Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO Título Páginas Caracterização dos aspectos sócio ambientais da Bacia do Ribeirão Atlãntique: uma proposta para o ZEE (Zoneamento Ecológico Econômico) no município de Mandaguaçu – PR AOKI, Alessandro; Schacht Gustavo Luis 5 O processo de erosão linear (voçorocamento) e a transformação da paisagem: o caso do perímetro urbano de Rancharia-SP FRANCISCO, Alyson Bueno; NUNES, João Osvaldo Rodrigues 19 A contribuição de Aziz Nacib Ab’Saber para o desenvolvimento da geomorfologia geográfica no Brasil: uma primeira aproximação VITTE, Antonio Carlos; NIELMANN, Rafaela Soares 33 A política ambiental no Brasil (2003-2006) SOUZA, Carolina Grosso de 43 Licenciamento em áreas de manejo agrícola das comunidades Caiçaras do parque estadual da serra do mar – núcleo Picinguaba SILVA, Danilo Santos da; SIMÕES, Eliane; BONASSIO, Camila Pessin; Pereira, Luciana A. M. 47 Proposta de planejamento ambiental para a bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo – Ugrhi Pontal do Paranapanema-SP SANTOS, Eder Pereira dos; LEAL, Antônio Cezar; PASSOS, Messias Modesto dos 59 Fragmentação florestal e a teoria dos refúgios florestais pleistocênicos no Brasil SCHACHT, Gustavo Luis; AOKI, Alessandro 74 O homem e o conceito de natureza: a unicidade no que denominamos natural VERGES, João Vitor Gobis 86 A utilização do Sistema de Informações Geográficas (SIG) na confecção de cartas temáticas: uma contribuição ao planejamento ambiental PEREIRA, Kátia Fernanda 96 Episódios climáticos “extremos” em Presidente Prudente/SP: a mídia e o ritmo climático como fonte de análise Silva, Liliane Pimentel da; RODRIGUES, Tais Scheel 102 Áreas verdes na cidade de Presidente Prudente – SP: análise preliminar SILVA, Maria Clara Piai da; ROQUE, Janaina Pereira; SILVA, Liliane Pimentel da 114 O estudo da variabilidade cerâmica do sítio arqueológico Rágil II RIBEIRO, Marcel Nunes 132 Estudos do estimador de intensidade de kernel MATSUMOTO, Patrícia Sayuri S. 142 Hidrossedimentologia da bacia hidrográfica do rio Itaúnas, região norte do estado do Espiríto Santo PRATES, Renata Pereira; ROCHA, Paulo César 161 Aspectos multidimensionais na avaliação em qualidade de vida PIZZOL, Renilton José; AMORIM, Margarete Cristiane de Costa Trindade 167 Levantamento das áreas de preservação permanente no canal principal do alto curso do rio Paranapanema – SP CRIADO, Rodrigo Cezar 171 Análise do material lítico do sítio Guacho, Santa Cruz do Rio Pardo – SP NERY, Saulo Ivan 185 Estudo dos aspectos físicos dos depósitos sedimentares de origem glacial no estado de São Paulo e sua importância para o ensino de geografia PASTORIZA, Taís Buch; NUNES, João Osvaldo Rodrigues 197 Percepção da paisagem na bacia hidrográfica do Ribeirão Santo Antonio / Mirante do Paranapanema 203 KANEVIESKIR, Thislainy Cristina; PASSOS, Messias Modesto dos A expansão da cana-de-açúcar no município de Teodoro Sampaio: os focos de queimada e seus impactos NETO, João Lima Sant’nna; SILVA, Viviane de Carvalho 209 Centro de ciências e educação ambiental: a questão da água e do lixo GARCIA, Yara Manfrin; SILVA, Laynara Savik da; KANEVIESKIR, Thislainy Cristina; SANTOS, Eder Pereira dos; PEREIRA, Kátia Fernanda; CARVALHO, Maria de Fátima; SILVA, Nívea Damaceno Noel; MATOS, Rubens de Jesus; GUIMARÃES, Eliana Maria Alves; LEAL, Antônio Cezar 219 A dinâmica do relevo numa perspectiva de integração da paisagem: Uma análise geográfica da bacia hidrográfica do Ribeirão Anhumas, Campinas- SP PALOMO, Vanessa de Souza; BUDIN, Clayton José; CAMPOS, Janaina Francisca de Souza 225 A representação cartográfica da paisagem em Alexander Von Humboldt: Uma contribuição à história da geografia CENE, Vonei Ricardo; VITTE, Antonio Carlos 241 CARACTERIZAÇÂO DOS ASPECTOS SÓCIO AMBIENTAIS DA BACIA DO RIBEIRÃO ATLÃNTIQUE: UMA PROPOSTA PARA O ZEE (ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO) NO MUNICÍPIO DE MANDAGUAÇU – PR Alessandro AOKI alessandro_index@yahoo.com.br Mestrando em Geografia Universidade Estadual de Maringá Bolsista CNPq Gustavo Luis SCHACHT Graduação em Geografia Universidade Estadual de Maringá gustavo.geografia@hotmail.com Resumo: O presente trabalho objetivou a caracterização dos aspectos sócio ambientais do córrego Guadiana, localizada na bacia hidrográfica do ribeirão Atlântique no município de Mandaguaçu – PR. Dessa forma privilegiou a analise do uso do solo, que são compostas por propriedades rurais, loteamentos urbanos e industriais. Além disso, a observação dos tipos de solos, vegetação, clima e a geologia, foram fundamentais no processo de integração e sistematização das informações de maneira que se promovesse o planejamento voltado à minimização dos impactos ambientais sofridos pela Bacia Hidrográfica. Contudo o produto final foi à elaboração de um fluxograma, seguindo as normas do ZEE o qual contém determinados parâmetros, objetivando melhor desempenho no planejamento e gestão da área estudada. Palavras-chave: Planejamento; Bacia Hidrográfica; ZEE. INTRODUÇÃO O presente estudo se deu na bacia hidrográfica do ribeirão Atlântique, no município de Mandaguaçu, analisando a paisagem urbana e rural, buscando informações que elucidem ao planejamento territorial adequado ao local. Dessa forma levaram em consideração, fatores de natureza antrópica que constantemente interferem na paisagem natural, de maneira que compromete todo um sistema regido pelas variáveis ambientais. É um local que está em contínua transformação, pois, a ação antrópica no local tem trazido inúmeras conseqüências na paisagem rural, pois a intensificação da agricultura, a construção de indústrias, loteamentos, as pastagens, pesqueiros, tem trazido impactos ambientais, tais como poluição dos córregos pelos lançamentos de dejetos, podendo ser de variadas origens tais como, de fertilizantes, resíduos industriais, animais, que acabam comprometendo a qualidade da água no local. Para o desenvolvimento do trabalho foram utilizados procedimentos metodológicos que envolvem a coleta de informações da área de estudo através do campo e levantamentos bibliográficos, garantindo a veracidade da pesquisa. Além disso, foi utilizada base cartográfica para localização dos pontos de análise, também para fins comparativos. O planejamento foi fundamentado nos princípios do ZEE, aplicando ao desenvolvimento do trabalho. AOKI, Alessandro; SCHACHT, Gustavo L. Caracterização dos processos sócio-ambientais da Bacia ... 6 A ZEE foi normalizada pelo decreto nº 4.297, de 10 de junho de 2002, como instrumento de Política Nacional do Meio Ambiente. O ZEE visa à manutenção da sustentabilidade com o consumo responsável dos recursos naturais, ao passo que garante o desempenho do capital, sem afetar os grupos envolvidos. Portanto o diagnóstico gerado pelos sucessivos estudos e observações da bacia hidrográfica do ribeirão Atlântique, poderá elucidar um planejamento adequado sob os princípios da ZEE, colocando o município a conformidade para condições ideais de sustentabilidade ambiental e social. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Os procedimentos se deram num primeiro momento através de registros de imagens fotográficas na área de entorno da bacia hidrográfica, focando as ações apresentadas no uso do solo. Foram mapeados os diferentes usos do solo do Atlântique, tais como as propriedades rurais ali instaladas, bem como as indústrias, os loteamentos, os tipos de solo, a estrada que interliga Mandaguaçu ao Distrito de Pulinópolis, objetivando diagnósticos dos impactos ambientais em decorrência da forma inadequada de utilização dos recursos naturais que podem trazer determinadas conseqüências a essas próprias atividades numa Área de Proteção Ambiental. Para a base cartográfica foram utilizadas cartas municipais, presentes no site do IBGE, além da cartatopográfica do Município, disponível pelo ministério do exército. A partir desses dados e a integração dos mesmos, foi possível elaborar materiais cartográficos, como mapas e tabelas, os quais ilustrarão os resultados obtidos com o estudo da área. Contudo, o resultado final do trabalho será a avaliação do risco ambiental, através da utilização de parâmetros do ZEE, conforme legislação Federal e Estadual, de forma que se fará o planejamento adequado do Atlântique, fundado nos dados relacionados às condições sócias econômicas e físicas (Pedológicas). ÁREA DE ESTUDO O município de Mandaguaçu está localizado no Noroeste do Estado do Paraná, com uma altitude de 580 m com a área totalizada em 326 Km², sendo o Pirapó seu principal rio. Localizado no Terceiro Planalto Paranaense, entre a Serra da Boa Esperança e os rios Tibagi e Paraná. O relevo apresenta características suaves com leves ondulações sob a altitude de 500m, drenado pelo Rio Pirapó. Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 7 A área de estudo se encontra entre as latitudes 23°18’03”S e 23°20’41,38”S e as longitudes 52°06’50,30”W e 52°01’34,38”W (figura 01). Faz parte da Bacia do Córrego Guadiana e abrange um trecho do Ribeirão Atlântique, pertence ao município de Mandaguaçu, localizado na região noroeste do estado do Paraná. Compreende uma área de aproximadamente 16,76 Km². Figura 01: Localização da área de estudo AOKI, Alessandro; SCHACHT, Gustavo L. Caracterização dos processos sócio-ambientais da Bacia ... 