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TEORIA GERAL DO PROCESSO SOCIEDADE E TUTELA JURÍDICA Função ordenadora do Direito: coordenar interesses que se manifestam na vida social, de modo a organizar a cooperação entre as pessoas e compor os conflitos que se verificarem entre seus membros Direito é uma das formas de controle social ● Instrumento que a sociedade dispõe para impor modelos culturais, ideais coletivas e valores a serem perseguidos ● Não é suficiente para evitar conflitos que possam surgir entre as pessoas Início das civilizações: não havia um Estado suficientemente forte que, usando da soberania e autoridade, afirmasse o Direito acima da vontade dos particulares ● Havia a autotutela/autodefesa: justiça com as próprias mãos, que garantia a vitória do mais forte, e não da justiça propriamente ● Havia também a autocomposição: uma das partes em conflito, ou ambas, abrem mão do interesse ou parte dele ● Começaram a perceber os males desse sistema: optam pelos árbitros, pessoas da confiança das partes para resolver conflitos e forma amigável e imparcial (arbitragem facultativa) Nascimento do Estado: tendência a absorver o poder de ditar as soluções para conflitos Direito Romano Arcaico: séc. II a.C – Lei das XII Tábuas ● Estado já participava na solução de ligítigios ● Processo civil romano em dois estágios: perante o magistrado/pretor e perante o árbitro (arbitragem obrigatória) ● Jurisdição desvinculada do poder público Pós séc. III dC – desenvolvimento da figura do pretor e de seus méritos na solução de litígios: passagem da justiça privada para a justiça pública ● Cristianização do Império Romano – valores como clemência e humanização do processo Soberania: relacionada à formação dos Estados- Nação ● Poder unitário ● Poder indivisível ● Ilimitado ● Inalienável Soberania no Estado de Direito: poderes se dividem e são limitados às regras Estado de Direito promove um acoplamento do sistema político e jurídico através da Constituição Reconhecimento do papel superior da Constituição eleva a importância do Poder Judiciário A história do direito processual inclui 3 fases metodológicas fundamentais: 1. Fase sincretista: meados do séc. XIX – direito processual e a ação seriam desdobramentos do direito material ● Direito material: normas que estabelecem direitos e obrigações nas relações entre os indivíduos (ex: propriedade, manutenção da vida, saúde) ● Direito processual: normas atinentes ao comportamento, à competência, e à forma como o Estado-juiz conduz o processo. É um instrumento a serviço do Direito material 2. Fase autonomista: pós 1868 com Oscar Fonbino – ● Direito Material e Processual não se confundem haja vista que possuem objetos distintos ● No Direito Processual espera-se uma tutela do juiz de um direito ● Não há de haver, necessariamente, um direito material a ser tutelado para que haja um processo e o exercício da jurisdição 3. Fase instrumental: segunda metade do séc. XX ● Processo: meio para a satisfação de direitos Jurisdição: atividade mediante a qual os juízes estatais examinam as pretensões e resolvem conflitos ● Governa a atividade jurisdicional do Estado – Direito Público ● Por meio da sentença, veicula-se uma norma jurídica individual e concreta ● Kelsen: quando o juiz faz escolhas, ele tem que promover decisões dentro da moldura Processo: instrumento por meio do qual os órgãos jurisdicionais atuam para pacificar as pessoas conflitantes, eliminando os conflitos e fazendo cumprir o preceito jurídico pertinente a cada caso que lhes é apresentado em busca de solução Jurisdição é uma das expressões do poder estatal Capacidade que o Estado tem de decidir imperativamente e impor decisões Finalidade pacificadora dentre as diversas funções estatais ● Proteção particularizada do bem comum Imparcialidade (s/compromisso com as partes) Mecanismos de controle judicial Razoabilidade Karl Popper: mais importante que o poder é o controle do exercício do poder Autonomia do Poder Judiciário: ● Financeira ● Institucional (se autogoverna) ● Funcional Reconhecimento do papel superior da Constituição: eleva a importância do Judiciário A neutralidade política do Judiciário (apartidário) aumenta sua capacidade de decidir em questões dessa área ● O juiz não pode ser engajado politicamente O Judiciário, uma vez demandado, não pode se esquivar de sua função Hoje, o juiz ao tomar uma decisão, exerce poder discricionário, porque faz uma escolha (casos mais complexos) ● Dever de publicidade possibilita verificar se o juiz excedeu ou não o poder discricionário O Direito Constitucional estabelece as bases do direito processual ao instituir o Poder Judiciário, criar órgãos que o compõem, assegurar as garantias da Magistratura e fixar princípios Direito processual: cria e regula o exercício dos remédios jurídicos que tornam efetivo todo o ordenamento jurídico, com o objetivo de dirimir conflitos, pacificando e fazendo justiça em casos concretos ● Há o direito processual civil e o direito processual penal ● Direito processual tem autonomia, mas não é independente de outras áreas (administrativo, material...) REGRAS E PRINCÍPIOS Princípios: normas que fundamentam axiologicamente o ordenamento jurídico, que são base para outras normas ● Dworkin: aplicadas em maior ou menor grau regra também é sopesável) ● Alexy: obrigações prima facie (para o professor, Alexy confunde dispositivo com norma) Critérios para diferenciação de regras e princípios - Caráter hipotético-condicional: ● Regra tem hipótese de incidência e consequência jurídica bem estabelecidas ● HIPÓTESE-CONSEQUÊNCIA ● Norma jurídica será reconstruída racionalmente e aí sim terá essa estrutura ● Princípio normalmente não veicula a hipótese por decisão legislativa, mas é possível que a partir de uma norma o faça - Critério do modo final de aplicação: ● Regra institui obrigações definitivas e os princípios são sopesados (EQUÍVOCO: regras podem ser superadas, não é algo absoluto) - Critério do conflito normativo: ● É possível existir duas regras que são válidas e colidem (também pode ser sopesada) ● Regras também veiculam, assim como os princípios, finalidades (condição axiológica e racional) ● Há uma diferença de grau qualitativo entre regras e princípios ● Dissociação heurística e inclusiva: a partir do mesmo texto é possível reconstruir racionalmente uma regra ou princípio - Natureza do comportamento prescrito ● Regra: descritiva e finalística -> se manifesta e, quando aplicada, devemos verificar o enquadramento no caso concreto e com sua finalidade -> legislador busca destrinchar sua aplicação ● Princípio: finalístico, busca alcançar um estado ideal de coisas -> é também descritiva, sendo possível extrair comportamentos que ensejam esse estado ideal ● Regras: normas deôntico-deontológicas (estipulam razões para a existência de obrigações / decorre da própria norma o que precisa ser feito) ● Princípios: normas deôntico-teleológicas (estipulam razões para a existência de obrigações / comportamento necessário que preserve ou estimule um estado ideal) ● A natureza de uma ou de outra decorre do comportamento prescrito ➔ REGRA: comportamento descritivamente prescrito ➔ PRINCÍPIO: comportamento necessariamente prescrito - Natureza da justificação exigida ● Se funda no modo final de aplicação ● Não é possível prever como uma regra ou princípio serão aplicados! ● Casos mais simples: verificar se há uma correspondência entre a construção conceitual da descrição normativa e a dos fatos + da finalidade que dá suporte àquela norma ● Hard cases: ➔ Regras: coerência da norma e inexistência de razões contrárias à norma ➔ Princípios: não tem essa oscilação de ônus argumentativo, não existe estipulação prévia de hipótese de incidência - sujeito concretizante buscará aferir quais comportamentos promovem o estado ideal de coisas - Medida de contribuição para a decisão ● Princípio não tem pretensão de ser uma decisão previamente estabelecida em abstrato - complementar a outras normas jurídicas - pretensão de parcialidade ecomplementaridade para a tomada de decisão ● Regra: pretensão de apresentar solução para todos os problemas futuros naquela questão - pretensão de decisividade e abranger todas as questões do