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A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 21 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 1 SUBSTANTIVE APPROACH IN TEXTBOOKS AND RELATIONSHIP WITH OFFICIAL DOCUMENTS Ana Ligia Alves SILVA Fernanda Meneghetti FERRO Juliana das Neves MARTINS Tailene Munhoz BARBOSA Thaís Machado de SÁ Orientadores: Prof. Dr. Sebastião Leite Gonçalves e Profa. Ms. Marília Curado Valsechi RESUMO: Neste artigo, propomos analisar diferentes materiais didáticos, com o objetivo de avaliar o tratamento dispensado à categoria dos substantivos. Essa análise está fundamentada em conceitos teóricos encontrados em gramáticas e manuais de linguística e apresenta uma comparação entre os materiais analisados. Ao final, objetiva-se verificar se há uma consonância entre as abordagens contidas nos materiais didáticos e as diretrizes presentes nos documentos oficiais. PALAVRAS-CHAVE: materiais didáticos; substantivo; uso/reflexão. ABSTRACT: In this paper, we propose different analysis of textbooks with objective to evaluate the treatment exempted category of nouns. This analysis will be grounded by theoretical concepts found in grammatical and manuals of linguistic we present a comparing between materials analyzed. In the end we intend verify if there is a consonance between approach contained in textbooks and present guideline on officials documents. KEY-WORDS: textbooks; noun; use/reflection. 1. Introdução O presente trabalho tem como tema a classificação semântica dos substantivos e se propõe a analisar, de modo comparativo, o tratamento dispensado a essa categoria gramatical em diferentes materiais didáticos: Caderno do aluno da Proposta Curricular – São Paulo faz escola – 6º ano/volume 1/1º bimestre, ano de 2010, Caderno do Professor da Proposta Curricular – São Paulo faz escola – 6º ano/volume 1/1º bimestre, 1 Trabalho apresentado às disciplinas Semântica da Língua Portuguesa e Estágios Curriculares Supervisionados II: Língua Materna, do 5º ano do Curso de Licenciatura em Letras do IBILCE/UNESP. Orientação: Prof. Dr. Sebastião Carlos Leite Gonçalves (Departamento de Estudos Linguísticos e Literários) e Profa. Ms. Marília Curado Valsechi (Departamento de Educação). A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 22 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 ano de 2009, ambos produzidos pela Secretaria do Estado de São Paulo (SEE), livro didático Para ler o mundo (6º ano), de Barreto, Sette, Paulino e Starling, publicado pela editora Scipione no ano de 2002 e o livro didático Linguagem Nova (6º ano), de Faraco e Moura, publicado pela editora Ática no ano de 2007. Nessa análise, temos como objetivo verificar a abordagem do tema nos materiais didáticos apresentados, buscando reconhecer se essas abordagens propiciam um ensino significativo da língua materna. Além disso, temos também como meta avaliar se esses materiais didáticos estão em consonância com as diretrizes contidas nos documentos oficiais – Parâmetros Curriculares Nacionais de língua portuguesa (1998) e Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2008). Para realizarmos esse trabalho, adotamos como método a análise comparativa dos materiais didáticos, com o intuito de apontar, com base nas comparações dos resultados obtidos, os problemas encontrados, bem como possíveis reflexões e críticas em relação a esses materiais. De acordo com o que propomos neste artigo, consideramos de grande relevância a realização deste trabalho, dado que o livro didático é um material muito importante que auxilia o professor na sua prática docente. Segundo o que afirma Batista (1999, p. 543, apud BUNZEN, 2007, p. 79), em suas discussões, o livro didático “[...] desenvolve um importante papel no quadro mais amplo da cultura brasileira, das práticas de letramento e do campo da produção editorial e compreende, consequentemente, diferentes dimensões de nossa cultura, de suas relações com a escrita e com o letramento.” Nesse sentido, analisar esses materiais didáticos representa uma atividade muito produtiva para nós futuros professores, uma vez que encontraremos esses tipos de materiais e teremos por obrigação saber utilizá-los de modo significativo para o processo de ensino/aprendizagem dos nossos alunos. Tendo em vista o objetivo deste trabalho, o presente artigo está organizado nas seguintes seções: Fundamentação teórica, cujo conteúdo contempla os subsídios teóricos que embasaram nossa pesquisa, Descrição e Análise, seção na qual apresentamos, separadamente, a análise de cada um dos materiais didáticos supramencionados, em seguida, está a seção Encaminhamentos, na qual apresentamos possíveis propostas de como abordar em sala de aula, de modo significativo, o tema “classificação semântica dos substantivos” e, por fim, a seção Considerações Finais, cujo conteúdo refere-se às conclusões, as quais chegamos após realizarmos a análise dos materiais didáticos objetos de estudo deste trabalho. A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 23 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 2. Fundamentação teórica O ensino de língua materna, desde os anos 70, tem sido bastante discutido com o objetivo de alcançar melhorias na qualidade de ensino no país. A base dessa discussão consistia, principalmente, nas competências de leitura e de escrita, dado que o baixo rendimento dos alunos nessas competências configurava o principal motivo da má qualidade de ensino. Diante desse cenário, surgiram propostas de reformulação do ensino que visavam mudanças na maneira de ensinar que pouco consideravam os conteúdos de ensino. Nesse sentido, a valorização da criatividade dos alunos passou a ser concebida como ponto de partida para o desenvolvimento das habilidades de comunicação e expressão dos aprendizes. Apesar dessa iniciativa de revisão do ensino, foi somente na década de 80 que as críticas à educação se estabeleceram de forma consistente, dando origem a práticas de ensino em que o uso da linguagem pode ser tanto o ponto de partida como o ponto de chegada. Com o decorrer do tempo, tais discussões em torno do ensino de Língua Portuguesa foram desenvolvendo-se, possibilitando o advento de documentos oficiais que apresentam novas concepções acerca do ensino de língua materna no Brasil. Um desses documentos de nível nacional são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), cuja elaboração data do ano de 1998. É possível dizer que esse documento é de base funcionalista, uma vez que assume uma nova concepção de língua, não mais concebida como um sistema fechado, “[...] mas como produto e instrumento de comunicação, de persuasão, de expressão, de simulação, enfim, das manifestações humanas.” (OLIVEIRA; CEZARIO, 2007, p. 89). Diante disso, o ensino de Língua Portuguesa passa a priorizar o desenvolvimento de um sujeito autônomo, que domine, principalmente, as competências de leitura e produção textual. Com essa nova visão de ensino, a proposta é a de que a gramática deixe de ser o foco, visto que o texto passa a ser a unidade de ensinoe o gênero do discurso o objeto, se a gramática passa a ser considerada como relativa ao conhecimento que o falante tem de sua linguagem, as atividades curriculares em Língua Portuguesa correspondem, principalmente, a atividades discursivas: uma prática constante de escuta de textos orais e leitura de textos escritos e de produção de textos orais e escritos, que