8 RESULTADOS E DISCUSSÕES Alguns dados relativos à bacia hidrográfica do ribeirão Atlântique, foram levantados e analisados de forma a contribuir na síntese final, o qual será o diagnóstico e propostas para o local. USO DO SOLO A bacia hidrográfica do ribeirão Atlântique, possui uma distribuição de uso do solo baseada na agricultura de pequena escala de produção ou agricultura familiar (conforme figura 2), possuindo lotes de pequeno porte onde se apresenta variada formas de uso seja elas por culturas temporárias, permanentes, produção de horti-fruti e criação animal intensiva. Possui ainda áreas com pastagens em áreas em que o solo apresenta manchas mais arenosas. Como a bacia possui uma estrutura de pequenos lotes torna-se difícil uma produção em larga escala em virtude do grande capital necessário para sua implementação e do baixo retorno financeiro que a produção proporcionará. Figura 2 – Uso do solo Agrícola Mandaguaçu entre os anos de 1960 a 1996 Estas características de ocupação e uso somente se alteram em virtude de instalação de indústrias e de loteamentos, ocorrentes principalmente na nascente do córrego Sitú um dos afluentes do Ribeirão Atlantique. A bacia possui três loteamentos, dois localizados na margem direita e um na margem esquerda. Os loteamentos que já estão instalados (conforme figura 3), onde é destinado à expansão urbana e para população de baixa renda com lotes pequenos e de baixo valor comercial, geralmente trabalhadores em indústrias de cidades como Maringá. Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 9 Figura 3 – Loteamento nas proximidades do Ribeirão Atlântique Foto – Alessandro Aoki, 2008. A área industrial possui diversos tipos de segmentos, predominando os de produtos alimentícios e embalagens, conforme segue na figura 4. Um dos loteamentos que está se instalando possui uma faixa de lotes destinados para indústrias. Figura 4 – Indústria nas proximidades do Ribeirão Atlântique Foto – Alessandro Aoki, 2008. A expansão urbana prevista no plano diretor municipal reserva a área da bacia como local para que se amplie e se desenvolva a cidade. Auxiliada pela via pavimentada que interliga a cidade ao distrito de Pulinópolis proporciona uma via de escoamento de produção tanto como uma via de ligação entre as duas localidades facilitando o deslocamento de trabalhadores e consumidores em potencial. ASPÉCTOS SÓCIO ECONÔMICOS Na bacia hidrográfica do ribeirão Atlântique em suas vertentes é desenvolvido atividades econômicas como agricultura, pecuária e atividades industriais. Foi possível a AOKI, Alessandro; SCHACHT, Gustavo L. Caracterização dos processos sócio-ambientais da Bacia ... 10 visualização da preparação de uma área para futuras instalações de um loteamento, já que o fluxo populacional da cidade vem a se expandir, conforme se observa no quadro 1. População Urbana e Rural de Mandaguaçu Anos 1960 1970 1980 1996 Pop. Urbana 3316 4483 7164 1330 8 Pop. Rural 2341 3 1217 9 6857 2911 Total 2672 1 1666 2 1402 1 1621 9 Quadro 1- Evolução da População rural e urbana Fonte: IBGE – Censos Demográficos 1960; 1970; 1980; 1996. Na área de estudo as propriedades agropecuárias variam por tamanho em hectares, havendo desde o pequeno produtor ao grande produtor, possui propriedades com a finalidade de área de lazer como chácaras e pesqueiros. A consciência ambiental dos ocupantes da área da bacia é mínima, na qual observamos o descaso com a preservação de matas ciliares, nascentes e os córregos. Seria importante a regularização dessas ocupações irregulares (em órgãos e instituições vigentes) para que haja as mínimas condições de que elas continuem instaladas no local. Realizar projetos de educação para a conscientização ambiental dos ocupantes da área de estudo. Por em prática o plano diretor ou fazer um novo planejamento para a ocupação da área da bacia hidrográfica do ribeirão Atlântique de forma que seja cabível a “harmonia” entre o homem e o meio em que se pretende ocupar. BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO ATLÂNTICO A área de estudo abrange a bacia do córrego Guadiana e um trecho da Bacia do Ribeirão Atlântico. Toda essa área faz parte da Bacia do Rio Paranapanema. O córrego Guadiana é o rio principal da bacia em estudo e recebe quatro afluentes. Conforme segue na figura 5. Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 11 Figura 5: Carta da Bacia Hidrográfica da Área de Estudo O conhecimento dos diferentes leitos de um rio é fundamental para uma ocupação racional das áreas próximo ao canal. As ocupações só deveriam ocorrer a partir do leito maior excepcional, assim seriam eliminados quaisquer danos em períodos de enchente e os rios estariam mais bem protegidos. Um exemplo de desrespeito ao leito maior ocorre em áreas urbanas que sofrem nos períodos de inundação (ex: Rio Tietê em São Paulo, Rio Preto em São Jose do Rio Preto - SP, etc.). No córrego Guadiana é visível que não se está levando em consideração o leito dos rios para a ocupação. Notam-se usos muito próximos à margem, este fato pode trazer em período posteriores danos materiais. Outro ponto a se destacar que essa ocupação traz complicações para o rio e qualidade de sua água. O córrego Guadiana apresenta canal do tipo reto, esses canais são pouco comuns e representam pequenos trechos. A sua ocorrência pode estar ligada a controle estrutural, o leito homogêneo oferece resistência igual à água, é o que ocorre neste caso, onde há uma linha de basalto ao longo do leito do rio. A drenagem da área de estudo possui padrão dendrítico, sua fisionomia possui semelhança com os galhos de uma árvore. “Esse padrão desenvolve-se sobre rochas de padrões uniformes ou em rochas estratificadas horizontais” (CUNHA, 2005:225). Pode ainda entrar na classificação de subdendrítico, comum em áreas de contato de rochas, o que significa um controle estrutural secundário. O perfil longitudinal do córrego Guadiana reflete o comportamento de canais retilíneos, onde écomum a sucessão de depressões e soleiras. AOKI, Alessandro; SCHACHT, Gustavo L. Caracterização dos processos sócio-ambientais da Bacia ... 12 Figura 6: Perfil Longitudinal GEOLOGIA A área está localizada no contato entre duas litologias diferenciadas (figura, 02). Apresenta a formação Arenito Caiuá do grupo Bauru no setor sudoeste localizado a montante da bacia, e a presença de basaltos do jurássico cretáceo da Formação Serra Geral do grupo São Bento no nordeste localizado a jusante da bacia. Figura 7: Carta Geológica Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 13 SOLOS Devido estar numa área de contato entre essa duas formações, ocorrem peculiaridades quanto aos solos. O contato entre o Arenito Caiuá e o basalto, gera um conjunto de solos com características morfológicas, químicas, físicas e mineralógicas bem diferenciadas. Os solos derivados do basalto são solos argilosos e de elevada porosidade, sua características físicas contribuem para o armazenamento de água, são menos susceptíveis aos processos erosivos do que os solos derivados do arenito Caiuá que são facilmente erodidos. Os solos possuem estreita relação com o relevo (declividade da vertente) e a rocha (características físicas, químicas e mineralógicas), conforme Santos et al (1991). Os topos aplainados permitem o desenvolvimento de solos espessos, em geral superiores a 250 cm, a partir do topo em direção aos canais de drenagem, o comprimento das vertentes e suas declividades dão origem a solos com espessuras variadas (Nakashima; Nóbrega 2003). No basalto há presença de Latossolos no topo até media vertente, Nitossolo na média e baixa vertente. Onde existe a formação do arenito Caiuá o Latossolo ocorre do topo a média vertente e o Argissolo na média e baixa vertente. No fundo do vale ocorrem solos hidromorficos, os chamados Gleissolos. Figura 8: Classificação de solos da Bacia do Guadiana AOKI, Alessandro; SCHACHT, Gustavo L. Caracterização dos processos sócio-ambientais da Bacia ... 14 VEGETAÇÃO A cobertura vegetal original da área é a Floresta Estacional Semidecidual Sub- Montana (IBGE, 1993), destruídas ao longo do século XX para o plantio do café. Com a modernização da agricultura nos anos 70 ocorrem transformações quanto ao uso do solo com o cultivo do binômio soja/milho nas áreas de basalto e o plantio de pastagens nas áreas do arenito Caiuá. Atualmente há poucas áreas de matas remanescentes, o uso do solo dominante na área é constituído por área urbana e culturas temporárias, as matas aparecem eventualmente em estreitas faixas ao longo dos corpos d’água como mata ciliar, porém estão muito alteradas, devido atuação antrópica. PROPOSTA PARA O ZEE A partir da coleta de dados bem como informações da área de estudo, foi possível estabelecer os resultados, os quais permitiram chegar à avaliação de risco local de impacto ambiental, bem como propor seu planejamento. O ZEE foi introduzido no país no início da década de 1990, inspirado na Carta Européia de Ordenação Territorial da década anterior (1983), pelo governo federal como metodologia de organização territorial para a Amazônia Legal. No conceito adotado pelo órgão federal da época, a SAE-PR - Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, o ZEE seria a “expressão espacial das políticas econômica, social, cultural e ecológica”. Aplicando alguns fundamentos do ZEE no âmbito da sustentabilidade ambiental foi possível estabelecer alguns diagnósticos que permitiram elaborar um esquema de planejamento para a Bacia do Ribeirão Atlântique. Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 15 Figura 9: Proposta pra o ZEE Na proposta esquemática, dividiu-se em compartimentos como forma de separar as etapas do desenvolvimento do trabalho. Para isso foram denominados quatro fases que permitirão ter como resultado final o diagnóstico de todos os fatores que foram analisados e levantados em campo. A fase 1 trata da descrição dos aspectos contidos em cada elemento descrito no quadro, os quais serão elucidados individualmente. Já a fase 2, está relacionada à descrição da situação atual das condições citadas em cada quadro da fase 2, na forma que apresente alguma mudança nas características da Bacia do Atlântique. Por fim a fase 3 tem como proposta, a integração dos dados contidos em cada elemento tanto do meio físico, socioeconômico, de infra-estrutura, objetivando como resultado final o planejamento que poderia ser passível a aplicar na localidade impactada ambientalmente. Ao final da análise da bacia do Ribeirão Atlantique, ficou evidenciado diferentes situações e possibilidades de uso e ocupação do solo. Sendo consideradas adversidades e características físicas da área, havendo a necessidade de trabalhar com dois setores dentro da bacia do ribeirão Atlantique, o setor norte e o setor sul. Ao norte da bacia encontramos maiores restrições de uso e ocupação do solo, devido às características do solo e declividades maiores. O setor ao norte da bacia apresenta declividades mais altas, entre 8 e AOKI, Alessandro; SCHACHT, Gustavo L. Caracterização dos processos sócio-ambientais da Bacia ... 16 12%, sob solos de textura arenosa mais aptos a ação dos agentes erosivos. O setor ao sul da bacia apresenta menores restrições de uso e ocupação do solo, já que apresentam menos de 8% de declividade, porém, devido às características físicas do solo, cuidados de manejo para dispersão de águas em escoamento superficial, devem ser bem estudados para que não ocorra processo de erosão acelerada nestas áreas, ou para onde esses fluxos seriam debandados. Em ambas as áreas o uso do solo urbano deve ser concedido para uso residencial e comercial de baixa incomodidade. Indústrias não deverão possuir atividades nesta área devido à proximidade da malha urbana e residências. Para estar apta a receber atividades comerciais e residências, esta área deverá receber infra-estrutura básica. Entre elas galerias pluviais adequadas com pontos de dispersão adequados, asfalto, calçamento, iluminação e delimitação legal das áreas de preservação permanente, respeitando a lei federal 4771/67. Por falta de sondagens na área não podemos constatar a profundidade do lençol freático para revelar a necessidade de rede de esgoto. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho visou á adequação da bacia hidrográfica do ribeirão Atlântique as conformidades da lei do decreto das ZEE, garantindo a sustentabilidade dos recursos naturais ao mesmo tempo em que não comprometa o desenvolvimento econômico do lugar. Foram desenvolvidas diversas atividades visando analisar e diagnosticar a área de entorno da bacia hidrográfica do ribeirão Atlântique, de forma que possa contribuir para o planejamento e gestão, que sejam satisfatórias para a comunidade local. Dessa forma foi importante realizar os levantamentos de campo, gabinete e bibliográfico, pois contribuíram para reforçar e proporcionar maior veracidade ao estudo. Dentre as atividades desenvolvidas obteve-se o levantamento sócio econômico, uso do solo, aspectos físicos como levantamento pedológico, além da utilização do plano diretor como meio de assegurar as condições adequadas para a gestão da bacia hidrográfica do ribeirão Atlântique. A partir do diagnóstico realizado a partir do campo e coleta de dados, foi possível propor condições que possam assegurar a sustentabilidade ambiental e ainda proporcionar mais conforto a comunidade local, pois esses são as principais vítimas desse processo de organização e transformação do território. Portanto se fez e foi necessário o planejamento e gestão do território, paraque se evitem futuros problemas de ordem social e ambiental. Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 17 REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICAS BELTRAME, A.V. Diagnóstico do meio físico de bacias hidrográficas: modelo e aplicação. Florianópolis: UFSC, 1994. CARDOSO, F. H. Decreto nº 4.297, 10 de julho de 2002: Zoneamento Ecológico-Economico. CUNHA, S.B. GEOMORFOLOGIA FLUVIAL. In. GUERRA, A.J.T.; CUNHA, S.B. (org) Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.211-252, 2005. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE), Mapa de Vegetação do Brasil, Escala 1:5. 000.000, 1993. LEPSCH, I. F. Formação e conservação dos solos. São Paulo: Oficina de Texto, 2002. MAACK, R. Geografia física da Paraná. Ed. José Olympio. Secretaria da Cultura e do Esporte do governo do estado do Paraná. Curitiba, 1981. 442p. NAKASHIMA, P.; NÓBREGA, M. T. Solos do terceiro planalto do Paraná – Brasil. In: I Encontro Geotécnico do Terceiro Planalto Paranaense, Maringá. Anais do Engeopar, 2003. PIZZO, A. Mandaguaçu: Transformações no uso do solo e impactos sócio econômicos e ambientais. Monografia de Bacharelado. Universidade Estadual de Maringá. Maringá, 2000. PROCESSO DE EROSÃO LINEAR (VOÇOROCAMENTO) E A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM: O CASO DO PERÍMETRO URBANO DE RANCHARIA-SP1. Alyson Bueno FRANCISCO Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP Membro do Grupo de Pesquisa GAIA E-mail: alysonbueno@gmail.com João Osvaldo Rodrigues NUNES Professor Assistente Doutor do Departamento de Geografia da FCT/UNESP Membro do Grupo de Pesquisa GAIA E-mail: joaosvaldo@fct.unesp.br Resumo: Este texto apresenta as transformações na paisagem geradas pelo processo de voçorocamento em área do perímetro urbano de Rancharia-SP. Para análise da dinâmica deste voçorocamento foi aplicado em campo o monitoramento das bordas da voçoroca através dos pressupostos apresentados por Guerra (1996). Além disso, o trabalho apresenta uma proposta de controle da erosão linear através do método de barramento com pneus e bambus, apresentado pela Embrapa (2008). Palavras-chave: voçorocamento; paisagem; monitoramento; controle de erosão. INTRODUÇÃO A erosão é um processo que ocorre independente da ação humana, sendo de extrema importância na dinâmica de formação do relevo. De acordo com Bertoni & Lombardi Neto (1990): “[...] a erosão é o processo de desprendimento, arraste e deposição de partículas do solo causado pela água e pelo vento” (p.09). Entretanto, este processo natural é acelerado pelas formas impróprias de uso e ocupação do solo, com ausência de técnicas conservacionistas e planejamento urbano inadequado, o que tem provocado diversas alterações em diferentes paisagens. Historicamente, a região do oeste paulista sofreu um rápido processo de substituição de matas nativas por cultivos agrícolas (café e algodão, principalmente) e pastagens plantadas, a partir do início do século XX, acarretando em mudanças gradativas na paisagem das vertentes. Além das atividades agropecuárias, o crescimento das cidades em curto período, com a construção de pavimentações com logradouros perpendiculares às curvas de nível e a expansão de loteamentos e conjuntos habitacionais em áreas de cabeceiras de drenagem, são fatores que contribuem na concentração de águas pluviais e intensificação dos processos erosivos lineares (ALMEIDA FILHO, 1998). Em virtude destes aspectos, a perda gradativa de solos torna-se um processo acelerado, e preocupante, caso ocorra em áreas de cabeceiras de drenagem com a presença de solos arenosos e profundos. A concentração do escoamento de águas pluviais tem provocado a formação de feições erosivas lineares, como as ravinas e as voçorocas. 1 Texto com base nos resultados iniciais do projeto de dissertação de mestrado: “Estudo da paisagem aplicado em técnicas para a contenção do processo de voçorocamento no município de Rancharia- SP”. FRANCISCO, Alyson B.; NUNES, João O. R. Processo de erosão linear (voçorocamento) e a ... 20 As voçorocas2 são feições erosivas lineares de grande porte, originárias por aprofundamento de ravinas ao atingir o freático, ou por efeito de erosão subterrânea (piping), causando instabilidade de vertentes (ROSSATO et al., 2003). Com o alargamento das paredes pela ação do escoamento subsuperficial, as voçorocas assumem o formato de seção em “U”. Geralmente, se localizadas nas periferias das cidades, as voçorocas acabam se tornando em escoadouros de esgotos pluviais em decorrência da presença de canais de escoamento superficial. Além disso, estas feições erosivas lineares, geralmente localizadas nas áreas periféricas das cidades, tornam-se aterros clandestinos (bota fora), principalmente com o acúmulo de entulhos e resíduos sólidos. A expansão do processo de voçorocamento na área do perímetro urbano da cidade de Rancharia, em decorrência das formas irregulares de ocupação das cabeceiras de drenagem do Córrego do Grito tem gerado sérios problemas sociais e ambientais. Dentre os problemas sociais apresentados, pode ser destacada a existência de moradias nas áreas de risco, cujo processo de voçorocamento com erosão remontante, ameaça a permanência de famílias e a estabilidade do terreno nos bairros Jardim Regina e Residencial São Bernardo. Além disso, a respeito dos problemas ambientais, o assoreamento e a contaminação das nascentes do Córrego do Grito (afluente do Rio Capivari pertencente à Bacia do Rio Paranapanema) são preocupantes (FRANCISCO, 2008), situações localizadas no mapa da figura 01. Figura 01 – Mapa de localização do processo de voçorocamento. 2 De acordo com Prandini (1975), a origem etimológica de voçoroca ou boçoroca é proveniente da expressão übüssoroc da língua Tupi-Guarani que significa “rasgão da terra”. Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 21 CARACTERIZAÇÃO DO MEIO FÍSICO DA ÁREA DE ESTUDO Sobre a geologia regional, esta é constituída por arenitos da Formação Adamantina do Grupo Bauru (IPT, 1981a). O município de Rancharia está localizado, geomorfologicamente, na morfoestrutura da Bacia Sedimentar do Paraná e na morfoescultura do Planalto Ocidental Paulista, conforme apresenta o Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo (ROSS; MOROZ, 1996). De acordo com o Mapa Geomorfológico do IPT (1981b), as formas de relevo dominante são as colinas alongadas e espigões. Parte do núcleo urbano de Rancharia está localizado sobre um espigão divisor de águas entre as bacias do Rio do Peixe e do Rio Paranapanema. De modo geral, predominam interflúvios sem orientação preferencial, com topos angulosos e achatados e vertentes ravinadas com perfis retilíneos. A drenagem é de média a alta densidade, com padrão dendrítico e vales fechados. A sucessão de colinas médias e amplas favorece a frequência de bacias de recepção pluvial, instaladas próximas dos divisores de águas e, a degradação da cobertura vegetal nas vertentes destas bacias ocasiona o escoamento de águas pluviais e a existência de ravinas e voçorocas (SUDO, 1980). Para Boin (2000), o clima da região de Rancharia é do tipo tropical, que se caracteriza por precipitação anual média que varia entre 1200 e 1500 mm e pela erosividade das chuvas entre 7000 e 7350 Mj.mm.h.ha. Na área de estudo, foram identificados perfis pedológicos com horizonte superficial muito alterado com a presença de materiais tecnogênicos e com mais de 80% de areia em sua composição textural, e horizontes subjacentes com significativa presença de argila na composição textural, o que influenciana permeabilidade do solo. A exceção foi apresentada por um horizonte glei. A tabela 01 destaca os resultados das análises granulométricas realizadas através do Método da Pipeta aplicado no Laboratório de Sedimentologia e Análise de Solos da FCT/UNESP, além das características morfológicas de cada horizonte (espessura, cor e estrutura), identificadas conforme metodologia proposta por Lemos & Santos (1996). A presença de um horizonte com textura arenosa e um horizonte subjacente com textura de aproximadamente 20% de argila é um aspecto importante na dinâmica do escoamento superficial. De acordo com Castro (1999), o aumento da porosidade nos horizontes subjacentes favorece a existência de piping (erosão interna) e geração de canais de escoamento superficial, agravando o processo erosivo linear. FRANCISCO, Alyson B.; NUNES, João O. R. Processo de erosão linear (voçorocamento) e a ... 22 Tabela 01 – Características morfológicas dos horizontes dos perfis pedológicos AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA PAISAGEM PROVOCADAS PELO VOÇOROCAMENTO O processo de voçorocamento localizado na área do perímetro urbano de Rancharia, se caracteriza por uma dinâmica influenciada pela forma de uso e ocupação do solo. Parte da área das cabeceiras de drenagem está urbanizada, cujo sistema de drenagem urbana direciona parte do esgoto pluvial da cidade para o canal principal da voçoroca. A área atingida pelo processo erosivo linear é utilizada para pecuária, cujo pisoteio do gado favorece a formação de canais de escoamento concentrado, situação que contribui na formação de ravinas laterais à voçoroca, como mostra a foto 01. Foto 01 – Canais de escoamento concentrado. Francisco (2009). Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 23 De acordo com depoimentos de moradores dos bairros próximos, o processo erosivo já existe há pelo menos três décadas. Com a deposição de sedimentos, o canal principal da voçoroca assume uma forma meândrica, com a presença de um ambiente pantanoso no interior da voçoroca (foto 02). Foto 02 – Canal de escoamento da voçoroca. Francisco (2009). A respeito de suas dimensões, a voçoroca possui aproximadamente quatrocentos e cinquenta metros de comprimento, largura média de quarenta metros e profundidade média de seis metros. A voçoroca está localizada em uma área com declividade média de 12%. Em decorrência da localização da voçoroca próxima à área urbana, é nítida a presença de resíduos sólidos que são jogados ou transportados pela drenagem de águas pluviais ao canal de escoamento da voçoroca. Em decorrência disto, temos a formação de depósitos tecnogênicos, principalmente à jusante da voçoroca. De acordo com Oliveira et al. (2005), após a fase de formação, os depósitos tecnogênicos passam por uma fase de entalhamento por ravinas e voçorocas, conforme apresenta o modelo da figura 02. O entalhamento do depósito gerado pela ação do processo de erosão do tipo linear expõe o contraste no perfil do depósito sobre o solo subjacente soterrado. No entender de Oliveira et al. (2005): “[...] a base do depósito é facilmente reconhecida pelo contraste com o solo subjacente, em geral hidromórfico, com muita matéria orgânica, acumulada pela antiga várzea soterrada” (p. 367). FRANCISCO, Alyson B.; NUNES, João O. R. Processo de erosão linear (voçorocamento) e a ... 24 A foto 03 mostra a presença de uma antiga planície aluvial soterrada pelo depósito tecnogênico, cuja fase de entalhamento do tecnogênico foi provocada pelo voçorocamento. Figura 02 – Formas de ocorrência de depósitos tecnogênicos formados pela erosão: a) depósito em processo de formação; b) depósito sendo entalhado. Fonte: Oliveira et al. (2005, p.368). Foto 03 – Presença de antiga planície aluvial soterrada pelo depósito tecnogênico. Francisco (2009). Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 25 MÉTODOS E RESULTADOS Os estudos geomorfológicos contribuem com a apresentação de métodos sobre experimentos e monitoramentos para a quantificação dos processos erosivos. Dentre os métodos para quantificar a erosão linear temos o método das estacas proposto por De Ploey & Gabriels (1980) sendo adaptado nos trabalhos propostos por Guerra (1996). De acordo com Guerra (2005), enquanto que o método das estacas é proposto para quantificar a erosão linear através do recuo de borda, cuja estaca é apenas um ponto de referência no monitoramento, o método dos pinos é aplicado para quantificar a erosão laminar através do nível do solo exposto. Para a análise da dinâmica espacial e temporal do processo erosivo, foi realizado um monitoramento de quatro ravinas da voçoroca, realizado no ano de 2008, de acordo com o método das estacas proposto por Guerra (1996). O método das estacas pressupõe a fixação de estacas na parte externa da voçoroca, mantendo-se uma distância uniforme entre as estacas e as bordas da voçoroca. Em campo, optou-se por estabelecer uma distância de vinte metros entre as estacas e de três metros entre as estacas e as bordas da voçoroca. As estacas foram numeradas para facilitar o controle e graduadas, para serem utilizadas na medição da erosão laminar. O monitoramento se consiste na medição mensal da distância entre a estaca e a borda da voçoroca, e o nível do solo em relação ao nível da estaca. A pesquisa em campo foi iniciada no dia 15 de dezembro de 2007. As medições foram feitas no dia quinze de cada mês posterior. As taxas de erosão das bordas, coletadas no período de doze meses, foram comparadas com os índices de precipitação referentes aos mesmos intervalos do monitoramento. Como exemplo, as taxas de erosão coletadas no dia 15 de janeiro de 2008, foram comparadas com os índices de precipitação entre os dias 16 de dezembro de 2007 e 15 de janeiro de 2008. Todas as taxas de erosão e índices pluviométricos foram tabulados no software “Microsoft Excel” para facilitar a construção de gráficos de relação. A figura 02 mostra a distribuição das ravinas monitoradas e as estacas. A tabela 02 apresenta as taxas mensais de recuo das bordas da voçoroca. FRANCISCO, Alyson B.; NUNES, João O. R. Processo de erosão linear (voçorocamento) e a ... 26 Figura 02 – Carta de distribuição das estacas. Tabela 02 – Taxas mensais de erosão de borda em relação aos índices pluviométricos. Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 27 A maior taxa de erosão das bordas ocorre entre fevereiro e março de 2008, período de umidade acumulada no solo e precipitações concentradas. As precipitações do período de monitoramento e as taxas médias de erosão das bordas apresentaram uma correlação de 76% (r²=0,759), representada pelo gráfico da figura 03. Isto representa que outros fatores podem influenciar na dinâmica da erosão linear, como a erodibilidade do solo. Figura 03 – Gráfico de linha de tendência da taxa de erosão das bordas em relação às precipitações. A tabela 03 mostra as taxas de perda de solo por escoamento laminar. Tabela 03 – Taxas de erosão laminar (em cm). As maiores taxas de erosão laminar foram apresentadas nas áreas com presença de solo exposto pelas trilhas do gado. Estas trilhas contribuem para a formação FRANCISCO, Alyson B.; NUNES, João O. R. Processo de erosão linear (voçorocamento) e a ... 