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Memórias do II Workshop Integração de saberes ambientais Programa de Pós-graduação em unesp Sorocaba Produção Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais - UNESP Composição eletrônica Felipe Hashimoto Fengler e Bruno Vicente Marques Capa Felipe Hashimoto Fengler W926m Workshop de Integração de Saberes Ambientais (2., 2014: Sorocaba, SP) Memórias do II Workshop de Integração de Saberes Ambientais / II Workshop de Integração de Saberes Ambientais, 26 de novembro de 2014, Sorocaba, SP ; Admilson Írio Ribeiro... [et al.]. – Sorocaba : Unesp - Câmpus Experimental de Sorocaba, 2014. 190 f. : il. E-book ISBN: 978-85-64992-11-5 Evento realizado na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Câmpus Sorocaba pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais da Unesp Câmpus Sorocaba. 1. Ciências ambientais. 2. Recursos hídricos. 3. Geoprocessamento. 4. Proteção ambiental. I. Ribeiro, Admilson Írio. II. Martins, Antonio Cesar Germano. III. Marques, Bruno Vicente. IV. Machado, Fernando Henrique. V. Medeiros, Gerson Araujo de. VI. Mello, Giovanna Frederici de. VII. Roveda, José Arnaldo Frutuoso. VIII. Fraceto, Leonardo Fernandes. IX. Roveda, Sandra Regina Monteiro Masalskiene. X. Silva, Sheila Cardoso da. XI. Campos, Valquiria. XII. Carlos, Viviane Moschini. CDD 333.7 Organizadores Acadêmicos Bruno Vicente Marques Felipe Hashimoto Fengler Fernando Henrique Machado Giovanna Federici de Mello Professores Admilson Irio Ribeiro Antonio Cesar Germano Martins Gerson Araujo de Medeiros Jose Arnaldo Arnaldo Frutuoso Roveda Leonardo Fernandes Fraceto Sandra Regina M. Masalskiene Roveda Sheila Cardoso-Silva Valquiria Campos Viviane Moschini Carlos Apresentação O II Workshop de Integração de Saberes Ambientais vem consolidar uma iniciativa do Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) da UNESP, Campus de Sorocaba, lançada em 2013, ano da primeira edição do evento. Naquela ocasião buscava-se organizar um fórum voltado à integração e disseminação dos saberes desenvolvidos nas disciplinas de abrangência do PPGCA, como forma de fomentar o paradigma da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, permeando as DISCUSSÃO das questões ambientais contemporâneas. Na segunda edição do evento houve uma participação de alunos de todas as disciplinas oferecidas no segundo semestre letivo, por meio do envio de resumos expandidos, com base nos conteúdos desenvolvidos em Hidrogeologia, Modelagem Matemática, Processamento de Imagens Digitais, Limnologia, Gestão Ambiental e Recuperação de Áreas Degradadas. Em relação à edição passada também houve um acréscimo de 40% na quantidade de textos acadêmicos publicados, passando de 25 para 35 artigos, o que demonstra um envolvimento crescente do quadro discente. Nesse contexto organizou-se o presente livro em três temáticas, relacionadas às linhas de pesquisa do PPGCA: Recursos hídricos, manejo e monitoramento ambiental; Geoprocessamento e modelagem matemática ambiental; Tratamento de efluentes, preservação e recuperação ambiental. O preocupante quadro da escassez dos recursos hídricos, suas causas e desdobramentos, motivaram o desenvolvimento de estudos de caso envolvendo a bacia hidrográfica como objeto de estudo da temática Recursos hídricos, manejo e monitoramento ambiental. Nessa temática inseriram-se as disciplinas Gestão Ambiental e Limnologia. Na disciplina de Limnologia o estudo de caso foi no lago do Parque Natural dos Esportes “Chico Mendes”, em Sorocaba – SP. Nesse estudo avaliou-se a qualidade da água por meio do levantamento de variáveis limnológicas, além de se caracterizar o uso e ocupação do solo da microbacia hidrográfica da Água Podre, na qual se insere o corpo hídrico avaliado. A bacia do rio Jundiaí Mirim constituiu outro objeto de estudo desse tema, na disciplina de Gestão Ambiental. O local fornece água para o reservatório de abastecimento do município de Jundiaí. Os trabalhos endereçaram diversos aspectos relacionados à gestão sustentável dos recursos hídricos como: aspectos históricos da reversão de água na bacia, qualidade física, química e biológica dos recursos hídricos, uso e ocupação do solo, riscos para a saúde humana, diagnóstico do lixo difuso, manutenção de reservatórios, entre outros. Destaca-se, nessa temática, a inserção das disciplinas na realidade ambiental regional de Sorocaba e Jundiaí, promovendo o avanço do entendimento das questões ambientais contemporâneas desses municípios. Na temática relacionada à Geoprocessamento e modelagem matemática ambiental explorou-se a potencialidade de ferramentas de análise ambiental como o processamento de imagens digitais e a lógica fuzzy, por meio dos estudos desenvolvidos nas disciplinas Processamento de Imagens Digitais, Modelagem e Processamento da Incerteza em Informação Geográfica e Modelagem Matemática. Nesse viés o processamento de imagens digitais é uma importante técnica de análise e inferências do uso e ocupação do solo. Já a lógica fuzzy demonstrou ser uma abordagem metodológica para estudos de recuperação de áreas degradadas. Tais metodologias permeiam os estudos desenvolvidos nas demais temáticas, demonstrando o seu forte caráter transdisciplinar. Estudos em área de mineração envolvendo diagnósticos ambientais e avaliação do potencial de uso da água de cavas desativadas caracterizou o perfil dos resumos expandidos desenvolvidos na temática: Tratamento de efluentes, preservação e recuperação ambiental. Tais estudos de caso foram desenvolvidos na abrangência das disciplinas Recuperação de Áreas Degradadas e Hidrogeologia. No tema mineração foram desenvolvidos estudos em uma área degradada com histórico de exploração de cascalho, localizada no Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico de Campinas, em Jundiaí – SP. Os estudos envolveram a estratificação do ambiente, que embasou planos de amostragem de parâmetros físicos, químicos, hídricos e biológicos do solo, além de um levantamento da interação de espécies vegetais na área degradada e em seu entorno. Já a escassez de recursos hídricos foi abordada em um estudo de caso da região de Cordeirópolis, onde foi levantada a discussão referente ao uso da água armazenada em área de cava desativada para abastecimento público, com desdobramentos ambientais, legais e de saúde pública. Por meio desses relatos justifica-se o presente livro de memórias, como um registro das DISCUSSÃO, paradigmas e desenvolvimentos metodológicos que surgem frente a demanda por uma abordagem interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar da temática ambiental contemporânea. Prof. Gerson Araujo de Medeiros Conteúdo TRANSPOSIÇÃO DA BACIA DO RIO ATIBAIA PARA O RIO JUNDIAÍ-MIRIM: ASPECTOS HISTÓRICOS E DESDOBRAMENTOS AMBIENTAIS ................................................................... 1 AVALIAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA ANÁLISE DE PAISAGEM NA BACIA HDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM ................................................................................... 7 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA DA BACIA DO RIO JUNDIAÍ- MIRIM UTILIZANDO SONDA MULTIPARÂMETROS ............................................................... 13 AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE FÁRMACOS NA BACIA DO RIO JUNDIAÍ MIRIM . 20 ANÁLISE DE CARBONO ORGÂNICO TOTAL E CARBONO ORGÂNICO DISSOLVIDO NA SUB-BACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, JUNDIAÍ - SP ................................................................ 27 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS E SUAS IMPLICAÇÕES POTENCIAIS PARA A SAÚDE HUMANA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, JUNDIAÍ– SP .................. 31 VARIÁVEIS MICROBIOLÓGICAS NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUA DA MICROBACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, JUNDIAÍ – SP ............................................................ 36 ÍNDICE DE ESTADO TRÓFICO E ANÁLISE QUALITATIVA DA COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA EM PONTOS ESTRATÉGICOS NA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIÁI-MIRIM, JUNDIAÍ – SP ........................................................................................... 42 IMPACTOS AMBIENTAIS DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO ATIBAIA EM BARRAGENS NA BACIA DO RIO JUNDIAÍ MIRIM ................................................................................................. 49 INTERVENÇÕES NAS MARGENS DEGRADADAS DA BACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM COM BIOENGENHARIA DE SOLOS ..................................................................................................... 55 RESÍDUOS DE SISTEMAS DE BOMBEAMENTO D‟ÁGUA: ESTUDO DE CASO NA BACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM .................................................................................................................... 62 RESÍDUOS SÓLIDOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM ......................... 69 PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS NA AVALIAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM .................................................................................................................... 74 MAPEAMENTO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO PARQUE NATURAL DOS ESPORTES “CHICO MENDES”, SOROCABA, SP. .......................................................................................... 81 COMUNIDADE DE INVERTEBRADOS BENTÔNICOS EM UM LAGO DO PARQUE NATURAL DOS ESPORTES “CHICO MENDES” ............................................................................................ 