devem permitir, por meio da análise e reflexão sobre os múltiplos aspectos envolvidos, a expansão e construção de instrumentos que permitam ao aluno, progressivamente, ampliar sua competência discursiva. (BRASIL, 1998, p. 27) A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 24 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 Postula-se um ensino em que a gramática passa a ser um suporte para que o aluno se constitua como produtor e receptor de textos. Em decorrência de tal proposição, os conteúdos gramaticais devem compor as atividades de reflexão sobre a língua, sendo que deve ser considerado aquilo que é mais relevante para o desempenho linguístico e para as produções textuais. Diante dessa nova orientação para o ensino da gramática, tal ensino deve partir das atividades linguísticas, que consistem no desenvolvimento do conhecimento intuitivo que todo falante tem sobre a língua, ir para as atividades epilinguísticas, que consistem numa atitude reflexiva sobre a organização e o funcionamento da língua e da linguagem, sem a preocupação de definir conceitos, mas sim de lançar hipóteses, e, por fim, para as atividades metalinguísticas, ou seja, a explicitação de uma teoria gramatical. (MANINI, 2009, p. 72). Com base na citação acima, o ensino deve orientar-se pelo eixo do uso (prática de leitura e escuta de textos e prática de produção de textos orais e escritos), bem como pelo eixo da reflexão (prática da análise linguística – AL). Para Mendonça (2006a, p. 204), a AL configura-se como uma complementação “[...] às práticas de leitura e produção de texto, dado que possibilitaria a reflexão consciente sobre fenômenos gramaticais e textual-discursivos que perpassam os usos linguísticos, seja no momento de ler/escutar, de produzir textos ou de refletir sobre esses mesmos usos da língua.” Tendo em vista essa nova organização do ensino de língua portuguesa, o ensino gramatical não deve ser desarticulado das práticas de linguagem, além de não dever se atentar exclusivamente a regras e imposições de uso, características de um modelo clássico cujo objetivo é identificar, definir e classificar estruturas, categorizando-as como um mero exercício de repetição. Como alternativa a esse modelo tradicional de categorização, a prática de ensino da língua portuguesa pode adotar os pressupostos de uma teoria de base cognitivista, como a teoria dos protótipos, cuja finalidade é conceber as categorias linguísticas como não discretas. Desse modo, o que a tradição gramatical classifica como pertencente ou não pertencente a uma dada categoria, a teoria da prototipicidade conceberá graus de pertencimento a uma dada categoria. A adoção da perspectiva da prototipicidade permite que se alcance resultados diferentes daqueles almejados pela gramática tradicional, cuja descrição, geralmente, não condiz com os usos da linguagem, fato que evidencia a necessidade de se buscar apoio em outros materiais e fontes, como, por exemplo, em manuais de linguística, que contemplam a língua em seu uso comunicativo. Com a adoção dessa perspectiva alternativa de ensino, A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 25 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 ou seja, a proposta de um ensino que não responde mais às classificações presentes em manuais de gramática, que se fundam em identificação e memorização de terminologias, os conteúdos gramaticais deixam de ser o centro do ensino. De acordo com as considerações expostas, foi pesquisado em gramáticas tradicionais, bem como em manuais de linguística o tratamento dado à categoria de substantivo. Com base nessa pesquisa, concluímos que os gramáticos definem de maneira semelhante a categoria supracitada. Dessa forma, nas gramáticas prescritivas, são apresentados conceitos convergentes em relação ao tratamento dado aos substantivos, que expomos no quadro a seguir: (CUNHA; CINTRA, 2008, p. 191) “Palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral.” (CEGALLA, 2005, p. 130) “São palavras que designam os seres.” (ABAURRE; PONTARA, 2006, p. 172) “São as palavras que designam seres em geral, reais ou imaginários.” (BECHARA, 2006, p. 70) “É a classe de palavra que se caracteriza por significar o que convencionalmente chamamos objetos substantivos, isto é, em primeiro lugar, substâncias (homem, casa, livro) e, em segundo lugar, quaisquer outros objetos mentalmente apreendidos como substâncias, quais sejam qualidades (bondade, brancura), estados (saúde, doença), processos (chegada, entrega, aceitação)” Quadro 1. Definição de substantivo segundo gramáticos. Em contrapartida, os conceitos encontrados nos manuais de linguística ampliam a noção dada pela gramática normativa, possibilitando uma reflexão maior sobre o uso da língua. Nesse sentido, percebemos que para os gramáticos prescrivistas a língua é passível de categorizações discretas, enquanto para os linguístas a língua deve ser tomada como um instrumento de comunicação e não como um sistema fechado e totalmente previsível. Seguem abaixo as definições de substantivo pesquisadas em manuais de linguística: (CASTILHO, 2010) “[...] o substantivo tem por propriedade básica referenciar, desempenhando um papel importante no texto.” “Em nossa tradição gramatical e lingüística, o termo referência se especializou para indicar “designação, denominação” de seres e coisas.” “Denomina-se referenciação a função pela qual um signo linguístico representa quaisquer entidades do mundo extralinguístico, reais ou imaginários” (Ducrot/Todorov, 1972/1998, apud CASTILHO, 2010, p. 126). (CAMACHO et al., 2009) “Um primeiro fato a observar no comportamento das palavras que integram a categoria dos substantivos é o potencial que têm de denominar uma entidade de um dado universo de referência. Em termos gerais, é por meio dos substantivos que denominamos os seres em geral – carro, gato, homem, Brasil – e as qualidades, ações ou estados – beleza, despedida, alegria – considerados em A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 26 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 si mesmos, independentemente dos seres com que se relacionam. Nesse sentido, pode-se dizer que, semanticamente, o substantivo se caracteriza por ser autônomo e provido de um potencial de referência que lhe é próprio.” “Semanticamente, além de denominar, o substantivo referencia, função pela qual um signo lingüístico se refere às coisas, aqui entendidas como qualquer entidade do mundo extralingüístico, real ou imaginário. Um outro modo de entender a referenciação dos substantivos é analisar seu funcionamento circunscrito ao universo textual, ou seja, não mais tratá-lo como objeto do mundo, mas como objeto do discurso.” “Todas essas diferentes entidades [tipos de entidades diferentes] podem ser codificadas na língua por meio dos substantivos, que funcionam como um instrumento da língua para se referira entidades em algum mundo, aqui entendido não como “o ‘mundo real’, mas um ‘mundo mental’, uma representação mental ou um modelo. Importa perceber que entidades não são ‘coisas na realidade’, mas ‘coisas na mente’”.” Quadro 2. Definição de substantivo segundo linguistas. Além das definições gerais de substantivo expostas acima, pesquisamos também, visto que julgamos relevantes para este trabalho, as seguintes subclassificações dessa categoria gramatical: substantivos comuns/próprios, simples/compostos, primitivos/derivados, concretos/abstratos