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i ii HELDER HENRIQUE DE FARIA EFICÁCIA DE GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO GERENCIADAS PELO INSTITUTO FLORESTAL DE SÃO PAULO, BRASIL. Presidente Prudente 2004 iii HELDER HENRIQUE DE FARIA EFICÁCIA DE GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO GERENCIADAS PELO INSTITUTO FLORESTAL DE SÃO PAULO, BRASIL. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, na área de concentração Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental, da Faculdade de Ciências e de Tecnologia da Universidade Estadual Paulista de Presidente Prudente, para obtenção do título de Doutor em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Messias Modesto dos Passos Presidente Prudente 2004 iv Ficha Catalográfica elaborada pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação UNESP-FCT – Capmpus de Prisidente Prudente-SP F234e Faria, Helder Henrique de. Eficácia de gestão de unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Florestal de São Paulo, Brasil / Helder Henrique de Faria.– Presidente Prudente : [s.n.], 2004 401 f. : il. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia Orientador: Messias Modesto dos Passos 1. Planejamento ambiental. 2. Unidades de conservação. 3. Gestão. 4. Indicadores. 5. Ameaças. 6. Eficácia de gestão. 7. Avaliação. I. Título. CDD 301.31 v vi DEDICO Ao magnífico profesor-consejero Don Miguel Cifuentes Arias, cidadão e sujeito extraordinário, um cosmopolita amante da Terra, com quem convivi preciosos momentos e me conduziu a uma experiência luminosa e produtiva. Agora, em seu próprio mundo, por onde seu pensamento singrar, Grande Miguel, sinta sua importância nesta realização. A Thainan e Nathan, filhos e inspiração. Que as migalhas de tempo e espaço, entre nós, só façam aumentar nossos mútuos sentimentos. vii RECONHECIMENTOS A dedicatória poderia se estender a tantas pessoas importantes para o desenvolvimento desta tese de doutoramento. Algumas muito próximas e outras já distantes e além. Até onde me lembro foi o pesquisador do Instituto Florestal, Professor Doutor José Luiz Timoni, quem primeiro enxergou em meus trabalhos o marco referencial possível de se transformar em um projeto de pesquisa e, posteriormente, um projeto de doutorado, que sob sua tutela e a do Professor Doutor Nivar Gobbi comecei a desenvolver no Centro de Estudos Ambientais da UNESP de Rio Claro. Pouco depois, tive a sorte de ter como meu superior o pesquisador Marco Antonio de Oliveira Garrido, quem possibilitou nossas primeiras idas ao campo juntamente com os amigos e pesquisadores José Antonio de Freitas e Denise Zanchetta, quando então realizamos o que chamamos ‘pré-teste’ de uma avaliação futura mais criteriosa. A propósito, sou muito agradecido ao José Antonio pois ele foi fundamental na construção dos indicadores específicos às Florestas Estaduais. Não há como esquecer o apoio dos pesquisadores Marco Antonio Púpio Marcondes, José Antonio de Freitas e Luis Alberto Bucci, que à época ocupavam, respectivamente, a Diretoria da DRPE, diretoria da DFEE e Diretoria Geral. A presença dos três numa das reuniões com os chefes de UCs emprestou um caráter diferenciado ao projeto, o suporte dos que sabem da necessidade de pesquisas dirigidas ao planejamento e à gestão de unidades de conservação. Francisco Corrêa Serio e Regina Maria Lopes, da Assessoria Técnica de Programação, do Instituto Florestal, foram de um desprendimento extraordinário num momento critico da pesquisa, facultando-me informações de qualidade sobre o Instituto Florestal e as unidades de conservação, sem as quais muito do trabalho teria se tornado difícil de realizar. Eles se complementam numa atividade louca de assessoria à DRPE e à Diretoria Geral do Instituto, complexa função, de corações tão grandes quanto o monte de trabalhos que realizam. Ninho de informações, bons sentimentos e graça. Desde a Assessoria da Divisão de Florestas, as informações auferidas por Luis Cezar foram imprescindíveis para melhor aquilatar a função e potencial de produção florestal desta divisão, assim como Clovis Ribas nos emprestou seus depoimentos sobre os módulos pré-fabricados do Instituto e, anterior a isso, recebendo-nos, como outros, nas UCs sob sua responsabilidade. No CEA-UNESP, o Professor Nivar, um brilhante profissional e extraordinário sujeito, sempre me motivou com palavras de máxima energia, e fez-me refletir sobre o que os administradores de UCs faziam: administração, manejo ou gestão? Mas também incutiu-me perguntas e muitas dúvidas sobre os (des)caminhos do Homem, da Natureza, da Vida, do Universo enfim. Leu a primeira versão do documento e me incentivou a prosseguir. Sempre lembrar-me-ei das suas boas e pertinentes palavras. viii Minhas conversas com colegas de distintas atuações dentro do Instituto Florestal permitiram que minha visão sobre a organização e as UCs fosse mais abrangente e transparente. Dentre tantos, agradeço em especial ao Pesquisador Onildo Barbosa, um ótimo interlocutor e critico de pensamento claro, cujos comentários a respeito da pesquisa desenvolvida pelo e no Instituto Florestal foram preciosos. Em certo momento enveredei por caminhos que me obrigaram a usar uma ou outra ferramenta estatística, uma disciplina que não domino como os colegas e amigos Professor Doutor Walter Barrela, da PUC de Sorocaba, Pesquisadora Leda Maria do Amaral Gurgel Garrido, aposentada do IF, e o Doutorando da UNESP de Jaboticabal Sidnei Francisco Cruz. Eles me acudiram em momentos diferenciados e de modo complementar, e o aprendizado com o amigo Walter Barrela foi sensacional. Agradeço postumamente ao Professor Doutor Felizberto Cavalheiro, do Departamento de Geografia da USP. Ele me recebeu em seu pequeno gabinete, ouviu minha proposta e o que dela havia desenvolvido, leu atentamente meus primeiros escritos e, com seus garranchos desalinhados, fez-me entender que conceitos são palavras desenvolvidas pela ciência, e que não sabê-los é uma razão para a busca do conhecimento. Foi o primeiro a devolver-me o rascunho com as suas pertinentes considerações. Não me esquecerei. Ao transferir-me da UNESP Rio Claro para o programa de pós graduação em Geografia da UNESP de Presidente Prudente fui bem recebido e encaminhado ao Professor Doutor Messias Modesto dos Passos. Transferências às vezes são traumáticas, mas ali encontrei um ambiente propício ao crescimento e um mestre- orientador de elevada personalidade, incrivelmente amável e com um cabedal de conhecimentos acima das polêmicas que assolam os meios acadêmicos. Novamente tive sorte, e espero corresponder à altura. Um aspecto que tem auxiliado bastante os meus trabalhos relacionados à gestão de unidades de conservação é ter acesso à gama de publicações e informações excelentes advindas da União Internacional para a Conservação – UICN. Principalmente após meu ingresso na Força Tarefa para a Efetividade de Manejo (Management Effectiveness Task Force) a convite do Doutor Claudio Maretti e do Professor Sênior Dr. Marc Hokings. Sem saber reforçaram meus intentos. Meus sinceros agradecimentos a Rita de Cássia Cassimiro, que de maneira desprendida revisou os primeiros rascunhos deste documento, acudindo meus deslizes gramaticais. Excelente pessoa e profissional, certamente chegará aonde desejar ir. Também à Rosana Damaceno e Ilda Francisco, pela paciência e cuidado que tiveram comigo, me “escondendo“ de possíveis contra-tempos para que eu pudesse trabalhar e redigir a Tese. Aqueles momentos foram incríveis e me proporcionaram ensinamentos elevados e distintos. A Andréa Soares Pires, que revisou a parte técnica do texto e me auxiliou na montagem das apresentações necessárias à última etapa do doutoramento. Não fosse por ela eu teria sido atropelado pelo tempo. ix Aos meus amigos e companheiros de jornada, meus cavaleiros da claridade e da esperança: Pesquisadores Carlos Eduardo Ferreira da Silva e Denise Zanchetta e o Técnico de Apoio à Pesquisa Silvio dos Santos. Eles me acompanharam em várias etapas desta pesquisa, quando então discutimos, concordamose discordamos, viramos ao avesso, rimos e até resolvemos o mundo. Os conhecimentos de Carlos Eduardo sobre planejamento e gestão de UCs, nossas discussões sobre este tema foram maravilhosas. As informações e a visão que possuía sobre o Instituto Florestal e seu engajamento foram surpreendentes e imprescindíveis. Infelizmente ele se foi deste mundo antes de compartirmos este trabalho concluído. E faz muita falta. Denise me auxiliou muito com sua aguçada percepção para as coisas técnicas. Seus conselhos e considerações nos momentos mais delicados foram extraordinários, algo muito importante quando o objeto do trabalho passa necessariamente pelo trato com pessoas dos mais variados níveis e interesses. Silvio é um autodidata, pessoa de opinião e de excelente coração, exímio conhecedor das parafernálias digitais e bom contador de piadas. Seus conhecimentos de informática foram tão importantes quanto sua excelente visão para a organização de dados, assim como seu traquejo nos afazeres relativos à administração de projetos. A pesquisa não se realizaria não fosse o apoio moral, financeiro e material do Instituto Florestal de São Paulo, da Fundação MacArthur, através da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, e da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo. Tenho muito orgulho de ter merecido a confiança desses três organismos e agradeço muitíssimo o suporte auferido ao projeto. Relativo ao Instituto Florestal, certamente a grande maioria dos chefes de UCs e toda a gente que laboramos nesta organização, desejamos que ela se fortaleça a cada dia e seja efetivamente o bastião da conservação da biodiversidade paulista. Finalmente, como eu poderia desenvolver esta pesquisa não fosse a benignidade e solicitude dos técnicos e diretores de unidades de conservação, que atenderam ao chamado e participaram das oficinas de avaliação? E como seria se não houvesse a possibilidade de visitar as UCs? Conhecemos e reencontramos amigos, gente batalhadora e idealista, gente que merece nossos agradecimentos, respeito, admiração e apoio para continuarem no front da conservação ambiental. Muito Obrigado! x SUMÁRIO Índice................................................................................................................ xi Lista de Figuras................................................................................................ xiv Lista de Quadros.............................................................................................. xv Lista de Pranchas............................................................................................. xx Lista de Siglas.................................................................................................. xxi Resumo............................................................................................................ xxii Abstract............................................................................................................ xxiv 1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 1 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................... 