88 CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO TRÓFICO DE UM LAGO NO PARQUE NATURAL DOS ESPORTES “CHICO MENDES” .................................................................................................... 94 COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA E ZOOPLANCTÔNICA NO LAGO ARTIFICIAL DO PARQUE NATURAL DOS ESPORTES “CHICO MENDES” – SOROCABA/SP ........................... 98 VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS E MICROBIOLÓGICAS NO LAGO DO PARQUE NATURAL DOS ESPOSTES “CHICO MENDES”, SOROCABA-SP .............................................................. 104 Tema 2: Geoprocessamento e modelagem matemática ambiental CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA FUZZY DE APOIO À ANÁLISE ESPACIAL DA AUTOSUSTENTABILIDADE APLICADO AO MONITORAMENTO DA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS .............................................................................................................. 111 INTEGRAÇÃO DA MODELAGEM POR EQUAÇÕES DIFERENCIAIS A UM SISTEMA DE INFERÊNCIA FUZZY APLICADA À GESTÃO E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS VERDES URBANAS DEGRADADAS ........................................................................................................ 117 ANÁLISE TEMPORAL DA COBERTURA VEGETAL ATRAVÉS DE CÁLCULO DO NDVI ... 122 SEGMENTAÇÃO DE ÀREAS URBANAS EM IMAGENS DE SATÉLITE UTILIZANDO LIMIARES .................................................................................................................................... 128 IDENTIFICAÇÃO DE NUVENS E SOMBRAS EM IMAGENS DE SENSORIAMENTO REMOTO ...................................................................................................................................................... 133 IDENTIFICAÇÃO DE POTENCIAIS CANAIS DE ESCOAMENTO DE CARGAS ANTRÓPICAS DA MINERAÇÃO DE CARVÃO EM MOATIZE, MOÇAMBIQUE ............................................ 138 DIFERENTES TÉCNICAS DE SEGMENTAÇÃO DE ÁREA DE CLAREIRA EM PLANTIO DE EUCALIPTO................................................................................................................................. 143 APLICAÇÃO DE MÉTODOS PARA A SEGMENTAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE USO DE SOLO DE UMA ÁREA CONTRIBUINTE DO RIO IPANEMINHA DE BAIXO .......................... 149 PARÂMETROS PARA BUSCA DE REGIÕES EM IMAGENS AMBIENTAIS ........................... 154 Tema 3: Tratamento de efluentes, preservação e recuperação ambiental ESTRATIFICAÇÃO DE AMBIENTES NA GESTÃO DE ÁREAS DEGRADADAS .................... 159 ANÁLISE DAS RELAÇÕES BENÉFICAS ENTRE PLANTAS .................................................... 164 DE ÁREAS DEGRADADAS. ....................................................................................................... 164 ESTRATIFICAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS POR MEIO DO ESTUDO DE ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO ...................................................................................................................... 169 CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA SATURADA NOS DIFERENTES ESTRATOS DE UMA ÁREA DEGRADADA PELA MINERAÇÃO NO CENTRO DE ENGENHARIA E AUTOMAÇÃO (CEA-IAC), JUNDIAÍ-SP ............................................................................................................. 174 ANÁLISE DA FERTILIDADE DO SOLO EM ÁREA DEGRADADA PELA ATIVIDADE DE MINERAÇÃO COMO SUBSÍDIO PARA RECUPERAÇÃO ........................................................ 178 ANÁLISE DA DIVERSIDADE DA ATIVIDADE BIOLÓGICA DO SOLO NA BACIA DO JUNDIÁI MIRIM - SP................................................................................................................... 185 ENSAIOS DE PENETROMETRIA EM ÁREAS DEGRADADAS PARA FINS DE GESTÃO: ESTUDO DE CASO NO CEA/IAC-JUNDIAÍ ............................................................................... 190 ANÁLISE DO CARÁTER DE DEFINIÇÃO DO USO DE MINAS DESATIVADAS NO MUNICÍPIO DE CORDEIRÓPOLIS, COMO ALTERNATIVA PARA O ABASTECIMENTO DE ÁGUA ........................................................................................................................................... 196 Disciplina Gestão Ambiental Responsáveis Prof. Dr. Gerson Araújo de Medeiros Prof. Dr. Admilson Írio Ribeiro 1 TRANSPOSIÇÃO DA BACIA DO RIO ATIBAIA PARA O RIO JUNDIAÍ- MIRIM: ASPECTOS HISTÓRICOS E DESDOBRAMENTOS AMBIENTAIS PIACITELLI, Leni Palmira¹; BIAGOLINI, Carlos Humberto²; MACHADO, Fernando Henrique³; PECHE- FILHO, Afonso4; RIBEIRO, Admilson Írio5; MEDEIROS, Gerson Araujo5 1Administradora, doutoranda, PPGCA/UNESP/Sorocaba, e-mail: lenipiacitelli@hotmail.com 2Adm./Bio./Pedagogo, doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba 3Adm. - Gestor Ambiental, doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba 4Agrônomo, pesquisador científico nível VI, CEA/IAC,doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba 5 Eng. Agrícola, docente da disciplina de Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA/UNESP/Sorocaba RESUMO Transposição é o processo pelo qual parte da água de um determinado rio é transportada para outro local, podendo ser um reservatório, canal ou mesmo outro rio, fazendo com que a água desviada chegue até determinados lugares onde há carência hídrica. Nesse contexto, este trabalho se propôs a apresentar os aspectos históricos e desdobramentos ambientais resultantes da transposição de águas da bacia hidrográfica do rio Atibaia para a do rio Jundiaí-Mirim, bem como avaliar as vantagens e desvantagens desta transposição. Visando atingir esse propósito foi realizado um levantamento bibliográfico e um trabalho de campo no dia 24 de setembro de 2014 visando ter um melhor entendimento da bacia. Por fim, foi constatado que se por um lado a transposição resolve parcialmente problemas como a seca ou a falta d‟água para irrigação, por outro, afeta o meio ambiente, muitas vezes de forma adversa, provocando danos que nem sempre são reversíveis. Palavras-chave: Transposição de águas; UGRHI-05; Rio Jundiaí-Mirim; Rio Atibaia. INTRODUÇÃO O termo transposição, em seu sentido lato, de acordo com Ferreira (1988) apud Khran et al. (2006) é o ato ou efeito de transpor. Enquanto transpor é colocar algo emlugar diverso daquele em que estava ou devia estar (...), transportar (...). A compreensão sobre os processos que envolvem a transposição de águas é importante, pois a preocupação deve estar voltada para a sustentabilidade das bacias hidrográficas envolvidas. Buscando aproximar um conceito para transposição de águas, a partir desta discussão, poder-se-ia dizer que é o ato de levar água de uma bacia hidrográfica para outra, através de leitos naturais ou artificiais, a partir de estudos socioambientais tanto da fonte provedora, quanto 2 da receptora. Esse processo visa transpor barreiras de natureza física, social e econômica, imposta pela escassez de água e, assim, criar condições para a existência da vida. Embora o processo já seja conhecido a mais de 2000 anos, ainda causa muita discussão, pois, há fatores positivos e negativos nesta ação. Na história, há vários casos de transposição que tiveram êxito, levando prosperidade para regiões afetadas pela falta de água, mas há também casos em que causaram catástrofes ecológicas como na China da antiguidade. Os Estados Unidos só conseguiram transformar a Califórnia num grande celeiro de grãos devido à transposição de rios, no entanto, como efeito colateral da transposição, acabou secando sua foz. Em 1947, 85% da água de transposição iam para irrigação, hoje, este percentual baixou para 38% com o resto dividido entre consumo humano e industrial (SANDES, 2011). No Brasil, durante o processo de construção de hidroelétricas, ocorreram obras de transposição que por falta de informação caíram no esquecimento e poucos registros há sobre elas. Um destes casos é a transposição do rio Piumhi que aconteceu entre o final da década de 1950 e início da década de 1960, quando estava sendo construída a usina hidrelétrica de Furnas, que se situa no centro-oeste de Minas Gerais. Na ocasião da construção, um dos problemas encontrados foi que com o alagamento da represa, as bacias do rio Grande e do rio São Francisco foram conectadas pelo rio Piumhi. Sendo assim, o rio Piumhi, que era afluente do rio Grande foi desviado de seu curso e passou a ser afluente do rio São Francisco. Segundo Moreira (2006) e Assis (2010), havia um pantanal por onde corria o leito do rio Piumhi, por isso foi feito um sistema de drenagem e o rio passou a correr por um canal artificialmente construído, desviando as águas do pantanal e de seus afluentes para o córrego Água Limpa. Este último deságua na margem esquerda do Ribeirão Sujo, um dos afluentes da margem direita do rio São Francisco. No contexto paulista, pode-se mencionar a transposição do rio Atibaia para o rio Jundiaí-Mirim, na região de Jundiaí-SP. O rio Atibaia é formado pela junção dos rios Atibainha e Cachoeira; entre os municípios paulistas de Bom Jesus dos Perdões e Atibaia. A região metropolitana de São Paulo (RMSP), ainda que não esteja geograficamente inserida nesta bacia, utiliza seus recursos hídricos e faz dela um importante manancial de 3 abastecimento público, o que agrava a disponibilidade hídrica e os problemas ambientais da bacia principalmente em períodos de estiagem. Esta bacia é a principal responsável por abastecer habitantes das duas maiores concentrações urbanas do estado, além de servir à indústria e agricultura; assim a sub-bacia do rio Atibaia, vem sofrendo as consequências de escassez e poluição. Esta bacia abastece 75% da população de Atibaia e 95% da população de Campinas entre outras cidades paulistas. Durante períodos de seca, a cidade de Jundiaí possui outorga, ou seja, autorização para