caso concreto RESUMINDO: PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL Normas que regulam o processo estão esparsas na Constituição ou no Código de Processo Civil (cap. I, art. 1º ao 12) Princípio do acesso à justiça e inafastabilidade do controle jurisdicional Cabe ao Estado atribuir ao indivíduo algum meio pelo qual ele faça valer seus direitos Mauro Cappelletti afirmava que o acesso à justiça deve ser encarado como um requisito fundamental de um sistema jurídico e moderno igualitário Decorrência do princípio: disponibilização de técnicas processuais que viabilizem e assegurem o exercício do direito de ação, que esse exercício seja feito no menor prazo, no menor custo e com a maior qualidade possível Barbosa Moreira determina cinco critérios para garantir a efetividade do processo: 1. O processo deve dispor de instrumento de tutela adequados a todos os direitos; 2. Estes instrumentos devem estar disponíveis e pode ser utilizado por todos; 3. É necessário que os fatos alegados seja provados e, para que isso ocorra, deve haver uma instrução do judiciário na produção de provas; (o juiz não pode ficar preso nas provas apresentadas); 4. O resultado do processo deve poder ser efetivado, deve haver instrumentos propícios para a sua realização pela parte vitoriosa; 5. Essa efetividade deve ter um custo benefício favorável (atingir o resultado com o mínimo dispêndio de tempo e energia) Princípio da instrumentalidade do processo O processo deve ser um instrumento apto a atingir seus fins próprios Princípio do devido processo legal A maior parte das normas fundamentais do processo civil deriva do devido processo legal, podendo ser extraídas dele mesmo que não fossem expressas. Essa norma confere maleabilidade, plasticidade e abertura ao processo Constituição: art. 5º, XXXVII, LXIV Há duas vertentes do devido processo legal: a) em sentido formal/procedimental: consiste nas garantias implícitas da norma, como o uso de provas lícitas, a boa fé… b) substancial: fundamento da razoabilidade e proporcionalidade, com base na jurisprudência do STF OBS: Proporcionalidade Razoabilidade Só é invocada quando há sopesamento entre princípios/aplicação de regras Não se exige esse entrecruzamento para ser invocada Aplica-se para aferir a relação meio-fim (se o meio é apto para atingir o fim a que ele se preordena) O que se busca aferir é se a norma geral pode ser aplicada no caso concreto, em virtude de suas circunstâncias O devido processo legal não se aplica apenas no processo judicial, mas também se dirige ao processo legislativo, administrativo, judicial e negocial. Princípio da dignidade da pessoa humana Expressamente prevista no art. 1º da CF e no art. 8º, CPC Pode ser extraído de várias outras normas em que não há norma expressa sobre o assunto Ex: art. 1048 do CPC - prioridade de tramitação de pessoas com HIV ( I - portadores de doença grave) Princípio da Legalidade Juiz decide conforme todo o direito, e não apenas a lei em sentido formal, como também os precedentes judiciais (art.926 e 927, CPC) Além disso, o juiz deve aferir a compatibilidade da lei com a Constituição (fazer o controle de constitucionalidade da lei) Também observado no art. 8º do CPC Princípio do Contraditório Reflexo da democracia - exigência para o exercício democrático de um poder garantia de participação Princípio do contraditório possibilidade de influência na decisão Garantia de participação: garantia de ser ouvido, de participar do processo, de falar. Poder de influência na decisão: direito das partes de se manifestar e de consequentemente influenciar o resultado do processo ● Diálogo entre o juiz e as partes; ● Mais amplo que a ampla defesa ● As partes têm que assumir uma postura ativa Pontes de Miranda: esse princípio se manifesta ● Direito à informação ● Direito de se defender ativamente ● Direito que o juiz leve em consideração as defesas, alegações e as provas O juiz pode basear-se em fato que não foi alegado pelas partes. O art. 493 do CPC determina que “se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do direito influir no julgagemnto do mérito, caberá ao órgão jurisdicional tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão”. O juiz pode, portanto, levar em consideração ex officio fato superveniente relevante para a solução da causa. Para observar o contraditório, deve antes ouvir as partes sobre esse fato. Dierle Nunes vislumbra ainda outras vantagens na ampliação do debate em um ambiente cooperativo: "obtenção de decisões bem fundamentadas, em todos os graus de jurisdição, pelo obrigatório respeito ao devido processo constitucional (due process of law)". Assevera o autor que a melhoria do debate induziria a uma menor recorribilidade, diminuição das taxas de reforma decisória e até a redução no tempo final do processo, pois ampliar a discussão ensejaria uma aplicabilidade mais efetiva do direito e permitiria extrair dos julgados padrões decisórios a serem utilizados em casos futuros, com coerência, integridade e estabilidade. Carlos Alberto A. de Oliveira “O tratamento da parte como simples objeto de pronunciamento judicial não é válido, devendo garantir seu direito de atuar de modo crítico e construtivo sobre o andamento do processo e seu resultado, desenvolvendo antes da decisão a defesa de suas razões.” O princípio do contraditório se reparte em 3 subprincípios: a) Princípio da paridade de armas ● Com base nessa regra, o julgador pode intervir no processo para promover o efetivo contraditório e, por consequência, a igualdade processual ● Intervenções em situações excepcionais para reequilibrar o contraditório ● Tratamento desigual é justificável na medida exata da desigualdade combatida ● Isonomia real: equilíbrio efetivo entre os contendores e não uma igualdade meramente formal ● EX: art. 12, CPC: prioridade para os processos de pessoas enfermas e idosos b) Vedação da decisão inaudita a outra parte ● Poder agir de ofício é poder agir sem provocação; não é o mesmo que agir sem ouvir as partes. ● Bilateralidade c) Proibição da decisão surpresa ● Vedação da decisão com surpresa ● A decisão judicial deve ser amplamente discutida e debatida com as partes ● Decisão-surpresa é decisão nula, por violação ao princípio do contraditório Princípio da Inércia da Jurisdição O Poder Judiciário é um órgão inerte, ele somente se manifesta quando provocado por uma parte Ou seja, o juiz não pode em hipótese alguma instaurar um processo judicial; este somente existe se tiver havido provocação pelo interessado Princípio da demanda: apenas a parte pode propor a ação e definir o objeto da causa ➔ a parte movimenta a máquina judicial; ➔ o objeto da causa é formado por alegações fáticas e jurídicas formuladas pelas partes ➔ decorrência da autonomia da vontade no processo civil Princípio da duração razoável do processo Art. 5, inciso LXXVII e art. 4, CPC Acarreta e exigibilidade da prestação judicial adequada e tempestiva É necessário aferir critérios objetivos para se definir uma duração razoável do processo O Tribunal Europeu de Direitos Humanos tenta estabelecer algumas ponderações, como: ● complexidade da causa ● o comportamento dos litigantes (as partes podem comprometer o andamento do processo) Princípio da boa-fé Norma de conduta (boa-fé objetiva) -> independente da exigência de boas ou más intenções, exige-se esse comportamento Diz respeito à proteção objetiva da confiança e da lealdade Impõe a adoção de comportamentos sérios, esclarecedores e leais, como conducentes com o estado ideal de coisas Não há previsão de quais são esses comportamentos -> pressupõe condutas éticas Destinatário da norma: aquele que de qualquer forma participa do processo (inclui nãoapenas as partes, mas também o órgão jurisdicional) Críticas: tentativas de moralizar o processo Venire contra factum proprium: quando a parte adota um comportamento contraditório, incompatível com o comportamento anterior (ex: fala que vai acertar o acordo e não aceita) Princípio da cooperação Trata-se de uma colaboração recíproca entre as partes e o juiz, estabelecendo uma comunidade de trabalho com fins de alcançar o resultado final do processo com a prestação de tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva. O