7 3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................. 81 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................... 131 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 355 6. CONCLUSÕES............................................................................................ 377 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 381 8. APÊNDICES................................................................................................ 399 xi ÍNDICE Pag. 1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 1 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................ 7 2.1 A SITUAÇÃO E IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS........................................................................................... 8 2.2 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO............................................................. 14 2.2.1 História e conceitos................................................................................ 14 2.2.2 Categorias e objetivos............................................................................ 23 2.3 MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO....................................... 33 2.3.1 Administração, manejo ou gestão.......................................................... 33 2.3.2 Pautas para uma gestão eficaz.............................................................. 41 2.3.3 Problemas e ameaças à gestão eficaz das áreas protegidas................ 51 2.4 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DE GESTÃO DAS UCS................................ 57 2.5 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO...................................................................................................... 71 2.5.1 A representação das UCs paulistas....................................................... 71 2.5.2 Os problemas das UCs paulistas........................................................... 75 3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................ 81 3.1 MATERIAL................................................................................................. 82 3.2 MÉTODOS................................................................................................ 87 3.2.1 Marco Institucional.................................................................................. 89 3.2.2 Seleção de indicadores e agrupação em âmbitos de gestão................. 90 3.2.3 Coleta de dados: oficinas de avaliação e visitas de campo................... 120 3.2.4 Análise dos dados.................................................................................. 124 3.2.5 Adequação da escala de valoração....................................................... 125 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................... 131 4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO: INSTITUTO FLORESTAL DE SÃO PAULO........................................................................................ 135 4.1.1 Planejamento Institucional...................................................................... 142 4.1.2 Unidades de Conservação sob administração direta do IF.................... 149 4.1.3 Atividades de Pesquisa.......................................................................... 151 4.1.4 Recursos Financeiros e Humanos......................................................... 156 4.1.5 Síntese da situação atual do Instituto Florestal...................................... 166 xii 4.2 EFICÁCIA DE GESTÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO PESQUISADAS......................................................................................... 169 4.2.1 Classificação da eficácia de gestão....................................................... 169 4.3 ANÁLISE DOS GRUPOS DE INDICADORES.......................................... 179 4.3.1 Planejamento e Ordenamento............................................................... 182 4.3.2 Administração........................................................................................ 189 4.3.3 Político-Legal......................................................................................... 200 4.3.4 Conhecimentos...................................................................................... 211 4.3.5 Qualidade dos Recursos....................................................................... 216 4.3.6 Florestas Estaduais............................................................................... 222 4.4 ANÁLISE DOS INDICADORES................................................................. 227 4.5 AMEAÇAS ÀS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO.....................................233 4.6 DESCRIÇÃO DE ASPECTOS GERENCIAIS DAS UCS VISITADAS....... 248 4.6.1 Estação Ecológica Bananal.................................................................... 252 4.6.2 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Santa Virgínia................... 256 4.6.3 Parque Estadual Xixová-Japuí............................................................... 260 4.6.4 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo São Sebastião.................. 264 4.6.5 Parque Estadual da Ilha Bela................................................................. 268 4.6.6 Parque Estadual da Ilha do Cardoso...................................................... 272 4.6.7 Parque Estadual da Campina do Encantado......................................... 278 4.6.8 Parque Estadual Jacupiranga................................................................ 282 4.6.9 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Caraguatatuba.................. 286 4.6.10 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba...................... 292 4.6.11. Parque Estadual da Ilha Anchieta....................................................... 296 4.6.12 Parque Estadual de Carlos Botelho..................................................... 300 4.6.13 Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – PETAR............................ 304 4.6.14 Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus........................................ 310 4.6.15 Estação Ecológica de Jataí.................................................................. 314 4.6.16 Parque Estadual Vassununga.............................................................. 320 4.6.17 Parque Estadual de Porto Ferreira....................................................... 326 4.6.18 Parque Estadual do Juquery................................................................ 330 4.6.19 Parque Estadual do Jurupará............................................................... 334 4.6.20 Parque Estadual do Jaraguá................................................................ 340 4.6.21 Parque Estadual da Cantareira............................................................ 346 xiii 4.6.22 Parque Estadual do Morro do Diabo.................................................... 350 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 355 6. CONCLUSÕES............................................................................................ 377 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 381 8. APÊNDICES................................................................................................ 399 Apêndice A - Avaliação do manejo - Unidades avaliadas (através de visita) em 1998....................................................................................... 400 Apêndice B - Caracterização das Unidades..................................................... 401 xiv LISTA DE FIGURAS Pag. Figura 01. O processo interativo do manejo adaptável (Fonte: U.S. Forest Service, apud Agee, 1996)........................................................... 44 Figura 02. Unidades de Conservação do Estado de São Paulo gerenciadas pelo Instituto Florestal................................................................... 74 Figura 03. Distribuição espacial das UCs trabalhadas nesta pesquisa.......... 86 Figura 04. Fluxograma geral da aplicação do procedimento destinado à avaliação da eficácia de gestão de unidades de conservação.... 89 Figura 05. Involução da produção de casas de madeira pela Floresta Estadual de Manduri..................................................................... 141 Figura 06. Comportamento dos principais componentes do orçamento do Estado destinado ao IF nos últimos 9 anos.................................. 157 Figura 07. Involução da relação entre os recursos financeiros e a superficie protegida do IF.............................................................................. 158 Figura 08. Involução do Quadro de funcionários em relação ao crescimento da superfície protegida............................................. 