28 dos canais de escoamento concentrado, contribuindo para a erosão remontante das ravinas da voçoroca. Os dados coletados em campo indicam uma forte contribuição do escoamento superficial nas taxas de erosão das bordas da voçoroca, o que condiz com a importância da aplicação demedidas para a contenção do escoamento das águas pluviais, dentre as quais o método de barramento é um dos mais eficientes e de baixo custo. PROPOSTA DE CONTROLE COM BARRAMENTOS DE PNEUS E BAMBUS Como foi mencionado nos resultados apresentado com o uso do método das estacas, o recuo de borda das ravinas laterais da voçoroca contribuem para expansão da mesma. Com isto, uma das principais iniciativas para o controle do voçorocamento é conter o escoamento concentrado nas ravinas, que aumenta o volume do canal principal da voçoroca. Para Magalhães (2001), para se controlar a erosão linear é fundamental dispersar a água de escoamento pluvial, não permitindo a concentração em fluxo. Isto pode ser feito com medidas de curto prazo como os barramentos de contenção do escoamento superficial, através de materiais de baixo custo, como: pneus, bambus, galhos, entulhos, entre outros. Dentre estes barramentos, a Embrapa (2008) propõe o uso de bambus e pneus. Conforme o método proposto, são fixadas barreiras de bambus e pneus no interior de pelo menos duas ravinas da voçoroca. Inicialmente, deve-se medir as dimensões da ravina da voçoroca (profundidade e larguras). Na montagem da barreira, os bambus serão empilhados horizontalmente (Foto 01), e as extremidades encaixadas em uma caneleta nas laterais da ravina (Foto 02), e amarrados com arame. Posteriormente, serão colocados sacos de ráfia abertos e amarrados para cobrir a barreira, a fim de facilitar a retenção de águas de escoamento superficial (Foto 03). O método apresentado pela Embrapa (2008) aconselha que esta barreira seja implantada em ravinas com pouca profundidade. Outra forma de barreira que será implantada é a de colunas de pneus. As colunas de pneus são apoiadas em hastes de madeira no sentido vertical (Foto 04). Os pneus serão cheios com terra, para evitar o acúmulo de água e a proliferação de insetos. Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 29 Foto 04- Montagem da barreira com bambus Foto 05 – Encaixe dos bambus na caneleta Foto 06 – Cobertura com sacos de ráfia Foto 07 – Colunas de pneus Fonte: EMBRAPA (2008) Para se avaliar o desempenho das barreiras que são implantadas, fixa-se estacas graduadas de vergalhão no interior das ravinas, para se medir, mensalmente, as taxas de erosão laminar. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo da dinâmica espacial e temporal do processo de voçorocamento, em uma área do município de Rancharia (SP), contribuiu para as seguintes considerações: a) as taxas de erosão das bordas da voçoroca apresentaram um avanço significativo próximo a um meandro do canal de escoamento da voçoroca, devido ao solapamento de base e queda de torrões; b) a correlação de 76% (r² = 0,759) entre a taxa média de erosão das bordas e os índices de precipitação dos intervalos de monitoramento indica uma forte influência do regime climático para a dinâmica do processo erosivo linear. Entretanto, outros aspectos merecem relevância na análise, como a suscetibilidade dos solos à erosão e a morfologia do relevo; e c) as taxas de erosão laminar mostram que, o escoamento laminar ocorre nas áreas com solo exposto pelas trilhas do gado, situação que contribui com o recuo de borda das ravinas. FRANCISCO, Alyson B.; NUNES, João O. R. Processo de erosão linear (voçorocamento) e a ... 30 Através de métodos aplicados no monitoramento dos processos erosivos é possível compreender a dinâmica espacial e temporal da erosão, e os resultados facilitam a seleção das práticas de conservação dos solos. Atualmente, as pesquisas geomorfológicas têm voltado sua atenção para os processos morfodinâmicos, que representam questões ambientais de cunho local com eventos esporádicos (Suertegaray; Nunes, 2001). Os processos erosivos lineares representam riscos às populações, cujo ritmo destes processos torna-se cada vez mais irregular e imprevisível. Entretanto, é marcante a contribuição da Geografia na delimitação das áreas mais problemáticas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA FILHO, Gerson S. Prevenção de erosão em áreas urbanas. Anais do VI Simpósio Nacional de Controle de Erosão, Presidente Prudente: ABGE, 1998. BERTONI, José; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. 4.ed. São Paulo: Ícone, 1990. BOIN, M. N. Chuvas e erosões no Oeste Paulista: uma análise climatológica aplicada. Tese (Doutorado em Geociências e Meio Ambiente), Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro, 2000, 264 p. CASTRO, Selma S. Micromorfologia de solos aplicada ao diagnóstico de erosão. In: GUERRA, A.J.T.; SILVA, A.S.; BOTELHO, R.G.M. (orgs.) Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999, p.127-160. DE PLOEY, J.; GABRIELS, D. Measuring soil loss and experimental studies. In: KIRKBY, M.J.; MORGAN, R.P.C. Soil Erosion, Editora Wiley and Sons Ltda., 1980, p.63-108. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Implantação de Estratégias Físicas para Controle da Erosão. Disponível em: http://www.cnpab.embrapa.br/publicacoes/sistemasdeproducao/vocoroca.html. Acesso em: 08/10/2008. FRANCISCO, A. B. Estudo espaço-temporal do processo de voçorocamento em área do perímetro urbano da cidade de Rancharia-SP. Trabalho de Conclusão (Graduação em Geografia), FCT/UNESP, 2008. GUERRA, Antonio J. T. Processos erosivos nas encostas. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. (orgs.) Geomorfologia: exercícios, técnicas e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.139-155, 1996. _______________. Experimentos e monitoramentos em erosão dos solos. Revista do Departamento de Geografia, Universidade de São Paulo, n.16, p.32-37, 2005. INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Mapa geológico do Estado de São Paulo: 1:500.000. São Paulo: IPT, vol. I, 1981a, p. 46-48; (Publicação IPT 1184). _______________. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo: 1:1.000.000. São Paulo: IPT, vol. II, 1981b, (Publicação IPT 1183). Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 31 LEMOS, R. C.; SANTOS, R. D. Manual de descrição e coleta de solos em campo. Campinas: Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 1996. MAGALHÃES, Ricardo Aguiar. Erosão: definições, tipos e formas de controle. Anais do VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão, Goiânia: ABGE, 2001. OLIVEIRA, A.M.S.; BRANNSTROM, C.; NOLASCO, M.C.; PEDOGGIA, A.U.G.; PEIXOTO, M.N.O.; COLTRINARI, L. Tecnógeno: registros da ação geológica do homem. In: OLIVEIRA, A. M. S.; OLIVEIRA, P. E.; SUGUIO, K.; SOUZA, C. R. G. (orgs.) Quaternário do Brasil. Ribeirão Preto: Holos, 2005, p.363-377. ROSS, J. L. S.; MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, n.10, p.41-56, 1996. ROSSATO, M.S.; BELLANCA, E.T.; FACHINELLO, A.; CÂNDIDO, L.A.; SUERTEGARAY, D. M. A. (orgs.) Terra: feições ilustradas. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003. SUDO, H. Bacia do Alto Santo Anastácio: estudo geomorfológico. Tese (Doutorado em Geografia Física), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 1980. SUERTEGARAY, D.M.A.; NUNES, J.O.R. A natureza da Geografia Física na Geografia. Revista Terra Livre, n.17, p.11-24, 2001. A CONTRIBUIÇÃO DE AZIZ NACIB AB’SABER PARA O DESENVOLVIMENTO DA GEOMORFOLOGIA GEOGRÁFICA NO BRASIL: UMA PRIMEIRA APROXIMAÇÃO Antonio Carlos VITTE. Departamento de Geografia, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Unicamp. Campinas (SP), Brasil. CP 6152, CEP 13087-970. e-mail: vitte@uol.com.br Pesquisador CNPq. Rafaela Soares NIELMANN. Graduanda em Geografia, IG-Unicamp. Campinas (SP), Brasil. bolsista de IniciaçãoCientífica Pibic/CNPq/Unicamp. CP 6152, CEP 13087-970. e-mail: rafaelaniemann@gmail.com Resumo: O trabalho examina a contribuição metodológica e epistemológica de Aziz Nacib Ab’Saber para o desenvolvimento da geomorfologia geográfica no Brasil. A partir das contribuições de Pierre Monbeig, Jean Tricart e Jean Dresch, Ab’Saber desenvolve a noção variações cíclicas do relevo em ambiente tropical quente e úmido, a partir da noção de paleopavimentos detríticos nas encostas florestadas do Brasil no Sudeste. A partir dos avanços da geologia na década de 1950 e a incorporação da teoria da pediplanação, Ab´Saber desenvolve o conceito de regiões de circundesnudação, base para a sua interpretação da compartimentação do relevo brasileiro. Na década de 1970, a partir das influências da biogeografia e da ecologia da paisagem, desenvolve a noção de redutos florestais, marco significativo para o desenvolvimento da geomorfologia geográfica no Brasil, com ampla aplicação nos estudos de ordenamento territorial. Palavras-chave: História da Geografia; Geomorfologia Geográfica; Ab’Saber; Paradigmas; Brasil. THE CONTRIBUTION OF AZIZ NACIB AB'SABER FOR THE DEVELOPMENT OF GEOGRAPHICAL GEOMORPHOLOGY IN BRAZIL: A FIRST APPROXIMATION. Abstract: The paper examines the epistemological and methodological contribution of Aziz Nacib Ab'Saber for the development of geographical geomorphology in Brazil. From the contributions of Pierre Monbeig, Jean Tricart and Jean Dresch, Ab'Saber develops the concept of cyclical variations in topography tropical hot and humid from the notion of paleopaviments overburden the wooded slopes of the brazilian southeast. From the progress of geology in the 1950s and the incorporation of the theory of pediplanation, Ab'Saber develops the concept of regions of circundesnution basis for its interpretation of the subdivision of the brazilian relief. In the decade to 70, from the influences of biogeography and landscape ecology, develops the concept of forest redoubt, significant milestone for the development of geographical geomorphology in Brazil, with wide application in studies of land use. Keywords: History of Geography, Geomorphology Geographic; Ab'Saber; Paradigms, Brazil. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, as literaturas internacionais relacionadas a geomorfologia, vêm registrando um intenso debate sobre os caminhos da geomorfologia e da Geografia Física. Assim, por exemplo, Rhoads e Thorn (2002) registraram a necessidade de se realizar um balanço crítico sobre a história e a epistemologia da geomorfologia, uma vez que a mesma apresenta problemas filosóficos e metodológicos que precisam ser equacionados urgentemente, pois a cada dia a geomorfologia está sendo impregnada pela questão cultural e política. Para Gregory (2000) a geomorfologia geográfica está descaracterizada na geografia Física, pois a maior produção de geomorfologia está acontecendo nas ciências naturais e multidisciplinares. E, esse atraso, segundo Gregory (2000, 2001) ocorre em função do forte VITTE, Antonio C.; NIELMANN, Rafaela S. A contribuição de AZIZ NACIB AB’SABER para o ... 34 impacto do pragmatismo na geomorfologia, sendo que não há razão para não refletirmos sobre os conceitos e as práticas da Geografia Física e em particular pela geomorfologia. O que podemos verificar é que atualmente, o cenário internacional referente à produção da Geografia Física e em especial a produção da geomorfologia, vem merecendo um amplo debate sobre a situação da geomorfologia na geografia e suas relações com as ciências humanas e naturais. O que fica evidente é a enorme necessidade de se realizar estudos sobre a constituição histórica e epistemológica da geomorfologia, o que irá auxiliar na redefinição dos cursos de geografia e no próprio sentido de se fazer geomorfologia no contexto da Ciência Geográfica. É neste contexto que o presente trabalho pretende apresentar algumas considerações sobre a produção epistemológica de Aziz Nacib Ab’Saber, geógrafo responsável pela formação da geomorfologia geográfica no Brasil. O presente trabalho, que se dá por conta do desenvolvimento de uma bolsa de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq/UNICAMP), fundamentando-se principalmente do trabalho de Vitte (2008), que realizou ampla pesquisa sobre a história da geomorfologia no Brasil. A ESTRUTURAÇÃO DA GEOMORFOLOGIA NO BRASIL Genericamente, pode-se dizer que a estruturação científica da geomorfologia no Brasil está muito associada a dois grandes marcos na história política e cultural do Brasil dos anos de 1930, que são de um lado a criação e a institucionalização de várias universidades, destacando-se neste caso a Universidade de São Paulo, USP e já com o Estado Novo (1937-1945) a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que oficialmente terá incumbência de coletar, sistematizar e pensar a questão do território brasileiro, a fim de fornecer elementos analíticos que norteassem as políticas de Estado. Especificamente, no que se refere à concepção de elaboração das superfícies erosivas no sudeste brasileiro, a história da geomorfologia registra a influência de duas grandes matrizes epistemológicas. A primeira compreende a década de 1930 e avança até aproximadamente meados da década de 1950, onde o paradigma dominante é o “Ciclo Geográfico da Erosão”, elaborado por Davis em 1899 (VITTE, 2008). Com a criação das universidades serão institucionalizados cursos de Geografia, assim como cursos de engenharia ligados às escolas politécnicas. Nestes cursos novos, estavam sendo agregados em suas grades curriculares a geologia e a geomorfologia, com um ensino teórico e prático que segundo Ab’Saber (1958) foi fundamental para a geração de geógrafos-geomorfólogos que passaram a contribuir para o conhecimento da diversidade da natureza no Brasil e ao mesmo tempo auxiliando na expansão das fronteiras internas do Brasil (VITTE, 2008). Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 35 A CONTRIBUIÇÃO DE AZIZ NACIB AB’SABER PARA A FORMAÇÃO DA GEOMORFOLOGIA GEOGRÁFICA NO BRASIL Segundo VITTE (2008) a geomorfologia no Brasil desenvolve-se a partir da influência de Emanuel de Martonne e de Pierre Monbeig, (ABREU, 1994) acabou favorecendo o desenvolvimento de uma perspectiva metodológica firme para a geografia. Para Monbeig, a análise geográfica deveria produzir monografias regionais, em que a delimitação regional era dada a partir da relação entre o natural e o social. Historicamente, este momento, coincide com a expansão cafeeira no sudeste do Brasil, particularmente São Paulo, o processo de industrialização e urbanização de São Paulo e a mudança na órbita regional, particularmente entre o nordeste e o sudeste (Oliveira, 1981; Cano, 1990). Ou seja, a geomorfologia na USP e na antiga Universidade do Brasil, desenvolveu-se a partir de uma leitura secundária do ciclo davisiano e particularmente na USP, com forte influência do método monbeiguiano, em que também a noção de história e ocupação era importante para delimitar uma região ou um compartimento. Em 1958, Ab’Saber chamava à atenção para a enorme produção da geomorfologia brasileira, fruto da expansão dos cursos de geografia no Brasil e da interiorização do desenvolvimento econômico do país. A partir da década de 1950, a geomorfologia brasileira passará por uma grande ruptura paradigmática com o surgimento da Teoria da Pediplanação e associada a grandes transformações no interior da Geologia, particularmente no que tange a sedimentologia e a estratigrafia, além do surgimento de novas técnicas de representação e de aquisição de informações, ocorrerá uma ruptura paradigmática na geomorfologia brasileira (VITTE, 2008). A década de 1950, sob o ponto de vista político e econômico é marcada no plano mundial pela intensificaçãoda “Guerra Fria” e pela Revolução Chinesa. No Brasil é a fase de Juscelino Kubstcheck de Oliveira (JK), e, pela implantação das idéias nacional- desenvolvimentistas, com a construção de Brasília, a indústria automobilística e a abertura de rodovias. Para as Ciências da Terra, a década de 1950 é declarada a década dos oceanos, em que pesquisadores das Ciências da Terra procuram por meio do estudo dos sedimentos do fundo oceânico desvendar os processos continentais. É o momento em que os conhecimentos da sedimentologia e da estratigrafia passam a auxiliar os estudos geomorfológicos. Some-se a este fato, a descoberta das variações climáticas da Terra e a possibilidade de associar as evidências destas variações com os sedimentos continentais e, a partir daí, estabelecer uma idade para as formas de relevo. Ainda dos anos 50, temos o uso, ainda que tímido, das fotografias aéreas para as pesquisas geográficas e geomorfológicas, possibilitando uma visão tridimensional das formas e de suas associações em escalas, que associadas aos trabalhos de campo VITTE, Antonio C.; NIELMANN, Rafaela S. A contribuição de AZIZ NACIB AB’SABER para o ... 36 permitiriam construir hipóteses mais condizentes para explicar os fenômenos geomorfológicos em ambiente intertropical (VITTE, 2008). É neste contexto cultural que a comunidade brasileira de geomorfólogos entrará em contato com a Teoria da Pediplanação elaborada pelo geólogo sul africano Lester King (1956), que segundo ABREU (1982) surgirá a partir da influência do congresso de Chicago de 1936, que foi dedicado à obra de Walter Penck. O início dos anos 50 até aproximadamente 1957 é marcado por um processo de transformação nas pesquisas geomorfológicas, não propriamente uma ruptura, mas uma fase de transição devido a obstáculos epistemológicos (BACHELARD,1992), como por exemplo os trabalhos de geologia que estavam mais avançados no conhecimento empírico da realidade brasileira, que os de geomorfologia, que guiados por um modelo anacrônico e incompatível com a realidade tropical brasileira, acabava por não propiciar avanços significativos sobre a gênese do relevo brasileiro. Durante os primeiros sete anos da década de 50, intensos estudos regionais e com preocupações genéticas serão desenvolvidos por Fernando Flávio Marques de Almeida e Aziz Ab’Saber. Trabalhos esses propiciados por significativos avanços na geologia, pela divulgação no Brasil dos trabalhos realizados pelos franceses na África e principalmente pela influência das reflexões de Lester King e von Englen, que se realizaram a partir de 1940, logo após o Congresso de Chicago, que discutiu a obra de Walter Penck. (ABREU, 1982). Um exemplo interessante desse momento da geomorfologia brasileira é a tese de doutoramento de Aziz Ab’Saber, “Geomorfologia do Sítio Urbano de São Paulo” defendida em 1957 (AB’SABER, 2007), tese orientada por Aroldo de Azevedo, tendo como um dos membros examinadores Fernando Flávio Marques de Almeida. Essa obra marca uma profunda transição e ao mesmo tempo uma reconstrução do modelo interpretativo do relevo e de sua gênese (VITTE, 2008). Não há uma ruptura paradigmática, mas a mudança interpretativa, propiciada por novas fontes bibliográficas, como no caso de von Englen e principalmente pelos obstáculos que a geologia, particularmente os trabalhos de Ruy Osório de Freitas que chamavam à atenção e passavam a exigir trabalhos analíticos e de profunda correlação entre os elementos da natureza, como o papel da tectônica e das litologias na estruturação da drenagem e na definição do compartimento geomorfológico, no caso a bacia de São Paulo. Outra influência marcante no trabalho de Aziz é o texto de Fernando Flávio Marques de Almeida “O Planalto Paulistano”, publicado em 1954 pela AGB no livro “A Cidade de São Paulo” (VITTE,2008). A tese de doutorado de Aziz é paradigmática, pois nela além da mudança de concepção sobre a gênese e evolução do relevo, percebe-se claramente um tímido ensaio metodológico que caminhará para o trabalho de Aziz de 1969 (A geomorfologia a serviço das pesquisas do quaternário). Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 37 É um trabalho de geomorfologia, mas de cunho essencialmente geográfico, haja vista as preocupações do autor em construir uma espacialidade do relevo, a bacia de São Paulo, e, de sua gênese altamente complexa, mas preocupado também com as questões históricas voltadas para a construção do espaço, no caso o sítio urbano e, como o relevo influenciou decisivamente a opção da ocupação e a própria valorização imobiliária dos terrenos. No ano de 1956, realiza-se no Rio de Janeiro, o Congresso da UGI, em que as discussões internas são intensificadas com as que se desenvolvem nos trabalhos de campo “pós-congresso”, que foram comandados por Jean Tricart, Jean Dresch e Ab’Saber. O foco central das discussões foi o da problemática dos materiais nas vertentes, principalmente para os paleopavimentos detríticos e o seu significado paleoambiental e geomorfológico (VITTE, 2008). É um trabalho que marca definitivamente o nascimento de um mestre da geografia brasileira, demonstrando claramente à influência de Deffontaines e de Monbeig, com a preocupação regional e histórica e, do ponto de vista da geomorfologia, as influências de Francis Ruellan, von Englen, Jean Dresch e Tricart. No ano de 1964, João José Bigarella, engenheiro químico de formação e discípulo de Reinard Maack por opção e paixão, publicará um trabalho “Variações Climáticas no Quaternário e suas Implicações no Revestimento Florístico do Paraná” (Bol. Paranaense de Geografia, n.10 a 15, 1964), que será um marco referencial muito importante para os estudos cronogeomorfológicos e pela primeira vez no Brasil será demostrada a validade da teoria da biostasia e da resistasia para explicar a evolução do relevo brasileiro (VITTE, 2008). Nesse momento, Aziz trabalha na USP como assistente do professor Aroldo de Azevedo na cadeira de geografia do Brasil, ao mesmo tempo em que o professor Kullmann leciona biogeografia para os alunos de geografia e detalha hipoteticamente os mecanismos que poderiam explicar as diferenças fitogeográficas no território brasileiro. Esse é o momento em que será estruturada sob o ponto de vista da geomorfologia a Teoria dos Refúgios e Redutos Florestais por Aziz em 1979, e ao mesmo tempo a criação dos domínios morfoclimáticos do Brasil (Ab’Saber, 1967), a partir de uma associação entre as formulações de Tricart e de Cholley com a sua noção de sistemas de erosão, mais as reflexões de Kullmann, Monbeig e Aroldo de Azevedo (VITTE, 2008). A Teoria dos Refúgios Florestais representa uma imensa revolução da geomorfologia brasileira em contexto mundial, uma vez que Aziz imprime em sua elaboração a necessidade de considerarmos a compartimentação geomorfológica como sendo condição sine qua non para compreendermos de um lado a complexidade do tecido biogeográfico brasileiro e de outro a própria especificidade dos ditos refúgios. A partir da Teoria dos Refúgios Florestais, a geomorfologia climática é dinamizada. Agora se torna possível especificar as relações entre as variações do Wurm-Winsconsin, por VITTE, Antonio C.; NIELMANN, Rafaela S. A contribuição de AZIZ NACIB AB’SABER para o ... 38 exemplo, com a distribuição do tecido florestal, a existência e a persistência de formas de relevo e depósitos correlativos em ambientes morfoclimáticos distintos ou mesmo contrastantes com as condições atuais (VITTE, 2008). Estava constituída assim, uma das maiores revoluções na geomorfologia climática mundial, a qual fará parte Aziz Ab’Saber, João José Bigarella e Maria Regina Mousinho, que em muitas ocasiões trabalharão conjuntamente formando a estrutura política e científica que garantirá a manutençãodo paradigma climático na interpretação do relevo brasileiro (VITTE, 2008). Assim, em função das especializações da geologia, das novas técnicas e o cimento teórico-metodológico que foi a Teoria da Pediplanação e a Teoria da Bio-Resistasia, os geógrafos-geomorfólogos foram despertados para o estudo dos materiais superficiais e principalmente para o possível papel das “Stones-lines” e cascalheiras enquanto registro das mudanças climáticas no Brasil (AB’SABER, 1962). No final dos anos de 1960 a geomorfologia brasileira presenciar duas grandes revoluções. Primeiramente, com Ab’Saber, que fruto de uma longa reflexão e muita experiência em campo, que já começara durante a sua tese de doutoramento em 1957, Ab’Saber irá publicar em 1969 o clássico trabalho “Um Conceito de Geomorfologia a Serviço das Pesquisas sobre o Quaternário”, um trabalho de cunho metodológico e que exerce influência nas pesquisas geomorfológicas até os dias atuais (VITTE, 2008). No trabalho de 1969, Ab’Saber apresenta a sua concepção de geomorfologia, que para Abreu (1982) é um marco teórico e metodológico nos trabalhos de geomorfologia e ao mesmo tempo, em que coloca Ab’Saber como sendo aquele que incorpora e desenvolve as proposições da linhagem epistemológica germânica (ABREU, 1982). Para Ab’Saber (1969) para a análise geomorfológica dever estar centrada no Quaternário. Esta análise envolve três etapas, sendo o relevo o produto de uma interação complexa que é tecida pelas forças endogenéticas e exogenéticas. Assim, em um trabalho de geomorfologia, devemos considerar como primeiro nível de análise a “compartimentação topográfica”, que envolve não apenas a análise da topografia, mas principalmente a influência da geologia e da estrutura nesta compartimentação, que é regionalmente definida pelos remanescentes de aplainamentos. No segundo nível de análise, o geomorfólogo deve considerar a “estrutura superficial da paisagem”, que corresponde aos solos, mas principalmente aos colúvios, as rampas coluviais e neste caso a possibilidade de cascalheiras e “Stones-lines” não apenas no contato rocha-colúvio, mas inclusive com linhas embutidas no pacote coluvial. As análises físicas, químicas, micromorfológicas permitem a dedução dos processos e a qualidade dos mesmos que atuaram na destruição ou mesmo no reafeiçoamento das formas pretéritas (VITTE, 2008). Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 39 A correlação dos dois primeiros níveis permite já o estabelecimento de uma compartimentação das formas geneticamente homogêneas, com grande utilidade no planejamento ambiental. O terceiro nível de análise de Ab’Saber (1969) é a “fisiologia da paisagem”, compreendida pelo autor como sendo a expressão do funcionamento atual da geoesfera. No caso, corresponde aos processos atuais que atuam no modelamento das formas. CONCLUSÕES O que podemos perceber através da elaboração deste trabalho é que o pensamento humano, não só o geográfico como o de todas as ciências, está sucessível a transições de suas leituras e a transformação de algo já pré-existente, reformulando e fazendo com que esta linha de pensamento se recrie e se transforme, sendo esta amplamente ligada às teorias anteriormente utilizadas. A geomorfologia por sua vez, estará sofrendo pequenas mudanças metodológicas, proporcionadas pela realidade do espaço natural brasileiro,que direta ou indiretamente colocam questionamentos sobre o fazer geomorfologia, fato que está bem marcado na obra da primeira geração da USP, como João Dias da Silveira e Aziz Ab’Saber. E, é justamente Ab’Saber, que proporcionará a partir de seus trabalhos sobre o sítio urbano de São Paulo (Ab’Saber, 2007) o início das mudanças metodológicas e futuramente epistemológicas na geomorfologia brasileira. Influenciado diretamente por Pierre Monbeig (Ab’Saber, 2007a) procurará associar o método regional a compartimentação topográfica que por sua vez é condicionada pela litologia e estrutura, com os processos de aplainamento do relevo (ainda peneplanos em 1957), mas já denotando o descontentamento e a necessidade de um modelo paradigmático que melhor dessa conta da realidade brasileira, que seria em breve a pediplanação. É assim, que em 1969 em sua livre docência (Ab’Saber, 1969) realiza o grande salto qualitativo na geomorfologia brasileira com a pediplanação, mas incorporando o papel da tectônica e sua relação com os aplainamentos na compartimentação do território brasileiro. (VITTE 2008) Com esta proposição metodológica, Ab’Saber (1969) desprende-se dos problemas advindos com a adoção da taxonomia das formas de relevo, como as propostas por Tricart (1965). Agora, as formas são produto dos processos passados e dos atuais, em um quadro em que participam tanto a geologia quanto as forças climáticas e paleoclimáticas (VITTE, 2008). Apesar de poucos questionamentos ao modelo de Aziz e Bigarella, a década de 1960 foi fundamental para se construir um verdadeiro paradigma na geomorfologia brasileira. Pois, montaram-se umas estruturas teóricas, metodológicas e interpretativas do relevo e de seus processos, construindo juntamente, uma verdadeira geomorfologia geográfica. VITTE, Antonio C.; NIELMANN, Rafaela S. A contribuição de AZIZ NACIB AB’SABER para o ... 