juiz deve julgar o que está sendo solicitado, e nada mais (interpretação lógico-sistemática) O juiz pode determinar a produção de provas. Daniel Mitidiero: afirma que o juiz tem o papel de ser isonômico no diálogo e assimétrico na decisão. Princípio da publicidade Tem como objetivo proteger as partes contra juízos arbitrários e secretos Publicidade garante transparência e um bom funcionamento do aparelho jurisdicional - garante a imparcialidade e a responsabilidade do juiz Art. 189, CPC - estabelece possibilidades de restrição (mas não eliminação) da publicidade Em caso de arbitragem, o sigilo pode ser aplicado (autonomia da vontade das partes) O sigilo restringe-se à publicidade externa Princípio da motivação das decisões judiciais Art. 489, parágrafo primeiro do CPC e art. 93, X da CF O juiz deve expor as razões e os argumentos coletados pelos quais ele se convenceu, de tal forma que ele consiga justificar determinada pretensão - fundamentação da sentença Mecanismo de aferição da congruência da sentença Propicia a estruturação da via recursal na medida em que as partes, conhecedora dos motivos da decisão, possam ou não impugná-la Princípio do juiz natural O processo deve ser julgado por órgão competente - regras de distribuição de competências devem ser estabelecidas previamente Fica vedada a criação de juízo ou tribunal de exceção Delimitação de competências: há vários critérios Princípio do duplo grau de jurisdição Reserva aos litigantes solicitar a revisão da sentença através de recurso Garante maior segurança na prestação jurisdicional Amplia a probabilidade de acerto na solução imposta ao litígio - possibilidade de submissão ao crivo do próprio Judiciário Princípio da vedação das provas obtidas por meios ilícitos Prova ilícita: aquela decorrente da violação de uma norma jurídica Questionamento: a prova enquanto possibilitadora da verdade, ainda que de origem ilícita, deve ser descartada? a) Teoria dos frutos da árvore envenenada (corrente anglo-saxônica): não admite, em hipótese nenhuma, a prova obtida por meio ilícito, pois o direito não deve se usar do antijurídico para defender o que é lícito. (STF) b) Corrente permissiva: aceita-se a prova e aplica uma sanção - separação entre o resultado e a conduta c) Corrente intermediária: estabelece como parâmetro a máxima da proporcionalidade, afirmando que deve se verificar em cada caso concreto se a transgressão justifica a obtenção da prova Fredie Didier defende a adoção da teoria intermediária com alguns critérios: ➔ Se admitiria a prova ilícita se houver a imprescindibilidade, isto é, não há no caso concreto outro modo de se demonstrar a alegação do fato; ➔ Deve-se examinar se o bem jurídico - objeto de tutela pelo processo - se mostra, no caso, mais digno de proteção que o bem fulminado pela prova ilícita (proporcionalidade); ➔ Deve-se verificar se a conduta da parte que se vale da prova ilícita é antijurídica (após confirmação, pois se trata de uma prova não lícita), sendo responsabilidade do juiz tomar as providências necessárias para que seja sancionado o comportamento não permitido (punibilidade), conforme o tipo de ilícito (se for penal, então se aplica a legislação penal; se for administativo, se aplica a legislação administrativa); ➔ Essa prova deve ser utilizada pró-réu no processo penal (apenas nessa seara), jamais para prejudicar. Princípio do livre convencimento motivado ou da persuasão racional Cabe ao magistrado avaliar a prova produzida pelas partes, devendo indicar as razões que o motivaram a tomar sua posição, sob pena de nulidade da decisão Três principais sistemas de valoração da prova no direito processual: 1. Sistema da prova legal/ tarifada: a lei fixa o valor da prova, de forma que fica vedado ao magistrado valorar a prova com base em critérios próprios (comum na Idade Média) 2. Sistema do livre convencimento pelo magistrado (puro): o juiz tem ampla liberdade para apreciar e valorar a prova, não havendo sequer necessidade de expor os motivos que o levaram à formação do convencimento (júri penal) 3. Sistema do livre convencimento motivado: órgão jurisdicional possui liberdade para avaliar a prova, mas deve expor os fatos que o levaram à determinada decisão JURISDIÇÃO Há uma redistribuição das funções do Estado Moderno -> separação marcada entre Legislativo, Executivo e Judiciário não ocorre na prática -> ex: STF edita súmulas vinculantes, aplicando assim um Poder Legislativo ● Esferas estatais aplicam funções executivas, legislativas e judicativas simultaneamente Força normativa da Constituição: normas principiológicas demandam uma postura ativa/criadora do juiz ● Cláusulas gerais: transfere ao Poder Judiciário a função de completar essa norma ● Evolução do Controle de Constitucionalidade difuso (juízes podem analisar a constitucionalidade de normas - nova compreensão do papel do juiz) Desenvolvimento da chamada Teoria Jurídica dos Direitos Fundamentais ● Normas que podem ser aplicadas para uma série de conflitos nos quais o Judiciário tem contato Fredie Didier: Jurisdição “Jurisdição é a função atribuída a um terceiro - imparcial - de realizar o direito de modo interativo e criativo (ou reconstrutivo) a fim de reconhecer, efetivar ou proteger situações jurídicas concretamente deduzidas em decisão insuscetível de controle externo e com pretensão de indiscutibilidade. “ Para o autor, a jurisdição possui 7 características: 1. Heterocomposição: decisão tomada por um terceiro imparcial ● Um estranho substitui a vontade das partes e determina a solução do problema apresentado ● Ideia de subjetividade: jurisdição não é uma ação meramente declaratória, deve ser criativa ● Juiz é ao mesmo tempo estranho e desinteressado (imparcial) OBS: Imparcialidade Neutralidade Não há interesse no litígio Se funda na possibilidade do juiz ser desprovido de vontade inconsciente, o que é inconcebível ● Art.144, CPC - impedimentos ao juiz para exercer suas funções 2. Imperatividade e inevitabilidade da jurisdição ● A jurisdição é a manifestação de um poder ● Se impõe imperativamente para construir e aplicar o Direito às situações concretas que são submetida ao órgão jurisdicional ● Inevitabilidade: as partes devem se submeter à decisão do órgão jurisdicional (situação de sujeição) ● Quando há uma decisão do juiz, cria-se uma terceira solução (algo novo), se não fosse assim não haveria decisão, mas apenas o reconhecimento de um entendimento anterior previamente estabelecido 3. Princípio da congruência: a jurisdição se limita ao direito objetivo e ao caso concreto ● Recria-se a norma abstrata no caso concreto ● Os Tribunais devem rever e avaliar e construir suas decisões 4. A jurisdição como tutela dos direitos por meio do processo ● A jurisdição se preordena a tutelar os direitos materiais, ocorrendo pelo reconhecimento judicial, pela efetivação do Direito ou pela violação do direito que está na iminência de ser violado 5. A jurisdição atua em situação jurídica concreta ● Há necessariamente que analisar o caso concreto ● Mauro Cappelletti assinala que o traço distintivo do processo jurisdicional se traduz na sua conexão com os problemas jurídicos e as controvérsias que são suscitadas (lide). 