162 Figura 09. Classificação da eficácia de gestão de todas as UCs investigadas ................................................................................. 174 Figura 10. Comportamento da classificação das UCs de proteção integral e uso sustentável............................................................................. 176 Figura 11. Classificação geral dos indicadores de gestão para as UCs de proteção integral pesquisadas, em consonância com os dados do Quadro 34................................................................................ 228 Figura 12. Comportamento das ameaças externas incidentes nas UCs de proteção integral e de uso sustentável......................................... 245 Figura 13. Comportamento das ameaças internas incidentes nas UCs de proteção integral e de uso sustentável......................................... 247 Figura 14. Trecho da Trilha do Ouro na Estação Ecológica Bananal............ 253 Figura 15. Raffiting no Núcleo Santa Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar........................................................................................... 256 Figura 16. Praia no Parque Estadual Xixová-Japuí........................................ 260 Figura 17. Equipe administrativa do Núcleo São Sebastião defronte ao escritório do Parque...................................................................... 264 Figura 18. Cachoeira na Praia de Castelhanos na Ilha Bela. (Fausto Pires de Campos).................................................................................. 269 Figura 19. Alojamento do Parque Estadual da Ilha do Cardoso.................... 273 xv Figura 20. Prédio administrativo em construção no Parque Estadual Campina do Encantado................................................................ 278 Figura 21. Limites do Parque Estadual do Jacupiranga sobre imagem de Satélite......................................................................................... 282 Figura 22. Moderna edificação construída sob os auspícios do PPMA no Núcleo Caraguatatuba do Parque Estadual da Serra do Mar...... 287 Figura 23. Atividade de Uso Público no Centro de Visitantes do Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar........................ 293 Figura 24. Praia do Sul no Parque Estadual da Ilha Anchieta. (Fausto Pires de Campos)................................................................................... 96 Figura 25. Atividades de Uso Público no Centro de Visitantes do Parque Estadual Carlos Botelho................................................................ 301 Figura 26. Atividade ecoturística em uma das cavernas do PETAR.............. 304 Figura 27. Cascata Grande no Parque Estadual Furnas do Bom Jesus........ 310 Figura 28. Aspectos do relevo das Furnas do Bom Jesus e biomassa combustível oriunda da gramínea brachiaria................................ 311 Figura 29. Ambiente lacustre da Estação Ecológica de Jataí, com abundante avifauna característica................................................. 315 Figura 30. "Deck" de observação em uma trilha da Estação Ecológica de Jataí............................................................................................... 317 Figura 31. Jequitibá-rosa, Cariniana legalis (Martius Kuntze), com mais de três metros de diâmetro na trilha homônima................................. 321 Figura 32. Uso público no Parque Estadual de Porto Ferreira. ..................... 327 Figura 33. A Diretora do Parque Estadual Juquery mostrando a vegetação da unidade e as erosões provocadas por antigos praticantes de motocross. .................................................................................... 332 Figura 34. Represa do França pertencente à CBA no interior do Parque Estadual Jurupará. ....................................................................... 336 Figura 35. Alto do Pico do Jaraguá com seu complexode torres de comunicação. ............................................................................... 340 Figura 36. Aspecto da vegetação do Parque Estadual da Cantareira. (Fausto Pires de Campos) ............................................................ 346 Figura 37. Vista da elevação denominada Morro do Diabo e exuberante florada de Ipês-roxo. ..................................................................... 350 xvi LISTA DE QUADROS Pag. Quadro 01. Alguns benefícios aportados pelas unidades de conservação.... 16 Quadro 02. Categorias e objetivos de gestão das unidades de conservação (UICN, 1994)................................................................................ 24 Quadro 03. Objetivos de conservação das categorias de manejo brasileiras*................................................................................... 31 Quadro 04. Algumas definições de gestão ambiental.................................... 38 Quadro 05. Requisitos gerenciais para uma gestão moderna e eficaz das Unidades de Conservação.......................................................... 51 Quadro 06. Justificativas para efetuar a avaliação do manejo de unidades de conservação........................................................................... 60 Quadro 07. Indicadores usados na avaliação do impacto do manejo das UCs do Programa “Parques em Perigo” da TNC (Brandon et al., 1998)..................................................................................... 66 Quadro 08. Escala usada para avaliar os indicadores (Faria, 1993)............. 66 Quadro 09. Escala para qualificação da eficácia da gestão (Faria, 1993)..... 67 Quadro 10. Situação de algumas UCs de São Paulo quanto à demarcação e situação fundiária..................................................................... 76 Quadro 11. Debilidades, ameaças e problemas de oito áreas protegidas de São Paulo.................................................................................... 78 Quadro 12. Área, localização geográfica e municípios abrangidos pelas Unidades de Conservação pesquisadas..................................... 83 Quadro 13. Escala para pontuação dos indicadores..................................... 88 Quadro 14. Indicadores adotados para avaliar a eficácia de gestão de unidades de conservação........................................................... 93 Quadro 15. Diferentes amplitudes da escala de classificação da eficácia de gestão e diferentes classificações, considerando apenas os resultados das 41 unidades de conservação de proteção integral estudadas....................................................................... 127 Quadro 16. Qualificativos alternativos à escala original................................. 129 Quadro 17. Escala de qualificação da Eficácia de Gestão corrigida.............. 129 Quadro 18. Estruturas de madeira pré-fabricadas produzidas pelo IF no período de 1990 a 2000............................................................. 141 Quadro 19. Programas e metas do Plano de Ação Emergencial................... 143 Quadro 20. Objetivos temáticos e ações programáticas propostos pelo Repensando o IF......................................................................... 147 xvii Quadro 21. Objetivos gerenciais e ações programáticas propostos pelo Repensando o IF......................................................................... 147 Quadro 22. Unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Florestal. 149 Quadro 23. Unidades de proteção integral e uso sustentável administradas pelo Instituto Florestal (adaptado de IF, 2001)............................ 150 Quadro 24. Programas e projetos de pesquisa desenvolvidos no IF entre 1998 e 2001................................................................................ 153 Quadro 25. Recentes pesquisas desenvolvidas no IF direcionadas à gestão de Unidades de Conservação......................................... 155 Quadro 26. Orçamento total do Estado destinado ao Instituto Florestal nos últimos 9 anos............................................................................. 156 Quadro 27. Recursos financeiros destinados às 10 UCs do projeto PPMA em relação às demais unidades do Instituto Florestal................ 159 Quadro 28. Receita do IF oriunda de produtos e sub-produtos florestais ..... 159 Quadro 29. Frota de veículos disponível no IF no ano 2000.......................... 161 Quadro 30. Involução do Quadro de funcionários do IF frente ao aumento da superfície protegida................................................................ 167 Quadro 31.Matriz geral com todos os indicadores e sub-indicadores para todas as UCs estudadas............................................................. 170 Quadro 32.Matriz síntese contemplando as UCs de Proteção Integral e de Uso Sustentável Estudadas........................................................ 171 Quadro 33.Matriz síntese contemplando apenas as UCs de Uso Sustentável estudadas............................................................... 172 Quadro 34.Matriz síntese contemplando somente as UCs de Proteção Integral estudadas....................................................................... 173 Quadro 35. Frequência da classificação das UCs......................................... 175 Quadro 36. Classificação da eficácia de gestão das UCs de proteção integral e uso Sustentável e porcentagem no grupo (UCPI e UCUS)......................................................................................... 176 Quadro 37. Superfície com proteção efetiva de acordo com a eficácia de gestão auferida............................................................................ 178 Quadro 38. Resultados da Analise de Regressão Múltipla para os dados obtidos nas UCs de Proteção Integral......................................... 