promover a transposição de água do rio Atibaia para a bacia do rio Jundiaí-Mirim, aumentando o volume de água disponível para tratamento e distribuição como água potável (DEMAMBORO, 2013). Dentro dessa abordagem, este estudo visou analisar a transposição da bacia do rio Atibaia para a do rio Jundiaí-Mirim, abordando os aspectos históricos e desdobramentos ambientais do processo. METODOLOGIA A bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim possuí uma área de drenagem de 118 km2, vazão de 350 L/s e abrange 3 municípios paulistas, dos quais: Jundiaí (55%), Jarinú (36,6%) e Campo Limpo Paulista (8,4%), sendo o principal manancial de abastecimento público de Jundiaí, fornecendo 97% da água consumida pelo município (Moraes, 2003). Jundiaí fica a 58 km da capital do estado, possui uma população estimada de 370.126 (IBGE, 2014). Os dados foram coletados por meio de pesquisa bibliográfica em artigos científicos e em estudos de caso sobre transposição de águas. Um trabalho de campo ao longo da bacia foi realizado no dia 24 de setembro de 2014 visando ter um melhor entendimento da bacia. Uma entrevista informal também foi realizada com o pesquisador do CEA/IAC Afonso Peche Filho, do qual desenvolve estudos ambientais na região. RESULTADOS E DISCUSSÃO O crescimento populacional e industrial está relacionado com o aumento do consumo de água, evidenciando a necessidade de transposição de águas de áreas com maior 4 disponibilidade para áreas com menor disponibilidade. Jundiaí encontra-se nesta última situação, necessitando da transposição de águas do rio Atibaia para o rio Jundiaí-Mirim. As primeiras instalações de captação de água na bacia do rio Jundiaí-Mirim datam da década de 50, mas já a partir da década de 60 devido ao crescimento populacional e industrial de Jundiaí houve a necessidade de transposição das águas do rio Atibaia (rio de classe 2), captadas no município de Itatiba, para o rio Jundiaí-Mirim (rio de classe 1). Essa transposição visou reforçar as vazões do Jundiaí-Mirim nos períodos de estiagem, sendo que no ano de 1998 foi outorgado o bombeamento de até 1.800 L/s de água do rio Atibaia para o rio Jundiaí-Mirim (GRAMOLELLI JR., 2004). Entretanto, a vazão transposta nos dias atuais é na ordem de 700 L/s (MORAES, 2003), o que equivale ao dobro da vazão do rio Jundiaí-Mirim. Na Figura 1 é apresentado o ponto de recebimento da transposição, processo que beneficia a qualidade da água e, consequentemente, os organismos aquáticos nela existentes, uma vez que neste revolvimento de descida, há maior incorporação de oxigênio na água. Entretanto, esse incremento de vazão causa diversos impactos, dentre os quais pode-se destacar os impactos físicos de solapamento das margens (Figura 2) e o excesso de carreamento de sedimentos, que formam bancos de sedimentos ao longo do curso d‟água (Figura 3). Esses fatos decorrem, principalmente, pelo fato do canal natural do rio não ser concebido naturalmente para receber esse aumento de vazão. Figura 1. Ponto de transposição Figura 2. Solapamentos das margens Figura 3. Banco de sedimentos s23°06.002'w046°46.381' s23°08.900'w046°49.378' s23°08.883'w046°49.347' 5 Portanto, a transposição das águas da bacia hidrográfica do rio Atibaia para a bacia do rio Jundiaí-Mirim coloca em discussão os pontos positivos e negativos do processo. Em períodos de estiagem é feita a transposição, fato que beneficia a cidade de Jundiaí com o aumento da oferta de água. Em contrapartida, a bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim sofre alterações significativas devido ao volume de sedimentos que são arrastados e que se depositam ao longo do canal do rio e, principalmente, no reservatório de abastecimento do município, diminuindo sua vida útil e aumentando os gastos de manutenção. Embora o processo de transposição cause danos tanto na redução do volume de água do rio Atibaia, como também no acúmulo de sedimentos no rio Jundiaí, é possível constatar que a transposição se faz necessária. A alta e crescente demanda de água para consumo humano e a baixa pluviosidade enfrentada no período de estiagem em Jundiaí sinaliza a necessidade da transposição. Também é necessário destacar que o Rio Atibaia, na região das cidades de Campinas e Paulínia, Estado de São Paulo, apresenta-se sobo impacto de uma grande carga poluidora proveniente do esgoto doméstico in natura das cidades presentes em sua bacia hidrográfica. Estudos têm mostrado que as presenças de matéria orgânica e amônia são responsáveis em grande parte pela degradação da qualidade destas águas, afetando o equilíbrio das comunidades aquáticas (SILVA & JARDIM, 2006). CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora o processo de transposição de águas traga impactos ambientais adversos nos aspectos físicos e bióticos do meio, é essencial para que o município supra sua carência hídrica. Destaca-se que deve ser considerado o uso múltiplo das águas e que o rio Atibaia pode não ter água suficiente para disponibilizar para transposição nos períodos de estiagem, o que pode por em risco a segurança hídrica de Jundiaí. Sendo assim, deve ser incentivada a criação de políticas públicas que visem à preservação da bacia do rio Jundiaí-Mirim, com o intuito resguardar a qualidade ambiental da área e, assim, contribuir para a melhoria e/ou conservação da qualidade e quantidade de água produzida pela bacia. Investimentos em 6 ações de educação ambiental e o uso eficiente de água no município também devem ser adotados. REFERÊNCIAS ASSIS, A. T. Resgate histórico da percepção dos moradores locais em relação à transposição do rio Piumhi para o rio São Francisco. Revista Uniara, v. 13, nº.1, 2010. DEMANBORO, A. C.; LAURENTIS, G. L.; BETTINE, S. C. Cenários ambientais na bacia do rio Atibaia. Eng. Sanit. Ambient., v.18, nº.1, 2013. GRAMOLELLI JR., F. Diagnóstico do uso da água na irrigação de culturas na bacia do Rio Jundiaí-Mirim- SP. (Mestrado em Engenharia Agrícola). FEA/UNICAMP, 2004. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE Cidades: Jundiaí – SP. Infográficos: Dados gerais do município, 2014. KHRAN, F.S.; MACIEL, S.; DOURADO, T.M. Transposição de águas e bacias: aspectos teóricos e conceituais. Universidade Federal de Tocantins – UFT, 2006. 49 p. MORAES, J. F. L. (coord.) Diagnóstico agroambiental para gestão e monitoramento da bacia do rio Jundiaí-Mirim. Relatório Final - 2ª Fase. IAC/IEA/PMJ/DAE. Campinas, 2003. MOREIRA-FILHO, O. Uma transposição de rio esquecida. Revista UFG, ano VIII (2), 2006. SANDES, G. Consorcio definirá política tarifária. UOL Notícias. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/JC/especial/transposicao/politica_tarifaria.html>. Acesso em: 08 nov. 2014. SILVA, G . S.; JARDIM, W. F. Um novo Índice de Qualidade das Águas para Proteção da Vida Aquática Aplicado ao Rio Atibaia, Região de Campinas/Paulínia-SP. Quim. Nova, vol. 29(4), 2006. http://www.transpiumhi.ufscar.br/figuras/revista_ufg_dezembro_2006_editada.pdf 7 AVALIAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA ANÁLISE DE PAISAGEM NA BACIA HDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM MARQUES, Bruno Vicente1; PECHE FILHO, Afonso2; FENGLER, Felipe Hashimoto3;; MEDEIROS, Gerson Araujo4; RIBEIRO, Admilson Irio5 1 Mestrando, UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais, e-mail: bruno.marques@posgrad.unesp.sorocaba.br 2 e 3 Doutorando, UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais 4 e 5 Professor, doutor, UNESP Sorocaba - Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais RESUMO O estudo ambiental das bacias hidrográficas é muito importante, pois permite compreender de uma forma sistêmica os impactos ambientais que a ocupação humana pode causar. Uma das maneiras para avaliar uma área é observar a paisagem, pois nos permite compreender o quanto as ações antrópicas podem alterar o ambiente natural resultando em danos ambientais, muitas vezes irreversíveis. O objetivo do trabalho foi avaliar 7 pontos na bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim através da análise de paisagem, disposta entre os meios físico, biótico e antrópico. Os resultados mostraram uma situação preocupante para a bacia hidrográfica com índice de eficiência ambiental de 38,95%. Mesmo todos os meios apresentarem baixos índices de eficiência, o meio biótico foi o que recebeu as piores notas. A metodologia aplicada se mostrou muito eficiente, seus resultados podem colaborar para a construção de um plano de gestão ambiental que contemple promova o aumento dos índices apresentados. Palavras-chave: Análise de paisagem, bacia hidrográfica, gestão ambiental. INTRODUÇÃO As bacias hidrográficas tem um papel muito importante para a gestão territorial, consistem na integração dos aspectos físicos, biológicos, sociais, econômicos e suas interações com os diversos recursos ambientais, sendo de extrema importância para a manutenção da qualidade ambiental dos municípios e da vida de sua população. A ocupação humana aliada a falta de planejamento trouxeram consigo significativos impactos ambientais que podem ser classificados em benéficos ou adversos, diretos ou indiretos, 8 reversíveis ou irreversíveis, imediatos ou em longo prazo, temporários ou permanentes (FREITAS, 2012). Cada vez mais as pesquisas e os dados levantados ao longo desses anos nos mostram que os caminhos percorridos até agora não podem mais ser a nossa realidade, é perceptível que nossa ocupação modifica a paisagem natural e causa danos ambientais extremos. Para Breda & Zacharias (2010), a leitura do espaço implica em compreender as paisagens a ele relacionadas, assim refletidas no resultado da vida dos homens, da sociedade na busca da sobrevivência e satisfação de suas necessidades. Demmer & Perreira (2011) afirmam que a leitura da paisagem quando utilizada como instrumento didático, pauta a criatividade, tendo em vista que sua metodologia (pesquisa – ação – participante) é desencadeada pelo sujeito efetivamente emergido na construção do processo de análise. Estes autores concluem que a leitura da paisagem possibilitou caminhas sobre a teoria ambiental proporcionando uma ferramenta que permite a partilha, a ressignificação e a produção de saberes em cada tempo e contexto. Ao analisar uma paisagem percebe-se impactos e danos ambientais decorrentes das atividades antrópicas. É preciso criar ambientes harmoniosos, com solos bem consolidados, interagindo com a dinâmica natural e inserindo a variável ambiental em todas as atividades. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma avaliação ambiental na bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, utilizando a técnica da análise de paisagem, adaptada da metodologia proposta por Peche Filho et. al. (2014), e visa entender quais os impactos ambientais, sejam eles negativos ou positivos, causados pelas atividades cotidianas do local sobre os meios bióticos, físicos e antrópicos. Esse trabalho nos permite um entendimento pleno de quais são os reais problemas do local, fornecendo assim subsídios para a elaboração de um plano de Sistema de Gestão Ambiental. METODOLOGIA As avaliações ocorreram em 7 pontos da bacia hidrográfica, localizada entre os municípios de Campo Limpo Pailista, Jarinú e Jundiaí (Figura 1), onde foi utilizada a 9 metodologia da análise de paisagem para avaliação agroambiental em campo, cada local visitado foi fotografado, marcado com GPS, através de uma matriz de interação, utilizando critérios indicadores de impactos ambientais para os meios biótico, físico e antrópico com base numa escala de 1 (alta intensidade) a 5 (baixa intensidade) com valores subjetivos (Tabela 1). Figura 1. Localização dos pontos de avaliação na bacia hidrográfica. Após o processamento dos dados calculou-se o Índice de Eficiência dos pontos através da equação a seguir (Equação I). ( ) ∑ ∑ 10 Onde, corresponde ao Índice de Eficiência Ambiental da paisagem; corresponde ao número de pontos avaliados; x corresponde ao valor obtido no processo de avaliação; y corresponde ao valor máximo na escala de avaliação. Tabela 1. Indicadores ambientais para análise de paisagem. MEIO INDICADORESBiótico Densidade vegetal Diversidade vegetal Indícios de regeneração natural Contaminação biológica Proteção ciliar Cobertura do solo Físico Cicatrizes de erosão Deposição de sedimentos Selamento superficial Enxurrada Antrópico Ocupação do solo Potencial de carga difusa Práticas conservacionistas Tráfego de veículos Condição da estrada Risco de acidentes Risco de contaminação Resíduos sólidos Risco de incêndio RESULTADOS E DISCUSSÃO As avaliações realizadas nos sete pontos ao longo da bacia mostraram um índice de eficiência ambiental de 38,95%, isso mostra uma situação muito preocupante, dada a importância da bacia hidrográfica para o município de Jundiaí e região. De acordo com os resultados da avaliação é muitos indicadores receberam nota 1 e nenhum ponto obteve nota 5. 11 Dentre todos os aspectos avaliados o meio biótico foi oque apresentou os menores índices, apresentando-se com 38,21%, seguindo pelo meio antrópico com 39,18% e o meio antrópico com 40%, estes resultados são observados no gráfico abaixo (Figura 2). Figura 2. Índice de eficiência ambiental. CONSIDERAÇÕES FINAIS As avaliações mostraram um cenário preocupante para a bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, portanto algumas ações são necessárias para promover o aumento dos índices de eficiência ambiental para a região, assim, podemos concluir que: 1. A metodologia aplicada se mostrou eficiente para avaliar as situações de impactos e danos ambientais em bacias hidrográficas. 2. De uma maneira geral a bacia hidrográfica encontra-se em um estado crítico do ponto vista ambiental, principalmente nos meios bióticos. 3. Faz-se necessário abranger o estudo em mais pontos de avaliação para verificar com maior exatidão a eficiência ambiental da bacia hidrográfica. 4. De acordo com os resultados apresentados, fica evidente a necessidade de um plano de gestão ambiental para a bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, que 37,00 37,50 38,00 38,50 39,00 39,50 40,00 40,50 Global Biótico Físico Antrópico Global Biótico Físico Antrópico 12 contemple o constante aumento dos índices de eficiência ambientais nos meios bióticos, físicos e antrópicos. REFERÊNCIAS Breda, T.V.; Zacharias, A.A. Leitura de Paisagens através de trabalhos de campo: Um relato da experiência vivenciado no Município de Ourinhos – SP. Revista Geográfica de Pesquisa, V.4 N.2. UNESP – Ourinhos, SP. 24p. 2010. Demmer, B.C.; Perreira, Y.C.C. Educação ambiental e estudo da paisagem: A percepção para responsabilidade sócio ambiental. Revista “Olhar de Professores”. Ponta Grossa – PR, N.14. p255-272. 2011. Acesso em 18/01/2014. Disponível em: http//www.revistas2.uepg.br/índex.php/olharesdeprofessores. FREITAS, E. P. Análise integrada do mapa de uso e ocupação das terras da microbacia do Rio Jundiaí-Mirim para fins de gestão ambiental. 2012. 110f. Dissertação (Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical) - Instituto Agronômico de Campinas-IAC, Campinas. Peche Filho, A.; Ribeiro, A. I.; Fengler, F. H.; Medeiros, G. A.; Freitas, E. P.; Storino, M.; Marques, B. V.; Queiroz, D. F. A. Método de estratificação de ambientes para gestão de áreas degradadas. In: XI Congresso Nacional de Meio Ambiente de Poços de Caldas. Anais. v. 6. Poços de Caldas, 2014. 13 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA DA BACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM UTILIZANDO SONDA MULTIPARÂMETROS PIRES, Ariane Apª Felix1; PASETTO, Sabrina2; SANTOS, Larissa Gonçalves3; MACHADO, Leila Santos4; FILHO, Afonso Peche5; RIBEIRO, Admilson Írio6; MEDEIROS, Gerson Araújo7. 1Bacharel em Química, IMAPES, Doutoranda em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba, arianepires9003@hotmail.com 2Tecnóloga em Gestão Ambiental, Mestranda em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba; 3Bióloga, PUC – Sorocaba, Mestranda em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba; 4Bióloga, Mestranda em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba; 5Pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC); 6,7Professor, Recuperação de áreas degradadas e Gestão Ambiental, Unesp – Sorocaba. RESUMO Segundo CUNHA (2008), a qualidade da água de uma bacia pode ser influenciada por fatores como: cobertura vegetal, topografia, geologia, uso e manejo do solo. Esses fatores são responsáveis por disponibilizar e regular a quantidade de sedimento e nutrientes que serão levados nos cursos d‟água e, consequentemente, modificar suas características físicas, químicas e biológicas (CUNHA, 2008). A qualidade físico-química e biológica da água da Bacia do Jundiaí-Mirim foi avaliada com a Sonda Multiparâmetros em seis pontos selecionados ao decorrer da bacia, o que permitiu conhecer a qualidade em que se encontram as águas da bacia do rio Jundiaí-Mirim e compreender a influência que o estado do meio ambiente que envolve o corpo hídrico exerce sobre a qualidade de sua água. Palavras-chave: parâmetros físico-químicos, abastecimento hídrico, gestão ambiental. INTRODUÇÃO Impactos causados pelo homem causam alterações no sistema aquático. Em áreas adjacentes aos cursos de água com o uso do solo, a descarga de efluentes domésticos e industriais, aumente de níveis de nutrientes por fontes pontuais são exemplos cotidianos que afetam a qualidade e disponibilidade de recursos hídricos (BUSS, et al 2002). Além da erosão, alterações no uso do solo têm provocado modificações no comportamento das bacias hidrográficas logo nos canais fluviais, alterando a qualidade da água (FREITAS, 2012). Segundo CUNHA (2008), a qualidade da água de uma bacia pode ser influenciada por fatores como: cobertura vegetal, topografia, geologia, uso e manejo do solo. Esses fatores são responsáveis por disponibilizar e regular a quantidade de sedimento e nutrientes 14 que serão levados nos cursos d‟água e, consequentemente, modificar suas características físicas, químicas e biológicas (CUNHA, 2008). Para se conhecer a qualidade da água em bacias hidrográficas, a sua avaliação se tona fundamental. A avaliação da qualidade das águas de bacias deve ter como base as características físicas, químicas e biológicas, no sentido de fornecer um espectro completo de informações para um manejo adequado dos recursos hídricos (CALLISTO & ESTEVES, 1998). O rio Jundiaí Mirim é a principal sub-bacia do rio Jundiaí, sendo principal manancial de abastecimento do município, abastecendo a represa de acumulação (construída para armazenar a água que chega da bacia do Rio Jundiaí-Mirim) e captação (às margens da Rodovia Vereador Geraldo Dias) do Jundiaí Mirim (Departamento de Água e Esgoto). Para a preservação dos recursos hídricos, segundo TAVARES (et al, 2005), a identificação de variáveis ambientais de uma área deve subsidiar o diagnostico e planejamento de uso e ocupação do solo, o qual é uma etapa para minimizar a erosão do solo. Com a utilização de ferramentas como Sistema de Informação Geográfica (SIG) por TAVARES (et al, 2005) e FREITAS (2012), é possível reconhecer o diagnostico do risco de erosão, pela uso e ocupação do solo entorno da bacia na zona de área de proteção permanente (APP). Essa ferramenta, juntamente a avaliação da qualidade da água, contribui para que medidas norteadoras de gestão sejam tomadas em relação à bacia. O objetivo deste trabalho foi avaliar as qualidades físico-químicas e biológicas da água da Bacia do Jundiaí Mirim com a utilização da Sonda Multiparâmetros em seis pontos selecionados ao decorrer da