e contáveis/não-contáveis. Nessa pesquisa, detectamos, que no que diz respeito às definições das categorias simples/compostos e primitivos/derivados, tanto gramáticos como linguístas as concebem de modo semelhante, entretanto, nas demais categorias, observamos que existem divergências entre esses autores, sendo que os conceitos encontrados nos manuais de linguística ampliam aqueles encontrados nas gramáticas, permitindo uma reflexão mais significativa da língua. Considerando essas divergências conceituais existentes entre as categorias comuns/próprios, concretos/abstratos e contáveis/não-contáveis, estas serão analisadas de modo mais detalhado, tomando por base as definições expostas nos quadros que se seguem: Definição das gramáticas tradicionais Definição dos manuais de linguística Comuns “Os que designam seres da mesma espécie” Próprios “Os que se aplicam a um ser em particular” (CEGALLA, 2005, p. 130) “Os substantivos comuns denominam, em traços gerais, a classe de entidades à qual pertence o seu referente.” Além disso, para os autores “[...] os substantivos comuns têm ainda uma função definidora descritiva, colocando em uma determinada classe qualquer elemento por eles denominado.” “Diferentemente dos substantivos comuns, os substantivos próprios não trazem a descrição de seus referentes, uma vez que não se aplicam a qualquer elemento de uma classe, mas a um único referente. Desse modo, os substantivos próprios exercem apenas as funções denominadora e referenciadora.” A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 27 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 (CAMACHO et al., 2009) Quadro 3. Definição de substantivos comuns/próprios. Definição das gramáticas tradicionais Definição dos manuais de linguística “Substantivo concreto é o que designa o ser de existência independente.” “Substantivo abstrato é o que designa ser de existência dependente cuja existência depende da pessoa ou coisa que dê ou apresente prazer, beijo, trabalho, e assim por diante.” (BECHARA, 2006, p. 70) “É apenas na função de referenciação que os substantivos se definem como concretos, ou como abstratos. Os substantivos concretos têm referentes individualizados, enquanto os abstratos remetem a referentes que se abstraem de outros referentes [...]. “As subcategorias concreto e abstrato não são entidades discretas, pois a individualização se faz, na fala, em diferentes graus, de acordo com: a) o modo como é feita a referenciação no sintagma nominal; b) o modo como o sintagma nominal é inserido na oração; c) a organização referencial do texto. (NEVES, 2000, p. 88) Quadro 4. Definição de substantivos concretos/abstratos. Definição das gramáticas tradicionais Definição dos manuais de linguística “Outra subclasse dos objetos substantivos repousa na variedade da sua extensão, que pode ser descontínua ou contínua. No primeiro caso a classe é constituída por objetos isolados, como partes individualmente consideradas, e recebem o nome de contáveis: homem, mulher, casa, livro, etc. No segundo caso, refere-se a classe a objetos contínuos, não separados em partes diversas, que podem ser massa ou matéria, ou ainda uma ideia abstrata, e recebem o nome de não contáveis: oceano, vinho, bondade, beleza. Estes não contáveis constituem em geral os singularia tantum, isto é, habitualmente só se usam no singular.” (BECHARA, 2006, p. 72) “Os substantivos contáveis ou numeráveis “referem- se a conjuntos encarados como grandezas descontínuas, discretas, i.e, conjuntos em que é possível distinguir partes singulares e partes plurais, e enumerá-las”, como criança, árvore. Os não contáveis, ou substantivos de massa, ao revés, não podem ser enumerados, e por via de consequência não são pluralizáveis” (Mira Mateus et al., 1989/2003/2005: 78, apud CASTILHO, 2010, p. 467). Quadro 5. Definição de substantivos contáveis/não-contáveis. Com base nos subsídios teóricos apresentados, explicitaremos, na seção seguinte, a descrição e a análise dos materiais didáticos – objetos de estudo deste trabalho – relacionando-os aos conceitos teóricos. 3. Descrição e análise 3.1. Proposta curricular – São Paulo faz escola (SÃO PAULO, 2008; 2009; 2010) Uma das diretrizes contida nos documentos da Proposta Curricular do Estado de São Paulo (São Paulo, 2008) é não pensar o ensino de língua portuguesa de maneira fragmentada, como simples decodificação de conteúdos e reprodução de ideias. Nesse sentido, objetiva-se ter como ponto de partida o texto no ensino de língua portuguesa, A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 28 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 tentando compreender a função do texto na sociedade e de que forma deve ser produzido e utilizado com o intuito de atingir o objetivo desejado. A proposta de o conhecimento partir sempre do texto, tendo-o como base para o estudo dos conteúdos, será colocada sempre em uma situação de comunicação, com vistas a tencionar o desenvolvimento de habilidades e competências – especialmente, de leitura e escrita. Embora a Proposta Curricular pretenda esses objetivos notamos que, tanto no Caderno do Aluno quanto no Caderno do Professor, não há a apresentação de conceitos em relação à categoria de substantivo. No Caderno do Professor, há algumas orientações que servem para direcionar o trabalho em sala de aula ou como constatamos no documento da Proposta “nos Cadernos do Professor são apresentadas situações de aprendizagem para orientar o trabalho do professor no ensino dos conteúdos disciplinares específicos.” (2008, p. 9). Tais orientações, por exemplo, são dadas da seguinte maneira “Você pode, então, definir substantivos como essas palavras que nomeiam os seres, os sentimentos, os desejos, as ideias, etc. Pode ainda destacar que, nos textos que produzimos, orais ou escritos, os substantivos vão indicar os temas centrais que estão sendo abordados.” (SÃO PAULO, 2009, p. 19). Levando em conta as considerações supramencionadas, constatamos que, apesar de não haver uma explicitação de conceitos, o que poderia possibilitar um trabalho mais autônomo do professor, na Proposta Curricular – São Paulo faz escola, o tratamento dispensado à categoria de substantivo, indicado nas orientações contidas no material, corresponde a uma reprodução das definições encontradas em gramáticas normativas. Além disso, os exercícios propostos não contemplam um ensino significativo da língua portuguesa, pois constituem-se de atividades repetitivas de cópia de palavras. Nesse sentido, percebemos que esse material não cumpre totalmente os objetivos propostos nos documentos oficiais, que visam a um ensino que parta necessariamente do texto, uma vez que as situações de aprendizagem têm como ponto de partida o texto, mas os exercícios representam meras atividades de cópia, não possibilitando uma articulação entreos textos e os conteúdos abordados e tão pouco a formação de um aluno/indivíduo autônomo. Abaixo, estão exemplificados alguns desses exercícios: Figura 1. Modelo de exercício da Proposta Curricular – São Paulo faz escola. A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 29 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 Figura 2. Modelo de exercício da Proposta Curricular – São Paulo faz escola. Entretanto, um ponto que diferencia esse material é o fato de ele conferir ao substantivo a função de construir o sentido básico de um texto, já que os substantivos informam o tema central