6. Insustentabilidade de controle externo ● A função jurisdicional produz a última palavra sobre a situação concreta deduzida em juízo, sem que haja qualquer controle feito por outro poder ● Apenas a jurisdição exerce controle sobre a jurisdição 7. Aptidão paraproduzir coisa julgada ● Uma decisão judicial, uma vez tomada e exauridas as instâncias e os recursos, torna-se imutável e indiscutível ● Estabilidade jurídica para o ordenamento ● Característica exclusiva da jurisdição: definitividade EQUIVALENTES JURISDICIONAIS Os meios adequados de solução de conflitos abrangem os meios jurisdicionais (estatais) ou não, isso significa dizer que a solução jurisdicional deixou de ser primazia, tornando-se a ultima ratio. Equivalentes jurisdicionais são as formas não jurisdicionais de solução de conflitos -> são equivalentes porque, não sendo jurisdição, atuam como técnica de tutela de direitos, resolvendo conflitos com algumas características daquele poder estatal. Assim, todas as formas de solução de conflitos não são definitivas, pois podem ser submetidas ao controle judicial. Atualmente, deve-se falar em “meios adequados de solução de conflitos” “ O direito de acesso ao Direito, vem sofrendo profundas transformações. Deixou de ser um direito de acesso ao Direito através dos tribunais para passar a ser um direito de acesso ao direito, de preferência sem contato ou passagem pelos tribunais” Hoje o Estado tem falhado muito em sua função pacificadora - demora na solução dos conflitos, duração do processo, custo... Há nessas vertentes a ruptura com o formalismo processual, a gratuidade, e liberdade nas soluções Meios adequados de solução de conflitos: arbitragem, mediação e conciliação Autotutela Solução de conflito de interesses se dá pela imposição da vontade de uma das partes, e consequentemente há o sacrifício dos interesses do outro -> solução egoísta e parcial do litígio Ilícito penal nos países civilizados (era comum no mundo antigo, justiça com as próprias mãos) ● Praticada por um particular: exercício arbitrário das próprias razões ● Praticada pelo Estado: abuso de poder Excepcionalmente, admite-se: art.1210, parágrafo primeiro do CC; legítima defesa; direito de retenção; direito de greve; estado de necessidade, guerra… -> todas as exceções são passíveis de controle posterior pela solução jurisdicional Autocomposição Se dá pelo consentimento espontâneo de uma das partes, sacrificando o interesse próprio em favor do interesse alheio Solução altruísta de litígio Pode ocorrer tanto internamente quanto externamente ao poder jurisdicional A autocomposição é o gênero, do qual são espécies: a) transação: os conflitantes fazem concessões mútuas e solucionam o conflito b) submissão: um dos conflitantes se submete à pretensão do outro voluntariamente, abdicando seus interesses. Quando feita em juízo, a submissão do autor é denominada de renúncia (art. 487, III, “c”, CPC); a do réu é designada como reconhecimento da procedência do pedido (art. 487, III, “a”, CPC) O Poder Legislativo tem reiteradamente incentivado a autocomposição, com a edição de diversas leis neste sentido. O CPC ratifica e reforça essa tendência: ● dedica um capítulo inteiro para regular a mediação e a conciliação (arts. 165-175) ● estrutura o procedimento de modo a pôr a tentativa de autocomposição como ato anterior ao oferecimento da defesa do réu (art. 334 e 695) ● permite a homologação judicial de acordo extrajudicial de qualquer natureza (art.515, III; art. 725, VIII) ● permite que, no acordo judicial, seja incluída matéria estranha ao objeto litigioso do processo (art. 515, parágrafo segundo) ● permite acordos processuais (sobre o processo, não sobre o objeto do litígio) atípicos (art. 190) A Lei 13.140/2015 disciplina sobre a mediação e a autocomposição envolvendo o Sistema Público Conciliação: pode ser extraprocessual ou endoprocessual, e visa induzir as próprias pessoas a ditar a solução, procurando obter uma transação entre as partes (mútuas concessões) ou a submissão de um à pretensão do outro. Mediação: os interessados utilizam a intermediação de um terceiro para chegarem a um acordo. Diferente da conciliação, a mediação trabalha com o conflito, surgindo o acordo como mera consequência (diferença de método) Julgamento de conflitos por tribunal administrativo Fórmula de solução estatal, mas não jurisdicional São decisões suscetíveis de serem encaminhadas ao crivo do Judiciário, também não são definitivas ou indiscutíveis. Exigência de imparcialidade Heterocomposição -> ente da administração públicas Exemplos: Tribunal Marítimo, Tribunal de Contas da União, CADE, agências reguladoras Arbitragem Há controvérsias no que diz respeito de ser uma alternativa equivalente à jurisdição ou se seria uma forma própria da jurisdição. Consiste na técnica de solução de conflitos mediante a qual os conflitantes buscam em uma terceira pessoa, de sua confiança a solução amigável e “imparcial” do litígio (heterocomposição) Só se admite em matéria civil, não é possível em questões penais No Brasil, a arbitragem é regulada pela Lei 9.307/1996, podendo ser constituída por meio de um negócio jurídico denominado convenção de arbitragem O art. 3 desta Lei afirma que a convenção de arbitragem pode se dar sob a forma de cláusula compromissória ou compromisso arbitral. ● Cláusula compromissória: as partes decidem, previamente, que as divergências oriundas de certo negócio jurídico serão resolvidas pela arbitragem (antes do conflito ocorrer já está definido); ● Compromisso arbitral: acordo de vontades para submeter uma controvérsia concreta, já existente, ao juízo arbitral, prescindindo do Poder Judiciário - contrato, por meio do qual se renuncia a atividade jurisdicional estatal Características da arbitragem no direito brasileiro: ● há a possibilidade de escolha da norma de direito material a ser aplicada (art. 2º, § 1º e § 2º da Lei): seja os princípios gerais do direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio ● requisitos para as funções do árbitro: ser pessoa natural e capaz - possui status de juiz de direito ● não há necessidade de homologação judicial da sentença arbitral, a qual produz efeitos imediatamente (art. 31 da Lei) ● O árbitro pode decidir, mas não tem poder para tomar nenhuma providência executiva (art. 31 da Lei) ● É possível reconhecer e executar sentenças arbitrais produzidas no exterior (art. 34 e seguintes da Lei) O Poder Público também pode utilizar da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis A sentença arbitral é título executivo judicial (tem o mesmo valor que uma sentença judicial) PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO Territorialidade A jurisdição, como manifestação da soberania, exerce-se sempre em um dado território Os magistrados só têm autoridade dentro do seu âmbito de competência ● Comarca: divisão da justiça estadual ● Seção judiciária: circunscrição no âmbito da justiça federal Há a necessidade de cooperação das outras autoridades para realizar atividades fora de determinado território ● Cartas: atos de comunicação entre órgãos jurisdicionais ● Cartas precatórias: juízes de mesma hierarquia do mesmo país ● Cartas rogatórias: juízes de países diversos O CPC mitigou o princípio da territorialidade da jurisdição em alguns casos ● Em casos de comarcas limítrofes, e que estejam situadas dentro de uma mesma região metropolitana, seria possível que o juiz determinasse a penhora de um bem que está localizado fora do limite territorial, sem que houvesse necessidade de carta precatória (cooperação). Outra ressalva se faz quanto à previsão de colheita de depoimento a distância (videoconferência - audiências virtuais), art. 385, §3º, CPC OBS: Territorialidade Local onde a decisão irá produzir efeitos Competência do órgão EX: divórcio em contagem produz efeitos em todo o país Indelegabilidade O exercício da função jurisdicional não pode ser delegado -> o órgão não pode delegar poder decisório à terceiros Entretanto, admite-se algumas hipóteses em que autoriza-se a delegação de outros poderes judiciais, como o poder instrutório, o poder diretivo do processo e o poder de execução das decisões. Inafastabilidade da jurisdição Principal efeito desse princípio: direito fundamentalde ação, direito de acesso ao Poder Judiciário, direito de acesso à justiça O direito de ação contém o direito de provocar o Judiciário, o direito de escolher o procedimento, o direito à tutela jurisdicional e o direito ao recurso, por exemplo Há uma exceção (art. 217, §1º, CF), pois é necessário que antes do ajuizamento da ação na Justiça Comum tenham sido exauridas as instâncias da Justiça Desportiva. Outra condicionante é o caso do requerimento administrativo que deve ser promovido antes do ajuizamento de uma ação (INSS). Juiz natural Garantia decorrente da cláusula do devido processo legal Resulta da conjugação de dois dispositivos constitucionais (incisos XXXVII e LII do art. 5º da CF): o que proíbe juízo ou tribunal de exceção e o que determina que ninguém será processado senão pela autoridade competente. Luigi Ferrajoli: “necessidade que o juiz seja pré-constituído ao fato, impossibilidade de derrogação e a indisponibilidade das competências, bem como a proibição de juízes