do meio ambiente como um dos seus objetivos, visando aliar os frutos econômicos com a proteção ambiental. Além disso, se coloca como instrumento da garantia do uso das propriedades respeitando a função social da terra (BRASIL, 1991). No ano seguinte, a Conferência do Rio de Janeiro, em 1992, do Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvendo ficou conhecida como ECO-92. Nela surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, além de incentivar a cooperação dos estados, sociedade e dos setores-chave para preservar o meio ambiente e desenvolver das atividades econômicas de forma equilibrada (BERCHIN e CARVALHO, 2016). A Agenda 21 e a Convenção do Clima são alguns dos resultados da ECO-92, sendo a Agenda 21 um termo de compromisso que aborda metas para serem alcançadas em um esforço global e não individualizado com o objetivo de chegar ao desenvolvimento sustentável através de pontos, como o combate à pobreza e aos danos ambientais, mudança nos padrões de consumo e a proteção dos recursos hídricos (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 1995). A Convenção do Clima visou criar estratégias para amenizar o efeito estufa, e estabeleceu o Protocolo de Kyoto, que foi de 1992 a 1997, que propôs a redução dos gases causadores do aquecimento global (SOARES e HIGUCHI, 2006). No âmbito da legislação brasileira, foi aprovada a Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre os crimes ambientais, caracterizados como: crimes contra a fauna e a flora, poluição, impedir o ordenamento urbano e o patrimônio cultural, contra a administração ambiental e infrações administrativas, além de especificar as sanções e punições para quem pratica esse tipo de crime (BRASIL, 1998). Ainda no cenário nacional, em 1997, surgiu a Política Nacional de Recursos Hídricos sob a lei nº 9.433/97, criando a Lei das Águas que definiu a gestão dos recursos hídricos aplicando o planejamento hídrico como medida a unidade bacia hidrográfica, e a responsabilidade deve ser dividida entre o Estado e a sociedade (Brasil, 1997). 30 Outro importante dispositivo foi introduzido na legislação brasileira: a Lei nº13.305 de 2 de agosto de 2010 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRS. Esse instrumento orienta a gestão correta dos resíduos sólidos do país, evitando que sejam descartados em lixões, independentemente de serem oriundos do setor público ou privado, assim evitando danos ambientais (BRASIL, 2010). Trazendo para a questão das áreas de floresta, o Novo Código Florestal Brasileiro sob a Lei 12.651, de 25 de maio de 2012 dita normas sobre a proteção da vegetação nativa, bem como prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos (Brasil, 2012). Também estabeleceu que todo imóvel rural deve manter uma porcentagem da tipologia vegetal, ficando definida como Reserva Legal. O cômputo da Área de Reserva Legal se faz de acordo com a região em que se localiza a propriedade ou posse. Outro elemento foi a Área de Preservação Permanente que tem por objetivo ambiental, com especial atenção, dentre outros, preservar os recursos hídricos estabelecendo um faixa marginal mínimo dos cursos d'água e nascentes (Brasil, 2012). Não menos importante, cria-se o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que possibilita o conhecimento da localização geográfica dos imóveis rurais e sua situação quando a regularidade ambiental, que potencializa o monitoramento e a fiscalizaçãodas áreas que devem ser protegidas (Brasil, 2012). Noutro foco, visando a preservação ambiental, foi concebido o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), instituído pela Lei n. 9.985 de 18 de julho de 2000, que estabelece as normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação (Brasil, 2000). 2.2.1. A regularização fundiária nas unidades de conservação da natureza O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, foi fundamentado no artigo 225, § 1º, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil, a criação das unidades de conservação é um ato que está sob a responsabilidade da Administração Pública para assegurar a preservação do meio ambiente, conforme citado abaixo: [...] Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as 31 presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...] III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; [...] (Brasil,1988). No entanto, o SNUC não foi concebido apenas pela influência constitucional, e sim por uma tendência anterior a se criar áreas protegidas. A história do Brasil foi marcada pela intensa exploração dos recursos naturais que eram exportados para satisfazer a relação de colônia, dessa forma ocasionando impactos e devastação ambiental. Figura 4 - Linha do tempo dos instrumentos que criaram áreas de proteção. Fonte: A Autora (2021) Nos períodos colonial, imperial e da velha república os governantes pouco se preocuparam com a preservação da biodiversidade, concentrando-se em questões fundiárias e econômicas, entretanto a partir do ano de 1934 iniciou-se um processo de elaboração e aprovação de diversos instrumentos legais com a finalidade de criar espaços no território brasileiro, áreas nas quais a natureza seria especialmente protegida (Figura 4). 