sobre o assunto tratado. Para dar conta desse aspecto, o material sugere ao professor que antecipe o texto Circuito fechado, de Ricardo Ramos, presente na Situação de aprendizagem 5, com o objetivo de explicitar aos alunos essa função do substantivo. Segue abaixo o texto: Circuito Fechado Ricardo Ramos Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, telefone, agenda, copo com lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas, caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo. xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. (Fonte: SÃO PAULO. Caderno do aluno: língua portuguesa – linguagens, códigos e suas tecnologias, ensino fundamental, 6 o ano, volume 1/Secretaria da educação; Coord. Maria Inês Fini. – São Paulo: SEE, 2010. p. 39) 3.2. Para ler o mundo O livro didático (LD) Para ler o mundo organiza-se em seções e, para análise desse material, nos atentaremos à seção Sistematizando, cujo conteúdo abordado são as classes gramaticais. Nesse LD, o tratamento dado à categoria substantivo diferencia-se daquele encontrado na Proposta Curricular – São Paulo faz escola, pois há apresentação de conceitos referentes ao tema, que estão desvinculados de qualquer tipo de texto, e localizam-se antes dos exercícios propostos. Apesar dessa diferença, o livro A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 30 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 Para ler o mundo e a Proposta Curricular – São Paulo faz escola assemelham-se em relação aos conceitos aapresentados, já que, em ambos os materiais, esses conceitos representam uma reprodução das definições contidas em gramáticas tradicionais. Em relação aos exercícios presentes nesse LD, observamos que não partem do texto, ao contrário disso, o texto surge como pretexto para o ensino de língua portuguesa. Nesses exercícios, aparecem trechos e frases de textos já abordados na unidade, porém de forma fragmentada, não permitindo uma reflexão produtiva a respeito do funcionamento efetivo da categoria em análise na língua. Além disso, não há uma coerência entre os exercícios e as definições expostas, dado que o livro apresenta os conceitos das várias subclassificações de substantivos, bem como as noções de flexão de número e gênero referentes a essa categoria, mas solicita nas atividades, predominantemente, atividades de flexão, dispensando apenas três (de 12) exercícios para as classificações semânticas dos substantivos. Segue abaixo um exemplo de exercício presente neste livro: Figura 3. Modelo de exercício do livro Para ler o mundo. Tendo em vista o exemplo citado, constatamos que os exercícios não possibilitam um ensino produtivo de língua materna, uma vez que são, predominantemente, atividades de identificação, classificação e preenchimento de lacunas. Conforme discute Marcuschi (2005, p. 54), esse modelo de exercício caracteriza-se sempre por perguntas “[...] que sugerem atividades mecânicas de transcrição de frases ou palavras.”. Além disso, como afirma o autor (op. cit.), os verbos mais frequentes nesses tipos de perguntas são “copie, retire, aponte, indique, transcreva, complete, assinale, identifique etc.”. Apesar dessas insuficiências apontadas, o livro Para ler o mundo apresenta uma característica positiva, pois aborda a questão do contexto linguístico quando menciona: A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 31 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 As palavras não funcionam da mesma maneira nas frases. Uma mesma palavra pode ter funções diferentes, dependendo da situação de comunicação em que ocorre, e pode pertencer a diferentes classes gramaticais, de acordo com: (2007, p. 18). No entanto, notamos que há uma utilização equivocada do termo “situação de comunicação”, já que o livro não considera com situações comunicativas, ou seja, o ensino não parte de situações reais de comunicação, não levando em conta a prática social do aluno. Consideramos que o que de fato é tratado, nesse material didático, é o contexto linguístico, o qual pode ser observado na figura seguinte: Figura 4. Abordagem do contexto lingüístico em Para ler o mundo. 3.3. Linguagem Nova O livro didático Linguagem Nova, assim como o livro Para ler o mundo, organiza-se em seções, sendo uma delas intitulada Reflexão sobre a língua. Para a análise desse LD, focalizaremos para a seção supracitada, visto que aborda a categoria substantivo – tema deste trabalho. Nesse LD, o tratamento dispensado ao estudo dos substantivos é divergente em relação aos demais materiais didáticos analisados, dado que não há apresentação direta de conceitos. Os conceitos vão sendo construídos durante a execução das atividades, permitindo uma reflexão maior em relação à categoria estudada. Essa reflexão ocorre, pois o conteúdo não é dado como pronto, o que faz com que o aluno pense de modo mais crítico sobre sua língua. Nesse sentido, os conceitos aparecem diluídos nos exercícios propostos e estão sempre relacionados com um determinado texto. Poresse motivo, avaliamos que esse LD apresenta uma tentativa de ensino que parta propriamente do texto. Vejamos um exemplo: A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 32 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 Figura 5. Construindo a noção de substantivo em Linguagem Nova. Partindo do exemplo acima, observamos que o livro Linguagem Nova tem como ponto de partida o trabalho com os gêneros textuais, além de abordar nos exercícios uma diversidade de gêneros como, por exemplo, frases de revistas, o que é? o que é?, poema, acróstico e certidão de nascimento, permitindo, assim, uma reflexão por parte dos alunos acerca das características dos gêneros estudados. De acordo com as considerações expostas, verificamos que os conceitos trabalhados, nesse livro, diferentemente dos demais materiais, não correspondem a uma reprodução fiel das gramáticas normativas, uma vez que as definições são um pouco mais abrangentes e permitem uma reflexão diferente daquela propiciada pelos manuais de gramática. Contudo, esse LD também traz exercícios de identificação e classificação, mas essas atividades não são predominantes e, ainda assim, podem ser consideradas mais significativas em relação àquelas analisadas nos outros materiais didáticos. Segue abaixo um exemplo: A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 33 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 Figura 6. Modelo de exercício do livro Linguagem Nova. Essa atividade, apesar de representar um modelo de exercício de preenchimento de lacunas, possibilita uma reflexão a respeito da constituição do sentido do texto e a função que os substantivos assumem nessa construção de sentidos, de modo que percebemos com esse exercício a possibilidade de se trabalhar com a noção de referenciação, segundo Camacho et al. (2009, p. 1) “[...] outro modo de entender a referenciação dos substantivos é analisar seu funcionamento circunscrito ao universo textual, ou seja, não mais tratá-lo como objeto do mundo, mas como objeto do discurso”. 