180 Quadro 39. Sub-indicadores do processo de avaliação................................. 182 Quadro 40. Comportamento do âmbito planejamento e ordenamento para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34..... 182 Quadro 41. Situação dos planos de manejo nas 41 unidades de proteção integral pesquisadas................................................................... 183 Quadro 42. Comportamento do âmbito administrativo para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34....................... 189 xviii Quadro 43. Relação área/funcionário em função da quantidade atual e a quantidade ótima reportada pelos diretores das UCs que contestaram essa questão. Quadro 45. Relação dos recursos financeiros/hectare, em reais por hectare por mês ($/ha/mês), em função dos recursos financeiros recebidos na atualidade e os recursos necessários segundo as informações dos diretores das UCs que reportaram essa questão. Ano 2001..................... 191 Quadro 44. Relação dos recursos financeiros/hectare, em reais por hectare por mês ($/ha/mês), em função dos recursos financeiros recebidos na atualidade e os recursos necessários segundo as informações dos diretores das UCs que reportaram essa questão. Ano 2001........................................... 199 Quadro 45. Comportamento do âmbito político-legal para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34....................... 200 Quadro 46. Comportamento do âmbito conhecimentos para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34....................... 211 Quadro 47. Comportamento do âmbito qualidade dos recursos protegidos para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 4..................................................................................... 216 Quadro 48. Comportamento do âmbito florestas estaduais para as UCs de uso sustentável, em conformidade com os dados do Quadro 3..................................................................................... 222 Quadro 49. Resultado da Análise de Componentes Principais para 35 variáveis usadas na avaliação da eficácia de gestão das UCs de proteção integral, dados doQuadro 34.................................. 229 Quadro 50. Indicadores com maior variabilidade nos dados (nesta pesquisa)..................................................................................... 231 Quadro 51. Sugestão de ponderação especifica de acordo com a área da UC............................................................................................... 232 Quadro 52. Como ficariam os ‘totais ótimos’ para três distintas UCs com situação fundiária semelhante..................................................... 233 Quadro 53. Problemas de manejo, Ameaças Internas e Externas das UCs que responderam a este questionamento................................... 234 Quadro 54. Ameaças externas e internas e respectivos fatores incidentes nas unidades de conservação analisadas.................................. 244 Quadro 55. Quantidade e porcentual de áreas protegidas com incidência de ameaças externas.................................................................. 245 Quadro 56. Quantidade e percentual de áreas protegidas com incidência de ameaças internas................................................................... 246 Quadro 57. Comparação entre os orçamentos do PEMD e PE Intervales.... 352 xix LISTA DE PRANCHAS Pág. Estação Ecológica Bananal................................................................................... 251 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Santa Virgínia................................... 255 Parque Estadual Xixová-Japuí............................................................................... 259 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo São Sebastião.................................. 263 Parque Estadual da Ilha Bela................................................................................ 267 Parque Estadual da Ilha do Cardoso..................................................................... 271 Parque Estadual da Campina do Encantado......................................................... 277 Parque Estadual Jacupiranga................................................................................ 281 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Caraguatatuba........................................ 285 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba............................................... 291 Parque Estadual da Ilha Anchieta........................................................................................ 295 Parque Estadual de Carlos Botelho....................................................................... 299 Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira - PETAR.............................................. 303 Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus.......................................................... 309 Estação Ecológica de Jataí.................................................................................... 313 Parque Estadual Vassununga............................................................................... 319 Parque Estadual de Porto Ferreira........................................................................ 325 Parque Estadual do Juquery.................................................................................. 329 Parque Estadual do Jurupará................................................................................ 333 Parque Estadual do Jaraguá................................................................................. 339 Parque Estadual da Cantareira.............................................................................. 345 Parque Estadual do Morro do Diabo...................................................................... 349 xx LISTA DE SIGLAS AMOMAR Associação dos Moradores do Maruja BIOTA Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental COCAMP Cooperativa de Prestação de Serviços aos Assentados de Reforma Agrária do Pontal Ltda. COTEC Comissão Técnico-Científica do Instituto Florestal DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica DEPRN Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais DER Departamento de Estradas de Rodagem DERSA Desenvolvimento Rodoviário AS DFEE Divisão de Florestas e Estações Experimentais DRPE Divisão de Reservas e Parques Estaduais EEc Estação Ecológica EEx Estação Experimental ESALQ Escola Superior de Agronomia Luis de Queiroz FEBEM Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor FEHIDRO Fundo Estadual de Recursos Hídricos FF Fundação para a Produção e Conservação Florestal de São Paulo FNMA Fundo Nacional do Meio Ambiente FUNAI Fundação Nacional do Índio IAMSPE Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IF Instituto Florestal de São Paulo IG Instituto Geológico de São Paulo IUCN (UICN) União Internacional para a Conservação JICA Agencia Japonesa de Cooperação Internacional ONG (ong’s) Organizações Não Governamentais PCA Análise de Componentes Principais PE Parque Estadual PEMD Parque Estadual do Morro do Diabo PESM Parque Estadual da Serra do Mar xxi PETAR Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira PPMA Programa de Proteção da Mata Atlântica PUC Pontifícia Universidade Católica RE Reserva Estadual SET Secretaria de Esportes e Turismo SMA Secretaria de Estado de Meio Ambiente de São Paulo SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação SUDELPA Superintendência de Desenvolvimento do Litoral Paulista UCs Unidades de Conservação UCPI Unidades de Conservação de Proteção Integral UCUS Unidades de Conservação de Uso Sustentável UFSCAR Universidade Federal de São Carlos UNESP Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” UNICAMP Universidade de Campinas USNPS Serviço de Parques Nacionais dos Estados Unidos da América do Norte USP Universidade de São Paulo WWF Fundo Mundial para a Conservação xxii Resumo Para muitos autores, as unidades de conservação da natureza, ou áreas protegidas, são ou serão os últimos baluartes da conservação estrita da biodiversidade, sendo esta razão, não excludente de outras, a principal motivadora para a existência de uma gestão verdadeiramente eficaz, que conduza ao alcance dos objetivos para os quais elas são criadas. A avaliação da eficácia de gestão através de procedimentos metodológicos estruturados com base na utilização de indicadores é uma importante ferramenta de suporte à gestão, pois possibilita a coleta periódica e sistemática sobre a qualidade da gestão, facilita a priorização de assistências e investimentos pontuais e a realimentação do sistema gerencial. Nesta pesquisa, verificou-se a eficácia de gestão de unidades de conservação de São Paulo adotando-se e adaptando-se um procedimento metodológico desenvolvido originalmente na Costa Rica, posteriormente adaptado à realidade das unidades de conservação de vários países da América Latina. Os princípios do procedimento são o uso de indicadores e critérios estritos para a qualificação, associados a uma escala de valoração geral. O universo do estudo envolveu 59 áreas gerenciadas pelo Instituto Florestal de São Paulo, sendo 41 do grupo de proteção integral e 18 do grupo de uso sustentável, totalizando 69% do total das UCs e quase 90% da superfície total sob a guarda da organização, representando 782.622,25ha. Para a coleta de dados utilizou-se a bibliografia disponível sobre o sistema em análise, oficinas de avaliação coletiva, entrevistas e visitas a áreas previamente selecionadas. A análise dos indicadores e das ameaças demonstraram as debilidades da organização e a fragilidade com que a gestão de muitas unidades de conservação é levada a termo. As Unidades de Conservação pesquisadas apresentaram padrões de qualidade de gestão intermediários, sendo que 22 tiveram a gestão classificadas como de Padrão Mediano, 27 como de Padrão Inferior e 04 como