extraordinários e especiais”. Exigência de investidura do juiz : nomeação pelo Presidente, aprovação do Senado, indicação do Governador, aprovação em concurso público... Juiz natural é o juiz competente de acordo com as regras gerais e abstratas previamente estabelecidas Competência jurisdicional: quantidade de jurisdição que é atribuído à cada órgão ● Canotilho: delimitação da esfera de atuação ● Canotilho: os poderes somente são atribuídos para exercerem determinadas funções (como a prestação de tutela jurisdicional às partes) ● Regras de distribuição de competência devem ser previamente estabelecidas (art. 42 e seguintes, CPC) 1. Critério da causa: distribui-se a competência conforme as partes envolvidas naquela relação (art. 102, I, d, CF) 2. Critério material: leva em consideração a natureza do objeto litigioso; 3. Em virtude do valor da causa; 4. Critério territorial: regra geral - domicílio do réu JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA Existem atos jurídicos da vida dos particulares que se revestem de importância para toda a coletividade, como o casamento. Nesse sentido, o Legislador impõe, para a validade desses atos de repercussão na vida social, a necessária participação de um órgão público ● o Estado o faz emitindo uma declaração de vontade, querendo o ato em si e também querendo o resultado objetivado pelas partes ● Realiza-se uma administração pública de interesses privados Nesse sentido, a jurisdição voluntária consiste em uma atividade estatal de integração de vontade entre os particulares e de fiscalização da observância dos requisitos legais para determinado resultado. O órgão jurisdicional não atua para resolver qualquer litígio, nem para salvaguardar algum interesse estatal, mas sim atua em prol de interesses particulares. ● Dessa forma, a doutrina tende a ver toda essa atividade como uma forma de administração pública de interesses privados, mesmo exercida por um juiz ● Heterogeneidade de situações: interdição de pessoas capazes, separação, alienação judicial… ● Critica-se que aqui não haveria atividade jurisdicional devido às seguintes situações: ● Não há opção (não é voluntária): para a formação de partido político, por exemplo, é necessário a autorização da Justiça Eleitoral ● Ausência de imperatividade e inevitabilidade: admite modificação (ex: suspensão da interdição) ● Não há inércia jurisdicional (juiz se insere entre os participantes do negócio jurídico) ● O objetivo dessa atividade não é uma lide ● Há alguns doutrinadores, como a Ada Pellegrini, que afirmam que a jurisdição voluntária não é nem voluntária, haja vista que não há, como mencionado, a voluntariedade por parte dos interessados. ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO Artigo 92 e seguintes da Constituição Federal Ada Pellegrini: “ o exercício do poder do Estado, quando dividido e distribuído por vários órgãos segundo critérios funcionais, estabelece um sistema de freios e contrapesos, sob o qual difícil se torna o árbitro e mais facilmente pode prosperar a liberdade individual” Estrutura dual da Justiça Nacional: ● Justiça Estadual: comum e militar - Juízes de 1º grau: temos os juizados de pequenas causas (juizados especiais cíveis e criminais - art.24, X), juízes de paz; ingresso por meio de provas e títulos; - Segunda instância: órgãos colegiados (Tribunais), divididos em turmas ou câmaras (Tribunal Pleno - desembargadores); promoção - por mérito ou antiguidade ● Justiça Federal: comum e especial - Supremo Tribunal Federal: garantia da ordem jurídico-constitucional; Nomeação: p.único, art.101 CF - pessoas entre 35 e 65 anos, notável saber jurídico, brasileiro e boa reputação. O Presidente designa e após ele será sabatinado pelo Senado. Aprovado, será nomeado pelo Presidente - Supremo Tribunal de Justiça: responsável pela uniformização de jurisprudências e da salvaguarda do direito infraconstitucional Nomeação: mesmos requisitos do STF + ⅓ dos ministros devem prover dos TRFs, ⅓ dos Tribunais de Justiça dos Estados e ⅓ egressos do MP ou advocacia - Segunda instância: Tribunais Regionais Federais (TRFs): competência originária + recursal da segunda instâncias (há 5 regiões, 1 para cada do país) - Primeira instância: Juízes Federais - seções judiciais em cada estado membro (1 seção por Estado) ● Também integram o Poder Judiciário: - Conselho Nacional de Justiça: não exerce função jurisdicional - disciplina internamente o Judiciário, órgão administrativo Funções: controle da função administrativa e financeira do Judiciário e fiscalização do cumprimento dos deveres dos juízes. - Ouvidorias de Justiça e Escolas de Magistratura Ministério Público Órgão responsável pela defesa dos interesses coletivos diante dos órgãos jurisdicionais Atribuição de fazer atual o ius puniendi estatal, também presente em ações civis A CF/88 não expressa a natureza do MP, porém também não o enumera como um quarto poder ● Segundo entendimentos do STF, o MP se integra à estrutura do Poder Executivo, o que não significa que ele não tenha independência, posto que não há qualquer relação de subordinação deste com o outro ente. ● O professor entende que há uma aproximação entre a natureza do MP e da Administração Pública, já que aquele promove e fiscaliza direitos e interesses, assim como combate e opina ante uma manifestação jurisdicional. Definição de José Frederico Marques: “Órgão através do qual o Estado procura tutelar, com atuação militante, o interesse público e a ordem jurídica na relação processual e nos procedimentos de jurisdição voluntária. Enquanto o juiz aplica imparcialmente o direito objetivo para com os litígios, o ministério público procurar defender o interesse coletivo na composição da lide a fim de que o Judiciário solucione esta secundus ou administre interesses privados nos procedimentos de jurisdição voluntária com a observância efetiva e real da ordem jurídica.” Princípios do Ministério Público: ● Princípio da Independência: Cada membro do MP age conforme sua consciência jurídica, sem se submeter à ingerência do Poder Executivo, de juízes, nem mesmo dos órgãos superiores da própria instituição (ex. Procurador Geral da República). Logo, a independência institucional se consubstancia, principalmente, na autonomia financeira e administrativa. ● Princípio da Unidade: Os vários agentes do MP integram uma só corporação para efeito institucional, de tal forma que sua atuação não deve ser desvinculada dos propósitos da instituição. ● Princípio da Indivisibilidade: Os diversos membros podem ser indiferentemente substituídos uns pelos outros nas suas funções, sem que dessa substituição decorra qualquer alteração subjetiva nos processos em que o MP atua. Estrutura do MP: o Ministério Público é formado por uma estrutura dual: ● Ministério Público da União - Ministério Público Federal, - Ministério Público do Trabalho, - Ministério Público Militar e - Ministério Público do DF. ● Ministério Público dos estados. - É organizado em quadro único. Art. 128 (CF) - [...] § 1º O Ministério Público da Uniãotem por chefe o Procurador-Geral da República, nomeado pelo Presidente da República dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de dois anos, permitida a recondução. 