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SISTEMA DE ENSINO
LITERATURA
Análise de Textos Literários
Livro Eletrônico
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
Sumário
1. Realismo no Brasil ...................................................................................................................... 3
1.1. Machado de Assis (1839-1908) .............................................................................................. 3
1.2. Contexto Histórico do Realismo ........................................................................................... 6
1.3. Características do Realismo no Brasil ................................................................................. 6
1.4. Obras .......................................................................................................................................... 7
2. Naturalismo no Brasil .............................................................................................................. 30
2.1. Características do Naturalismo no Brasil ......................................................................... 30
2.2. Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo (1857-1913) ........................................... 30
3. Parnasianismo no Brasil ......................................................................................................... 36
4. Simbolismo no Brasil ............................................................................................................... 36
4.1. Autores Brasileiros Simbolistas ......................................................................................... 37
Questões de Concurso .................................................................................................................38
Gabarito ........................................................................................................................................... 57
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
1. Realismo no BRasil
Marcado pelo objetivismo, pela veracidade e pela denúncia social, o Realismo brasileiro 
tem início com a obra de Machado de Assis “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, publica-
da em 1881.
O Realismo é uma escola literária de suma importância para a Literatura Brasileira, visto 
que apresenta uma nova visão de mundo, baseada na criticidade e na realidade da socieda-
de da época. Na prática, ele vem depois do Romantismo e antes do Simbolismo. Além disso, 
compreende os anos 1881 a 1893 – o mesmo período em que o Naturalismo e o Parnasianis-
mo também ocorreram.
 Clássico da literatura brasileira, Memórias Póstumas 
é a obra de maior destaque de Machado de Assis, e aquela 
que inaugura o Realismo no Brasil. Dividida em 160 capítu-
los, começa com o relato da morte do seu narrador, Brás 
Cubas, o “defunto autor”.
 Resumo da obra: A infância de Brás Cubas, como a 
de todo membro da sociedade patriarcal brasileira da épo-
ca, é marcada por privilégios e caprichos patrocinados pelos 
pais. O garoto tinha como “brinquedo” de estimação... Apai-
xonado por Marcela, Brás Cubas gasta enormes recursos da 
família com festas, presentes e toda sorte de frivolidades. 
Seu pai, para dar um basta à situação, toma a resolução 
mais comum para as classes ricas da época: manda o filho 
para a Europa estudar leis e garantir o título de bacharel em 
Coimbra. A família dos Cubas, apesar de rica, não tinha tradição, pois construíra a fortuna 
com a fabricação de cubas, tachos, à maneira burguesa. Isso não era louvável no mundo das 
aparências sociais.
Leia mais em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/memorias-postumas-de-bras-cubas-resumo-da-o-
bra-de-machado-de-assis/
1.1. machado de assis (1839-1908)
Considerado um dos maiores escritores da Literatura Brasileira, Machado de Assis foi 
também jornalista e crítico literário. Figura singular, um dos fundadores e diretor da Academia 
Brasileira de Letras, escreveu poesia, contos, crônicas, romances e teatro. Marcada por temas 
sociais, críticas à burguesia e profunda análise psicológica dos personagens, sua prosa é 
dividida em dois momentos: uma fase com a presença de características românticas, e outra 
marcadamente realista.
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
1839 – Em 21 de junho, no Rio de Janeiro, nasce Joaquim Maria Machado de Assis, filho 
do brasileiro Francisco José de Assis e da açoriana Maria Leopoldina Machado de Assis, mo-
radores do morro do Livramento.
1849 – Machado é amparado por sua madrinha, após o falecimento de sua mãe e de sua 
única irmã,
1854 – Seu pai casa-se com outra mulher.
1855 – Ano importante para o autor, pois ele publica seu primeiro poema, “Ela”, após tor-
nar-se colaborador do jornal Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito.
1856 – Entra para a Tipografia Nacional, como aprendiz de tipógrafo,
1858 – Torna-se o revisor de provas de tipografia e da livraria do jornalista Paula Brito, 
onde conhece membros da Sociedade Petalógica, como Manuel Antônio de Almeida, Joaquim 
Manoel de Macedo. Colabora no jornal O Paraíba, e no Correio Mercantil.
1859 – Contribui para a revista O Espelho.
1860 – É redator do Diário do Rio de Janeiro.
1861 – Desencantos (comédia) e Queda que as mulheres têm para os tolos (sátira em 
prosa) são publicados.
1862 – Como sócio do Conservatório Dramático Brasileiro, exerce função não remunerada 
de auxiliar da censura. É bibliotecário da Sociedade Arcádia Brasileira. Colabora em O Futuro, 
periódico quinzenal sob a direção de Faustino Xavier de Novais.
1863 – É publicado o Teatro de Machado de Assis, composto por duas comédias, “O pro-
tocolo” e “O caminho da porta”. Passa a publicar vários contos no Jornal das Famílias.
1864 – Publicado seu primeiro livro de versos, Crisálidas. Em julho firma contrato com B. 
L. Garnier para a venda definitiva dos direitos autorais de Crisálidas.
1865 – É fundada a Arcádia Fluminense, da qual Machado de Assis é um dos sócios 
fundadores.
1866 – São publicadas a comédia Os deuses de casaca e sua tradução do romance Os 
trabalhadores do mar, de Victor Hugo. No fim deste ano, chega ao Rio de Janeiro Carolina Au-
gusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais e futura esposa de Machado.
1867 – É agraciado com a Ordem da Rosa, no grau de cavaleiro, e é nomeado ajudante do 
diretor do Diário Oficial.
1868 – Como crítico consagrado, guia o jovem poeta Castro Alves no mundo das letras, a 
pedido de José de Alencar.
1869 – Casa-se com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais.
1870 – São publicadas as obras Falenas e Contos fluminenses.
1872 – Ressurreição, seu primeiro romance, é publicado.
1873 – Publica Histórias da meia-noite (contos) e “Notícia da atual literatura brasileira: 
instinto de nacionalidade” (ensaio crítico). É nomeado primeiro-oficial da Secretaria de Esta-
do do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
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5 de 58www.grancursosonline.com.brAnálise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
1874 – A mão e a luva é seu segundo romance editado e publicado em livro.
1875 – Publica Americanas, seu terceiro livro de poesias.
1876 – Publica, entre agosto e setembro, o romance Helena no jornal O Globo. Colabora 
na revista Ilustração Brasileira e é promovido a chefe de seção da Secretaria de Agricultura.
1878 – O romance Iaiá Garcia é publicado em O Cruzeiro e editado em livro. No mesmo 
jornal, publica o primeiro artigo em que faz críticas ao romance O Primo Basílio, de Eça de 
Queirós. Por conta das edições clandestinas da obra no Brasil, o próprio Eça de Queirós no-
meia Machado como seu defensor em relação aos direitos autorais do Primo Basílio. Segue, 
em licença por motivo de doença.
1879 – Publica na Revista Brasileira, o romance Memórias póstumas de Brás Cubas e na 
revista A Estação, o romance Quincas Borba. Nesta também é publicado o seu estudo intitu-
lado “A nova geração”.
1880 – É designado Oficial de Gabinete do Ministério da Agricultura. Sua comédia Tu, só 
tu, puro amor... é representada no teatro Dom Pedro II, em razão das festas organizadas pelo 
Real Gabinete Português de Leitura em comemoração ao tricentenário do poeta português 
Luís de Camões. Foi publicada, em volume, no ano seguinte.
1881 – Memórias póstumas de Brás Cubas é publicado em livro. Escreve crônicas no jor-
nal Gazeta de Notícias e passa a ter a função de oficial de gabinete do ministro da Agricultura.