possuidoras de Padrão Muito Inferior. Apenas seis unidades alcançaram pontuação suficienteque permitiu classificá-las de Padrão de Qualidade Elevado. Todas apresentam aspectos negativos como positivos, imperando os primeiros. Há unidades que nada ou quase nada possuem que as conduzam ao atendimento dos seus objetivos de gestão. Esta situação demonstra a necessidade de maiores esforços coletivos e planejados para a busca da excelência, senão padrões mais elevados de qualidade, satisfazendo aos que nelas trabalham e à sociedade em geral, que delas dependem para a conservação da biodiversidade, como fonte de saber, inspiração, lazer e recreação naturais. Pode-se inferir que o maior problema do Instituto Florestal é a falta de políticas para as inúmeras atividades que precisa estar desenvolvendo para cumprir com a missão aceita, havendo evidências da necessidade de intervenções urgentes em aspectos e componentes políticos e estruturais, de modo a promover um ‘choque de modernidade’ gerencial na maneira de conduzir e administrar a coisa pública. Por outro lado, a pesquisa mostrou também que a instituição possui pontos positivos que devem ser usados como ferramentas para sua auto-afirmação enquanto organização responsável pelas unidades de conservação do Estado. Palavras-chave: Unidades de Conservação; eficácia de gestão; avaliação; ameaças; aspectos positivos e negativos. xxiii Abstract For many authors, the conservation units (UCs) or protected areas are or will be the last bastions of the strict conservation of biodiversity, being this reason (not exculpatory of others) one of the main reasons for the existence of a truly effective management, that leads to the reach of the objectives for which they are created. The evaluation of the effectiveness management through structuralized procedures on the basis of the use of pointers is an important tool of support to the management, therefore it makes possible the periodic and systematic collection on the quality of the management, it makes easier and gives priority to help and prompt investments and the feedback of the management system. In this research adopting themselves developed methodological procedure from Costa Rica, later adapted to the reality of the protected areas of some countries from Latin America. The principles of the procedure are the strict use of indicators and criteria for the qualification, associates to a scale of general valuation. The universe of the study involved 59 protected areas managed for the Forest Institute of São Paulo, being 41 of the group of integral protection and 18 of the group of sustainable use, totalizing 69% of the total of UCs and almost 90% of the total surface under the guard of the organization, representing 782.622,25ha. For the data collection, has been used available bibliography on the system in analysis, workshops of collective evaluation, interviews and technical visits the areas previously selected. The indicators and the threats analysis had demonstrated to the debility of the organization and the fragility with that the management of many units of conservation is taken the term. The majority of the UCs had the management classified as inferior and medium standards of quality, demonstrating as many negative aspects as positive, unfortunately reigning the first ones. It has units that nothing or almost nothing they possess that they lead them to the attendance of its objectives of management, but also exist some few with very good standard of management. This situation demonstrates the necessity of stronger efforts collective and planned for the search of the excellency, or raised standards of quality, satisfying its workers in general and the society, which needs of the Protected Areas for the biodiversity conservation, as source to their knowledge, inspiration, leisure and natural recreation. It can be inferred that the biggest problem of the Instituto Florestal is the lack of politics for the innumerable activities that it needs to be developing to fulfill with the accepted mission, having evidences of the necessity of urgent interventions in aspects and components structural and politicians, in order to promote one shock of ‘managemental modernity' in the way to lead and to manage the public environment. On the other hand, the research has shown that the Instituto Florestal de São Paulo owns positive points that must be used as tools for its auto- affirmation while responsible organization for the Protected Areas of the São Paulo State, Brasil. Key words: Protected areas; effectiveness management; measuring; threats; negatives and positives indicators. 1. INTRODUÇÃO 2 É incontestável a importância dos recursos naturais e da biodiversidade para a humanidade. O desafio reside em tentar, a todo custo, salvar o pouco que ainda resta de natureza pouco tocada lançando mão das estratégias possíveis e imagináveis no afã de se lograr, ao menos, a sustentabilidade local e regional. Neste contexto, os espaços especialmente protegidos na forma de unidades de conservação (UCs) ganham notoriedade como das mais importantes entre todas elas, ovacionadas por uma imensidão de cientistas contemporâneos. Dieckenson, apud Ham e Enriquez (1987), alheio a qualquer tipo de tendência sociológica, política ou científica afirmou que “as unidades de conservação são as únicas criações da sociedade moderna designadas para o benefício da humanidade como um todo”, uma feliz e categórica alusão à genialidade humana se enfocarmos o pensamento nos desígnios de nossa espécie sobre a Terra. Corroborando tal assertiva, Douroujeanni e Jorge Pádua (2001) afirmam que todavia o gênio humano não descobriu uma forma mais efetiva e eficiente que as UCs para preservar a biodiversidade na natureza. Tal relevância e importância é notada em razão da fantástica ampliação do quadro das unidades de conservação a partir do seu advento oficial, no distante 1872 quando da criação do 1o Parque Nacional do Mundo moderno, o PN de Yellowstone. Hoje no planeta existem mais de 30.000 sítios dedicados à conservação da natureza (Green e Paine, 1997), sendo que o Brasil contribui em termos absolutos, incluindo somente as categorias de manejo reconhecidas pela União Internacional para a Conservação, com a maior superfície protegida da América do Sul, (Dourojeanni e Jorge Pádua, 2001). Na visão destes últimos autores, em relação ao número e extensão das áreas protegidas o esforço empreendido pelo Brasil é louvável e bem sucedido, ainda que existam lacunas de representatividade ecológica. O sistema nacional de unidades de conservação, instituído no Brasil no ano 2000, não está solidificado não só em razão dos vazios ecológicos existentes mas também pela falta do que têm-se chamado de ‘efetividade de manejo’, isto é em quanto as áreas possuem os requerimentos e desenvolvem as atividades mínimas visando o atendimento dos objetivos para os quais foram criadas. Este é um termo moderno oriundo de estudos desenvolvidos ao longo dos últimos 20 anos, mas surgido no inicio do decênio de 1990 juntamente com as técnicas de avaliação 3 quantitativas do manejo; ele pressupõe a existência de níveis diferenciados de qualidade de gestão, diferente do termo estanque popularmente conhecido para designar os parques não implantados ou mal resolvidos, os famosos ‘parques de papel’, que segundo Douroujeanni e Jorge Pádua (2001) foi erroneamente cunhado no âmbito de uma pesquisa tendenciosa e com análise superficial. ‘Efetividade de manejo’ ou ‘eficácia de gestão’ são denominações que estimulam as pessoas e as organizações a buscarem soluções para os problemas identificados nos processos de avaliação, principalmente vislumbrar a factibilidade de se alcançar um nível mais elevado de qualidade, enquanto a expressão ‘parques de papel’ soa como um pejorativo perigoso que pode desalentar os ânimos dos mais aguerridos conservacionistas e estimular os contrários à conservação a tomarem posturas mais enérgicas neste sentido. É fato que existem muitas áreas protegias com gestão nula ou próximo disso, mas isso não querdizer que elas não cumprem seu papel. Ao contrário, não há como subestimar o significado que os ecossistemas legalmente protegidos tem e os grandes benefícios, muitas vezes imperceptíveis, que eles auferem com a sua simples existência. Por outro lado, há de se convir que se as UCs são criadas elas devem ser implantadas, administradas e manejadas e, assim, prover mais benefícios à sociedade que paga por elas. A gestão das unidades de conservação não é algo complexo, mas extremamente profissional pois requer conhecimentos e ações específicas para se alcançar a eficácia. Dentre os requerimentos mais conhecidos para um manejo efetivo estão a necessidade de solução da questão dominial mediante a regularização fundiária da área, limites bem definidos em mapa e no campo, possuir mínima infra-estrutura e dotação orçamentária, staff adequado e capacitado, reconhecimento e apoio da comunidade local e regional, um plano de manejo atualizado cujo seguimento esteja garantido pela utilização de rotinas específicas para a realimentação do sistema gerencial e, sobretudo, conhecimento científico. Visando a implementação da qualidade do manejo das UCs, as últimas décadas presenciaram o aparecimento de inúmeras ferramentas e mecanismos para auxiliar a tarefa dos diretores e dos organismos gestores, dentre elas os planos de manejo, provavelmente a mais reconhecida de todas e novas técnicas de planejamento; técnicas e métodos relacionados à educação 4 conservacionista surgiram para facilitar o envolvimento e o apoio das pessoas nos assuntos das UCs; desenvolvimento de técnicas de geoprocessamento de imagens orbitais e sistemas de informação geográfica que, respectivamente, facilitaram a compreensão da paisagem e a catalogação e processamento de informações para o manejo de ecossistemas; teorias foram formuladas, como a teoria de biogeografia