2º A destituição do Procurador-Geral da República, por iniciativa do Presidente da República, deverá ser precedida de autorização da maioria absoluta do Senado Federal. Funções do MP: ● Defesa da ordem jurídica; ● Defesa do regime democrático; ● Defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis Para desempenhar as múltiplas tarefas que a ordem jurídica confere ao MP, ora ele age como parte ora age como fiscal da ordem jurídica O MP age em nome próprio na defesa do interesse alheio O MP não tem compromisso nem com a parte ativa nem com a parte passiva da relação processual, portanto, este zela pela prevalência da ordem jurídica e pelo bem comum. Garantias institucionais: válida tanto para juízes quanto para o MP (art.95 e 128 da Constituição, respectivamente) a) Vitaliciedade: cargo só pode ser perdido mediante decisão judicial transitada em julgado perante uma infração gravíssima - impede perseguições. b) Inamovibilidade: não podem ser removidos do cargo sem ser por vontade própria, salvo se for por interesse público, constatado decisão tomada pelo voto da maioria absoluta dos membros e desde que seja assegurada a ampla defesa ao sujeito. c) Irredutibilidade de subsídios: o subsídio (salário), não pode ser reduzido como forma de pressão para o órgão/juiz tomar determinada posição. Garantias de imparcialidade: vedações para juízes quanto para o MP (art.95 e 128 da Constituição, respectivamente) a) Participação em partidos políticos; b) Exercer outro cargo além da função; c) Receber custas ou participação em processo; d) Receber auxílios ou contribuições de pessoas físicas; e) Exercer advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração (juízes) f) Exercer a advocacia (MP); g) Participar de sociedade comercial (MP); AÇÃO Ação em sentido material e processual O que é o Direito subjetivo? Carlos Alberto da Motta Pinto: O direito subjetivo seria compreendido como um poder jurídico, reconhecido pelo ordenamento em favor de alguém, de livremente exigir ou pretender de outrem um comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) ou, ainda, produzir determinados efeitos jurídicos que iniludivelmente se imporão à esfera jurídica patrimonial de um terceiro. Ação em sentido material: Se confunde com a garantia na fórmula proposta pelo Carlos Alberto da M. Pinto. ● A garantia consiste no conjunto de providências coercitivas, postas à disposição de um sujeito ativo em uma relação jurídica, de forma a assegurar a realização do seu direito, o qual foi lesado por um obrigado que infringiu ou ameaça infringir. ● Desse modo, o credor (por exemplo) passa do poder exigir a satisfação do seu direito de crédito para o poder agir. ● Segundo Carnelutti, quando há pretensão resistida (a pretensão do credor foi resistida pelo devedor, no caso de inadimplemento) surge a lide. ● Em virtude de o Estado deter o monopólio da violência, além da vedação da autotutela, há a possibilidade de o credor ajuizar uma ação perante o Judiciário para que o Estado venha a reconhecer o seu direito, determinar que o devedor satisfaça o direito (no caso) ou, se recalcitrar, que o próprio Estado-juiz determine compulsoriamente a apreensão de bens do patrimônio do devedor a fim de que sejam levadas à arrematação judicial e, assim, ressarcir o crédito. Ação em sentido processual: substituto do do anterior. É uma ação movida em face do Estado-juiz e do devedor (que será o réu), portanto há uma nova relação jurídica distinta. ● Em algumas situações admite-se, excepcionalmente, a autotutela. Nesses casos, o titular do direito subjetivo não se vale da ação em sentido processual, usando a própria ação em sentido material (ex. legítima defesa; art. 1210, §1º, CC). Até meados do século XIX não se conseguia uma nítida separação entre a ação processual e o direito material. Assim, concebia-se a ação como um direito novo decorrente da violação do direito material, exercido contra o infrator. Após a publicação da obra “Ação do Direito Civil Romano do ponto de vista do Direito Civil Moderno” (1856) por Bernhard Windscheid, a diferenciação passa a ser mais clara. A ação processual é entendida, pois, como o direito de tutela jurisdicional. Teoria Abstrata do Direito de Ação: o direito de agir não seria apenas autônomo ao direito subjetivo, mas também desvinculado, portanto, autônomo e abstrato ● (Questionamento que ensejou esse debate: E quando o resultado do processo for desfavorável para o querelante? Ou seja, e quando o processo não vislumbra a garantia do direito posto em causa?). Nessas circunstâncias, o fundamento do direito de agir (já que não se exige a efetiva existência do direito material) seria a consciência inerente a um direito subjetivo, ou, eventualmente, a comprovação da boa-fé. ● No fim, os autores dessa teoria acabam caindo em uma armadilha, posto que eles utilizam do direito material para fundamentar seus entendimentos. ● Mortara - jurista italiano - sofisticou o pensamento desses autores, afirmando que essa concepção se funda na mera afirmação da existência do direito, ou seja, quem ajuiza uma ação afirma a existência do direito (conscientemente e de boa-fé). ● O que leva o réu a participar do processo é o direito à ação, e não o direito material Teoria Concreta do Direito de Agir: Giuseppe Chiovenda e Adolf Wach. ● propõe que a tutela jurídica é prestada somente quando a sentença é favorável, de tal forma que o direito do autor à tutela jurídica somente existiria caso o julgado fosse procedente. ● Há uma vinculação do direito de ação ao direito material, o primeiro sendo dependente deste último. Assim, a pretensão à tutela jurídica se dirigia contra o Estado - que deveria conceder - e contra o adversário - que deveria suportá-la. ● Ação Declaratória: pode ser usada para declarar a inexistência de relação jurídica em determinados casos. A ação não tem como pressuposto um direito material insatisfeito, ela busca apenas trazer uma certeza. Essa ação permitiu ao Wach concluir que direito material não é um pressuposto necessário para o direito à tutela jurídica. Segundo o jurista, o réu teria direito inclusive à rejeição de uma demanda infundada e, assim, o réu também teria direito à tutela jurídica. No entanto, tal autor ainda mantém o vínculo entre esses dois direitos, pois ainda afirma que a tutela jurídica é prestada pela sentença favorável, logo, quando a sentença for de procedência, a tutela jurídica será prestada ao autor da ação; se for de improcedência, será prestada ao réu. Em suma, a pretensão à tutela jurídica possui natureza pública, autônoma em relação ao direito privado subjetivo, no entanto, não consiste, para o Wach, em um poder público aberto a todos que afirmam possuir uma pretensão à proteção jurídica, mas tão somente a quem obtiver uma decisão favorável. ● Chiovenda reconstrói a proposta de Wach. Nesse sentido, para Chiovenda, ação seria um poder em face do adversário, dependente de uma sentença favorável, ou seja, a ação se destina a produzir efeitos jurídicos, aos quais o adversário se sujeita de modo que ele não é obrigado a nada diante da sentença de procedência, somente é investido da ação aquele cuja a demanda é acolhida. Ação é um direito potestativo para Chiovenda, segundo análise do professor. Portanto, o direito de agir é autônomo, porém concreto. Eduardo Couture (processualista uruguaio): Concebe a ação como uma forma típica de direito constitucional de petição. ● Assim como o direito de petição se manifesta como uma garantia iniludível dos cidadãos diante do Estado, como um gênero, também faz o direito à ação (espécie). ● A ação seria, portanto, o direito do cidadão de exigir - sobre o que afirmaser seu direito - um pronunciamento do Poder Judiciário. Assim, não há qualquer dependência do conhecimento do direito material, sendo um direito de agir abstrato. ● Garantia individual do cidadão diante do Estado. Enrico Tullio Liebman: TEORIA ECLÉTICA - Reconhecia, como um reflexo da instituição dos tribunais, o direito fundamental de ação, que não se confunde com o direito presumido por alguém. ● Nessa lógica, os tribunais teriam a tarefa de ofertar justiça a quem pedir e por isso uma das regras fundamentais do nosso ordenamento asseguraria a todos a possibilidade de levar ao Judiciário a sua pretensão a obter Justiça. ● O direito de ação não se confunde com a própria ação, uma vez que esta não toca a qualquer um indistintamente e não possui conteúdo genérico. ● A ação possui, dessa forma, três elementos: sujeitos (autor e réu); causa petendi (direito ou a relação jurídica apontada como fundamento do pedido); e o petitum (concreto provimento jurisdicional postulado para a tutela do direito lesado ou ameaçado). ● Fixa condições para a existência da ação: - interesse de agir: decorre da necessidade de obter, através do processo, proteção de um interesse - legitimação para agir - possibilidade jurídica do pedido ● O que determina, para Liebman, a existência da ação é a presença dessas condições. Ou seja, não é necessário o efetivo reconhecimento do direito material. Somente tem direito à tutela jurisdicional quem possui razão. O direito de ação prescinde da existência do direito material, sendo suficiente a afirmação da existência