40 Onde a grande marca do modelo é o artigo de 1969 de Aziz, “A geomorfologia a serviço das pesquisas do quaternário”, que até hoje exerce forte poder nas pesquisas geomorfológicas do Brasil e nada mais foi construído em termos teóricos e metodológicos para se buscar análises mais precisas e profundas sobre a gênese do relevo brasileiro (VITTE, 2008). Talvez ai esteja um dos maiores problemas da geomorfologia geográfica brasileira, pois esse modelo e esse método desenvolvido exerceram tamanho poder por gerações de geógrafos-geomorfólogos ao longo do tempo, que a própria criatividade científica, por parte da geografia, tenha sido afetada, a tal ponto que hoje estamos com enorme dificuldade de manter a geomorfologia na geografia e desenvolver modelagens mais apropriadas ao atual estágio de desenvolvimento científico do Brasil. Segundo Abreu (1982) as reflexões de Aziz representam o salto qualitativo não somente em termos de uso de técnicas na geomorfologia, como por exemplo, o uso de fotografias aéreas, mas também sob o ponto de vista epistemológico, à medida que o rompimento com o paradigma davisiano e a incorporação da pediplanação, não passou distante da crítica e da renovação conceitual e metodológica, da qual participaram também o professor João José Bigarella e a professora Maria Regina Mousinho Meis. (VITTE 2008) Estes se constituem nos grandes difusores e ao mesmo tempo as principais estruturas do novo paradigma o climático, onde será fundamentais a reflexão de Aziz Ab’Saber sobre os domínios morfoclimáticos e os redutos florestais do Brasil (Ab’Saber, 1967). Os anos 70 são marcados pela consolidação dos paradigmas climáticos desenvolvidos por Aziz Ab’Saber, Bigarella e Mousinho; ao mesmo tempo em que assistimos a uma intensa tecnificação do território e o processo de se conhecer detalhadamente as potencialidades naturais do território nacional (VITTE 2008). Outro fator de extrema importância e a sua tese de doutorado de Aziz Nacib Ab'Saber que é paradigmática, pois nela além da mudança de concepção sobre a gênese e evolução do relevo, percebe-se claramente um tímido ensaio metodológico que caminhará para o trabalho de Aziz de 1969 (A geomorfologia a serviço das pesquisas do quaternário). É um trabalho de geomorfologia, mas de cunho essencialmente geográfico, haja vista as preocupações do autor em construir uma espacialidade do relevo, a bacia de São Paulo, e, de sua gênese altamente complexa, mas preocupado também com as questões históricas voltadas para a construçãodo espaço, no caso o sítio urbano e, como o relevo influenciou decisivamente a opção da ocupação e a própria valorização imobiliária dos terrenos. Por fim, vale apenas o registro de que a obra de doutoramento Geomorfologia do Sítio Urbano de São Paulo (Ab’Sáber, 1957), embora desenvolvida 12 anos antes da proposição metodológica, com o artigo Um Conceito de Geomorfologia a Serviço das Pesquisas sobre o Quaternário (Ab’Sáber, 1969), muito do processo da abordagem da fisiologia da paisagem pode ser encontrada na tese. O que comprova, como lógica Anais da X Semana de Geografia e V Encontro de Estudantes de Licenciatura em Geografia – “A Geografia em Presidente Prudente: 50 anos em movimento” 41 predominante do conhecimento científico, que inicialmente vivencia-se o empírico, para depois teoriza-lo.(SILVEIRA 2008) Em seus estudos, podemos observar a dificuldade em uma separação das regiões, de traçar limites devido as diferentes faixas de transição, devido aos seus mosaicos complexos, das faixas de transição que misturam até três componentes em uma mesma área de contato. Com estes estudos, Aziz percebe que a geografia não está apenas relacionada com a geomorfologia e a geologia, mas também com estudos biogeográficos, dando uma terceira visão de domínios e fitogeografia, dando o ar de interdisciplinariedade aos seus estudos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU A. A. Análise Geomorfológica: reflexão e aplicação. São Paulo, Depto. Geografia, FFLCH-USP, 1982. (Tese de Livre-Docência). AB`SÁBER, A. N. A Depressão Periférica Paulista: um setor das áreas de circundesnudação póscretácica da Bacia do Paraná. São Paulo: Inst. Geogr. USP, Geomorfologia 15. 1969a, 26p. ______. Domínios morfolclimáticos e províncias fitogeográficas do Brasil. Orientação, n.3, 1967. ______. Meditações em torno da notícia e da crítica na geomorfologia brasileira. Not. Geomorfológica, ano 1, 1958, p.1-6. ______. Geomorfologia do Sítio Urbano de São Paulo. Boletim do Instituto de Geografia (USP). Tese de Doutoramento (FFLCH-USP), 1957. ______. Províncias geológicas e domínios morfoclimáticos no Brasil. São Paulo: Inst.Geogr. USP, Geomorfologia, n. 15.1970, 15p. ______. Participação das depressões periféricas aplainadas na compartimentação do Planalto Brasileiro. Inst. Geogr. USP, Geomorfologia,n. 26, 1972. ______. Províncias geológicas e domínios morfoclimáticos no Brasil. São Paulo: Inst. Geogr. USP, Geomorfologia, n. 15.1969b, 15p. ______. Revisão dos conhecimentos sobre o horizonte subsuperficial de cascalhos inhumanos no Brasil Oriental. Boletim Univ. Paraná, Geografia Física, n. 2, 1961, 32p. ______. Superfícies aplainadas do primeiro planalto do Paraná. Bol. Paran. Geografia, n. 4/5, 1961, p.116-125. ______. Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o quaternário. Geomorfologia, n.18, 1969c. ______. O que é ser geógrafo: memórias profissionais de Aziz Nacib Ab’Saber/ em depoimento a Cynara Menezes. – Rio de Janeiro: Record, 2007. VITTE, Antonio C.; NIELMANN, Rafaela S. A contribuição de AZIZ NACIB AB’SABER para o ... 42 ALMEIDA F. F. M. Fundamentos geológicos do relevo paulista. In: INSTITUTO GEOLÓGICO E GEOGRÁFICO. Geologia do Estado de São Paulo. São Paulo: IGG. p. 167- 262. (IGG. Bol, 41), 1964. BACHELARD, G. A formação do espírito científico. RJ: Contraponto,1996. BECKER, B. e Eagler, C. BRASIL- Uma Nova Potência Regional na Economia-Mundo. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1993. BIGARELLA, J. J., MARQUES, Filho P. e AB’SABER, A. N. Ocorrências de pedimentos remanescentes nas fraldas da serra do Iqueririm (Garuva-SC). Bol. Paran. Geografia, (4 e 5), 1961, p.71-85. GREGORY, K. J. A natureza da geografia física. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2000. GREGORY, K. J., GURNELL, A. M. e PETTS, G. E. Restructuring physical geography. . Transc. Inst. Brit. Geogr. NS 27, 2001 p. 136-154. KING, L. A geomorfologia do Brasil oriental. Rev. Bras. Geogr., 18(2), 1956,147-265. MARTONNE, E. 1943-1944. Problemas morfológicos do Brasil tropical atlântico I. Rio de Janeiro, Rev. Bras. Geogr., V(4),1943, p.3-26. ______. Problemas morfológicos do Brasil tropical atlântico II. Rev. Bras. Geogr., 5(4), 1944, 523-550. RHOADS, J. e THORN, C. E. Contemporary philosophical perspectives on physical geography with emphasis on geomorphology. Geographical Review, n.84, 2004, p. 90- 101. SILVEIRA,A. Uma tentativa da compreensão da dinâmica paisagística sob a óticada fisiologia da paisagem nas obras de AZIZ AB’SÁBER (1957 e 1969): O CASO DO SÍTIO URBANO DE SÃO PAULO (SP) 1° SIMPGEO/SP, Rio Claro, 2008. TRICART, J. Ecogeografia. RJ: IBGE, 1982. VITTE, A. C. Epistemologia e Geografia: as transformações paradigmáticas na geomorfologia brasileira entre 1930 e 2000. SP, FAPESP (processo 06/01047-7), relatório final, 2008, 110p. ______. O texto no contexto. A tese de doutoramento de João Dias da Silveira “Estudo Geomorfológico dos Contrafortes Ocidentais da Mantiqueira”. I Seminário Nacional de História do Pensamento Geográfico, Rio Claro: Unesp, Anais, 1999.[sp]. A POLÍTICA AMBIENTAL NO BRASIL (2003-2006) Carolina Grosso de SOUZA carolgs@hotmail.com Estudante do 4° ano de História Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Unesp Bolsista de Iniciação Cientifica desde Julho de 2008 pela Fapesp Resumo: Esta pesquisa procura expor a Política Ambiental do governo Lula, de 2003 a 2006, fazendo uma análise das Mensagens ao Congresso Nacional. Com o intuito de promover uma reflexão sobre o meio ambiente e a política no Brasil, o projeto se baseia na historia do Tempo Presente para a construção de referências históricas e a elaboração de um instrumento de pesquisa. Desta forma, a pesquisa busca estabelecer relações entre a natureza e a sociedade, considerando os aspectos da política ambiental na atuação de um período governamental. Palavras-chave: Política, Brasil, História Ambiental INTRODUÇÃO: A proposta do projeto é analisar algumas questões da política ambiental no Brasil. O foco está no mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de 2003 a 2006. O presidente do Brasil em apreço participou da criação do PT (Partido dos Trabalhadores), sendo co-fundador e presidente de honra deste partido. Mas no contexto do seu governo há mudanças drásticas sobre a ideologia do Partido dos Trabalhadores, correspondendo às mudanças geradas pelo seu governo. A questão ambiental está em alta no Brasil, neste período, sendo assim muito discutida. Devido a isso é importante a análise de políticas ambientais, para descrever a situação do país e encontrar um diagnóstico coerente a problemática ambiental. Vale à pena salientar que apenas recentemente foram incluídos os princípios ambientais na Constituição de 1988, considerando o Direito Ambiental como sendo um bem coletivo. As políticas ambientais não estão somente relacionadas com a preservação do meio ambiente, mas também com o seu desenvolvimento, buscando uma situação estável e de sustentabilidade para a sociedade. É preciso assinalar que um dos desafios atuais do Brasil, no que diz respeito à questão ambiental, consiste na legitimação das Leis, ações e políticas ambientais, junto aos outros países, ao setor produtivo e a sociedade como um todo; e devem ser entendidos como instrumentos institucionais a serviço do bem coletivo, da preservação e a conseqüente melhoria da qualidade de vida. Este projeto utiliza como fonte: as Mensagens ao Congresso Nacional de 2003 a 2006, que são os principais objetos de estudo. A Metodologia utilizada é da História Ambiental, que vem tratar da questão ambiental com uma perspectiva histórica reunindo elementos sociais determinantes na relação da sociedade e a natureza. Utilizando a geografia e a ecologia como interações sociedade-ambiente, acrescenta a História Ambiental recursos metodológicos, pois esses temas contribuem para uma maior reflexão sobre
Compartilhar