de ilhas, vindo a auxiliar no entendimento dos processos dinâmicos da paisagem e contribuindo para o surgimento de novos paradigmas para a gestão integrada dos recursos; etc. Nesta mesma linha, também se propalou que o monitoramento sistemático em todos os níveis consistiria uma ótima ferramenta para os administradores das UCs, permitindo aos mesmos registrar e saber, a qualquer momento, os eventos passados, sejam naturais ou não, e isto alimentar a gestão mediante alguma forma de utilização das informações. Isto é uma necessidade inquestionável, principalmente na atualidade quando as organizações e o meio ambiente estão sujeitos a mudanças conjunturais extemporâneas. Em relação à gestão de áreas protegidas propriamente dita, a primeira vez que se discutiu sobre algum procedimento que permitisse o diagnóstico do manejo de modo pontual foi em 1982, no III Congresso Mundial de Parques (Deslher, 1982), só que de lá para cá as instituições administradoras de sistemas de unidades de conservação não fizeram as tarefas necessárias, pois até o momento não se conhece iniciativa organizacional neste sentido. Os raros trabalhos desta natureza foram ou são desenvolvidos no âmbito de projetos de pesquisa, ou muito pontuais sobre uma ou um grupo de unidades de conservação. Ou seja, se os planos de manejo são reconhecidamente importantes para uma gestão eficaz, e fazem parte das políticas institucionais (ao menos da vontade ou do discurso), o monitoramento e a realimentação do sistema gerencial todavia não o é, ao menos em larga escala como o primeiro. Foi no ambiente acadêmico e das grandes organizações internacionais ambientalistas, tais como a União Internacional para a Conservação- UICN, a The Nature Conservancy-TNC, o Fundo Mundial para a Natureza-WWF e o Centro Agronômico Tropical de Investigación y Enseñanza-CATIE que surgiram as primeiras tomadas de posição em relação à formulação de instrumentos mais criteriosos dirigidos ao diagnóstico da eficácia de gestão das áreas protegidas. 5 Fundamentalmente a partir do IV Congresso Mundial de Áreas Protegidas, ocorrido na Venezuela em 1992. Na atualidade propagaram-se os procedimentos que tem por base o uso de indicadores e escalas numéricas para a qualificação e quantificação do nível de eficácia de gestão das UCs, que será abordado na seção específica desta tese. O Estado de São Paulo apresenta um dos melhores ‘sistemas’ de unidades de conservação estadual do Brasil, com áreas consideradas “jóias” da natureza que protegem belíssimas paisagens, supra importantes à conservação da biodiversidade de ecossistemas dos dois domínios morfoclimáticos presentes no território paulista: o Cerrado e a Mata Atlântica. São floras, faunas, águas e gentes que se interdependem e demandam uma gestão eficaz, dirigida ao espaço protegido, para que, em última instância, avancem e evoluam no tempo e encham os olhos das gerações vindouras. Mas, estarão essas áreas sendo bem geridas, de maneira tal a atingirem as razões e os objetivos que motivaram suas criações e segundo as respectivas categorias de manejo? Em que nível de qualidade elas estão sendo administradas? É possível a utilização de um procedimento metodológico para se avaliar a eficácia de gestão? Os diretores poderiam estar eles mesmos implementando a atividade de auto-avaliação da gestão? A hipótese a ser testada nesta tese é que as unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Florestal de São Paulo possuem uma grande variação nos padrões de qualidade de gestão, sendo que boa parcela delas sofre a incidência de problemas e ameaças determinantes de uma gestão que não condiz com o pleno alcance dos objetivos para os quais foram criadas. Deste modo, a presente pesquisa aborda a qualidade da eficácia de gestão de unidades de conservação, objetivando: i) Testar e desenvolver uma metodologia que usa indicadores estritos para avaliar a eficácia de gestão de UCs gerenciadas pelo Instituto Florestal de São Paulo; ii) Estabelecer os indicadores a serem usados na mensuração da eficácia de gestão para as unidades de conservação de proteção 6 integral (Parques e Estações Ecológicas) e de uso sustentável (‘Estações Experimentais’ e Florestas Estaduais); iii) Determinar a eficácia de gestão de unidades de conservação administradas pelo Instituto Florestal; iv) Em relação aos indicadores usados, apontar as debilidades e os pontos fortes de cada uma das unidades de conservação e do sistema como um todo, que respectivamente nortearão a necessidade de maiores investimentos e esforços e aqueles que servem de exemplo institucional a serem seguidos; e v) Apontar as principais ameaças internas e externas incidentes sobre o sistema amostrado. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 8 2.1 A SITUAÇÃO E IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS Muitos problemas ambientais surgiram devido ao crescimento econômico e a explosão demográfica observada nos séculos XIX e XX, o que regra geral tem provocado uma sistemática pressão sobre os recursos naturais silvestres nos países mais pobres, não obstante alguns autores entenderem que a verdadeira causa da degradação ambiental, em escala mundial, resida maiormente nas elevadas taxas de consumo energético no planeta, fundamentalmente nos países desenvolvidos, e a má distribuição de rendas dos países em desenvolvimento, sendo o crescimento populacional somente uma das conseqüências do subdesenvolvimento (Chandler, 1990; Comision de Desarrollo Y Medio Ambiente de América Latina y el Caribe, 1991; UICN, PNUMA e WWF, 1991; Banco Mundial, 1992). As causas dos desmatamentos em grande escala são freqüentemente muito complexas e variam conforme as características culturais dos povos e a história de seu desenvolvimento econômico. Na América Latina e nos países tropicais as causas decorrem principalmente da alta demanda por terras para a pecuária, a prática de cultivos pouco produtivos e a abertura de áreas para a colonização e projetos de desenvolvimentos a reboque de políticas mal planejadas que não consideram os custos da degradação dos recursos naturais que, em última instância,são a base do desenvolvimento econômico (Elliott, 1986; Banco Mundial, 1992). Já em 1982 o Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estimaram uma perda anual global de 7,5 milhões de hectares de florestas úmidas e 3,8 milhões de florestas tropicais secas, o que para muitos autores foi considerado uma afirmação bastante conservadora. Em 1990 as florestas do planeta continuavam a desaparecer a uma taxa média de 0.6% ao ano, significando que as florestas tropicais corriam uma séria ameaça de desaparecer até o ano 2050 (Chandler, 1990; Saywer, 1991). Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação existem hoje aproximadamente quase quatro bilhões de hectares de florestas cobrindo 30% da superfície terrestre do Planeta. As florestas tropicais e subtropicais respondem por 56%, as florestas temperadas e boreais por 44% e as plantações florestais por 5% do total. Segundo o estudo apresentado, no decênio de 9 1990 houve uma variação anual liquida de 9,4 milhões de hectares negativos, isto é a diferença entre a taxa anual estimada de desmatamento de 14,6 milhões de ha e a taxa anual estimada de incremento da superfície de florestas de 5,2 milhões de hectares (FAO, 2001). Isto confirma que as florestas mais ricas do mundo seguem sendo diminuídas segue aumentando a nível mundial a um ritmo bastante elevado. Analisando BRASIL (1998), o Brasil contribui sobremaneira para esse incremento. Cerca de 15% da Floresta Amazônica foi removida, principalmente pela abertura de rodovias que abriram caminho para atividades mineradoras e colonizadoras, levas que fizeram avançar a fronteira agrícola e, por conseguinte, a exploração madeireira. No Cerrado, estima-se que a remoção de vegetação nativa já supera 40% da área, também por causa do avanço da fronteira agropecuária e do conseqüente aumento da população, que nos últimos 40 anos multiplicou-se por seis e já chegou a cerca de 20 milhões de pessoas. A Caatinga sofre com as prolongadas secas, a desertificação, a erosão do solo e a salinização, além da remoção de 50% da sua vegetação. A Mata Atlântica, que se estendia ao longo de boa parte da zona costeira, sofreu com a concentração populacional ao longo de séculos, acentuada nas últimas décadas, e hoje mantém apenas cerca de 8,75% da vegetação nativa original. Na verdade, o crescimento econômico tem sido acompanhado de crescente intervenção em hábitats até então preservados, determinando significativa perda de diversidade biológica que varia entre os vários tipos de ecossistemas brasileiros. De 1970 a 1985 foram concedidos para a área amazônica US$ 700 milhões em incentivos fiscais e créditos subsidiados para 950 projetos, dos quais 631 de abertura de novas áreas para a pecuária. Somente entre agosto de 1999 e agosto de 2000 o desmatamento cresceu 15% na Amazônia Legal em relação aos 12 meses anteriores, alcançando 19.832 km2, 1.983.200ha, uma área muito próxima a do Estado de Sergipe, porém esSe dado é preliminar e pode sofrer alterações significativas como em anos anteriores, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais teve que rever suas cifras; cerca de 168.543 km2 foram desmatados entre 1990 e 2000, evidenciando que as medidas adotadas pelo governo brasileiro após a ECO’92 têm sido insuficientes (Folha de São Paulo, 2001). 