32 No entanto, os instrumentos anteriores não se articulavam em conjunto, dessa forma gerando a necessidade de um dispositivo que coordenasse de modo geral, com normas e diretrizes, a gestão e o manejo das áreas protegidas (SIMÕES, 2008), assim originando o SNUC. Logo em seu artigo 2º, a SNUC define os conceitos para se bem entender a lei, como de unidades de conservação, conservação da natureza, diversidade biológica, recurso ambiental, preservação, proteção integral, entre outros. Evidencia-se abaixo algumas das dadas definições: [...] Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção; [...] VI - proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais; [...] VIII - manejo: todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas; [...] XI - uso sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável; [...] (Brasil, 2000). Existem diversas outras atribuições dadas, dentre estas vale destacar que existem dois grupos de unidades de conservação: i. proteção integral e; ii. uso sustentável. As unidades do grupo de proteção integral têm como principal objetivo a preservação da natureza, sendo admitido só o uso indireto dos seus recursos naturais, quanto que as unidades de uso sustentável têm por ponto focal equilibrar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. As Unidades de Conservação de Proteção Integral (UCPI) são divididas em cinco categorias: a. Estação Ecológica; b. Reserva Biológica; c. Parque Nacional; d. Monumento Natural e; e. Refúgio de Vida Silvestre. Já as Unidades Conservação de Uso Sustentável - UCUS são: I. Área de Proteção Ambiental; II. Área de Relevante Interesse Ecológico; III. Floresta Nacional; IV. Reserva Extrativista; V. Reserva de Fauna; VI. Reserva de Desenvolvimento Sustentável e; VII. Reserva Particular do Patrimônio 33 Natural (Brasil, 2000). Tabela 4 – Grupos e categorias de unidades de conservação, com as siglas utilizadas, regime de posse, domínio, uso e ocupação do solo. Fonte: A Autora (2021) Tipo de UC Denominação Sigla Posse e Domínio Uso e Ocupação do Solo Uso Sustentável Área de Proteção Ambiental APA Pública/Particular Restrições para as propriedades privadas Área de Relevante Interesse Ecológico ARIE Pública/Particular Restrições para as propriedades privadas Floresta Nacional FLONA Pública Apenas população tradicional Reserva Extrativista RESEX Pública Extrativismo apenas para populações tradicionais Reserva da Fauna RF Pública Permitida a venda de produtos de pesquisas Reserva de Desenvolvimento Sustentável RDS Pública Direito real de uso apenas para população tradicional Reserva Particular do Patrimônio Natural RPPN Particular Permitido acesso para fins de pesquisa, educação e turismo Proteção Integral Estação Ecológica EE Pública Permitido acesso para fins de pesquisa e educação Reserva Biológica REBIO Pública Permitido acesso para fins de pesquisa e educação Parque Nacional PARNA Pública Permitido acesso para fins de pesquisa, educação e turismo Monumento Natural MN Pública/Particular Permitido acesso para fins de pesquisa e educação Refúgio de Vida Silvestre RVS Pública/Particular Permitido acesso para fins de pesquisa e educação 34 As UCPI apresentam caráter conservacionista, e permite seu acesso apenas para fins não agressivos de pesquisa e educação, com ressalva dos Parques Nacionais que consente atividades de turismo, porém até mesmo a pesquisa necessita de consentimento antecipado do órgão gestor (BRASIL, 2000). Além disso são em maioria de domínio e posse públicas, isentos as unidades do tipo Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre que autorizam as posses públicas e particulares. No entanto, se houver irregularidades limítrofes ou desequilíbrio entre as diretrizes da UCPI e as atividades particulares, o proprietário estará sujeito a desapropriação (BRASIL, 2000). Por outro lado, as Unidades de Conservação de Uso Sustentável (UCUS) possuem características flexíveis visando o desenvolvimento sustentável, ou seja, equilibrar a preservação ambiental em consonância com atividades econômicas. São em maioria de domínio público, exceto as Áreas de Preservação Ambiental e as Áreas de Relevante Interesse Ecológico que permitem a posse privada, porém aplica restrições para as mesmas. Além disso, as UCUS se caracterizam por priorizar a população tradicional, concedendo até o direito real de uso no caso da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (BRASIL, 2000). O regime de posse e domínio não são padronizados ou seguem a mesma concepção inter grupos e entra categorias de conservação. As especificidades tem relação direta com o uso e ocupação e por vezes através do plano de manejo insttituido pelo órgão gestor (Tabela 4). Destacam-se neste estudo duas áreas enquadradasno grupo de uso sustentável: Área de Proteção Ambiental do Rio Pardo e Floresta Estadual de Rendimento Sustentável do Rio Pardo. A APA é definida pelo artigo 15 que também dá outras condições: [...] Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. § 1o A Área de Proteção Ambiental é constituída por terras públicas ou privadas. § 2o Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental. § 3o As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da 35 unidade. § 4o Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais. § 5o A Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser no regulamento desta Lei. [...] (Brasil, 2000). No caso da Florestal Nacional dispõe-se o artigo 17: [...] Art. 17. A Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas. § 1o A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei. § 2o Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de populações tradicionais que a habitam quando de sua criação, em conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade. § 3o A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração. § 4o A pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento. § 5o A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das populações tradicionais residentes. § 6o A unidade desta categoria, quando criada pelo Estado ou Município, será denominada, respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal. [...] (Brasil, 2000). Portanto, vale lembrar que a implantação das unidades de conservação da natureza deve acatar e obedecer a exigências contidas em legislações específicas, sendo o Decreto Federal n. 4.340/02 o regulador do SNUC (Brasil, 2002), que dispõe no artigo 2º: [...] Art. 2o O ato de criação de uma unidade de conservação deve indicar: I - a denominação, a categoria de manejo, os objetivos, os limites, a área da unidade e o órgão responsável por sua administração; II - a população tradicional beneficiária, no caso das Reservas Extrativistas e das Reservas de Desenvolvimento Sustentável; III - a população tradicional residente, quando couber, no caso das Florestas Nacionais, Florestas Estaduais ou Florestas Municipais; e IV - as atividades econômicas, de segurança e de defesa nacional envolvidas. [...] (Brasil, 2002). 36 Além disso, no mesmo artigo, que trata da questão da denominação da área, aponta que devem ser realizados estudos técnicos preliminares e instrui sobre o processo de consulta pública se for o caso. Ademais, no Capítulo IV determina-se que o Plano de Manejo deve ser executado nas Áreas de Proteção Ambiental e de Floresta Nacional: [...] Art. 12. O Plano de Manejo da unidade de conservação, elaborado pelo órgão gestor ou pelo proprietário quando for o caso, será aprovado: I - em portaria do órgão executor, no caso de Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural, Refúgio de Vida Silvestre, Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva de Fauna e Reserva Particular do Patrimônio Natural; [...] (Brasil, 2002). Vale comentar também que existem conflitos fundiários nas UCs, em especial naquelas que são de domínio público, uma vez que se deve desapropriar as posses particulares (KURY, 2008), e seja totalmente incorporada ao patrimônio do estado, que deve realizar a gestão e fiscalização. Também pode-se apontar confrontos nas áreas que permitem posse e domínio particular, causados pelo não acolhimento das normas pelos proprietários, vindo em discordância com as diretrizes de criação das mesmas. Portanto, proceder com a regularização das UCs é essencial e tem caráter imediatista, dessa forma efetuando as desapropriações cabíveis ou a adequação de conduta do possuir de terras protegidas. Além disso, pode-se verificar que a legislação vigente encoraja, no caso das unidades de uso sustentável, a realização de atividades econômicas buscando equilibrar a preservação e cuidado com a biodiversidade com a geração de emprego e renda para as populações ocupantes da área, no entanto para que isso aconteça antes é necessário efetuar a regularização da área através da legislação própria indicada a cada caso. 2.3. As unidades de conservação no estado de Rondônia O Estado de Rondônia detém atualmente 80 unidades de conservação da natureza, concentrando-se em sua maioria nos municípios de Machadinho d'Oeste, Porto Velho e Guajará Mirim, sendo 14 unidades federais, 65 municipais e apenas uma municipal (ISA, 2014). O Parque Natural de Porto Velho, que se enquadra na categoria de proteção 37 integral, é única área protegida de gestão municipal de Rondônia, localizado na capital do estado. Essa unidade teve seu plano de manejo aprovado em 30 de outubro de 2003 apresenta aproximadamente 390 hectares de território nos quais abriga floresta ombrófila e espécies da fauna, como aves, macacos e repteis (ISA, 2014). 