1882 – Publica seu terceiro livro de contos, Papéis avulsos, no qual se encontra o conto “O 
alienista”. Entra em licença de três meses para tratar-se fora do Rio de Janeiro.
1884 – Publica em livro os contos de Histórias sem data e passa a morar na Rua Cosme 
Velho, onde residirá até a sua morte.
1886 – É publicado o volume Terras, compilação para estudo da Secretaria da Agricultura, 
resultado do trabalho de oito anos na Comissão de Reforma da Legislação das Terras.
1888 – É nomeado oficial da Ordem da Rosa, por Decreto Imperial.
1889 – É promovido a diretor da Diretoria do Comércio, na Secretaria de Estado da Agri-
cultura, Comércio e Obras Públicas em 30 de março.
1891 – Publica em livro o romance Quincas Borba.
1892 – É promovido a Diretor-Geral da Viação da Secretaria da Indústria, Viação e 
Obras Públicas.
1895 – Araripe Júnior publica um perfil de Machado de Assis na Revista Brasileira, de José 
Veríssimo, revista da qual Machado passa a ser colaborador em dezembro do mesmo ano.
1896 – Publica seu quinto livro de contos, intitulado Várias Histórias. Dirige a primeira 
sessão preparatória da fundação da Academia Brasileira de Letras – ABL.
1897 – Participa da inauguração e é eleito o primeiro presidente da recém-fundada Aca-
demia Brasileira de Letras – ABL. Sua presidência na Academia dura mais de 10 anos.
1899 – É publicado o romance Dom Casmurro e o livro de contos, ensaios e teatro Páginas 
Recolhidas. É firmada escritura de venda da propriedade inteira da obra de Machado de Assis 
a François Hippolyte Garnier.
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
1901 – Publica Poesias Completas, que inclui três livros de versos anteriores, Crisálidas, 
Falenas e Americanas, mais a coletânea Ocidentais.
1904 – Publica seu penúltimo romance, Esaú e Jacó. Segue em janeiro para Friburgo, com 
a esposa enferma. Morre Carolina Augusta Xavier de Novais, dias antes de completarem 35 
anos de casamento. Não tiveram filhos.
1906 – Dedica à mulher já falecida seu mais famoso soneto, “A Carolina”
1908 – Seu nono e último romance, Memorial de Aires, é publicado. Entra, em 1 de junho, 
em licença para tratamento de saúde. Falece no dia 29 de setembro, aos 69 anos de idade, no 
Rio de Janeiro. É enterrado, conforme sua determinação, na sepultura da esposa no Cemitério 
de São João Batista.
1.2. contexto históRico do Realismo
1.3. caRacteRísticas do Realismo no BRasil
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
1.4. oBRas
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1881)
Capítulo Primeiro / Óbito do Autor
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se 
poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja co-
meçar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a pri-
meira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem 
a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. 
Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical 
entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, 
na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era 
solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. 
Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava 
uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis 
da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha 
cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza pa-
rece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a 
humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul 
como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas 
entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.”
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim 
que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered 
country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego 
como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viramme ir umas nove ou dez 
pessoas, entre elas três senhoras, minha irmã Sabina, casada com o Cotrim, a filha, — um 
lírio do vale, — e... Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira senhora. 
Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu mais do que as 
parentas. É verdade, padeceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse ro-
lar pelo chão, convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um solteirão que 
expira aos sessenta e quatro anos, não parece que reúna em si todos os elementos de uma 
tragédia. E dado que sim, o que menos convinha a essa anônima era aparentá-lo. De pé, à 
cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, a boca entreaberta, a triste senhora mal podia 
crer na minha extinção.
— “Morto! morto!”
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
dizia consigo. E a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu des-
ferirem o vôo desde o Ilisso às ribasafricanas, sem embargo das ruínas e dos tempos, — a 
imaginação dessa senhora também voou por sobre os destroços presentes até às ribas de 
uma África juvenil... Deixá-la ir; lá iremos mais tarde; lá iremos quando eu me restituir aos 
primeiros anos. Agora, quero morrer tranqüilamente, metodicamente, ouvindo os soluços das 
damas, as falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão da chá-
cara, e o som estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um 
correeiro. Juro-lhes que essa orquestra da morte foi muito menos triste do que podia parecer. 
De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. A vida estrebuchava-me no peito, com uns 
ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, 
e o corpo fazia-se-me planta, e pedra e lodo, e coisa nenhuma.
Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma ideia 
grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é ver-
dade. Vou expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.
Capítulo II / O Emplasto
Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia 
no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer 
as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-
-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: 
decifra-me ou devoro-te.
Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplastro 
anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de pri-
vilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente 
cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da 
distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá 
do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de 
ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do remédio, 
estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do 
cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me argúam esse defeito; fio, porém, que 
esse talento me hão de reconhecer os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as 
medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro 
lado, sede de nomeada. Digamos: — amor da glória.
Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal 
era a perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, 
oficial de um dos antigos terços de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadei-
ramente humana que há no homem, e, conseguintemente, a sua mais genuína feição.
Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao emplasto.
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LITERATURA
Gustavo Silva
Capítulo III / Genealogia
Mas, já que falei nos meus dois tios, deixem-me fazer aqui um curto esboço genealógico.
O fundador da minha família foi um certo Damião Cubas, que floresceu na primeira me-
tade do século XVIII. Era tanoeiro de ofício, natural do Rio de Janeiro, onde teria morrido 
na penúria e na obscuridade, se somente exercesse a tanoaria. Mas não; fez-se lavrador, 
plantou, colheu, permutou o seu produto por boas e honradas patacas, até que morreu, dei-
xando grosso cabedal a um filho, licenciado Luís Cubas. Neste rapaz é que verdadeiramente 
começa a série de meus avós — dos avós que a minha família sempre confessou, — porque 
o Damião Cubas era afinal de contas um tanoeiro, e talvez mau tanoeiro, ao passo que o Luís 
Cubas estudou em Coimbra, primou no Estado, e foi um dos amigos particulares do vice-rei 
Conde da Cunha.
Como este apelido de Cubas lhe cheirasse excessivamente a tanoaria, alegava meu pai, 
bisneto de Damião, que o dito apelido fora dado a um cavaleiro, herói nas jornadas da África, 
em prêmio da façanha que praticou, arrebatando trezentas cubas aos mouros. Meu pai era 
homem de imaginação; escapou à tanoaria nas asas de um calembour. Era um bom caráter, 
meu pai, varão digno e leal como poucos. Tinha, é verdade, uns fumos de pacholice; mas 
quem não é um pouco pachola nesse mundo? Releva notar que ele não recorreu à inventiva 
senão depois de experimentar a falsificação; primeiramente, entroncou-se na família daquele 
meu famoso homônimo, o capitão-mor, Brás Cubas, que fundou a vila de São Vicente, onde 
morreu em 1592, e por esse motivo é que me deu o nome de Brás. Opôs-se-lhe, porém, a fa-
mília do capitão-mor, e foi então que ele imaginou as trezentas cubas mouriscas.
Vivem ainda alguns membros de minha família, minha sobrinha Venância, por exemplo, o 
lírio do vale, que é a flor das damas do seu tempo; vive o pai, o Cotrim, um sujeito que... Mas 
não antecipemos os sucessos; acabemos de uma vez com o nosso emplasto.