10 Nesse contexto, o desaparecimento e a contínua fragmentação das florestas tem alcançado taxas exponenciais ao longo do tempo, sendo considerado, juntamente com as alterações climáticas do Planeta, uma das mudanças ambientais de maiores proporções da atualidade. Segundo Wilson (1989) a diversidade biológica no planeta foi fortemente diminuída nos períodos geológicos Ordoviciano, Devoniano, Permiano, Triassíco e Cretáceo e, em menor grau, aqui e ali em todo o mundo em incontáveis catástrofes naturais, mas depois de cada declínio voltou a recuperar seu nível original ou maior de diversidade, precisando dezenas de milhões de anos para isso. Alguns cientistas consideram que a humanidade equivale a mais um dos grandes eventos de extinção da diversidade biológica planetária, o que se confirma mediante a leitura de inúmeros autores, dentre eles Dorst (1987), Fernandez (2000a) e Camara (2000), além de farta literatura sobre o tema. Isso se agrava se considerarmos que até hoje a ciência descreveu entre 1,5 e 1,6 milhões de espécies de todas as classes de organismos, contra um número total entre cinco milhões e 30 milhões (Wilson, 1989). Desse modo, a continuar as atuais taxas de degradação ambiental, a extinção de espécies, principalmente no caso das florestas tropicais que contem a maior parte da diversidade biológica do planeta, representará um enorme prejuízo para as futuras gerações. O intenso desmatamento das matas tropicais chegou a índices extremos nas últimas décadas e hoje não é possível saber com exatidão a perda anual, pois a degradação imposta pelo modelo de desenvolvimento econômico alcança os recursos naturais, indiscriminadamente. Alguns cientistas calculam que desastres ocorrerão muito em breve, seja pela escassez de água doce, pelo aquecimento global, pela escassez de recursos genéticos, diminuição de estoques pesqueiros, poluição da águas oceânicas, ou pela desaparição de espécies certamente importantes para o presente e futuro da Humanidade. Na medida que os recursos silvestres vão sendo degradados, antagonicamente essa situação dá lugar a uma supervalorização dos mesmos, extrapolando o juízo de valor do sistema capitalista, um fato que vem a corroborar o cunhado por um autor desconhecido que afirmou que “no sistema capitalista a natureza só tem algum valor se destruída”, o que não deixa de ser uma verdade haja 11 vista a movimentação de recursos financeiros para se proteger, manejar e recuperar as sobras daquilo que Fernandez (2000a) chamou de “poema imperfeito”. Uma das maneiras de mudar essa situação é atribuir ao estoque de capital natural que produzem os serviços ambientais um peso adequado no processo decisório, pois se não for assim, o bem-estar atual e futuro da humanidade podem ser afetados drasticamente. Se os serviços ambientais dos ecossistemas tivessem que ser pagos, em termos do valor de sua contribuição para a economia global, o sistema global de preços seria muito diferente do que é hoje. O preço das commodities que usam serviços de ecossistemas, direta ou indiretamente, seria muito maior; a estrutura de pagamento dos fatores, incluindo salários, taxas de juros e lucros, mudaria dramaticamente; o Produto Bruto Mundial seria muito diferente, tanto em magnitude como em composição, se incorporasse adequadamente o valor dos serviços de ecossistemas (Constanza et al.., 1997). Esses autores estimaram em US$ 33 trilhões de dólares o valor anual dos serviços prestados pelos sistemas ecológicos e o estoque de capital natural que os gera, duas vezes mais que o produto mundial bruto, considerando apenas o valor dos serviços que puderam ser identificados no sistema de mercado e substituíveis por ações humanas. 17 diferentes serviços de ecossistemas foram identificados, quais sejam: a regulação da composição química da atmosfera, regulação do clima, controle da erosão do solo e retenção de sedimentos, produção de alimentos, produção de matérias-primas, absorção e reciclagem de resíduos gerados por ação humana, regulação dos fluxos hidrológicos, suprimento de água (estocagem e retenção) regulação de distúrbios (proteção contra tempestades, controle de inundações, recuperação de secas etc.), processos de formação do solo, ciclo dos nutrientes, polinização, controle biológico (regulação de populações), refúgio para populações residentes e migrantes, recursos genéticos, recreação e cultura. Em termos mais pragmáticos, este estudo nos dá uma idéia do quanto vale cuidar preventivamente dos sistemas mantenedores da vida em nosso planeta, ou do quanto irá custar sua indispensávelrestauração no futuro (Costa, 2001b). A situação de degradação dos recursos naturais, a base de sustentação e de todo o desenvolvimento da civilização moderna, interpõe um novo 12 paradigma para as florestas manejadas com o intuito de produzir madeira e conservar ecossistemas, que reside no aumento da consciência da população sobre a importância dos produtos especiais e alternativos oriundos das florestas e dos processos industriais, os chamados produtos não tradicionais das florestas. Pesquisas em diversos países do mundo, e mais recentemente em alguns países tropicais, tem enfatizado e reconhecido a importância desses produtos especiais em suas economias. Esta questão ficou muito clara ao se adotar o conceito de desenvolvimento sustentável pelas nações participantes da Conferencia das Nações Unidades sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, em 1992, quando então foi confirmado o papel destes produtos no desenvolvimento sustentável e a sua efetiva contribuição na diversificação da economia (UICN/PNUMA/WWF, 1991; Hoyt, 1992; Corson, 1993). Neste contexto, ganharam importância as florestas plantadas com espécies exóticas de rápido crescimento, sendo um vantajoso mecanismo de controle do efeito estufa, de implementação imediata, de baixo custo e com capacidade de ampliar os estoques de carbono, reduzindo os impactos negativos das mudanças climáticas de origem antrópica. Produtos derivados das florestas plantadas produzidos continuamente e de maneira sustentável podem substituir parte das emissões dos combustíveis fósseis (Salati apud SBS, 2001). Por outra via, a atividade florestal no Brasil participa com 4% do produto interno bruto do nacional, com 4,8 milhões de hectares implantados que correspondem a 0,56% do território nacional, suprindo 62% da demanda de madeira interna. Além disso, gera milhões de empregos na medida que cada 1000ha dessas florestas corresponde a 60 empregos diretos e 90 indiretos (SBS, 2001). O enfoque sobre a biomedicina e a industria de fitofármacos naturais ilustra a escala global das mudanças voltadas para o setor florestal e de biodiversidade. Atualmente, no mercado de medicamentos mais de 25% das drogas prescritas contém ingredientes ativos oriundos de plantas naturais; cerca de 121 drogas prescritas em uso no mundo têm sua origem nos vegetais superiores, não incluindo os antibióticos naturais provenientes de microorganismos, sendo que 74% delas foram descobertas graças aos conhecimentos tradicionais de comunidades rurais. 13 Na China, mais de 5.100 espécies silvestres são utilizadas na medicina tradicional; na Amazônia cerca de 2.000; na Rússia cerca de 2.500 espécies de plantas. 1/4 de todas as receitas medicamentosas dos Estados Unidos contém princípios ativos extraídos de plantas. Mais de 3000 antibióticos são oriundos de microorganismos, incluídos a penicilina e a tetraciclina; compostos extraídos de plantas, micróbios e animais estão relacionados com o desenvolvimento dos 20 medicamentos mais vendidos nos EUA, sendo que o valor agregado aproximou-se dos US$ 6.000.000,00 em 1988. A "ciclosporina" é proveniente de um fungo do solo e constituiu uma revolução da cirurgia de transplantes cardíacos e renais, suprindo assim as reações de rejeição muito comuns nestas cirurgias; a "aspirina" e muitos outros remédios que hoje são sintetizados foram descobertos primeiro no meio silvestre (UICN/PNUMA/WWF, 1991; Corson, 1993). Muitas das espécies de plantas hoje cultivadas continuam sobrevivendo em condições silvestres, evoluindo na natureza sob regras muito diferentes das cultivadas, onde a competição pela sobrevivência origina indivíduos mais fortes às secas, inundações, calor e frio extremos, pragas, enfermidades e muitos outros diferentes perigos naturais. Os genes dos parentes silvestres contem características desconhecidas e um vigor especial, tesouros na sua maior parte desconhecidos e sub-utilizados. Um exemplo são os tomates silvestres das costas das Ilhas Galápagos, um Parque Nacional do Equador, que proporcionam genes que conferem uma tolerância ao sal de maneira que as plantas possam ser irrigadas com uma terça parte de água marinha. Um parente silvestre da soja que cresce às margens de estradas, nas matas ciliares e nos campos da Coréia e regiões da China e Rússia proporcionou genes que ajudam ao cultivo adaptar-se à curta estação de crescimento na Sibéria. Um parente silvestre do arroz teve papel importante ao dar resistência às doenças dos cultivares que alimentam a maioria das populações da Ásia, sendo talvez o exemplo mais relevante da importância de se conservar os parentes silvestres (Hoyt, 1992) Conservar o pouco de natureza que restou após milhares de anos de crescente civilização humana é algo extremamente complexo e parece realmente ser muito difícil, em razão dos poucos avanços reais transcorridos após a última 14 Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro em 1992, evento no qual os governos dos principais países do mundo concordaram que “a humanidade se encontra em um momento de definição histórica, defrontando-se com a perpetuação das disparidades existentes entre as nações e no interior delas, o agravamento da pobreza, da fome, das doenças e do analfabetismo, e com a deterioração contínua dos ecossistemas de que depende o bem-estar humano” (Agenda 21)”. A apologia ao desenvolvimento sustentável, termo cunhado pela Comissão Brundtland em 1987 (Lebel e Kane, sd) e delineado como factível, desejável e a solução para todos os males produzidos pelo Homem parece estar no começo do fim quando sob a ótica planetária, principalmente devido as constatações de que a crise ecológica não é um produto da sociedade moderna, mas tem acompanhado toda a história da humanidade (Fernandez, 2000). A continua degradação da biosfera é um fato incontestável, cuja maior ilustração é a recente recusa do governo dos Estados Unidos da América em assinar o Protocolo de Kyoto sobre as mudanças climáticas do Planeta. 