2.3.1. As unidades de conservação de gestão federal Rondônia acomoda quatorze unidades de conservação federais, sete de uso sustentável e sete de proteção integral, que são de responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Tabela 5 - Unidades de Conservação Federais em Rondônia - RO Nome Tipo Categoria ESEC Cuniã Estação Ecológica Proteção Integral FLONA Bom Futuro Floresta Nacional Uso Sustentável FLONA Jacundá Floresta Nacional Uso Sustentável FLONA Jamari Floresta Nacional Uso Sustentável PARNA Campos Amazônicos Parque Nacional Proteção Integral PARNA Mapinguari Parque Nacional Proteção Integral PARNA Pacaás Novos Parque Nacional Proteção Integral PARNA Serra da Cutia Parque Nacional Proteção Integral REBIO Guaporé Reserva Biológica Proteção Integral REBIO Jaru Reserva Biológica Proteção Integral RESEX Barreiro das Antas Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Lago do Cuniã Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Rio Cautário Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Rio Ouro Preto Reserva Extrativista Uso Sustentável Fonte: A Autora (2021) 38 Dividas entre: uma Estação Ecológica, três Florestas Nacionais, quatro Parques Nacionais, duas Reservas Biológicas e quatro Reservas Biológicas (ISA,2021), conforme especificado na Tabela 5. 2.3.2. As unidades de conservação de gestão estadual O Estado de Rondônia abriga 65 unidades de conservação estaduais, quinze de Proteção Integral e cinquenta de Uso Sustentável, sendo cinco Estações Ecológicas, dezenove Florestas Estaduais de Rendimento Sustentado, duas Florestas Extrativistas, oito Parques Estaduais, duas Reservas Biológicas, quatro Reservas de Desenvolvimento Sustentável, uma Reserva de Fauna, vinte e uma Reservas Extrativistas e três Áreas de Proteção Ambiental (ISA, 2021), como pode ser visto na Tabela 6: Tabela 6 - Unidades de Conservação Estaduais em Rondônia Nome Tipo Categoria ESEC Antonio Mujica Nava Estação Ecológica Proteção Integral ESEC Samuel Estação Ecológica Proteção Integral ESEC Serra dos Três Irmãos Estação Ecológica Proteção Integral ESEC Soldado da Borracha Estação Ecológica Proteção Integral ESEC Umirizal Estação Ecológica Proteção Integral FERS Rio Pardo Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Araras Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Cedro Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Gavião Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Mutum Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Periquito Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Rio Abunã Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Rio Machado Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável 39 FERS Rio Madeira (A) Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Rio Madeira (B) Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Rio Madeira (C) Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Rio Mequéns Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Rio Roosevelt (FLORSU) Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Rio São Domingos Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Rio Vermelho (A) Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Rio Vermelho (B) Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Rio Vermelho (C) Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Rio Vermelho (D) Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FERS Tucano Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Uso Sustentável FLOREX Laranjeiras Floresta Extrativista Uso Sustentável FLOREX Rio Preto-Jacundá Floresta Extrativista Uso Sustentável PES Abaitará Parque Estadual Proteção Integral PES Candeias Parque Estadual Proteção Integral PES Corumbiara Parque Estadual Proteção Integral PES Guajará-Mirim Parque Estadual Proteção Integral PES Ilha das Flores Parque Estadual Proteção Integral PES Serra dos Parecis Parque Estadual Proteção Integral PES Serra dos Reis Parque Estadual Proteção Integral PES Serra dos Reis A Parque Estadual Proteção Integral REBIO Rio Ouro Preto Reserva Biológica Proteção Integral REBIO Traçadal Reserva Biológica Proteção Integral RDS Bom Jardim Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uso Sustentável RDS Limoeiro Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uso Sustentável RDS Rio Machado Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uso