Capítulo IV / A Ideia Fixa
A minha ideia, depois de tantas cabriolas, constituíra-se ideia fixa. Deus te livre, leitor, de 
uma ideia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho. Vê o Cavour; foi a ideia fixa da 
unidade italiana que o matou. Verdade é que Bismarck não morreu; mas cumpre advertir que 
a natureza é uma grande caprichosa e a história uma eterna loureira. Por exemplo, Suetônio 
deu-nos um Cláudio, que era um simplório, — ou “uma abóbora” como lhe chamou Sêneca, 
e um Tito, que mereceu ser as delícias de Roma. Veio modernamente um professor e achou 
meio de demonstrar que dos dois césares, o delicioso, o verdadeiro delicioso, foi o “abóbora” 
de Sêneca. E tu, madama Lucrécia, flor dos Bórgias, se um poeta te pintou como a Messalina 
católica, apareceu um Gregorovius incrédulo que te apagou muito essa qualidade, e, se não 
vieste a lírio, também não ficaste pântano. Eu deixo-me estar entre o poeta e o sábio.
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
Viva pois a história, a volúvel história que dá para tudo; e, tornando à ideia fixa, direi que 
é ela a que faz os varões fortes e os doidos; a ideia móbil, vaga ou furta-cor é a que faz os 
Cláudios, — fórmula Suetônio.
Era fixa a minha ideia, fixa como... Não me ocorre nada que seja assaz fixo nesse mundo: 
talvez a lua, talvez as pirâmides do Egito, talvez a finada dieta germânica. Veja o leitor a com-
paração que melhor lhe quadrar, veja-a e não esteja daí a torcer-me o nariz, só porque ainda 
não chegamos à parte narrativa destas memórias. Lá iremos. Creio que prefere a anedota à 
reflexão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que faz muito bem. Pois lá iremos. 
Todavia, importa dizer que este livro é escrito com pachorra, com a pachorra de um homem já 
desafrontado da brevidade do século, obra supinamente filosófica, de uma filosofia desigual, 
agora austera, logo brincalhona, coisa que não edifica nem destrói, não inflama nem regala, e 
é todavia mais do que passatempo e menos do que apostolado.
Vamos lá; retifique o seu nariz, e tornemos ao emplasto. Deixemos a história com os seus 
caprichos de dama elegante. Nenhum de nós pelejou a batalha de Salamina, nenhum escre-
veu a confissão de Augsburgo; pela minha parte,se alguma vez me lembro de Cromwell, é só 
pela ideia de que Sua Alteza, com a mesma mão que trancara o parlamento, teria imposto aos 
ingleses o emplasto Brás Cubas. Não se riam dessa vitória comum da farmácia e do purita-
nismo. Quem não sabe que ao pé de cada bandeira grande, pública, ostensiva, há muitas ve-
zes várias outras bandeiras modestamente particulares, que se hasteiam e flutuam à sombra 
daquela, e não poucas vezes lhe sobrevivem? Mal comparando, é como a arraia-miúda, que 
se acolhia à sombra do castelo feudal; caiu este e a arraia ficou. Verdade é que se fez graúda 
e castelã... Não, a comparação não presta.
Capítulo V / Em que aparece a orelha de uma senhora
Senão quando, estando eu ocupado em preparar e apurar a minha invenção, recebi em 
cheio um golpe de ar; adoeci logo, e não me tratei. Tinha o emplasto no cérebro; trazia comigo 
a ideia fixa dos doidos e dos fortes. Via-me, ao longe, ascender do chão das turbas, e remon-
tar ao Céu, como uma águia imortal, e não é diante de tão excelso espetáculo que um homem 
pode sentir a dor que o punge. No outro dia estava pior; tratei-me enfim, mas incompleta-
mente, sem método, nem cuidado, nem persistência; tal foi a origem do mal que me trouxe à 
eternidade. Sabem já que morri numa sexta-feira, dia aziago, e creio haver provado que foi a 
minha invenção que me matou. Há demonstrações menos lúcidas e não menos triunfantes.
Não era impossível, entretanto, que eu chegasse a galgar o cimo de um século, e a figurar 
nas folhas públicas, entre macróbios. Tinha saúde e robustez. Suponha-se que, em vez de 
estar lançando os alicerces de uma invenção farmacêutica, tratava de coligir os elementos 
de uma instituição política, ou de uma reforma religiosa. Vinha a corrente de ar, que vence em 
eficácia o cálculo humano, e lá se ia tudo. Assim corre a sorte dos homens.
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
Com esta reflexão me despedi eu da mulher, não direi mais discreta, mas com certeza 
mais formosa entre as contemporâneas suas, a anônima do primeiro capítulo, a tal, cuja ima-
ginação à semelhança das cegonhas do Ilisso... Tinha então 54 anos, era uma ruína, uma 
imponente ruína. Imagine o leitor que nos amamos, ela e eu, muitos anos antes, e que um dia, 
já enfermo, vejo-a assomar à porta da alcova...
Ao todo, são 160 capítulos de obra. Todavia, os cinco primeiros sempre caem em provas. 
Assim, a leitura é obrigatória.
Dom Casmurro, de Machado de Assis (1899)
Capítulo Primeiro do Título
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um 
rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao 
pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e 
os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava 
cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a lei-
tura e metesse os versos no bolso.
— Continue, disse eu acordando.
— Já acabei, murmurou ele.
— São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava 
amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom 
Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à 
alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, 
e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jan-
tar com você”.— “Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se 
deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo”.— “Meu caro 
Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; 
dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça”.
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no 
que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-
-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a 
minha narração; se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do 
trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, 
poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns 
nem tanto.
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
Capítulo II do Livro
Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os mo-
tivos que me põem a pena na mão.
Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado 
de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, 
lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Mata-ca-
valos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor 
e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três 
janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintu-
ra do teto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes 
pássaros que as tomam nos bicos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do teto as figuras 
das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, 
com os nomes por baixo... Não alcanço a razão de tais personagens. Quando fomos para a 
casa de Mata-cavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente 
era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais 
é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e 
lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo con-
traste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa.
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescên-
cia. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, 
a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou 
menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está 
é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas 
conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma 
certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os 
documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos 
os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam 
de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariam 
crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e 
tal frequência é cansativa.
Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa. A certos respeitos, aquela 
vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que 
perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce 
e feiticeira. Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distraçõesraras. O mais do tempo é 
gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal.
Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e 
lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me 
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LITERATURA
Gustavo Silva
acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma História dos Subúrbios, menos 
seca que as memórias do padre Luís Gonçalves dos Santos, relativas à cidade; era obra mo-
desta, mas exigia documentos e datas, como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que 
os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não 
alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a 
narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o 
do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras?...
Fiquei tão alegre com esta ideia, que ainda agora me treme a pena na mão. Sim, Nero, 
Augusto, Massinissa, e tu, grande César, que me incitas a fazer os meus comentários, agra-
deço-vos o conselho, e vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo. Deste 
modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo. Eia, comecemos 
a evocação por uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, 
melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo.
Capítulo III / A Denúncia
Ia a entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e escondi-me atrás da 
porta. A casa era a da rua de Mata-cavalos, o mês novembro, o ano é que é um tanto remoto, 
mas eu não hei de trocar as datas à minha vida só para agradar às pessoas que não amam 
histórias velhas; o ano era de 1857.
— D. Glória, a senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no seminário? É mais 
que tempo, e já agora pode haver uma dificuldade.
— Que dificuldade?
— Uma grande dificuldade. Minha mãe quis saber o que era. José Dias, depois de alguns 
instantes de concentração, veio ver se havia alguém no corredor; não deu por mim, voltou e, 
abafando a voz, disse que a dificuldade estava na casa ao pé, a gente do Pádua.
— A gente do Pádua?