4. Encaminhamentos 2 Diante da descrição e análise exposta na seção anterior e das diretrizes contidas nos PCNs, temos como proposta um ensino que parta propriamente do texto, permitindo uma reflexão crítica por parte dos alunos em relação à língua portuguesa. Nesse sentido, visamos a um ensino que se paute na prática da análise linguística que, na esfera escolar se baseia no pressuposto de que a linguagem não é uma estrutura dada, acabada, mas uma forma de (inter)ação social, que funciona segundo certas condições de produção dos discursos – interlocutores, situação sociocomunicativa, gênero, forma de circulação, etc. Transposta para o âmbito da escola, essa perspectiva considera a construção de efeitos de sentido como o ponto central das discussões a 2 Todas as orientações para o ensino da categoria substantivo, presentes nesta seção, estão desenvolvidas e detalhadas nos planos de aula que seguem em anexo. A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 34 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 serem efetivadas em sala de aula, deslocando profundamente a organização dos conteúdos e competências no ensino de língua materna em vários aspectos.” (MENDONÇA, 2006b, p. 73). Tendo em vista essa proposta de ensino, nos apoiamos, para a elaboração do plano de aula 3 , nos preceitos da teoria dos protótipos, de base funcionalista, que permite um trabalho mais significativo com a língua materna, uma vez que não considera a existência de categorias linguísticas completamente opostas, além de apresentar a noção de contínuo, cuja função é mostrar que as categorias linguísticas não são discretas, isto é, que não devem ser vistas umas em oposição às outras simplesmente, mas sim interpretadas como protótipos. A noção de protótipo, então, serve para mostrar que um elemento, mesmo não sendo prototipicamente pertencente a uma categoria, pode funcionar como tal na interação linguística, [...].” (RODRIGUES, 2010, p. 2010). Tomando o ensino sob essa perspectiva, optamos por trabalhar com gêneros textuais distintos, com o intuito de fazer com que os alunos conheçam as características estilísticas de cada um dos textos selecionados, além de possibilitar uma reflexão que aponte para uma das funções principais dos substantivos, isto é, a função de construção de sentido de um texto. Com base nessa função dos substantivos, propomos uma atividade que tenha como ponto de partida o texto Circuito fechado, de Ricardo Ramos, presente na Proposta Curricular – São Paulo faz escola. O objetivo de empregar esse texto é, justamente, o de mostrar aos alunos a importância dos substantivos na construção de efeitos de sentido de um texto. Além disso, temos também como proposta trabalhar o texto Tristelândia, de Henry Correa de Araújo, com a expectativa de fazer com que os alunos percebam que não há de fato uma oposição entre as categorias linguísticas, nesse caso, especificamente, entre as subclassificações dos substantivos, ou seja, temos o intuito de expor que um substantivo comum ou abstrato, por exemplo, pode vir a ser classificado como próprio a depender do seu contexto linguístico. Outro ponto que consideramos relevante para o ensino da classe dos substantivos é o trabalho com a subclassificação contáveis/não-contáveis. Entretanto, a abordagem dessa subclassificação não está presente em nenhum dos materiais didáticos analisados neste trabalho, além de não ser contemplada também nas gramáticas normativas, exceto naquela escrita por Bechara (2006). Em contrapartida, os conceitos referentes aos substantivos contáveis/não-contáveis são encontrados, facilmente, em manuais de 3 O plano de aula com o tema substantivo não foi pensado apenas para uma aula, mas para uma sequência de aulas. A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 35 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 linguística, que dão um tratamento bastante significativo a esse tema. Por essa razão, optamos por uma proposta de ensino que leve em conta a abordagem desses substantivos e sugerimos o trabalho com dois textos, de gêneros diferentes, um deles, presente em uma rede social, funciona como instruções para o jogo Colheita feliz; o outro é uma receita culinária. O objetivo de trabalhar com esses textos é mostrar para os alunos como funciona essa classe de substantivos e como é possível que um substantivo não-contável se transforme em contável a depender do contexto em que está inserido. 5. Considerações finais Neste trabalho, levando em consideração os subsídios teóricos expostos, apresentamos uma descrição e uma análise de diferentes materiais didáticos, com o objetivo de verificar o tratamento dispensado por eles à classificação semântica dos substantivos e reconhecer se as abordagens desses materiais propiciam um ensino significativo da língua materna. Além disso, tínhamos como meta avaliar se os materiais didáticos estãoem consonância com as diretrizes presentes nos PCNs. De acordo com a análise, observamos que o tratamento dado ao estudo dos substantivos, na Proposta Curricular – São Paulo faz escola e no livro Para ler o mundo, correspondem a uma reprodução dos conceitos presentes nas gramáticas normativas e que os exercícios solicitados representam atividades mecânicas de cópia. Diante disso, consideramos que, nesses materiais, de modo geral, o ensino da categoria de substantivo não é satisfatório, pois não possibilita uma reflexão crítica por parte dos alunos sobre a língua portuguesa. Em contrapartida, verificamos que o livro Linguagem Nova trata os substantivos de maneira mais abrangente quando em comparação com os conteúdos dos manuais de gramática, visto que os conceitos não correspondem fielmente aos encontrados nesses manuais. Além disso, percebemos que, nesse livro didático, há uma tentativa de que o ensino parta do texto de fato e, por esse motivo, a maioria dos exercícios propostos não correspondem a atividades de identificação e classificação de estruturas linguísticas, ao contrário, são exercícios que levam o aluno a refletir sobre a língua e seus usos. Tendo em vista as considerações expostas nesta seção, concluímos que a Proposta Curricular – São Paulo faz escola, assim como o livro didático Para ler o mundo não estão em consonância com as diretrizes contidas nos PCNs. Todavia, o livro A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 36 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 didático Linguagem Nova apresenta uma abordagem de ensino diferenciada, que atende de modo mais significativo às propostas presentes no documento supracitado. Além do que já foi discutido neste trabalho, outro ponto que avaliamos como relevante para ser abordado é o papel do professor em relação ao material didático que utiliza em sua prática docente, já que consideramos o livro didático como um material que exerce forte influência nas práticas de ensino dos professores de língua portuguesa. Por essa razão, pensamos que cabe ao professor trabalhar com os livros didáticos, de modo a favorecer a relação do aluno com o conhecimento. De acordo com os PCNs (BRASIL, 1998, p. 96) “é preciso que os professores estejam atentos à qualidade, à coerência e a eventuais restrições que apresentem em relação aos objetivos educacionais propostos”. Apesar de ser importante que o professor saiba trabalhar de modo significativo com os materiais didáticos que lhe são oferecidos, vemos com mais recorrência professores que se comportam como um indivíduo passivo diante desses materiais. Referências Bibliográficas ABAURRE. M. L.M.; PONTARA. M. Gramática: Texto, Análise e construção de sentido: volume único. São Paulo: Moderna, 2006. p. 171 – 176. BARRETO, A.; SETTE, G.; PAULINO, M. A.; STARLING, R. Para ler o mundo: Língua Portuguesa. (5ª série, 6º ano). São Paulo: Scipione, 2007. BECHARA, E. Gramática escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. BRASIL. Ministério da Educação, Cultura e do Desporto. SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998. BUNZEN, C. Reapresentação de objetos de ensino em livros didáticos de língua portuguesa: um estudo exploratório. In: SIGNORINI, Inês (Org). 