Sustentável 40 RDS Serra Grande Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uso Sustentável RFAU Pau Doleo Reserva de Fauna Uso Sustentável RESEX Angelim Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Aquariquara Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Castanheira Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Curralinho Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Freijó Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Garrote Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Ipê Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Itaúba Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Jaci Paraná Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Jatobá Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Maracatiara Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Massaranduba Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Mogno (Resex) Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Pedras Negras Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Piquiá Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Rio Cautário (Estadual) Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Rio Pacaás Novos Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Rio Preto-Jacundá Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Roxinho Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Seringueira Reserva Extrativista Uso Sustentável RESEX Sucupira Reserva Extrativista Uso Sustentável APA Lago do Cuniã Área de Proteção Ambiental Uso Sustentável APA Rio Madeira Área de Proteção Ambiental Uso Sustentável APA Rio Pardo Área de Proteção Ambiental Uso Sustentável Fonte: A Autora (2021) 41 2.4. Desafetação, rebaixamento, redução do tamanho e desclassificação de unidades de conservação A criação de áreas especiais surge, na legislação brasileira, através do processo de afetação, no qual se atribui ao bem uma destinação específica, e a desafetação tem sentido reverso: a destinação do bem retorna à categoria de uso comum do povo. No tocante as unidades de conservação da natureza, a desafetação também pode ocorrer através de uma autorização legislativa e com provas que provem que a área protegida não atende mais aquele propósito (LOMEU, 2016). Além disso, a autorização legislativa também é indispensável para o rebaixamento, redução ou desclassificação das unidades de conservação (LOMEU, 2016). Aproximadamente 5,2 milhões de hectares sofreram com a intervenção da desafetação, rebaixamento, desclassificação ou redução de limites dentro das UCs, procedimentos que foram denominados por MASCIA et al. (2011), como Protected Area Downgrading, Downsizing, and Degazettement - PADDD sendo um fenômeno mundial, que surge por diversas causas, em especial ao anseio pela exploração dos seus recursos naturais e o desenvolvimento de atividades variadas, como a mineração e a agricultura (PACK et al., 2016). O rebaixamento (downgrading) consiste na permissividade do desenvolvimento de atividades antrópicas dentro nas áreas protegidas, a redução (downsizing) diz respeito a diminuição da sua extensão territorial e a desclassificação ocorre quando a unidade perde totalmente seu status de protegida (PACK et al, 2016). O Brasil abriga 74% das áreas de proteção criadas no mundo no período de 2003- 2009 (JEKINS e JOPPA, 2009) e possui inúmeras legislações e instrumentos que visam a preservação do meio ambiente, tendo aparato até mesmo dentro da sua Constituição Federal (Brasil, 1988). Entretanto, mesmo com dispositivos ambientais recebendo apoio públicos (MMA, 2012), um alto número de PADDD aconteceram no país nos últimos anos (PACK et al., 2016). Existem movimentos políticos no Brasil que visam o enfraquecimento das UCs, como propostas legislativas no parlamento que objetivam permitir o extrativismo mineral e a agricultura em seus limites (KAUANO et al., 2020), além de haver medidas do atual governo que esmaecem as políticas contra o desmatamento. Segundo Miranda (2010), 42 essa dinâmica argumenta que as UCs limitam consideravelmente o desenvolvimento econômico do país, pois o espaço que as unidades de conservação protegem poderiam ser usadas para atividades como a agricultura em ampla escala, formas de extrativismo e instalação de usinas hidrelétricas. Kauano et al (2020) relata que existem impactos econômicos positivo, negativos e indiferentes em países com implantação de áreas de proteção ambiental. O turismo dentro das UCs reduziu a pobreza rural na Costa Rica (FERRARO E HANUER, 2014), já na Austrália as áreas APs incentivaram o sistema habitacional e de negócios locais (HEAGNEY et al., 2015), além disso, essas zonas auxiliaram o desempenho econômico do oeste dos Estados Unidos (RASKER et al., 2012). Por outro
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