— Há algum tempo estou para lhe dizer isto, mas não me atrevia. Não me parece bonito 
que o nosso Bentinho ande metido nos cantos com a filha do Tartaruga, e esta é a dificuldade, 
porque se eles pegam de namoro, a senhora terá muito que lutar para separá-los.
— Não acho. Metidos nos cantos?
— É um modo de falar. Em segredinhos, sempre juntos. Bentinho quase não sai de lá. A 
pequena é uma desmiolada; o pai faz que não vê; tomara ele que as coisas corressem de 
maneira que... Compreendo o seu gesto; a senhora não crê em tais cálculos, parece-lhe que 
todos têm a alma cândida...
— Mas, Sr. José Dias, tenho visto os pequenos brincando, e nunca vi nada que faça des-
confiar. Basta a idade; Bentinho mal tem quinze anos. Capitu fez quatorze à semana passada; 
são dois criançolas. Não se esqueça que foram criados juntos, desde aquela grande enchen-
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te, há dez anos, em que a família Pádua perdeu tanta coisa; daí vieram as nossas relações. 
Pois eu hei de crer?... Mano Cosme, você que acha?
Tio Cosme respondeu com um “Ora!” que, traduzido em vulgar, queria dizer: “São imagina-
ções do José Dias; os pequenos divertem-se, eu divirto-me; onde está o gamão?”
— Sim, creio que o senhor está enganado.
— Pode ser, minha senhora. Oxalá tenham razão; mas creia que não falei senão depois de 
muito examinar...
— Em todo caso, vai sendo tempo, interrompeu minha mãe; vou tratar de metê-lo no se-
minário quanto antes.
— Bem, uma vez que não perdeu a ideia de o fazer padre, tem-se ganho o principal. Ben-
tinho há de satisfazer os desejos de sua mãe. E depois a igreja brasileira tem altos desti-
nos. Não esqueçamos que um bispo presidiu a Constituinte, e que o padre Feijó governou o 
Império...
— Governo como a cara dele! atalhou tio Cosme, cedendo a antigos rancores políticos.
— Perdão, doutor, não estou defendendo ninguém, estou citando. O que eu quero é dizer 
que o clero ainda tem grande papel no Brasil.
— Você o que quer é um capote; ande, vá buscar o gamão. Quanto ao pequeno, se tem de 
ser padre, realmente é melhor que não comece a dizer missa atrás das portas. Mas, olhe cá, 
mana Glória, há mesmo necessidade de fazê-lo padre?
— É promessa, há de cumprir-se.
— Sei que você fez promessa... mas uma promessa assim... não sei... Creio que, bem pen-
sado... Você que acha, prima Justina?
— Eu?
— Verdade é que cada um sabe melhor de si, continuou tio Cosme; Deus é que sabe de to-
dos. Contudo, uma promessa de tantos anos... Mas, que é isso, mana Glória? Está chorando? 
Ora esta! Pois isto é coisa de lágrimas?
Minha mãe assoou-se sem responder. Prima Justina creio que se levantou e foi ter com 
ela. Seguiu-se um alto silêncio, durante o qual estive a pique de entrar na sala, mas outra 
força maior, outra emoção... Não pude ouvir as palavras que tio Cosme entrou a dizer. Prima 
Justina exortava: “Prima Glória! Prima Glória!” José Dias desculpava-se: “Se soubesse, não 
teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, 
um dever amaríssimo...”
Capítulo IV / Um Dever Amaríssimo!
José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não 
as havendo, servia a prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no 
interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças brancas engo-
madas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de 
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Janeiro, e talvez neste mundo. Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. 
A gravata de cetim preto, com um arco de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era en-
tão moda. O rodaque de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. 
Era magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinquenta e cinco anos. Levan-
tou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagar arrastado dos preguiçosos, mas 
um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da consequência, a 
consequência antes da conclusão. Um dever amaríssimo!
Capítulo V / O Agregado
Nem sempre ia naquele passo vagaroso e rígido. Também se descompunha em aciona-
dos, era muita vez rápido e lépido nos movimentos, tão natural nesta como naquela maneira. 
Outrossim, ria largo, se era preciso, de um grande riso sem vontade, mas comunicativo, a tal 
ponto as bochechas, os dentes, os olhos, toda a cara, toda a pessoa, todo o mundo pareciam 
rir nele. Nos lances graves, gravíssimo.
Era nosso agregado desde muitos anos; meu pai ainda estava na antiga fazenda de Ita-
guaí, e eu acabava de nascer.Um dia apareceu ali vendendo-se por médico homeopata; le-
vava um Manual e uma botica. Havia então um andaço de febres; José Dias curou o feitor e 
uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar ali 
vivendo, com pequeno ordenado. José Dias recusou, dizendo que era justo levar a saúde à 
casa de sapé do pobre.
— Quem lhe impede que vá a outras partes? Vá aonde quiser, mas fique morando conosco.
— Voltarei daqui a três meses.
Voltou dali a duas semanas, aceitou casa e comida sem outro estipêndio, salvo o que qui-
sessem dar por festas. Quando meu pai foi eleito deputado e veio para o Rio de Janeiro com a 
família, ele veio também, e teve o seu quarto ao fundo da chácara. Um dia, reinando outra vez 
febres em Itaguaí, disse-lhe meu pai que fosse ver a nossa escravatura. José Dias deixou-se 
estar calado, suspirou e acabou confessando que não era médico. Tomara este título para 
ajudar a propaganda da nova escola, e não o fez sem estudar muito e muito; mas a consciên-
cia não lhe permitia aceitar mais doentes.
— Mas, você curou das outras vezes.
— Creio que sim; o mais acertado, porém, é dizer que foram os remédios indicados nos 
livros. Eles, sim; eles, abaixo de Deus. Eu era um charlatão... Não negue; os motivos do meu 
procedimento podiam ser e eram dignos; a homeopatia é a verdade, e, para servir à verdade, 
menti; mas é tempo de restabelecer tudo.
Não foi despedido, como pedia então; meu pai já não podia dispensá-lo. Tinha o dom de 
se fazer aceito e necessário; dava-se por falta dele, como de pessoa da família. Quando meu 
pai morreu, a dor que o pungiu foi enorme, disseram-me, não me lembra. Minha mãe ficou-lhe 
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muito grata, e não consentiu que ele deixasse o quarto da chácara; ao sétimo dia, depois da 
missa, ele foi despedir-se dela.
— Fique, José Dias.
— Obedeço, minha senhora.
Teve um pequeno legado no testamento, uma apólice e quatro palavras de louvor. Copiou 
as palavras, encaixilhou-as e pendurou-as no quarto, por cima da cama. “Esta é a melhor 
apólice”, dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa audiên-
cia, ao menos; não abusava, e sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, 
mas nem tudo é ótimo neste mundo. E não lhe suponhas alma subalterna; as cortesias que 
fizesse vinham antes do cálculo que da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das 
pessoas que enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e liso, cerzido, 
abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era lido, posto que de atropelo, o bastante para 
divertir ao serão e à sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor e do 
frio, dos pólos e de Robespierre. Contava muita vez uma viagem que fizera à Europa, e con-
fessava que a não sermos nós, já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa 
família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo.
— Abaixo ou acima? perguntou-lhe tio Cosme um dia.
— Abaixo, repetiu José Dias cheio de veneração.
E minha mãe, que era religiosa, gostou de ver que ele punha Deus no devido lugar, e sorriu 
aprovando. José Dias agradeceu de cabeça. Minha mãe dava-lhe de quando em quando al-
guns cobres. Tio Cosme, que era advogado, confiava-lhe a cópia de papéis de autos.
Ao todo, são 140 capítulos de obra. Contudo, os cinco primeiros sempre caem em provas. 