deste último, conforme a teoria abstrata (adotada pelo professor). Há que se ter em mente a existência, conforme afirma Didier, de situações jurídicas complexas anteriores ao processo, assim como há aquelas ínsitas ao direito de ação, ou seja, que seriam posteriores à instauração do processo, portanto, seriam desdobramentos já do exercício efetivo do direito de ação, como o direito à tutela jurisdicional, o direito a técnicas processuais adequadas, entre outros. No primeiro caso se verifica a existência de direitos potestativos, enquanto que no último, cuida-se da existência de direitos prestacionais, ou seja, direitos subjetivos propriamente ditos. Assim, há inúmeras situações jurídicas decorrentes do direito de ação que compõem o seu conteúdo eficaz, ao contrário do que pensava Chiovenda (este afirmava que o direito de ação era em si próprio um direito potestativo - perspectiva estática). Afirma-se, então, que o direito de ação é compósito (composto por inúmeras situações jurídicas complexas) e dinâmico, que não se exaure com o julgamento do mérito do pedido, impondo-se ainda a utilização de técnicas processuais adequadas à implementação daquele direito material.Só assim é que se pode falar de efetividade da tutela jurisdicional do direito material. Por fim, quando se remete à adequação, impõe-se aferir a capacidade de promover a implementação do direito material, ou seja, examina-se se o meio possui aptidão para promover o fim (tutela devida do direito subjetivo). Direito de ação Diversas teorias foram desenvolvidas ao longo do tempo em relação à natureza jurídica da ação: a) Teoria imanentista/clássica/civilista: a ação seria uma qualidade do próprio direito subjetivo material, ao reagir a sua violação (Savigny) b) Teoria da ação como direito autônomo: a ação é autônoma do direito subjetivo material a ser objetivo de tutela. Há duas correntes: ● Teoria da ação como direito autônomo e concreto: Adolph Wach - a ação não pressupõe uma violação a um direito material (ex: ação meramente declaratória). O direito de ação é exercido contra o Estado e contra o adversário. Exige uma sentença favorável ao autor, sendo assim um direito público e concreto, existente quando houvesse o direito subjetivo pretendido (teoria concretista) ● Teoria da ação como direito potestativo: Giuseppe Chiovenda - ação não é um direito subjetivo pois não corresponde uma obrigação do Estado, mas que seria exercido contra um adversário, que ficaria em estado de sujeição. Teria como objetivo a produção de certo efeito jurídico em favor de um sujeito, com ônus para outro, devendo sujeitar-se à decisão ● Wach e Chiovenda reconhecem que somente haverá tido efetivo direito à tutela jurisdicional na sentença de procedência em favor do autor. O réu apenas reage frente a uma ação proposta c) Eduardo Couture: direito de ação = direito de petição frente ao órgão jurisdicional d) Doutrina de Liebman (teoria abstrata eclética): a ação é direito subjetivo instrumental, dele não corresponde uma obrigação do Estado. A função jurisdicional é apenas exercida quando o juiz profere sentença de mérito, ou seja, decisão sobre a pretensão material apresentada em juízo, seja ela favorável ou não. Destaca-se as condições da ação. Ou seja: ● Não exige que se reconheça efetivamente o direito subjetivo material ● Para que se dê algum tipo de julgamento sobre a caus, algumas condições devem ser atendidas. ● O direito de tutela somente se observa na sentença favorável Ação ≠ Direito subjetivo material ● Ação: entrar com uma ação processual não significa ter direito ao que está se pretendendo, há apenas uma pretensão para defender um direito ● Não se pode considerar a ação como direito exercido contra o juiz, pois este é apenas o agente do Estado ● O conflito de interesses não é imprescindível para que haja direitos e obrigações ● A ação é direito público, exercido contra o Estado, de quem se exige a prestação jurisdicional ● A ação é direito autônomo, pois não depende da existência do direito subjetivo material, e instrumental, uma vez que seu objetivo é solucionar uma pretensão de direito material. O direito de ação é um direito de tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva, independente da existência de direito subjetivo material Além disso, não se exaure com o ajuizamento de uma ação (é dinâmico) Art. 5: XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Processo judicial tem seu início em razão do ajuizamento da ação José Carlos Moreira Barbosa: “chama-se demanda ao ato pelo qual alguém pede ao Estado a prestação de atividade jurisdicional. Pela demanda começa a exercer-se o direito de ação e dá-se causa à formação do processo” A parte tem o direito de receber a tutela jurisdicional quando realmente tiver o direito material postulado Características do Direito de Ação: ● O direito de ação consiste em um direito público - Exigência de prestação jurisdicional se dirige ao Estado - Natureza constitucional: art. 5. XXXV CF ● O direito de ação é um direito subjetivo - Fica a cargo do requerente exercer ou não o direito. Este, uma vez exercido, cria o dever estatal de prestar a jurisdição ● O direito de ação é um direito autônomo - Desvinculou-se do direito material ● O direito de ação é um direito abstrato - Independe do reconhecimento da titularidade do direito material subjetivo pelo autor - Art. 312 CPC ● O direito de ação é um direito instrumental - Ada Pellegrini: a jurisdição existe para efetivar o direito subjetivo material, já que para se propor uma ação é necessário que se constate uma lesão ou perigo a um direito material - Finalidade: dar pretensão a um direito Elementos da ação Celso Neves: quando alguém propõe uma demanda, é que se torna possível identificar os elementos da ação, buscando determinar a identidade da demanda Os elementos da ação são responsáveis por circunscrever a coisa julgada 1. As partes Fredie Didier: a parte processual é aquela que está inserida em uma relação processual, atua com parcialidade e pode sofrer uma consequência jurídica em vitude da decisão Autor da ação/demandante: aquele que formula a demanda Réu/demandado: aquele em face de quem seformula tal pretensão 2. Causa de pedir Motivo pelo qual o demandante pleiteia algo ao órgão jurisdicional -> fatos e fundamentos jurídicos dos quais decorre o pedido Causa de pedir próxima: determinada pelos fundamentos jurídicos Causa de pedir remota: fatos que dão origem ao pleto CPC adotou a Teoria da Consubstanciação: o demandante deve expor todo o quadro fático necessário à obtenção da consequência jurídica pretendida na petição inicial 3. O pedido Objeto da demanda O pedido pode ser: ● Imediato: o provimento jurisdicional pleiteado ● Mediato: bem jurídico pretendido pelo autor ● Cumulação de pedidos: art. 337, parágrafo segundo, CPC - é possível acumular causas de pedir remotas e conjugar pedidos (ex: ação de reconhecimento de paternidade que, caso confirmada, se pleiteia uma ação de concessão de alimentos) Classificação das ações Quanto ao tipo de providência jurisdicional requerida pelo autor: a) Ações de conhecimento - Busca-se o pronunciamento do juiz sobre quem tem razão - O intérprete irá dirimir a controvérsia e certificar a eventual existência do direito - Investiga fatos ocorridos no passado e determina qual o direito aplicado b) Ações de execução - Busca-se um resultado prático, concreto com a intervenção do juiz - Ex: retirada de um bem do devedor e sua posterior entrega ao credor c) Ações urgentes - Busca-se proteger um possível direito, de forma transitória, que está na iminência de sofrer uma lesão irreparável ou de difícil reparação - Tutela provisória - Não afasta as outras ações Em relação à tutela requerida pelo autor do processo (Pontes de Miranda) a) Ação (meramente) declaratória - Autor se limita a solicitar uma declaração do Judiciário acerca da existência/inexistência de uma relação - Art.19,20 CPC: sobre a autenticidade de um documento - Tem como objetivo eliminar uma dúvida objetiva a respeito de determinada relação jurídica - Nas demais ações, essa característica também se faz presente, mas não se limitam a ela. - Ex: ação declaratória positiva - paternidade b) Ação constitutiva - Visa