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Análise linguística no Ensino Médio: um novo olhar, um outro objeto. In: BUNZEN, C.; MENDONÇA, M. (Org). Português no ensino médio e a formação do professor. São Paulo: Parábola, 2006a. ______. Análise linguística: refletindo sobre o que há de especial nos gêneros. In: SANTOS, F. S.; MENDONÇA, M.; CAVALCANTE, M. C. B. (Org). Diversidade textual: os gêneros na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2006b. NEVES, M. H. M. O substantivo. In: ______. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora UNESP, 2000. p. 67-172. OLIVEIRA, M, R.; CEZARIO, M. M. PCN à luz do funcionalismo lingüístico. Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 10, n. 1, p.87-108, jan./jun. 2007. Disponível em: < http://rle.ucpel.tche.br/php/edicoes/v10n1/03Maria.pdf>. Acesso em: 27 out. 2010. RODRIGUES, V. V. Subordinação adverbial ou hipotaxe circunstancial? In: ______. Articulação de Orações pesquisa e ensino. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010. p. 49-68. SÃO PAULO. Caderno do professor: língua portuguesa – linguagens, códigos e suas tecnologias, ensino fundamental, 5 a série, volume 1/Secretaria da educação; Coord. Maria Inês Fini. – São Paulo: SEE, 2009. A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 38 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 ______. Caderno do aluno: língua portuguesa – linguagens, códigos e suas tecnologias, ensino fundamental, 6 o ano, volume 1/Secretaria da educação; Coord. Maria Inês Fini. – São Paulo: SEE, 2010. ______.Secretaria da Educação de São Paulo. Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Língua Portuguesa (Ensino Fundamental e Médio)/ Coord. Maria Inês Fini. – São Paulo: SEE, 2008. Disponível em: <http://www.apeoesp.org.br/acts/ling_port_comp.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2010. A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 39 Educação& Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 ANEXOS ANEXO A PLANO DE AULA 1. Identificação 1.1. Título: Os efeitos dos substantivos em gêneros diversos 1.2 Autoras: Ana Ligia Alves Silva, Fernanda Meneghetti Ferro, Juliana das Neves Martins, Tailene Munhoz Barbosa e Thaís Machado de Sá 1.3. Tema/ assunto: Classificação semântica de substantivos 1.4. Tempo previsto: 4 (quatro) aulas, sendo 2 (duas) aulas duplas. 2. Justificativa: Para a formação do aluno competente nas habilidades de leitura e escrita torna-se importante, por exemplo, o trabalho com os gêneros textuais, visando a uma prática que parta do texto para o ensino dos demais conteúdos. Esse trabalho com os gêneros se torna significativo, principalmente, quando se considera as práticas sociais dos alunos e suas necessidades imediatas no processo de ensino aprendizagem. Dessa forma, foi definido para este plano de aula um trabalho que tenha como ponto de partida o texto, como unidade básica de ensino, além de um trabalho com gêneros diferentes para que os aprendizes reflitam sobre o seu uso/efeito que os substantivos provocam no texto. 3. Objetivos 3.1. Gerais: a) dar continuidade à formação do competente usuário da língua materna; b) contribuir para a formação cultural do aluno e para a ampliação de suas práticas de letramento na medida em que se propõem trabalhar com os vários sentidos que o texto oferece. 3.2. Específicos a) Proporcionar que os alunos reflitam sobre os vários sentidos que podem estar presentes no texto; b) Reflexão sobre os gêneros: conto, regras de jogo, receita culinária, com a finalidade de o aluno conhecer sua composição característica, estilo e função sócio-comunicativa; c) Praticar a leitura e a compreensão de textos; d) Proporcionar aos alunos uma reflexão sobre a possibilidade de um texto ser construído apenas por substantivos; e) Trabalhar a prática de análise linguística no ensino do conteúdo referente aos substantivos contáveis e não-contáveis. 4. Metodologia 4.1. Caracterização do público-alvo: alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, com faixa etária entre 11 e 12 anos; 4.2. Materiais e recursos didáticos A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 40 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 a) material impresso; b) giz; c) lousa. 4.3. Procedimentos didáticos (Roteiro da aula): Primeira aula (dupla) 1. Chamada de atenção/motivação para o tema da aula: perguntar aos alunos sobre os nomes deles, se conhecem o significado, a origem e a história da escolha do próprio nome. A partir das respostas dos alunos sobre o questionamento dos próprios nomes, perguntar-lhes “Como seria se vocês não tivessem nome?”, “Vocês já imaginaram isso?”, “E se tudo que existisse, não tivesse um nome?”, “Como seria?” (espera-se que percebam e respondam que tudo que existe no mundo precisa ser designado de alguma forma e que os nomes cumprem essa função, por exemplo, o nome de algum dos aprendizes referencia-o no mundo, identificando-o como único). 2. Ativação do conhecimento prévio: tendo em vista que os nomes dos alunos exercem a função citada (cf. item 1), indagar-lhes sobre os textos que produzem por meio das perguntas “E nos textos que vocês produzem?”, “Saberiam dizer como vocês constroem o texto?”. Com essas perguntas temos o objetivo de saber o que os alunos supõem sobre a maneira como um texto pode ser construído. (Acreditamos que possam responder que um texto deve conter frases, pontuação, personagens, por exemplo). 3. Oferecimentos de objetivos para a leitura: informar aos aprendizes que será distribuído um texto (cf. anexo B), para cada dois alunos, e que, durante a leitura, deverão tentar identificar se um texto é construído apenas pelas possíveis formas que mencionaram anteriormente ou se há outras formas. 4. Elaboração de hipóteses sobre o texto a ser lido: antes de oferecer a leitura, mencionar que o texto recebe o título “Circuito fechado”, e levantar as hipóteses dos alunos sobre o que será tratado em um texto que recebe tal título, o que os alunos acham que o texto tratará. Discutir oralmente as hipóteses dos alunos, e, anotar as respostas na lousa, para que possam ser retomadas, quando terminarem a leitura. 5. Leitura oral do texto: ler o texto em voz alta para os alunos. 6. Discussão oral do texto: verificar as hipóteses dos alunos, de acordo com a solicitação para a leitura, ou seja, de que forma o sentido é construído no texto de Ricardo Ramos (espera-se que percebam que o texto é constituído apenas por “palavras” – substantivos). Perguntar-lhes se a presença unicamente de “palavras” (substantivos 4 ) compromete a compreensão do sentido do texto, bem como do que o texto trata. Retomar a discussão sobre o título, que o próprio título caracteriza a vida, o cotidiano do personagem principal, ou seja, um cotidiano fechado, sendo um ciclo que sempre se repetirá. Após deixar os aprendizes comentarem o texto, que aborda uma atividade rotineira, que as ações se repetem, indagar-lhes sobre o personagem, como é o dia a dia, se é possível perceber se há uma satisfação por meio das ações realizadas por esse 4 Nesse momento da aula, ainda, não mencionaremos o termo substantivo, por isso utilizaremos o termo palavras. A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 41 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 personagem. Explicar-lhes, ainda, que todos esses sentidos e essas interpretações são proporcionados apenas pela presença de substantivos, palavras que podem cumprir a função de construir o sentido básico de um texto. Durante a discussão e a consequente explicação das professoras, anotar na lousa as características levantadas, e, depois, fornecer um tempo para que os aprendizes copiem no caderno. 