Desse modo, a leitura é obrigatória.
Quincas Borba, Machado de Assis (1891)
Capítulo Primeiro
Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares 
metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele ad-
mirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. 
Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. 
Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano 
Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde 
as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.
— Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem 
casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos 
morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...
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Capítulo II
Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado da-
quele pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o 
coração, porém, deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, 
que os olhos de Rubião acompanham, arregalados? Ele, coração, vai dizendo que, uma vez 
que a mana Piedade tinha de morrer, foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma fi-
lha... — Bonita canoa! — Antes assim! — Como obedece bem aos remos do homem! — O certo 
é que eles estão no Céu!
Capítulo III
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia dis-
farçadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que 
amava de coração; não gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de 
preço, e assim se explica este par de figuras que aqui está na sala, um Mefistófeles e um 
Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a bandeja, — primor de argentaria, execução 
fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era espanhol; e não foi sem resistência que 
Rubião o aceitou das mãos de Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava acostumado 
aos seus crioulos de Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o amigo Palha insis-
tiu, demonstrando-lhe a necessidade de ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O seu 
bom pajem, que ele queria pôr na sala, como um pedaço da província, nem o pôde deixar na 
cozinha, onde reinava um francês, Jean; foi degradado a outros serviços.
— Quincas Borba está muito impaciente? perguntou Rubião bebendo o último gole de café, 
e lançando um último olhar à bandeja.
— Me parece que sí.
— Lá vou soltá-lo.
Não foi; deixou-se ficar, algum tempo, a olhar para os móveis. Vendo as pequenas gra-
vuras inglesas, que pendiam da parede por cima dos dois bronzes, Rubião pensou na bela 
Sofia, mulher do Palha, deu alguns passos, e foi sentar-se no pouf, ao centro da sala, olhando 
para longe...
— Foi ela que me recomendou aqueles dois quadrinhos, quando andávamos, os três, a ver 
coisas para comprar. Estava tão bonita! Mas o que eu mais gosto dela são os ombros, que vi 
no baile do coronel. Que ombros! Parecem de cera; tão lisos, tão brancos!
Os braços também; oh! os braços! Que bem feitos! Rubião suspirou, cruzou as pernas, e 
bateu com as borlas do chambre sobre os joelhos. Sentia que não era inteiramente feliz; mas 
sentia também que não estava longe a felicidade completa. Recompunha de cabeça uns mo-
dos, uns olhos, uns requebros sem explicação, a não ser esta, que ela o amava, e que o amava 
muito. Não era velho; ia fazer quarenta e um anos; e, rigorosamente, parecia menos.
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Esta observação foi acompanhada de um gesto; passou a mão pelo queixo, barbeado 
todos os dias, coisa que não fazia dantes, por economia e desnecessidade. Um simples pro-
fessor! Usava suíças, (mais tarde deixou crescer a barba toda), — tão macias, que dava gosto 
passar os dedos por elas... E recordava assim o primeiro encontro, na estação de Vassouras, 
onde Sofia e o marido entraram no trem da estrada de ferro, no mesmo carro em que ele 
descia de Minas; foi ali que achou aquele par de olhos viçosos, que pareciam repetir a exor-
tação do profeta: Todos vós que tendes sede, vinde às águas. Não trazia ideias adequadas 
ao convite, é verdade; vinha com a herança na cabeça, o testamento, o inventário, coisas que 
é preciso explicar primeiro, a fim de entender o presente e o futuro. Deixemos Rubião na sala 
de Botafogo, batendo com as borlas do chambre nos joelhos, e cuidando na bela Sofia. Vem 
comigo, leitor; vamos vê-lo, meses antes, à cabeceira do Quincas Borba.
Capítulo IV
Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias Póstumas de Brás 
Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, 
e inventor de uma filosofia. Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se 
de uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida; mas, tão acanhada, que 
os suspiros no namorado ficavam sem eco. Chamava-se Maria da Piedade. Um irmão dela, 
que é o presente Rubião, fez todo o possível para casá-los. Piedade resistiu, um pleuris a le-
vou. Foi esse trechozinho de romance que ligou os dois homens. Saberia Rubião que o nosso 
Quincas Borba trazia aquele grãozinho de sandice, que um médico supôs achar-lhe? Segura-
mente, não; tinha-o por homem esquisito. É, todavia, certo que o grãozinho não se despegou 
do cérebro de Quincas Borba, — nem antes, nem depois da moléstia que lentamente o comeu. 
Quincas Borba tivera ali alguns parentes, mortos já agora em 1867; o último foi o tio que o dei-
xou por herdeiro de seus bens. Rubião ficou sendo o único amigo do filósofo. Regia então uma 
escola de meninos, que fechou para tratar do enfermo. Antes de professor, metera ombros a 
algumas empresas, que foram a pique.
Durou o cargo de enfermeiro mais de cinco meses, perto de seis. Era real o desvelo de Ru-
bião, paciente, risonho, múltiplo, ouvindo as ordens do médico, dando os remédios às horas 
marcadas, saindo a passeio com o doente, sem esquecer nada, nem o serviço da casa, nem a 
leitura dos jornais, logo que chegava a mala da Corte ou a de Ouro Preto.
— Tu és bom, Rubião, suspirava Quincas Borba. 
— Grande façanha! Como se você fosse mau!
A opinião ostensiva do médico era que a doença do Quincas Borba iria saindo devagar. 
Um dia, o nosso Rubião, acompanhando o médico até à porta da rua, perguntou-lhe qual era 
o verdadeiro estado do amigo. Ouviu que estava perdido, completamente perdido; mas, que o 
fosse animando. Para que tornar-lhe a morte mais aflitiva pela certeza?...
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— Lá isso, não, atalhou Rubião; para ele, morrer é negócio fácil. Nunca leu um livro que ele 
escreveu, há anos, não sei que negócio de filosofia...
— Não; mas filosofia é uma coisa, e morrer de verdade é outra; adeus.
Capítulo V
Rubião achou um rival no coração de Quincas Borba, — um cão, um bonito cão, meio ta-
manho, pelo cor de chumbo, malhado de preto. Quincas Borba levava-o para toda parte, dor-
miam no mesmo quarto. De manhã, era o cão que acordava o senhor, trepando ao leito, onde 
trocavam as primeiras saudações. Uma das extravagâncias do dono foi dar-lhe o seu próprio 
nome; mas, explicava-o por dois motivos, um doutrinário, outro particular.
— Desde que Humanitas, segundo a minha doutrina, é o princípio da vida e reside em toda 
a parte, existe também no cão, e este pode assim receber um nome de gente, seja cristão ou 
muçulmano...
— Bem, mas por que não lhe deu antes o nome de Bernardo? disse Rubião com o pensa-
mento em um rival político da localidade.
— Esse agora é o motivo particular. Se eu morrer antes, como presumo, sobreviverei no 
nome do meu bom cachorro. Ris-te, não? Rubião fez um gesto negativo.
— Pois devias rir, meu querido. Porque a imortalidade é o meu lote ou o meu dote, ou como 
melhor nome haja. Viverei perpetuamente no meu grande livro. Os que, porém, não souberem 
ler, chamarão Quincas Borba ao cachorro, e...
O cão, ouvindo o nome, correu à cama. Quincas Borba, comovido, olhou para Quincas Borba:
— Meu pobre amigo! meu bom amigo! meu único amigo!
— Único?