bacia. METODOLOGIA O rio Jundiaí-Mirim é afluente da margem direita do rio Jundiaí, nasce em Mairiporã e percorre os municípios de Campo Limpo Paulista, Várzea Paulista, Jundiaí, Itupeva, Indaiatuba e Salto. Abrange uma área de 11750 km² situada entre as latitudes 15 23º00‟ e 23º30‟ Sul e longitudes 46º30‟ e 47º15‟ Oeste; distribuída em três municípios vizinhos: Jundiaí com 58,5 % da área, Jarinú e Campo Limpo Paulista com 34 % e 7,5 %respectivamente (MORAES et al., 2002). Os dados foram analisados por Análise dos Componentes Principais (ACP), com base em uma matriz de correlação, a fim de identificar as variáveis mais importantes na formação dos padrões espaciais. A matriz de correlações elimina o efeito das diferentes unidades de mensuração, tornando desnecessária a padronização da matriz escalar (Valentin, 2000). Sólidos Totais Para o cálculo dos sólidos totais na água utilizou-se a fórmula: ST= (P2 - P1)/V x 1000 Em que ST = sólidos totais (mg/L); P1 = Peso do béquer seco em estufa sem a amostra (g); P2 = Peso do béquer seco em estufa com a amostra (g) e V = Volume da amostra utilizado para evaporação (L). Clorofila a Para a análise da clorofila a, efetuou-se a filtragem da água em filtros analíticos de microfibra de vidro utilizando-se de bomba de sucção e erlenmeyer. Para a extração do pigmento, os filtros foram macerados com auxílio de pistilo acrescentando 10 ml de acetona 90% conservada em geladeira e alcalinizada, em seguida, as amostras foram despejadas em tubos falcon enrolados em papel alumínio e levados até a geladeira por 24 horas antes da leitura. Após este período, levam-se os tubos a centrífuga a 3000 rpm por um período de 5 minutos e em seguida realiza-se a leitura do sobrenadante em cubetas de 10 mm de passo ótico em espectrofotômetro contra o branco (acetona 90%), nos seguintes comprimentos de onda: 750 e 665 nm. Para a obtenção dos pigmentos degradados, acidifica-se com algumas gotas de HCL 1 N, deixando o pH por volta de 3,0. Fósforo A análise de fósforo total foi realizada por meio de kit comercial (Test´N Tube total phosphate -0 - 3,5 mg/LReagent Set 2742645, Marca Hach Lange. Sonda Multiparâmetros 16 A sonda utilizada para avaliação das propriedades físicas da água foi Horiba modelo U50. Os parâmetros avaliados foram pH, condutividade elétrica, temperatura, oxigênio dissolvido e turbidez. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com o Decreto 10.755/77, o qual dispõe sobre o enquadramento dos corpos d´água, o rio Jundiaí-Mirim e seus afluentes, até o ponto de captação de água para abastecimento do município de Jundiaí, são enquadrados dentro da Classe I. A Tabela 1 a seguir apresenta os valores encontrados para os parâmetros analisados nos pontos amostrados na bacia do rio Jundiaí-Mirim. Observa-se que os coeficientes de variação correspondentes aos parâmetros físico-químicos sólidos totais, fósforo total e turbidez são os parâmetros de maior variação ao longo da bacia, indicando a existência de heterogeneidade na qualidade ambiental da água de acordo com a localização do curso d‟água, podendo-se dizer que há influência das condições ambientais (meio urbanizado, poluído ou de represamento, por exemplo) em o corpo hídrico se encontra envolvido. Da mesma forma, o parâmetro biológico analisado, clorofila a também apresentou elevada variabilidade dentre os pontos de coleta. Comparando com a Resolução CONAMA 357/2005 para águas doces classe I, temos que os valores: i) sólidos totais, nitrogênio total, oxigênio dissolvido e pH encontram-se dentro dos limites estabelecidos, sendo 500mg/L, 3,7mg/L, ≥ a 6mg/L e entre 6,0 e 9,0, respectivamente. Por outro lado, os valores de clorofila a analisados, exceto para o ponto 3 – valor nulo-, excedem consideravelmente os níveis tolerados pela resolução, que é de 10μg/L, assim como a concentração de fósforo está muito superior ao limite (0,1mg/L) em todos os pontos, contudo, no ponto 6 há uma grande redução da sua concentração, mostrando que o represamento da água da bacia no reservatório proporciona a auto- depuração da água, além de ser um indício da ocorrência de sedimentação no fundo do reservatório. A turbidez ultrapassou o limite (até 40 NTU) nos pontos 3, 4 e 5, corroborando à observação paisagística realizada nestes locais em que era perceptível a 17 escura coloração da água decorrente da maior concentração de sólidos, como pode ser verificado na Tabela 1. Tabela 1. Parâmetros analisados nos seis pontos de coleta na bacia do rio Jundiaí- Mirim. Pontos amostrados ST (mg/L) Cla (mg/L) NT (mg/L) PT (mg/L) T (°C) pH CE (mS/cm) Turb (NTU) OD (mg/L) P1 Transposição 30,5 0,67 1,2 290 22,01 6,99 0,115 6,6 8,81 P2 Reservatório agrícola 12,22 2,67 0,95 270 23,22 6,98 0,109 16,9 9,68 P3 Ponte na estrada 15,78 0 0,95 410 20,99 7,37 0,105 143 10,38 P4 Restaurante 18,89 0,89 1,3 360 21,73 7,47 0,105 186 10,54 P5 Antes do reservatório 52,8 1,07 1,5 790 20,94 7,51 0,108 132 11,35 P6 Depois do reservatório 10,89 0,89 1,15 70 20,97 7,43 0,097 2,9 10,69 Média 23,51 1,03 1,18 365,00 21,64 7,29 0,11 81,23 10,24 Desvio 15,97 0,89 0,21 238,47 0,89 0,24 0,01 81,50 0,88 CV 67,90 86,09 18,00 65,34 4,13 3,32 5,56 100,33 8,63 Dados: CV = coeficiente de variação. ST = sólidos totais; Cla = clorofila a; NT = nitrogênio total; PT = fósforo total; CE = condutividade elétrica, Turb = turbidez; OD = oxigênio dissolvido. Relativamente à ACP, os dois primeiros eixos explicaram 76,13% da variação total dos dados, sendo 47,97% pelo eixo 1 e 28,16% pelo eixo 2. Os parâmetros que mais influenciaram o arranjo no eixo 1 foram sólidos totais e fósforo total, com seus valores para todos os pontos, conforme discutido anteriormente, todavia, os pontos 4 e 5 foram os que mais apresentaram influência desses parâmetros sobre a avaliação realizada. A influência desses parâmetros sobre esses pontos pode ser compreendida pelo ambiente entorno do curso hídrico da bacia, nos quais há intensa urbanização (circulação de pessoas e automóveis), além da poluição gerada por essas atividades no meio ambiente (presença de lixo sólido e potencial presença de esgoto não tratado, devido à ocupação imobiliária extremamente próxima no curso da bacia). No eixo 2 destacou-se, principalmente, a condutividade elétrica, porém os valores obtidos para esse parâmetro não apresentaram grande variação dentre os pontos de amostragem, além de não compor um requisito básico indicativo da qualidade da água utilizada para abastecimento populacional. 18 Figura 1. Análise de Componentes Principais (ACP) de Correlação, de parâmetros físico- químicos e biológicos das águas superficiais de 6 pontos de coleta na bacia do rio Jundiaí- Mirim. CONSIDERAÇÕES FINAIS A avaliação dos parâmetros físico-químicos promovida neste estudo, aliada à observação paisagística do ambiente, viabilizada pelas disciplinas de Gestão Ambiental e Recuperação de Áreas Degradadas, permitiu conhecer a qualidade em que se encontram as águas da bacia do rio Jundiaí-Mirim, sendo que foram encontrados valores que extrapolam os limites determinados para água doce de classe I, tornando sua qualidade inadequada para os fins de abastecimento que apresenta, principalmente pelos altos níveis de fósforo e sólidos totais. Também foi possível compreender a influência que o estado do meio ambiente que envolve o corpo hídrico exerce sobre a qualidade da água. Desta forma, a bacia do rio Jundiaí-Mirim necessita de programas de revitalização e gestão ambiental, tanto das áreas em que seu curso percorre quanto por parte da educação ambiental da 19 população, de modo a recuperar a qualidade da água e preservar esse recurso único e imprescindível à vida. REFERÊNCIAS DEPARTAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO DE JUNDIAÍ – SP (DAE). Acesso em: novembro/2014. Disponível em:<http://www.daejundiai.com.br/estrutura/unidades- externas/complexo-da-barragem-do-rio-jundiai-mirimrepresa-do-parque-da- cidade/> BUSS, D. F.; BAPTISTA, D. F.; SILVEIRA, M. P. NESSIMIAN, J. L.; DORVILLÉ, L. F. M. Influence of water chemistry and environmental degradation on macroinvertebrate assemblages in a river basin in south-east Brazil. Hydrobiologia, v.481, p.125-136, 2002. CALLISTO, M.; ESTEVES, F. A. Biomonitoramento da macrofauna bentônica de Chironomidae (Diptera)em dois igarapés amazônicos sob influência das atividades de uma mineração bauxita. In: Ecologia de Insetos Aquáticos. Series Oecologia Brasiliensis, vol.V. PPGE-UFRJ. Rio de Janeiro, p.299-309, 1998. CLARK, E.H. II. The off-site costs of soil erosion. Journal of Soil and Water Conservation, v. 40, n.1, p. 19-22, 1985. CROSSON, P. Soil Quality and agricultural development. In: EVENSON, R.; PINGALI, P. (eds.). Handbook of Agricultural Economics. Volume 3 – Agricultural Development: farmers, farm production and farm markets. Amsterdam: North- Holland, 2007, p. 2911-2932. CUNHA, C. de A. G. da. A influência do uso e ocupação do solo na qualidade das águas do rio Jacupiranga, Vale do Ribeira de Iguape, São Paulo, Brasil. In: CONGRESO INTERAMERICANO AIDIS, 31, 2008, Santiago. Anais. São Paulo: Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2008. FREITAS, E.P.Análise integrada do mapa de uso e ocupação das terras da microbacia do rio Jundiaí-Mirim para fins de gestão ambiental. 2012. Dissertação (Mestrado Gestão de Recursos Agroambientais.) – Instituto Agronômico de Campinas- IAC, Campinas. MARQUES, J. F. Efeitos da erosão do solo na geração de energia elétrica: uma abordagem da economia ambiental. 1995. 