2.2 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 2.2.1 História e conceitos Sob uma ótica universal, a União Internacional para a Conservação - UICN ou IUCN considera que as áreas protegidas são “áreas de terra ou de mar, especialmente dedicadas à proteção e manutenção da diversidade biológica e dos recursos naturais e culturais a elas associados, administrada através de mecanismos legais ou outras medidas que tornem possíveis alcançar tais objetivos” (IUCN, 1994). O recém criado Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC (BRASIL, 2000) conceitua as áreas protegidas, ou unidades de conservação, como sendo um “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituída pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, à qual se aplicam garantias adequadas de proteção”, uma visão muito mais apropriada, abrangente e particular ao Brasil. 15 De uma maneira geral, tendo em vista o ‘sistema mundial’, são superfícies terrestres ou aquáticas em desuso ou inadequados ao uso para fins urbanos, agropecuários ou industriais, podendo ser florestas, mangues, montanhas, campos, desertos, pântanos, etc. que rendem maiores benefícios ao homem se forem preservados em seu estado original. Ainda que existam outros meios para conservar a diversidade biológica (zoológicos, bancos de genes, arboretos, etc.) e outras riquezas abióticas, as áreas protegidas são, sem dúvida, os instrumentos estratégicos mais importantes para se alcançar tais objetivos, além de aportarem diversos benefícios à comunidade, região e país. São áreas que, por incluírem importantes recursos naturais ou culturais, por vezes de difícil quantificação econômica, devem ser mantidas na forma silvestre e adequadamente geridas. Por esta razão são meios essenciais para preservar a biodiversidade e, portanto, para se lograr asustentabilidade local e regional. Não há dúvidas quanto ao papel das áreas protegidas na conservação da biodiversidade, sejam os ecossistemas, as espécies, os genes ou a diversidade cultural humana; áreas onde se pretende isentar ou diminuir as perturbações humanas incidentes sobre os processos evolutivos dos ecossistemas, com suas belezas cênicas que inspiram e reciclam o espírito humano e, sob uma ótica mais utilitarista, a principal herança de capital natural para as presentes e futuras gerações, entendendo que os juros a colher estão relacionados a uma digna qualidade de vida em razão dos diversos benefícios tangíveis e intangíveis delas oriundos. Os benefícios aportados por uma ou mais unidades de conservação podem ser muitos, mas eles somente são percebidos se elas forem geridas com padrões de excelência e os usos a que estão submetidas forem compatíveis com a categoria de manejo e objetivos de conservação. Moore e Ormazabal (1988) indicam que entre os principais benefícios estão os de caráter biológico, econômicos e os sócio-culturais adquiridos ao se proteger os valores mais relevantes da natureza, história e cultura de uma nação. Quando são mantidas em seu estado natural, as áreas silvestres contribuem para o desenvolvimento econômico de duas formas: conservando a diversidade biológica e mantendo os processos evolutivos, ecológicos e provimento 16 de serviços ambientais. Os serviços aqui sugeridos referem-se à capacidade da área protegida gerar recursos imediatamente aproveitáveis pela comunidade, como água, recursos faunísticos, energia e comércio em razão de ecoturismo. Alguns exemplos de benefícios são citados e analisados por diversos autores e instituições, como Davidson (1985), Boo (1990), Dixon e Sherman (1990), Ledec e Goodland (1990). Segundo UICN/PNUMA/WWF (1991), estes benefícios podem ser classificados em biológicos, ambientais, econômicos e culturais (Quadro 01). Quadro 01. Alguns benefícios aportados pelas unidades de conservação. Benefícios biológicos e ambientais • Guardar ecossistemas naturais e modificados que são essenciais na manutenção dos sistemas sustentadores de vida; • Conservar espécies da flora e fauna silvestres representativos de um ou mais ecossistemas, mantendo a diversidade genética das espécies presentes na área; • Conservação das características biofísicas importantes para a regulação dos ciclos hidrológicos e climáticos local e/ou regional. Beneficios econômicos • Proteção de solos em zonas sujeitas à erosão; • Regulação e purificação do caldal de água e controle da sedimentação das barragens hidroelétricas; • Oferta de empregos diretos e indiretos às comunidades do entorno e elevação dos ingressos em razão de ecoturismo nas áreas silvestres; • Possibilidade de haver aproveitamento direto sustentável dos recursos naturais por meio da coleta de produtos alternativos da floresta; • Provimento de barreiras naturais contra enfermidades em cultivos agrícolas e animais de criação. Beneficios culturais • Oportunidades para a educação e pesquisa científica; • Manutenção de sítios relevantes à inspiração espiritual, o entretenimento e a recreação; • Proteção e conservação de locais de importância cultural, lugares históricos, monumentos antropológicos, e sítios onde há uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza. Fonte: UICN/PNUMA/WWF (1991) Bernardes (1997) atribui alguns valores às unidades de conservação que podem ser mensuráveis ou não. A autora ressalta que tais valores dificilmente são percebidos pela grande maioria da população bem como pela quase totalidade dos que tomam decisões nos processos de desenvolvimento. São eles: suporte a vida; valores econômicos; valores recreativos; valores científicos; valores estéticos; valores de biodiversidade; valores históricos; simbolismo cultural; formação de caráter; diversidade/unidades; estabilidade e espontaneidade; valores dialéticos; vida; valores religiosos e filosóficos. É necessário entender que os benefícios 17 auferidos pelo homem, provenientes destes recursos, difere daqueles ligados ao processo de produção, pelo fato de se utilizar capital natural de difícil quantificação e que muitas vezes são utilizados de maneira indireta (Milano et al, 1993). Não se sabe ao certo quando a civilização humana começou a se preocupar em preservar áreas naturais para seu usofruto, porém o registro documentado mais antigo data de 252 A.C., quando o Imperador Asoka, da Índia, emitiu um diploma para a proteção de animais, peixes e florestas de seu reino (MacKinnon et al.., 1990). Apesar de não relatar o suporte de suas afirmações, Runte (1979) apud Dixon e Sherman (1990) informa que isto pode ter ocorrido bem antes, por volta dos anos 700 A.C. quando nobres Assírios reservavam grandes áreas para a caça. Informam ainda que no ano de 1084 D.C., o rei Guilherme I da Inglaterra ordenou um inventário de todas as terras, florestas, áreas de pesca e caça, áreas agrícolas e recursos produtivos do reino para realizar planos racionais de administração e desenvolvimento do país. Na Lituânia, no ano de 1541, estabeleceu-se uma Reserva para o Bisonte Europeu; na Suiça, em 1569, foram estabelecidas Reservas para proteção de "camurças"; nos séculos XVI e XVII foram estabelecidas grandes reservas de caça na Inglaterra. Estes relatos fazem parte das páginas da história da conservação mundial, sem no entanto constarem estratégias sólidas para o estabelecimento de um sistema mundial de áreas protegidas. Com certeza atitudes mais amplas para a proteção de áreas naturais só vieram a ser concebidas na medida que a sociedade moderna ingressou na era industrial, quando então as pessoas passavam a maior parte do tempo de suas vidas trabalhando em ambientes pouco salubres e, por conseguinte, demandavam espaços naturais para a recreação ao ar livre (Milano, 2000). Dentro do conceito moderno de áreas protegidas, ou unidades de conservação, coube aos Estados Unidos da América criar o 1º Parque Nacional do mundo; o Parque Nacional de Yellowstone, em 1872. Seu exemplo foi seguido por outros países como Canadá, Nova Zelândia e Austrália, quando então os motivos para a criação destas áreas restringiam-se ao objetivo de conservar recursos para o uso público visando a recreação e lazer. O primeiro passo voltado à preservação dos recursos naturais só surgiria em 1898, com a criação do Krugel National Park, na África do Sul, no qual os objetivos explícitos implicavam na adoção de técnicas de 18 manejo voltadas à recuperação de populações de animais que vinham sendo indiscriminadamente dizimadas pela caça esportiva e predatória (Milano, 2000; Silva, 1999). Este último autor elaborou uma tese de mestrado na qual explana com muita propriedade a evolução histórica do conceito de áreas protegidas no Brasil e no mundo. Em decorrência do avanço da degradação dos recursos naturais do planeta, o movimento conservacionista ganhou força e organizou-se para fazer frente aos desafios crescentes, seja em decorrência da extinção massiva das espécies, degradação e eliminação de hábitats, as enormes taxas de crescimento populacional e o crescimento da miséria humana que ocasiona uma constante pressão sobre as bases de sustentação da vida. Assim, em 1948 criou-se na França a União Internacional para a Proteção da Natureza, atual União Mundial para a Conservação, mundialmente conhecida por sua sigla histórica IUCN, ou UICN para os idiomas latinos. Esta organização conta com cerca de 800 agencias governamentais e não governamentais associadas em 125 países, cujos objetivos maiores são influenciar, encorajar e assistir a sociedade humana a conservar a integridade e a diversidade da natureza, assegurando que o uso dos recursos naturais seja equilibrado e ecologicamente sustentável (IUCN, sd). Em 1962 em Seatle, Estados Unidos, a UICN organizou a 1a Conferencia Mundial de Parques Nacionais, quando então discutiu-se em profundidade a conceituação das áreas protegidas,
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