— Desculpa-me, tu também o és, bem sei, e agradeço-te muito; mas a um doente per-
doa-se tudo. Talvez esteja começando o meu delírio. Deixa ver o espelho. Rubião deu-lhe 
o espelho. O doente contemplou por alguns segundos a cara magra, o olhar febril, com que 
descobria os subúrbios da morte, para onde caminhava a passo lento, mas seguro. Depois, 
com um sorriso pálido e irônico:
— Tudo o que está cá fora corresponde ao que sinto cá dentro; vou morrer, meu caro Ru-
bião... Não gesticules, vou morrer. E que é morrer, para ficares assim espantado?
— Sei, sei que você tem umas filosofias... Mas falemos do jantar; que há de ser hoje? 
Quincas Borba sentou-se na cama, deixando pender as pernas, cuja extraordinária magreza 
se adivinhava por fora das calças.
— Que é? Que quer? acudiu Rubião.
— Nada, respondeu o enfermo sorrindo. Umas filosofias! Com que desdém me dizes isso! 
Repete, anda, quero ouvir outra vez. Umas filosofias!
— Mas não é por desdém... Pois eu tenho capacidade para desdenhar de filosofias? Digo 
só que você pode crer que a morte não vale nada, porque terá razões, princípios...
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
Quincas Borba procurou com os pés as chinelas; Rubião chegou-lhas; ele calçou– as e 
pôs-se a andar para esticar as pernas. Afagou o cão e acendeu um cigarro. Rubião quis que se 
agasalhasse, e trouxe-lhe um fraque, um colete, um chambre, um capote, à escolha. Quincas 
Borba recusou-os com um gesto. Tinha outro ar agora; os olhos metidos para dentro viam 
pensar o cérebro. Depois de muitos passos, parou, por alguns segundos, diante de Rubião.
Ao todo, são 201 capítulos de obra em que o narrador é onisciente e, por vezes, chega a se 
comunicar com o leitor.
O Ateneu, de Raul Pompeia (1888)
Importante obra do realismo, ao mostrar a realidade de um colégio interno através de des-
crições detalhadas, O Ateneu constitui uma crítica à sociedade.
O Ateneu
Raul Pompéia I
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.” 
Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões 
de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, 
diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos 
um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão 
rude do primeiro ensinamento, têmperabrusca da vitalidade na influência de um novo clima 
rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se 
a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não 
viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.
Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, 
a saudade dos dias que correram como melhores. Bem considerando, a atualidade é a mes-
ma em todas as datas. Feita a compensação dos desejos que variam, das aspirações que se 
transformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de 
esperanças, a atualidade é uma. Sob a coloração cambiante das horas, um pouco de ouro 
mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao crepúsculo — a paisagem é a mesma de cada 
lado beirando a estrada da vida.
Eu tinha onze anos.
Frequentara como externo, durante alguns meses, uma escola familiar do Caminho Novo, 
onde algumas senhoras inglesas, sob a direção do pai, distribuíam educação à infância como 
melhor lhes parecia. Entrava às nove horas, timidamente, ignorando as lições com a maior 
regularidade, e bocejava até às duas, torcendo-me de insipidez sobre os carcomidos bancos 
que o colégio comprara, de pinho e usados, lustrosos do contato da malandragem de não sei 
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
quantas gerações de pequenos. Ao meio-dia, davam-nos pão com manteiga. Esta recordação 
gulosa é o que mais pronunciadamente me ficou dos meses de externato; com a lembrança 
de alguns companheiros — um que gostava de fazer rir à aula, espécie interessante de mono 
louro, arrepiado, vivendo a morder, nas costas da mão esquerda, uma protuberância calosa 
que tinha; outro adamado, elegante, sempre retirado, que vinha à escola de branco, engomadi-
nho e radioso, fechada a blusa em diagonal do ombro à cinta por botões de madrepérola. Mais 
ainda: a primeira vez que ouvi certa injúria crespa, um palavrão cercado de terror no estabe-
lecimento, que os partistas denunciavam às mestras por duas iniciais como em monograma.
Lecionou-me depois um professor em domicílio.
Apesar deste ensaio da vida escolar a que me sujeitou a família, antes da verdadeira pro-
vação, eu estava perfeitamente virgem para as sensações novas da nova fase. O internato! 
Destacada do conchego placentário da dieta caseira, vinha próximo o momento de se definir 
a minha individualidade. Amarguei por antecipação o adeus às primeiras alegrias; olhei triste 
os meus brinquedos, antigos já! os meus queridos pelotões de chumbo! espécie de museu 
militar de todas as fardas, de todas as bandeiras, escolhida amostra da força dos estados, 
em proporções de microscópio, que eu fazia formar a combate como uma ameaça tenebrosa 
ao equilíbrio do mundo; que eu fazia guerrear em desordenado aperto, — massa tempestuosa 
das antipatias geográficas, encontro definitivo e ebulição dos seculares ódios de fronteira e 
de raça, que eu pacificava por fim, com uma facilidade de Providência Divina, intervindo sa-
biamente, resolvendo as pendências pela concórdia promíscua das caixas de pau. Força era 
deixar à ferrugem do abandono o elegante vapor da linha circular do lago, no jardim, onde 
talvez não mais tornasse a perturbar com a palpitação das rodas a sonolência morosa dos 
peixinhos rubros, dourados, argentados, pensativos à sombra dos tinhorões, na transparência 
adamantina da água...
Mas um movimento animou-me, primeiro estímulo sério da vaidade: distanciava-me da 
comunhão da família, como um homem! ia por minha conta empenhar a luta dos merecimen-
tos; e a confiança nas próprias forças sobrava. Quando me disseram que estava a escolha 
feita da casa de educação que me devia receber, a notícia veio achar-me em armas para a 
conquista audaciosa do desconhecido.
Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lá-
grimas os cabelos e eu parti.
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, man-
tido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosa-
mente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última 
remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar 
em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.
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Gustavo Silva
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, 
enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas pro-
víncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a 
imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com 
o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais 
caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte 
com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e 
sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. 
Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, 
espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do es-
pírito. E engordavam as letras, à força, daquele pão. Um benemérito. Não admira que em dias 
de gala, íntima ou nacional, festas do colégio ou recepção da coroa, o largo peito do grande 
educador desaparecesse sob constelações de pedraria, opulentando a nobreza de todos os 
honoríficos berloques.
Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar o pulso ao homem. Não só as conde-cora-
ções gritavam-lhe do peito como uma couraça de grilos: Ateneu! Ateneu! Aristarco, todo era 
um anúncio. Os gestos, calmos, soberanos, eram de um rei — o autocrata excelso dos sila-
bários; a pausa hierática do andar deixava sentir o esforço, a cada passo, que ele fazia para 
levar adiante, de empurrão, o progresso do ensino publico; o olhar fulgurante, sob a crispação 
áspera dos supercílios de monstro japonês, penetrando de luz as almas circunstantes — era 
a educação da inteligência; o queixo, severamente escanhoado, de orelha a orelha, lembrava 
a lisura das consciências limpas — era a educação moral. A própria estatura, na imobilidade 
do gesto, na mudez do vulto, a simples estatura dizia dele: aqui está um grande homem... não 
vêem os cavados de Golias?!... Retorça-se sobre tudo isto um par de bigodes, volutas ma-
ciças de fios alvos, torneadas a capricho, cobrindo os lábios fecho de prata sobre o silêncio 
de ouro, que tão belamente impunha como o retraimento fecundo do seu espírito, — teremos 
esboçado, moralmente, materialmente, o perfil do ilustre diretor. Em suma, um personagem 
que, ao primeiro exame, produzia-nos a impressão de um enfermo, desta enfermidade atroz 
e estranha: a obsessão da própria estátua. Como tardasse a estátua, Aristarco interinamente 
satisfazia-se com a afluência dos estudantes ricos para o seu instituto. De fato, os educan-
dos do Ateneu significavam a fina flor da mocidade brasileira.