obter a declaração da constituição (ou modificação) de uma situação jurídica - Declara a existência de um direito potestativo - Ex: ação negativa, desconstitutiva: vício em contrato - Produz seus efeitos no plano meramente jurídico (no plano ideal) OBS: Ambas as ações mencionadas são autossuficientes, ou seja, se bastam a si mesmas e produzem seus efeitos jurídicos pretendidos no mundo ideal c) Ação condenatória - O autor busca, além da declaração da existência de um direito, de seu cumprimento - Sentença condenatória: precisa de outra ação para executar d) Ação mandamental - O juiz emite uma ordem, cujo descumprimento caracteriza-se como desobediência e é passível de sanções - Ex: mandato de segurança - Art. 77 CPC e) Ação executiva “lato sensu” - Possuem uma autorização para executar - A produção de efeitos independe de um posterior requerimento de execução - sentença já produz efeitos no mundo fenomênico - Juiz age de ofício DIREITO DE DEFESA/EXCEÇÃO Ao ser ajuizada uma ação, o réu tem o direito de se defender, em respeito às garantias do contraditório e da ampla defesa A defesa é um ônus do réu, decorrente do devido processo legal e do sistema do contraditório Art. 5 LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo contraditório O réu, através da exceção, pede justiça, solicitando a rejeição do pedido do autor (Ada Pellegrini) A defesa é: ● Um direito público subjetivo, constitucionalmente garantido ● É autônoma e independe da existência de direito material. ● Também é abstrata, pois trata-se de um direito de que seus argumentos e provas sejam levados em consideração no julgamento O processo deve prezar por manter a informação necessária e o diálogo possível e pertinente Ação e defesa estão em igual posição no processo O processo possui uma natureza dialética, o qual permite que uma parte pratique um ato (tese), a outra pratique um ato em resposta (antítese) e, por fim, o juiz decida (síntese) a qual funciona a decisão Cândido Rangel Dinamarco: defesa = conjunto de faculdades disponibilizadas em favor do réu para que ele possa se opor à pretensão formulada pelo autor toda atividade do réu durante o processo Exceção/defesa cada uma das alegações próprio direito (assento constitucional) Ação do demandante ≠ Ação do demandado (formula um pedido) (resiste ao pedido) O réu pode adotar 3 comportamentos: ● Se manter inerte - O réu NÃO tem o dever jurídico de responder, é um direito e um ônus (atua em nome do interesse próprio) - Se não comparecer, será considerado revel (prejuízo para o rel) - Revelia - art. 344, CPC: “Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor.” ● Oferecer sua resposta ● Reconhecer a procedência do pedido - Há uma autocomposição O professor concorda com o pensamento majoritário que, ao se defender, o réu NÃO está exercendo direito de ação, uma vez que não há propriamente um interesse de agir do réu, este tem quando muito um interesse em se defender. Ele não formula uma pretensão, apenas resiste Classificação das defesas Em relação à matéria: 1. Defesas materiais/de mérito ● Versam sobre a própria situação de direito material que se está discutindo (objeto litigioso) ● Fatos envolvimentos, qualificação jurídica dos fatos ● A defesa de mérito pode ser: a) Direta - Nega os fatos/efeitos alegados pelo autor b) Indireta - O réu não nega os fatos/qualificação, mas alega outros pontos que impedem, modificam ou extinguem os direitos do autor 2. Defesas processuais ● Dizem respeito às condições da ação, aos pressupostos processuais, aos impedimentos ● Geralmente são realizadas antes das defesas de méritos (são defesas preliminares) PROCESSO O processo é o meio ou o instrumento para a solução jurisdicional d eum conflito Para que a jurisdição seja exercida, a há necessidade de a demanda ser apresentada, por meio do ajuizamento de uma ação, o que faz surgir o processo judicial. O réu, naturalmente, passa a integrar o processo ao ser citado Art. 238 CPC “Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual” Logo, proposta a demanda, instaura-se a relação jurídica processual, inicialmente de forma linear, entre autor e o Estado-juiz, tornando-se angular quando o réu passa integrá-la, ao ser citado ou comparecer espontaneamente ao processo Art. 239 CPC “Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido.” O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo nas exceções previstas em lei (art. 2 CPC) Processo e procedimento João Mendes Júnior: “uma coisa é o processo, outra coisa é o procedimento” Desde 1868, com a obra de Bulow (Teoria dos pressupostos processuais e das exceções dilatórias): ● Processo: possui uma força que motiva e justifica a pratica dos atos do procedimento, interligando os sujeitos processuais; possui finalidade teleológica; é indispensável à função jurisdicional ● Procedimento: meio extrínseco pelo qual se instaura, desenvolve-se e termina o processo; modo de mover e a forma em que é movido o ato ● Atos: a materialidade dos documentos nos quais se corporificam os atos do procedimento (“consultar os autos”) Cândido Dinamarco: abstrações (alma do processo), procedimento (corpo físico) Processo: relação jurídica distinta daquela que se compõe o objeto litigiosoSurgimento da relação jurídica depende da existência de elementos (pressupostos processuais) Categorias fundamentais do processo ➔ Pressupostos processuais ➔ Condições da ação ➔ Mérito Celso Neves: o juiz somente ingressaria no exame do mérito da causa se estiverem preenchidos os pressupostos processuais e as condições da ação Barbosa Moreira: pressupostos processuais é o filtro processual capaz de reter postulações inviáveis formalmente falando. “Se o passaporte está em ordem” Exceções processuais (Oscar Von Bulow): réu alega vícios no processo 1. Pressupostos processuais a) De existência/constituição: vitais à formação do processo - Provocação inicial: ajuizamento da demanda (petição inicial) - Jurisdição: formular demanda para um órgão competente - Citação do réu: possibilidade do réu participar do processo b) De validade: elementos que dão viabilidade para que o processo possa produzir os seus efeitos - Petição inicial apta: atenda os requisitos estipulados no art. 330, § 1º - Competência e imparcialidade do órgão jurisdicional - Capacidade de ser parte e de estar em juízo: de titularizar direitos e deveres e poder exercê-los Art. 70. Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo. c) Negativo: extrínsecos ao processo (naturalmente não devem fazer parte) - Litispendência: repetição de uma ação já em curso - art. 337 CPC - Inexistência de coisa julgada - Perempção: o autor abandona o processo por mais de três vezes -> o processo se extingue (art. 485, § 3º) - Convenção de arbitragem: alegada a existência, extingue-se o processo e não se examina o mérito. Isso ocorre haja vista que as partes renunciaram a jurisdição (art. 337, X + art. 485, VII, CPC) 2. Condições da ação Mérito, admissibilidade e condições de existência da ação José Barbosa Oliveira: seria mais interessante falar em condições para o legítimo exercício do direito de ação Art. 485, CDC Objetivo: impedir que a máquina judicial opere "a toa" a) Legitimidade para agir - Existência de vínculo entre os sujeitos da demanda e a situação jurídica afirmada - Aferida diante da relação jurídica de direito material - Se aplica tanto ao réu quanto ao autor Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. - Legitimidade ordinária: correspondência entre as figuras das partes com os polos observados na petição inicial (defende em juízo interesse próprio) - Legitimidade extraordinária: não há correspondência -> legitimado defende em nome próprio interesse alheio - Ilegitimidade de uma das partes: o juiz pode: indeferir a petição inicial; extinguir o processo sem resolução de mérito; final do processo: julgamento de mérito e pedido improcedente b) Interesse de agir - Interesse secundário e processual - Objeto: provimento que se pede ao juiz como meio para obter a satisfação de um interesse primário - Utilidade: processo pode resultar em algum proveito para o autor - Necessidade: jurisdição é a ultima ratio de solução do conflito
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