257f. Dissertação (Doutorado em Economia) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade-USP, São Paulo. MORAES, J. F. L.; CARVALHO, Y.M.C.; PECHE FILHO, A. Diagnóstico Agroambiental para Gestão e Monitoramento da Bacia do Rio Jundiaí Mirim. InstitutoAgronômico de Campinas (IAC). Jundiaí, 2002. PIMENTEL, D.; HARVEY, C.; RESOSUDARMO, P.; SINCLAIR, K.; KURZ, D.; MCNAIR, M.; CRIST, S.; SPHPRITZ, L.; FITTON, L.; SAFFOURI, R.; BLAIR, R. Environmental and economic costs of soil erosion and conservation benefits. Science, v. 267, n. 5201, p. 1117-1123, 1995. VALENTIN, J.L. Ecologia numérica. Rio de Janeiro: Interciência, 2000. 20 AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE FÁRMACOS NA BACIA DO RIO JUNDIAÍ MIRIM COLA, Diego Faria1, FERREIRA, Helio Henrique2, RIBEIRO, Admilson Irio3, PECHE FILHO, Afonso4, MEDEIROS, Gerson Araujo3 1Biotecnólogo, mestrando em Ciências Ambientais, UNESP - Sorocaba, Bolsista FAPESP, email: coladf@gmail.com, 2Enfermeiro, mestrando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba, 3 Professor, Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA UNESP Campus Sorocaba 4 Pesquisador do CEA-IAC, Doutorando em Ciências Ambientais (UNESP) RESUMO Com o intuito de aumentar a quantidade e qualidade de seus produtos, o sistema de produção animal utiliza uma grande quantidade de compostos bioativos, como os fármacos veterinários. Um exemplo é a Ivermectina, amplamente utilizada a fim de minimizar os impactos de ectoparasitas e, assim, aumentar a produtividade. Embora tenham um papel importante na produção animal, os fármacos veterinários podem causar um grande impacto ao ambiente. Os compostos bioativos podem ser considerados como contaminantes dos recursos hídricos, sendo encontrados em massas de água superficiais, bem como no subsolo. Este trabalho tem como objetivo analisar amostras de água da bacia do rio Jundiaí Mirim utilizando-se a técnica de cromatografia líquida (CLAE), para monitorar a presença da droga veterinária Ivermectina, amplamente utilizada na criação de animais. Palavras-chave: Ivermectina; fármacos veterinários; ectoparasitas, gestão ambiental. INTRODUÇÃO O rebanho comercial de bovinos brasileiro é o maior do mundo (ANUALPEC, 2010) e nos últimos anos a bovinocultura de corte tem sido motivada pela demanda mundial de carnes nobres. A produtividade do gado depende de vários fatores, dos quais, podemos destacar a saúde do animal, pois a ocorrência de doenças provoca alteração no organismo e prejudicam o desempenho produtivo do animal (JUNIOR, 1996). Nesse contexto, os ectoparasitas podem causar perda de peso, prejuízos ao couro dos animais, transmissão de agentes patógenos e produção de lesões que predispõem os animais a infecções secundárias. Estes parasitas, além de sugarem o sangue e furarem o couro, também mantêm os animais sob estresse contínuo, reduzindo a sua produtividade (WEGHER, 2010). 21 No combate e controle de parasitas utilizam-se os fármacos veterinários, como a Ivermectina, utilizada para tratamento das infestações por sarnas sarcóptica, otodécica e demodécica (BOOTH; McDONALD, 1992; ANDRADE; RODRIGUES, 2002) (Figura 1). Nesse composto o mecanismo de ação ocorre através do estimulo da liberação do neurotransmissor inibidor GABA (ácido gama-aminobutírico) na fenda sináptica entre interneurônios do cordão central e neurônios motores (BILL, 1993; McCALL et al., 1996). Figura 1. Estrutura química da Ivermectina. Fonte: Möller, 2004 As possíveis reações adversas provocadas pela administração da Ivermectina são conhecidas e documentadas na literatura médico-veterinária. Uma forma de entrada desse composto no meio ambiente é por meio dos efluentes veterinários, que apresentam concentrações elevadas de fármacos veterinários, antibióticos, desinfetantes e produtos químicos, que geralmente são lançados sem tratamento prévio nas redes urbanas de drenagem (VECCHIA et al., 2009). Consequentemente, quando não tratados são importantes contaminantes de mananciais de água potável, tanto superficial quanto subterrânea, e linhagens multirresistentes de fármacos veterinários e antibioticos podem representar riscos à saúde pública se atingirem o sistema de abastecimento (VECCHIA et al., 2009). Recentemente, o monitoramento de fármacos residuais no meio ambiente vem ganhando grande interesse devido ao fato de muitas dessas substâncias serem 22 frequentemente encontradas em efluentes de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e águas naturais, em concentrações na faixa de µg/L e ng/L. Estudos relatam que a presença de fármacos residuais em águas superficiais pode ser um indicativo de contaminação por esgoto das ETEs (PRADO, 2007; CETESB, 2011). Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a presença da droga veterinária Ivermectina em amostras de água da bacia do rio Jundiaí Mirim utilizando-se a técnica de cromatografia líquida (CLAE), visando possíveis tomadas de decisões em gestão ambiental. METODOLOGIA A quantificação do fármaco veterinário ivermectina foi realizada por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), utilizando-se um equipamento da Varian® Pro Star. No início do desenvolvimento da metodologia analítica para a quantificação do fármaco ivermectina por CLAE, as condições cromatográficas foram ajustadas, buscando um pico simétrico e um menor tempo de corrida, portanto, variações na concentração das soluções do fármaco, e também na constituição da fase móvel foram realizadas para obter uma melhor condição cromatográfica. As condições cromatográficas utilizadas para a quantificação dos herbicidas ao longo do projeto estão descritas na Tabela 1. Tabela 1. Condições cromatográficas para validação da metodologia analítica para quantificação do fármaco veterinário ivermectina. Amostra Fase Móvel Volume de Injeção Fluxo Temperatura Detector Coluna Cromatográfica Ivermectina Acetonitrila/água/metanol (250/90/10) (v/v) 100 μL 1,5 mL/min Ambiente (15 oC) Ultravioleta (UV), = 246 nm Phenomenex, Gimini 5μ C18 110A, 150 x 4,60 nm 23 RESULTADOS E DISCUSSÃO As condições cromatográficas utilizadas foram consideradas adequadas para a análise das amostras, pois foi possível obter pico simétrico de Ivermectina (Figura 2) tornando a análise viável, realizando corridas cromatográficas com um tempo médio de 12 minutos. A Figura 3 demonstra os cromatogramas dos pontos analisados. Observa-se que em nenhum dos pontos foi observado um pico correspondente à Ivermectina, o que significa que com as condições utilizadas não foi possível detectar o fármaco nas amostras analisadas Figura 2. Cromatogramada Ivermectina obtida sob as condições anteriormente descritas. 24 Figura 3. Cromatogramas correspondentes aos pontos amostrais analisados. a) Ponto 1; b) Ponto 2; c) Ponto 3; d) Ponto 4; e) Ponto 5; f) Ponto 6; g) Ponto 7. a b c d e f g 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme as condições cromatográficas propostas para a análise do fármaco veterinário, não foi possível sua detecção nos pontos amostrais analisados. Contudo, isto não nos garante a ausência deste fármaco na bacia do rio Jundiaí Mirim, pois na data da amostragem houve a transposição de águas do rio Atibaia e que afetou consideravelmente o regime hídrico da bacia. Sugere-se realizar análises em equipamentos com limites de quantificação e detecção menores, tornando isto uma alternativa viável para a detecção deste composto. Analisar outros compostos bioativos utilizados na agropecuária também pode agregar resultados para possíveis tomadas de decisões em gestão ambiental. REFERÊNCIAS ANDRADE, S. F.; RODRIGUES, A. S. Regras básicas para o uso de ivermectina na clínica de pequenos animais. A Hora Veterinária, v. 21, n. 125, p. 53-57, 2002. ANUALPEC. Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: Agra FNP Pesquisas, 2010. BILL, R. Pharmacology for veterinary technicians. California: A&Chnicians, 1993. BOOTH, N. H.; McDONALD, L. E. Farmacologia e terapêutica veterinária. 7. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1992. CETESB. Levantamento E Diagnóstico De Enterovirus Em Mananciais Que Abastecem Os Principais Municípios Do Estado De São Paulo. 2011. JUNIOR, V. C. Características de adaptação nos cruzamentos de raças européias x zebu; Cadernos Técnicos Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, n. 18, p. 29-35, 1996. McCALL, J. W.; LINDEMANN, B. A.; PORTER, C. A. Evaluation of ivermectim and milbemycin oxime efficacy against Dirofilaria immitis infections of three and four months’ duration in dogs. American journal of veterinary research. v. 57, n. 8, p. 1189-1196, 1996. MÖLLER, V.M. 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Nova tecnologia garante aumento na produtividade dos bovinos baseada no controle de verminoses e outros parasitas, 2010. 27 ANÁLISE DE CARBONO ORGÂNICO TOTAL E CARBONO ORGÂNICO DISSOLVIDO NA SUB-BACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, JUNDIAÍ - SP SILVA, Francisco Carlos da.1; COLA, Diego Faria2; MACHADO, Fernando Henrique3; GONTIJO, Erik Sartori Jeunon4; PECHE-FILHO, Afonso5; ; RIBEIRO, Admilson Írio6; MEDEIROS, Gerson Araujo6 1 Químico, doutorando, bolsista Capes, PPGCA/UNESP/Sorocaba, e-mail: fracarlos@posgrad.sorocaba.unesp.br 2 Biotecnológo, mestrando, bolsista Fapesp, PPGCA/UNESP/Sorocaba 3 Administrador - Gestor Ambiental, doutorando, bolsista Capes, PPGCA/UNESP/Sorocaba 4 Eng. Ambiental, doutorando, bolsista Fapesp, PPGCA/UNESP/Sorocaba 5 Agrônomo, pesquisador científico nível VI, CEA/IAC,doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba 6 Eng. Agrícola, docente das disciplinas de Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental PPGCA/UNESP/Sorocaba RESUMO Este trabalho apresenta os resultados de atividades de campo realizadas na sub-bacia do rio Jundiai-Mirim, Jundiaí, SP. A área de estudo representa o principal manancial para abastecimento de água do município de Jundiaí - SP. A análise de carbono orgânico total (COT) e carbono orgânico dissolvido (COD) permite uma quantificação mais precisa da matéria orgânica, possibilitando a utilização destes parâmetros como elementos-chave na compreensão e representação de ecossistemas aquáticos assim como serve de parâmetros para determinarmos possíveis fontes de poluição e/ou contaminação devido à ação antrópica. Para determinação do COD e COT foi utilizado o equipamento Analyzer multi N/C 3100. Os resultados obtidos tanto para COD como para COT foram baixos impossibilitando uma análise sobre a influência antrópica na área. Palavras-chave: Carbono Orgânico Total (COT); Carbono Orgânico Dissolvido (COD); UGRHI-05; Bacia do rio Jundiaí-Mirim; Qualidade da Água. INTRODUÇÃO A sub-bacia do rio Jundiaí-Mirim é considerada fonte de abastecimento de água para o município de Jundiaí. Segundo Moraes (2003) o Departamento de Água e Esgoto (DAE) construiu dois reservatórios que capta e trata 97% da água distribuída no município. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a prefeitura de Jundiaí realizaram o monitoramento nos principais afluentes do rio Jundiaí-Mirim com o intuito de verificar os problemas de degradação ambiental por toda sua extensão em função do uso e ocupação do solo de maneira indevida (MORAES, 2003). 28 O carbono orgânico existente na água pode ser agrupado em: carbono orgânico dissolvido (COD) e carbono orgânico total (COT). O COD é definido operacionalmente como a fração do carbono orgânico que passa em filtro de 0.45 µm. Ele é formado por compostos de natureza definida como aminoácidos e carboidratos e compostos de natureza indefinida como ácidos húmicos e fúlvicos (ROCHA E ROSA, 2003). Destaca-se que o COD é fonte de energia nos sistemas aquáticos, além alterar a acidez da água e influenciar na mobilidade e disponibilidade de metais (GOUVEIA NETO, 2006). O COT é constituído pela soma do carbono orgânico particulado da biota e pelo material orgânico em suspensão, detrito orgânico particulado, etc. A análise de COT considera as parcelas biodegradáveis e não biodegradáveis da matéria orgânica, não sofrendo interferência de outros átomos que estejam ligados à estrutura orgânica, quantificando apenas o carbono presente na amostra. (CETESB, 2009). Em águas doces o carbono orgânico origina-se de organismos vivos e de efluentes e resíduos produzidos pelo homem. Por isso, o COT é um indicador útil do grau de poluição do corpo hídrico. As substâncias húmicas como parte componente do COD também é um parâmetro importante a ser considerado em sistemas de tratamento de água, visto que a sua presença durante a etapa de cloração pode gerar compostos halogenados, que são cancerígenos (ROCHA E ROSA, 2003). Isso é extremamente relevante considerando que a parte da água da bacia do rio Jundiaí-Mirim destina-se ao abastecimento público. METODOLOGIA As amostras foram coletadas em 7 (sete) pontos distintos ao longo da bacia do rio Jundiaí-Mirim. Para efetuar as analises de carbono orgânico total (COT), as amostras foram coletadas em frascos de vidro âmbar previamente limpos e acidificados com ácido fosfórico até pH menor que 2 para sua conservação, conforme conta do Standard Methods (APHA et.al., 2005). Para o carbono orgânico dissolvido (COD) as amostras foram coletadas e filtradas em membrana de 0,45 µm e seguiu-se o mesmo protocolo. As determinações foram efetuadas utilizando o equipamento Analyzer multi N/C 3100. 29 RESULTADOS E DISCUSSÃO Tanto os resultados das análises de COT quanto às análises de COD encontram-se na Figura 1, onde percebe-se um decréscimo do COT em toda a extensão analisada. Segundo Libânio et al., (2000), o limite para águas naturais estão compreendidos entre 1 e 20 mg/L, portanto o resultado ficou dentro da conformidade. O COD mantêm-se em um suave decréscimoem praticamente todos os pontos analisado excetuando o ponto 7 (sete) onde houve um decréscimo acentuado. O comportamento do carbono orgânico em ambas as curvas pode ser influenciado pela transposição das águas da bacia do rio Atibaia. Nos pontos a jusante do ponto de transposição está ocorrendo a diluição e degradação do carbono orgânico, o que pode ajudar a explicar o decréscimo na concentração. Todavia, apesar dessa diluição, os valores observados são superiores aqueles obtidos por Gontijo et al. (2013) cuja variação do COT foi de 2,1 a 5.4 mg L-1 e para o COD de 1,6 mg L-1 a 2,5 mg L-1, em uma condição sem transposição das águas. Figura 1. Resultados de COT e COD para amostras coletas na bacia do rio Jundiaí-Mirim CONSIDERAÇÕES FINAIS 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 1 2 3 4 5 6 7 m g/ L Pontos COT COD 30 Os valores encontrados para carbono orgânico total (COT) e carbono orgânico dissolvido (COD) foram baixos, o que nos impossibilita afirmar se esta havendo contribuição antrópica. Recomenda-se o contínuo monitoramento da área em diversos locais e com mais variáveis de modo que possamos correlaciona-las. O ponto de transposição apresentou maior teor de COT e COD. O decréscimo do teor de carbono orgânico ao longo da bacia pode ser explicado pela sua diluição e decomposição. REFERENCIAS APHA; AWWA; WEF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 21ª ed. Washington, D.C.: American Public Health Association, American Water Works Association and Water Environment Federation, 2005. 1200 p. CETESB. Significado ambiental e sanitário das variáveis de qualidade das águas e dos sedimentos e metodologias analíticas e de amostragem. São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/agua/aguas- superficiais/variaveis.pdf>. Acesso em 10/11/2014 GOUVEIA NETO, S. C. Concentrações e balanços de Carbono Orgânico Dissolvido em duas Bacias do estado de Rondônia: uma comparação entre floresta e pastagem. Dissertação (Mestrado). Universidade de São Paulo. Centro de Energia Nuclear na Agricultura. Piracicaba, 2006. 54 p. GONTIJO, E.S.J., MACHADO, F.H.; CARVALHO, M.E.K. Avaliação da qualidade das águas do rio Jundiaí-Mirim por meio das análises de carbono orgânico e cloreto. Memórias do I Workshop de Integração de Saberes Ambientais. Sorocaba: UNESP Campus Sorocaba, 130p., 2013 LIBÂNIO, M. et al. Avaliação da relevância do carbono orgânico total como parâmetro de caracterização de águas de abastecimento. Revista Brasileira de Recursos Hídricos. Volume 5. nº 4. Out/Dez 2000, p. 41-55. MORAES, J. F. L. de (coord.). Diagnóstico agroambiental para gestão e monitoramento da bacia hidrográfica do rio Jundiaí Mirim. Disponível em: <http://www.bv.fapesp.br/pt/auxilios/5278/diagnostico-agroambiental-para-gestao- e-monitoramento-da-bacia-hidrografica-do-rio-jundiai-mirim/>. Acesso em: 11 nov. 2014. ROCHA, J. C.; ROSA, A. H. Substâncias húmicas aquáticas: interação com espécies metálicas. 1. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2003. 31 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS E SUAS IMPLICAÇÕES POTENCIAIS PARA A SAÚDE HUMANA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, JUNDIAÍ – SP FERREIRA, Helio Henrique1, MACHADO, Fernando Henrique2, MACHADO, Leila dos Santos3; SANTOS, Larissa Gonçalves3, COLA, Diego Faria4, CARDOSO-SILVA, Sheila5; RIBEIRO, Admilson Írio6; MEDEIROS, Gerson Araujo6. 1 Enfermeiro, mestrando em Ciências Ambientais, UNESP - Sorocaba, e-mail: enf_helio_henrique@yahoo.com.br 2 Administrador - Gestor Ambiental, doutorando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP 3Bióloga, mestranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP4 Biotecnólogo, mestrando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP 5 Bióloga, pós-doutoranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP 6 Eng. Agrícola, docente das disciplinas Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA/UNESP RESUMO A maioria das doenças de veiculação hídrica são causadas por microrganismos presentes em reservatórios de água doce, habitualmente após contaminação dos mesmos por fezes humanas ou de animais. A transmissão do agente infeccioso através da água pode ocorrer pela ingestão, pelo contato com a pele durante o banho, na preparação de alimentos, ou pelo consumo de alimentos lavados com água infectada. Este estudo analisou os padrões microbiológicos levantados por Santos et al. (2014) e suas implicações potenciais para a saúde humana na bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, Jundiaí – SP, visando as medidas que visem resguardar a saúde ambiental e humana. Os resultados demostraram que locais periurbanos e urbanos apresentaram a maior incidência de contaminação, indicando a sua priorização para medidas de saneamento ambiental e gestão urbana. Por fim, sugere-se que haja uma maior educação ambiental. Palavras-chave: Coliformes totais; Coliformes fecais; E. Coli; Patologias; Contaminação; Jundiaí-Mirim. INTRODUÇÃO A forma como o ambiente vem sendo utilizado pelo homem nas últimas décadas tem levado à degradação dos ecossistemas e o agravamento das condições de vida da população que fica com sua saúde exposta a riscos. A água é um dos recursos mais importantes do meio ambiente, é essencial à manutenção da vida e primordial para o ciclo hidrológico. Conforme o uso que se faz deste recurso pode-se produzir consequências mailto:enf_helio_henrique@yahoo.com.br 32 indesejáveis ao ambiente como um todo. A ocupação humana influencia nesta qualidade, por meio do lançamento inadequado de resíduos líquidos e sólidos nos rios, da retirada da vegetação ripária e da construção das edificações sobre as margens, entre outros fatores. Esta situação contribui para a existência de condições ou situações de risco que vão influenciar no padrão e nível de saúde da população (CESA et al., 2010). As doenças que a água tem transmitido sob forma epidêmica são, em geral, exclusivamente de fezes humanas contaminadas por bactérias e vírus, das quais se destaca: febre tifóide, febres paratifóides, disenterias bacilares, hepatite A e, sob reserva, a poliomielite (CAZAJEIRAS, 2007). Essas doenças de