A irradiação da réclame alongava de tal modo os tentáculos atravésdo país, que não havia 
família, de dinheiro, enriquecida pela setentrional borracha ou pela charqueada do sul, que 
não reputasse um compromisso de honra com a posteridade doméstica mandar dentre seus 
jovens, um, dois, três representantes abeberar-se à fonte espiritual do Ateneu.
Fiados nesta seleção apuradora, que é comum o erro sensato de julgar melhores famílias 
as mais ricas, sucedia que muitas, indiferentes mesmo e sorrindo do estardalhaço da fama, lá 
mandavam os filhos. Assim entrei eu.
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Gustavo Silva
A primeira vez que vi o estabelecimento, foi por uma festa de encerramento de trabalhos.
Transformara-se em anfiteatro uma das grandes salas da frente do edifício, exatamente a 
que servia de capela; paredes estucadas de suntuosos relevos, e o teto aprofundado em largo 
medalhão, de magistral pintura, onde uma aberta de céu azul despenhava aos cachos deli-
ciosos anjinhos, ostentando atrevimentos róseos de carne, agitando os minúsculos pés e as 
mãozinhas, desatando fitas de gaza no ar. Desarmado o oratório, construíram-se bancadas 
circulares, que encobriam o luxo das paredes. Os alunos ocupavam a arquibancada. Como a 
maior concorrência preferia sempre a exibição dos exercícios ginásticos, solenizada dias de-
pois do encerramento das aulas, a acomodação deixada aos circunstantes era pouco espa-
çosa; e o público, pais e correspondentes em geral, porém mais numeroso do que se esperava, 
tinha que transbordar da sala da festa para a imediata. Desta ante-sala, trepado a uma ca-
deira, eu espiava. Meu pai ministrava-me informações. Diante da arquibancada, ostentava-se 
uma mesa de grosso pano verde e borlas de ouro. Lá estava o diretor, o ministro do império, 
a comissão dos prêmios. Eu via e ouvia. Houve uma alocução comovente de Aristarco; houve 
discursos de alunos e mestres; houve cantos, poesias declamadas em diversas línguas. O 
espetáculo comunicava-me certo prazer repeitoso. O diretor, ao lado do ministro, de acanha-
do físico, fazia-o incivilmente desaparecer na brutalidade de um contraste escandaloso. Em 
grande tenue dos dias graves, sentava-se, elevado no seu orgulho como em um trono. A bela 
farda negra dos alunos, de botões dourados, infundia-me a consideração tímida de um mili-
tarismo brilhante, aparelhado para as campanhas da ciência e do bem. A letra dos cantos, em 
coro dos falsetes indisciplinados da puberdade; os discursos, visados pelo diretor, pançudos 
de sisudez, na boca irreverente da primeira idade, como um Cendrillon malfeito da burguesia 
conservadora, recitados em monotonia de realejo e gestos rodantes de manivela, ou exagera-
dos, de voz cava e caretas de tragédia fora de tempo, eu recebia tudo convictamente, como o 
texto da bíblia do dever; e as banalidades profundamente lançadas como as sábias máximas 
do ensino redentor. Parecia-me estar vendo a legião dos amigos do estudo, mestres à frente, 
na investida heróica do obscurantismo, agarrando pelos cabelos, derribando, calcando aos 
pés a Ignorância e o Vício, misérrimos trambolhos, consternados e esperneantes.
Um discurso principalmente impressionou-me. À direita da comissão dos prêmios, ficava 
a tribuna dos oradores. Galgou-a firme, tesinho, O Venâncio, professor do colégio, a quaren-
ta mil-réis por matéria, mas importante, sabendo falar grosso, o timbre de independência, 
mestiço de bronze, pequenino e tenaz, que havia de varar carreira mais tarde. O discurso foi o 
confronto chapa dos torneios medievais com o moderno certame das armas da inteligência; 
depois, uma preleção pedagógica, tacheada de flores de retórica a martelo; e a apologia da 
vida de colégio, seguindo-se a exaltação do Mestre em geral e a exaltação, em particular, de 
Aristarco e do Ateneu. “O mestre, perorou Venâncio, é o prolongamento do amor paterno, é o 
complemento da ternura das mães, o guia zeloso dos primeiros passos, na senda escabrosa 
que vai às conquistas do saber e da moralidade. Experimentado no labutar cotidiano da sa-
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grada profissão, o seu auxílio ampara-nos como a Providência na Terra; escolta-nos assíduo 
como um anjo da guarda; a sua lição prudente esclarece-nos a jornada inteira do futuro. 
Devemos ao pai a existência do corpo; o mestre cria-nos o espírito (sorites de sensação), e 
o espírito, é a força que impele, o impulso que triunfa, o triunfo que nobilita, o enobrecimento 
que glorifica, e a glória é o ideal da vida, o louro do guerreiro, o carvalho do artista, a palma 
do crente! A família, é o amor no lar, o estado é a segurança civil; o mestre, com amor forte 
que ensina e corrige, prepara-nos para a segurança íntima inapreciável da vontade. Acima de 
Aristarco — Deus! Deus tão-somente; abaixo de Deus — Aristarco.”
Um último gesto espaçoso, como um jamegão no vácuo, arrematou o rapto de eloquência.
Eu me sentia compenetrado daquilo tudo; não tanto por entender bem, como pela facilida-
de da fé cega a que estava disposto. As paredes pintadas da ante-sala imitavam pórfiro verde; 
em frente ao pórtico aberto para o jardim, graduava-se uma ampla escada, caminho do andar 
superior. Flanqueando a majestosa porta desta escada, havia dois quadros de alto-relevo; à 
direita, uma alegoria das artes e do estudo; à esquerda, as indústrias humanas, meninos nus 
como nos frisos de Kaulbach, risonhos, com a ferramenta simbólica — psicologia pura do 
trabalho, modelada idealmente na candura do gesso e da inocência. Eram meus irmãos! Eu 
estava a esperar que um deles, convidativo, me estendesse a mão para o bailado feliz que os 
levava. Oh! que não seria o colégio, tradução concreta da alegoria, ronda angélica de corações 
à porta de um templo, dulia permanente das almas jovens no ritual austero da virtude!
Por ocasião da festa da ginástica, voltei ao colégio.
O Ateneu estava situado no Rio Comprido, extremo ao chegar aos morros.
As eminências de sombria pedra e a vegetação selvática debruçavam sobre o edifício um 
crepúsculo de melancolia, resistente ao próprio sol a pino dos meios-dias de novembro. Esta 
melancolia era um plágio ao detestável pavor monacal de outra casa de educação, o negro 
Caraça de Minas. Aristarco dava-se palmas desta tristeza aérea — a atmosfera moral da me-
ditação e do estudo, definia, escolhida a dedo para maior luxo da casa, como um apêndice 
mínimo da arquitetura.
No dia da festa da educação física, como rezava o programa (programa de arromba, por-
que o secretário do diretor tinha o talento dos programas) não percebi a sensação de ermo tão 
acentuada em sítios montanhosos, que havia de notar depois. As galas do momento faziam 
sorrir a paisagem. O arvoredo do imenso jardim, entretecido a cores por mil bandeiras, brilha-
va ao sol vivo com o esplendor de estranha alegria; os vistosos panos, em meio da ramagem, 
fingiam flores colossais, numa caricatura extravagante de primavera; os galhos frutificavam 
em lanternas venezianas, pomos de papel enormes, de uma uberdade carnavalesca. Eu ia 
carregado, no impulso da multidão. Meu pai prendia-me solidamente o pulso, que me não 
extraviasse.