7. Informar aos aprendizes que, na sequencia, será trabalhado um outro texto cujo título é Tristelândia (cf. anexo C). Será distribuído um texto para cada dois alunos. Em seguida, perguntar-lhes se conhecem esse texto, se alguma vez já o leram. 8. Oferecimento de objetivos para a leitura: informar que deverão lê-lo e, após a leitura – durante a discussão –, responder se alguma vez já ouviram falar acerca dos nomes dos lugares, das pessoas presentes em Tristelândia. 9. Elaboração de hipóteses sobre o texto a ser lido: antes de oferecer a leitura, levantar as hipóteses dos alunos sobre o que será tratado nesse texto, por exemplo, “Vocês saberiam dizer a que a palavra Tristelândia pode fazer referência?” (espera-se que os alunos respondam que pode referir-se a uma região, ou a uma cidade). Discutir oralmente as hipóteses dos alunos, e, conforme respondam, as respostas serão anotadas na lousa, para que possam ser retomadas, quando terminarem a leitura. 10. Discussão oral do texto: verificar as hipóteses dos alunos, de acordo com a solicitação para a leitura, ou seja, a que Tristelândia faz referência. A partir da resposta dos alunos, que se refere a uma cidade, perguntar-lhes do que o texto trata, como essa cidade é caracterizada no texto (espera-se que respondam que é uma cidade triste, isolada e sem vida). Apontar tais características no texto junto com os alunos. Explicar- lhes que a tristeza é caracterizada nos personagens, nas suas atitudes, por exemplo, “as crianças de Tristelândia não brincavam e não sorriam”, além do modo como éapresentado o espaço, por exemplo, a rua principal: “De principal só tinha o apelido, pois era pequena, feia e mal-acabada”. Indagar-lhes se alguma vez já ouviram falar acerca dos nomes dos lugares, das pessoas presentes em Tristelândia, a fim de que percebam e reconheçam que os nomes têm relação com o aspecto triste da cidade e que há características particulares nessas designações. Explicar-lhes por meio do exemplo amargura que, geralmente, remete a um outro referente, no texto, torna-se único, Zeca Amargura é único entre vários. Além disso, dizer-lhes que uma mesma palavra pode ter funções diferentes: Tristelândia se torna um substantivo próprio e perde sua característica de abstrato. Essas características também serão apontadas no texto junto com os alunos, por meio dos exemplos citados e de outros que se fazem presentes no texto, além de serem anotadas na lousa. Terminada a explicação, fornecer um tempo para que os alunos copiem as informações no caderno. 11. Encerramento da aula. Segunda aula (dupla) A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 42 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 1. Chamada de atenção/motivação para o tema da aula: informar que, na aula, inicialmente, será trabalhado um texto denominado Tabelas de terras – Colheita feliz 5 (cf. anexo D) contendo regras sobre como adquirir mais terras no jogo Colheita Feliz da rede social Orkut, com vistas a motivar os alunos para o tema da aula e levá-los a perceber o efeito que os substantivos causam no texto. Informar também que, em um segundo momento da aula, será trabalhada uma receita culinária denominada Pavê de chocolate e café (cf. anexo E). Entregar o texto Tabelas de terras – Colheita feliz, um texto para cada dois alunos, e, em seguida, solicitar que realizem uma leitura silenciosa. Depois, perguntar-lhes, oralmente, se já conheciam as regras do jogo, se têm o hábito de jogá-lo. 2. Ativação do conhecimento prévio: efetuada por meio da pergunta “Vocês saberiam dizer, ou se lembram, de outros textos que contém regras?” (os alunos podem comentar um regulamento de um condomínio, algum regulamento que deve ser seguido na escola, manual de videogame, se leram regras de um esporte que praticam etc.). Explicar-lhes que tanto o texto Tabelas de terras – Colheita feliz quanto os textos que podem ser mencionados por eles apresentam características semelhantes, que têm o objetivo de instruir o público a cumprir alguma atividade. Depois, indagar-lhes qual é a principal instrução que o texto sobre o jogo fornece, ou seja, qual é o principal objetivo do jogo (espera-se que os alunos respondam que é comprar terras). 3. A partir das respostas dos aprendizes (cf. item 2), requerer-lhes como, em geral, medem ou contam aquilo que é designado pelo substantivo terra. Caso tenham alguma dificuldade, dizer-lhes para observarem o texto. Os alunos podem mencionar que, durante o jogo, devem adquirir terras por meio de lotes, forma pela qual o substantivo terra é contado, para aumentar a própria propriedade. Explicar-lhes também que a medida lotes cumpre a função de medir o conteúdo que o nome terra designa, algo que não pode ser contado, sendo, por isso considerada uma grandeza. Dizer-lhes, ainda, que o substantivo terra, da mesma forma que outros, como, fogo, ar, céu, óleo etc apresentam uma expansão ilimitada, devido a esse fato são denominados de substantivos não-contáveis. Solicitar-lhes que recorram ao texto Circuito fechado, dado na aula anterior, a fim de que procurem exemplos de substantivos contáveis, ou seja, que percebam aqueles que possuem limites precisos, como, por exemplo, chinelos, escova, telefone, xícara etc. Em seguida, anotar na lousa os exemplos, bem como os aspectos citados, e, depois, fornecer um tempo aos aprendizes para que copiem no caderno. 4. Informar aos aprendizes que, na sequencia, será trabalhado um outro texto cujo título é Pavê de chocolate e café e perguntar aos alunos “Que texto é esse”? “Que nome se dá a esse gênero de texto?” Em seguida, escrever na lousa que o texto caracteriza uma receita culinária. 5. Ativação do conhecimento prévio: perguntar-lhes: “Que palavras vocês acreditam que encontrarão nesta receita?”, “Vocês saberiam dizer quais são as substâncias que, normalmente, entram na composição de um pavê?”. Caso tenham dificuldade, chamar a atenção para o fato de que, geralmente, uma receita é composta do tipo de comida 5 Nesse momento, será apenas mencionado o título aos alunos, posteriormente, é que será explicitado que o texto contém regras sobre como adquirir mais terras. A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 43 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 (como, por exemplo, Torta) mais o nome da substância (ingrediente) principal (como, por exemplo, de frango). Conforme os alunos respondam, as respostas serão anotadas na lousa para que possam ser retomadas, quando terminarem a leitura. 6. Oferecimento de objetivos para a leitura: informar aos aprendizes que será distribuído um texto, para cada dois alunos, e que deverão ler o texto buscando verificar se os aspectos mencionados (cf. item 5) são encontrados no referido texto. 7. Leitura oral do texto: ler o texto em voz alta para os alunos. 