veiculação hidrica ocorrem devido à ingestão de alimentos, bebidas, ou água contaminados por microrganismos como bactérias, vírus, parasitas, príons e toxinas; ou por produtos químicos, agrotóxicos e metais pesados ou outros contaminantes. Tais doenças são conhecidas também como infecção ou intoxicação alimentar (CVE, 2009). A Portaria 518/04 MS no seu art. 4º VI dá a seguinte definição para Coliformes Totais (bactérias do grupo coliforme): bacilos gram-negativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos, não formadores de esporos, oxidase-negativos, capazes de desenvolver na presença de sais biliares ou agentes tensoativos que fermentam a lactose com produção de ácido, gás e aldeído a 35,0 ± 0,5ºC em 24-48 horas, e que podem apresentar atividade da enzima ß -galactosidase. A maioria das bactérias do grupo coliforme pertence aos gêneros Escherichia, Citrobacter, Klebsiella e Enterobacter, embora vários outros gêneros e espécies pertençam ao grupo. Inclui bactérias que ocorrem no trato intestinal de animais de sangue quente e também em cereais, em solos e em águas e efluentes contendo matéria orgânica não necessariamente contaminadas por fezes e por isso, não são indicadores adequados da qualidade sanitária de águas in natura. A Portaria 518/04 do Ministério da Saúde estabelece que, para águas destinadas a consumo humano, não é permitida a presença de coliformes termotolerantes (coliformes fecais) em 100 ml da água, devendo ser investigada a origem da ocorrência e tomadas providências imediatas de caráter corretivo, preventivo e realizada nova análise; tolera-se apenas a presença de coliformes totais (Portaria 518/04). 33 A simples presença de coliformes totais no sistema de distribuição serve como alerta para o desencadeamento de medidas corretivase indica falhas ou possível contaminação após o tratamento. Dentro desse contexto, este estudo analisou os padrões microbiológicos e suas implicações potenciais para a saúde humana na bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, Jundiaí – SP, baseado em levantamento de Santos et al. (2014), visando à proposição de medidas que visem resguardar a saúde ambiental e humana da região. METODOLOGIA A bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim possui 118 km2, é um rio de Classe 1 e abrange 3 municípios paulistas na seguinte proporção: Jundiaí (55%), Jarinu (36,6%) e Campo Limpo Paulista (8,4%). Esta bacia é estratégica principalmente para a cidade de Jundiaí, pois ela fornece 97% da água consumida pelo município (Moraes, 2003). O trabalho se baseia em levantamentos realizados por Santos et al. (2014) no dia 24 de setembro de 2014, na estação seca, em 5 pontos ao longo da bacia do rio Jundiaí Mirim, conforme apresentado na Tabela 1: Tabela 1. Pontos de coleta Pontos Coordenada geográfica Descrição dos pontos Ponto 2 Reservatório agrícola s23º06.240'w046º46.627' Localizado em um reservatório agrícola utilizado para irrigação de culturas (hortaliças), na região das cabeceiras da bacia. Região com características de ambiente rural. Ponto 3 Ponte na estrada s23º08.784'w046º48.388' Localizado as margens da estrada municipal Natal Lorencini, próximo a chácaras e apresentando características de um ambiente peri-urbano. Ponto 4 Restaurante s23°08.883'w046°49.347' Localizado às margens de um empreendimento gastronômico, na região central da bacia. Ponto 5 Antes do reservatório s23º08.828'w046º52.094' Localizado a montante do reservatório de acumulação de Jundiaí, próximo a residências e do tecido urbano do município. Ponto 6 Depois do reservatório s23º09.828'w046º54.199' Localizado a jusante do reservatório de acumulação de Jundiaí, nas proximidades do exutório da bacia. O método de análise utilizado por esses autores foi o colorimétrico IDEXX Quanti- Tray®/2000 MPN, que consiste em adicionar a amostra em frascos com volume de 100 ml 34 previamente autoclavados e, após introdução do reagente e homogeneizado, é incubado em cartelas a temperatura de 35°C por 24 horas para posterior leitura. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados de Santos et al. (2014) indicaram uma variação de 816 MPN 100mL-1 a 38.732 MPN a 100 mL na concentração de coliformes totais na bacia do rio Jundiaí Mirim, sendo os pontos 3, 4 e 5 aqueles de maiores valores atingindo 24.196 MPN 100mL- 1, 19.863 MPN 100mL-1 e 38.732 MPN 100mL-1 respectivamente. No ponto 6 foi observada a menor concentração. Quanto aos coliformes termotolerantes a faixa de variação foi de 24 MPN 100mL-1 a 1.203 MPN 100mL-1. A mesma tendência observada nos coliformes totais foi verificada nos resultados de coliformes fecais, pois os pontos 3, 4 e 5 apresentaram as maiores concentrações, as quais alcançaram 1.203 MPN 100mL-1, 921 MPN 100mL-1 e 285 MPN 100mL-1 respectivamente, excedendo o limite estabelecido pela legislação CONAMA 357/05, para rios de Classe 1, que não deverá exceder um limite de 200 coliformes termotolerantes (ou E. coli) por 100 mililitros em 80% ou mais, de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral. Observa-se tanto para os coliformes totais quanto para os fecais que quanto mais urbanizada a região da coleta maior a contaminação da água. Os resultados demonstram os riscos à saúde pública pelo lançamento de esgoto doméstico, provavelmente de áreas urbanizadas. Além de bactérias resistentes, as águas contaminadas também contêm outros tipos de microrganismos patogênicos e que podem ser veiculados através dos corpos receptores caso não haja um tratamento adequado destes efluentes. Indicadores da poluição viral das águas, tais como enterovírus que são os agentes etiológicos mais comuns de infecção em humanos causando doenças de pouca gravidade (gastroenterite com febre baixa), mas também afecções extremamente graves, como miocardite, meningoencefalite e poliomielite, dentre outras. Para que não haja contaminação deveria haver uma fiscalização mais adequada além de medida educativas 35 para conscientizar que agua contaminada poderá trazer patologias e ameaçar a saúde pública do município. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considera-se tratamento adequado, qualquer processo que, em condições de total segurança e eficiência, modifica as suas características físicas, químicas e biológicas, impedindo a disseminação dos agentes patogênicos ou de qualquer outra forma de contaminação acima de limites aceitáveis. A presença de coliformes fecais acima do nível permitido ocasiona diversas patologias causadas direta ou indiretamente pela água contaminada estão as disenterias, a amebíase, a esquistossomose, a malária, a leishmaniose, a cólera, a febre tifóide, entre várias outras que se não tratada adequadamente pode ocasionar implicações para saúde humana. REFERÊNCIAS CESA, M. V.; DUARTE, G. M. A qualidade do ambiente e as doenças de veiculação hídrica. Geosul, Florianópolis, v. 25, n. 49, p 63-78, jan./jun. 2010. CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 357. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, Ministério do Meio Ambiente, 2005. CVE- CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. Doenças Relacionadas á agua ou transmissão Hídrica. Informe Técnico, 2009. MORAES, J. F. L. (coord.) Diagnóstico agroambiental para gestão e monitoramento da bacia do rio Jundiaí-Mirim. Relatório Final – 2ª Fase. IAC/IEA/Prefeitura do Município de Jundiaí/DAE S/A. Campinas - SP, 2003. SANTOS, L.G., MACHADO, L.S., MACHADO, F.H., FERREIRA, H.H., CARDOSO- SILVA, S.; PECHE FILHO, A., RIBEIRO, A.Í., MEDEIROS, G.A. Variáveis microbiológicas na avaliação da qualidade de água da microbacia do rio Jundiaí- Mirim, Jundiaí – SP. Memórias do II Workshop de Integração de Saberes Ambientais. Sorocaba: UNESP Sorocaba, p. 1-5, 2014. [no prelo] 36 VARIÁVEIS MICROBIOLÓGICAS NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUA DA MICROBACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, JUNDIAÍ – SP SANTOS, Larissa Gonçalves1, MACHADO, Leila dos Santos2, MACHADO, Fernando Henrique3; FERREIRA, Helio Henrique4, CARDOSO-SILVA, Sheila5; PECHE FILHO, Afonso6, RIBEIRO, Admilson Írio7; MEDEIROS, Gerson Araujo7. 1,2 Bióloga, mestranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP, e-mail: laribtos@gmail.com 3 Administrador e Gestor Ambiental, doutorando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP 4 Enfermeiro, mestrando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP 5 Bióloga, pós-doutoranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP 6 Agrônomo, Pesquisado IAC e Doutorando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP 7 Eng. agrícola, docente das disciplinas Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA/UNESP RESUMO O uso de organismos indicadores tem sido amplamente utilizado para avaliar a presença de potenciais patógenos de veiculação hídrica correlacionados com os padrões de qualidade de balneabilidade. Neste estudo foi utilizado como microrganismos indicadores, os coliformes totais e os coliformes termotolerantes (fecais), dentre elas a espécie Escherichia coli. O objetivo deste trabalho foi analisar a qualidade microbiológica da água do rio Jundiaí- Mirim. As coletas de água foram feitas em pontos estratégicos da bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, a qual se enquadra como Classe 1. O método utilizado para a análise foi o colorimétrico IDEXX Quanti-Tray®/2000 MPN e a contagem MPN (most probable number) foi feita com o auxílio do software IDEXX MPN Generator versão 3.2. As concentrações máximas de coliformes fecais foram nos pontos 3, 4 e 5 apresentando valores superiores ao permitido para a classe a qual a microbacia está enquadrada. Palavras-chave: Coliformes Totais; Escherichia coli; UGRHI-05; Jundiaí-Mirim; CONAMA. INTRODUÇÃO
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