Mergulhado na onda, eu tinha que olhar para cima, para respirar. Adiante de mim, um su-
jeito mais próximo fez-me rir; levava de fora a fralda da camisa… Mas não era fralda;verifiquei 
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Gustavo Silva
que era o lenço. Do chão subia um cheiro forte de canela pisada; através das árvores, com 
intervalos, passavam rajadas de música, como uma tempestade de filarmônicas.
Um último aperto mais rijo, estalando-me as costelas, espremeu-me, por um estreito cor-
te de muro, para o espaço livre. Em frente, um gramal vastíssimo.
Rodeava-o uma ala de galhardetes, contentes no espaço, com o pitoresco dos tons enér-
gicos cantando vivo sobre a harmoniosa surdina do verde das montanhas. Por todos os lados 
apinhava-se o povo. Voltando-me, divisei, ao longo do muro, duas linhas de estrado com 
cadeiras quase exclusivamente ocupadas por senhoras, fulgindo os vestuários, em violenta 
confusão de colorido. Algumas protegiam o olhar com a mão enluvada, com o leque, à altura 
da fronte, contra a rutilação do dia num bloco de nuvens que crescia do céu. Acima do estrado 
balouçavam docemente e sussurravam bosquetes de bambu, projetando franjas longuíssi-
mas de sombra pelo campo de relva.
Algumas damas empunhavam binóculos. Na direção dos binóculos distinguia-se um mo-
vimento alvejante. Eram os rapazes. “Aí vêm! disse-me meu pai; vão desfilar por diante da 
princesa.” A princesa imperial, Regente nessa época, achava-se à direita em gracioso palan-
que de sarrafos.
Momentos depois, adiantavam-se por mim os alunos do Ateneu. Cerca de trezentos; pro-
duziam-me a impressão do inumerável. Todos de branco, apertados em larga cinta vermelha, 
com alças de ferro sobre os quadris e na cabeça um pequeno gorro cingido por um cadarço 
de pontas livres. Ao ombro esquerdo traziam laços distintivos das turmas. Passaram a toque 
de clarim, sopesando os petrechos diversos dos exercícios. Primeira turma, os halteres; se-
gunda, as maças; terceira, as barras.
Fechavam a marcha, desarmados, os que figurariam simplesmente nos exercícios gerais.
Depois de longa volta, a quatro de fundo, dispuseram-se em pelotões, invadiram o gramal 
e, cadenciados pelo ritmo da banda de colegas, que os esperava no meio do campo, com a 
certeza de amestrada disciplina, produziram as manobras perfeitas de um exército sob o co-
mando do mais raro instrutor.
Diante das fileiras, Bataillard, o professor de ginástica, exultava envergando a altivez do 
seu sucesso na extremada elegância do talhe, multiplicando por milagroso desdobramento o 
compêndio inteiro da capacidade profissional, exibida em galeria por uma série infinita de ati-
tudes. A admiração hesitava a decidir-se pela formosura masculina e rija da plástica de mús-
culos a estalar o brim do uniforme, que ele trajava branco como os alunos, ou pela nervosa 
celeridade dos movimentos, efeito elétrico de lanterna mágica, respeitando-se na variedade 
prodigiosa a unidade da correção suprema.
Ao peito tilintavam-se as agulhetas do comando, apenas de cordões vermelhos em tran-
ça. Ele dava as ordens fortemente, com uma vibração penetrante de corneta que dominava a 
distancia, e sorria à docilidade mecânica dos rapazes. Como oficiais subalternos, auxiliavam-
-no os chefes de turma, postados devidamente com os pelotões, sacudindo à manga distinti-
vos de fita verde e canutilho.
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LITERATURA
Gustavo Silva
Acabadas as evoluções, apresentaram-se os exercícios. Músculos do braço, músculos do 
tronco, tendões dos jarretes, a teoria toda do corpore sano foi praticada valentemente ali, pre-
cisamente, com a simultaneidade exata das extensas máquinas. Houve após, o assalto aos 
aparelhos. Os aparelhos alinhavam-se a uma banda do campo, a começar do palanque da 
Regente. Não posso dar ideia do deslumbramento que me ficou desta parte. Uma desordem de 
contorções, deslocadas e atrevidas; uma vertigem de volteios à barra fixa, temeridades acro-
báticas ao trapézio, às perchas, às cordas, às escadas; pirâmides humanas sobre as paralelas, 
deformando-se para os lados em curvas de braços e ostentações vigorosas de tórax; formas 
de estatuária viva, trêmulas de esforço, deixando adivinhar de longe o estalido dos ossos de-
sarticulados; posturas de transfiguração sobre invisível apoio; aqui e ali uma cabecinha loura, 
cabelos em desordem cacheados à testa, um rosto injetado pela inversão do corpo, lábios 
entreabertos ofegando, olhos semicerrados para escapar à areia dos sapatos, costas de suor, 
colando a blusa em pasta, gorros sem dono que caíam do alto e juncavam a terra; movimento, 
entusiasmo por toda a parte e a soalheira, branca nos uniformes, queimando os últimos fogos 
da glória diurna sobre aquele triunfo espetaculoso da saúde, da força, da mocidade.
O Professor Bataillard, enrubescido de agitação, rouco de comandar, chorava de prazer. 
Abraçava os rapazes indistintamente. Duas bandas militares revezavam-se ativamente, co-
municando a animação à massa dos espectadores. O coração pulava-me no peito com um 
alvoroço novo, que me arrastava para o meio dos alunos, numa leva ardente de fraternidade. 
Eu batia palmas; gritos escapavam-me, de que me arrependia quando alguém me olhava.
Deram fim à festa os saltos, os páreos de carreira, as lutas romanas e a distribuição dos 
prêmios de ginástica, que a mão egrégia da Sereníssima Princesa e a pouco menos do Es-
poso Augusto alfinetavam sobre os peitos vencedores. Foi de ver-se os jovens atletas aos 
pares aferrados, empuxando-se, constringindo-se, rodopiando, rolando na relva com gritos 
satisfeitos e arquejos de arrancada; os corredores, alguns em rigor, respiração medida, bei-
ços unidos, punhos cerrados contra o corpo, passo miúdo e vertiginoso; outros, irregulares, 
bracejantes prodigalizando pernadas, rasgando o ar a pontapés, numa precipitação desen-
gonçada de avestruz, chegando estofados, com placas de poeira na cara, ao poste da vitória.
Aristarco arrebentava de júbilo. Pusera de parte o comedimento soberano que eu lhe ad-
mirara na primeira festa. De ponto em branco, como a rapaziada, e chapéu-do-chile, distri-
buía-se numa ubiqüidade impossível de meio ambiente. Viam-no ao mesmo tempo a festejar 
os príncipes com o risinho nasal, cabritante, entre lisonjeiro e irônico, desfeito em etiquetas 
de reverente súdito e cortesão; viam-no bradando ao professor de ginástica, a gesticular com 
o chapéu seguro pela copa; viam-no formidável, com o perfil leonino rugir sobre um discípulo 
que fugira aos trabalhos, sobre outro que tinha limo nos joelhos, de haver lutado em lugar 
úmido, gastando tal veemência no ralho, que chegava a ser carinhoso.
O figurino campestre rejuvenescera-o. Sentia as pernas leves e percorria celerípede a 
frente dos estrados, cheio de cumprimentos para os convidados especiais e de interjetivos 
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Análise de Textos Literários
LITERATURA
Gustavo Silva
amáveis para todos. Perpassava como uma visão de brim claro, súbito extinta para reapare-
cer mais viva noutro ponto. Aquela expansão vencia-nos; ele irradiava de si, sobre os alunos, 
sobre os

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