8. Discussão oral do texto: perguntar se as hipóteses se confirmaram, se o texto é constituído realmente pelas substâncias que mencionaram ou por outras também (referência ao item. 5). Em seguida, perguntar-lhes: “além do título, que constitui a receita, de que partes o texto é constituído?”, com vistas que os aprendizes identifiquem outros elementos que constituem o referido gênero. (Espera-se que os alunos percebam e respondam que o texto é dividido, geralmente, em duas partes, sendo que a primeira especifica apenas os ingredientes, citados por eles, com a respectiva quantidade de cada um e a segunda expõe o modo de preparo). Explicar-lhes que essa é, normalmente, a forma de organização da receita, tendo como finalidade facilitar sua utilização para o público a que se destina. Indagar-lhes, ainda, “Vocês perceberam alguma relação entre o texto da receita culinária e o primeiro texto?” “para que serve um texto como este?” (espera-se que percebam e respondam que os dois textos trabalhados pretendem instruir alguém na realização de uma atividade, o primeiro texto, na realização de um jogo e o segundo, na preparação e realização de uma receita). Todas essas perguntas supramencionadas serão anotadas na lousa, acompanhadas das respostas, que se constituem pelos aspectos levantados pelos alunos e pela explicação das professoras. Terminada a explicação, fornecer um tempo para que copiem no caderno. 9. A partir da discussão e das respostas dos alunos, dado que os dois textos – texto de regras de jogo e a receita culinária – apresentam substantivos não contáveis – perguntar- lhes: “de que forma os ingredientes são contados?”, “em relação a essas substâncias, vocês perceberam alguma semelhança com o primeiro texto?” (espera-se que respondam que na receita também há substantivos não-contáveis). Em seguida, retomar a explicação dada. (cf. item 3). 10. Encerramento da aula 6 . ANEXO B Circuito Fechado Ricardo Ramos Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, 6 Consideramos que o trabalhocom a música Águas de Março, de Antonio Carlos Jobim, poderia também ser produtivo, já que apresenta substantivos não-contáveis, como água, mas que funciona como contável no contexto da música. Porém, dado o tempo da aula não utilizaremos esse texto neste plano de aula. A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 44 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, telefone, agenda, copo com lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas, caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo. xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. (Fonte: SÃO PAULO. Caderno do aluno: língua portuguesa – linguagens, códigos e suas tecnologias, ensino fundamental, 6 o ano, volume 1/Secretaria da educação; Coord. Maria Inês Fini. – São Paulo: SEE, 2010. ANEXO C Tristelândia Henry Correa de Araújo Tristelândia era uma cidade triste. E por ser triste era também feia. Todas as suas ruas, todos os prédios, todas as pessoas de Tristelândia tinham nomes tristes e ali se nascia, vivia e morria chorando. Ela ficava no alto do Morro da Saudade e não tinha árvores, não tinha flores, não tinha passarinhos. Mas tinha muita poeira, muita pedra e cactos cheios de espinhos. As ruas de Tristelândia não eram calçadas. As casas viviam com as janelas fechadas. As portas não se abriam para as visitas e os corações dos habitantes de Tristelândia também viviam fechados. Principalmente não se abriam para as crianças alegres da vida. As crianças de Tristelândia não brincavam e não sorriam. Era expressamente proibido sorrir em Tristelândia. A Rua da Desilusão era a rua principal da cidade. Na Rua da Desilusão ficavam os prédios mais importantes: a Prefeitura, a Escola Pública, a Câmara dos Vereadores, o cinema e a Delegacia. Pela rua principal passavam os carros de boi, as carroças, o prefeito, a professora, os vereadores e o delegado. Pela rua principal não passavam velocípedes, bicicletas, carrinhos de rolimã. De uma tristeza só, a rua principal começava aqui, acabava ali. De principal só tinha o apelido, pois era pequena, feia e mal-acabada. A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 45 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 Era ali, naquela rua, que o prefeito passava o dia inteiro, vigiando as pessoas para não deixá-las sorrir. O prefeito chamava-se Zeca Amargura. Sua maior amiga, a professora da Escola Pública, chamava-se Maria das Lágrimas. “Maria das muitas lágrimas”, como gostava de chamá-la a gente grande da cidade. De tanto chorar, de tanto lamentar sua sorte e seu destino, os olhos já saltavam para fora do rosto e pareciam boiar sobre as lágrimas que, dia sim, dia não também, todo dia ela derramava. Era a professora certa para Tristelândia. Sabia de tudo sobre tempestade, enchentes, vendavais, terremotos, furacões, guerras, doenças e fome. Uma catástrofe ambulante. Lucinha das Dores era sua aluna mais adiantada. Não que fosse inteligente, aplicada. Mas porque nas provas sempre chorava melhor que as colegas. Tristelândia de tão triste ficava afastada das outras cidades. Ninguém ia lá, ninguém saía de lá. (Fonte: Internet < www.scribd.com/doc/54140627/Textos-TRISTELANDIA>. Acesso em: 11 jun. 2011) ANEXO D Colheita Feliz – Tabelas de terras-Colheita feliz Na tabela acima editada pelo Maisfacil.org, temos os valores de cada terra, moedas verdes e de ouro e níveis necessários para que você estenda seus empreendimentos agrícolas e se torne um fazendeiro de sucesso. Pelo que você já deve ter percebido não há como comprar terra sem antes desembolsar uma grana comprando moedas verdes, isso se você não quiser ficar para trás já que comprar terras significa aumentar sua produção e consequentemente seus lucros. Fiquem sabendo que após comprar os 22 lotes disponíveis (digo 22 por que 6 você recebe do jogo para poder trabalhar), você terá a possibilidade de adquirir mais 7 terrinhas, totalizando 29 e com as suas 6 gratuitas fechamos em 35 lotes de terra. Perfeito! Agora é só trabalhar bastante na sua fazendinha virtual e na vida real pra bancar esse crescimento e se tornar um grande latifundiário. Fonte: Internet < http://colheitafeliz.org/tabelas-de-terras-colheita-feliz/>. Acesso em: 10 jun. 2011. A ABORDAGEM DOS SUBSTANTIVOS EM MATERIAIS DIDÁTICOS E SUA RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ 46 Educação & Docência, Ano2, Número 2 – fevereiro de 2012. P 21-46 ANEXO E Pavê de chocolate e café Ingredientes 1 tablete de 200 gramas de chocolate tipo cobertura picado 3 colheres de água 2 colheres das de chá de café solúvel 4 colheres de sopa de manteiga ou margarina 1 xícara de açúcar 1 gema 1 lata de creme de leite 400 gr, de biscoito champanhe 1 cálice de vinho licoroso ½ xícara de água 1 xícara de ameixas pretas sem caroço picadas Para variar: Use passas ou nozes misturadas com as ameixas pretas Modo de preparo 1. Misture o chocolate picado a água e o café. 2. Leve ao fogo brando, mexendo até o chocolate derreter e engrossar 3. Bata a manteiga, a gema e o açúcar até ficar esbranquiçado 4. Misture com o chocolate Sem deixar de bater, vá acrescentando o creme de leite aos poucos. 5. Misture o vinho e a água e umedeça os biscoitos pouco a pouco. 6. Coloque num refratário uma camada de biscoitos, alternando com o creme e as frutas picadas, sendo a última de biscoito. Reserve um pouco do creme 7. Gele por 24 horas 8. Desenforme, cubra com o restante do creme. (Fonte: Internet < http://www.novasociedade.com.br/cozinha/receitas/tpaves.html>. Acesso em: 10 jun. 2011.)